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Crítica
13 de Outubro de 2008 Filosofia da ciência
Mudar de paradigma
Eduardo Dayrell de Andrade Goulart
A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Samuel Kuhn (1922–1996), é uma das
obras mais influentes em filosofia da ciência; menos pela solidez de seus argumentos do que
pelo elevado número de divergências e debates que tem causado. Originalmente publicado
em 1962 e traduzido para mais de vinte línguas, este livro constitui uma das principais fontes
de argumentos para quem defende o relativismo epistêmico e científico. Opõe-se,
principalmente, ao conjunto de crenças compartilhadas pelos filósofos do Círculo de Viena e
seus sucessores. Sobretudo, o debate com Karl Popper (1902–1994) e Imre Lakatos (1922–
1974) foi intenso.
Thomas Kuhn graduou-se em física pela Universidade de Harvard, tendo grande interesse
por questões de filosofia da ciência. Contudo, sempre dedicou maior esforço a investigações
no campo de história da ciência, onde se destacou com maior importância e mérito. Antes
conhecido como historiador da ciência do que como filósofo da ciência, Kuhn construiu seus
argumentos sob a influência de estudos históricos; estudando e comparando períodos
históricos do desenvolvimento científico Kuhn pressupõe e elucida conceitos e crenças
filosóficas que são caros para todos aqueles que se interessam pelos problemas filosóficos da
ciência: a saber, a natureza do conhecimento científico e seu método, o processo de
aquisição de conhecimento científico e, sobretudo as pressuposições metafísicas da ciência e
seus praticantes.
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25/03/2018 A Estrutura das Revoluções Científicas
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Kuhn organiza seu livro como se segue. Começa com um prefácio e introdução, onde expõe
suas motivações e objetivos com o livro; demonstra quais foram suas influências no processo
de produção e cita trabalhos dos filósofos que o influenciaram diretamente. Depois da
introdução são apresentados doze capítulos nos quais apresenta suas ideias e desenvolve toda
sua argumentação. O final do livro constitui-se de um posfácio em sete partes, que foi
incluído em 1969, onde Kuhn tenta esclarecer algumas de suas idéias e argumentos em
virtude de críticas recebidas.
Segundo Kuhn, toda ciência madura atravessa dois estágios, um aparentemente estável e um
outro completamente instável, imprevisível e revolucionário. O primeiro estágio é
denominado de ciência normal. É a ciência determinada segundo as regras e modelos de um
paradigma ou de uma tradição de pesquisa científica; neste estágio, o trabalho dos cientistas
não vai além do que esclarecer e elucidar conceitos fundamentais de maneira acrítica e
doutrinária. Tais regras da ciência normal não são apresentadas no sentido de um conjunto de
métodos que prescreverão a pesquisa científica, mas como práticas convencionais que serão
adotadas e condicionadas a fatores sociológicos e culturais.
Kuhn defende que a mudança de paradigmas não é um processo racional. A idéia é que não
há qualquer padrão de racionalidade que irá avaliar e criticar os paradigmas sob um ponto de
vista comum, já que cada paradigma possui seu conjunto de regras que só tem sentido dentro
de sua própria teoria. Ora, se a pesquisa científica muda de método assim que mudam os
paradigmas, então não existe um padrão comum que possa avaliar paradigmas concorrentes.
Portanto, esses paradigmas ou modelos científicos são incomensuráveis, ou seja,
incomparáveis. Isso quer dizer que, tomando dois exemplos de explicação das órbitas
planetárias, é impossível comparar e dizer que modelo está certo ou errado, ou qual é mais
plausível do que o outro: a teoria de Newton ou a de Ptolomeu. O conceito de verdade
científica relativiza-se ao paradigma científico em causa. Um outro argumento de Kuhn para
a incomensurabilidade dos paradigmas é o de que se a realidade da pesquisa científica é
determinada pelos paradigmas, então cada teoria científica descreverá uma realidade
diferente. E, portanto, toda disputa científica será absurda já que o que se disputa são duas
realidades distintas. Logo, cada paradigma descreve sua realidade e é incomensurável com
qualquer outro.
A escolha entre paradigmas ou teorias científicas consiste, de acordo com Kuhn, em disputas
retóricas. A disputa entre dois paradigmas nada tem a ver com experimentos, análises
metodológicas ou deduções, mas sim com o quão hábil forem os cientistas para
estabelecerem suas regras, seus modelos, suas questões e sua ciência normal. Isto quer dizer
que o fato de o modelo heliocêntrico do sistema solar ser considerado uma teoria verdadeira
é conseqüência somente da habilidade de persuasão de seus defensores e não de uma
determinação da argumentação racional nem de experiências acumuladas.
A teoria que Kuhn defende em seu livro sobre o avanço do conhecimento científico é uma
teoria contrária à de que o conhecimento é produzido mediante um processo de acumulação
de informações. Segundo ele, o processo acontece através de rupturas completas e súbitas de
um paradigma para o outro. Nada do que foi pesquisado ou organizado no paradigma
anterior será aproveitado no desenvolvimento futuro, pois são modificações de mundos e de
nada adianta utilizarmos dados de um mundo em outro mundo totalmente diferente. A
produção de conhecimento não é cumulativa e progressiva, mas fragmentada; assim, “(…) a
transição [entre paradigmas] tem de ocorrer subitamente (embora não necessariamente num
instante) ou então não ocorre jamais”. (pág. 192).
O livro de Kuhn foi uma fonte de argumentos para sociólogos da ciência, filósofos e
historiadores que defendem um relativismo epistêmico. É uma das principais obras dos
relativistas e anti-realistas em ciência. O livro é importante para aqueles que gostariam de
conhecer mais detalhadamente os principais argumentos de teorias relativistas.
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