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CADERNO DE PENAL

Capítulo 1 - INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL – PARTE GERAL

1.1. Conceito

O Direito Penal é um ramo de direito público, formado por normas jurídicas, no


qual o Estado protege os bens mais relevantes para a sociedade, proibindo
determinadas condutas que são classificadas como infrações penais e as comina às suas
respectivas sanções.
O Direito Penal classifica-se como objetivo e subjetivo. Vejamos:

– Direito Penal Objetivo: é o conjunto de normas produzidas pelo Estado, definindo


infrações penais que abrangem crimes e contravenções, bem como todas as demais que
tratem de questões de natureza penal, tais como: causas de exclusão do crime, isenção
de pena etc.
– Direito Penal Subjetivo: é o próprio ius puniendi, ou seja, tem relação com a
possibilidade de o Estado criar e executar suas normas, com a imposição das decisões
condenatórias prolatadas pelo Poder Judiciário.

O referido ius puniendi pode ser subdividido em: positivo e negativo. O positivo é o
poder de o Estado criar e executar suas próprias decisões de cunho condenatório. O
negativo é manifestado pela possibilidade de extirpar do ordenamento jurídico
determinado preceito penal, assim como ocorre no controle de constitucionalidade
realizado pelo Supremo Tribunal Federal.

1.2. Características

As principais características do Direito Penal reúnem o fato de ele ser um ramo


de direito público, uma vez que ele regula as relações entre o cidadão e a sociedade. De
acordo com a doutrina, podemos listar as seguintes características:
a) Normativa: tem como objeto o estudo do conteúdo da norma positivada no
ordenamento jurídico.
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b) Valorativa: relaciona-se ao fato, valor e norma, isto é, a norma editada é valorada
conforme a realidade fática e em escala hierárquica.
c) Sancionadora: tem relação com a proteção da sociedade e da ordem jurídica, por
meio de estipulação de sanções penais.
d) Dogmática: o seu conteúdo é exposto por meio das normas jurídicas.

1.3. Funções

As funções do Direito Penal se dividem em:

– Controle social: no âmbito do controle social, ele é exercido por meio de mecanismos
de prevenção.
– Garantia do indivíduo em face do Estado: almeja o controle da intervenção do Estado,
incidente sobre a liberdade individual de cada cidadão.

1.4. Fontes

As fontes do Direito do Direito Penal são os meios pelos quais se formam ou se


estabelecem essas normas jurídicas, produzindo, de fato, material ou formalmente, o
direito.

1.4.1. Fontes materiais

Fontes materiais são os órgãos constitucionalmente responsáveis por elaborar o


Direito Penal. No ordenamento jurídico brasileiro, a Carta Constitucional preceitua que
essa atribuição é privativa da União.

1.4.2. Fontes formais

As fontes formais, por outro lado, são aquelas que têm a forma positivada do
Direito, podendo-se dizer que estas são retratadas nas normas jurídicas como
exteriorização do Direito. Subdividem-se em:
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a) Fonte formal imediata: é a lei, sendo que somente ela poderá criar infrações penais
e cominar pena.
b) Fontes formais mediatas: são a Constituição Federal, os costumes e os princípios
gerais do direito.
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Capítulo 2 - PRINCÍPIOS

2.1. Princípios

Os princípios orientam o intérprete na compreensão do ordenamento jurídico.


Na seara do Direito Penal, em regra, os princípios funcionam como limitadores do poder
punitivo estatal, pois servem de garantia aos indivíduos.

2.1.1. Princípio da legalidade penal

O princípio da legalidade penal foi expressamente previsto em todos os Códigos,


iniciando-se no Código Criminal do Império de 1830, até a reforma da Parte Geral do
Código de 1940, ocorrida em 1984.

Atualmente, encontra-se positivado no art. 5º, XXXIX, da CRFB/1988, no art. 9º


do Pacto de São José da Costa Rica, bem como no art. 1º do CP.

– Concepção Formal: guarda consonância com o respeito aos trâmites procedimentais


previstos constitucionalmente para que determinada lei ingresse no nosso
ordenamento jurídico.

– Concepção Material: preceitua a adequação do seu conteúdo com as proibições e


imposições para o resguardo dos direitos fundamentais dos cidadãos.

– Funções: esse princípio exerce importantes funções, tais como: proibir a


retroatividade da lei penal; proibir a utilização de analogias para criar crimes; e criar
crimes através dos costumes.

Importante! É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de Direito


Penal, por força do previsto no art. 62, § 1º, I, “b”, da CRFB/1988. Porém, entende-
se que a proibição só alcançaria as leis penais de conteúdo incriminador, e não as leis
penais benéficas.

A doutrina elenca algumas características do Princípio da Legalidade:


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a) lei estrita: tem relação com a competência para a criação de crimes e cominação de
penas, por meio de lei editada somente pelo Poder Legislativo;
b) lei escrita: a lei deve ser escrita, sendo certo que o costume não é admitido como
fonte normativa no direito penal;
c) lei certa: a lei penal deve ser precisa e determinada, não se se admitindo tipos penais
vagos e imprecisos;
d) lei prévia: a lei penal incriminadora só pode ser aplicada para os fatos cometidos após
a sua vigência.

2.1.2. Princípio da anterioridade

Este princípio é um desdobramento do princípio da legalidade penal e preceitua


que a lei penal terá aplicação aos fatos ocorridos após a sua vigência. Também é
conhecido pela expressão “nullum crimen, nulla poena sine lege praevia”, ou seja, não
há crime, nem pena sem lei prévia, ou seja, sem lei anterior ao fato.

2.1.3. Princípio da ofensividade

De acordo com o princípio da ofensividade, a conduta deverá atingir um bem


causando uma lesão ou um perigo de lesão a determinado bem jurídico. Assim, apenas
as condutas que provoquem lesão a bem jurídico podem ser tuteladas pelo Direito
Penal.

2.1.4. Princípio da fragmentariedade

Segundo o princípio da fragmentariedade, o Direito Penal tutela somente uma


pequena parcela dos bens jurídicos mais importantes existentes na sociedade.

2.1.5. Princípio da culpabilidade


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A culpabilidade diz respeito ao juízo de reprovação social que se faz sobre a
conduta típica e ilícita do agente. A culpabilidade funciona como um princípio limitador
da aplicação da pena e impede a responsabilização penal objetiva.

2.1.6. Princípio da individualização da pena

A aplicação da pena deve observar as peculiaridades do fato e da pessoa que é


apenada, assim, a pena deve ser aplicada de maneira proporcional à ofensa produzida
pelo delito ao bem jurídico. O princípio encontra-se no art. 5º, XLVI, da CRFB/1988 e no
art. 59 do CP.
Esse princípio abrange a fase da cominação, na qual o legislador estipula os
limites mínimo e máximo na norma penal, e também a fase da aplicação da pena, em
que o julgador irá fixar a pena levando em consideração as particularidades de cada
imputado e a determinação do regime da pena.

2.1.7. Princípio da insignificância

Fundamenta-se em valores de política criminal e objetiva realizar uma


interpretação restritiva da lei penal. A sua aplicabilidade depende da presença de
determinados requisitos relacionados ao fato e de requisitos subjetivos, relativos ao
agente e à vítima.

Os requisitos objetivos são os seguintes:

– mínima ofensividade da conduta;

– ausência de periculosidade social da ação;

– reduzidíssimo grau de reprovação do comportamento do agente; e

– inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Observação: Os requisitos subjetivos não guardam relação com o fato, mas sim com
o agente e a vítima.
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Jurisprudência

Tema: Princípio da insignificância e Violência Doméstica (Informativo nº


825 do STF)

1. Para incidência do princípio da insignificância devem ser relevados o


valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato, a mínima
ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social
da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica causada.
2. Na espécie vertente, não se pode aplicar ao Recorrente o princípio pela
prática de crime com violência contra a mulher.
3. O princípio da insignificância não foi estruturado para resguardar e
legitimar condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de
conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-
se justiça no caso concreto.
4. Comportamentos contrários à lei penal, notadamente quando
exercidos com violência contra a mulher, devido à expressiva
ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento
e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem
submeter-se ao direito penal. 5. Recurso ao qual se nega provimento.
(RHC 133043, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em
10/05/2016).
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2.1.8. Princípio da adequação social

O princípio defende que somente podem ser tipificados como infrações penais
os comportamentos que não sejam adequados no âmbito social. Restringe, assim, a
incidência do tipo penal, pois limita a sua interpretação com a exclusão das condutas
socialmente aceitáveis pela sociedade.

Aplicação Prática

(XXI Exame de Ordem) Revoltado com a conduta de um Ministro de Estado, Mário se


esconde no interior de uma aeronave pública brasileira, que estava a serviço do governo,
e, no meio da viagem, já́ no espaço aéreo equivalente ao Uruguai, desfere 05 facadas no
Ministro com o qual estava insatisfeito, vindo a causar-lhe lesão corporal gravíssima.
Diante da hipótese narrada, com base na lei brasileira, assinale a afirmativa correta.
A) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
territorialidade.
B) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
extraterritorialidade e princípio da justiça universal.
C) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasileira, com base no critério da
extraterritorialidade, desde que ingresse em território brasileiro e não venha a ser julgado
no estrangeiro.
D) Mário não poderá ser responsabilizado pela lei brasileira, pois o crime foi cometido no
exterior e nenhuma das causas de extraterritorialidade se aplica ao caso.

R: Alternativa A
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Capítulo 3 - TEORIA DA NORMA

3.1. Introdução

Distinguem-se os conceitos de lei penal e norma. A lei penal prevê a conduta


proibida, conforme o que está descrito na redação legal. Já a norma que o agente
infringe é alheia ao Direito Penal.

3.2. Classificação da lei penal

As normas penais possuem a finalidade de punir determinadas condutas


previstas no Código Penal, estipulando os casos em que a lei penal incrimina ou não
determinada conduta do agente. As leis penais se classificam em: leis penais
incriminadoras e leis penais não incriminadoras.

– Leis Penais Incriminadoras: são aquelas que estabelecem as condutas consideradas


criminosas e fixam a respectiva sanção penal. A sanção deve ser específica, com a
previsão do seu limite mínimo e máximo, em apreço ao princípio da legalidade.

As normas incriminadoras se classificam em primárias ou secundárias. Primárias são


aquelas que descrevem de forma detalhada a conduta, de cunho proibitivo ou
impositivo. Já as secundárias possuem como objetivo a individualização da pena em
abstrato.

– Leis Penais Não Incriminadoras: são aquelas que preveem regras de licitude ou
impunidade de determinadas situações relevantes ao Direito Penal.

Elas podem ser classificadas em:

a) leis penais permissivas: são as que autorizam a prática de determinados atos típicos;
b) leis penais interpretativas: são as que servem de suporte para o esclarecimento de
outras leis;
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c) leis penais de extensão: são utilizadas para integrar a tipicidade de determinado fato
típico;
d) leis penais exculpantes: são as que excluem a culpabilidade de determinados fatos
típicos e ilícitos.

3.3. Características

A lei penal possui as seguintes características:

a) Imperatividade: a lei penal é dotada de autoridade e quem descumprir o seu


mandamento estará sujeito à sanção penal.
b) Impessoalidade: a lei penal se aplica a qualquer indivíduo, dirigindo-se a fatos
futuros. As exceções são as leis que preveem a anistia e a abolitio criminis.
c) Generalidade: a lei penal possui eficácia erga omnes.
d) Exclusividade: a lei penal é exclusiva, pois ela é a única que define infrações e comina
sanção penal.

3.4. Lei penal em branco

Em regra, a estrutura básica da lei penal é formada pelo preceito primário, que
descreve a conduta comissiva ou omissiva ilícita, e pelo preceito secundário, que
estabelece a sanção penal.

Ela se classifica em:

a) Homovitelina: quando a norma e seu complemento, além de derivarem da mesma


fonte de produção, tenham sido previstos na mesma lei.

b) Heterovitelina: quando a fonte de produção é a mesma, mas o seu complemento


encontra-se em uma lei diversa.
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3.5. Lei penal no tempo

A definição do tempo em que a infração penal foi cometida é importante, não


apenas para sabermos qual lei deve ser aplicada no caso concreto, mas também para
determinar a imputabilidade do agente. Há três teorias a respeito desse tema:

a) Teoria da atividade: o crime é considerado praticado no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Destaca-se que essa teoria foi
adotada no art. 4º do CP.

b) Teoria do resultado: o crime é considerado praticado no momento da produção do


resultado.

c) Teoria mista: considera-se tanto o momento da ação ou da omissão, como o do


resultado.

Em regra, os fatos ocorridos na vigência de determinada lei devem ser por ela regidos,
de acordo com o brocardo jurídico “tempus regit actum”. Entretanto, há exceção na
extra-atividade da lei penal mais benéfica, que permite a sua aplicabilidade retroativa,
bem como permite a sua ultra-atividade. A ultra-atividade é a aplicação da lei após a
sua revogação.

O conflito das leis penais no tempo é resolvido com a aplicação dos princípios
da irretroatividade da lei penal mais gravosa e da retroatividade da lei penal mais
benéfica.

A lei nova mais severa não pode ser aplicada aos fatos anteriores à sua vigência,
em decorrência do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Assim, os
fatos anteriores continuarão sendo disciplinados pela lei anterior, com aplicação da sua
ultra-atividade.

Por outro lado, a lei penal mais benéfica retroage aos fatos anteriores à sua
vigência.
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Importante! Competência para aplicação da lei nova mais benéfica: A rigor cabe
ao juízo da etapa de conhecimento. Caso o processo esteja em grau de recurso, cabe ao
Tribunal. Caso esteja em fase de execução, cabe ao juízo da execução penal.

Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo


das execuções a aplicação da lei mais benigna.

A lei nova incriminadora de uma conduta que antes não era positivada só terá
início de vigência a partir da sua entrada em vigor, em respeito ao princípio da
anterioridade.

Importante! Crime permanente e crime continuado: Exemplo: um agente


comete três crimes de furto, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de
execução, configurando-se o crime continuado (artigo 71 do CP). Caso os dois primeiros
furtos sejam praticados sob a égide da Lei “X”, mais benéfica. Sobrevém então a Lei “Y”,
prejudicial ao réu e, sob a égide dela, ele pratica o terceiro furto. Pergunta: Qual lei se
aplica?

A Lei “Y” é aplicada aos três furtos cometidos em continuidade delitiva. O


mesmo raciocínio vale para o crime permanente. O entendimento é corroborado com o
previsto na Súmula 711 do STF.

Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

Nessa temática das leis penais no tempo, é importante falarmos a respeito da


lei excepcional e da lei temporária:

– Lei Excepcional: é aquela que possui vigência durante um período de emergência,


como ocorre nos casos de calamidade pública, guerra etc. Observa-se que não há um
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prazo estipulado de vigência, ou seja, ela terá a duração do estado de emergência. A lei
temporária é aquela que possui vigência estipulada desde a sua origem.

Observação: a peculiaridade dessas leis é que elas são ultra-ativas e autorrevogáveis,


ou seja, ainda que tenha decorrido o tempo da sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, elas continuam sendo aplicadas aos fatos
ocorridos durante a sua vigência.

Quando diversos tipos penais parecerem incidir ao mesmo tempo num fato, há
o que chamamos de conflito aparente de normas.

Para não incorrer em “bis in idem”, devemos escolher qual o tipo penal que
incidirá sobre aquele único fato, embora haja diversos tipos penais conflitando entre si,
aparentemente. Essa determinação se dará conforme alguns critérios, chamados de
princípios do conflito aparente de normas.

São requisitos do conflito aparente de normas: a unidade de fato e a


pluralidade de tipos penais que aparentemente incidem no caso concreto.

Os critérios para solucionar esse conflito aparente são:

a) Princípio da especialidade: em eventual conflito entre o tipo penal geral e o tipo penal
específico, sendo que prevalecerá este último. Os elementos específicos são
denominados especializantes, os quais podem tornar o fato mais gravoso ou benéfico
ao agente.
b) Princípio da subsidiariedade: a norma subsidiária prevê um crime autônomo com
sanção penal menos grave que a prevista em outro tipo penal, concebida como norma
primária. O tipo penal menos grave está contido dentro do tipo mais grave. A
subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Na subsidiariedade expressa, o tipo
expressamente declara a sua subsidiariedade, o que ocorre quando o artigo diz “se não
configurar crime mais grave”. Já a subsidiariedade tácita decorre da interpretação
sistemática da ordem jurídico-penal.
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c) Princípio da consunção: ocorre quando há a absorção de um crime por outro. A
consunção possui três vertentes: o crime progressivo; a progressão criminosa e o post
factum impunível. O crime progressivo ocorre quando o agente, desde o início da sua
empreitada criminosa, já sabe que violará outros bens jurídicos para consumar o seu
crime mais grave. As violações anteriores ficam absorvidas pelo crime-fim. Na
progressão criminosa, o agente produz o resultado pretendido desde o início, mas, em
seguida, resolve praticar um resultado mais grave que o anterior. No post factum
impunível, os tipos protegem o mesmo bem jurídico, a primeira infração penal lesa um
bem jurídico, enquanto que a segunda não enseja uma nova lesão, porque o bem já foi
violado anteriormente.
d) Princípio da alternatividade: aplica-se aos tipos penais mistos alternativos. Desse
modo, ainda que o agente tenha praticado várias condutas descritas no mesmo tipo
penal, só terá praticado um único crime.

3.6. Lei penal no espaço

Antes de analisarmos o princípio da territorialidade, que tem relação com a


aplicabilidade da lei penal no espaço, é necessário que se identifique o lugar do crime.
Nesse contexto, três teorias se formaram para determinar o lugar do crime:

a) Teoria da atividade: o local onde ocorreu a conduta (ação ou omissão), ainda que
outro seja o local de ocorrência do resultado.
b) Teoria do resultado: o local onde ocorreu o resultado.
c) Teoria mista ou da ubiquidade: o local onde ocorreu a conduta (ação ou omissão), no
todo ou em parte, bem como onde produziu ou deveria ocorrer o resultado.

Importante! Adotou-se a teoria da ubiquidade no art. 6º do CP.

Agora, já podemos passar para o estudo da territorialidade no Direito Penal.


Conforme previsto no art. 5º, caput, do CP, ao crime ocorrido no território nacional
aplica-se a lei penal brasileira. A exceção se dá quando houver a incidência da lei de
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outro país a um crime cometido nos limites do território nacional, desde que haja
previsão em convenções, tratados e regras de direito internacional.
A doutrina diz que, em razão da referida exceção, conclui-se que o Código Penal
adotou o princípio da territorialidade, mas de forma temperada.
A territorialidade trata da aplicação da lei penal às infrações praticadas no
território nacional. O território nacional possui alguns sentidos:

a) sentido jurídico: é o local sujeito à soberania do Estado;


b) sentido material: o território abrange a superfície terrestre, as águas interiores, o mar
territorial e o espaço aéreo correspondente;
c) território por extensão: se considera extensão do território nacional as embarcações
e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço de governo brasileiro, onde
quer que se encontrem, e as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privativa, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ao alto-mar ou em alto-mar.

A extraterritorialidade é a aplicação da lei penal aos crimes cometidos fora do


território nacional. Ela poderá ser incondicionada ou condicionada.
A extraterritorialidade incondicionada significa a possibilidade de aplicar a lei
penal brasileira a fatos ocorridos fora do território nacional, independentemente de
qualquer condição. Tal regramento encontra-se previsto no art. 7º, I, do CP, que traz a
relação dos crimes, a saber:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

A extraterritorialidade condicionada também prevê a aplicação da lei brasileira


a determinados crimes ocorridos fora do território nacional, entretanto depende do
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concurso de condições elencadas no § 2º do art. 7º do CP. O regramento da
extraterritorialidade condicionada encontra-se previsto no art. 7º, II, do CP, que traz a
relação dos crimes, a saber:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;


b) praticados por brasileiros;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercante ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Há, ainda, a previsão de outra hipótese de extraterritorialidade condicionada


no § 3º do art. 7º do CP, que é o crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil. Nesse caso, além da necessária observância das condições estipuladas no § 2º
do art. 7º do CP, devem-se preencher as seguintes:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.
No que tange ao cumprimento de pena no estrangeiro, é preciso evitar a dupla
punição pelo cometimento da mesma infração penal, nos moldes do art. 8º do CP.

Aplicação Prática

(V EXAME DA ORDEM) - Acerca da aplicação da lei penal no tempo e no espaço, assinale a


alternativa correta.

(A) Se um funcionário público a serviço do Brasil na Itália praticar, naquele país, crime de
corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), ficará sujeito à lei penal brasileira em face do
princípio da extraterritorialidade.

(B) O ordenamento jurídico-penal brasileiro prevê a combinação de leis sucessivas sempre que
a fusão puder beneficiar o réu.

(C) Na ocorrência de sucessão de leis penais no tempo, não será possível a aplicação da lei penal
intermediária mesmo se ela configurar a lei mais favorável.

(D) As
3.7. leis penais temporárias
Interpretação e excepcionais
e aplicação da lei penalsão dotadas de ultra-atividade. Por tal motivo, são
aplicáveis a qualquer delito, desde que seus resultados tenham ocorrido durante sua vigência.

R: Alternativa A
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Podemos subdividir a interpretação da lei penal quanto ao sujeito de que
emana e quanto aos meios que se utilizam para alcançá-la.

Em relação ao sujeito que a realiza, a interpretação pode ser:

a) autêntica: é a interpretação feita pelo próprio texto legal;


b) doutrinária: é aquela realizada pelos pesquisadores e estudiosos do direito, que
emitem valorações e opiniões pessoais;
c) judicial: é a realizada pelos que aplicam o direito, ou seja, pelos juízes.

Em relação aos meios utilizados, a interpretação pode ser:

a) gramatical ou literal: é aquela em que o intérprete almeja descobrir o real sentido


das palavras descritas no texto legal;
b) sistemática: o intérprete analisa o texto legal em conformidade com o sistema
jurídico no qual está inserido;
c) histórica: nesse caso, o intérprete retorna ao passado, especialmente no momento
em que foi editado o diploma normativo;
d) teleológica: o intérprete busca a finalidade da lei penal.

3.7. Lei penal em relação às pessoas

Dividiremos o estudo da lei penal em relação às pessoas em: imunidades


diplomáticas e imunidades parlamentares.

– Imunidades Diplomáticas: se referem aos agentes diplomáticos e seus familiares


credenciados que o acompanham na missão. A imunidade diplomática não quer dizer
que ele não responde por eventuais crimes que vier a praticar, mas não se aplicam as
leis do país em que cumpre sua missão, e sim as leis do país que ele representa o
interesse da origem. Elas são renunciáveis pelo Estado, pela nação, e não pelo agente.
– Imunidades Parlamentares: são imunidades de que gozam os integrantes do
Parlamento em todas as esferas da federação. Elas são irrenunciáveis, não são
estabelecidas em favor do parlamentar, mas sim em favor do Parlamento. São
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prerrogativas em razão do cargo, da função. Tanto é que hoje em dia se fala em foro
especial de prerrogativa de função, em vez de foro privilegiado.

Podem ser absolutas ou relativas:

– Imunidades Absolutas ou Substanciais ou Materiais: dizem respeito ao presente nos


arts. 53, caput (os deputados e os senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras ou votos), 27, § 1º, e 29, VIII, todos da CF.

Todos os parlamentares gozam de imunidade absoluta e são invioláveis tanto


na esfera civil, quanto na penal, por seus votos, palavras e opiniões. Eles não respondem
por crime de opinião e não podem responder por uma injúria, calúnia, difamação,
desacato. Para que eles sejam invioláveis, esses votos, palavras e opiniões devem
guardar relação com o múnus da sua profissão. A imunidade do vereador é restrita às
funções definidas como de vereador.

Observação: a natureza jurídica das imunidades parlamentares é um tema bastante


controvertido na doutrina. Acompanharemos o posicionamento majoritário que
entende se tratar de causa pessoal ou funcional de exclusão da pena.

– Imunidades Relativas ou Processuais ou Adjetivas: significa que o parlamentar não


pode ser responsabilizado civil ou penalmente por seus votos, palavras e opiniões em
relação ao seu múnus, mas responde por esses crimes quando não houver
correspondência com o seu múnus e por todos os crimes previstos na legislação penal.
São regras relativas a foro por prerrogativa de função, por processo, procedimento.
Essas regras se encontram no art. 53 e seus parágrafos da CF e no art. 27, § 1º, da CF.

Observação: o Vereador não tem imunidade relativa na CF, a não ser que tenha
previsão na Constituição Estadual, mas isso não poderá afastar a competência
constitucional do Júri. Capítulo 4
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Capítulo 4 - TEORIA DO CRIME

4.1. Conceitos de crime

De acordo com o conceito formal, crime é toda conduta que a lei prescreve
como delituosa, capaz de causar lesão a um bem jurídico, sendo, portanto, cominada a
esse ato uma sanção penal.

– Conceito Material: crime é toda conduta que provoca lesão ou expõe a perigo um
determinado bem jurídico protegido. Observa-se que esse conceito se atém ao
conteúdo do ilícito penal, com a análise da conduta criminosa e a sua consequência
social.

– Conceito Analítico: duas repartições merecem destaque, quais sejam, o conceito


bipartido e o conceito tripartido de crime.

 Conceito Bipartido: concebe o crime como uma conduta típica e antijurídica. De


acordo com este conceito, a culpabilidade é um pressuposto de aplicação da
pena.
 Conceito Tripartido: concebe o crime como uma conduta típica, antijurídica e
culpável. De acordo com essa posição, a culpabilidade é um elemento do crime,
sendo um requisito para aplicar a pena, assim como o fato típico e a ilicitude.

Observação: o conceito tripartido é majoritário no nosso ordenamento jurídico.

4.2. Fato típico

Partindo-se do conceito tripartido do crime formado pelos elementos fato


típico, ilicitude e culpabilidade, analisaremos a seguir cada uma dessas figuras.
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4.2.1. Conduta

A conduta conceitua-se como uma ação ou omissão humana, de forma


consciente e voluntária, dirigida finalísticamente a um determinado propósito.
Importante entender que a conduta deve estar associada a um ato volitivo do agente.
Para tentar explicar a concepção da conduta, duas teorias tiveram grande
destaque no estudo do Direito Penal: a Teoria Causalista e a Teoria Finalista.

– Teoria Causalista: foi criada por Von Liszt e Beling no final do século XIX. Para essa
teoria, a ação humana consistia numa modificação no mundo exterior perceptível pelos
sentidos e por uma manifestação de vontade, ou seja, por uma ação ou omissão dotada
de voluntariedade.

Em síntese, a ação pode ser definida com base em três elementos: a


manifestação de vontade, a relação de causalidade (movimento corporal) e o resultado.

Essa teoria não se preocupava com a finalidade que se tinha na realização do


comportamento, ou seja, a vontade era desprovida de conteúdo finalístico. A doutrina
elenca algumas dificuldades causadas pela aplicação dessa teoria, tais como: a
impossibilidade de explicação da conduta omissiva no crime culposo, a ausência de
análise do valor ou desvalor da ação.

– Teoria Finalista: consagrada por Hans Welzel, segundo a doutrina amplamente


majoritária, é hoje adotada pelo nosso Código Penal. Ela surgiu no século XX e destaca-
se pela importância de analisarmos o conteúdo finalístico do comportamento humano.

De acordo com Hans Welzel, a conduta teria duas fases: subjetiva e objetiva:

a) Fase subjetiva: é uma antecipação mental do resultado, com a seleção dos meios
aptos a atingir o resultado pretendido e leva em consideração os efeitos concomitantes
à utilização dos meios.
CADERNO DE PENAL
b) Fase objetiva: é a própria realização da conduta, ou seja, a conduta voluntária e
consciente e dirigida a uma finalidade é posta em prática pelo agente.

Na Teoria Finalista, o dolo e a culpa migraram da culpabilidade e passaram a


integrar o fato típico, visto que a ação humana é um exercício da atividade final. Assim,
os elementos subjetivos – dolo e culpa – encontram-se na conduta do agente.

A ausência de conduta ocorre quando não há voluntariedade do agente na


determinação de um fato. Assim, sequer haverá fato típico. São hipóteses de ausência
de conduta a coação física irresistível (vis absoluta), os movimentos reflexos, os atos
reflexos involuntários e os estados de inconsciência.

4.2.2. Dolo

Como já vimos, o dolo é um elemento integrante do fato típico. Ele é a


conjugação de dois elementos: o volitivo e o cognitivo.
O elemento volitivo significa que a vontade está atrelada a um plano subjetivo
do agente na prática da conduta, bem como guarda relação com a capacidade de
influenciar na produção do resultado criminoso.
O elemento cognitivo é a consciência atual pelo agente da sua conduta e
abrange todos os elementos presentes no tipo penal.
O dolo é classificado como dolo direto ou dolo indireto:

– Dolo Direto: é quando o agente deseja a produção do resultado.


Esse dolo se subdivide em:

a) dolo direito de primeiro grau: ocorre quando o agente tem a consciência e a vontade
de praticar a conduta e de produzir o resultado criminoso;
b) dolo direito de segundo grau: é a representação na mente do agente do possível
efeito colateral como decorrência necessária do meio escolhido para a prática de
determinado crime.
CADERNO DE PENAL
– Dolo Indireto: é quando a vontade do agente não é dirigida a um resultado
determinado.
Esse dolo se subdivide em:

a) dolo eventual: caracteriza-se pela representação de um resultado na consecução de


uma conduta pelo agente, que não o deseja, mas assume o risco da sua possível
produção;
b) dolo alternativo: é quando a vontade do agente se dirige a um ou outro resultado.

No estudo do dolo foram desenvolvidas importantes teorias, a saber:

a) Teoria da Vontade: o dolo ocorre quando o agente realiza a representação mental do


resultado, ou seja, ele quer diretamente o resultado e se dirige a sua consecução. Essa
teoria se aplica ao dolo direto de primeiro grau.
b) Teoria do Consentimento: o dolo está presente quando o agente faz a representação
mental do resultado, não o quer diretamente, mas aceita a sua produção. Essa teoria se
aplica ao dolo indireto eventual.
c) Teoria da Representação: o dolo restará caracterizado com a sua representação na
mente do agente.

4.2.3. Culpa

Culpa é concebida como a violação do dever objetivo de cuidado. Conforme


previsto no art. 18, II, do CP, o crime culposo ocorre quando o agente dá causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Os tipos culposos devem ser expressamente previstos como tal, tendo em vista
que a modalidade dolosa é a regra.
Os elementos do tipo culposo são:

– Conduta Voluntária: significa que o agente tem vontade de praticar determinada


conduta, porém o resultado produzido é causado de forma involuntária.
CADERNO DE PENAL
– Inobservância do Dever Objetivo de Cuidado: tem relação com as cautelas necessárias
que o homem médio deve adotar para evitar a causação de danos a terceiros.
– Previsibilidade Objetiva do seu Resultado: é a representação comum dos indivíduos
de possível resultado.

As modalidades de culpa são:

a) Negligência: é relevada por uma abstenção do agente. O agente não faz o que deveria
ter sido realizado e, assim, provoca uma violação do seu dever objetivo de cuidado.
b) Imprudência: é manifestada por um agir indevido do agente. Ele atua com
precipitação, de forma perigosa.
c) Imperícia: é relacionada à inaptidão para o desempenho de arte ou profissão.

Espécies de culpa:

a) Culpa inconsciente: é quando o agente não antecede o possível resultado da sua


conduta.
b) Culpa consciente: é quando o agente prevê a possibilidade de ocorrência do
resultado, mas não assume o risco da sua produção, tendo em vista que sinceramente
acredita que o pode evitar.
c) Culpa própria: é a modalidade de culpa inconsciente, sendo a culpa comum por
excelência.
d) Culpa imprópria: trata-se de uma conduta essencialmente dolosa, mas que o
legislador estabeleceu a imputação a título de crime culposo, em virtude do erro de
representação antes da manifestação da conduta. Ela decorre de erro evitável nas
descriminantes putativas sobre a situação fática ou do excesso na justificação,
positivada no art. 20, § 1º, do CP.

Observação: diferentemente do que ocorre na esfera cível, no âmbito penal não se


admite a compensação de culpas. O que é plenamente possível é a concorrência de
crimes culposos, em que cada agente irá responder pelo seu próprio crime resultante
de culpa.
CADERNO DE PENAL

4.2.4. Resultado

O resultado é um elemento que integra o fato típico. Encontra-se previsto no


art. 13 do CP.

– Resultado Jurídico ou Normativo: é o perigo ou lesão provocado a um bem jurídico.


– Resultado Material ou Naturalístico: é a modificação causada no mundo exterior.

Importante! Todo crime possui resultado jurídico ou normativo, pois sempre haverá
perigo ou lesão a um bem jurídico. Todavia, nem todo crime terá um resultado
material ou naturalístico, tal como ocorre nos crimes de mera conduta e nos crimes
formais.

As infrações penais podem ser classificadas como:

a) Crime material: o tipo penal imprescinde para a sua consumação da ocorrência de


um resultado naturalístico.
b) Crime formal: a consumação do tipo penal prescinde da ocorrência do resultado
naturalístico, embora o resultado externo esteja previsto na figura típica.
c) Crime de mera conduta: basta a realização de uma determinada conduta para a sua
ocorrência. Não há previsão, nem necessidade de produção de um resultado
naturalístico no tipo penal.

4.2.5. Nexo de causalidade

O nexo de causalidade se caracteriza por ser a relação necessária entre a


conduta do agente e o resultado criminoso, de modo que seja descoberto se a ação ou
omissão foi a causa determinante do resultado.
O nexo de causalidade tem relevância nos crimes materiais, bem como nos
crimes omissos impróprios.
CADERNO DE PENAL
Destacam-se as seguintes teorias sobre o nexo de causalidade:

a) Teoria da equivalência dos antecedentes causais: de acordo com esta teoria,


considera-se como causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido, ou seja, é uma causa necessária para a produção do resultado. Tudo aquilo
que foi praticado que repercutiu no resultado equivale como causa. Assim, qualquer
causa antecedente que contribuiu fisicamente para o resultado será levada em
consideração. Conforme o procedimento hipotético de eliminação de Thyrén, causa
seria todo antecedente que, retirado mentalmente, impediria a produção do resultado
da forma que ocorreu.
b) Teoria da causalidade adequada: de acordo com esta teoria, embora haja vários atos
anteriores ao resultado, considera-se a causa mais adequada à produção do resultado.

Segundo o disposto no art. 13 do CP, o resultado de que depende a existência


do crime só é imputável a quem lhe deu causa.
As causas podem ser das seguintes espécies: causas absolutamente
independentes e causas relativamente independentes.

– Causas absolutamente independentes: são aquelas em que a conduta do agente não


interfere no processo causal, pois o seu resultado teria ocorrido por outra forma.
Subdividem-se em:

a) Causa absolutamente independente preexistente: é aquela que tem o momento de


ocorrência anteriormente à conduta do agente. Exemplo clássico da doutrina seria o
caso em que “A”, desejando a morte de “B”, contra ele desfere um tiro, acertando-o
numa região letal. Embora atingido numa região letal, “B” falece em decorrência do
veneno que havia tomado antes com intenção suicida.
b) Causa absolutamente independente concomitante: é aquela que ocorre ao mesmo
tempo com a conduta do agente. Exemplo clássico da doutrina seria a hipótese em que
“A” e “B”, com armas de calibres distintos, atiram em direção a “C”, sem coautoria. Se
CADERNO DE PENAL
restar provado que o projétil de “A” é que atingiu a região letal da vítima, enquanto o
de “B” levemente o atingiu, somente “A” responderá pelo homicídio consumado.
c) Causa absolutamente independente superveniente: é aquela que ocorreu
posteriormente à conduta do agente e que não possui nenhuma relação de
dependência. Exemplo clássico da doutrina seria o caso em que “A” e “B” brigam e “A”
atira em “B”, causando-lhe um ferimento grave, que com certeza o levará à morte.
Entretanto, após o disparo, o prédio no qual ambos se encontravam desaba e,
posteriormente, se descobre que “B” não morreria em razão do disparo, mas sim por
ter sido soterrado.

– Causas relativamente independentes: são aquelas em que há uma relação de


dependência entre a conduta do agente e a causa que também repercute no resultado.
Subdividem-se em:
a) Causa relativamente independente preexistente: é aquela que já existia antes da
conduta do agente e, quando com ela interligada numa relação de complexidade,
produz o resultado. Exemplo clássico da doutrina é o caso em que “A”, desejando causar
a morte de “B” e ciente da sua condição de hemofílico, nele desfira um corte com faca.
O corte, mesmo que tenha sido dado numa região não letal, mas conjugado com a
condição fisiológica da vítima, faz com que “B” não o suporte e faleça.
b) Causa relativamente independente concomitante: é a causa que, interligada com a
conduta do agente e com ela conjugada, também é considerada produtora do resultado.
Exemplo clássico da doutrina é o caso em que “A” atira em “B” no mesmo momento em
que este está sofrendo um colapso cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu para a
morte da vítima.
c) Causa relativamente independente superveniente: é aquela que ocorreu
posteriormente à conduta do agente e que com ela tenha ligação. Exemplo clássico é
aquele em que “A”, desejando a morte de “B”, efetua contra ele disparos de arma de
fogo. “B” é socorrido por uma ambulância que o conduz ao hospital. Durante o trajeto,
a ambulância se envolve num acidente de trânsito, vindo “B” a óbito em decorrência da
colisão. É a única concausa com previsão legal no art. 13, § 1º, do CP. É preciso se atentar
para o fato de que, quando a lei penal prescreve que “a superveniência de causas
CADERNO DE PENAL
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o
resultado”, significa que somente aqueles resultados que se encontrarem como um
desdobramento natural da ação é que poderão ser imputados ao agente.

Nota-se que, ao conceituar causa no art. 13 do CP, não houve distinção entre a ação
ou a omissão. Pela leitura da parte final do citado artigo, concluímos que a omissão
também se demonstra relevante para ser considerada causa do resultado, bastando,
para tanto, que o omitente tenha o dever jurídico de impedir ou tentar impedir a
ocorrência do resultado.

A omissão imprópria pode ser praticada dolosa ou culposamente, esta última a


depender de previsão legal expressa.

A lei estabelece no art. 13, § 2º, do CP que certas pessoas tenham um dever
jurídico especial de agir para evitar o resultado, denominados garantidores. A omissão
será penalmente relevante na hipótese em que o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado.

Em síntese, para restar caracterizada a configuração do crime omissivo


impróprio, será necessário:

– dever jurídico específico de agir para evitar o resultado;

– evitar o resultado pela ação do agente;

– a possibilidade de o agente agir para evitar o resultado; e

– a produção do resultado que devia ter sido evitado.

4.3. Tipicidade

A tipicidade é um elemento integrante do fato típico. Ela é classificada em


tipicidade formal e tipicidade material.
CADERNO DE PENAL
– Tipicidade Formal: é a adequação entre o fato praticado pelo agente e o tipo penal. O
tipo penal possui elementos objetivos, que são os aspectos materiais e normativos, e
elementos subjetivos, que são os dados relacionados à consciência e vontade do agente.

Esse juízo de tipicidade formal (adequação entre conduta e resultado) pode ser
feito de duas formas:

a) Por subordinação direta ou imediata: podemos ir da conduta diretamente para o tipo


penal, e mesmo assim acharemos a adequação perfeita.

b) Por subordinação indireta ou mediata ou por dupla via: a conduta até é


perfeitamente adequada ao tipo, mas não se consegue ir direto para o tipo penal. Se
formos direto, concluiremos pela atipicidade da conduta, porque assim não há
adequação perfeita entre conduta e tipo penal. Precisamos passar por outro dispositivo
legal (dispositivo intermediário), para de lá ir ao tipo penal. Só assim alcançaremos uma
adequação típica perfeita. Daí falarmos em adequação indireta, mediata ou por dupla
via.

Portanto, precisamos de dois dispositivos legais para dar adequação típica à


conduta do agente. Naturalmente, o segundo dispositivo legal será o próprio tipo penal.

Nas normas de subordinação indireta, mediata ou de dupla via, o segundo


dispositivo legal é a norma de extensão ou norma de adequação típica por subordinação
indireta ou imediata.

– Tipicidade Material: consiste na valoração da conduta e do resultado. Há uma


preocupação com o grau de lesão ao bem jurídico protegido pela norma. Nessa
temática, enquadra-se o princípio da insignificância, em que a sua incidência irá afastar
a tipicidade material, gerando a atipicidade material da conduta do agente.
CADERNO DE PENAL
Aplicação Prática

(XXIII EXAME DE ORDEM) Pedro, jovem rebelde, sai à procura de Henrique, 24 anos, seu
inimigo, com a intenção de matá-lo, vindo a encontrá-lo conversando com uma senhora de 68
anos de idade. Pedro saca sua arma, regularizada e cujo porte era autorizado, e dispara em
direção ao rival. Ao mesmo tempo, a senhora dava um abraço de despedida em Henrique e
acaba sendo atingida pelo disparo. Henrique, que não sofreu qualquer lesão, tenta salvar a
senhora, mas ela falece.
Diante da situação narrada, em consulta técnica solicitada pela fami ́lia, deverá ser esclarecido
pelo advogado que a conduta de Pedro, de acordo com o Código Penal, configura
A) crime de homici ́dio doloso consumado, apenas, com causa de aumento em razão da idade
da vi ́tima.
B) crime de homici ́dio doloso consumado, apenas, sem causa de aumento em razão da idade da
vi ́tima.
C) crimes de homici ́dio culposo consumado e de tentativa de homici ́dio doloso em relação a
Henrique.
D) crime de homici ́dio culposo consumado, sem causa de aumento pela idade da vi ́tima.

R: Alternativa D

4.4. Iter criminis

O iter criminis caracteriza-se por quatro fases principais: cogitação, preparação,


execução e consumação. Parcela da doutrina acrescenta uma quinta fase, que é a do
exaurimento.

Conforme o art. 14, I, do CP, crime consumado é quando nele se verificam todos
os elementos de sua definição legal.

– Tentativa: encontra-se no art. 14, II, do CP, ocorrendo quando o agente não consegue
alcançar a consumação do crime, em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade.

A tentativa possui os seguintes elementos:

– a prática de um ato de execução;


CADERNO DE PENAL
– a presença do elemento subjetivo do agente (dolo); e

– a não consumação da infração penal por circunstâncias alheias à vontade do agente.

O Código Penal adota a teoria objetiva, na qual a punição leva em consideração


o perigo ao bem jurídico, o que apenas ocorre com o início dos atos executórios.

- Classificações da tentativa:

 Tentativa: também é denominada conatus.


 Tentativa branca ou incruenta: ocorre quando a vítima não sofre lesões.
 Tentativa vermelha ou cruenta: ocorre quando a vítima sofre lesões.
 Tentativa perfeita ou crime falho: ocorre quando o agente faz tudo o que pode
para chegar à consumação do crime, que acaba não ocorrendo.
 Tentativa imperfeita ou inacabada: ocorre quando o agente não faz tudo o que
pode para chegar à consumação do crime, em virtude de circunstâncias alheias
à sua vontade.
 Tentativa qualificada: diz respeito às hipóteses de desistência voluntária ou
arrependimento eficaz.

– Desistência Voluntária: encontra-se prevista no art. 15 do CP. A lei penal, por questões
de política criminal, preferiu punir de forma menos severa o agente que, valendo-se
desse benefício legal, desiste de continuar na execução do crime, impedindo a sua
consumação. É necessário que o agente já tenha iniciado os atos de execução. A
desistência deve ser voluntária, não necessariamente espontânea.

– Arrependimento Eficaz: ocorre quando o agente, após esgotar todos os meios de que
dispunha para consumar a infração penal, arrepende-se e atua de forma contrária,
evitando a produção do resultado inicialmente pretendido.
CADERNO DE PENAL
– Arrependimento Posterior: somente é admitido nos crimes praticados sem violência
ou grave ameaça à pessoa, exigindo-se a reparação do dano ou a restituição da coisa até
o recebimento da denúncia ou da queixa.

4.5. Ilicitude

A ilicitude se caracteriza por ser uma relação de contrariedade entre a conduta


do agente (ilicitude formal) e o ordenamento jurídico, que cause lesão ou perigo de
lesão a determinado bem jurídico (ilicitude material).

Algumas teorias foram desenvolvidas para explicar a relação entre a tipicidade


e a ilicitude: a Teoria da Ratio Cognoscendi e a Teoria da Ratio Essendi:

– Teoria da Ratio Cognoscendi: segundo a teoria, a tipicidade é um indício de ilicitude,


ou seja, quando o fato for típico, provavelmente ele também será ilícito, mas nem
sempre isso irá ocorrer.

– Teoria da Ratio Essendi: segundo a teoria, a tipicidade e a ilicitude encontram-se


unidas, o que cria o denominado tipo total do injusto.

São causas legais de exclusão da ilicitude: estado de necessidade, legítima


defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito.

– Estado de Necessidade: encontra previsão no art. 24 do CP. Considera-se em estado


de necessidade quem (i) pratica o fato para se salvar de perigo atual, (ii) que não causou
por sua vontade, (iii) nem pôde de outra forma evitar, (iv) direito próprio ou alheio, (v)
cujo sacrifício não seria razoável exigir.

– Legítima Defesa: encontra previsão no art. 25 do CP. Considera-se em legítima defesa


quem está em (i) situação de necessidade, a qual depende de: perigo atual, perigo não
provocado voluntariamente pelo agente, ameaça a direito próprio ou alheio e ausência
do dever legal de enfrentar o perigo; e (ii) fato necessitado, ou seja, fato típico praticado
pelo agente em face do perigo ao bem jurídico, que tem como requisitos: inevitabilidade
do perigo por outro modo e proporcionalidade.
CADERNO DE PENAL
– Estrito Cumprimento do Dever Legal: é a prática de atos estritamente necessários
para cumprir o dever previsto em lei.

– Exercício Regular do Direito: se relaciona a qualquer direito tutelado pela ordem


jurídica, que poderá ser de ordem pública, privada etc. Exemplo: intervenções cirúrgicas.

Aplicação Prática

(XVI EXAME DE ORDEM) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco
movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com a vinda de um
cão pitbull na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, que
estava armado e tinha autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do
cão, que não foi atingido, ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do
animal, Leandro, que chegava correndo em sua busca, pois notou que ele fugira
clandestinamente da casa. A vítima atingida veio a falecer, ficando constatado que Carlos não
teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão contra o seu filho, não sendo sua conduta
tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale a opção que apresenta a situação jurídica
de Carlos.
A) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de
Leandro.

B) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte
de Leandro.

C) Carlos atuou em estado de necessidade não deve responder pela morte de Leandro.

D) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela
morte de Leandro.

R: Alternativa C

4.6. Culpabilidade

A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal que recai sobre agente que


praticou fato típico e ilícito.

É formada por três elementos: imputabilidade, potencial consciência da


ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
CADERNO DE PENAL
A culpabilidade passou por três teorias na fase evolutiva, sendo a primeira a
Teoria Psicológica, a segunda, a Psicológico-Normativa, e a terceira, a Normativa Pura.

– Teoria Psicológica: a culpabilidade é tida como um nexo psíquico entre o agente e a


conduta. O dolo e a culpa integram a culpabilidade. A imputabilidade é vista como
pressuposto da culpabilidade.

O dolo é formado pelos seguintes elementos: consciência da conduta,


resultado e nexo de causalidade, vontade de praticar a conduta e provocar o resultado,
e consciência da ilicitude do fato. Observa-se que, em virtude de a consciência da
ilicitude ser um elemento integrante do dolo, ele é considerado um dolo normativo.

– Teoria Psicológico-Normativa: introduziu um elemento normativo na culpabilidade,


em que se faz um juízo de censura do autor do fato e, com isso, a exigibilidade de
conduta diversa. De acordo com essa teoria, integram a culpabilidade: imputabilidade,
dolo ou culpa e a exigibilidade de conduta diversa.

– Teoria Normativa Pura: fundamenta-se na teoria finalista da ação. O dolo e a culpa


passam da culpabilidade para o fato típico. Retira-se do dolo o seu aspecto normativo,
passando a ser um dolo natural, e a potencial consciência da ilicitude do fato passa a
integrar a culpabilidade. A culpabilidade é composta pelos seguintes elementos:
imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta
diversa.

Elementos da culpabilidade:

a) Imputabilidade: é a possibilidade de se atribuir ao agente a responsabilidade penal


pelo fato típico e ilícito que praticou.
b) Potencial consciência da ilicitude do fato: é necessário que o agente tenha a
consciência da ilicitude ou possa atingi-la para saber que a sua conduta é ilícita.
c) Exigibilidade de conduta diversa: é a possibilidade de se exigir do agente uma
conduta conformada à norma jurídica.

Causas de exclusão da culpabilidade: cada elemento possui a sua causa de


exclusão. Vejamos:
CADERNO DE PENAL

– Imputabilidade: a inimputabilidade.
– Potencial consciência de conduta diversa: erro de proibição.
– Exigibilidade de conduta diversa: inexigibilidade de conduta diversa.

Na imputabilidade, o ordenamento jurídico brasileiro adotou dois critérios,


sendo que o primeiro deles foi o biológico e o segundo, o critério biopsicológico.

Pelo critério biopsicológico, quem é inimputável?


O art. 26, caput, inicia dizendo que “é isento de pena” aquele que, (i) por doença
mental ou (ii) desenvolvimento incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.

Na verdade, são inimputáveis pelo critério biopsicológico (i) o doente mental;


(ii) aquele que tem desenvolvimento mental incompleto; (iii) aquele que tem
desenvolvimento mental retardado.
Não excluem a imputabilidade penal a emoção e a paixão, conforme o art. 28,
I, do CP.
A embriaguez possui as seguintes espécies:

a) Voluntária: é quando o indivíduo ingere bebidas alcoólicas ou substâncias de efeitos


análogos com a intenção de se embriagar.
b) Culposa: ocorre quando o agente se embriaga de forma imprudente, sem que
houvesse a intenção inicial de embriagar-se.
c) Preordenada: é aquela em que o agente se coloca em embriaguez para adquirir
coragem e praticar o crime.
d) Patológica: constitui uma patologia (doença) do agente. Por isso, o agente será
tratado como penalmente inimputável, na forma do art. 26, caput, do CP (critério
biopsicológico), como se fosse doente mental. Feita a perícia, haverá absolvição
imprópria e receberá medida de segurança.
CADERNO DE PENAL
e) Acidental (decorre de caso fortuito ou de força maior): embriaguez causada por caso
fortuito ou força maior significa a embriaguez que foge ao controle do agente, ou então
quando este é forçado a ingerir a substância alcoólica.

A potencial consciência da ilicitude do fato pode ser excluída com base no erro
de proibição, que ocorre quando o agente atua ou se omite sem a consciência da
ilicitude do fato, no momento em que as circunstâncias não lhe permitiam ter ou atingir
essa consciência. Tem como consequência a isenção do agente de pena.
São excludentes da exigibilidade de conduta diversa: a coação moral irresistível
e a obediência hierárquica.

– Coação moral irresistível: só é punível o autor da coação. Ela consiste no emprego de


grave ameaça contra alguém para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. A pessoa
coagida irá praticar um fato típico e ilícito, porém não culpável.

Observação: a coação moral irresistível não se confunde com a coação física


irresistível. A coação física irresistível exclui a conduta, ou seja, não há ação voluntária
por parte do coagido. Ao contrário, na coação moral irresistível o coagido atua sob
voluntariedade, embora viciada.

– Obediência hierárquica: para ser considerada uma causa excludente da culpabilidade,


não poderá ser manifestamente ilegal, de superior hierárquico, e só será punível o autor
da ordem.

4.7. Teoria do erro

Como já vimos anteriormente, o dolo é constituído pelos elementos vontade e


consciência. A consciência é uma consciência da conduta, que, por sua vez, vem descrita
no tipo penal. Assim, a consciência deve abranger todos os elementos do tipo penal.
Elemento do tipo é tudo aquilo que o tipo descrever.
CADERNO DE PENAL
– Erro de tipo: ocorre quando falta consciência sobre algum dos elementos do tipo pelo
agente. O erro de tipo pode ser espontâneo (cometido pelo próprio agente) ou
provocado por terceiro (o erro é determinado por terceiro).

– Erro de tipo essencial: é aquele que recai sobre os elementos constitutivos do tipo
penal ou sobre as circunstâncias. O erro de tipo pode ser evitável ou inevitável:
a) erro de tipo evitável: é aquele que poderia ter sido evitado se o agente tivesse tido a
diligência necessária. Nesse caso, haverá a exclusão do dolo, mas haverá punição a título
de culpa, se a infração penal admitir a modalidade culposa;
b) erro de tipo inevitável: é aquele que não poderia ter sido evitado, mesmo se o agente
tivesse agido com toda a diligência necessária.

– Erro de tipo acidental: não é relevante para fins de exclusão do dolo. Subdivide-se em:
a) erro sobre a pessoa: ocorre quando o agente pratica a ação delituosa direcionada a
uma vítima, mas que, por falsa representação da realidade, atinge outra pessoa. Nesse
caso, conforme dispõe o art. 20, § 3º, do CP, devem ser consideradas as qualidades
pessoais da vítima desejada, também chamada de vítima virtual;
b) erro sobre o objeto: ocorre quando o agente pratica a ação delituosa sobre
determinado objeto, acreditando que, na verdade, se tratava de outro;
c) erro na execução (aberratio ictus): caracteriza-se quando, por acidente ou erro nos
usos do meio de execução, o agente atinge pessoa diversa da pretendida. Nesse erro, o
resultado pode ocorrer por: unidade simples ou resultado único, quando o agente só
atinge a pessoa diversa, respondendo na forma do art. 73, caput, 1ª parte, do CP;
unidade complexa (resultado duplo): aqui, o agente, além de atingir a vítima pretendida,
também acaba atingindo pessoa diversa. Nesse caso, aplica-se a regra do concurso
formal;
d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis): quando há um erro de coisa
para pessoa ou de pessoa para coisa. Caso ocorra, além do resultado não pretendido, o
resultado pretendido pelo agente, aplica-se a pena mais grave das penas cabíveis ou, se
idênticas, somente uma delas, mas com o aumento, em qualquer caso, de um sexto até
a metade;
CADERNO DE PENAL
e) erro sobre o curso causal (aberratio causae): essa modalidade de erro acidental não
incide na mente do agente. Esse erro sobre o curso causal provoca consequências no
nexo de causalidade, pois o resultado ocorre em virtude de outra causa diferente da
inicialmente desejada pelo agente. Observa-se que, por mais que a causa seja diversa, o
agente consegue atingir o resultado da mesma forma.

– Erro de proibição: ocorre quando falta ao agente consciência sobre a ilicitude da sua
conduta. O agente age com plena consciência sobre a proibição, sobre a ilicitude da
conduta. Subdivide-se em três espécies:
a) erro de proibição direto: nesse caso, o agente age sem saber que aquilo é proibido.
O erro de proibição direto se subdivide em erro de proibição invencível, inevitável,
escusável e em erro de proibição vencível, evitável, inescusável. Se o erro de proibição
direto for invencível, o agente está isento de pena. Toda vez que a lei diz “é isento de
pena”, está excluindo a culpabilidade. E se culpabilidade é elemento integrante do
conceito analítico de crime, excluindo-se a culpabilidade, o próprio crime desaparece.
Portanto, no erro de proibição direto invencível não há crime. Já no erro de proibição
vencível, a consequência é a diminuição de pena de 1/6 a 1/3;
b) erro de proibição indireto: é quando falta ao agente conhecimento sobre o teor de
uma norma penal incriminadora, como ocorreu nos nossos exemplos acima. O erro de
proibição direto incide sobre uma incriminação, já o erro de proibição indireto se
relaciona a uma norma não incriminadora permissiva. Portanto, o erro de proibição
indireto incide sobre uma permissão;
c) erro mandamental: é aquele que incide sobre um crime, seja a omissão própria ou
imprópria. Como os demais erros, esse erro mandamental pode ser vencível ou
invencível, com idênticas consequências: se o erro for invencível, o agente estará isento
de pena. Se for vencível, haverá diminuição de pena.
CADERNO DE PENAL

E quais são essas normas não incriminadoras permissivas?


As causas excludentes de ilicitude. Portanto, o erro de proibição indireto incide sobre
uma norma permissiva, especificamente sobre a existência ou os limites da norma
permissiva. Se o erro incidir sobre a (i) existência de exclusão de ilicitude; ou (ii) limites
da causa de exclusão de ilicitude, então falamos num erro de proibição indireto, ou
seja, sobre a existência de uma norma permissiva. O agente age em erro, pensando
que existe uma norma que lhe permite agir, mas essa norma não existe. Ele pensa que
a norma o autoriza a agir em legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular
do direito, estrito cumprimento do dever legal, mas essa norma não existe.

Aplicação Prática

(XXIII EXAME DE ORDEM) Pedro, jovem rebelde, sai à procura de Henrique, 24 anos, seu
inimigo, com a intenção de matá-lo, vindo a encontrá-lo conversando com uma senhora de 68
anos de idade. Pedro saca sua arma, regularizada e cujo porte era autorizado, e dispara em
direção ao rival. Ao mesmo tempo, a senhora dava um abraço de despedida em Henrique e
acaba sendo atingida pelo disparo. Henrique, que não sofreu qualquer lesão, tenta salvar a
senhora, mas ela falece.
Diante da situação narrada, em consulta técnica solicitada pela fami ́lia, deverá ser esclarecido
pelo advogado que a conduta de Pedro, de acordo com o Código Penal, configura
A) crime de homici ́dio doloso consumado, apenas, com causa de aumento em razão da idade
da vi ́tima.
B) crime de homici ́dio doloso consumado, apenas, sem causa de aumento em razão da idade da
vi ́tima.
C) crimes de homici ́dio culposo consumado e de tentativa de homici ́dio doloso em relação a
Henrique.
D) crime de homici ́dio culposo consumado, sem causa de aumento pela idade da vi ́tima.

R: Alternativa B
CADERNO DE PENAL
– Descriminantes putativas: são causas excludentes da ilicitude ou causas de
justificação. O agente acredita que está agindo acobertado por alguma causa de
exclusão da ilicitude, mas não está no mundo real. É uma causa de exclusão da ilicitude
imaginária, que não existe no mundo dos fatos, mas apenas na mente do agente.

Para explicarmos qual é a natureza do erro que incide nas descriminantes


putativas, se erro de tipo ou erro de proibição, será necessário analisarmos a subdivisão
da Teoria Normativa Pura da Culpabilidade a seguir:

a) Teoria Extremada da Culpabilidade: o erro que incide nas descriminantes putativas


sempre terá natureza de erro de proibição.
b) Teoria Limitada da Culpabilidade: é feita uma distinção sobre o erro que incide nas
descriminantes putativas. Se o erro incidir sobre uma situação de fato, será um erro de
tipo. Se a norma for permissiva, haverá um erro de tipo permissivo. Ao contrário, se o
erro incidir sobre a existência ou limites da causa de justificação, será hipótese de erro
de proibição.

Observação: o item 17 da Exposição de Motivos do Código Penal adotou a Teoria


LimitadaAssim, o erro na descriminante putativa será assim definido:
da Culpabilidade.

a) erro sobre os pressupostos fáticos da causa de justificação: ocorre quando o agente


acredita existir uma situação de fato que faria incidir a excludente de ilicitude. Neste
ponto, cabe lembrar a existência de duas correntes:
- Para a teoria limitada da culpabilidade, configura-se erro de tipo. Essa é a corrente
adotada pelo Código Penal.
- Para a teoria extrema da culpabilidade, configura-se erro de proibição.
b) erro sobre a existência da causa de justificação: ocorre quando o agente acredita na
existência de determinada causa de justificação, quando na verdade não existe.
Configura erro de proibição.
c) erro sobre os limites da causa de justificação: ocorre quando o agente comete um
excesso, que também configura erro de proibição.
CADERNO DE PENAL
Aplicação Prática

(V EXAME DA ORDEM) - Apolo foi ameaçado de morte por Hades, conhecido matador de
aluguel. Tendo tido ciência, por fontes seguras, que Hades o mataria naquela noite e, com o
intuito de defender-se, Apolo saiu de casa com uma faca no bolso de seu casaco. Naquela noite,
ao encontrar Hades em uma rua vazia e escura e, vendo que este colocava a mão no bolso,
Apolo precipita-se e, objetivando impedir o ataque que imaginava iminente, esfaqueia Hades,
provocando-lhe as lesões corporais que desejava. Todavia, após o ocorrido, o próprio Hades
contou a Apolo que não ia matá-lo, pois havia desistido de seu intento e, naquela noite, foi ao
seu encontro justamente para dar-lhe a notícia. Nesse sentido, é correto afirmar que
(A) havia dolo na conduta de Apolo.
(B) mesmo sendo o erro escusável, Apolo não é isento de pena.
(C) Apolo não agiu em legítima defesa putativa.
(D) mesmo sendo o erro inescusável, Apolo responde a título de dolo.

R: Alternativa A
CADERNO DE PENAL
Capítulo 5 - CONCURSO DE PESSOAS

5.1. Introdução

Há concurso de pessoas quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática


de uma ou mais infrações penais.
Ocorre nas hipóteses em que haverá concurso eventual de pessoas, por
exemplo: um crime de homicídio pode ser praticado apenas por um agente ou por
vários. Entretanto, os crimes de concurso necessário, plurissubjetivos, exigem, por
natureza, a pluralidade de agentes para a sua configuração, nesses casos não se aplica
o regramento do concurso de pessoas.

5.2. Disciplina normativa

O concurso de pessoas está disciplinado no arts. 29 a 31 do Código Penal.

5.3. Requisitos

Os requisitos são: pluralidade de agentes e de condutas; relevância causal de


cada conduta; liame subjetivo entre os agentes e identidade de infração penal.

a) Pluralidade de agentes e de condutas: precisa-se de duas ou mais pessoas praticando


mais de uma conduta.
b) Relevância causal de cada conduta: conduta penalmente relevante sob a ótica causal
é aquela que está apta a influenciar o resultado criminoso. Se a conduta do agente não
influenciar de forma alguma o resultado criminoso, não podemos dizer que ela
concorreu para o delito.
c) Liame subjetivo entre os agentes: o liame é o acerto prévio, o liame psicológico prévio
entre os concorrentes.

d) Identidade de infração penal: os agentes respondem pela mesma infração penal.


CADERNO DE PENAL
5.4. Teorias

Destacam-se três teorias: teoria monista ou unitária; teoria dualista; e teoria


pluralista.

a) Teoria Monista ou Unitária: todos aqueles que praticam condutas com igual
propósito respondem pelo mesmo crime.
b) Teoria Dualista: devem-se diferenciar dois crimes, um crime para os autores e um
crime para os partícipes.
c) Teoria Pluralista: são tantos crimes quantos forem os agentes.

Observamos que, em regra, o nosso Código Penal adotou a teoria monista (unitária)
no art. 29. Porém, a mencionada teoria é mitigada em razão das chamadas exceções
pluralísticas à teoria monista, razão pela qual dizemos que no ordenamento jurídico
brasileiro vigora a teoria monista mitigada ou temperada.

5.5. Autoria e coautoria

Para concebermos a figura do autor, faz-se necessário verificar os conceitos


trazidos pelas teorias restritiva, extensiva e do domínio final do fato.

a) Teoria Restritiva: autor é aquele que pratica o verbo núcleo do tipo penal.
b) Teoria Extensiva: autor é aquele que de qualquer forma concorre para a prática da
infração penal.
c) Teoria do Domínio Final do Fato: autor é aquele que tem o domínio finalístico do fato
criminoso.

No âmbito da teoria do domínio final do fato, existem duas espécies de autoria:


autoria direta e autoria indireta.

a) Autoria direta ou imediata: ocorre quando o agente possui o domínio final sobre o
fato e o executa diretamente.
CADERNO DE PENAL
b) Autoria indireta ou mediata: ocorre quando o agente utiliza um terceiro como
instrumento para a consecução da prática delituosa.

A coautoria ocorre quando duas ou mais pessoas participam da execução do


crime, com a realização ou não do núcleo do tipo penal.

5.6. Participação

A participação se configura nas hipóteses em que o partícipe não realiza


pessoalmente a conduta típica, nem possui o domínio do fato, mas presta auxílio moral
e/ou material.
De acordo com a teoria da acessoriedade limitada, adotada pelo Código Penal,
para que a participação se estabeleça, basta que a conduta do autor configure fato típico
e ilícito, ainda que não seja culpável.
São duas as formas de participação: moral e material.
A participação moral pode ser de duas formas:

a) Induzimento: é aquela em que o partícipe incute a ideia criminosa na mente do


agente.
b) Instigação: é aquela em que o partícipe reforça a ideia criminosa já existente
anteriormente na mentalidade do agente.

A participação material ocorre quando o partícipe presta auxílio com algum


bem material ou instrumento para o cometimento da infração penal.
A participação de menor importância encontra previsão no § 1º do art. 29 do
CP, que estabelece uma causa de diminuição de pena de um sexto a um terço.
A cooperação dolosamente distinta, também conhecida como o desvio
subjetivo de conduta, tem previsão no § 2º do art. 29 do CP e ocorre quando dois
concorrentes ajustam a prática de um crime, porém, no decorrer da execução, um deles
desvia a sua conduta e comete um crime mais grave do que o inicialmente planejado.
Nesse caso, se algum dos agentes quis concorrer para um crime menos grave,
ele responderá tão somente por tal crime. Entretanto, caso o crime mais grave tenha
CADERNO DE PENAL
sido previsível, o agente responderá pelo crime menos grave, mas a pena será elevada
até a metade.

Aplicação Prática

(XI EXAME DE ORDEM) Sofia decide matar sua mãe. Para tanto, pede ajuda a Lara, amiga de
longa data, com quem debate a melhor maneira de executar o crime, o melhor horário, local
etc. Após longas discussões de como poderia executar seu intento da forma mais eficiente
possível, a fim de não deixar nenhuma pista, Sofia pede emprestado a Lara um facão. A amiga
prontamente atende ao pedido. Sofia despede-se agradecendo a ajuda e diz que, se tudo correr
conforme o planejado, executará o homicídio naquele mesmo dia e assim o faz. No entanto,
apesar dos cuidados, tudo é descoberto pela polícia.
A respeito do caso narrado e de acordo com a teoria restritiva da autoria, assinale a afirmativa
correta.
A) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de o crime ter
sido praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime e deve
responder por homicídio, sem a presença da circunstância agravante.
B) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio, incidindo, para ambas,
a circunstância agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente.
C) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio. Todavia, a agravante
de ter sido, o crime, praticado contra ascendente somente incide em relação à Sofia.
D) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de ter sido, o
crime, praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime, mas a
agravante também lhe será aplicada.
R: Alternativa A
CADERNO DE PENAL
Capítulo 6 - TEORIA DA PENA

6.1. Conceito

A pena pode ser conceituada como uma resposta do Estado ao indivíduo que
cometeu alguma infração penal. De forma clássica, entende-se que a pena é uma sanção
penal.

6.2. Funções da pena

A pena deve ser fixada de forma suficiente e necessária à prevenção e à


reprovação de uma infração penal.

6.3. Princípios

Em específico, podemos listar os seguintes princípios:

a) Princípio da legalidade: positivado no art. 5º, XXXIX, da CRFB/1988 e no art. 1º do CP,


esse princípio reza que “não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação
legal”.
b) Princípio da individualização da pena: pode ser extraído do art. 5º, XLVI, da
CRFB/1988 e do art. 59 do CP. Esse princípio assevera que a aplicabilidade da pena deve
observar as características específicas do fato e do acusado, com respeito à sua
proporcionalidade.
c) Princípio da humanidade: segundo o princípio extraído do art. 5º, XLVII, da
CRFB/1988, não devem ser admitidas penas cruéis, bem como penas de morte e de
trabalhos forçados.

6.4. Teorias

Podemos dividir o estudo das teorias da pena em duas vertentes:

a) Teorias Absolutas: a pena é vista como uma forma de retribuição justa pelo
cometimento de um crime.
CADERNO DE PENAL
b) Teorias Relativas: a pena é vista como uma forma de prevenir crimes, sendo um meio
de proteção aos bens jurídicos. Essa função preventiva se subdivide em: prevenção geral
e prevenção especial. A prevenção geral e a especial são vistas sob duas formas: negativa
ou positiva. Vejamos cada uma delas em separado:

– Prevenção Geral

a) Negativa: a pena aplicada ao condenado provoca intimidação na sociedade.


b) Positiva: a pena atua como forma de integração social, tendo um importante papel
de conscientização.

– Prevenção Especial

a) Negativa: a pena busca a restrição da liberdade do condenado, com o objetivo de


promover a sua neutralização.
b) Positiva: a pena objetiva a ressocialização do condenado.

6.5. Classificação

As penas admitidas no nosso ordenamento jurídico são:

– penas privativas de liberdade;


– penas restritivas de direitos;
– penas pecuniárias.

6.5.1. Penas privativas de liberdade

As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão e detenção em relação


aos crimes. Tratando-se de contravenção penal, aplica-se a pena de prisão simples.
Disciplina normativa: de acordo com o art. 33 do CP, “A pena de reclusão deve
ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.
CADERNO DE PENAL
No § 1º do art. 33 do CP são previstas as espécies de regimes de cumprimento
de pena: regime fechado; regime semiaberto e regime aberto. Vejamos cada uma dessas
espécies:

a) Regime fechado: prevê que a pena será cumprida em estabelecimento de segurança


máxima ou média.
b) Regime semiaberto: prevê que a pena será cumprida em colônia agrícola, industrial
ou estabelecimento similar.
c) Regime aberto: prevê que a pena será cumprida em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.

Fixação de regime inicial (artigo 33, §2º do CP)

Regime inicial Quantidade de pena


Fechado Superior a 8 anos

Semiaberto Superior a 4 anos e não excedente a 8 anos,


desde que condenado não reincidente

Aberto Igual ou inferior a 4 anos, desde que condenado


não reincidente

Súmula nº 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.

Importante! A partir da leitura do §3º do artigo 33 do CP, conclui-se que o regime inicial
de pena será fixado conforme os critérios da: quantidade e espécie da pena, reincidência
e observância das circunstâncias judiciais.

Jurisprudência
CADERNO DE PENAL
Tema: Falta de vagas nos regimes semiaberto e aberto e cumprimento
da pena (Informativo nº 825 do STF)

1. Cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de inexistir


vaga em estabelecimento adequado a seu regime. Violação aos princípios
da individualização da pena (art. 5º, XLVI) e da legalidade (art. 5º, XXXIX).
A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção
do condenado em regime prisional mais gravoso.
2. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos
destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como
adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou
“casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art.
33, § 1º, alíneas “b” e “c”). No entanto, não deverá haver alojamento
conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do
regime fechado.
3. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: (i) a saída
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou
é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de
penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao
regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas
propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.
4. Apelo ao legislador. A legislação sobre execução penal atende aos
direitos fundamentais dos sentenciados. No entanto, o plano legislativo
está tão distante da realidade que sua concretização é absolutamente
inviável. Apelo ao legislador para que avalie a possibilidade de reformular
a execução penal e a legislação correlata, para: (i) reformular a legislação
de execução penal, adequando-a à realidade, sem abrir mão de
parâmetros rígidos de respeito aos direitos fundamentais; (ii)
compatibilizar os estabelecimentos penais à atual realidade; (iii) impedir
o contingenciamento do FUNPEN; (iv) facilitar a construção de unidades
CADERNO DE PENAL
funcionalmente adequadas – pequenas, capilarizadas; (v) permitir o
aproveitamento da mão-de-obra dos presos nas obras de civis em
estabelecimentos penais; (vi) limitar o número máximo de presos por
habitante, em cada unidade da federação, e revisar a escala penal,
especialmente para o tráfico de pequenas quantidades de droga, para
permitir o planejamento da gestão da massa carcerária e a destinação
dos recursos necessários e suficientes para tanto, sob pena de
responsabilidade dos administradores públicos; (vii) fomentar o trabalho
e estudo do preso, mediante envolvimento de entidades que recebem
recursos públicos, notadamente os serviços sociais autônomos; (viii)
destinar as verbas decorrentes da prestação pecuniária para criação de
postos de trabalho e estudo no sistema prisional.
5. Decisão de caráter aditivo. Determinação que o Conselho Nacional de
Justiça apresente: (i) projeto de estruturação do Cadastro Nacional de
Presos, com etapas e prazos de implementação, devendo o banco de
dados conter informações suficientes para identificar os mais próximos
da progressão ou extinção da pena; (ii) relatório sobre a implantação das
centrais de monitoração e penas alternativas, acompanhado, se for o
caso, de projeto de medidas ulteriores para desenvolvimento dessas
estruturas; (iii) projeto para reduzir ou eliminar o tempo de análise de
progressões de regime ou outros benefícios que possam levar à
liberdade; (iv) relatório deverá avaliar (a) a adoção de estabelecimentos
penais alternativos; (b) o fomento à oferta de trabalho e o estudo para os
sentenciados; (c) a facilitação da tarefa das unidades da Federação na
obtenção e acompanhamento dos financiamentos com recursos do
FUNPEN; (d) a adoção de melhorias da administração judiciária ligada à
execução penal.
6. Estabelecimento de interpretação conforme a Constituição para (a)
excluir qualquer interpretação que permita o contingenciamento do
Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), criado pela Lei Complementar
79/94; b) estabelecer que a utilização de recursos do Fundo Penitenciário
Nacional (FUNPEN) para financiar centrais de monitoração eletrônica e
CADERNO DE PENAL
penas alternativas é compatível com a interpretação do art. 3º da Lei
Complementar 79/94.
7. Caso concreto: o Tribunal de Justiça reconheceu, em sede de apelação
em ação penal, a inexistência de estabelecimento adequado ao
cumprimento de pena privativa de liberdade no regime semiaberto e,
como consequência, determinou o cumprimento da pena em prisão
domiciliar, até que disponibilizada vaga. Recurso extraordinário provido
em parte, apenas para determinar que, havendo viabilidade, ao invés da
prisão domiciliar, sejam observados (i) a saída antecipada de sentenciado
no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente
monitorada do recorrido, enquanto em regime semiaberto; (iii) o
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado
após progressão ao regime aberto.
(STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/5/2016 - Repercussão Geral).

Conforme disciplinam o § 2º do art. 33 do CP e o art. 112 da Lei 7.210/1984


(LEP), a pena privativa de liberdade será executada de forma progressiva com a
transferência para o regime menos rigoroso.

O Código Penal contemplou o modelo trifásico na aplicação da pena privativa


de liberdade, conforme dispõe o artigo 68 do CP.

Veja-se cada uma das três fases:

 1ª Fase: fixação da pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais previstas


no artigo 59 do CP:
CADERNO DE PENAL
“O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV – a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.”

Súmula 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.
Súmula 440 do STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento
de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com
base apenas na gravidade abstrata do delito.
Súmula 444 do STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base.
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não
constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.

 2ª Fase: serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes. As


circunstâncias agravantes estão previstas nos artigos 61 e 62 do CP. Enquanto
que as circunstâncias atenuantes estão dispostas no artigo 65 do CP. O concurso
das circunstâncias agravantes e atenuantes está previsto no artigo 67 do CP.

- Importante! Reincidência: é uma circunstância agravante genérica (artigo 61, I do CP),


que incide na 2ª fase de aplicação da pena. Ocorre quando o agente comete novo crime,
depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior. Sendo certo que, para efeito da reincidência, não
CADERNO DE PENAL
prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena
e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos, computado o
período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação.

- Importante! Confissão: é uma circunstância atenuante genérica (artigo 65, III, “d” do
CP), que incide na 2ª fase de aplicação da pena.

- Espécies:
a) Espontânea: é a atenuante genérica prevista no artigo 65, III, “d” do CP.
b) Parcial: ocorre na hipótese em que o agente confessa apenas parcialmente os fatos
alegados na denúncia.
c) Qualificada: ocorre na hipótese em que o agente admite a prática do fato criminoso,
mas alega em sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena.

Súmula 231 do STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à


redução da pena abaixo do mínimo legal.
Súmula 241 do STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.
Súmula 545 do STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do
convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do
Código Penal.

- Concurso entre agravantes e atenuantes: de acordo com o artigo 67 do CP, no


concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve se aproximar do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
Jurisprudência
Tema: compensação entre a agravante do artigo 61, II, “f” do CP (crime
praticado com violência contra a mulher) e a confissão espontânea
(artigo 65, III, “d” do CP)
CADERNO DE PENAL
“Esta Corte Superior tem firme entendimento de que a atenuante da
confissão espontânea, por envolver a personalidade do agente, deve ser
utilizada como circunstância preponderante quando do concurso entre
agravantes e atenuantes, nos termos consignados pelo artigo 67 do
Código Penal, razão pela qual foi pacificado neste Superior Tribunal de
Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo
1.341.370/MT, da relatoria do Ministro Sebastião Reis Júnior, o
entendimento de que a agravante da reincidência e a atenuante da
confissão espontânea, por serem igualmente preponderantes, devem ser
compensadas entre si, cognição que deve ser estendida, por
interpretação analógica, à hipótese em análise, dada sua similitude, por
também versar sobre a possibilidade de compensação entre
circunstâncias preponderantes.”
(AgRg no AREsp 689.064-RJ, Rel. Min, Maria Thereza de Assis Moura, 6ª
Turma, julgado em 06/08/2015).

Jurisprudência

Tema: Compatibilidade entre a agravante do art. 62, I, do CP e a


condição de mandante do delito (Informativo nº 580 do STJ)

A incidência da agravante do art. 62, I, do Código Penal é compatível com


a autoria intelectual do delito (mandante). No entanto, o mandante do
crime somente deverá ser punido com a agravante se, no caso concreto,
houver elementos que sirvam para caracterizar a situação descrita pelo
inciso I do art. 62, ou seja, é necessário que fique demonstrado que ele
promoveu, organizou o crime ou dirigiu a atividade dos demais agentes.
Em outras palavras, o mandante poderá responder pela agravante do
inciso I do art. 62 do CP, mas isso nem sempre acontecerá, dependendo
das circunstâncias do caso concreto.

(REsp 1.563.169-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma


julgado em 10/3/2016).
CADERNO DE PENAL

 3ª Fase: serão aplicadas as causas de diminuição e de aumento de pena. O artigo


68, parágrafo único do CP estabelece que no concurso de causas de aumento ou
de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento
ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou
diminua.

Aplicação Prática

(XXII EXAME DA ORDEM) Gilson, 35 anos, juntamente com seu filho Rafael, de 15 anos, em
dificuldades financeiras, iniciaram atos para a subtração de um veículo automotor. Gilson
portava arma de fogo e, quando a vítima tentou empreender fuga, ele efetua disparos contra
ela, a fim de conseguir subtrair o carro. O episódio levou o proprietário do automóvel a falecer.
Apesar disso, os agentes não levaram o veículo, já que outras pessoas que estavam no local
chamaram a Polícia.
Descobertos os fatos, Gilson é denunciado pelo crime de latrocínio consumado e corrupção de
menores em concurso formal, sendo ao final da instrução, após confessar os fatos, condenado
à pena mínima de 20 anos pelo crime do Art. 157, § 3o, do Código Penal, e à pena mínima de 01
ano pelo delito de corrupção de menores, não havendo reconhecimento de quaisquer
agravantes ou atenuantes. Reconhecido, porém, o concurso formal de crimes, ao invés de as
penas serem somadas, a pena mais grave foi aumentada de 1/6, resultando em um total de 23
anos e 04 meses de reclusão.
Considerando a situação narrada, o advogado de Gilson poderia pleitear, observando a
jurisprudência dos Tribunais Superiores, em sede de recurso de apelação,
A) a aplicação da regra do cúmulo material em detrimento da exasperação, pelo concurso
formal de crimes. 

B) a aplicação da pena intermediária abaixo do mínimo legal, em razão do reconhecimento da
atenuante da confissão espontânea.
C) o reconhecimento da modalidade tentada do latrocínio, já que o veículo automotor não foi
subtraído. 

D) o afastamento da condenação por corrupção de menor, pela natureza material do delito.
R: Alternativa A
CADERNO DE PENAL
6.5.2. Penas restritivas de direito

De acordo com o art. 44 do CP, as penas restritivas de direitos são autônomas


e substitutivas das penas privativas de liberdade. São penas de caráter alternativo. Elas
se encontram listadas no art. 43 do CP.

6.5.3 Penas Pecuniárias


6.5.3.1 Pena de multa

A pena de multa é caracterizada pelo pagamento destinado ao fundo


penitenciário de determinada importância em dinheiro. O valor é estipulado na
sentença e se calcula em dias-multa, sendo, no mínimo, de 10 e, no máximo, de 360
dias-multa.
Caso não haja o pagamento pelo condenado, a multa será considerada dívida
de valor, com aplicação das normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, nos
termos do art. 51 do CP.

Jurisprudência

Tema: Inadimplemento da pena de multa e extinção da punibilidade


(Informativo nº 568 do STJ)

Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e multa,


cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a
tenha substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o
reconhecimento da extinção da punibilidade.
(Resp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção,
julgado em 26/8/2015).
CADERNO DE PENAL
6.6. Medida de segurança

A medida de segurança constitui uma espécie de sanção penal, de cunho


terapêutico e preventivo. A sua aplicabilidade requer a presença dos seguintes
requisitos: o cometimento de um fato típico e ilícito e a periculosidade social do
acusado. A medida de segurança pode ser de duas espécies: a) detentiva; e b) restritiva.

a) Detentiva: é cumprida mediante internação em hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico ou, na falta deste, em outro estabelecimento adequado.
b) Restritiva: é cumprida por meio de tratamento ambulatorial.

Súmula 527 do STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve


ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.

Importante! O STF, em alguns julgados, adotou o posicionamento que a medida de


segurança deverá obedecer a um prazo máximo de 30 anos, com base em uma
analogia com o artigo 75 do CP, e considerando que a CRFB/88 veda as penas de
caráter perpétuo.

Jurisprudência

Tema: medida de segurança e princípio do ne bis in idem (Informativo


nº 579 do STJ)

1. Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior


Tribunal de Justiça ser inadequado o writ quando utilizado em
substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal,
admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de
ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia.
2. O sistema vicariante afastou a imposição cumulativa ou sucessiva de
pena e medida de segurança, uma vez que a aplicação conjunta ofenderia
CADERNO DE PENAL
o princípio do ne bis in idem, já que o mesmo indivíduo suportaria duas
consequências em razão do mesmo fato.
3. Tratando-se o reconhecimento da incapacidade de decisão incidental
no processo penal, não há obstáculo jurídico à imposição de medida de
segurança em um feito e penas privativas de liberdade em outros
processos.
4. Habeas Corpus não conhecido.
(HC 275635, Rel. Min. NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em
08/03/2016).

6.7. Suspensão condicional da pena

A suspensão condicional da pena é denominada sursis, e se classifica em: sursis


simples e sursis especial. Vejamos cada um em separado:

– Sursis simples: está previsto no § 1º do art. 78 do CP. O sursis simples requer o


cumprimento de requisito objetivo e subjetivo.

a) Requisito objetivo: é a condenação de pena privativa de liberdade não superior a dois


anos.
b) Requisito subjetivo: é que o condenado não seja reincidente em crime doloso,. Ainda
que o agente tenha sido condenado anteriormente pela prática de crime doloso, se a
ele tiver sido aplicada pena de multa, isolada ou mesmo em substituição à PPL, tal
condenação não impedirá a concessão do benefício.

Observação: o sursis somente será possível se não for indicada ou cabível a


substituição prevista no art. 44 do CP.

– Sursis especial: previsto no § 2º do art. 78 do CP. Classifica-se como:


CADERNO DE PENAL
a) Sursis etário: é aquele concedido a maior de 70 anos de idade que tenha sido
condenado a uma PPL não superior a quatro anos.
b) Sursis humanitário: permite ao condenado a uma pena não superior a quatro anos
ver concedido o sursis, desde que razões de saúde a justifiquem.

Súmula 499 do STF: Não obsta à concessão do "sursis" condenação anterior à pena de
multa.

6.8. Livramentoo condicional


Observação: artigo 77, §1º do CP prevê em igual sentido ao da súmula.

O requerimento de livramento condicional deverá ser dirigido ao juiz da


execução, que, depois de ouvidos o Ministério Público e o Conselho Penitenciário,
poderá ser concedido, caso estejam presentes os requisitos do art. 83 do CP.

6.9. Concurso de crimes

Na temática do concurso de crimes, podemos subdividir com base nos


sistemas: sistema do cúmulo material; sistema do cúmulo jurídico; sistema de absorção;
e sistema de exasperação.

a) Sistema do cúmulo material: é aplicado como regra em nosso sistema, que consiste
no somatório simples das penas.
b) Sistema do cúmulo jurídico: a pena aplicada não deve ser o somatório das penas de
todos os crimes cometidos, mas deve corresponder à gravidade dos delitos envolvidos.
Dessa forma, a pena final deve atingir valor inferior ao somatório de todas as penas,
contudo, superior a de cada infração penal singularmente.
c) Sistema de absorção: a pena do crime mais grave absorve a menos grave dos crimes
em concorrência.
d) Sistema de exasperação: neste haverá uma única pena, sempre a mais grave
aumentada de um quantum variável estabelecido em lei.

 Concurso Formal Próprio ou Perfeito: ocorre quando o agente mediante uma só


ação ou omissão, pratica mais de um crime, idênticos ou não. Aplica-se, em
CADERNO DE PENAL
regra, o sistema da exasperação, com a aplicabilidade da pena do crime mais
grave ou, se iguais, somente uma delas, aumentada de um sexto até a metade.
Tal regramento encontra-se no artigo 70, 1ª parte do CP.

- Importante! No concurso formal próprio, a pena não poderá exceder a pena que seria
cabível pela regra do concurso material, que aplica o sistema do cúmulo material. Se o
resultado da exasperação for mais gravoso que a soma de penas, deve-se então somá-
las, aplicando a regra do cúmulo material (concurso material benéfico). Tal regramento
encontra-se no artigo 70, parágrafo único do CP.

 Concurso Formal Impróprio ou Imperfeito: ocorre quando o agente mediante


uma só ação ou omissão, pratica mais de um crime, idênticos ou não, e os crimes
resultam de desígnios autônomos, aplica-se a regra do concurso material
(cúmulo material). Tal regramento encontra-se no artigo 70, 2ª parte do CP.

 Crime Continuado: ocorre quando o agente mediante mais de uma ação ou


omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. Aplica-se o sistema da
exasperação, com a aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Tal regramento encontra previsão no artigo 71, caput do CP.

- Requisitos:
a) Pluralidade de condutas
b) Pluralidade de crimes da mesma espécie
c) Mesmas condições de tempo
d) Mesmas condições de lugar
e) Mesma forma de execução
f) Outras circunstâncias semelhantes
CADERNO DE PENAL

Jurisprudência
Tema: Requisitos da continuidade delitiva (Informativo nº 457 do STJ)

A Turma denegou a ordem de habeas corpus para não reconhecer a


continuidade delitiva entre os delitos de homicídio praticados pelo
paciente. Para a caracterização do crime continuado, consignou-se que o
STJ vem adotando a teoria mista, a qual exige o preenchimento dos
requisitos objetivos - mesmas condições de tempo, lugar e maneira de
execução - e do subjetivo - unidade de desígnios. In casu, asseverou o
Min. Relator que entender de modo contrário à conclusão do tribunal a
quo de que tais requisitos não teriam sido cumpridos demandaria
revolvimento fático-probatório dos autos, o que não é possível
em habeas corpus. Salientou, ademais, que eventual modificação da
sentença condenatória, in casu, exigiria ainda mais cautela por se tratar
de julgamento proveniente do tribunal do júri, em que impera a
soberania dos veredictos. Precedentes citados do STF: HC 89.097-MS, DJe
24/4/2008; HC 85.113-SP, DJ 1º/7/2005; RHC 85.577-RJ, DJ 2/9/2005; HC
95.753-RJ, DJe 6/8/2009; HC 70.794-SP, DJ 13/12/2002; do STJ: HC
142.384-SP, DJe 13/9/2010, e HC 93.323-RS, DJe 23/8/2010.
(HC 151.012-RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, julgado em 23/11/2010).

- Crime continuado específico: nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos
com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou mais grave, se
diversas, até o triplo. Tal regramento encontra previsão no artigo 71, parágrafo único do
CP.
CADERNO DE PENAL
Aplicação Prática

(EXAME DE ORDEM 2010.2) - Com relação ao concurso de delitos, é correto afirmar que:
(A) no concurso de crimes as penas de multa são aplicadas distintamente, mas de forma
reduzida.
(B) o concurso material ocorre quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes com dependência fática e jurídica entre estes.
(C) o concurso formal perfeito, também conhecido como próprio, ocorre quando o agente, por
meio de uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes idênticos, caso em que as penas
serão somadas.
(D) o Código Penal Brasileiro adotou o sistema de aplicação de pena do cúmulo material para os
concursos material e formal imperfeito, e da exasperação para o concurso formal perfeito e
crime continuado.
R: Alternativa D

6.10. Causas de extinção da punibilidade

O art. 107 do CP estabelece as causas de extinção da punibilidade, a saber: a morte do


agente; a anistia, graça ou indulto; a retroatividade de lei que não mais considera o fato
como criminoso; a prescrição, decadência ou perempção; a renúncia do direito de
queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação penal privada; a retratação do agente
nos casos em que a lei admite e pelo perdão judicial, nos casos estabelecidos em lei.

- Anistia x Indulto Coletivo x Graça X Comutação:

 Anistia: é concedida pelo Congresso Nacional, por lei, volta-se ao esquecimento de


determinados fatos, fazendo desaparecer suas consequências penais, sendo uma
medida de política criminal.
 Indulto Coletivo: é concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto,
voltada a condenados, dirigindo-se a determinada categoria de sentenciados.
CADERNO DE PENAL

 Graça: é dirigida a um determinado condenado, condicionada à prévia solicitação,


concedida em razão de alguma especial situação ou mérito que apresente ou,
simplesmente, de forma discricionária pelo Presidente da República, podendo ter
caráter humanitário.
 Comutação: é modalidade concedida de ofício pelo Presidente da República, por
decreto, voltada a condenados e dirigida a um número indeterminado de
reeducandos, desde que preencham os requisitos do decreto concessivo, podendo
ajustar a execução, diminuindo ou substituindo a pena, devendo ser retificada a conta
de liquidação para ajustá-la à nova realidade no que tange ao quantum, nos termos
do decreto concessivo.

Trataremos, a seguir, da prescrição.

A CRFB/1988 prevê a imprescritibilidade de dois grupos de crimes: o racismo e a ação


de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
democrático.

O CP subdivide a prescrição em dois grupos: prescrição da pretensão punitiva


e prescrição da pretensão executória. Analisaremos cada uma delas em separado:

– Prescrição da Pretensão Punitiva: esta modalidade de prescrição repercute os


seguintes efeitos: obsta o exercício da ação penal, seja na fase do inquérito policial ou
na fase judicial; tem o condão de apagar todos os efeitos de eventual sentença
condenatória antes proferida; não servirá para fins de reincidência, nem para
caracterizar maus antecedentes, e não embasará título executivo no âmbito cível.

A prescrição da pretensão punitiva é subdividida em: prescrição da pretensão


punitiva propriamente dita ou prescrição da ação penal; prescrição intercorrente,
superveniente ou subsequente; e prescrição retroativa.
CADERNO DE PENAL
a) Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição da ação penal: é
aquela que se verifica antes do trânsito em julgado da sentença penal, com observância
dos limites fixados no art. 109 do CP.
b) Prescrição intercorrente, superveniente ou subsequente: é aquela existente entre a
publicação da sentença penal condenatória recorrível e o momento do trânsito em
julgado para a defesa. Assim, observa-se que ela depende do trânsito em julgado para a
acusação no que tange à pena fixada, em decorrência da não interposição do recurso
cabível ou pelo seu improvimento.
c) Prescrição retroativa: é aquela calculada com base na pena em concreto. Ela depende
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a acusação no que
concerne à pena fixada, em decorrência da não interposição do recurso cabível ou pelo
seu improvimento.

As causas impeditivas da prescrição estão listadas no art. 116 do CP e as causas


interruptivas, no art. 117 do CP.

– Prescrição da Pretensão Executória: esta modalidade de prescrição repercute os


seguintes efeitos: em razão de já existir trânsito em julgado para a acusação e defesa,
competirá ao juízo da execução penal reconhecê-la e, com isso, declarar a extinção da
punibilidade, após a oitiva do Ministério Público. Ela extingue somente a aplicação da
pena, com a manutenção de todos os efeitos secundários da condenação penal, de
caráter penal e extrapenal. A condenação servirá para a caracterização da reincidência,
nos moldes do art. 64, I do CP. Ela servirá, ainda, como título executivo a ser executado
na esfera cível.

Esta modalidade de prescrição é calculada pela pena em concreto, fixada na


sentença ou no acórdão, tendo em vista que já existe trânsito em julgado para a
acusação e para a defesa. Na hipótese de reincidência antecedente, o prazo
prescricional aumenta-se a fração de 1/3.
CADERNO DE PENAL
Conforme estabelece o art. 113 do CP, no caso de evadir-se o condenado ou de
revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da
pena.

Súmula 146 do STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação.

Súmula 18 do STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção


da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Súmula 220 do STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão


punitiva.

Súmula 438 do STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da


pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da
existência ou sorte do processo penal.

Jurisprudência

Tema: Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70


anos e momento de sua aferição (Informativo nº 822 do STF)

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do


CP, é necessário que, no momento da sentença, o condenado possua
mais de 70 anos. Se ele só completou a idade após a sentença, não terá
direito ao benefício, mesmo que isso tenha ocorrido antes do julgamento
de apelação interposta contra a sentença. Existe, no entanto, uma
situação em que o condenado será beneficiado pela redução do art. 115
do CP mesmo tendo completado 70 anos após a "sentença" (sentença ou
acórdão condenatório): isso ocorre quando o condenado opõe embargos
de declaração contra a sentença/acórdão condenatórios e esses
CADERNO DE PENAL
embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será
reduzido pela metade se o réu completar 70 anos até a data do
julgamento dos embargos. Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF,
rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
5/12/2013.

(HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, 2ª Turma, julgado em 19/4/2016).

Aplicação Prática
(XVI EXAME DE ORDEM) Felipe, menor de 21 anos de idade e reincidente, no dia 10 de abril
de 2009, foi preso em flagrante pela prática do crime de roubo. Foi solto no curso da instrução
e acabou condenado em 08 de julho de 2010, nos termos do pedido inicial, ficando a pena
acomodada em 04 anos de reclusão em regime fechado e multa de 10 dias, certo que houve
a compensação da agravante da reincidência com a atenuante da menoridade. A decisão
transitou em julgado para ambas as partes em 20 de julho de 2010. Foi expedido mandado de
prisão e Felipe nunca veio a ser preso. Considerando a questão fática, assinale a afirmativa
correta.
A) A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória ocorrerá em 20 de julho
de 2016.
B) A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória ocorreu em 20 de julho
de 2014.
C) A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória ocorrerá em 20 de julho
de 2022.
D) A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão executória ocorrerá em 20 de
novembro de 2015.
R: Alternativa D
CADERNO DE PENAL

(XXIV EXAME DE ORDEM – Questão 62) No dia 28 de agosto de 2011, após uma discussão no
trabalho quando todos comemoravam os 20 anos de João, este desfere uma facada no braço
de Paulo, que fica revoltado e liga para a Polícia, sendo João preso em flagrante pela prática
do injusto de homicídio tentado, obtendo liberdade provisória logo em seguida. O laudo de
exame de delito constatou a existência de lesão leve. A denúncia foi oferecida em 23 de
agosto de 2013 e recebida pelo juiz em 28 de agosto de 2013. Finda a primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, ocasião em que a vítima compareceu, confirmou os fatos,
inclusive dizendo acreditar que a intenção do agente era efetivamente matá-la, e demonstrou
todo seu inconformismo com a conduta do réu, João foi pronunciado, sendo a decisão
publicada em 23 de agosto de 2015, não havendo impugnação pelas partes. Submetido a
julgamento em sessão plenária em 18 de julho de 2017, os jurados afastaram a intenção de
matar, ocorrendo em sentença, então, a desclassificação para o crime de lesão corporal
simples, que tem a pena máxima prevista de 01 ano, sendo certo que o Código Penal prevê
que a pena de 01 a 02 anos prescreve em 04 anos. Na ocasião, você, como advogado (a) de
João, considerando apenas as informações narradas, deverá requerer que seja declarada a
extinção da punibilidade pela
A) decadência, por ausência de representação da vítima.
B) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo prescricional entre a
data do fato e a do recebimento da denúncia.
C) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassado o prazo prescricional entre a
data do oferecimento da denúncia e a da publicação da decisão de pronúncia.
D) prescrição da pretensão punitiva, porque entre a data do recebimento da denúncia e a do
julgamento pelo júri decorreu o prazo prescricional.
R: Alternativa B
CADERNO DE PENAL
Capítulo 7 - INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL

7.1. Crimes contra a vida

Nos crimes contra a vida tutela-se a proteção da vida humana como bem
jurídico, sendo considerado o bem mais importante do indivíduo.

7.1.1. Homicídio

– Previsão legal: art. 121 do CP.

O tipo penal tipifica a conduta de matar alguém, que significa a retirada da vida
de outro ser humano, que estava vivo no momento do crime.

– Classificação doutrinária: crime comum, simples, de forma livre, de dano, instantâneo


de efeito permanente, material, que admite a realização dolosa ou culposa, comissivo
ou omissivo (na modalidade de omissão imprópria do art. 13, § 2º, do CP).

– Modalidades:

a) Homicídio simples (art. 121, caput, do CP): é a forma simples do tipo penal “Matar
alguém”, não exige nenhum animus especial do agente.
b) Homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, do CP): é uma causa de diminuição especial de
pena. O agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
c) Homicídio qualificado (art. 121, § 2º, do CP): são hipóteses qualificadoras do crime,
umas relacionadas aos motivos do crime (incisos I, II, V, VI e VII) e outras ao modo que
o crime foi praticado (incisos III e IV).
d) Homicídio culposo (art. 121, § 3º, do CP): essa modalidade ocorre quando o agente,
com manifestada imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar a atenção
ou diligência de que era capaz, provocando, com a sua conduta, o evento morte.
CADERNO DE PENAL
e) Homicídio culposo majorado (art. 121, § 4º, 1ª parte, do CP): são causas de aumento
de pena no crime cometido culposamente. Ocorre quando o crime é cometido com
inobservância da regra técnica de profissão, arte ou ofício; se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou foge
para evitar prisão em flagrante.

– Causas de aumento de pena: quando o crime doloso for praticado contra pessoa
menor de 14 ou maior de 60 anos, aumenta-se a pena em 1/3; quando o crime for
praticado por milícia privada, sob pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade.

Observação:
Observação:nanaqualificadora
qualificadorado
dofeminicídio,
feminicídio,aumenta-se
aumenta-se em
em 1/3 a pena
penaaté
atéaametade
metade
seseo ocrime
crimefor
forpraticado:
praticado:(i)(i)durante
durantea gestação ouou
a gestação nos 3 meses
nos posteriores
3 meses aoao
posteriores parto; (ii)
parto;
contra pessoa
(ii) contra menor
pessoa de 14de
menor anos, maior maior
14 anos, de 60 anos
de 60ouanos
comou
deficiência e (iii) na epresença
com deficiência; (iii) na
depresença
descendente ou ascendente
de descendente da vítima. da vítima.
ou ascendente

– Perdão judicial: no homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as


consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária. É uma causa de extinção da punibilidade. A previsão está
no art. 121, § 5º, do CP.

7.1.2. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

– Previsão legal: art. 122 do CP.

O sujeito ativo e o passivo podem ser qualquer pessoa. O tipo penal descreve a
conduta do suicídio, que ocorre com a eliminação da própria vida, exigindo-se que a
vítima tenha cometido o suicídio de forma voluntária e consciente, ou seja, com
discernimento. O agente pratica o crime por meio de três formas: induzimento,
instigação ou auxílio.
CADERNO DE PENAL
– Classificação doutrinária: crime de conduta múltipla ou de conteúdo variado. O crime
só é punível a título de dolo.

– Causas especiais de aumento de pena: o parágrafo único do art. 122 do CP prevê que
a pena será duplicada quando: (i) o crime for praticado por motivo egoístico; (ii) a vítima
for menor; ou (iii) em vítima que tenha diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.

7.1.3. Infanticídio

– Previsão legal: art. 123 do CP.

O sujeito ativo do crime é a mãe, sendo hipótese de crime próprio, e o sujeito


passivo é o nascido, se for praticado durante o parto, ou o neonato, se for logo após o
momento do parto.
Ocorre o crime quando a mãe mata o seu filho sob a influência do estado
puerperal, ou seja, o crime deve ter sido cometido em virtude da perturbação de ordem
psíquica decorrente do estado puerperal.

7.1.4. Aborto

– Previsão legal: arts. 124 a 128 do CP.

O crime de aborto tutela a vida humana. Se o crime for provocado por terceiro,
também se protege a incolumidade da gestante. O aborto caracteriza-se por ser uma
descontinuação da gravidez, que leva à morte do feto.
O tipo penal do aborto é previsto em três artigos:

a) Provocar o aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque (art. 124 do
CP): o sujeito ativo é a própria gestante. O sujeito passivo é o feto.
CADERNO DE PENAL
b) Provocar o aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 do CP): o crime pode
ser cometido por qualquer pessoa. Há uma dupla subjetividade passiva, pois são sujeitos
passivos o feto e a gestante.
c) Provocar aborto com o consentimento da gestante (art. 126 do CP): o crime pode ser
cometido por qualquer pessoa. O sujeito passivo é o feto.

– Causas especiais de aumento de pena: conforme o art. 127 do CP, aumenta-se em um


terço as penas dos crimes previstos nos arts. 125 e 126 do CP se, em decorrência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Observação: o art. 128 do CP elenca as hipóteses em que o aborto será permitido.


Trata-se de típica norma penal permissiva.

Jurisprudência

Tema: Crime de aborto. Interrupção da gravidez no primeiro trimestre


da gestação (Informativo nº 849 do STF)

A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada


pela própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126)
não é crime. É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos
arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para
excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação
efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola
diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da
proporcionalidade.

(HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, 1ª Turma, julgado em 29/11/2016).
CADERNO DE PENAL

7.2. Lesões corporais

– Previsão legal: art. 129 do CP.

O bem jurídico tutelado é a incolumidade pessoal da pessoa. O sujeito ativo


pode ser qualquer pessoa, bem como o sujeito passivo. A exceção se dá nas hipóteses
previstas no art. 129, §§ 1º, IV, e 2º, V, do CP, nas quais somente a mulher grávida será
sujeito passivo.
O tipo penal ocorre quando o agente ofende a integridade física de outrem.

– Classificação doutrinária:

a) Lesão corporal de natureza grave (art. 129, § 1º, do CP).


b) Lesão corporal de natureza gravíssima (art. 129, § 2º, do CP).
c) Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP).
d) Lesão corporal culposa (art. 129, § 6º, do CP).
e) Lesão corporal qualificada pela violência doméstica e familiar (art. 129, § 9º, do CP).

1ª Observação: A diferença entre o crime de lesão corporal e as vias de fato é que


no crime de lesão corporal o agente atua com o dolo de lesionar, já nas vias de fato
não há esse dolo, como, por exemplo, dar um empurrão em alguém.

2ª Observação: Somente as lesões dolosas se classificam como leves, graves e


gravíssimas. A lesão corporal culposa não se classifica, mas deve ser considerada para
fins de aplicação da pena.

7.3. Rixa

– Previsão legal: art. 137 do CP.


CADERNO DE PENAL
O crime tutela os bens jurídicos saúde e vida. Não se exige condição especial
para o sujeito ativo e nem para o sujeito passivo, ou seja, qualquer pessoa poderá
praticá-lo. Exige-se, contudo, o concurso necessário de pessoas, pois se trata de crime
de natureza plurissubjetiva.

– Classificação doutrinária: crime comum, de perigo abstrato, comissivo e de concurso


necessário.

7.4. Crimes contra a honra

Os crimes contra a honra tutelam a honra, que ostenta natureza de direito


fundamental, positivada no art. 5º, X, da CRFB/1988. O Código Penal disciplinou três
crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.
A honra é classificada em honra objetiva e honra subjetiva:

– Honra objetiva: é o conceito que a pessoa possui na sociedade, a sua reputação social.
– Honra subjetiva: é o conceito que a pessoa tem sobre si própria, a sua dignidade e
decoro.

7.4.1. Calúnia

– Previsão legal: art. 138 do CP.

O bem jurídico tutelado é a honra objetiva. O tipo penal dispõe que a calúnia é
praticada quando o agente imputa a alguém falsamente fato definido como crime.

Observação: admite-se a calúnia contra os mortos, de acordo com o art. 138, § 2º, do
CP.

– Exceção da verdade: em regra, permite-se a exceção da verdade, salvo nas hipóteses


descritas no art. 138, § 3º, do CP.
CADERNO DE PENAL
7.4.2. Difamação

– Previsão legal: art. 139 do CP.

O bem jurídico tutelado é a honra objetiva. O tipo penal caracteriza-se quando


o agente atribui a alguém fato ofensivo à sua reputação.

– Classificação doutrinária: é um crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito


ativo e passivo.

– Exceção da verdade: só poderá ser admitida se ofendido for funcionário público e a


ofensa for relativa ao exercício de suas funções.

7.4.3. Injúria

– Previsão legal: art. 140 do CP.

O bem jurídico tutelado é a honra subjetiva. O tipo penal ocorre quando o


agente profere qualidades negativas sobre a vítima, que lhe causam uma ofensa pessoal.

– Classificação doutrinária: é um crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito


ativo e passivo.

– Exceção da verdade: não se admite a exceção da verdade.

Demais classificações:

– Injúria real: está prevista no art. 140, § 2º, do CP.


– Injúria preconceituosa: está prevista no art. 140, § 3º, do CP.
CADERNO DE PENAL
Aplicação Prática

(XIV Exame de Ordem) Jaime, candidato à prefeitura da cidade X, durante o horário de


propaganda eleitoral em rede televisiva, proferiu as seguintes palavras: “O atual prefeito e
candidato à reeleição, que se mostra defensor da família, posando com esposa e filhos para
fotos, foi flagrado na semana passada entrando em um motel com uma prostituta! É esse tipo
de governante que você quer?”. A partir do caso exposto, assinale a opção que indica o delito
praticado por Jaime.
A) Difamação, previsto no Código Eleitoral.
B) Difamação, previsto no Código Penal.
C) Injúria, previsto no Código Eleitoral.
D) Injúria, previsto no Código Penal.
R: Alternativa D

7.5. Crimes contra a liberdade pessoal

Os crimes contra a liberdade pessoal tutelam a liberdade pessoal do indivíduo.

7.5.1. Constrangimento ilegal

– Previsão legal: art. 146 do CP.

O tipo legal alude ao verbo constranger, que significa o ato de forçar, compelir
alguém a fazer ou deixar de fazer algo. O sujeito ativo comete o crime por meio de
violência, grave ameaça ou de qualquer outro meio capaz de impedir a resistência da
vítima.

– Classificação doutrinária: crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou
passivo.
CADERNO DE PENAL
7.5.2. Ameaça

– Previsão legal: art. 147 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal prescreve o verbo ameaçar, que significa intimidar, causar medo em
alguém, mediante a promessa de causar-lhe mal injusto e grave.

7.5.3. Sequestro e cárcere privado

– Previsão legal: art. 148 do CP.

O crime restará caracterizado quando houver privação da liberdade de


locomoção da vítima.

– Classificação doutrinária: é comum, não se exige qualidade pessoal do sujeito ativo


ou passivo. É crime material e permanente.

Observação: sequestro x cárcere privado: neste último há uma limitação especial


mais restrita de locomoção da pessoa submetida à privação da liberdade.

7.5.4. Redução à condição análoga à de escravo

– Previsão legal: art. 149 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
– Classificação doutrinária: é de forma vinculada, tendo em vista que o art. 149 do CP
listou os modos de execução. É crime permanente, sendo certo que a sua consumação
ocorre no momento em que o sujeito ativo reduz a vítima à condição análoga à de
escravo.
CADERNO DE PENAL

7.5.5. Tráfico de pessoas

– Previsão legal: art. 149-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.

– Classificação doutrinária: é formal e de ação múltipla ou de conteúdo variado, por


meio dos seguintes núcleos do verbo do tipo penal do art. 149-A do CP: agenciar, aliciar,
recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa.

O crime prevê o dolo específico, pois o agente comete o crime com as seguintes
finalidades em relação à vítima:

– remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;


– submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
– submetê-la a qualquer tipo de servidão;
– adoção ilegal;
– exploração sexual.

7.6. Crime contra a inviolabilidade do domicílio

O bem jurídico tutelado é a liberdade pessoal por meio da proteção e


tranquilidade do seu lar.

7.6.1. Violação de domicílio

– Previsão legal: art. 150 do CP.


CADERNO DE PENAL
Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O crime ocorre quando o agente ingressa em casa alheia ou em suas dependências sem
o consentimento do responsável, de forma dolosa. Não se admite a modalidade culposa.

– Classificação doutrinária: trata-se de um tipo misto alternativo, de forma livre.

A expressão “casa” encontra-se conceituada no § 4º do art. 150 do CP, podendo ser:


qualquer compartimento habitado; aposento ocupado de habitação coletiva e
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

7.7. Crimes contra o patrimônio

O bem jurídico tutelado é o patrimônio do indivíduo.

7.7.1. Furto

– Previsão legal: art. 155 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo,
com a ressalva do proprietário do bem móvel não poder figurar como sujeito ativo. O
tipo penal prevê a subtração de coisa alheia móvel.
A subtração ocorre quando a coisa é retirada da posse da vítima. A coisa sem
dono não é objeto do crime.

– Figura equiparada: conforme o § 3º do art. 155 do CP, equipara-se a coisa móvel a


energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

A Anossa
nossalegislação
legislaçãopenal
penaladotou
adotoua ateoria
teoriadadaamotio,
amotio,segundo
segundoa qual
a quala consumação
a consumação
do
do crime
crime ocorre
ocorre com com a posse
a posse da coisa
da coisa pelo pelo agente.
agente.
CADERNO DE PENAL
– Furto privilegiado: previsto no art. 155, § 2º, do CP. Entende-se, majoritariamente,
que a coisa de pequeno valor pode ser aferida com base no valor do salário mínimo.

– Qualificadoras: previstas no art. 155, § 4º, do CP.

Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art.


155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva.

Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou


por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não
torna impossível a configuração do crime de furto.

Jurisprudências

Tema: Momento consumativo do crime de furto (Informativo nº 572 do


STJ)

Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda


que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente,
sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. STJ.

(REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 3ª Seção, julgado em


14/10/2015 – Recurso Repetitivo).

Tema: Compatibilidade da causa de aumento de pena do repouso


noturno no caso de furto qualificado (Informativo nº 554 do STJ)
CADERNO DE PENAL
É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido
durante o repouso noturno (art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na
forma qualificada (art. 155, § 4º). Não existe nenhuma incompatibilidade
entre a majorante prevista no § 1º e as qualificadoras do § 4º. São
circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da
aplicação da pena. Assim, é possível que o agente seja condenado por
furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a
pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. A
posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede
a sua aplicação para as situações de furto qualificado (§ 4º). STF. 2ª
Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016
(Info 851).

(HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma,


julgado em 4/12/2014).

7.7.2. Roubo

– Previsão legal: art. 157 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.

– Classificações:

a) Roubo Próprio: se caracteriza quando o agente tem a intenção de praticar, desde o


início, a subtração violenta.
b) Roubo Impróprio: se caracteriza quando a finalidade inicial do agente era levar a
efeito uma subtração patrimonial não violenta, que se transformou em violenta por
algum motivo durante a execução do delito.
CADERNO DE PENAL
O crime poderá ser praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa. A
violência poderá ser própria ou imprópria:

 Violência própria: é aquela de natureza física, dirigida contra a vítima.


 Violência imprópria: não existe uma conduta violenta, o agente se vale de
qualquer outro meio capaz de conduzir à redução de possibilidade de resistência
da vítima. Também se caracteriza pela grave ameaça (vis compulsiva).

– Causas especiais de aumento de pena: estão dispostas no art. 157, § 2º, do CP.

– Qualificadoras: o art. 157, § 3º, do CP dispõe sobre as hipóteses em que o crime de


roubo será qualificado: (i) se resultar lesão corporal grave ou (ii) morte. Esta última
qualificadora é denominada de latrocínio.

Observação: a morte poderá ser causada tanto a título de dolo quanto de culpa, sendo
certo que ela deverá decorrer da violência empregada pelo agente e em razão do
crime de roubo.

Súmula 443 do STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de


roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.

Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda


que não realize o agente a subtração de bens da vítima.
CADERNO DE PENAL

Jurisprudência

Tema: Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa e subtração

de um só patrimônio (Informativo nº 556 do STJ)

No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de


um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no
modus operandi (modo de execução), seja utilizada violência ou grave
ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado
pretendido. Ex: Maria estava saindo do banco, acompanhada de seu
segurança. João, de arma em punho, deu uma coronhada no segurança,
causando lesão leve, e subtraiu a mala que pertencia a Maria. O agente
praticou um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (art.
157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido.

(AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma,


julgado em 10/2/2015).

7.7.3. Extorsão

– Previsão legal: arts. 158 a 160 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal ocorre quando o agente constrange a vítima mediante violência física ou
grave ameaça a praticar um comportamento, com o objetivo de obter indevida
vantagem de natureza econômica. É crime formal.

Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção


da vantagem indevida.
CADERNO DE PENAL

Jurisprudência

Tema: Crime de extorsão mediante a ameaça de um “mal espiritual”


(Informativo nº 598 do STJ)

A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita pelo agente de


causar um "mal espiritual" na vítima Configura o delito de extorsão (art.
158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à grave ameaça
espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o
pagamento de vantagem econômica indevida.

(REsp 1.299.021-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em


14/2/2017).

– Extorsão mediante sequestro: está prevista no art. 159 do CP. O crime ocorre quando
o agente sequestra pessoa com o fim de obter para si ou para outrem qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate.

7.8. Dano

– Previsão legal: art. 163 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal é caracterizado pelo dolo de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia
móvel ou imóvel.

7.9. Apropriação Indébita

– Previsão legal: art. 168 do CP.


CADERNO DE PENAL

O sujeito ativo é aquele que possui a detenção ou posse da coisa e o sujeito


passivo é o proprietário ou o possuidor da coisa. O crime ocorre quando o agente,
possuidor ou detentor da coisa inverte o título que detinha com a coisa, passando-se a
comportar como se fosse dono.

– Crime de apropriação indébita previdenciária: está descrito no art. 168-A do CP e


somente será caracterizado após o decurso do prazo legal ou convencional concedido
para que fosse realizado o repasse à previdência. Antes de esgotado o prazo, que se
encontra previsto na Lei 8.212/1991, o fato deve ser considerado um indiferente penal.
O objeto material é a contribuição que foi recolhida do contribuinte. O sujeito passivo é
a previdência social.

7.10. Estelionato e outras fraudes

– Previsão legal: arts. 171 a 179 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O crime do art. 171 do CP ocorre quando o agente obtém, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.

A fraude deverá se dar antes ou durante a obtenção da vantagem ilícita e o meio da


execução deverá ser idôneo.

– Causa especial de aumento de pena: conforme o art. 171, § 3º, do CP, a pena
aumenta-se de 1/3 se o crime for cometido em detrimento da entidade de direito
público ou de instituto de economia.

- Importante! Furto mediante fraude x Estelionato: No furto mediante fraude ocorre


quando a coisa é retirada sem o consentimento da vítima, em virtude da fraude
CADERNO DE PENAL
empregada pelo agente. No entanto, no estelionato, também há o emprego da fraude,
mas nesse caso a própria vítima ludibriada entrega de forma voluntária a coisa para o
agente.

Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade


lesiva, é por este absorvido.

Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima


entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do §3º do artigo 171 do
Código Penal.

Súmula 73 do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura,


em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

Súmula 246 do STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de
emissão de cheque sem fundos.

Súmula 554 do STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após
o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

7.11. Receptação

– Previsão legal: arts. 180 e 180-A do CP.

– Classificação:

a) Receptação simples (art. 180, caput, do CP): segundo a doutrina majoritária, só pode
ser praticada com dolo direto. O agente tem que saber que se trata de produto de crime.
b) Receptação qualificada (art. 180, § 1º, do CP): é qualificada porque foi praticado
crime no exercício de atividade comercial ou industrial. O crime pode ser praticado com
dolo meramente eventual ou direto.
CADERNO DE PENAL
c) Receptação culposa (art. 180, § 3º, do CP): ocorre quando o agente adquire ou recebe
a coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.

Aplicação Prática

(XVII Exame de Ordem) Marcondes, necessitando de dinheiro para comparecer a uma festa no
bairro em que residia, decide subtrair R$ 1.000,00 do caixa do açougue de propriedade de seu
pai. Para isso, aproveita-se da ausência de seu genitor, que, naquele dia, comemorava seu
aniversário de 63 anos, para arrombar a porta do estabelecimento e subtrair a quantia em
espécie necessária.
Analisando a situação fática, é correto afirmar que
A) Marcondes não será condenado pela prática de crime, pois é isento de pena, em razão da
escusa absolutória.
B) Marcondes deverá responder pelo crime de furto de coisa comum, por ser herdeiro de seu
pai.
C) Marcondes deverá responder pelo crime de furto qualificado.
D) Marcondes deverá responder pelos crimes de dano e furto simples em concurso formal.

R: Alternativa C

7.12. Crimes contra a dignidade sexual

O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual da pessoa humana.

7.12.1. Estupro

– Previsão legal: art. 213 do CP.


Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
Trata-se de crime de ação múltipla, segundo a doutrina majoritária. O art. 213 é um
crime contra a liberdade sexual, ou seja, alguém não quis o ato sexual e foi forçado à
prática sexual, mediante violência, ameaça e, então, nesse caso, a questão da liberdade
sexual foi ofendida.
CADERNO DE PENAL

Observação: não existe mais a diferença entre o estupro e o atentado violento ao


pudor. Com a Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, os crimes de estupro e de atentado
violento ao pudor foram unificados em um só tipo penal.

Importante! A vítima desse estupro não pode ser um vulnerável, porque nessa
condição, havendo ofensa à liberdade sexual ou não, o crime será o do art. 217-A, que
são as pessoas que, por sua própria condição, não têm como se manifestar livremente
de uma forma que se considere válida com relação a sua dignidade sexual.

Jurisprudências

Tema: O crime de estupro e a Lei 12.015/2009 (Informativo nº 543 do


STJ)

O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei 12.015/2009, é tipo
penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto fático,
pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima,
pratica um só crime do art. 213 do CP. A Lei 12.015/2009, ao revogar o
art. 214 do CP, não promoveu a descriminalização do atentado violento
ao puder (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a continuidade
normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma conduta
no art. 213. Houve, então, apenas uma mudança no local onde o delito
era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que essa conduta se
trata de crime. É possível aplicar retroativamente a Lei 12.015/2009 para
o agente que praticou estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo
contexto fático e contra a mesma vítima, e que havia sido condenado
pelos dois crimes (arts. 213 e 214) em concurso. Segundo entende o STJ,
como a Lei 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado
violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a
CADERNO DE PENAL
existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham
sido praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático,
devendo-se aplicar essa orientação aos delitos cometidos antes da
vigência da Lei 12.015/2009, em face do princípio da retroatividade da lei
penal mais benéfica. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min.
Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014.

(HC 212.305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), 6ª Turma,
julgado em 24/04/2014).

Tema: Configuração do crime de estupro circunstanciado (Informativo


nº 592 do STJ)

1. O aresto impugnado informou que o réu abordou de forma violenta e


sorrateira a vítima – adolescente de 15 anos – com a intenção de
satisfazer sua lascívia, o que ficou demonstrado por sua declarada
intenção de "ficar" com a jovem e pela ação de lhe impingir, à força, um
beijo libidinoso, após ser derrubada ao solo e mantida subjugada pelo
agressor, que a imobilizou pressionando o joelho sobre seu abdômen. A
agressão sexual somente não prosseguiu porque o recorrido percebeu a
aproximação de indivíduos em uma motocicleta.

2. Sem embargo, o Tribunal estadual emprega argumentação que


reproduz o que se identifica como a cultura do estupro, ou seja, a
aceitação como natural da violência sexual contra as mulheres, em odioso
processo de objetificação do corpo feminino. Reproduzindo pensamento
patriarcal e sexista, ainda muito presente em nossa sociedade, a Corte de
origem entendeu que o ato não passou de um "beijo roubado". A
propósito, deve-se ter em mente que estupro é um ato de violência (e
não de sexo). Busca-se, sim, a satisfação da lascívia por meio de
conjunção carnal ou atos diversos, como na espécie, mas com intuito de
subjugar, humilhar, submeter a vítima à força do agente, consciente de
CADERNO DE PENAL
sua superioridade física. 3. 3. Consoante já consolidado pelo STJ, o ato
libidinoso diverso da conjunção carnal, que caracteriza o crime de
estupro, ao lado da conjunção carnal, inclui "toda ação atentatória contra
o pudor praticada com o propósito lascivo, seja sucedâneo da conjunção
carnal ou não, evidenciando-se com o contato físico entre o agente e a
vítima durante o apontado ato voluptuoso" (AgRg REsp n. 1.154.806-RS,
Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª T., DJe 21/3/2012).

4. Acrescento que toda a violência narrada foi desconsiderada para dar


lugar à revitimização da adolescente abusada, bem como ao apoio à
cultura permissiva da invasão à liberdade sexual, em regra, contra as
mulheres. Em verdade, o ato narrado nos autos não foi punido por não
ser considerado grave, o que, a meu ver, atenta contra a razão e o bom
senso. Fez-se uma avaliação da realidade na visão do agente e não na da
vítima. Se tomada a ofendida como referência, diversa seria a conclusão
acerca da efetiva satisfação da lascívia, assim como da efemeridade da
violência. Para quem sofre abusos de natureza sexual, as marcas podem
ter duração eterna. A retórica perpetrada pela Corte local desconsidera,
totalmente, a vontade da vítima e a submete, em completa passividade,
às investidas sexuais dos agentes dos crimes dessa natureza. Ou seja, para
o tribunal de origem pouco importaram a ausência do consentimento e a
súplica da vítima para o réu cessar as violentas investidas tendentes, sim,
à satisfação da lascívia do agressor. A prevalência desse pensamento
ruboriza o Judiciário e não pode ser tolerada.

(Resp 1611910-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em


11/10/2016).
CADERNO DE PENAL
7.12.2. Assédio sexual

– Previsão legal: art. 216-A do CP.

O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo e do sujeito passivo. O


sujeito passivo desse crime é a pessoa que possui hierarquia ou ascendência inerente
ao exercício de emprego, cargo ou função. O sujeito passivo é a pessoa subordinada ao
agente. O crime é próprio.

7.12.3. Estupro de vulnerável

– Previsão legal: art. 217-A do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo poderá ser homem
ou mulher na qualidade de vulnerável. O tipo penal se realiza por meio de conjunção
carnal ou pela prática de outro ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos, bem como
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.

7.12.4. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança


ou adolescente vulnerável

– Previsão legal: art. 218-B do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, porém o sujeito passivo somente
poderá ser a pessoa menor de 18 anos, bem como aquela que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato. Trata-se
de crime que tutela a dignidade e a liberdade sexual, notadamente o desenvolvimento
sadio do menor de 18 anos.
CADERNO DE PENAL
7.13. Crimes contra o casamento

O bem jurídico tutelado é a ordem jurídica matrimonial.

7.13.1. Bigamia

– Previsão legal: art. 235 do CP.

– Classificação doutrinária: o crime é próprio, pois só pode ser cometido por pessoas
casadas. Na verdade, o tipo penal exige que ao menos um dos consortes seja casado.

Observação: a pessoa casada responde pelo crime descrito no art. 235, caput, do CP,
e a pessoa solteira, consciente da condição do outro, responderá na forma privilegiada
descrita no § 1º do art. 235 do CP.

7.14. Crimes contra a incolumidade pública

O bem jurídico tutelado é a incolumidade pública, por meio da tranquilidade da


vida em sociedade, com o objetivo de evitar que a integridade física e os bens dos
indivíduos sejam expostos a risco.

7.14.1. Incêndio

– Previsão legal: art. 250 do CP.


O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é representado pelo
Estado e as demais pessoas expostas ao risco de seu patrimônio, da sua integridade
física ou até mesma da vida. No tipo penal, o agente provoca de forma intencional a
propagação de fogo, que, em virtude das suas proporções, causa uma situação de risco
para a coletividade.

– Incêndio culposo: está previsto no art. 250, § 2º, do CP.


CADERNO DE PENAL
7.14.2. Explosão

– Previsão legal: art. 251 do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é representado pelo
Estado e as demais pessoas expostas ao risco de seu patrimônio, da sua integridade
física ou até mesma da vida.
No tipo penal, são definidas as formas pelas quais a conduta será praticada:
mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de
substâncias de efeitos análogos.

– Explosão culposa: está prevista no art. 251, § 3º, do CP.

7.15. Crimes contra a paz pública

O bem jurídico tutelado é a paz pública.

7.15.1. Incitação ao crime

– Previsão legal: art. 286 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal consiste em estimular o cometimento de crime de qualquer natureza, com
previsão no Código Penal ou em outras leis. Para se caracterizar o crime, é necessário
que o agente instigue um grande número de pessoas a praticar determinado crime.

7.15.2. Apologia ao crime

– Previsão legal: art. 287 do CP.


CADERNO DE PENAL
O tipo penal se caracteriza quando o agente enaltece um crime já cometido ou
o autor do delito por tê-lo cometido.

– Classificação doutrinária: crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou
passivo. É um crime de mera conduta e de perigo abstrato.

7.15.3. Associação criminosa

– Previsão legal: art. 288 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é a coletividade e, de forma mediata, o próprio Estado. O tipo penal consiste na
associação de três ou mais pessoas, com o objetivo específico de cometer crimes.

– Classificação doutrinária: crime formal, de perigo abstrato, permanente e de concurso


necessário.

7.16. Crimes contra a fé pública

O bem jurídico tutelado é a fé pública.

7.16.1. Moeda falsa

– Previsão legal: art. 289 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal consiste em falsificar por meio da fabricação ou
alteração de moeda ou papel-moeda nacional ou estrangeiro.

7.17. Crimes de falsidade

Os crimes de falsidade atentam contra o bem jurídico: fé pública.


CADERNO DE PENAL

7.17.1. Falsidade de papéis públicos

– Previsão legal: art. 293 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado ou as pessoas físicas ou jurídicas que forem lesionadas. O tipo penal
pune a conduta de fabricar ou alterar papéis públicos elencados no art. 293 do CP.

7.17.2. Falsificação de documento público

– Previsão legal: art. 297 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento público define-se
como aquele emitido por funcionário público, no desempenho das suas funções e em
observância às prescrições legais.

– Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/6, nos termos do
art. 297, § 1º, do CP.
7.17.3. Falsificação de documento particular

– Previsão legal: art. 298 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento particular define-
se como aquele que não é público por natureza e nem por equiparação.
CADERNO DE PENAL
7.17.4. Falsidade ideológica

– Previsão legal: art. 299 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento possui
autenticidade em seus requisitos extrínsecos e é produzido pelo autor do crime, sendo
que apenas o seu conteúdo é falso. Assim, a falsidade se encontra no conteúdo das
declarações prestadas no documento.

– Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/6, nos termos do
art. 299, parágrafo único, do CP.

7.17.5. Falsa identidade

- Previsão legal: artigo 307 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. A conduta típica consiste em
atribuir-se ou atribuir a um terceiro, falsa identidade com vistas à obtenção de
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.

- Caso o agente atribua falsa identidade para afastar de si a imputação por infração
penal, há o crime do artigo 307 do CP?
- Caso o agente se atribua falsa identidade para afastar de si a imputação por infração
Posição STF: O Plenário do STF no julgamento do RE 640.139 – RG (repercussão geral)
penal, há o crime do artigo 307 do CP?
reafirmou a jurisprudência do Tribunal no sentido de que “o princípio constitucional
da autodefesa (artigo 5º, LXII da CRFB/88) não alcança aquele que atribui falsa
identidade perante a autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes,
sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (artigo 307 do CP)”.
CADERNO DE PENAL

Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade


policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

7.18. Fraude em certame de interesse público

– Previsão legal: art. 311-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é a coletividade. O crime é material, pois se exige a produção de um dos
resultados possíveis: utilização ou divulgação de conteúdo sigiloso do certame.

– Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/3, nos termos do
art. 311-A, § 3º, do CP.

7.19. Crimes contra a Administração Pública

O bem jurídico tutelado é a administração pública. A lei penal adotou um


conceito amplo de funcionário público, nos termos do art. 327 do CP.
7.19.1. Peculato

– Previsão legal: arts. 312 e 313 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado.

– Classificação:

a) Peculato desvio: é diferente do crime de desvio de verbas públicas (art. 315 do CP). É
um crime próprio, pois exige um sujeito ativo especial – o funcionário público –, que
CADERNO DE PENAL
comete crime em razão das suas funções, ainda que não seja no exercício delas. O
funcionário público, que sabe que tem que dar o destino das verbas ao que a lei
determina, desviará essa verba e a aplicará para outra finalidade, que deverá ocorrer
em benefício próprio ou alheio. Peculato próprio.
b) Peculato apropriação: é como se fosse a apropriação indébita. Ele tem a coisa em seu
poder na condição de funcionário público, passando a dispor dela como se dono fosse
(animus rem sibi habendi). Peculato próprio.
c) Peculato furto: o bem não está em poder do funcionário público e ele se vale dessa
condição para subtraí-la. O bem particular de que a lei trata é o que está sob custódia
da administração. Não precisa ser do mesmo âmbito de poder. Trata-se de delito
funcional impróprio (§ 1º do art. 312 do CP), ao contrário do que ocorre com o art. 155
do CP, que utiliza não somente o verbo subtrair, mas também concorrer, para que seja
subtraído o objeto material.
d) Peculato culposo: é aquele em que o funcionário contribuiu, culposamente, para o
crime de outrem. Nesse caso, se a pessoa repara ou restitui a coisa antes do TJ, estará
extinta a punibilidade, depois se reduz à metade. A norma do § 3º é especial em relação
ao art. 16 do CP. Para que ocorra esse crime, não há necessidade de que o delito
principal tenha sido praticado também por outro funcionário, podendo ser praticado
por um particular.
e) Peculato mediante erro de outrem: o tipo penal ocorre quando há apropriação de
dinheiro ou de qualquer utilidade pelo funcionário público, que recebeu o bem por erro
de outrem enquanto estava no exercício de suas funções.
f) Peculato eletrônico: é a inserção de dados falsos em sistema de informações. Ele se
aplica ao funcionário que tem acesso aos bancos de dados. Para que ocorra esse crime,
é indispensável o especial fim de agir.

7.19.2. Concussão

– Previsão legal: art. 316 do CP.


CADERNO DE PENAL
Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em virtude dela, vantagem indevida.

Observação: a exigência de vantagem indevida pode se dar pelo próprio agente,


sendo direta, ou por um terceiro ou de forma implícita, sendo indireta.

7.19.3. Corrupção passiva

– Previsão legal: art. 317 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em virtude dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem.

Observação: o terceiro que oferecer ou prometer ao funcionário público, para


determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício, responderá pelo crime de
corrupção ativa descrito no art. 333 do CP.

7.19.4. Prevaricação

– Previsão legal: art. 319 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Exige-se o
CADERNO DE PENAL
dolo específico, o especial fim de agir, de querer satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.

Aplicação Prática

(X EXAME DE ORDEM) Coriolano, objetivando proteger seu amigo Romualdo, não obedeceu à
requisição do Promotor de Justiça no sentido de determinar a instauração de inquérito policial
para apurar eventual prática de conduta criminosa por parte de Romualdo.
Nesse caso, é correto afirmar que Coriolano praticou crime de
A) desobediência (Art. 330, do CP).
B) prevaricação (Art. 319, do CP).
C) corrupção passiva (Art. 317, do CP).
D) crime de advocacia administrativa (Art. 321, do CP).

R: Alternativa B

7.19.5. Condescendência criminosa

– Previsão legal: art. 320 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
deixar de responsabilizar o subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou
não levar o fato praticado pelo subordinado ao conhecimento da autoridade
competente.

– Classificação doutrinária: é um crime omissivo próprio, pois há uma omissão no dever


funcional de apurar a responsabilidade administrativa do funcionário público
subalterno.
CADERNO DE PENAL

7.19.6. Advocacia administrativa

– Previsão legal: art. 321 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta do
funcionário público que patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante
a Administração Pública, valendo-se dessa qualidade. É um crime formal.

7.19.7. Violência arbitrária

– Previsão legal: art. 322 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado, na condição de vítima imediata, e a
pessoa física que sofreu a violência, na condição de vítima mediata.

7.19.8. Resistência

– Previsão legal: art. 329 do CP.


Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e a vítima mediata ou secundária, o funcionário que expediu a ordem.
O tipo penal descreve a conduta de se opor à execução de ato legal, mediante violência
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando
auxílio.

7.19.9. Desobediência

– Previsão legal: art. 330 do CP.


CADERNO DE PENAL
Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de exercer função, atividade, direito,
autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial.

7.19.10. Desacato

– Previsão legal: art. 331 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela.

7.19.11. Tráfico de influência

– Previsão legal: art. 332 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de solicitar, exigir, cobrar ou obter,
para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em
ato praticado por funcionário público no exercício da função.

7.19.12. Corrupção ativa

– Previsão legal: art. 333 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício.
CADERNO DE PENAL
7.19.13. Descaminho

– Previsão legal: art. 334 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de iludir, no todo ou em parte, o
pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria.

7.19.14. Contrabando

– Previsão legal: art. 334-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de importar ou exportar mercadoria
proibida. É hipótese de norma penal em branco.

7.19.15. Sonegação de contribuição previdenciária

– Previsão legal: art. 337-A do CP.

Trata-se de crime próprio, pois somente poderá ser cometido pelo empresário
individual ou por quem, exercendo cargo técnico-contábil na empresa, detenha a
responsabilidade de lançar as informações relativas à Previdência Social.

7.20. Crimes contra a Administração da Justiça

O bem jurídico tutelado é a Administração da Justiça.

7.20.1. Denunciação caluniosa


CADERNO DE PENAL
– Previsão legal: art. 339 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de dar causa à instauração de
investigação policial, processo judicial, instauração de investigação administrativa,
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe
crime que o sabe inocente.

7.20.2. Falso testemunho ou falsa perícia

– Previsão legal: art. 342 do CP.

O tipo penal descreve a conduta de fazer afirmação falsa, negar ou calar a


verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral.

– Classificação doutrinária: crime de mão própria, pois o sujeito ativo deverá ser
praticado pela testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, quando exige a
atuação pessoal do agente.

7.20.3. Fraude processual

– Previsão legal: art. 347 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. De forma mediata, também poderá figurar como vítima a pessoa que
foi lesada pela conduta do autor. O tipo penal descreve a conduta de inovar
artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
CADERNO DE PENAL

7.20.4. Favorecimento pessoal

– Previsão legal: art. 348 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de auxiliar a subtrair-se à ação de
autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão.

7.20.5. Favorecimento real

– Previsão legal: art. 349 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de prestar auxílio a criminoso, sendo
necessário o dolo específico de querer tornar seguro o proveito do crime.

7.20.6. Exploração de prestígio

– Previsão legal: art. 357 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de solicitar ou receber dinheiro ou
qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.

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