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Assunto: Desclassificação da proposta. Falta de


assinatura do responsável técnico.
Legislação: Lei 8.666/93. Lei 5.194/66.
Resolução 282/83 do CONFEA.
Ementa: Licitação. Desclassificação da proposta.
Necessidade de assinatura do engenheiro na
proposta. Falta de assinatura do responsável
técnico. Consideração. Ausência de
posicionamento terminativo. Consulta ao CREA
local.

I Consulta

“Em determinada licitação na modalidade Tomada de Preços, para construção de


caixa d'água, a licitante apresentou proposta de preços sem a assinatura do responsável
técnico. É válida esta proposta ou a Comissão deverá desclassificá-la?”

II Resposta

A questão é controvertida. Como se sabe a Lei 8.666/93 não exige assinatura de


engenheiro (seja ele o futuro responsável técnico1 ou não) quando da apresentação da
proposta. Contudo, a regulamentação da profissão de engenharia tem minúcias muito
específicas que exigem atenção. A consulta formulada é uma delas. Isto porque a Lei
5.194/66, que regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro-
agrônomo, assim estabelece:

Art. 13. Os estudos, plantas, projetos, laudos e qualquer outro trabalho de


engenharia, de arquitetura e de agronomia, quer público, quer particular, somente poderão
ser submetidos ao julgamento das autoridades competentes e só terão valor jurídico
quando seus autores forem profissionais habilitados de acordo com esta lei.
Art. 14. Nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos, pareceres, laudos e atos
judiciais ou administrativos, é obrigatória além da assinatura, precedida do nome da
empresa, sociedade, instituição ou firma a que interessarem, a menção explícita do título do
profissional que os subscrever e do número da carteira referida no Ed. extra 56 (sem grifos no
original).

Note-se, pois, que o citado diploma legal condiciona a validade jurídica dos
documentos de engenharia à assinatura de profissional habilitado, ou seja, o engenheiro.
Assim, de acordo com os meandros legais, ao que nos parece, a assinatura da proposta
pelo engenheiro é condição de validade da mesma.

1
Cabe ressaltar que responsável técnico é o cidadão habilitado, na forma da lei que regulamentou
sua profissão, ao qual é conferida atribuição para exercer responsabilidade técnica de um empreendimento.

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Ao apreciar matéria de ordem orçamentária, o Tribunal de Contas da União (TCU)


determinou à Administração que observasse as disposições da Lei 5.194/66, veja-se: “O
TCU determinou ao Banco do Brasil S/A que observasse, nas licitações que envolvessem
contratação de serviços de engenharia, arquitetura e agronomia as determinações dos art.
13 e 14 da Lei n° 5.194/1966, bem como do art. 1°, inc. I, da Resolução/CONFEA 2 n° 282,
de 24.08.1983, explicitando-as no corpo do instrumento convocatório”.3
Ora, se é exigível que Administração observe quando da elaboração da licitação a
observância da regra insculpida no art. 13 da Lei 5.194/66 (necessidade de assinatura de
engenheiro em documentos de engenharia) parece de todo arrazoado que igual obrigação
se imponha ao licitante.
Esse posicionamento não é pacífico. E, ante a parca jurisprudência encontrada, é
possível que poucas questões desta ordem cheguem à apreciação do Poder Judiciário.
Conquanto, há decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) posicionando-se de forma
contrária ao que já foi exposto:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RUBRICA DE


PERITO EM LAUDO TÉCNICO. SUPRIMENTO DOS EFEITOS DA ASSINATURA. INEXISTÊNCIA
DE IRREGULARIDADE LEGAL. PREVALÊNCIA DA SUBSTÂNCIA DO ATO EM DETRIMENTO DA
FORMA. NÃO OCORRÊNCIA DE LESÃO AOS PRINCÍPIOS DE LEGALIDADE, MORALIDADE,
PUBLICIDADE E TRANSPARÊNCIAS DOS ATOS PÚBLICOS. RECURSO ORDINÁRIO
DESPROVIDO.
1. Mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por Encop Engenharia Ltda.
contra ato do Secretário da Administração e dos Recursos Humanos do Governo do Estado do
Rio Grande do Sul. Aduz a impetrante que foi declarada vencedora da licitação, em razão de
ter a SD Consultoria e Engenharia Ltda. apresentado orçamento e cronograma financeiro sem
a assinatura do responsável técnico legalmente habilitado. Posteriormente, retificando-se o
ato de desclassificação a SD Consultoria foi declarada vencedora. Informações da autoridade
coatora relatando que seria rigor formal excessivo a manutenção da desclassificação de
licitante pela troca de assinatura por rubrica. Contestação da SD Engenharia, defendendo a
validade da rubrica aposta no documento, posto que a desclassificação por tal motivo
resultaria no prosseguimento de apenas uma licitante, a impetrante, significando prejuízo
muito maior ao objetivo da licitação, que é a obtenção da condição mais vantajosa ao erário.
Acórdão do TJRS denegando a segurança, por entender que o orçamento e o cronograma

2
“Art. 1º - É obrigatória a menção do título profissional e número da Carteira Profissional em todos
os trabalhos gráficos que envolvam conhecimentos de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, afins e
correlatos, de caráter técnico-científico a seguir discriminados: I - publicações, inclusive em diários e
periódicos de divulgação específica ou ordinária; II - livros, monografias, artigos e outros documentos
relativos à matéria de ensino; III - laudos e/ou pareceres referentes a avaliações, vistorias, consultorias,
auditorias e perícias judiciais ou extrajudiciais; IV - orçamentos e especificações para quaisquer fins; V -
laudos, atestados, certificados, resultados ou relatórios relativos à fiscalização de obras ou serviços, ensaios,
análises, experimentos, pesquisas, prospecções, padronizações, mensurações e controle de qualidade,
receituário técnico; VI - planejamentos, programas, planos, anteprojetos e projetos; VII - pareceres sobre
estudos de previabilidade e de viabilidade técnico-econômica; VIII - documentos de caráter técnico que
integrem processos licitatórios; IX - anúncios publicitários relativos à oferta de trabalhos técnicos de
profissionais, em órgãos de divulgação ou qualquer tipo de propaganda; X - outros trabalhos técnicos não
especificados nos itens anteriores.” Disponível em:
<http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=330&idTipoEmenta=5&Numero=>.
Acesso em: 15/07/15.
3
TCU. Acórdão 2.606/07. Órgão Julgador: Segunda Câmara. Relator: Ministro Aroldo Cedraz. DOU:
27/09/07.

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financeiro não sofrem qualquer questionamento quanto a sua fidedignidade, ferindo o objetivo
do certame a desclassificação de licitante por mera aposição de rubrica no lugar de
assinatura. Recurso ordinário da Encop Engenharia, sustentando que as rubricas do
responsável técnico não foram reconhecidas em cartório, que o processo licitatório deve
obedecer à forma estreita e rigorosa traçada pelo edital e que a Lei Federal nº 5.194/66, que
regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo, prevê a
assinatura e o número do registro do profissional, nos orçamentos que este apresentar.
Contra-razões do Estado do Rio Grande do Sul e da SD Consultoria pugnando pelo
improvimento do recurso. Pareceres dos Ministérios Públicos Estadual e Federal pelo
improvimento do recurso ordinário.
2. Mera particularidade formal na composição de documento, sequer classificada
como irregularidade, não possui o condão de prejudicar os pressupostos de
legalidade do ato administrativo praticado, dentre os quais cite-se a
impessoalidade, moralidade, publicidade e transparência.
3. Na espécie, restou sobejamente evidenciado que a aposição de rubrica e não de assinatura
do perito, no trabalho técnico produzido, não resultou em qualquer irregularidade no certame
licitatório, posto que ausente qualquer mácula nos procedimentos substanciais praticado pela
Administração Pública4 (sem grifos no original).

Ressalte-se, uma vez mais que a matéria é assaz controvertida, razão pela qual
resta prejudicada a possibilidade de um posicionamento terminativo sobre a matéria.
Contudo, ao que parece a Lei 5.194/66 deve ser observada (especialmente se já expressa
no presente instrumento convocatório).
Sem embargo do exposto, considerada a peculiaridade da questão e a carência de
posicionamentos doutrinários sobre a matéria, recomenda-se que seja realizado consulta
junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) local, com vistas a obter
um mais sólido embasamento teórico, bem como ao próprio TCU para seguir suas atuais
orientações sobre o tema.
Salvo melhor juízo, considerados os elementos fáticos fornecidos pela Consulente,
esse é o entendimento da Orientação Jurídica Negócios Públicos.
Curitiba, 15 de julho de 2015.

4
RMS 18254/RS. Órgão Julgador: Primeira Turma. Relator: Ministro José Delgado. DOU: 27/06/05.

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