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CURSO

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA BARIÁTRICA


Psicóloga Tamala R. Menezes

MÓDULO 1 | COMPREENDENDO A OBESIDADE

Antes de falarmos sobre a avaliação psicológica propriamente dita, é
necessário que você entenda o que é a obesidade em toda a sua abrangência.
Como ela começa, quais fatores genéticos e ambientais a favorecem, como o
obeso é visto e como se vê, são alguns dos temas que veremos neste módulo.
Esse curso, além da pretensão de abrir o caminho para o entendimento
técnico da avaliação psicológica pré cirúrgica bariátrica, tem o caráter de
aproximar o psicólogo ao obeso de forma pessoal e íntima. É impossível saber o
que uma pessoa sente em toda a sua abrangência, mas é possível entender
através de estudos e relatos de casos as principais dificuldades, comportamentos
e pensamentos de uma pessoa com essa condição e, assim, fornecer uma
avaliação de qualidade.
Então, vamos lá!

01 | A OBESIDADE

Como definir a Obesidade? Como classificar uma condição física considerada
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema grave, e até
mesmo um problema epidêmico de escala global? (Rech, 2016).
As restrições na vida de uma pessoa obesa afetam quase que de maneira
global sua vida. Como conseguir se vestir adequadamente, andar de transporte
publico, e até mesmo problemas graves de locomoção são complicações
presentes. Além das implicações físicas, existem consequências psicológicas
graves e persistentes nessa população. Assim, a obesidade deve ser vista como
uma doença crônica e multideterminada.
Crônica por persistir em um espaço superior a seis meses e sua resolução não
ser possível em um espaço curto de tempo. Uma pessoa não chega ao peso de
120kg, por exemplo, em um mês, pois o corpo humano não comporta essa
ingestão. Mas, ao longo de um ano, ou no caso da gravidez (9 meses), uma pessoa
pode chegar a ganhar mais de 30kgs. Ou seja, gradual e constantemente uma

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série de contingências e fatores biológicos são mantidos e reforçados,
ocasionando o quadro de obesidade.
Multideterminada por ser causada por vários fatores, entre eles alterações
do padrão alimentar, sedentarismo, ansiedade, hormônios, cultura, etc. Não
existe uma causa específica da obesidade. É importante destacar que existem
relações entre variáveis que causam a obesidade.
Dizer que uma pessoa é obesa porque é preguiçosa ou porque come muito é
extremamente superficial. Dizer também que uma desordem endócrina é o que a
fez aumentar de peso, ou um quadro depressivo, também é igualmente raso para
diagnosticar um quadro tão complexo quanto a obesidade. Seria a mesma coisa
que dizer que alguém é viciado em drogas porque teve uma infância ruim, ou
seja, superficial, precipitado e errado.
Entender a obesidade então é entender como as variáveis presentes ao longo
da vida de um individuo contribuíram para o aumento do peso, levando em conta
aspectos genéticos, biológicos, ambientais, psicológicos e culturais.
Como foi dito, a obesidade interfere negativamente sobre a vida de um
individuo. Imagine que você precise sair de sua casa as 07H00 e ir até um local
distante resolver um problema, e para isso você precisa caminhar 15 minutos até
um ponto de ônibus, fazer o percurso que dura 45 minutos, encarar uma filha de
uma hora e, após resolver, fazer o mesmo trajeto para casa. Ótimo, quantos de
nós já não fizemos algo semelhante. Cansa, demora, e até mesmo ficamos
irritados pelo fato de ter que ir resolver algo em um local longe.
Agora imagine que você precisa fazer tudo isso carregando um saco de 30
kgs, e você não pode apoiar, soltar ou dividir o peso com ninguém. Você seria
obrigado a leva-lo com você aonde quer que fosse, ao subir uma escada, ao
permanecer em pé por mais de uma hora, correr, passar na roleta do ônibus.
Cansaria muito mais, você teria dificuldade para se locomover, provavelmente
teria problemas para se sentar e levantar, o tempo de espera na fila seria muito
mais penoso. A irritação também seria maior devido ao excesso de carga que
você está carregando.
Ao longo da vida o peso excessivo proporciona diversas dificuldades como as
descritas acima, além de menor índice de emprego, problemas emocionais,

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problemas de relacionamento, problemas psicológicos, dificuldade de
adaptabilidade, entre outros importantes.

2 | TIPOS DE OBESIDADE

Considerando que nós seres humanos somos diferentes quanto a
tamanho, concentração de massa magra, massa gorda,
densidade óssea, entre outras características, fica O método de cálculo do
IMC surgiu na Bélgica no
séc. XIX, tendo sido criado
muito difícil classificar-nos em magros, obesos, obesos pelo matemático,
astrônomo, estatístico e
mórbidos, etc. Assim, usa-se hoje o IMC – Índice de sociólogo Adolphe Quélet.

Massa Corporal para se classificar e direcionar o


tratamento sobre a obesidade , padronizado pela OMS (Reis, 2015).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica 1 : “a
obesidade mórbida é definida como um índice de massa corpórea (IMC)
maior que 40 ou 45 Kg/m2 acima do peso ideal, e apresenta consequências
mórbidas orgânicas ou psicossociais”.
Para se obter o IMC basta dividir o peso do indivíduo (kg) pelo quadrado
de sua altura (m): IMC = kg/m²
Observe a tabela abaixo, na qual é separado os níveis de obesidade são
segmentados a partir do IMC em Magro, Saudável, Gordo (ou sobrepeso), Obeso
e Obeso Mórbido:


Fonte: google.images


1 Site da SBCB http://www.sbcbm.org.br/wordpress/tratamento-cirurgico/quem-pode-fazer/ Acesso em
2017.

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O IMC não é igual a peso. Ele é um calculo baseado no peso e altura de


um índividuo. Assim, por mais que uma pessoa possa parecer magra ou não, o
indicativo de obesidade dela dependerá do calcula do IMC. Observe a tabela:


Fonte: https://runningshoes77.files.wordpress.com/2016/01/tabela-de-imc.png

Por exemplo:

Uma pessoa de 1.52m pesando 90 kgs tem IMC 42kg/m, classificada como
Obesa, quase obesa mórbida. Ao passo que uma pessoa medindo 1.93m com o
mesmo peso, será considerada saudável.
Basicamente, para ser considerável saudável (Observe que é saudável e não
magro), tanto homem quanto mulher devem possuir o IMC na faixa entre 19 e
25.
O IMC é um dos critérios de inclusão/ exclusão para a indicação de
cirurgias bariátricas. Iremos detalhar melhor no próximo módulo, mas como
recentemente a resolução n. 2.131/15 incluiu adolescentes menores de 16 anos,
é preciso apontar os limiares do cálculo do IMC em relação a esta população.
Observe abaixo:

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Fonte: google.images

Diversas pesquisas nas últimas décadas demonstraram que o IMC fornece


uma boa estimativa da porcentagem de “gordura”. Além disso, também fornece
uma boa correlação com resultados de saúde importante, como doenças
cardíacas, diabetes, câncer e mortalidade global (Reis, 2005).
Além dessas categorias, existe a obesidade abdominal , na qual o excesso
de gordura encontrado ao redor da média, independente do IMC, representa um
risco significativo à saúde, e é categorizada pela medida ao redor da cintura. Em
homens 40 polegadas ou mais, e em mulheres 35 polegadas ou mais (REIS,
2005). É importante conhecer estes detalhes para poder perceber qual a
gravidade do problema do indivíduo.
Estar com um peso elevado não significa estar obeso, assim como perder
peso não significa emagrecer. Outros fatores devem ser levados em
consideração, e cada caso deve ser encarado de forma única e particular.
Conhecer os tipos de obesidade é entender a gravidade de cada individuo
em relação as dificuldades e comorbidades presentes em sua vida, porém é
apenas um dos muitos dados importantes de sua história para definição de
estratégias terapêuticas adequadas.

3 | HISTÓRIA E COMORBIDADES

Na pré-história não existiam lojas de conveniência, alimentos pré-
fabricados ou disk-Xs para se alimentar. Era necessário se movimentar

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constantemente para a obtenção de alimentos e para encontrar condições
ambientais que permitisse a sobrevivência em situações extremamente
desconfortáveis. O metabolismo e a estrutura física dos seres-humanos eram
diferentes, pois eles precisariam se adaptar para poder sobreviver em condições
extremas. (Halpern, 1999).
Com o passar dos séculos novas técnicas de conservação de alimento
surgiram e mudanças bruscas na forma de viver ocorreram. Não é mais
necessário se mudar para buscar abrigos melhores ou para caçar, pois as casas e
apartamentos são adaptados para todos os climas, e existem meios de obtenção
de alimento muitas vezes sem a necessidade de sair de casa. Até o século XX,
muitas descobertas técnico-científicas importantes levaram ao progresso e
também à modificação dos costumes alimentares (Abreu et al, 2001):
1. O aparecimento de novos produtos;
2. A renovação de técnicas agrícolas e industriais;
3. As descobertas sobre fermentação;
4. A produção do vinho, da cerveja e do queijo em escala industrial e o
beneficiamento do leite;
5. Os avanços na genética permitiram sua aplicação no cultivo de plantas e
criação de animais;
6. A mecanização agrícola;
7. E ainda o desenvolvimento dos processos técnicos para conservação de
alimentos.
No entanto, a obesidade não é um fenômeno recente. Existem dados de
individuo com peso acima da média já na era paleolítica (Halpern, 1999). Porém,
nunca a obesidade foi observada em proporções epidêmicas como atualmente.
Quanto mais diversificados são os alimentos oferecidos, mais os humanos
tendem a escolher os alimentos ricos em gordura e açucares, e de mais fácil e
rápido acesso.
Muito bem, deste ponto de vista a obesidade pode ser considerado um
SINTOMA (RECH, 2016). Além da perspectiva história, estão entre as principais
causas:
• Fatores Genéticos à Estudos realizados na Europa na década de 70 e 80
revelaram que a herança genética é altamente determinante na

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determinação da obesidade. Apontam que quando nenhum dos pais
biológicos é obeso, existe 9% de probabilidade dos filhos desenvolverem
a obesidade, enquanto que quando um dos genitores é obeso, essa
probabilidade aumenta para 50%. Quando ambos os genitores são
obesos a probabilidade desponta para 80% (Stunkard, 1986; Borjeson,
1976).
• Hábitos alimentaresà compulsão alimentar, hábitos alimentares
errados, excessos, preferência por alimentos calóricos, etc.
• Sedentarismo à ausência de atividades físicas, rotinas na qual a pessoa
raramente se levanta, etc.
• Fatores ambientais à alimentos disponíveis, comportamento alimentar
social, ambiente familiar, rotina, etc.
• Fatores biológicos à desordens endócrinas como hipotireoidismo,
problemas no hipotálamo (1% apenas), alterações de metabolismo,
ovário policístico, hipogonadismo (doença na qual as gônadas - testículos
nos homens e ovários nas mulheres - não produzem quantidades
adequadas de hormônios sexuais, como a testosterona nos homens e o
estrogênio nas mulheres. Além dos hormônios, os testículos podem não
produzir espermatozoides adequadamente. Da mesma forma, os ovários
podem não produzir e liberar óvulos, o que causará dificuldades para a
engravidar), etc.
• Fatores Psicológicos à Baixa autoestima, traços obsessivos e
perfeccionistas, impulsividade e instabilidade afetiva, depressão,
transtornos ansiosos, dependência química, história de abuso sexual ou
agressão, problemas de habilidades sociais, baixa emissão de
comportamento de enfrentamento, alto índice de emissão de
comportamentos de fuga-esquiva, forte mecanismo compensatório.

Porém, por outro lado a obesidade é considerada como fator de risco para o
desenvolvimento de doenças como a hipertensão arterial, diabetes tipo 2,
embolismo pulmonar, infertilidade, depressão, bulimia, entre muitas outras
(Kruger, Ham, & Prohaska, 2009). Estudos indicam que no Brasil, doenças

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desencadeadas pela obesidade, matam por ano, em torno de 80 mil pessoas
(RECH, 2016). Sendo considerada a epidemia global do século XXI, prevê-se
atingir até 50% da população, em 2025, se não forem tomadas medidas de
prevenção (WHO, 2010).

Aqui temos então o grande problema: a obesidade é CAUSA ou


SINTOMA?


Como identificar, por exemplo, se a depressão causou a obesidade, ou se
pessoa ficou deprimida por estar obesa? Ou, se a obesidade causou problemas
articulares, ou se as articulações ficaram inflamadas, causando sedentarismo,
que ocasionou a obesidade?
Cada pessoa possui uma história de vida única, pessoal e com variáveis que
se relacionaram de modos particulares em cada época de sua vida. Por mais que
possam haver semelhanças, nunca duas pessoas terão o mesmo histórico. Todos
os indivíduos estão sujeitos a esta doença, porém existem características
específicas genéticas, pessoais, familiares e ambientais que poderão influenciar o
grau de vulnerabilidade em relação à obesidade (FERREIRA et al, 2013).



4 | HISTÓRIA, SOCIEDADE E PRECONCEITO

Além dos fatores descritos anteriormente, uma das principais variáveis


que influenciam as desordens psicológicas relacionadas à obesidade é a cultura.

Antigamente a definição social da corpulência era definida pelo status


social. A entrada do açúcar e da batata no cardápio europeu modificou os
modelos de beleza feminina. Até mesmo nas pinturas, as mulheres eram
retratadas com forma corpulenta, o que significava distinção social. Isso porque
os nobres possuíam condições de ingerirem alimentos mais calóricos, como
carnes, cremes, manteiga, açúcar e temperos diversos. Enquanto que a classe

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menos favorecida cozinhavam os alimentos que lhes sobravam, e acabavam por
consumir bem menos, ocasionando pesos menores. Ou seja, gordura era
sinônimo de riqueza e também de mulheres que seriam boas provedoras para
seus futuros filhos. Nas artes, por exemplo, observa-se as mudanças nos padrões
de beleza, onde de maneira subliminar existe a consagração de certas figuras de
acordo com estes padrões, mudando de épocas em épocas (Lemos et al., 2015).

Mais pra frente, no século XX na Europa, multiplicaram-se os ginásios,


professores de ginástica, manuais de medicina que chamavam atenção para
vantagens físicas dos exercícios. Uma nova era voltada para a analise dos
músculos e das articulações graduava. Devido a entrada da mulher nesta nova
cultura, a moda também foi adaptada para vestir mulheres que condiziam com
esses novos hábitos. Sendo a Europa o local de onda todas as modas “nascem”,
esse novo padrão de saúde e estética passou a ser incentivado, admirado e
disseminado (Lemos et al., 2015).
A cultura existe desde que homens passaram a conviver junto e a se
relacionar. Assim, desde sempre existiu cultura: a cultura de um grupo, a cultura
de um povo, de uma nação, de um sistema politico, etc. Para MacNamara (2002),
crenças culturais são fatores determinantes de normas sociais na relação com o
corpo humano, no qual as práticas de embelezamento, manipulação e mutilação
o fazem um terreno de significados simbólicos. Mudanças na aparência física
(forma, tamanho, cor) são comuns a todas as sociedade e têm uma função social
importante, a medida em que comunicam e informam sobre o próprio sujeito.
Assim, sociedade tem sido caracterizada pela cultura que elege o corpo como
uma fonte de identidade (Martins et al., 2008), ou seja, na imagem corporal está
a identidade.
Imagem Corporal é a representação mental do próprio corpo e do modo
como ele é percebido pelo próprio indivíduo. A imagem envolve os sentidos, as
idéias e sentimentos referentes ao corpo. Tavares (2003) afirma que o corpo
possui memória e identidade, representando assim um aspecto muito
importante da identidade pessoal.
De acordo com este autor essa identidade é estabelecida a partir da
integração de 3 aspectos:

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Cultura

Experiência
Relações
perceptivas
Afetivas
no ambiente

Identidade



1) Experiências Perceptivas no Ambiente à como é percebido
as situações no contexto que o individuo vive, e como ele
responde a estas situações (histórico de contingências).
2) Cultura à quais características a cultura na qual o individuo
está inserido reforça, pune, extingue, etc.
3) Relações Afetivas à histórico contingencial de
relacionamentos afetivos, qualidade dos relacionamentos,
reconhecimento social, reforço social.

Essa integração refletirá também a maneira como o individuo se relaciona
com o mundo. Assim, a imagem corporal abrange os aspectos pelos quais a
pessoa vivencia e conceitua seu corpo.
Cada ser humano possui uma história única, assim cada pessoa terá uma
imagem corporal própria, refletindo a sua trajetória de vida, com emoções,
pensamentos e representações próprias sobre si e sobre as pessoas ao seu redor.
Algumas pesquisam apontam que a insatisfação corporal vem
aumentando entre mulheres, sendo que 70% delas, abaixo de 21 anos, sente-se
“suficientemente gordas”, adotando dietas. Nas mesmas pesquisas, apenas 15%
realmente se enquadravam na categoria “sobrepeso”. (SOUTO; FERRO-BUCHER,

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2006).
Assim, a busca pela eliminação rápida e milagrosa da obesidade é
permeada pela cultura e padrões estabelecidos, que nem sempre estão
preocupados com a saúde de cada indivíduo. Avaliar como a cultura à qual um
indivíduo está inserido é um dos fatores que compõe um quadro de obesidade,
ou que está associado a fatores psicológicos (ansiedade, obsessão, etc) e
comportamentais (hábitos alimentares prejudiciais) é importante não somente
para analisar sua estruturação emocional, mas também para ajuda-lo no preparo
pré e pós cirúrgico.


5 | TRATAMENTOS NÃO CIRÚRGICOS

“Dieta seca barriga”/ “Dieta da Lua”/ “Reeducação Alimentar”/ “Shakes”/ ;
quem nunca viu ou ouviu uma chama para esses termos? Todos os dias nos
deparamos com propagandas e conversas que envolvem o assunto “emagrecer”,
principalmente entre mulheres. Como foi dito anteriormente, a preocupação com
a saúde e estética sempre foram presentes na sociedade e, para isso, diversos
meios foram criados para se chegar aos mais diversos objetivos. Assim, a ideia
de perda de peso ponderal rápida tem chamado a atenção da população em geral
(Almeida et al. 2009).
As principais estratégias adotadas atualmente para perda de peso são:
1. Dietas restritivas
2. Medicamentos (como a sibutramina e anfepramona)
3. Combinação de Reeducação Alimentar + Atividade Física
4. Psicoterapia Comportamental e Comportamental-Cognitiva

Apesar de serem as estratégias mais utilizadas, o controle da obesidade tem
falhado no aspecto de manter o peso reduzido após as intervenções.
(Wannmacher, 2004). Emagrecer não é um processo simples. Observe o
esquema abaixo:

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2

1) Identi{icar uma 6) Permanecer no 7) Observar e


necessidade processo perceber resultados

5) Mudar
2) Decidir fazer algo comportamentos e 8) Manter novos
a respeito habitos alimentares hábitos alimentares
diários

3) Escolher o 4)Adesão: Iniciar o 9) Manter a perda de


processo processo peso

Pesquisadores e profissionais clínicos da área de saúde afirmam que um dos


principais problemas para o sucesso em relação ao emagrecimento esteja na
Adesão (passo 4). Ela pode ser compreendida como um conjunto de categorias
de respostas, cuja característica comum seja o seguimento de orientações
proporcionadas por profissionais de saúde, tais como: tomar medicamentos,
realizar exercícios físicos, regular o tipo e a quantidade de alimentos ingeridos,
entre outros (Bennett; Murph, 1999). Ou seja:

ESTIMULOS RESPOSTA CONSEQUÊNCIA


ANTECEDENTE (SD)
Médico/profissional de Paciente segue Diminuição do peso
saúde verbaliza regras e orientações do Reforço negativo
condutas para perda de médico/profissional (perda de peso –
peso retirada de um
estimulo aversivo)
para a resposta de
seguir a orientação do
médico.

Parece simples. Porém, um paciente seguir ou não as falas de um profissional


está intimamente ligado ao seu histórico de contingências referentes a
seguimento de regras, resultados de tentativas anteriores de emagrecimento,

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consultas médicas, resultados obtidos, comentários de pacientes que realizaram
o mesmo método de emagrecimento, entre outras tantas possíveis variáveis.
Assim o conceito de Adesão parece estar relacionado a outras variáveis,
destacando os comportamentos de saúde, nível de conhecimento dos pacientes
sobre processo de emagrecimento e duração do tratamento, além da relação
entre profissional e paciente. Também é preciso avaliar as habilidades do
paciente de identificar ou prevenir situações evocadoras de estresse, aprender a
descrever estados corporais que sugiram alguma disfunção orgânica, entre
outros. Sendo assim, o profissional de saúde deve ter a capacidade de identificar
as variáveis contextuais que facilitam ou dificultam a adesão dos indivíduos às
dietas; e devem analisar estratégias possíveis para obtenção de resultados
satisfatórios (Moraes et al. 2009).

Um estudo recente conduzido por Miller (2016) sobre mulheres pacientes


candidatas à cirurgia bariátrica evidenciou que o fracasso em aderir aos
programas anteriores de emagrecimento envolviam:
1. Dietas muito restritivas
2. Ter que comprar alimentos com elevado custo
3. Possuir alimentos que não gostavam
4. Sentir fome
5. Estigma negativo em relação à nutricionistas

A ansiedade referente a consequências a curto prazo parece ser uma
característica comum entre os fatores acima. Geralmente uma pessoa leva cerca
de um ano para ganhar um peso substancial. O estado corporal, mais
precisamente a imagem que o paciente tem de si acima do peso se torna
extremamente aversivo, o que eleva o seu estado ansioso e o faz procurar
medidas extremas e rápidas para emagrecer. Quando isso não acontece, ele
desiste e parte para outra empreitada, e isso mantém o seu peso acima do
saudável, reforçando outros aspectos negativos, tendo como consequências
secundarias baixa auto-estima, depressão, diminuição do comportamento social,
comprometimento das relações afetivas e familiares, baixo rendimento no
trabalho, entre outros.

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Isso significa que os tratamentos não funcionam? Não! Mas quer dizer que
cada individuo funcionará melhor com uma estratégia diferente, e isso vai
depender de seu histórico e compreensão do processo de emagrecimento.


Bom, todos este aspectos permeiam a vida de uma pessoa obesa. São
diversas variáveis, mas nos próximos módulos iremos afinar mais em relação à
cirurgia bariátrica propriamente dita. Até o próximo módulo!
Att,
Psicóloga Tamala.






















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Psicóloga Tamala R. Menezes

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