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oO PROBLEMA DA REPRESENT ACAO POLITICA: UMA PERSPECTIVA : HISTORICA'™™'° 1 OS DILEMAS DA REPRESENTACAO. “Do ponto de yisiapuramente lingitistico representar significa tor- nar novamente presehite, isto é, existefite, algo que nao esté-yealmente pr sente; vale dizeraquilo que ndaxesté “agit e ‘agora’ él nove, ‘trazido & presenga’ Com estas palavras Gerhard Leibholono seuecélebre ensaio de 1929, nos oferece (recothendos frutos de. annat antiga tradigaio) uma su- gestiva interpretagdo do termo “representagio™: a.tepresentagaio ¢ uma es- tratégia contra Gmha auséncia por algafi Motiv insuperavel-fepresentar & colocar enecna, ¢ criar uma presenga cygeativa ou substititiva de uma rea- lidade gure nao se apresenta (OO Ag Se apreseiita mais) a nao ser de forma mediada (discursivamente, Simbolicamente, “cenicdimente”), mas nem por isso evanescente ou, titrcal’\A Fepreseiitagdos ussim entendida, evoca prim tiamente um ser, Secundariamente, umavir: podemos falar da representa- gdo como unser para” (ou NO lugaide”) um sujcito ausente e/ou como um “agir por” (ou “ho Tugarde”) unesujcito inativo Na cultura’ polifica, a representagdo ndo desenvolve um papel su- bordinado ou meramente técnico-constitucional: ndo é um conceito que in- tervém somente para conotar uma especifica forma de governo ou para assi- nalar a natureza de um determinado 6rgao. A representagdo coloca-se, mais do que isso, no centro do processo de compreensao ¢ legitimagao da ordem politica, O problema que cla tem diante de si é 0 problema capital da cultura Tradugio de Ricardo Sontag (doutorando em histiria do diteito na Universita degli Studi di Firenze’. Publicado em H Filangieri, 1 (3), 2004, p. 329-400 ¢ em: La representacidn en el derecho; acura di WIERINA, R, Del Aquila, Anuario de ta Facultad de Derecho de la Univer Autonoma de Madrid, 8, p. 15-61, 2004 LEIBHOLZ, G. La rappresentazione nella de RESCIGNO, P. Milano: Giuftre, 1989, p. 70. ; a cura di FORTH, 8. inte. di ocrazi 162 Pietro Costa politico-juridica: a passagem da multiplicidade “anarquica” dos individuos a unidade de um ordenamento do qual os individuos se considerem mem- bros’. Esté em jogo a relagao entre as partes ¢ © todo: 0 deslocamento das agdes imprevisiveis, centripetas, conflituais, dos individuos ¢ a formagao de uma ordem unitaria. A ordem, porém, nao & necessariamente uma ordem de iguais: com mais frequéncia é uma ordem estratificada © hierarquizada. No momento em que a representagao incide sobre a compreensio ¢ sobre a legitimagao da ordem, cla tenta dar conta, também, da dinamica dos poderes, do dominio. dos poucos e¢ da sujeigio dos muitos. Comando ¢ obediéneia, unidade © mul- tiplicidade dos sujeitos, diferenciagdo ¢ igualdade: so estas as nervuras do discurso politico que sustentam a representagad;conterindo @cla a sua peeu- funciio. A unificagao do multiple BS horizonte dovdiscurso da representa- io; ¢ & justamente a referéncia\a este horizontesde sentido que possibilita o DUSO, G. La rappresentanza politica, Genesi e crisi del congett@ Milano t rancoAn geli, 2003, p10) Todo o livro de Gitiseppe Dtiso & precios, ag kblocan Eh toco, por um lado, o papel-constitutivo dacepresentayad na formagdoakDordemyes, por out, a tensdo “insuperdvel” que esticniunido dudiscurso da represemagao Sabre repieSemtagio em ge~ ral, ef RAUSCHeH (a cukedi). Zur Theorieund Gesehichte-der Re und Repriyentativverfaysung, Wissenschafiliche Buchgesellsehalt aiistadi, 1968; PODLECHCA. voce Reprisentation. fa BRUNNERY O.-CONZE, WORKOSELLEC (a curcedi), Gesehichtliche GrundbegritfecHistorisehes Lexikon zur po in Deutschland. Suyfigart: KigieCottac 972, Be Sp. 509-47; PITKIN, HLF ept of Representation> Berkely? Unixeisily of California Press, 1972 AA.VY. La rappreséntanza politica, Bologna: Pulagora, 1985; HALLER, B. Rep: tation. thr Bedentungswand Mer hieraré! Gesellschaft zum de chen Verfassumgsstaat Munster) Lit Vetlag, 1987; GALL, C. Immagine ¢ rappresentan. za politica. 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A diversidade das estratégias de repre- sentagdo nasce das caracteristicas intrinsecas do discurso representativo, obrigado a medir-se de acordo com as alternativas ditadas pela sua propria sintaxe, Em primeiro lugar, cle nao pode prescindir da tematizagio dos su- jeitos ¢ deve decidir se os “muitos” sio uma soma de individuos desvincula- dos de qualquer relagao de pertencimento, ou partes de agregados ja ordena- dos em seu interior. Em segundo lugar, seja ld quais {orem os sujeitos representados, cles sao levados em consideragdo ndo-nais em toda acsiaa indiferenciada complexidade, mas, sim, em relagdo\a\tim especificgcétemento caracterizan- te; ¢ 0 discurso representative. cada Vez deve escolher qual trago privilegiar, a vontade, 0 interesse, a virtdde)o amor a patria, Ou algum outro, Em teregir@Tipar, © discyrso da representagao & uit? discurso de relagdo: cnvolvE Xe pressupde) ana precisa figuragdo, dg representado ¢ do scu representarite (dos sujeitéSmuldplos ¢ do ente wnitirio)emas desenvolve a sua fungi colocandaem relagao’ os muitos ¢@ Uno. Abre-se, Chto, 0 pro- blema do tipo de. rehigdo,que-o processo tepresentativo imstaura entre os ex- tremos dos _quais’ele setaz, ponte: quais’saig.o8 procedimentosysimbolicos e institugiomts através dos quais 5 Sujeites Se regonhecenrrepresentados pela figura Ou pelo ente unitério, quails, so Os mecanismos Ue selegdo do repre- sentante ¢ a sua valénciapoliticaes tdeal\Pode definear, entao, um lago signi- ficativo entre o progessorepiesentativo ¢ ondispositivo de cleigdo, sem que cle aparega, porém, como um dado necessairio ¢ constante!™. Depois, Quand. 6 Meedismo cletivo aparece como um ingrediente necessdrio do processo‘reprgsentativo, emerge o problema dos sujeitos en- volvidos na escolha: se €és sao “muitos” ou “todos”, ¢ quais sao os critérios em cada ocasizio, adotados para determinar ¢ legitimar a inclusdio no proc so eletivo-representativo ou a exclusio dele Enfim, justamente porque a representagdo instaura uma relaga que se pretende duradoura e estrutural, entre representado ¢ representante, a relagdo entre os muitos ¢ 6 UNO Nao se exaure no momento da escolha dos representantes por parte dos representados, mas prolonga-se na resposta (na responsiveness, ou, ainda, na responsibility’) do representante diante do representado. "CL MANIN, B. La democrazia dei moderni, Milano: Anabasi, 1992 '™ PISICHELLA, D. Sul concetto di rappresentanza politica, Jr: FISICHELLA D, (a cura di), La rappresentan Milano: Giuflre, 1983, p. 23 e ss

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