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Dado momento comecei a questionar as razões que justificassem minha dificuldade

de adaptação neste país, relacionando meu raciocínio aos impasses que outros brasileiros
compartilharam comigo nesses últimos dois anos da tentativa de uma mais saudável
absorção em Israel, entre elas: as manifestações artísticas brasileiras se mostram - ainda
que de forma muito subjetiva (com frágil capacidade de ser mensurada, é claro) no entanto,
ainda assim da mais profunda e importante serventia. Não apenas uma ferramenta da
conveniência.
Nascemos e grande parte de nós crescemos sendo sujeito e/ou em condição de
matéria prima - ainda que em muito sem nos dar conta disso - da música, da literatura e as
tantas outras afirmações artísticas que ao longo da história e do tempo atual nos traduz, nos
lê, nos outorga voz e visibilidade, nos dignifica e nos faz pertencentes e coautores do retrato
de nossa própria existência humana dentro de um âmbito cultural. Por muitas vezes
nacionalista, outras tantas regionalistas, mas não só.
O que é indiscutível mesmo é reconhecermos que a arte está para as comunidades
como as comunidades estão para a arte, a semente e ao mesmo tempo o fruto do produto
de um grupo, de uma população, de um povo.
A arte registra e projeta a beleza e a miséria da nossa identidade. E é necessário
que ela esteja viva, relevante, operando! Carece sempre de pensamento crítico, de um
discurso, de uma preocupação com a estética.
Principalmente a arte brasileira.
Quem se propõe carregar o bastão precisa estar atento às responsabilidades que se
apresentam. Não é uma tarefa fácil estar atento a todos estes detalhes. Por muitas das
vezes este argumento foge da agenda dos artistas brasileiros e muito particularmente dos
artistas brasileiros que estão ativos no exterior.
Já que a arte ou um movimento artístico não precisa estar posicionado
geograficamente no específico lugar em que as características das quais pretende se
classificar, opera. Podemos entender que entre outros casos, um exemplo é este, nunca foi,
ainda não é, como também provavelmente não será necessário estar no Brasil para
desenvolver e influenciar em aspectos estilísticos a MPB. Parece óbvio mas nem sempre é.
A arte brasileira - insisto - exige maior preocupação estética e política. E
esclarecendo (o que nos dias de hoje, de um ponto de vista íntimo parece-me ridiculamente
desnecessário mas) é importante dizer - política no que diz respeito ao contexto filosófico da
palavra, mas não limitando-se apenas a isto. Não acredito no pensamento totalitarista que
prevê que tudo deve compor engajamento. Mas a arte é, entre outras coisas, matéria
ilimitável. Podemos com isso também propor apenas a manutenção do belo, atrevo-me:
desde que este - o belo - esteja presente.
A rigor, faz-se também contundente ponderar sobre os aspectos atuais,
principalmente da música brasileira, nas produções fora do país. Existe um limbo e lá
talentosíssimos musicistas, intérpretes escandalosos (no melhor dos sentidos da palavra) e
compositores dignos da imortalidade tem se perdido com a justificativa ou com a confusa
ideia de que quando o brasileiro que mora no exterior e o gringo que simpatiza com o que o
Brasil faz quer consumir arte, quer consumir o que já existe, o que já foi feito, o que todo
mundo conhece. É um erro. Grave.
Na medida em que estes artistas que são brilhantes caem no que é mais que
comum no exterior: o engessamento da sua própria atividade, uma hora ou outra estes
potenciais precursores da música popular brasileira se perdem. Acaba-se com as
possibilidades do trabalho autoral se tornar conhecido, acaba-se com as possibilidades do
artista começar ou continuar dando fôlego a si mesmo.
Por fim, acontece com ele o que acontece com a vela dentro de um copo de vidro: o
fogo não se sustenta e a chama ardente que poderia iluminar os caminhos para a arte, para
nós enquanto público sedento, se desfaz.

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