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MICROTERRITÓRIOS DA RESISTÊNCIA
NOVAS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO E AS CIDADES
COMO CAMPO DE RESISTÊNCIA POLÍTICA
NATAL/RN
2019
KELVIS LEANDRO DO NASCIMENTO
MICROTERRITÓRIOS DA RESISTÊNCIA
NOVAS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO E AS CIDADES COMO
CAMPO DE RESISTÊNCIA POLÍTICA
NATAL/RN
2019
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO
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Ver: Shopping – NASCIMENTO (2003)
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Sigla utilizada para definir Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transexuais e Travestis.
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Torna-se evidente que a microterritorialização do C4 para os encontros e sociabilidades gays,
transformaram o espaço em um via “alternativa” sendo alternativa uma referência ao homossexual por sua
inscrição história numa sociedade rígida e padronizada que o encara como o sujeito incapaz de seguir às
normas padrões, criando uma identidade alternativa à norma. Nesse sentido, é possível falar em “espaço
alternativo” como anedota, no sentido de particularidade jocosa utilizada em alguns discursos
homofóbicos, mas também como "alternativo” nos discursos simpatizantes que utilizam o termo para
descrever em uma única palavra que todas as sexualidades são permitidas.
4
Conceito elaborado por Michel Foucault para descrever espaços que funcionam em condições não
hegemônicas.
5
Ver (DELEUZE; GUATTARI, 1995)
6
6
As aspas se referem ao fato da negociação nem sempre ser explícita, como nas relações de negociação
de compra de bens materiais regidas por contrato e cupom fiscal. Aqui negociações ganham caráter
subjetivo e sua fixação está relacionada com o fetichismo da mercadoria descrito por Karl Marx (2013).
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https://apartamento702.com.br/5-dicas-para-quem-quer-andar-de-patins-em-natal/
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http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/mais-astral-a-beira-mar/303963
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Há uma guerra em curso. E não estamos apenas falando das inúmeras guerras
promovidas pelo imperialismo colonial estadunidense junto com seus aliados fiéis, nos
referimos aqui da guerra global pela conquista do inconsciente. O Império, desde os
movimentos de 1968 reconheceram que para sua total hegemonia se faz fizesse
necessária a conquista das subjetividades individuais. Bem mais sofisticada e
relativamente simples o processo de dominação envolve uma manipulação oculta na
revolução tecnológico-científica possibilitada pela informática, internet, redes sociais e
mídia. “Detrás do brilho das telas se ocultam hoje as formas mais extremas de
dominação neocolonial, tecnológica e subjetiva” como nos diz Preciado (apud:
ROLNIK, 2018, p. 11).
O momento é de uma contrarrevolução, uma “reforma heteropatriarcal, colonial
e nacionalista” contra os anos de avanços progressistas nas áreas de gênero e
sexualidades, lutas operárias e anticoloniais em todo o mundo. A extrema direita em
aliança com o neoconservadorismo executa seu mais ambicioso plano de suprimir os
avanços sociais e de garantir sua hegemonia na sociedade.
O avanço desse modelo conservador não é natural, faz parte do mesmo processo
que “levou à capitalização das áreas de preservação de terras indígenas, ao
confinamento e ao extermínio de todos os corpos cujos modos de conhecimento ou
afecção desafiaram a ordem disciplinar”.FONTE? O controle subjetivo, necropolítico da
sociedade vem criando uma realidade onde o terror é manuseado como estratégia de
vigilância, o extermínio nas periferias é elevado ao patamar de proteção da ordem e os
mais diversos tipos de violência transformados em ações necessárias para manter a
estabilidade do sistema e da vida social.
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Mude a redação para não repetir tão perto Michel Foucault na grande parte de
suas obras9 conversa sob a lógica da exclusão. A expulsão do louco, do leproso, do
homossexual e tantos outros do convívio social refletem a noção ficcional do inimigo,
daquele indivíduo que precisa ser repelido, afastado do convívio dos “normais”. O
próprio conceito foucaultiano de biopoder funciona na separação das pessoas que
podem viver e as que devem morrer. Há segundo Foucault (1997, p. 58) subdivisões
sociais por grupos e subgrupos sob os quais pesa o racismo.
Atualmente, no Brasil, o grupo dos denominados por “normais” ganhou novo
nome, hoje, os “cidadãos de bem” são os que exigem distinção daqueles considerados
perigosos para o convívio social os “anormais”, falaremos dos “cidadãos de bem” em
outro capítulo.
Alinhado ao conceito de biopoder, Achille Mbembe (2018) propõe o termo
Necropoder como uma atualização do termo anterior e que melhor representa a atual
fase da soberania do poder. Mbembe defende que “no passado, com efeito, guerras
imperiais tiveram como objetivo destruir os poderes locais, instalando tropas e
instituindo novos modelos de controle militar sobre as populações civis” (2015, p. 135).
Os povos conquistados obtinham rapidamente as condições de seus espólios
como povos vencidos. A colonização e a ocupação dos territórios inscreveram suas
lógicas próprias aos domínios anexados, além de uma dominação territorial e
hierarquizada, uma dominação dos imaginários culturais, de acordo com Mbembe:
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Vigiar e Punir (1975); O Nascimento da Clínica (2004); Microfísica do Poder (2014).
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Entretanto, a soberania não é algo absoluto, “não é uma substância autônoma, mas uma
relação entre soberano e súdito […] Assim quem obedece não é menos essencial para a
funcionalidade” (NEGRI, 2003, p. 73). Nesse sentido, a soberania só pode existir na
restrita relação entre sujeitos e sujeitados, o que abre margem para novas configurações
de poder.
A soberania é, pois, definida pela dinâmica molecular que mantém sob
constante pressão seus limites e, assim procedendo, exalta sua natureza
dupla. Se assumirmos a soberania como um conceito bifronte, uma relação
hegemônica descobriremos uma série de contradições que a marcaram ao
longo de toda a idade moderna até nossa época imperial. Considere-se, antes
de tudo, a moderna veste militar da soberania: o poder de vida ou morte sobre
os súditos. As armas nucleares, em certo sentido, tornaram absoluta essa
prerrogativa. (NEGRI, 2003, p. 79).
sob a ótica do capital parecia ser a opção mais viável de desenvolvimento naquele
momento. Como reflexo da crise pela qual passou as cidades, Harvey destaca:
por dever ser patriota, este vê escoar sua própria condição de cidadão que desaparece
contestada pelo projeto moderno de cidade.
Diante do exposto, fica clara a intenção capitalista em utilizar as cidades como
ferramenta mercadológica, seus interesses ultrapassam fronteiras e passam por cima de
qualquer lógica pública de desenvolvimento igualitário. Os cidadãos não-solváveis são
espoliados e marginalizados, postos a viver no entorno de suas próprias cidades.
3. ABORDAGENS METODOLÓGICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. MIL PLATÔS. São Paulo: Editora 34, 127 p.
Trad.: Ana Lúcia De Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. (1995).
LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. 5. Ed. Belo Horizonte: Editora Ufmg, 2008.
Tradução de Sérgio Martins.
MARX, Karl. O capital: Livro I (inédito). São Paulo: Ciências Humanas Ltda., 1978.
151 p. Eduardo Sucupira Filho.
NEGRI, Antônio. Cinco lições sobre o Império. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 279 p.
ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada. São
Paulo: N-1 Edições, 2018. 207 p.