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Análise da Obra: Antologia Poética, Carlos Drummond de Andrade

07.05.2019 Raquel Figueiredo Cardoso

1. Contexto Literário
Carlos Drummond de Andrade pertence à 2ª GERAÇÃO DO MODERNISMO BRASILEIRO
(Geração de 30).
2ª GERAÇÃO MODERNISTA: - Amadurecimento e aprofundamento das CONQUITAS DA
1ª GERAÇÃO OU GERAÇÃO DE 22 (versos livres, linguagem coloquial, utilização de
blagues – poema piada);
- Geração de CONSTRUÇÃO: Busca a construção de uma Literatura questionadora, em
especial com relação ao poeta e ao seu papel no mundo – maior engajamento nas questões
politicas e sociais;
- Conciliação da TRADIÇÃO e da MODERNIDADE: Revaloriza elementos da tradição
literária, SEMPRE em consonância com os ideais do Modernismo.

2. Carlos Drummond de Andrade (1902 – Itabira/MG - 1987 – Rio de Janeiro/RJ.


Nasce em Itabira, MG, estuda em Belo Horizonte e conclui o curso de Farmácia.
- Trabalha como jornalista, professor e funcionário público;
- Produção de poesia, contos e crônicas;
- Influenciado pelos poetas da primeira geração, como Mario de Andrade (a quem dedica
sua primeira obra), Manuel Bandeira e Oswald de Andrade;
- Temática na poesia: o indivíduo, a terra natal, a família, os amigos, o choque social, o
conhecimento amoroso, a própria poesia, exercícios lúdicos e uma visão da existência
(Antologia poética).
- Principais obras: “Alguma poesia”, “Brejo das Almas”, “José”, “A rosa do povo”.

3. Poemas e exercícios

1. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2018)


A MÁQUINA DO MUNDO
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos


que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo


na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu


para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
(...)

O trecho apresentado integra um poema maior da obra Claro Enigma, de Carlos


Drummond de Andrade. Considerando o poema como um todo, NÃO É CORRETO afirmar
que
a) caracteriza-se por um tom sombrio, insere-se nos poemas escuros da obra e apresenta
o material temático desenvolvido no poema.
b) revela o lirismo filosófico e existencial do poeta sob a configuração de uma máquina que
se mostra a um desiludido viajante.
c) personifica um caminhante que aceita o convite que lhe é feito, e decifra a máquina do
mundo, compreendendo, assim, o sentido íntimo da vida e de tudo.
d) mantém uma relação dialogal com mesmo tema de obra de Camões e com a estrutura
poético-narrativa da obra de Dante Alighieri.

2. (Uem 2018) Assinale o que estiver correto a respeito da poesia de Carlos Drummond de
Andrade.
Poema 1: “Memória” – publicado no livro Claro Enigma, 1951.
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido


contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,


muito mais que lindas,
essas ficarão.
(ANDRADE, C. D. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 210)
Poema 2 (excerto): “A flor e a náusea” – publicado no livro A rosa do povo, 1945.
[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.


Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
[...]

01) No poema “Memória”, há regularidade rítmica que pode ser facilmente percebida. Os
versos têm cinco sílabas poéticas e esquema rímico aab/aab/ccb/ddb, o que também
revela recorrência. Como se vê, as sílabas poéticas nasais que encerram cada uma das
estrofes rimam, remetendo metaforicamente ao trabalho da memória, que revisita aquilo
que já foi visto.
02) No poema “Memória”, o tema gira em torno de um eu lírico que perdeu algo de que
gostava muito, motivo pelo qual agora se encontra confuso, sem saber o que fazer. Tudo o
que resta é a memória do objeto e, portanto, a tristeza e a melancolia pela felicidade agora
impossível. Se não é possível possuir o objeto perdido, como consolação fica a memória do
que já foi, que nunca está à altura do objeto mesmo; daí o tom pesado do poema.
04) No trecho transcrito do poema “A flor e a náusea”, percebemos o uso de versos
brancos, com métrica não regular, duros como a cidade e o contexto que narram: o
mundo convulso e o sujeito que nele tenta se localizar. Todas as imagens são brutais:
iludir a polícia, romper o asfalto, o imperativo de parar as atividades produtivas, a feiura
da flor, o ritmo da cidade, seu irracionalismo. A estética precisa estar à altura dessa
tarefa, motivo pelo qual o poema tem um andamento análogo.
08) No trecho transcrito de “A flor e a náusea”, a imagem da flor imaculada forjada ao
longo dos séculos está mantida. Há uma oposição completa e irrestrita entre a flor e a
feiura do mundo circundante. A partir da leitura, sabe-se que é preciso resgatar a pureza,
a perfeição, a regularidade e a delicadeza da natureza idealizada, para contrapor a um
mundo frio e cinzento em que estamos fadados a viver. A poesia, assim, funciona como
um refúgio em que podemos criar outros mundos, belos e harmônicos. Daí a flor contra a
náusea do mundo.
16) Carlos Drummond de Andrade é um dos poetas mais influentes da literatura
brasileira. Livros como A rosa do povo (1945) e Claro enigma (1951) são marcos de nossa
poesia. Em A rosa do povo, publicada no ano em que termina a Segunda Guerra Mundial,
percebe-se uma preocupação social e política, com olhos para o coletivo social, e não para
o indivíduo fechado sobre si mesmo. Isso indica como a poesia não é alheia ao mundo e
não se resume à expressão solitária de um indivíduo autocentrado.

3. (Pucsp 2017) Entre o Ser e as Coisas


Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

Às almas, não, as almas vão pairando,


e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N’água e na pedra amor deixa gravados


seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados


sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.

O poema acima é de Carlos Drummond de Andrade e integra a obra Claro Enigma. Da


leitura dele não se pode concluir que
a) é um poema de extração filosófica, pois se apoia em indagação sobre a existência e as
complicações do amor.
b) constrói-se com citações/referências tanto de obras da poesia brasileira quanto do que
há de melhor na poesia portuguesa.
c) afirma que o amor se manifesta em linguagem clara e objetiva e deixa suas marcas
apenas sobre os corpos líquidos de forma indelével e definitiva.
d) é um texto que se estrutura em forma fixa, com rimas e métrica convencionais, nos
moldes da poesia clássica.

4. (Ufrgs 2017) Leia o poema José, de Carlos Drummond de Andrade.


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,


está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
(...)
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Assinale a alternativa correta sobre o poema.


a) O diálogo com José, interlocutor, pode ser lido como uma forma de o sujeito-lírico
refletir sobre o desamparo existencial.
b) O poema em versos curtos apresenta o caminho para superação dos impasses de José.
c) As repetições indicam a monotonia da existência do trabalhador comum, José, em crise
com sua condição operária.
d) O sujeito-lírico, na ausência de respostas, não consegue decifrar para onde José
marcha, embora este saiba seu caminho.
e) A expressão “e agora, José?” põe em relevo a indignação do sujeito-lírico com seu
interlocutor, incapaz de se definir.
5. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2017)
Oficina Irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

O texto acima é de Claro Enigma, obra de Carlos Drummond de Andrade. De sua leitura
se pode depreender que
a) é um poema que segue rigorosamente os procedimentos de construção do soneto
clássico e tradicional, particularmente quanto à disposição e ao valor das rimas e ao uso
da chave de ouro como fecho conclusivo do texto.
b) é um metapoema e revela que o soneto que o autor deseja fazer é o mesmo que o leitor
está lendo, como a evidenciar na prática a junção do querer e do fazer.
c) utiliza-se de expressões como “tiro no muro” e “cão mijando no caos”, que, além de
provocar mau gosto e o estranhamento do leitor, rigorosamente, nada têm a ver com a
proposta de elaboração do poema.
d) faz da repetição anafórica e do paralelismo dos versos, um recurso de composição do
poema que o torna enfadonho e antiestético e revela um poeta de produção duvidosa e
menor.

6. (Ufpr 2016) Leia, atentamente, o seguinte poema:

Que pode uma criatura senão,


entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,


sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,


o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,


distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa


amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro enigma, de
Carlos Drummond de Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.
a) As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor
diante de um mundo em que tudo é perecível.
b) O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo
diferente da intensidade do amor dispensado ao grotesco.
c) Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua
concretude e delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.
d) O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação
praticada e os objetos a que essa ação se dirige.
e) A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante
de um mundo caótico e insensível.

7. (Uemg 2016) Zuenir Ventura, na obra Crônicas para ler na escola, faz referência à
expressão “ser gauche na vida”, presente no seguinte poema de Carlos Drummond de
Andrade.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens


que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:


pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode


é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste


se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer


mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

O termo “gauche”, discutido por Zuenir Ventura a partir de uma entrevista que fez com
Drummond, revela que o poeta foi um
a) militante das ideias políticas de esquerda.
b) homem qualquer, de vida simples.
c) seguidor do movimento da teologia da libertação.
d) dos maiores escritores de língua portuguesa.

8. (UEL 2017) Leia os poemas a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, e responda às


questões de 1 a 7.
Sentimental
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
– Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar”.

Poema do jornal
O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensanguentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.
Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Quanto a “Sentimental”, assinale a alternativa correta.
a) Trata-se da variação de um soneto, com o mesmo número de versos e com a
manutenção de métrica e rima,
normalmente utilizadas na forma clássica.
b) A referência a “escamas” distancia o poema das práticas modernistas que privilegiam a
incorporação de elementos
prosaicos.
c) A frase “Está sonhando?” é uma pergunta feita pelo sujeito lírico a outro ser que insistia
em escrever o nome da
pessoa amada com letras de macarrão.
d) Os dois últimos versos da primeira estrofe confirmam a sintonia entre o ato de escrever
o nome da amada, as pessoas
ao redor da mesa e a vida real do presente.
e) O “romântico trabalho” é comprometido pela falta de uma letra, indício de que a
concretização do sonho enfrenta
obstáculos no mundo real.

9. Sobre o sujeito lírico em cada um dos três poemas, considere as afirmativas a seguir.
I. O registro de alterações nos sentimentos dos sujeitos líricos é mais marcado no sujeito
lírico de “Sentimental” do que no sujeito lírico de “Poesia”.
II. O apego à vida material é mais externado pelo sujeito lírico de “Sentimental” do que
pelo sujeito lírico de “Poesia”.
III. As inquietações do sujeito lírico de “Poesia” estão mais vinculadas ao caráter
introspectivo, enquanto em “Poema do jornal” sobressaem cenas cotidianas.
IV. A subjetividade no sujeito lírico de “Poema do jornal” é mais evidente do que aquela
expressa no sujeito lírico de “Sentimental”.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

10. Sobre o nome da pessoa escrito com letras de macarrão e o cartaz amarelo, presentes
em “Sentimental”, e a notícia e a doce música mecânica, citados em “Poema do jornal”,
considere as afirmativas a seguir.
I. O nome da pessoa escrito com letras de macarrão e a doce música mecânica são
demonstrações de que o espírito romântico podou os excessos modernistas.
II. A doce música mecânica é uma imagem que alivia as tensões proporcionadas pelo
cartaz amarelo, indicando que o trânsito entre sonho e realidade nos dois poemas é
invertido.
III. O cartaz amarelo e a notícia são evidências que contêm o reconhecimento de que a
vida moderna é pontuada pela urgência do mundo real.
IV. A notícia está em desacordo com a atmosfera de devaneio experimentada no ato de
escrever o nome da pessoa amada com letras de macarrão.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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