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Problemas de Linguística Geral I e II, BENVENISTE

Émile Benveniste foi um linguista de notório reconhecimento entre seus pares.


Influenciado pelo comparativismo de Antoine Meillet e pela linguística de Ferdinand de
Saussure, sua notoriedade, já na metade do século XX, decorre principalmente da publicação de
dois estudos magistrais do indo-europeu.
No campo da enunciação, o reconhecimento de Benveniste se dá com a publicação dos
dois tomos dos Problemas de linguística geral. O primeiro volume vem a público em 1966; o
segundo, em 1974. Desde então, Benveniste é considerado o grande expoente da linguística da
enunciação e, consequentemente, o principal representante do que se convencionou chamar de
teoria da enunciação.
Os artigos constantes em PLG I e II – transcrições de conferências proferidas,
publicações em revistas especializadas etc. – são reunidos em blocos temáticos, propostos pelo
próprio linguista, constituindo seis “partes”: Transformações da linguística, A comunicação,
Estruturas e análises, Funções sintáticas, O homem na língua, Léxico e cultura

Linguagem
A linguagem (re)produz a realidade. Pensar em sujeitos sem considerar a linguagem é
impraticável, pois ela está presente em tudo o que fazemos e o que somos, permeando nossos
pensamentos e mediando nossas relações no mundo, com o mundo.
O reconhecimento de sua inegável essencialidade e capacidade de atrair a curiosidade
dos homens, fez com que muitos estudos fossem realizados e muitas obras fossem escritas sobre
o tema: descrições, métodos, teorias. Enfim, diferentes correntes, perspectivas (e uma vasta
bibliografia) tentam, cada uma a sua maneira, dar conta dos estudos linguísticos e das tarefas do
linguista.
Desde o seu nascimento junto aos pensadores gregos até o início do século XX, quando
passa a ser vista como ciência, a Linguística Ocidental foi se desenvolvendo; são tantas
informações e considerações feitas sobre essa importante caminhada que dados importantes
podem escapar a um olhar menos atento.
1. Sobre as principais funções da linguagem
A linguagem, no que se refere à função, é responsável por:
1) reproduzir a realidade – conferindo ao ato de discurso uma dupla função: a
interação entre aquele que fala e conta sobre sua experiência e aquele que ouve a
experiência do outro (o acontecimento), recriando a realidade – essa é a troca inerente
ao exercício da linguagem;
2) reproduzir o mundo – o linguista acredita na relação intrínseca entre pensamento e
linguagem e que, portanto, toda expressão que ele recebe determina o conhecimento
de mundo. Ao (re)produzir o mundo, a linguagem submete-o à sua própria
organização, sendo logos, discurso e razão ao mesmo tempo. Como explica
Benveniste:

Ela (a Linguística) é logos, discurso e razão juntos, como o viram os gregos. É isso pelo
próprio fato de ser linguagem articulada, consistindo de um arranjo orgânico de partes,
de uma classificação formal dos objetos e dos processos. O conteúdo que deve ser
transmitido (ou se quiser, o “pensamento”) é decomposto, assim, segundo um esquema
linguístico. A “forma” do pensamento é configurada pela estrutura da língua. E a língua
por sua vez revela dentro do sistema das suas categorias a sua função mediadora.
(2005, p.26-27)

Um indivíduo não existe sem implicar o outro, que, dotado do mesmo esquema
linguístico, da mesma estrutura linguística, usa a língua como instrumento de mediação, e, a
partir dessa função mediadora da linguagem, e devido à polaridade eu : tu, sujeito e sociedade se
complementam.
De acordo com Benveniste (2005, p. 27), é dentro da, e pela língua que indivíduo e
sociedade se determinam mutuamente. A sociedade não seria possível sem este instrumento de
intermediação poderoso: a palavra. A palavra é soberana, por meio dela tudo expressamos, tudo
simbolizamos.

Qual é então a fonte desse poder misterioso que reside na língua? Por que o indivíduo e
a sociedade, juntos e por igual necessidade, se fundam na língua? Porque a linguagem
representa a mais alta forma de uma faculdade que é inerente à condição humana, a
faculdade de simbolizar. (2005, p. 27)

É essa capacidade de simbolizar – identificar e representar o real por um signo e de


compreender esse signo como representante do real – que faz do homem um ser racional.
Empregar um símbolo é essa capacidade de reter de um objeto a sua estrutura
característica e de identificá-lo em conjuntos diferentes (...) A faculdade simbolizante
permite de fato a formação do conceito como distinto do objeto concreto, que não é
senão um exemplar dele. (...) Ora, essa capacidade representativa de essência simbólica
que está na base das funções conceptuais só aparece no homem. Desperta muito cedo
na criança, antes da linguagem, na aurora da sua vida consciente. Mas falta no animal.
(BENVENISTE, 2005, p. 27-28)

Nada retrata tão bem essa relação intrínseca entre homem e linguagem quanto esta frase:
“o homem não foi criado duas vezes, uma vez sem linguagem e outra com linguagem”
(BENVENISTE, 2005, p. 29).

Sobre o desenvolvimento da Linguística


a) a Linguística passou por fases primárias sucessivas: filosófica, filológica e
comparatista;
b) apesar da linguagem ser inerente ao homem, estudos sistematizados sobre esse campo
só surgem a partir do século XIX;
c) cabe a Ferdinand de Saussure o crédito de “divisor de águas” entre a linguística antiga
e a moderna;
d) quanto à cientificidade da Linguística, existe a necessidade de mudança de atitude em
relação ao objeto e o esforço para formalizá-lo – nesse caso, não se deve ignorar o
esforço não apenas de Saussure, mas também de outro linguista, o americano
Bloomfield;
e) através das diferenças de escola, surgem as mesmas preocupações quanto à
sistematização de seus processos, mesmas preocupações – propiciando a formulação
de três questões fundamentais:

i) Sobre a tarefa do linguista: a que ponto ele deseja chegar e o que descreverá sob o
nome de língua?
ii) Sobre a descrição da língua: por meio de quais princípios apreende-se o conjunto
dos traços de uma língua dentro do conjunto das línguas manifestadas e como
descrevê-los em termos idênticos?
iii) Sobre a significação: tendo em mente que tanto para falantes comuns como para
linguistas a linguagem tem como função “dizer alguma coisa” – como delimitar
essa “coisa” em relação à própria linguagem?

Dos pré-socráticos até o século XVIII


A Linguística Ocidental nasceu na filosofia grega, marcando a primeira fase dos estudos
linguísticos. De acordo com Benveniste, o interesse dos pensadores, nessa fase, era puramente
filosófico: raciocinavam sobre a condição original da linguagem, se ela era natural ou
convencional; estudos quanto ao seu funcionamento pairavam sobre bases lógicas ou filosóficas.

Durante séculos, dos pré-socráticos aos estoicos e aos alexandrinos, e depois no


renascimento aristotélico que estende o pensamento grego até o fim da idade média
latina, a língua permaneceu objeto de especulação, não de observação. Ninguém se
preocupou , então, em estudar e descrever uma língua por ela mesma, nem em verificar
se as categorias fundadas em gramática grega ou latina tinham validade geral. Essa
atitude não mudou absolutamente até o século XVIII (BENVENISTE, 2005, p. 20).

Considerando que homem e sociedade não existem sem a linguagem, é curioso verificar
que, durante séculos, nada mudou, em termos de estudos linguísticos.

Entre os séculos XIX e XX

Segundo Benveniste (2005, p. 21), o início do século XIX traz consigo uma nova fase
para os estudos linguísticos: a descoberta do sânscrito e uma relação de parentesco entre as
línguas indo-europeias. Tem-se início a gramática comparada, cujo método experimentado sobre
o domínio indo-europeu tornou-se exemplar. Falava-se em genética das línguas: o interesse
nessa fase estava pautado no estudo da evolução das formas linguísticas.
Ressalta-se o caráter exclusivamente histórico que marcava a linguística durante todo o
século XIX e o início do século XX. A história como perspectiva necessária e a sucessão como
princípio de explicação – a divisão da língua em elementos isolados e a pesquisa de leis de
evolução própria a cada um deles como caracteres dominantes da doutrina Linguística. Começa
aqui os questionamentos sobre a natureza do fato linguístico, sobre a realidade da língua:
perguntas que a linguística histórica não conseguia responder. Ao mesmo tempo que, de acordo
com Benveniste (2005, p. 21), surgiam dificuldades de ordem totalmente diferente, mas
igualmente temíveis, as quais escapavam a uma descrição histórica, forçando os linguistas à
elaboração de um novo aparato de definições e a um novo método de análise.

O século XX e o enfoque saussuriano

Muitos debates teóricos e um livro póstumo redigido a partir de apontamentos de alunos


abrem caminhos para uma nova e grandiosa fase para a Linguística, dando-lhe uma nova noção,
atingindo, com Ferdinand de Saussure e o seu Curso de Linguística Geral (1916), o status de
ciência.

Dizer que a linguística tende a tornar-se científica não é apenas insistir sobre uma
necessidade de rigor, comum a todas as disciplinas. Trata-se, em primeiro lugar, de uma
mudança de atitude em relação ao objeto, que se definirá por um esforço para
formalizá-lo. Na origem dessa tendência pode reconhecer-se uma influência dupla: a de
Saussure na Europa e a de Bloomfield na América. (...) É difícil imaginar contraste
mais acentuado que o destes dois trabalhos: Cours de linguistique général de Saussure
(1916), livro póstumo redigido a partir dos apontamentos de alunos, conjunto de
exposições geniais, cada uma das quais pede uma exegese e algumas das quais
alimentam ainda a controvérsia, projetando a língua sobre o plano de uma semiologia
universal, abrindo visões para as quais o pensamento filosófico de hoje apenas desperta;
Language de Bloomfield (1933), que se tornou o vade-mecum dos linguistas
americanos, textbook (“manual”) completamente acabado e amadurecido, notável tanto
pela sua posição de despojamento filosófico quanto pelo seu rigor técnico
(BENVENISTE, 2005, p. 7)

Para Saussure (2006, p. 271), “a linguística tem como único e verdadeiro objeto a língua
considerada em si mesma e por ela mesma”. Conforme Benveniste, essa nova posição alarga o
horizonte dos linguistas, pois todos os tipos de línguas adquirem direitos iguais de representar a
linguagem (2005, p. 6).
Com esse princípio em mente, os linguistas se conscientizam da tarefa que lhes é cabida:
estudar e descrever a realidade linguística atual por intermédio de uma técnica apropriada, não
misturar pressupostos teóricos ou históricos nas descrições (que devem ser sincrônicas), e
analisar a língua por ela mesma. Saussure estabeleceu que a Linguística teria como matéria todas
as manifestações da linguagem humana, de diferentes povos e épocas, considerando-se todas as
formas de expressão e não somente aquelas consideradas linguagens “belas e a corretas”.
De acordo com Saussure, eis as tarefas da Linguística (2006, p. 13):
i) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer
dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as
línguas-mães de cada família;
ii) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as
línguas e deduzir as leis gerais às quais se possam referir todos os fenômenos
peculiares da história;
iii) delimitar-se e definir-se a si própria.

Com Saussure, o objeto de estudo da Linguística passa a ser a realidade intrínseca da


língua e visa à cientificidade: formal, rigorosa e sistemática.
Os trabalhos linguísticos modernos caracterizam-se, assim, pela abordagem descritivista,
consciência do sistema, análise desde as unidades elementares e explicitação dos procedimentos,
graças à sistematização preconizada por Saussure.
O axioma da teoria (o princípio de evidência cuja(s) proposição(ões) de base se refere(m)
ao objeto e não exige(m) demonstração) é explicitado ao nomear a quinta parte dos PLG: o
homem está na língua. O operador – isto é, o dispositivo que permite o exercício do(s)
axioma(s) num dado modo – do axioma O homem está na língua é a enunciação. É ela,
enquanto dispositivo, que o faz funcionar.
E como entender esse axioma? Por meio de conceitos primitivos cuja principal
característica é serem interdependentes entre si. Por exemplo, o axioma O homem está na língua
é constituído por dois primitivos: homem e língua.
Segundo Benveniste, “A ‘subjetividade’ de que tratamos aqui é a capacidade do locutor
para se propor como sujeito” (PLG I, p. 286). A compreensão dessa afirmação exige o
conhecimento do que o autor define pelos termos locutor e sujeito. Subjetividade, locutor e
sujeito são conceitos primitivos uns em relação aos outros porque são interdependentes.
Há também linguagem, enunciação, referência, entre muitos outros, que são designações
para conceitos que têm existência garantida porque articulados a outros conceitos, portanto,
também são primitivos. “A linguagem é, pois, a possibilidade da subjetividade, pelo fato de
conter sempre as formas linguísticas apropriadas à sua expressão, e o discurso provoca a
emergência da subjetividade” (p. 289).
“[...] a língua enquanto assumida pelo homem que fala, e sob a condição de
intersubjetividade, única que torna possível a comunicação linguística” (PLG I, p. 293);
“a referência é parte integrante da enunciação” (PLG II, p. 84).
O operador (a enunciação) – o dispositivo que permite o exercício do axioma, como um
grande processo, como um ato, como tendo natureza fônica, como tendo uma natureza gráfica
etc.
“A enunciação é este colocar em funcionamento a língua por um ato individual de
utilização” (PLG II, p. 82). Um conceito geral constituído por conceitos primitivos e com um
grande poder explicativo/descritivo.
“este grande processo pode ser estudado sob diferentes aspectos” (PLG II, p. 82). Não há
apenas uma forma de analisar a enunciação; ela pode ser estudada sob diferentes aspectos.
A “o que em geral caracteriza a enunciação é a acentuação da relação discursiva com o
parceiro, seja este real ou imaginado, individual ou coletivo” (PLG II, p. 87). A relação com o
outro, a intersubjetividade. Para Benveniste o homem está na língua e o está sob a condição da
intersubjetividade:

A intersubjetividade tem assim sua temporalidade, seus termos, suas dimensões. Por
aí se reflete na língua a experiência de uma relação primordial, constante,
indefinidamente reversível, entre o falante e seu parceiro. Em última análise, é
sempre ao ato de fala no processo de troca que remete a experiência humana inscrita
na linguagem. (PLG II, p. 80)

As ocorrências de discurso

(1) O discurso, dir-se-á, que é produzido cada vez que se fala, esta manifestação da
enunciação, não é simplesmente a “fala”? – É preciso ter cuidado com a condição
específica da enunciação: é o ato mesmo de produzir um enunciado, e não o texto do
enunciado, que é nosso objeto. Este ato é o fato do locutor que mobiliza a língua por
sua conta. A relação do locutor com a língua determina os caracteres linguísticos da
enunciação. Deve-se considerá-la como o fato do locutor, que toma a língua por
instrumento, e nos caracteres linguísticos que marcam esta relação (PLG II, p. 82)

A enunciação supõe a conversão individual da língua em discurso. Aqui a questão é ver


como o “sentido” se forma em “palavras”, em que medida se pode distinguir entre as duas
noções e em que termos descrever sua interação. É a semantização da língua que está no centro
deste aspecto da enunciação, e ela conduz à teoria do signo e à análise da significância (PLG II,
p. 83).

(1) O ato individual pelo qual se utiliza a língua introduz em primeiro lugar o locutor
como parâmetro nas condições necessárias da enunciação. Antes da enunciação, a
língua não é senão possibilidade da língua. Depois da enunciação, a língua é efetuada
em uma instância de discurso, que emana de um locutor, forma sonora que atinge
um ouvinte e que suscita uma outra enunciação de retorno (PLG II, p. 83-84)

(2) Na enunciação, a língua se acha empregada para a expressão de uma certa relação
com o mundo. A condição mesma dessa mobilização e dessa apropriação da língua é,
para o locutor, a necessidade de referir pelo discurso, e, para o outro, a
possibilidade de co-referir identicamente, no consenso pragmático que faz de cada
locutor um co-locutor. A referência é parte integrante da enunciação (PLG II, p. 84)

(3) O ato individual de apropriação da língua introduz aquele que fala em sua fala. Este é
um dado constitutivo da enunciação. A presença do locutor em sua enunciação faz
com que cada instância de discurso constitua um centro de referência interno. Esta
situação vai se manifestar por um jogo de formas específicas cuia função é de
colocar o locutor em relação constante e necessária com sua enunciação (PLG II, p.
84).

(4) O presente é propriamente a origem do tempo. Ele é esta presença no mundo que
somente o ato de enunciação torna possível, porque, é necessário refletir bem sobre
isso, o homem não dispõe de nenhum outro meio de viver o “agora” e de torná-lo
atual senão realizando-o pela inserção do discurso no mundo (PLG II, p. 85)

(5) O presente formal não faz senão explicitar o presente inerente à enunciação, que se
renova a cada produção de discurso, e a partir deste presente contínuo, coextensivo
à nossa própria presença, imprime na consciência o sentimento de uma continuidade
que denominamos “tempo”; continuidade e temporalidade que se engendram no
presente incessante da enunciação, que é o presente do próprio ser e que se delimita,
por referência interna entre o que vai se tornar presente e o que já não o é mais (PLG
II, p. 85-86).

(6) Como forma de discurso, a enunciação coloca duas “figuras” igualmente


necessárias, uma, origem, a outra, fim da enunciação. É a estrutura do diálogo. Duas
figuras na posição de parceiros são alternativamente protagonistas da enunciação.
Este quadro é dado necessariamente com a definição da enunciação (PLG II, p. 87).

(7) Amplas perspectivas se abrem para a análise das formas complexas do discurso, a
partir do quadro formal esboçado aqui (PLG II, p. 90)

O sentido de discurso

1. discurso como manifestação da enunciação

O entendimento de que o discurso é um produto, uma manifestação da enunciação. Nessa


passagem, Benveniste estabelece uma distinção entre ato e produto. Discurso parece ser
sinônimo de enunciado – “é o ato mesmo de produzir um enunciado, e não o texto do
enunciado, que é nosso objeto” – e mesmo de texto do enunciado.

Essa interpretação pode ser estendida ao falar sobre o presente inerente à enunciação,
considera que ele se renova a cada produção de discurso. A produção do discurso é o mesmo
que ato de produzir, sinônimo de enunciação, o que reforça a ideia de que o discurso pode ser
entendido como todo e qualquer produto da enunciação.

A expressão utilizada por Benveniste é forma de discurso. A enunciação como forma de


discurso coloca duas figuras na posição de parceiros como protagonistas da enunciação, a
enunciação em sua forma de discurso, portanto em sua realização, coloca em cena os
protagonistas da estrutura do diálogo.

O termo discurso, mesmo mantendo o sentido de produto da enunciação, de realização, já


que decorre da conversão da língua, – observe-se que conversão da língua em discurso tem
aqui o sentido de enunciação –, assume um valor especial: é que a conversão da língua em
discurso é um dos aspectos da enunciação elencados por Benveniste nesse texto.

A enunciação pode ser visto sob diversos aspectos. O primeiro aspecto considerado é o
vocal.

A conversão da língua em discurso é o segundo aspecto e com o qual é dado destaque ao


mecanismo desta produção denominado por Benveniste de semantização.

O terceiro aspecto diz respeito ao quadro formal de realização da enunciação.

Finalmente, a ideia de discurso como produto da enunciação. discurso tomado como


produto da enunciação, há a presença do referente: a língua empregada para a expressão de
uma certa relação com o mundo. É o discurso que possibilita essa relação, seja entre locutores,
seja entre eles e a referência, temos agora uma parte integrante da enunciação.

também é possível entender discurso para o entendimento como parte da enunciação, já


Benveniste responsabiliza-o pela inserção do discurso no mundo. É o ato mesmo do discurso
que funda o “agora”, que instaura igualmente a referência.

discurso como uma manifestação da enunciação e a instância de discurso.

2. discurso como instância de discurso

Ele está normalmente associado ao funcionamento enunciativo dos indicadores de


subjetividade. Os indicadores se referem à instância de discurso e nela são produzidos.

A instância de discurso tem relação muito próxima com a ideia de produção inicial de um
enunciado porque ela é também o espaço-tempo em que o “eu” é identificado ao locutor.

A presença do locutor que em decorrência da enunciação – “eu” – transforma a língua em


instância de discurso. Nota-se a proximidade com os termos eu e enunciação, ambos
entrelaçados entre si.

3. discurso como formas complexas

Benveniste diz que uma das “perspectivas” de seu trabalho é estudar as formas
complexas do discurso.

É necessário ultrapassar a noção saussuriana do signo como princípio único, do qual


dependeria simultaneamente a estrutura e o funcionamento da língua. Esta
ultrapassagem far-se-á por duas vias:
 na análise intralinguística, pela abertura de uma nova dimensão de significância, a
do discurso, que denominamos semântica, de hoje em diante distinta da que está
ligada ao signo, e que será semiótica;
 na análise translinguística dos textos, das obras, pela elaboração de uma
metassemântica que se construirá sobre a semântica da enunciação (PLG II, p. 67)

O conceito de enunciado é “colocar em funcionamento a língua por um ato individual de


utilização” (p. 82). Tal ato introduz, em primeiro lugar, o locutor, ou seja, o “eu”, como
parâmetro nas condições necessárias da enunciação. O locutor utiliza-se do aparelho formal da
enunciação para transformar a língua em discurso. Ao apropriar-se desse aparelho, o locutor
enuncia sua posição, criando um centro de referência interno, manifestado por um jogo de
formas específicas cuja função é de colocar o locutor em relação constante e necessária com
sua enunciação Destacam-se os índices de pessoa – “eu” e “tu” ‒ e de não pessoa ‒ “ele”. “Eu”
designa aquele que fala e implica, ao mesmo tempo, um enunciado sobre esse “eu”, pois,
dizendo “eu”, não é possível deixar de falar de mim. “Tu” é, necessariamente, pensado por “eu”
e não pode ser concebido fora de uma situação proposta a partir desse “eu”. “Ele”, por sua vez,
comporta a indicação de enunciado sobre alguém ou alguma coisa e tem por função exprimir a
“não-pessoa”. Este é excetuado da relação pela qual “eu” e “tu” se especificam, pois comporta,
realmente, uma indicação de enunciado sobre alguém ou alguma coisa, mas não se refere a uma
“pessoa” específica

“ele” pertence apenas ao plano do enunciado e não da enunciação. Tais índices de pessoa
fazem referência, sempre, à realidade do discurso, referência essa que une a “eu”/“tu” uma
série de indicadores (pronomes, advérbios, locuções adverbiais etc.), isto é, um conjunto de
signos “vazios”, não referenciais com relação à realidade, sempre disponíveis e que se tornam
plenos assim que o locutor os assume em cada instância de seu discurso. O papel desses
indicadores consiste em fornecer o instrumento para a conversão da linguagem em discurso, o
que se dá, justamente, por meio da enunciação, a qual vincula o locutor e o alocutário ao
mundo ou, à realidade do discurso.

Antes da enunciação, a língua é apenas possibilidade de língua. Nesse momento, temse o


nível semiótico, indicando as relações paradigmáticas (associativas) entre os signos, isto é, a
língua como sistema, com função de significar. Depois da enunciação, “a língua é efetuada em
uma instância de discurso, que emana de um locutor, forma sonora que atinge um ouvinte e que
suscita uma outra enunciação de retorno” (p. 83-84).

É que se estabelecem as relações sintagmáticas entre as palavras, as quais correspondem


ao nível semântico, que têm a função de comunicar e que pertencem à enunciação. O que, em
geral, caracteriza a enunciação é a acentuação da relação discursiva com o parceiro, seja este
real ou imaginado, individual ou coletivo. Esta característica coloca necessariamente o que se
pode denominar o quadro figurativo da enunciação. Como forma de discurso, a enunciação
coloca duas “figuras” igualmente necessárias, uma, origem, a outra, fim da enunciação. É a
estrutura do diálogo, para que a língua se instaure na enunciação, há a condição de que alguém
fale (“eu”) para outro alguém (“tu”) de algo (“ele”). A intersubjetividade (relação entre o “eu” e
o “tu”) é constitutiva do diálogo, que implica sujeitos enunciando formas linguísticas ao mesmo
tempo em que se enunciam a partir dessas formas.

A enunciação prevê a conversão individual da língua em discurso, o qual é tido como


toda enunciação que suponha um locutor e um ouvinte e, no primeiro, a intenção de influenciar,
de algum modo, o segundo. A enunciação consiste, assim, na “semantização da língua”. Desde
o momento em que o enunciador (“eu”) se serve da língua para influenciar de algum modo o
comportamento do alocutário (“tu”), ele dispõe, para esse fim, de um aparelho de funções, que
é o aparelho formal da enunciação. Assim, um enunciado, produto da enunciação, para ser
compreendido, não pode ser analisado sem que se leve em conta esses indicadores
autorreferenciais.
O enunciado performativo é o ato; aquele que o pronuncia cumpre o ato, denominando-o.
E, por isso, “sendo um ato, tem a propriedade de ser único. Só pode ser efetuado em
circunstâncias particulares, uma só vez, em data e lugar definidos” (p. 302). Dessa forma, é um
ato individual e histórico, não podendo repetir-se, e toda reprodução será um novo ato efetuado
por aquele que tem poder para tal. Além isso, a reprodução do enunciado performativo por
outro o transforma em enunciado constativo, ou seja, aquele que não é uma ação em si, mas
apenas faz uma constatação acerca de determinada situação.

Diante disso, propõe definir os enunciados performativos como aqueles enunciados em


que “um verbo declarativo-jussivo na primeira pessoa do presente se constrói como um
dictum” (p. 300,). Exemplo: “ordeno que a população seja mobilizada”, em que o dictum é
representado por “a população seja mobilizada”.

Um enunciado é performativo na medida em que denomina a ato performador pelo fato


de “eu” pronunciar uma fórmula que contém o verbo na primeira pessoa do presente. O
enunciado “eu juro” seria um ato e, portanto, performativo, enquanto que “ele jura” seria
apenas uma constatação e, por conseguinte, um enunciado constativo.

Um enunciado dito por alguém a quem pertence o direito de fazê-lo, ou seja, por uma
autoridade, pode não comportar um verbo declarativo, mas apenas o dictum, como em “a
cátedra de botânica é declarada vaga”, e ainda assim ser de cunho performativo.

o imperativo caracteriza-se por produzir um resultado empírico, e o performativo “não o


é por poder modificar a situação de um indivíduo mas na medida em que é por si mesmo um
ato” (p. 303). O imperativo não é denotativo e não visa comunicar um conteúdo, mas
caracteriza-se como pragmático e visa a agir sobre o ouvinte. Nnão é um tempo verbal e não
comporta marca temporal nem referência pessoal. Não é um enunciado (não serve para
construir uma proposição com verbo pessoal) nem tampouco performativo (não denomina o ato
de palavra que se performa)

O imperativo produz um comportamento, mas o enunciado performativo é o próprio ato


que ele denomina e que denomina o performador. Nesse sentido, o que tem relevância é a
forma dos enunciados e não o comportamento esperado do interlocutor.

Assim, a advertência em um letreiro (como o termo “cão”, por exemplo) para Benveniste,
o letreiro é um simples sinal, uma vez que cada um pode tirar a conclusão que quiser desse
sinal e, por isso, só a fórmula “aviso-o de que” seria performativa de advertência. Não se deve
tomar, justifica, “a implicação extralinguística como equivalente da efetivação linguística” (p.
304).

Além disso, ressalta que o performativo necessita de materialidade linguística e que o


imperativo pode ser substituído por um gesto, por exemplo.

Com base nesses elementos, é possível depreender que,, a enunciação é uma


referência única e irrepetível, ao passo que o enunciado – seu produto – não. Isso se dá, no
entanto, apenas para os enunciados em geral, pois os enunciados performativos, por serem atos,
são únicos e, portanto, só podem ser efetuados em circunstâncias particulares, uma só vez, em
tempo e espaço definidos

Benveniste se distingue de Saussure principalmente por discordar de seu famoso


princípio da arbitrariedade: enquanto, para este, o vínculo entre significante (imagem acústica)
e significado (conceito) seria arbitrário, porque não motivado por relações lógicas, para aquele,
tal vínculo não seria arbitrário, mas necessário, porque esses dois elementos constitutivos do
signo linguístico (o significante e o significado) seriam necessariamente ligados um ao outro.

a correlação de personalidade, que opõe as pessoas eu e tu à não pessoa ele, e a


correlação de subjetividade, que opõe a pessoa subjetiva eu à pessoa não subjetiva tu: a) a
observação sobre haver pronomes pertencentes à sintaxe da língua e pronomes pertencentes à
enunciação; b) a propriedade referencial de cada uma dessas classes pronominais de referir,
respectivamente, ou uma noção sempre constante ou uma realidade sempre inédita; e c) a dêixis
como característica familiar aos pronomes pessoais e outros signos (outros pronomes,
advérbios, locuções adverbiais etc.) e também como contemporânea da instância de discurso
em que é produzida.

Apesar de a língua ser, indiscutivelmente, o sistema privilegiado para a expressão do


pensamento devido à sua dupla forma de significação, ela não seria o único sistema
semiológico capaz de expressar o pensamento. Contrapondo afirmações como “por maiS
pensamento, recebem expressão na língua. Podemos dizer tudo, e podemos dizê-lo como
queremos” (p. 69) e “não se pode ‘dizer a mesma coisa’ pela fala e pela música, que são dois
sistemas diferentes” (p. 53.

Cultura

Benveniste procura mostrar a imprescindibilidade do sentido para o linguista — “todo


o trabalho do linguista se apoia realmente sobre o discurso, implicitamente assimilado à
língua” (p. 11) —critica uma metodologia de análise que higieniza a língua do sentido, da
significação em favor de uma atomização cuja produtibilidade pode ser questionada.

“É difícil imaginar o que resultaria de uma segmentação da cultura em elementos


discretos. Numa cultura, como numa língua, há um conjunto de símbolos cujas relações é
necessário definir.” (p.13).

Benveniste esperava da análise dos signos um auxílio à compreensão “dos complexos


processos da significação na língua e provavelmente também fora da língua.” (p.13).

Benveniste levanta algumas das dificuldades em se estudar língua e sociedade: “(…)


encontram-se os problemas inerentes à análise da língua, de um lado, da cultura de outro, e
os da “significação”, que lhes são comuns” (p. 15). Cultura e língua são colocadas em uma
relação horizontal em que não há hierarquias, mas uma dupla filiação a algo maior, a
significação, que as englobaria. Dessa forma, língua e cultura não se relacionariam
diretamente, mas estariam ambas relacionadas a algo que é maior do que elas, de que são a
expressão.

Chamo cultura ao meio humano, tudo o que, do outro lado do cumprimento das funções
biológicas, dá à vida e à atividade humanas forma, sentido e conteúdo. A cultura é inerente à
sociedade dos homens, qualquer que seja o nível de civilização. Consiste numa multidão de
noções e de prescrições, e também em interdições específicas; o que uma cultura proíbe a
caracteriza ao menos tanto quanto aquilo que prescreve. O mundo animal não conhece
proibição. Ora, esse fenômeno humano, a cultura, é um fenômeno inteiramente simbólico. A
cultura define-se como um conjunto muito complexo de representações, organizadas por um
código de relações e de valores: tradições, religião, leis, política, ética, artes, tudo isso de que
o homem, onde quer que nasça, será impregnado no mais profundo da sua consciência, e que
dirigirá o seu comportamento em todas as formas da sua atividade, o que é senão um universo
de símbolos integrados numa estrutura específica e que a linguagem manifesta e transmite?
Pela língua, o homem assimila a cultura, a perpetua ou a transforma. Ora, assim como cada
língua, cada cultura emprega um aparato específico de símbolos pelo qual cada sociedade se
identifica. A diversidade das línguas, a diversidade das culturas, as suas mudanças mostram a
natureza convencional do simbolismo que as articula. É definitivamente o símbolo que prende
esse elo vivo entre o homem, a língua e a cultura. (p. 31).

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Podemos identificar dois tipos de ocorrência aqui: cultura como sistema simbólico e
cultura específica de uma sociedade.

Benveniste ressalta a necessidade de se interpretarem os dados linguísticos “na sua


realidade (…) em relação a uma cultura” (p. 13). Tal afirmação remete à relação íntima entre
cultura e língua que faz com que uma faça sentido na e pela outra.

A cultura é apresentada como “um sistema que distingue o que tem sentido do que não
tem” (p. 22). Esse sistema faz parte daquilo que, além de permitir que se reconheça se
determinado signo significa, também torna possível a existência de vários sentidos
imprevisíveis. Esse duplo funcionamento é similar ao da língua: um nível de significação
cuja função é somente validar o significado – significa ou não (semiótico da língua) – e outro
em que, sempre novo, o sentido será produzido de forma imprevisível (o semântico da
língua). Assim como na língua, na cultura funciona uma rede de diferenças e valores que se
relacionam de forma dinâmica. Os valores que regem a articulação da cultura são impressos
na língua, ainda que essa não se transforme “automaticamente à medida que a língua se
transforma” (p. 22). Assim, a língua é capaz de revelar definições cumulativas impressas por
diferentes estratos de cultura.

O homem não nasce na natureza, mas na cultura. Aqui, é novamente abordada a


separação natureza/cultura e sua relação tanto com a linguagem quanto com seu estudo.
Enquanto se estudava a linguagem como algo da natureza, se acreditava que seria possível
chegar-se à gênese da linguagem. Trata-se de uma ideia abandonada pela linguística, uma vez
que, segundo Benveniste, “vemos sempre a linguagem no seio da sociedade, no seio de uma
cultura” (p. 23). A função cultural da língua: “toda criança (…) aprende necessariamente
com a língua os rudimentos de uma cultura” (p. 23), “a linguagem tem sempre sido
inculcada nas crianças pequenas, e sempre em relação ao que se tem chamado as realidades
que são realidades definidas como elementos de cultura, necessariamente” (p. 24). A relação
entre língua e cultura é vista como uma “integração necessária” cuja chave é o poder de
ação, transformação e de adaptação representados no texto pela aquisição da linguagem pela
criança.

Benveniste considera o “fundamento de tudo”: “o simbólico da língua como poder de


significação” (\p.25). Assim como “a língua é o domínio do sentido”, “todo mecanismo de

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cultura é um mecanismo de caráter simbólico”. É no interior de uma cultura que se atribuem
ou não sentidos. Para se conhecer o fundamento da cultura, seria necessário classificar seus
elementos significantes. Uma vez feito isso, seria possível perceber algo “como uma
semântica que atravessa todos esses elementos da cultura e que os organiza” (p.25).

Benveniste procura estabelecer a natureza da relação entre língua e sociedade. Para


isso, após apresentar pontos de vistas irreconciliáveis — alguns linguistas defendem que
diferenças, semelhanças e mudanças na estrutura das sociedades não implicam diferenças,
semelhanças e mudanças nas línguas, enquanto outros sustentam que a língua espelha a
sociedade — Benveniste propõe uma diferenciação interna paras os dois termos do
problema: tanto língua quanto sociedade podem ser apreendidas em seu nível histórico
(sociedade francesa/francês, sociedade chinesa/ chinês etc) ou em seu nível fundamental — a
sociedade é uma coletividade humana e a língua é um sistema de formas significantes. A
partir daí, Benveniste traça homologias no único nível em que isso é possível, o fundamental.
Benveniste afirma a natureza da relação entre língua e sociedade: a língua é o interpretante
da sociedade:

Nada pode ser compreendido — é preciso se convencer disto — que não tenha sido
reduzido à língua. Por consequência, a língua é necessariamente o instrumento
próprio para descrever, para conceitualizar, para interpretar tanto a natureza quanto a
experiência, portanto este composto de natureza e de experiência que se chama
sociedade. (p. 99).

Cultura está sempre relacionada a sociedade. Benveniste afirma a capacidade da


cultura de expressar a sociedade, o que a alçaria a um nível próximo ao da língua no que diz
respeito à comunicação intersubjetiva. Ao falar em “cultura inerente à sociedade” e em
“expressão privilegiada da sociedade”, Benveniste assinala não um lugar para a cultura na
sociedade, mas um papel que aquela desempenha de fato. Como expressão de uma
sociedade, a cultura se aproxima da língua sem, no entanto, prescindir dela.

O vocabulário fornece aqui uma matéria muito abundante, de que se servem


historiadores da sociedade e da cultura. O vocabulário conserva testemunhos
insubstituíveis sobre as formas e as fases da organização social, sobre os regimes
políticos, sobre os modos de produção que foram sucessiva ou simultaneamente
empregados, etc. (p. 100).

sociedade e cultura aparecem intimamente relacionadas e a língua é colocada em


relação a ambas. a relação entre cultura e língua é marcada no vocabulário e a forma como

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essa relação se dá as coloca, cultura e língua, no mesmo nível em relação à significação.

“Língua e sociedade são para os homens realidades inconscientes, uma e outra


representam a natureza, se assim se pode dizer, o meio natural e a expressão natural” (p. 96)
“o homem não nasce na natureza, mas na cultura” (p. 23).

a) Cultura pode ser apreendida de duas formas: como fundamento e como fato
histórico.

b) Cultura é um sistema semiológico de valores.

“A cultura é também um sistema que distingue o que tem valor, e o que não tem”
(BENVENISTE, 2006, p. 22).

Ao falar de Saussure e do signo (p. 34-49), Benveniste acaba falando em significação e


é nesse momento que cultura é mencionada. Os fatos humanos, segundo o linguista, “devem
ser concebidos como duplos, pelo fato de que se ligam a outra coisa, qualquer que seja o seu
referente. Um fato de cultura não o é a não ser na medida em que remete a algo diferente” (p.
47).

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