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Supremo Tribunal Federal

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 1.903 PARAÍBA

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
ASS.LIT. : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
RÉU(É)(S) : UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU
ADV.(A/S) : CÂNDIDO BITTENCOURT DE ALBUQUERQUE E
OUTRO(A/S)
RÉU(É)(S) : UNIVERSIDADE ABERTA VIDA SOCIEDADE
SIMPLES LTDA
ADV.(A/S) : BERILO RAMOS BORBA E OUTRO(A/S)
RÉU(É)(S) : ESTADO DA PARAÍBA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DA PARAÍBA
RÉU(É)(S) : MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE JOÃO
PESSOA

AÇÃO CIVIL ORIGINÁRIA.


POTENCIAL CONFLITO FEDERATIVO
PARCIAL. COMPETÊNCIA
ORIGINÁRIA DESTA CORTE QUE NÃO
ALCANÇA A TOTALIDADE DOS
PEDIDOS DEDUZIDOS. INSTITUIÇÃO
ESTADUAL PÚBLICA DE ENSINO
SUPERIOR. MINISTRAÇÃO DE
CURSOS FORA DOS LIMITES
GEOGRÁFICOS DO ESTADO PARA O
QUAL CREDENCIADA.
INOBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS
LEGAIS E REGULAMENTARES,
AFERIDOS EM PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS EM TRÂMITE
PERANTE AS AUTORIDADES
COMPETENTES. REQUISITOS QUE
NÃO RESTAM ATENDIDOS PELA

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ACO 1903 / PB

EXISTÊNCIA DE CONVÊNIO
BILATERAL ENTRE AS RÉS. PEDIDOS
PARCIALMENTE CONHECIDOS E,
NESSA PARTE, JULGADOS
PROCEDENTES.

DECISÃO: Cuida-se de ação civil pública proposta na origem pelo


Ministério Público Federal em face da Universidade Estadual Vale do
Acaraú – UVA, Universidade Aberta Vida Sociedade Simples Ltda. –
UNAVIDA, Estado da Paraíba e outros, em que se sustenta a existência de
irregularidades e lesões ao interesse público na ministração de cursos
superiores, pelos fatos a seguir relatados.
A UVA, primeira ré, é instituição de ensino superior criada e
mantida pelo Estado do Ceará, com natureza jurídica de autarquia
estadual, pertencente ao sistema público de ensino daquele Estado. Desde
meados do ano 2000, por meio de uma parceria firmada com a UNAVIDA
(instituição privada de ensino paraibana), segunda ré, aquela primeira
universidade tem ministrado cursos de formação superior no estado da
Paraíba.
É a partir de tal cenário que o Ministério Público moveu a presente
Ação Civil Pública. Entende o promovente que o princípio da autonomia
federativa estaria violado, pois uma entidade estadual de ensino superior
deveria ter seu campo de atuação circunscrito às fronteiras do Estado a
cuja administração indireta pertence. Informa que, apesar de seu
entendimento, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do MS
7.801/DF entendeu pela possibilidade de uma entidade de ensino
superior pertencente a um Estado da federação prestar seus serviços em
outra unidade federada, desde que exista convênio entre os interessados.
Afirma, ainda, que mesmo que se aplique esse entendimento, “desde o ano
2000, a UVA passou a ministrar cursos superiores no Estado da Paraíba, embora
nunca tenha existido qualquer convênio firmado com este Estado autorizando
aquela instituição a fazê-lo” (fls. 05).
Aduz o promovente que, nos autos do inquérito civil público nº

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1.24.000.000264/2006-70, a Universidade Vale do Acaraú tentara legitimar


seu exercício com fundamento em “parecer aprovado pelo Conselho de
Educação do Estado da Paraíba (Parecer nº 311/99)” (fls. 05), porém, segundo
informa, o Conselho de Educação do Estado da Paraíba, por meio desse
parecer, tão somente teria se mostrado de acordo com a intenção quanto à
intenção de implantar naquele Estado “Curso de Pedagogia em Regime
Especial (‘em caráter transitório e temporário’), destinado à formação de
professores em exercício de atividade docente e que tenham concluído o ensino
médio” (fls. 05), mediante manifestação proferida pelo Reitor da UVA.
Quanto ao ponto, o Ministério Público Federal argumenta que esse
parecer não se presta a ser compreendido como convênio, instrumento
formal e necessário para a prestação dos serviços de ensino superior por
meio de gestão conjunta entre a entidade de ensino e o Estado da Paraíba.
Aduz ainda que, “além de não estar autorizada formalmente pelo Estado da
Paraíba a ministrar cursos superiores dentro dos seus limites territoriais, a UVA,
em 01/02/2002, firmou uma parceria com uma universidade privada paraibana
denominada Universidade Aberta Vida (UNAVIDA), através de instrumento
particular que chamou de ‘convênio’”, a qual teve “‘como objeto a implantação
no Estado da Paraíba, do programa de Turmas Especiais do do Curso de
Pedagogia em Regime Especial, mantido pela UVA, Ceará’” (fls. 5); o que alega
ter se dado à míngua de autorização do Ministério da Educação e Cultura
(MEC) para que essa entidade funcionasse como instituição de ensino
superior. Aponta ser tal circunstância fática uma “incubação de
universidades privadas não reconhecidas pelo MEC” (fls. 06).
Alega a existência de relação entre o então reitor da Universidade
Vale do Acaraú e a UNAVIDA, pois Antônio Colaço Martins seria,
“simultaneamente, Reitor da UVA e proprietário da UNAVIDA” (fls. 07).
Ao final, requer o autor : a) a anulação dos convênios firmados entre
a UVA e a UNAVIDA que fundamentam a oferta de cursos superiores por
esta última no Estado da Paraíba; b) determinação à UVA na pessoa de
seu reitor que se abstenha de ministrar cursos superiores no Estado da
Paraíba sem a existência de instrumento adequado; c) determinar à
UNAVIDA na pessoa de seu reitor que se abstenha de ministrar cursos

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superiores até que obtenha autorização expressa do Ministério da


Educação e Cultura; d) a anulação de todos os diplomas, certificados e
demais títulos atribuídos pela UNAVIDA e/ou UVA aos seus alunos,
desde o início dessa parceria (UVA/UNAVIDA) até quando a primeira
não estiver esta credenciada como instituição de ensino superior junto ao
Ministério da Educação e cultura e enquanto esta última prestar seus
serviços no Estado da Paraíba sem amparo em convênio que autorize de
modo expresso essa atividade; e) a condenação das instituições de ensino
promovidas ao ressarcimento de todas as despesas ocasionadas aos
alunos em face do oferecimento de cursos irregulares; e f) a determinação
“ao Estado da Paraíba e aos Municípios de João Pessoa, Lagoa de Dentro,
Guarabira, Itabaiana, Mamanguape, Pedras de Fogo, Campina Grande,
Umbuzeiro, Juazeirinho, Nova Floresta, Areia, Monteiro, Patos, Sousa,
Itaporanga, Conceição e Princesa Isabel, na pessoa de seus gestores, que se
abstenham de alugar, ceder, emprestar ou colocar à disposição da UVA ou da
UNAVIDA prédios públicos aos primeiros pertencentes para que estas
universidades ministrem aulas, cursos, palestras, simpósios ou qualquer outro
encontro do gênero, até que a regularização” (fls. 13) das atividades das
entidades de ensino que compõem o polo passivo da lide esteja
perfectibilizada.
A União manifestou interesse em integrar o feito ao lado do
Ministério Público Federal às fls. 297, razão pela qual o juízo de origem,
às fls. 356/357, autorizou seu ingresso na lide na qualidade de assistente
litisconsorcial, ocasião em que determinou a remessa dos presentes autos
ao Supremo Tribunal Federal.
A Universidade Aberta Vida S/S Ltda. apresentou contestação às fls.
428/457 sustentando preliminarmente: a) a litispendência relativamente à
ACO 1.197, rel. Min. Edson Fachin; b) a existência de coisa julgada
proveniente do RE 592.696, rel. Min. Dias Tofolli. No mérito, sustentou a
improcedência do pedido formulado na inicial, sustentando: a) a
legalidade e a legitimidade da parceria firmada entre a UVA e a
UNAVIDA, não sendo o convênio o único instrumento jurídico possível à
formalização de tal atuação; e b) a possibilidade da cobrança de

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mensalidades efetuadas.
A Universidade Estadual Vale do Acaraú contestou o feito às fls.
619/696. Aduziu preliminarmente a necessidade de citação do Estado do
Ceará para integrar o feito na condição de litisconsorte necessário; e, no
mérito: a) a legalidade da atuação da UVA fora do Estado do Ceará; b) a
legalidade das cobranças e dos convênios; c) a legalidade do convênio
firmado entre a UVA e a UNAVIDA; d) e a inexistência de atuação do
reitor da Universidade Vale do Acaraú em benefício próprio.
O Estado da Paraíba apresentou contestação às fls. 912/920,
argumentando que “o programa ‘Turmas Especiais’ tem elevado alcance social
e é ministrado em cidades do interior do Estado mediante o pagamento de
pequenas mensalidades, consentâneas com o poder aquisitivo da comunidade,
sendo responsável pela inclusão social e educacional de milhares de professores
leigos paraibanos que se encontravam à margem da carreira do magistério, tendo,
dessa forma, contribuído, diretamente, para a fixação dos professores em suas
cidades de origem e para a melhoria do ensino público estadual e municipal, em
todo o Estado da Paraíba” (fls. 915) e que há aprovação do Conselho de
Educação do Estado da Paraíba e do Conselho Estadual de Educação do
Ceará, bem como o programa Turmas Especiais é reconhecido pelo
Conselho de Educação daquele Estado e, ao final, requereu a
improcedência do pedido.
Intimadas as partes sobre o interesse no julgamento do feito (fls.
924/925), o Ministério Público Federal (fls. 930/934) e a União (fls. 936/942)
manifestaram interesse, oportunidade em que o órgão ministerial
requereu, também, fossem excluídos da lide os Municípios cuja citação
ainda não havia se concretizado.
Intimada a se manifestar sobre a necessidade, ou não, de citação do
Estado do Ceará para compor o polo passivo da lide (conforme requerido
pela segunda ré), bem como para ratificar ou não o que postulado na
petição inicial (inicialmente promovida pelo Ministério Público Federal
atuante em primeira instância), a Procuradoria Geral da República
posicionou-se pela procedência da demanda, com exclusão da lide dos
Municípios mencionados na inicial que ainda não foram citados, bem

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como pela não inclusão do Estado do Ceará no polo passivo da demanda


(fls. 980/986).
Em 2/8/2017, acolhi o pedido da União de exclusão da lide dos
Municípios listados na inicial e ainda não citados, rejeitei o pedido da
UNAVIDA de inclusão do estado do Ceará no polo passivo da lide e
declarei saneado o feito, oportunizando prazo às partes para
apresentarem suas alegações finais.
Contra a decisão de saneamento, a UNAVIDA e a UVA manejaram
embargos de declaração, os quais foram acolhidos, sem efeitos
modificativos, apenas para sanar contradição ocorrida anteriormente.
Por fim, as partes apresentaram alegações finais reafirmando os
argumentos anteriormente expendidos.

É o relatório. Decido.

Ab initio, verifico a incidência, in casu, do disposto no artigo 102, I, ‘f’,


da CRFB/88, que estabelece caber ao Supremo Tribunal Federal conhecer
e julgar originariamente as causas e os conflitos entre a União e os
Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as
respectivas entidades da administração direta, a ensejar a competência
originária desta Corte para o feito. É que a hipótese revela potencial
conflito federativo na questão referente à organização e funcionamento
dos Sistemas Nacional e Estaduais de Educação, especificamente no que
concerte à realização de cursos em outro Estado da federação sem
anterior autorização ou reconhecimento por órgão da União (o MEC) e
em âmbito territorial diverso daquele para o qual inicialmente cadastrada
a instituição.
Assentada a competência do STF, passo ao exame de mérito.
Cinge-se a discussão sobre o funcionamento, no Estado da Paraíba,
da Fundação Universidade Vale do Acaraú – UVA, ente de natureza
autárquica componente da administração indireta do Estado do Ceará e
que passou a prestar serviços de ensino superior no Estado da Paraíba,
fora dos limites geográficos do Estado em que inicialmente operava.

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Questiona-se, também, o fato de a UVA ter firmado instrumento


particular a que denominou ‘convênio’, com universidade privada
paraibana (Universidade Aberta Vida – UNAVIDA), a qual não dispõe de
autorização do Ministério da Educação e Cultura para funcionar como
instituição de ensino superior. Segundo o MPF, a partir de tal conduta a
UVA – autorizada e reconhecida pelo MEC – teria pretendido funcionar
como “incubadora” da UNAVIDA – não autorizada e não reconhecida
pelo MEC.
Sobre o tema, pontuo que a Constituição Federal de 1988 elevou a
educação à categoria de direito social dos cidadãos, nos termos do art. 6º,
CRFB/1988. O direito à educação, por sua vez, foi definido de forma
genérica pela mesma Constituição, que eu seu art. 205 dispôs que “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”.
Ainda, a fim de estabelecer as diretrizes e bases da educação
nacional, a União, no exercício de sua competência privativa para tanto
(art. 22, XXIV, CRFB/1988), editou a Lei nº 9.394, de 20 de novembro de
1996, que, no tocante à educação de nível superior e aos aspectos
administrativos que a envolvem definiu que ao ente federal são
atribuídas competências como assegurar processo nacional de avaliação
do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em
colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de
prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; baixar normas gerais
sobre cursos de graduação e pós-graduação; e autorizar, reconhecer,
credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das
instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
ensino (art. 9ª, VI, VII e IX, da LDB). Ainda, restou estabelecida e
necessidade de que o credenciamento de instituições de ensino superior e
a autorização/reconhecimento dos cursos fossem submetidas a
procedimento específico e a prazos limitados, os quais se renovam
periodicamente após o devido processo de avaliação (art. 46 da LDB).

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Nesse contexto, ao tratar sobre a organização da educação nacional,


o mesmo diploma legal atribuiu aos Estados a competência para
credenciar e autorizar as instituições de ensino superior de seus
respectivos sistemas de ensino, sendo consequência lógica a conclusão de
que tais entes não poderem assim proceder quanto às instituições de
outros estados.

“Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:


(...)
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino”.

Cumpre destacar, desde logo, que as instituições de educação


superior criadas e mantidas pela iniciativa privada integram o sistema
federal de ensino (art. 16, II, da LDB), ao lado das instituições de ensino
mantidas pela União e dos órgãos federais de educação. Nesse sentido,
em relação ao ensino superior, os sistemas estaduais e distrital de ensino
compreendem apenas aquelas instituições de ensino mantidas,
respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; ou
as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público
municipal (art. 17 da LDB).
A partir dessas premissas, adentrando um mais especificamente à
matéria peculiar dos autos, destaco que no âmbito estadual de
organização do ensino no Estado do Ceará, a atuação de universidade
estadual cearense fora dos limites geográficos de seu credenciamento é
objeto da Resolução nº 439/2012, do Conselho Estadual de Educação do
Estado do Ceará, que dispõe sobre o credenciamento e o
recredenciamento das universidades do Sistema Estadual de Ensino. Com
efeito, seus arts. 9º e 10 assim estabelecem, in verbis, (grifos nossos):

“Art. 9º A solicitação para o credenciamento de novos


campi pelas Universidades, em localidades diferentes dos que
foram definidos no ato de credenciamento, será encaminhada

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ao CEE (Conselho Estadual de Educação), por projeto, no qual


deverão constar os seguintes tópicos:
I - autorização prévia da SECITECE (Secretaria da Ciência,
Tecnologia e Educação Superior), entidade à qual as
universidades estão vinculadas;
II - demonstração de que o processo de expansão
contribuirá para o desenvolvimento da região onde o novo
campus estará inserido;
III - situação atual da universidade proponente com
relação ao ensino, pesquisa e extensão;
IV - caracterização da localidade e da área de influência do
novo campus, especialmente com relação à oferta de cursos
superiores na região;
V - estrutura física, incluindo equipamentos, laboratórios e
instalações especiais, salas de aula, biblioteca, recursos de
informática, audiovisuais e multimídia e outros recursos de
apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão do novo campus;
VI - planejamento administrativo e financeiro do processo
de implantação do novo campus;
VII - caracterização dos cursos a serem ofertados;
VIII - definição do corpo docente mínimo, com respectiva
titulação, formas de admissão, disciplinas sob sua
responsabilidade, cursos e locais em que atuará e carga horária
semanal no campus;
IX - definição das áreas de pesquisa e programas de
extensão a serem desenvolvidos no novo campus;
X - atos legais internos que aprovaram a criação do
campus.
Art. 10. Denomina-se descentralização o processo pelo
qual as universidades integrantes do Sistema de Ensino do
Estado do Ceará serão autorizadas para que possam ministrar
cursos superiores em municípios diversos da sede definida no
ato de sua criação ou do seu credenciamento, por meio de
Unidades Descentralizadas, implantadas em caráter
temporário, para atendimento de demandas específicas de
formação superior que não justifique a instalação de um

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campus permanente.
§ 1º O processo de implantação de unidades
descentralizadas, além da autorização prévia da SECITECE, a
universidade solicitará ao CEE visita aos locais de
funcionamento dos cursos, para a avaliação de suas condições
de oferta.
§ 2º A descentralização para atuação fora de sede dar-se-á
mediante uma das seguintes formas:
I - atuação direta da Universidade para oferta de cursos
reconhecidos pelo CEE fora de sua sede;
II - convênio ou contrato com outra Instituição de Ensino
Superior ou Instituição de Educação Profissional e
Tecnológica para oferta de cursos devidamente reconhecidos
pelo CEE fora de sua sede;
III - autorização de Órgão de Sistema Estadual diverso
daquele a que a Universidade se acha vinculada mediante
Regime de Colaboração com o CEE, quando a descentralização
de curso reconhecido for em outra Unidade da Federação.”

Pela simples leitura dos dispositivos acima transcritos, verifica-se


que a atuação de universidade fora de seu campus de atuação requer,
necessariamente, a prévia apresentação de projeto, a ser encaminhado ao
CEE juntamente com todas as especificações acima elencadas. Ademais, a
referida descentralização também dependerá de instrumento
convencional que a formalize, tais como “convênio ou contrato”,
previstos nos incisos do § 2º do art. 10 acima citado.
Vê-se, portanto, que o processo de descentralização e de prestação
de cursos fora do âmbito territorial de credenciamento não se mostra de
todo simples, envolvendo, conforme previsão das próprias autoridades
estaduais competentes, intricado procedimento administrativo, em que se
evidencie o cumprimento de diversos requisitos e condições pela
instituição pretendente e sua parceira.
No caso dos autos, os réus afirmam terem firmado entre si convênio,
de forma a atender o requisito do art. 10, § 2º, II, da Resolução nº
439/2012, do CEE/CE. Contudo, em verdade, o que se pretendeu chamar

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de convênio pela UVA revela não ter passado de parecer aprovado pelo
Conselho de Educação do Estado da Paraíba (Parecer nº 311/99), em que
se manifestou favoravelmente à intenção comunicada pelo reitor da UVA
de implantar, na Paraíba, curso de pedagogia em regime especial.
Entretanto, tal parecer não teve o condão de estabelecer por si só a
autorização de atuação da UVA no Estado da Paraíba, eis que não
atendidos o procedimento e os requisitos exigidos.
Com efeito, dois problemas são verificáveis de plano na referida
situação. Primeiramente, exsurge a própria inexistência de termo
convencional de ajuste, eis que a existência de parecer oriundo de
Conselho Estadual de Educação de ente federado diverso daquele em que
credenciada a instituição de ensino supra a necessidade de autorização
formal – mediante aprovação de projeto regulado pelos acima
mencionados arts. 9º e 10 da Res. Nº 439/2012 do CEE/CE) – para
funcionamento da universidade fora de sua sede de credenciamento
inicial. Em segundo lugar, ainda que se considerasse suficiente o referido
parecer, não se poderia dispor, à sua revelia, sobre instituição de ensino
de outro estado da federação – integrante de outro Sistema Estadual de
Ensino, portanto –, sob pena de ingerência indevida de um Estado em
outro – e aqui se evidencia o primeiro enfoque da existência de potencial
conflito federativo na questão.
In casu, tratou-se de parecer emanado do Conselho Estadual de
Educação do Estado da Paraíba sobre instituição de ensino integrante do
Sistema do Estado do Ceará. Diversamente, porém, o art. 10 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (editada em cumprimento à
competência legislativa estabelecida à União pelo art. 22, XXIV, da
CRFB/88) atribuiu aos Estados unicamente a atribuição de credenciar e
autorizar as instituições de ensino de seu respectivo sistema de ensino,
não alcançando, de forma autônoma ou independente, os Sistemas de
Ensino de outros Estados-membros (Art. 10, I, da LDB: “Os Estados
incumbir-se-ão de organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
oficiais dos seus sistemas de ensino”). Note-se que, por se tratar de um todo
integrado, isto é, de um Sistema Nacional de Ensino, o exercício das

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competências Estaduais devem se dar à luz das diretrizes e bases


estabelecidas nacionalmente.
Ademais, acreditando estar amparadas pelo referido parecer do
CEE/PB, a UVA aduz ter firmado parceria com a universidade privada
paraibana (UNAVIDA), também ora ré, mediante contrato particular
firmado entre as partes, o qual teria tido por objeto a implantação, no
Estado da Paraíba, de cursos de pedagogia em regime especial, curso este
mantido pela UVA. Entretanto, tal como aduz o parquet, tal vínculo parece
questionável à luz do princípio da impessoalidade, eis que a avença entre
as universidades foi firmada de um lado entre a UVA, representada por
seu então reitor Antônio Colaço Martins, e a UNAVIDA, em cujo quadro
societário o mesmo Antônio Colaço Martins figura como sócio-
proprietário.
Não se desconhece que os atos administrativos presumem-se
válidos, até que haja prova em contrário. Entretanto, cumpre ressaltar que
“[...] para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se
exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se, em
consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e
prejudicados alguns para favorecimento de outros” Trata-se de reflexo do
próprio “princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos tratadistas da
matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é
somente o interesse público, e não se alcança o interesse público se for
perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma
atuação discriminatória” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 20). À luz dessas
premissas, a junção do aspecto ora indicado ao não atendimento das
formalidades do processo administrativo necessário à validação da
atuação indica fato indiciário a ratificar a irregularidade da situação ora
impugnada.
Não bastasse, o fato de a UVA, enquanto universidade pública, estar
ministrando cursos de graduação no Estado da Paraíba mediante
cobrança de mensalidade dos alunos também ofende a garantia
constitucional de gratuidade do ensino público, nos moldes do que

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estabelece o art. 206, IV, da Constituição Federal de 1988, in verbis:

“Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes


princípios:
(…)
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais;”

Nesse sentido, destaco que este Supremo Tribunal Federal já se


manifestou, quando do julgamento do RE 597.854, de relatoria do Min.
Edson Fachin, DJe de 21/09/2017, no sentido de que a cobrança de
mensalidade por instituições públicas de ensino superior só é possível
quando se tratar de cursos de especialização (pós-graduação). O acórdão
restou assim ementado, verbis (grifos nossos):

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.
COBRANÇA DE MENSALIDADE EM CURSO DE PÓS-
GRADUAÇÃO LATO SENSU POR INSTITUIÇÃO PÚBLICA
DE ENSINO. CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO.
POSSIBILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA GRATUIDADE
DO ENSINO EM ESTABALECIMENTOS OFICIAIS.
INOCORRÊNCIA.
1. A garantia constitucional da gratuidade de ensino não
obsta a cobrança, por universidades públicas, de mensalidade
em curso de especialização.
2. Recurso extraordinário a que se dá provimento.”

Por outro lado – e aqui exsurge o segundo viés de potencial conflito


federativo no caso –, destaca-se que as instituições de ensino superior
criadas e mantidas pela iniciativa privada compõem o sistema federal de
ensino, nos termos do art. 16 da Lei nº 9.394/1996. Dessarte, tal como
destacou a União nos autos, seria de sua competência privativa, por
intermédio do Ministério da Educação e Cultura, credenciar e autorizar o
funcionamento conjunto – ainda que pontual – da UVA e da UNAVIDA,

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antes que atuasse a primeira no território do Estado da Paraíba. De tal


sorte, o Conselho Estadual de Educação da Paraíba, ao emitir parecer
viabilizando a atuação da UVA e da UNAVIDA na Paraíba, atuou-se sem
qualquer manifestação do órgão federal competente.
Com efeito, a atuação de uma universidade privada fora dos limites
territoriais para o qual credenciada sujeita-se à apreciação e fiscalização
das autoridades do sistema federal de ensino vinculadas ao Ministério da
Educação, não sendo essa atuação viável exclusivamente por meio de atos
bilaterais entre os entes estaduais envolvidos. Agrava-se ainda mais a
situação, pelo fato de a UNAVIDA sequer contar com autorização de
funcionamento junto ao MEC, não tendo qualquer reconhecimento oficial
do Governo Federal.
Dessarte, os argumentos levantados pelos réus revelam-se incapazes
de combater as premissas trazidas pelo MPF na exordial. Por essas razões
é que procede o pedido ministerial de que se determine à UVA que se
abstenha de ministrar cursos superiores, sob qualquer denominação, no
Estado da Paraíba mediante o convênio firmado com a UNAVIDA, eis
que inobservados os requisitos legais e regulamentares para tanto,
conforme procedimentos administrativos provocados perante as
autoridades competentes.
Por fim, quanto aos pedidos remanescentes – quais sejam: a)
anulação dos convênios firmados entre a UVA e a UNAVIDA que
fundamentem a oferta de cursos no Estado da Paraíba; b) anulação de
todos os diplomas e certificados expedidos desde o início da ‘parceria’ ora
considerada irregular; c) ressarcimento aos alunos de todas as despesas
ocasionadas em virtude do oferecimento irregular de cursos; d)
impedimento de ministração de cursos superiores pela UNAVIDA até
que seja oficialmente reconhecida pelo MEC; e) determinação ao Estado
da Paraíba que se abstenha de alugar, ceder ou emprestar prédios
públicos à UVA e à UNAVIDA para realização dos cursos) –, não se
caracteriza a competência originária desta Corte para sua apreciação. Isso
porque os temas envolvidos nos referidos pedidos não representam
situação de potencial ofensa ao pacto federativo que pudesse ensejar a

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competência originária desta Corte, envolvendo aspectos patrimoniais ou


questões em que não se revela densidade conflituosa entre aqueles
mencionados na alínea f do inciso I do art. 102 da CRFB/88. Com efeito, a
jurisprudência da Suprema Corte se firmou no sentido de que a
competência originária prevista no artigo 102, I, f, da Constituição Federal
se circunscreve aos casos em que se divisa potencialidade de lesão à
harmonia do pacto federativo. A propósito, cito os seguintes precedentes:

“QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO CÍVEL


ORIGINÁRIA. TÍTULOS DE PROPRIEDADE. ORIGEM EM
OUTORGAS REALIZADAS PELO ESTADO DO PARANÁ.
ÁREA PERTENCENTE À UNIÃO. QUESTÃO DECIDIDA NA
APELAÇÃO CÍVEL N. 9.621/PR. COISA JULGADA. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE DESSES
TÍTULOS. CONFLITO federativo. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA
DE HIPÓTESE INSTAURADORA DA COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ART. 102, INC. I, AL. F, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA). 1. A única questão
envolvendo a contraposição de interesses substanciais entre a
União e o Estado do Paraná já foi apreciada e definitivamente
resolvida por este Supremo Tribunal no julgamento dos
Embargos de Terceiros opostos na Apelação Cível n. 9.621/PR
(RTJ 31/59 e 32/73). Declarada a inexistência de qualquer direito
do Estado do Paraná sobre essas terras em acórdão já transitado
em julgado, não há falar em sua atuação como litisconsorte, seja
nas ações civis públicas, seja nas ações de desapropriação e seus
incidentes. 2. A ausência do ente federado alienante como
antecessor imediato na cadeia dominial em relação aos
expropriados impede a sua intervenção no feito, por
denunciação à lide. Precedentes. 3. Os limites da discussão que
envolve o interesse jurídico do Estado do Paraná na causa
equiparam-no a um assistente simples ad adjuvandum e não
litisconsorcial, o que, segundo entendimento assentado por este
Supremo Tribunal, afasta a incidência do permissivo
constitucional da alínea f. Precedentes. 4. O tema referente à
nulidade dos títulos de propriedade outorgados pelo Estado do

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Paraná na área discutida na Apelação Cível n. 9.621/PR está sob


apreciação deste Supremo Tribunal nas Reclamações ns. 1.074
(Rel. Min. Sepúlveda Pertence) e 2.788 (Rel. Min. Cezar Peluso),
ambas com julgamento já iniciado, o que torna recomendável o
sobrestamento das várias ações nas quais suscitada essa questão
até o trânsito em julgado dessas reclamações. Questão de
ordem que se resolve no sentido de declarar a incompetência do
Supremo Tribunal Federal, determinando o retorno dos autos
ao juízo de origem e comunicando a Procuradoria-Geral da
República para que providencie a devolução a este Supremo
Tribunal dos autos de ações nas quais se apresente a mesma
questão, sem a necessidade de juntada de parecer.” (ACO 1480
QO, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 20.08.2010)”

“RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA.


INVALIDAÇÃO DE CONTRATO DE CONFISSÃO,
ASSUNÇÃO, CONSOLIDAÇÃO E REFINANCIAMENTO DE
DÍVIDAS FIRMADO ENTRE O ESTADO DE ALAGOAS E A
UNIÃO. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO FEDERATIVO.
INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RECLAMAÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. AGRAVO
REGIMENTAL PREJUDICADO. 1. A excepcional competência
prevista no art. 102, inc. I, alínea f, da Constituição da
República restringe-se as hipóteses em que o litígio
instaurado entre os entes federativos possa, efetivamente,
vulnerar o pacto federativo. Precedentes. 2. O ato impugnado
pelo autor da Ação Popular foi defendido pela União e pelo
Estado de Alagoas, que figuram no mesmo pólo da ação. Não
há, nos autos, provas de que o possível desfecho das questões
postas em debate naquela ação poderia abalar o equilíbrio e a
harmonia da Federação. 3. O Supremo Tribunal Federal é
incompetente para processar e julgar ação popular. 4.
Reclamação julgada improcedente.” (Rcl 3152, Rel. Min.
Cármen Lúcia, DJe 13.03.2009, grifos nossos)

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO

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EXTRAORDINÁRIO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA.


CONFLITO ENTRE AUTARQUIA FEDERAL E ESTADO-
MEMBRO. AUSÊNCIA DE RISCO AO PACTO FEDERATIVO.
INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 102, I, "F", DA CB/88.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O Supremo
Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de que a
competência originária que lhe é atribuída pelo artigo 102, I,
‘f’, da Constituição do Brasil, tem caráter de absoluta
excepcionalidade, restringindo-se a sua incidência às
hipóteses de litígios cuja potencialidade ofensiva revele-se
apta a vulnerar a harmonia do pacto federativo. Precedentes.
2. incompetência deste Supremo Tribunal para processar e
julgar, originariamente, causas entre Estado-membro e
autarquia federal com sede ou estrutura regional de
representação no território estadual respectivo. Competência da
Justiça Federal. Precedentes. Agravo regimental a que se nega
provimento.” (RE 512468 AgR, Rel. Min. Eros Grau, DJe
06.06.2008, grifos nossos)

“AÇÃO DE EXECUÇÃO MOVIDA POR SOCIEDADE DE


ECONOMIA MISTA CONTROLADA PELO ESTADO DE SÃO
PAULO CONTRA O ESTADO DO MARANHAO
-INCOMPETENCIA DO STF - INTELIGENCIA DO ART. 102, I,
F, DA CONSTITUIÇÃO - INEXISTÊNCIA DE CONFLITO
FEDERATIVO - PEDIDO NÃO CONHECIDO. - O art. 102, I, f,
da Constituição confere ao STF a posição eminente de
Tribunal da Federação, atribuindo-lhe, nessa condição, o
poder de dirimir as controvérsias que, irrompendo no seio do
Estado Federal, oponham as unidades federadas umas as
outras. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, na
definição do alcance dessa regra de competência originaria da
Corte, tem enfatizado o seu caráter de absoluta
excepcionalidade, restringindo a sua incidência as hipóteses
de litígios cuja potencialidade ofensiva revele-se apta a
vulnerar os valores que informam o princípio fundamental
que rege, em nosso ordenamento jurídico, o pacto da

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Federação. Ausente qualquer situação que introduza a


instabilidade no equilíbrio federativo ou que ocasione a
ruptura da harmonia que deve prevalecer nas relações entre as
entidades integrantes do Estado Federal, deixa de incidir, ante
a inocorrência dos seus pressupostos de atuação, a norma de
competência prevista no art. 102, I, f, da Constituição. - Causas
de conteúdo estritamente patrimonial, fundadas em títulos
executivos extrajudiciais, sem qualquer substrato político, não
justificam se instaure a competência do Supremo Tribunal
Federal prevista no art. 102, I, f, da Constituição, ainda que
nelas figurem, como sujeitos da relação litigiosa, uma pessoa
estatal e um ente dotado de paraestatalidade.” (ACO 359 QO,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 11.03.1994, grifos nossos)

Ao se resumirem tais pedidos a interesses desvinculados de


qualquer questão político-institucional capaz de vulnerar o princípio
federativo, resta afastada a incidência do disposto pelo art. 102, I, f, da
Constituição Federal. Em idêntico sentido, cito os seguintes precedentes:
ACO 1.525/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 25/02/2014; ACO 1.307/MG,
Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 11/09/2013; ACO 1.826/ES, Rel. Min. Ellen
Gracie, DJe 09/08/2011; ACO 1.205/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe
25/04/2011.
Ex positis, conheço parcialmente os pedidos e, na parte conhecida,
julgo-os procedentes, nos termos do art. 487, I, do CPC/2015 e do art. 21,
§ 1º, do Regimento Interno do STF, para o fim de determinar que a
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA se abstenha de ministrar
cursos superiores, sob qualquer denominação, isoladamente ou em
parceria com outras instituições, no Estado da Paraíba, até que haja
autorização legítima formal para tanto, nos termos da legislação correlata
e do que assentado na presente decisão.
Deixo de conhecer os demais pedidos formulados na inicial,
assentando a incompetência desta Corte para julgá-los originariamente,
nos termos do art. 64, § 1º, e art. 932, VIII, do CPC/2015; c/c o art. 21, § 1º,
do Regimento Interno do STF.
Diante da imensurabilidade do proveito econômico obtido e sendo o

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valor da causa irrisório, condeno os réus ao pagamento pro rata das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados equitativamente no
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), nos termos do art. 85, §§ 2 e 8º, do
CPC/2015 e do art. 18 da Lei nº 7.347/1985,.
Publique-se. Int..
Brasília, 1º de fevereiro de 2018.
Ministro LUIZ FUX
Relator
Documento assinado digitalmente

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