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O gráfico abaixo mostra o percentual População em Idade Ativa (PIA = 15-64 anos) na população
mundial total e a Razão de Dependência (RD), representada pela seguinte relação entre os
grupos etários (0-14 + 65 anos e mais)/(15-64)*100. Observa-se que a PIA representava 60% da
população total no início da década de 1950 e caiu até 56,8% em 1967. Neste mesmo período a
Razão de Dependência subiu de 64,9% para 75,8%. Ou seja, as condições demográficas não
ajudavam a decolagem do desenvolvimento.
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2100
Porém, a partir de 1968 a percentagem da PIA começa a crescer até atingir o valor máximo de
65,6% em 2015. Neste mesmo período, a RD caiu de 75,8% para o seu valor mais baixo de 52,4%.
A janela de oportunidade estava se abrindo. Ou seja, entre 1968 e 2015 as condições
demográficas foram extremamente favoráveis ao desenvolvimento econômico e à melhoria do
padrão de vida das pessoas e das famílias. Este período é o auge do bônus demográfico mundial.
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A partir de 2016, a percentagem da PIA em relação à população mundial iniciou uma trajetória
de redução e deve atingir 61,8% no ano de 2065, enquanto a RD começou uma trajetória de
aumento, devendo atingir a mesma taxa de 61,8% também em 2065. Portanto, a janela de
oportunidade começou a se fechar. Contudo, o percentual da PIA – mesmo caindo em relação
ao seu pico - continua mais elevado do que o percentual do início do bônus (56,8%) e o
percentual da RD continua mais baixo do que o valor do início do bônus (75,8%). Assim, tendo
uma visão generosa, o período 2016-2065 pode ser considerado como os momentos finais do
bônus demográfico.
O caso brasileiro segue o mesmo padrão, mas o nível da PIA e da RD e as datas que estas duas
curvas se cruzam são diferentes. O bônus demográfico no Brasil é, temporariamente, mais curto,
mas mais profundo, conforme mostra o gráfico abaixo.
A PIA brasileira representava 55,5% da população total no início da década de 1950 e caiu até
53,2% em 1964. Neste mesmo período a RD subiu de 80,3% para 88%. Ou seja, as condições
demográficas atuavam no sentido contrário aos indicadores de desenvolvimento. Porém, a
partir de 1965 a percentagem da PIA começou a crescer até atingir, em 2019, o valor máximo
de 69,7%. Neste mesmo período, a RD caiu de 88% para o seu valor mais baixo de 43,4%. A
janela de oportunidade se abriu entre 1965 e 2019, pois as condições demográficas favoreceram
o desenvolvimento econômico e à melhoria do padrão de vida das pessoas e das famílias. Este
foi o período áureo do bônus demográfico brasileiro.
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2095
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A partir de 2020, a percentagem da PIA em relação à população brasileira total iniciou uma
trajetória de redução e deve atingir 62% no ano de 2053, enquanto a RD começou uma trajetória
de aumento, devendo atingir a mesma taxa de 62% também em 2053, quando as duas curvas
se invertem. Mas no caso brasileiro, o valor absoluto da PIA que era de 29,9 milhões de pessoas
em 1950 e atingiu 148,1 milhões em 2020, deve apresentar o seu valor máximo, de 153 milhões
de pessoas, em 2034, iniciando um decrescimento a partir de 2035. A população brasileira que
era de 53,9 milhões em 1950, atingiu 212,6 milhões em 2020 e deve atingir o pico em 2045, com
229,6 milhões de pessoas. Portanto, a janela de oportunidade no Brasil deve se fechar a partir
de 2034, quando houver redução absoluta no número de habitantes em idade de trabalhar.
No caso brasileiro, o bônus demográfico termina em 2034, mas as condições demográfica vão
ficar ainda mais desfavoráveis a partir de 2053 quando as duas curvas se inverterem e o
percentual da PIA vai ficar menor do que o percentual da RD. No ano de 2100 o percentual da
PIA será menor e o percentual da RD será maior do que os respectivos percentuais prevalecentes
em 1950. O Brasil vai passar por um rápido e profundo processo de envelhecimento e terá, em
2100, 40,1% de pessoas com 60 anos e mais, 34% de pessoas com 65 anos e mais e 15,6% de
pessoas com 80 anos e mais.
Todos estes números chamam a atenção para a urgência de se aproveitar os momentos finais
do bônus demográfico brasileiro. O país tem apenas 15 anos para ficar rico (com alto Índice de
Desenvolvimento Humano) antes de envelhecer, pois não existe exemplo de nação que atingiu
alto padrão de vida depois de ter uma estrutura etária envelhecida.
A crise econômica que teve início em 2014 e se prolonga até os dias de hoje veio no pior
momento possível, pois jogou no desemprego e no subemprego um grande contingente de
trabalhadores que poderiam estar contribuição para a riqueza da nação. A pesquisa PNADC, do
IBGE, indica que a taxa composta de subutilização da força de trabalho (que mede o percentual
de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de
trabalho potencial) foi de 25% no primeiro trimestre de 2019, representando 28,3 milhões de
pessoas subutilizadas no Brasil. Isto quer dizer que o Brasil está desperdiçando o bônus
demográfico e deixando de dar o salto necessário no nível de desenvolvimento enquanto as
condições demográficas ajudam.
Caso o Brasil não consiga reverter o quadro de estagnação e caso não consiga aproveitar os
momentos finais do bônus demográfico, pode ficar eternamente preso na “armadilha da renda
média”. O “Brasil do futuro” poderá nunca ser alcançado. Se o país já apresenta dificuldades de
progredir quando a demografia ajuda, terá dificuldade muito maiores quando a demografia
jogar contra. O fim do bônus demográfico brasileiro pode trazer barreiras intransponíveis, caso
o país não se prepare para a nova realidade do envelhecimento populacional que avança ano a
ano, mas que vai recrudescer na segunda metade do século XXI.