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O Gênero Crônica

O gênero textual crônica é uma narrativa que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano.
As principais características de uma crônica são: narrativa curta com poucos personagens e linguagem
simples. Uso da primeira pessoa e tempo cronológico determinado.

Questões do Saerjinho de Língua Portuguesa a partir de uma "crônica"


Leia o texto abaixo:

Sinais do tempo
Tudo estava pronto para a grande festa anual dos sinais gráficos. A comissão organizadora, formada pelo
cifrão ($), pelo e comercial (&) e pelos dois parênteses (( )) tinha decidido que os pontos finais não seriam
convidados e, se viessem, não entrariam. “São muito chatos, a todo momento entram na conversa dos outros
paralisando as frases, que ficam cortadas, sem sentido”, justificou o cifrão.
Durante a festa, os sinais formavam rodinhas de bate-papo. Alguns alegres, outros tristes. A arroba (@), por
exemplo, era de longe a mais feliz entre os convivas. Com a internet, estava sendo utilizada em todo o mundo.
“Eu que cheguei a pensar que não mais seria usada para alguma coisa, além do preço do boi na bolsa, eis que
a internet me rejuvenesceu”.
O trema (¨), coitado, era só tristeza. Usando sua linguagem erudita, lamentava para a crase. “Estou
fenecendo a cada dia solerte amiga. Poucos me utilizam. Os jornais, então, quase todos aboliram-me. E o pior.
Às vezes usam-me em cima de outras letras que não o U, em palavras de línguas estrangeiras, principalmente
as bárbaras europeias, que não provêm do nosso saudoso latim”. A crase, que também tinha seus problemas,
respondeu: “E eu, que quase ninguém sabe usar corretamente”.
A vírgula, trajando vestido roxo e longo, realçando suas formas curvilíneas, comentava com o dois pontos.
“Caro colega, é impressionante como tem gente que me usa em excesso, me colocam até entre o sujeito e o
verbo. Imagine você, fiquei sabendo de um leitor que ficou asmático depois de ler o livro de um escritor que me
usava em profusão”.
A festa continuava. A orquestra tirava de letra as músicas, os convidados dançavam e bebiam. O ponto de
exclamação (!), um dos mais esbeltos e elegantes, com seu smoking preto, perguntou à cedilha. “Parabéns por
ter vindo desacompanhada do C”. Ela respondeu: “Você continua o mesmo galante de sempre e esta festa é o
único lugar em que eu tenho sentido sozinha”.
De repente, na portaria do salão, veio o barulho de um entrevero entre um convidado e o ponto de
interrogação (?), responsável pela segurança. “Ponto final não foi convidado, não pode entrar.”, bradou o
interrogação, curvando-se ao baixinho bravo. “Meu amigo, procure entender, eu não sou ponto final. Sou
asterisco (*). É que tive a horrível ideia de passar gel nos cabelos”.
NUNES, Otávio. Disponível em: <http://migre.me/dj8xs>. Acesso em: 14 mar. 2011.

# Exercícios:
1. Por suas características, esse texto é um exemplo de
A) crônica literária.
B) fábula.
C) lenda.
D) resenha crítica.
E) romance.

2. De acordo com esse texto, o asterisco foi impedido de entrar no salão porque
A) era baixinho.
B) era chato.
C) estava parecido com o ponto final.
D) estava triste.
E) veio desacompanhado do C.

3. Nesse texto há uma opinião em:


A) “Tudo estava pronto para a grande festa anual dos sinais gráficos.”. (ℓ. 1)
B) “‘São muito chatos, a todo momento entram na conversa dos outros...’”. (ℓ. 3-4)
C) “‘Estou fenecendo a cada dia solerte amiga. Poucos me utilizam.’”. (ℓ. 11)
D) “‘Às vezes usam-me em cima de outras letras que não o U,...’”. (ℓ. 12-13)
E) “‘Meu amigo, procure entender, eu não sou ponto final.’”. (ℓ. 27-28)

4. De acordo com esse texto, o sinal gráfico que usava uma linguagem erudita era
A) a arroba.
B) a crase.
C) a vírgula.
D) o asterisco.
E) o trema.

5. Nesse texto, as aspas foram usadas para


A) destacar o uso de expressões de tom irônico.
B) introduzir uma informação complementar.
C) isolar uma frase do texto.
D) marcar a fala das personagens.
E) ressaltar uma crítica.

6. No trecho “O ponto de exclamação (!), um dos mais esbeltos e elegantes, com seu smoking preto,
perguntou à cedilha.” (ℓ. 21-22), o recurso estilístico que se destaca é
A) a comparação entre as personagens.
B) a personificação de seres inanimados.
C) a presença de ironia.
D) o exagero na descrição das personagens.
E) o uso de repetições.

6. No trecho “'Você continua o mesmo galante de sempre...'” (ℓ. 23), o termo destacado faz referência ao
A) asterisco.
B) cifrão.
C) ponto de exclamação.
D) ponto de interrogação.
E) trema.

8 No trecho “A arroba (@), por exemplo, era de longe a mais feliz entre os convivas.” (ℓ. 7), a expressão
destacada foi usada para
A) destacar uma ação concluída.
B) enfatizar uma característica.
C) indicar distância.
D) marcar ironia.
E) sugerir indiferença.

rônica “Pá, pá, pá”, de Luis Fernando Verissimo, para distribuir aos alunos.

PÁ, PÁ, PÁ

A americana estava há pouco tempo no Brasil. Queria aprender o português depressa, por isto prestava muita
atenção em tudo que os outros diziam. Era daquelas americanas que prestam muita atenção. Achava curioso,
por exemplo, o "pois é". Volta e meia, quando falava com brasileiros, ouvia o "pois é". Era uma maneira
tipicamente brasileira de não ficar quieto e ao mesmo tempo não dizer nada. Quando não sabia o que dizer, ou
sabia mas tinha preguiça, o brasileiro dizia "pois é". Ela não agüentava mais o "pois é". Também tinha
dificuldade com o "pois sim" e o "pois não". Uma vez quis saber se podia me perguntar uma coisa. - Pois não -
disse eu, polidamente. - É exatamente isso! O que quer dizer "pois não"? - Bom. Você me perguntou se podia
fazer uma pergunta. Eu disse "pois não". Quer dizer, "pode, esteja à vontade, estou ouvindo, , d" estQu as suas
or ens ... - Em outras palavras, quer dizer "sim".
-É. - Então por que não se diz "pois sim"? - Porque "pois sim" quer dizer "não". - O quê?! - Se você disser
alguma coisa que não é verdade, com a qual eu não concordo, ou acho difícil de acreditar, eu digo "pois sim". -
Que significa "pois não"? - Sim. Isto é, não. Porque "pois não" significa "sim". - Por quê? - Porque o "pois", no
caso, dá o sentido contrário, entende? Quando se diz "pois não", está-se dizendo que seria impossível, no
caso, dizer "não". Seria inconcebível dizer "não". Eu dizer não? Aqui, ó. - Onde? - Nada. Esquece. Já "pois
sim" quer dizer "ora, sim!". "Ora se eu vou aceitar isso." "Ora, não me faça rir. Rá, rá, rá." - "Pois" quer dizer
"orà'? -Ahn ... Mais ou menos. - Que língua! Eu quase disse: "E vocês, que escrevem 'tough' e dizem 'tâf'?",
mas me contive. Afinal, as intenções dela eram boas. Queria aprender. Ela insistiu: - Seria mais fácil não dizer
o "pois". Eu já estava com preguiça. - Pois é. - Não me diz "pois é"! Mas o que ela não entendia mesmo era o
"pá, pá, pá". - Qual o significado exato de "pá, pá, pá". -Como é? - "Pá, pá, pá". - "Pá" é pá. "Shovel". Aquele
negócio que a gente pega assim e ... - "Pá" eu sei o que é. Mas "pá" três vezes? - Onde foi que você ouviu
isso? - É a coisa que eu mais ouço. Quando brasileiro começa a contar história, sempre entra o "pá, pá, pá".
Como que para ilustrar nossa conversa, chegou-se a nós, providencialmente, outro brasileiro. E um brasileiro
com história: - Eu estava ali agora mesmo, tomando um cafezinho, quando chega o Túlio. Conversa vai,
conversa vem e coisa e tal e pá, pá, pá ... Eu e a americana nos entreolhamos. - Funciona como reticências -
sugeri eu. - Significa, na verdade, três pontinhos. "Ponto, ponto, ponto." - Mas por que "pá" e não "pó"? Ou "pi"
ou "pu"? Ou "etcéterà'? Me controlei para não dizer - "E o problema dos negros nos Estados Unidos?". Ela
continuou: - E por que tem que ser três vezes? - Por causa do ritmo. "Pá, pá, pá." Só "pá, pá" não dá. - E por
que "pá"? - Porque sei lá - disse, didaticamente. O outro continuava sua história. História de brasileiro não se
interrompe facilmente. - E aí o Túlio com uma lengalenga que vou te contar. Porque pá, _pá, pá ... - É uma
expressão utilitária - intervim. - Substitui várias palavras (no caso toda a estranha história do Túlio, que levaria
muito tempo para contar) por apenas três. É um símbolo de garrulice vazia, que não merece ser reproduzida.
São palavras que ... - Mas não são palavras. São só barulhos. "Pá, pá, pá."
- Pois é - disse eu. Ela foi embora, com a cabeça alta. Obviamente desistira dos brasileiros. Eu fui para o outro
lado. Deixamos o amigo do Túlio papeando sozinho.

1) Qual a tipologia textual e o tipo de discurso empregados no primeiro parágrafo da crônica acima? Por
quê? (A tipologia presente é a narrativa e foi empregado o discurso indireto, por meio do qual o personagem da
crônica atua também como narrador, nesse caso, discursando em terceira pessoa.)
 1.1) A fim de adaptar o primeiro parágrafo às características da linguagem dramática, quais mudanças
poderiam ser feitas? (A adoção de rubricas de descrição de ambiente, de interpretação, de movimento; o
emprego do discurso direto; a inserção de informações novas no texto, para adaptá-lo, etc.)
 1.2) Reescreva o primeiro parágrafo da crônica, fazendo as mudanças sugeridas na questão anterior,
de modo que haja adaptação à linguagem dramática.
2) Atente-se para esta fala, no texto: “- Pois não - disse eu, polidamente.” Qual é a função sintática do termo
“polidamente”. Por quê? (Trata-se de um advérbio, porque modifica o verbo dizer, indicando o modo pelo qual
uma frase foi dita pelo personagem, na crônica.)
 2.2) Como a frase da questão anterior poderia ser escrita, em um texto dramático? Como viria o
advérbio? (O advérbio poderia vir na forma de rubrica de interpretação, destacado por meio de recursos
gráficos. Desta forma, a frase seria: “Personagem 1, polidamente - Pois não!”)
3) Observe o diálogo: “- Então por que não se diz "pois sim"? - Porque "pois sim" quer dizer "não". - O
quê?!”. Sugira uma rubrica de interpretação para a terceira fala. (“Personagem 1, confusa - O quê?!”)
4) No fragmento “Eu quase disse: ‘E vocês, que escrevem 'tough' e dizem 'tâf'?’, mas me contive. Afinal, as
intenções dela eram boas. Queria aprender [...]”, houve uma passagem para o discurso indireto. Se este trecho
fosse adaptado para a linguagem dramática, seria adequado retirar a frase em destaque? Haveria prejuízo
para o texto se isso fosse feito?(Professor, espera-se que os alunos percebam que a frase destacada poderia
ser transcrita na forma de discurso direto, pois sua retirada traria prejuízo de sentido para o texto, uma vez que
ela contribui para o humor da produção.)
5) No trecho “- Eu estava ali agora mesmo, tomando um cafezinho, quando chega o Túlio. Conversa vai,
conversa vem e coisa e tal e pá, pá, pá… Eu e a americana nos entreolhamos.”, Qual tipo de rubrica deveria
ser utilizada para melhor descrição da cena e qual frase seria substituída por ela? (A rubrica mais adequada
seria a de movimento. A frase a ser substituída: “Eu e a americana nos entreolhamos”, passando a:
“Entreolham-se”.)
6) No diálogo “- E por que "pá"? - Porque sei lá - disse, didaticamente.”, o advérbio didaticamente pode ser
retirado, sem prejuízo de sentido para o texto?
(A resposta é não. Se retirado, a frase “-Porque sei lá - disse, didaticamente” perde seu caráter paradoxal. O
personagem fala, com o intuito de ensinar algo -
ou seja, didaticamente - que não sabe o que gostaria de ensinar. Desta forma, o humor está na falta de nexo
da declaração.)
7) No último parágrafo da crônica, qual tipo de rubrica poderia ser empregada? Por quê? (A rubrica de
movimento, para indicar os deslocamentos do protagonista e da americana, que vão embora, bem como do
outro brasileiro, que termina falando sozinho na cena.)
8) Reescreva o texto Pá, pá, pá, fazendo as adaptações necessárias à linguagem dramática, com base no
que foi revisado nas questões anteriores. (Professor, produção pessoal, que os alunos podem fazer em duplas,
e que depois deverá ser avaliada e julgada quanto à pertinência das modificações e dos recursos
empregados.)

CRÔNICA: Menino

Menino, vem pra dentro, olha o sereno! Vai lavar essa mão. Já escovou os dentes? Toma a benção a seu pai.
Já pra cama!
Onde aprendeu isso menino? – coisa mais feia. Toma modos. Hoje você fica sem sobremesa. Onde é que
você estava? Agora chega, menino, tenha santa paciência.
De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? Isso, assim que eu gosto: menino educado,
obediente. Está vendo? É só a gente falar. Desce daí, menino! Me prega cada susto...para com isso! Joga isso
fora. Uma boa surra dava jeito nisso. Que é que você andou arranjando? Quem te ensinou esses modos?
Passe pra dentro. Isso não é gente para ficar andando com você.
Avise seu pai que o jantar tá na mesa. Você prometeu, tem de cumprir. Que é que você vai ser quando
crescer? Não, chega: você já repetiu duas vezes. Por que você está quieto aí? Alguma coisa está
tramando...não anda descalço, já disse! – vai calçar o sapato. Já tomou remédio? Tem de comer tudo, você tá
virando um palito. Quantas vezes já te disse para não mexer aqui? Esse barulho, menino! – teu pai tá
dormindo. Para com essa correria dentro de casa, vai brincar lá fora. Você vai acabar caindo daí. Pede licença
a seu pai primeiro. Isso é maneira de responder à sua irmã? Se não fizer, fica de castigo. Segura o garfo
direito. Põe a camisa pra dentro da calça. Fica perguntando, tudo você quer saber! Isso é conversa de gente
grande. Depois eu te dou. Depois eu deixo. Depois eu te levo. Depois eu conto. Agora não, depois!
Deixa seu pai descansar – ele está cansado, trabalhou o dia todo. Você precisa ser muito bonzinho com
ele, meu filho. Ele gosta tanto de você. Tudo que ele faz é para seu bem. Olha aí, vestiu essa roupa agorinha
mesmo, já está toda suja. Fez seus deveres? Você vai chegar atrasado. Chora não filhinho, mamãe está aqui
com você. Nosso Senhor não vai deixar doer mais.
Quando você for grande, você também vai poder. Já disse que não, e não, e não! Ah, é assim? – pois
você vai ver só quando seu pai chegar. Não fale de boca cheia. Junta a comida no meio do prato. Por causa
disso é preciso gritar? Seja homem. Você ainda é muito pequeno pra saber essas coisas. Mamãe tem muito
orgulho de você. Cale essa boca! Você precisa cortar esse cabelo.
Sorvete não pode, você tá resfriado. Não sei como você tem coragem de fazer assim com sua mãe. Se
você comer agora, depois não janta. Assim você se machuca. Deixa de fita. Um menino desse tamanho, que é
que os outros hão de dizer? Você queria que fizessem o mesmo com você? Continua assim que eu te dou
umas palmadas. Pensa que a gente tem dinheiro pra jogar fora? Toma juízo menino!
Ganhou agora mesmo e já acabou de quebrar. Que é que você vai querer no dia de seus anos? Agora
não, depois, tenho mais o que fazer. Não fica triste não, depois mamãe te dá outro. Você teve saudades de
mim? Vou contar só mais uma, tá na hora de dormir. Vem que a mamãe te leva pra caminha. Mamãe te ama,
viu! Dá um beijo aqui. Dorme com Deus meu filho!
(Fernando Sabino)
Entendendo a crônica:
01 – Qual o título da crônica?
Menino.

02 – Quantos parágrafos possui na crônica?


Possui 08 parágrafos.

03 – Em qual parágrafo o menino fica sem sobremesa, como castigo?


No segundo parágrafo. “Onde aprendeu isso menino? – coisa mais feia. Toma modos. Hoje você fica sem
sobremesa.”

04 – “... Toma a bênção a seu pai. Já pra cama”, a expressão destacada é:


a) Uma ameaça.
b) Uma ordem.
c) Um elogio.
d) Um convite.

05 – “Agora deixa seu pai descansar – ele está cansado, trabalhou o dia todo”. A expressão destacada indica:
a) Tempo.
b) Lugar.
c) Modo.
d) Dúvida.

06 – “Ponha a camisa pra dentro da calça”. O termo destacado é marca da linguagem:


a) Formal.
b) Informal.
c) Regional.
d) Científica.

07 – “Quantas vezes já lhe disse para não mexer aqui?”. A palavra destacada refere-se:
a) Ao menino.
b) Ao pai.
c) À mãe.
d) Ao senhor.

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