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Universidade do Minho

Instituto de Educação

Diana Ribeiro da Costa A importância da Improvisação e o seu papel na formação de jovens músicos: contexto de Formação Musical e História da Cultura e das Artes
Diana Ribeiro da Costa

A importância da Improvisação e o seu


papel na formação de jovens músicos:
contexto de Formação Musical e História
da Cultura e das Artes

UMinho|2015

outubro de 2015
Universidade do Minho
Instituto de Educação

Diana Ribeiro da Costa

A importância da Improvisação e o seu


papel na formação de jovens músicos:
contexto de Formação Musical e História
da Cultura e das Artes

Relatório de Estágio
Mestrado em Ensino de Música

Trabalho efetuado sob a orientação da


Professora Doutora Elisa Maria Maia Silva Lessa

outubro de 2015
DECLARAÇÃO

Nome: Diana Ribeiro da Costa


Endereço Eletrónico: diana.rib.costa@gmail.com Telemóvel: 916461848
Número do Bilhete de Identidade: 13932039
Título do Relatório: «A importância da improvisação e o seu papel na formação de jovens
músicos: contexto de Formação Musical e História da Cultura e das Artes»
Supervisor: Professora Doutora Elisa Maria Maia Silva Lessa
Ano de conclusão: 2015
Designação do Mestrado: Mestrado em Ensino de Música

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO APENAS PARA EFEITOS DE


INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE
COMPROMETE.

Universidade do Minho, outubro de 2015

Assinatura:
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha supervisora, Professora Doutora Elisa Lessa.

Agradeço aos meus professores orientadores, Isadora Rodrigues e Sílvio Cortez, pelo
acolhimento caloroso, pela atenção e por todos os conselhos e opiniões fulcrais para o
desenvolvimento deste projeto.

Agradeço ainda, de forma muito especial, aos meus pais e avós e a toda a família que sempre
me acompanhou nesta longa caminhada. Sem eles teria sido impossível e impensável.
Obrigada…por tudo!

Por último, e não menos importante, agradeço à minha segunda família, Carla, Cristiana,
Daniela, Márcia Raquel, Susana, Márcia, por todos os momentos e por tudo! E, ainda, à minha
amiga de curso e de vida, Nieta, por todas as trocas de ideias que tanto me ajudam a crescer
profissionalmente. Obrigada!

iii
iv
RESUMO

O presente Relatório de Estágio pretende ser um contributo para a abordagem da


improvisação na formação de jovens músicos, otimizando a aprendizagem no que concerne a
uma melhor compreensão harmónica ao nível da audição e contribuir para a renovação das
práticas pedagógicas e estratégias metodológicas nesse âmbito. As metodologias utilizadas no
ensino vocacional têm revelado lacunas no que respeita ao processo de ensino/aprendizagem,
nomeadamente falhas relacionadas com a audiação e a compreensão da música em geral.
Neste sentido, um dos objetivos deste trabalho resume-se em desenvolver competências
auditivas que promovam a compreensão harmónica.
A intervenção ocorreu no Conservatório do Vale do Sousa em Lousada, com alunos do
ensino vocacional da música das disciplinas de Formação Musical e História da Cultura e das
Artes. Numa primeira fase foram observadas as principais dificuldades dos alunos em ambos os
contextos de intervenção e, de seguida, planificadas aulas recorrendo aos fundamentos da
literatura existente para uma melhor implementação do tema pretendido. A segunda fase
consistiu na aplicação do tema em sala de aula nos dois contextos: ao nível da Formação
Musical foi realizado um treino ao nível auditivo enquanto em História da Cultura e das Artes foi
elaborada uma síntese do desenvolvimento do conceito de improvisação ao longo da História da
Música. A terceira e última fase consistiu na realização de um workshop de Improvisação Vocal,
onde se juntaram os alunos da turma interveniente de Formação Musical, juntamente com uma
outra turma que não teve qualquer contacto prévio com a prática em questão. Os resultados
obtidos na atividade foram positivos uma vez que permitiram concluir que os alunos que tiveram
contacto anterior com a improvisação revelaram mais facilidade em improvisar, no sentido em
que compreendiam as progressões harmónicas no que respeita a música-familiar e não-familiar.
Concluindo, os resultados finais foram positivos e permitiram concluir que a abordagem da
improvisação, quando aplicada nestes contextos, melhora a compreensão da música em geral,
contribui para uma maior motivação desenvolvendo a criatividade e, aquando da aprendizagem
da audiação (Formação Musical), contribui para o desenvolvimento da improvisação
vocal/melódica.

Palavras – Chave: Improvisação, Ensino de Música, Criatividade, Motivação, Potencial


Pedagógico, audiação, compreensão harmónica, História da Improvisação Musical.

v
vi
ABSTRACT

This report intends to be a contribution to the approach of the improvisation in the training
of young musicians by optimizing their learning in relation with a better hearing harmonic
understanding level as well as a renewal of teaching and methodological strategies in this area.
The methodologies used in vocational education have revealed shortcomings regarding the
teaching/learning process, particularly related to the audiation and understanding of music in
general. In this regard, one of the objectives of this study boils down to developing auditory skills
that promote harmonic understanding.
The intervention took place at the Sousa Valley Conservatory, in Lousada, with students from
the vocational teaching of music in the disciplines of Music Theory and History of Culture and
Arts. Initially, the main difficulties of the students in both intervention contexts were observed and
then lessons using the fundamentals of literature were planned concerning a better
implementation of the intended subject. The second phase was the subject of the application in
the classroom in two contexts: concerning the Musical Training a hearing workout was held, while
in the History of Culture and Arts an overview of the development of the concept of improvisation
was developed throughout the history from music. The second phase was subject of the
application of the two contexts in classroom: a Musical Training at the hearing level while the
History of Culture and Arts focused on the development of the concept of improvisation
throughout the music history. The third and final phase consisted on the accomplishment of a
Vocal improvisation workshop where students from the intervening Musical Training class and
others who had no prior contact with the practice in question participated. The positive results
showed that students who had previous contact with the improvisation proved easier to improvise
once they understood the harmonic progressions regarding familiar and unfamiliar music.
In conclusion, the positiveness of the final results allowed us to conclude that within these
contexts the improvisation approach made the understanding of music in general easier and
possible, thus contributing to a greater motivation by developing creativity and allowing the
development of vocal/melodic improvisation upon the audiation learning (Music Theory).

Keywords: Improvisation, Music Education, Creativity, Motivation, pedagogical potential,


audiation, harmonic understanding, Musical Improvisation History.

vii
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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ………………………………………………………………………………………….. iii


RESUMO ………………………………………………………………………………………………………… v
ABSTRACT ……………………………………………………………………………………………………… vii
ÍNDICE …………………………………………………………………………………………………………… ix
ÍNDICE DE IMAGENS …………………………………………………………………………………………xi
ÍNDICE DE GRÁFICOS……………………………………………………………………………………….. xi
ÍNDICE DE QUADROS…………………………………………………………………………………………xii

INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………………….. 1

CAPÍTULO I – CONTEXTO E PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO…………………… 3

1.1. O ensino artístico especializado da Música (Breve contextualização)……………………. 5


1.1.1. A disciplina de Formação Musical………………………………………………………… 8
1.1.2. A disciplina de História da Cultura e das Artes…………………………………………10
1.2. Contexto de Intervenção………………………………………………………………………………. 13
1.2.1. Caracterização da Escola……………………………………………………………………. 13
1.2.2. A turma de Formação Musical…………………………………………………………….. 15
1.2.3. A turma de História da Cultura e das Artes…………………………………………….. 17
1.3. Plano Geral de Intervenção: objetivos e estratégias…………………………………………… 18

CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO…………………………………………… 21

2.1. Improvisação e Criatividade: conceitos e fundamentos……………………………………… 23


2.2. A Improvisação no Ensino Vocacional da Música……………………………………………… 25
2.2.1. A prática da improvisação aplicada à Formação Musical………………………….. 28
a) A importância da audição interior na improvisação…………………………………. 28
b) A dependência do código escrito………………………………………………………… 32
2.2.2. A prática da improvisação ao longo dos vários períodos da História da
Música………………………………………………………………………………………………………34
2.3. A improvisação aplicada ao Jazz…………………………………………………………………….42

ix
CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO………… 45

3.1. Instrumentos de recolha de dados…………………………………………………………………. 47


3.1.1. Reflexões de observação não-participante………………………………………………. 47
3.1.2. Reflexões de observação participante……………………………………………………. 47
3.1.3. Questionários…………………………………………………………………………………… 48
3.2. Caracterização dos contextos: fase de observação…………………………………………… 48
3.2.1. Contexto de Formação Musical……………………………………………………………. 49
3.2.2. Contexto de História da Cultura e das Artes……………………………………………. 50
3.3. Intervenção (Prática de Ensino Supervisionada)……………………………………………….. 51
3.3.1. Análise dos Questionários…………………………………………………………………… 51
3.3.1.1. Formação Musical…………………………………………………………………. 51
3.3.1.2. História da Cultura e das Artes…………………………………………………. 54
3.3.2. Análise das principais atividades realizadas (metodologias)………………………..60
3.3.2.1. Formação Musical…………………………………………………………………. 60
3.3.2.2. História da Cultura e das Artes…………………………………………………. 64
3.3.2.3. Projeto Artístico: Workshop de Improvisação Vocal………………………. 65
3.4. Análise final da Prática de Ensino Supervisionada…………………………………………….. 68

CONCLUSÕES…………………………………………………………………………………………………..71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………………………………. 75
ANEXOS………………………………………………………………………………………………………….. 81
Anexo I: Questionário aos professores de Formação Musical…………………………………….. 83
Anexo II: Questionário inicial de História da Cultura e das Artes………………………………… 87
Anexo III: Questionário final de História da Cultura e das Artes………………………………….. 91
Anexo IV: Planificação de Formação Musical…………………………………………………………. 95
Anexo V: Ficha de trabalho de Formação Musical……………………………………………………. 97
Anexo VI: Teste de audiação de funções harmónicas………………………………………………. 99
Anexo VII: Planificação do Workshop de Improvisação Vocal…………………………………….. 101
Anexo VIII: Exercício Circle Singing……………………………………………………………………….. 103
Anexo IX: Planificação de História da Cultura e das Artes…………………………………………. 105

x
ÍNDICE DE IMAGENS

Imagem 1: Portaria nº 225/2012 de 30 de Julho, Anexo nº 3……………………................ 16


Imagem 2: Portaria nº 243-B/2012 de 13 de agosto, Anexo II Parte A……………………….. 18
Imagem 3: Sonata BWV 1030 de J. S. Bach – 2º Mov. (Comp. 11-12)……………………….. 38
Imagem 4: 4’33’’: manuscrito escrito pelo próprio autor John Cage…………………………… 41
Imagem 5: Music for Cello and Piano de Earle Brown, 1955…………………………………….. 41
Imagem 6: Padrões Gordon………………………………………………………………………………… 62

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Número de alunos por classe instrumental (Formação Musical) …………………. 15


Gráfico 2: Número de alunos por classe instrumental (História da Cultura e das Artes)….. 17
Gráfico 3: Resultados da questão 7 do questionário inicial de História da Cultura e das
Artes............................................................................................................................... 55
Gráfico 4: Resultados da questão 8 do questionário inicial de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………........ 56
Gráfico 5: Resultados da questão 9 do questionário inicial de História da Cultura e das
Artes……………………………………………………………………………………………………….......... 56
Gráfico 6: Resultados da questão 10 do questionário inicial de História da Cultura e das
Artes……………………………………………………………………………………………………….......... 56
Gráfico 7: Resultados da questão 12 do questionário inicial de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………………. 57
Gráfico 8: Resultados da questão 7 do questionário final de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………......... 58
Gráfico 9: Resultados da questão 8 do questionário final de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………………. 58
Gráfico 10: Resultados da questão 10 do questionário final de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………………. 59
Gráfico 11: Resultados da questão 12 do questionário final de História da Cultura e das
Artes………………………………………………………………………………………………………………. 59
Gráfico 12: Resultados obtidos no «Teste de audiação de funções harmónicas»………….. 63

xi
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Finalidades da disciplina de História da Cultura e das Artes……………………….. 12


Quadro 2: Plano de estudos das disciplinas da componente de formação vocacional no Curso
Básico…………………………………………………………………………………………………………….. 16
Quadro 3: Estádios de Audiação………………………………………………………………………….. 31
Quadro 4: Tipos de Audiação………………………………………………………………………………. 31
Quadro 5: Caracterização dos Professores de Formação Musical………………………………. 51

xii
INTRODUÇÃO

O presente Relatório de Estágio, inserido no âmbito da Unidade Curricular Estágio


Profissional do 2º ano do ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Música
da Universidade do Minho, pretende descrever a investigação e a prática de um projeto de
intervenção implementado no ano letivo 2014/2015, no contexto de Formação Musical e
História da Cultura e das Artes no Conservatório do Vale do Sousa em Lousada. O objetivo fulcral
desta Prática de Ensino Supervisionada é a exploração da estratégia metodológica da
improvisação, analisando o seu papel na formação de jovens músicos no que concerne ao
ensino vocacional da música.
O que se tem verificado ao nível do ensino vocacional é que as práticas pedagógicas são
fortemente influenciadas pela tradição, isto é, os professores ensinam como foram ensinados,
limitam-se a cumprir os programas pré-estabelecidos e, com isso, desejam que os seus alunos
adquiram todas as competências necessárias conducentes a uma boa aprendizagem. Quando se
menciona o conceito de improvisação como uma metodologia a ser abordada em contexto sala
de aula, raros são os professores que se sentem à vontade com este aspeto pois se na sua
formação esta questão não foi contemplada, eles não se sentirão confiantes para a abordar junto
dos seus alunos. Assim, muitas vezes deparamo-nos com aquilo a que chamamos uma aula
tradicional, sem grandes inovações pedagógicas.
Desta forma, torna-se pertinente repensar as pedagogias abordadas nos conservatórios e
academias do ensino artístico especializado da música. Os professores devem ter como principal
objetivo uma filosofia de ensino que estimule o gosto pela música em geral e sua consequente
motivação. Neste sentido, o professor tem um papel muito importante e, como tal, deve sempre
refletir acerca das suas metodologias tendo sempre em consideração a variedade de jovens de
camadas sociais díspares que, por sua vez, procuram diferentes saberes e conhecimentos.
Tendo em conta essa questão, é necessário abandonar um modelo de ensino único e renovar as
práticas pedagógicas para atender às diferentes populações que frequentam este tipo de ensino.
O tema escolhido, A importância da Improvisação e o seu papel na formação de jovens
músicos: contexto de Formação Musical e História da Cultura e das Artes pretende ser uma
contribuição no sentido de se promover o desenvolvimento de competências artísticas/musicais
através da improvisação. Tendo em conta a ausência que existe atualmente em torno desta
prática nas metodologias do modelo do ensino artístico especializado da música, nomeadamente

1
no âmbito dos conservatórios e academias de música, pretende-se demonstrar que esta pode
ser uma estratégia conducente a uma aprendizagem mais eficaz dos alunos, na aquisição de
competências e na formação de jovens músicos, sendo desta forma muito importante a sua
implementação nas práticas pedagógicas atuais.
A abordagem da música de uma forma global torna-se cada vez mais urgente e deverá ser
motivo de preocupação para todos os professores na medida em que devem procurar uma
formação mais completa e, ao mesmo tempo, mais ampla, mesmo que isso implique sair da
sua zona de conforto, de modo a garantirem a aprendizagem de competências essenciais aos
seus alunos para um contacto total com a música.
A improvisação apresenta-se como uma abordagem possível à resolução de determinados
problemas existentes em torno da aprendizagem dos alunos: por um lado, apela à criatividade;
por outro, desenvolve competências como a audição interior e uma melhor compreensão
musical que vários autores defendem ser necessárias para se formar um bom músico.
Baseada nestas metodologias de ensino, procuro resposta a uma prática pedagógica que
leve ao conhecimento e familiarização total com a música através da improvisação.
O presente Relatório de Estágio encontra-se dividido em três capítulos. No primeiro é
apresentado o contexto onde são mencionados documentos reguladores do processo
ensino/aprendizagem diretamente relacionados com o ensino e disciplinas em questão dentro
do âmbito do projeto, bem como o plano geral de intervenção e algumas variáveis relativas à
caracterização da escola e turmas intervenientes. No segundo capítulo é apresentada a
fundamentação teórica deste projeto, expondo e desenvolvendo questões como: o papel da
improvisação no ensino da música (erudita) e, por sua vez, o papel da improvisação ligado ao
ensino/prática jazzística; a temática da audição interior; a grande atual dependência do código
de escrita musical e o desenvolvimento da prática de improvisação ao longo dos vários períodos
da História da Música. No último capítulo são descritos os instrumentos de recolha de dados
utilizados ao longo de toda a intervenção pedagógica, bem como a metodologia de investigação
utilizada e, por fim, a análise dos dados obtidos ao longo de toda a Prática de Ensino
Supervisionada, finalizando com as conclusões deste estudo.

2
CAPÍTULO I – CONTEXTO E PLANO GERAL DE
INTERVENÇÃO

3
4
1.1. O ensino artístico especializado da Música (Breve contextualização)

A aprendizagem de música nas escolas do ensino artístico especializado remonta a 1835,


data da criação de algumas escolas de ensino artístico e do Conservatório de Música em Lisboa
(Ribeiro, 2008).
Desde então, este tipo de ensino tem vindo a sofrer reestruturações no que respeita aos
planos gerais da organização da educação artística e à forma como é ministrado. A
reestruturação mais acentuada neste sentido foi a reforma levada a cabo pelo Decreto-Lei nº
310/1983. Este mesmo decreto, de 1 de julho, insere as Artes no sistema geral de ensino.
Assim,

Foram criadas áreas vocacionais de Música e Dança e integradas no sistema de ensino


preparatório e secundário e ao nível superior foram criadas as Escolas Superiores de Música,
Cinema, Dança e Teatro – inseridas no âmbito do Ensino Superior Politécnico. A reforma
estrutural em causa concebeu um novo tipo de organização para o ensino especializado da
música, a escola de música vocacional, subdividindo-se em dois subtipos (correspondendo ao
primeiro a escola básica e secundária e ao segundo a escola de nível superior) (Ribeiro &
Vieira, 2010, p. 1426-27).

Desta forma, regulamentado pelo Decreto-Lei em questão, o ensino vocacional da Música


procura oferecer aos alunos do curso básico as «bases gerais da formação musical e o domínio
da execução dos instrumentos» (Decreto-Lei nº 310/83 de 1 de julho, artigo 3º, ponto 1). Por
outro lado, no que respeita aos cursos complementares secundários, os objetivos estabelecidos
alteram-se de acordo com as três opções existentes na área da Música: curso de Formação
Musical, Instrumento e Canto (artigo 4º, ponto 1). No caso específico do curso de Formação
Musical, o Decreto-Lei designa como objetivo «o aprofundamento da educação musical e de
conhecimentos nos domínios das Ciências Musicais» (artigo 4º).
Face ao exposto, o ensino sistemático da música (que já ocorria em estabelecimentos do
ensino artístico desde 1835) distribui-se entre a rede pública, privada e cooperativa.
Ainda no prosseguimento do Decreto-Lei em questão, a frequência nos cursos do ensino
artístico especializado poderia variar entre três regimes distintos de frequência:

 Regime Integrado – as disciplinas de formação geral e as disciplinas de formação


específica e vocacional são lecionadas no estabelecimento do ensino artístico;

5
 Regime Articulado – as disciplinas de formação geral são lecionadas no
estabelecimento do ensino genérico (preparatório ou secundário) e as de formação
específica e vocacional lecionadas no estabelecimento do ensino artístico
especializado;
 Regime Supletivo – quando a formação específica e vocacional é ministrada no
estabelecimento de ensino artístico, independentemente das habilitações do aluno
(Despacho nº 76/SEAM/85, de 9 de outubro).

Desta forma, verifica-se que as diferenças entre os regimes não se encontram apenas no
local onde as disciplinas são ministradas mas sim no plano de estudos que as contempla.
Assim, o regime articulado e integrado contempla disciplinas de formação geral e específica
enquanto o regime supletivo aborda as disciplinas de formação específica vocacional.
Esta reestruturação sofrida em 1983 assumiu sem dúvida uma grande importância e
marcou o ensino vocacional da música, que vigora nos dias de hoje apesar de todas as
alterações sofridas ao longo dos anos. No entanto, a sua verdadeira e assumida implementação
ocorre apenas em 1990:

Apesar da sua importância inequívoca, da reestruturação história proposta e da credibilidade


conferida, a reforma teve inúmeras dificuldades de aplicação e não foi, de forma nenhuma
pacífica. (…) Até à sua definitiva e assumida implementação, o que viria a acontecer só em
1990 (Despacho nº 65/SERE/90, de 23 de Outubro), este período de transição ficaria
marcado por diversas circunstâncias (Ribeiro & Vieira, 2010, p. 1427-28).

A partir da década de 90, as escolas sofrem um acentuado desenvolvimento no que


respeita ao elevado número de alunos que procuram o ensino da música. Neste sentido, dada
essa grande procura por um número elevado e diversificado de alunos de diferentes meios
socioculturais e com diferentes objetivos de aprendizagem no que respeita à sua formação
musical, o ensino artístico vocacional volta a sofrer algumas reformulações nesse mesmo ano.
Assim, o Decreto-lei nº 344/90 de 14 de novembro, artigo 11º vem esclarecer o conceito de
ensino vocacional e a quem se destina. Neste sentido, define o ensino vocacional como algo que
«consiste numa formação especializada, destinada a indivíduos com comprovadas aptidões ou
talentos em alguma área artística específica», permanecendo este conceito como a lei vigente
até então.

6
No seguimento do processo de reestruturação em curso, a Portaria nº 691/2009, de 25 de
junho, veio definir um novo plano de estudos, criar o Curso Básico de Canto Gregoriano, bem
como condições de admissão, constituição de turmas, progressão, avaliação e certificação dos
cursos básicos e secundários neste ramo de ensino (Ribeiro & Vieira, 2010, p. 1428).
Tendo em conta a Portaria nº 691/2009, de 25 de junho, as cargas horárias dos planos de
estudos são estabelecidas a partir de uma unidade letiva de noventa minutos, podendo ser
subdivididas em tempos de quarenta e cinco minutos, em função da natureza das disciplinas e
das condições existentes na escola. Para além dos tempos letivos mínimos constantes em cada
disciplina, a componente de formação vocacional inclui ainda 0,5 tempo letivo a ser integrado na
disciplina de Formação Musical ou na disciplina de Classe de Conjunto, em função do projeto da
escola.
Atualmente o ensino artístico especializado da música encontra-se distribuído por dois
cursos ministrados em escolas especializadas: curso básico e complementar. Estas mesmas
escolas desenvolvem-se ainda em dois âmbitos distintos paralelos: ao nível dos Conservatórios e
Academias de Música com autonomia pedagógica (distribuídos pela rede pública, privada e
cooperativa) e ao nível do ensino profissional, cujos estabelecimentos de ensino constituem as
escolas profissionais de Música. Apesar de distintos, estes dois ramos de ensino da música
tocam-se em vários aspetos e são alvo de contradições (Ribeiro, 2013).

O ensino artístico especializado da música visa proporcionar: 1) uma formação aprofundada,


orientada para o prosseguimento de estudos a nível superior com vista a uma profissionalização; 2)
ofertas de formação artística diferenciadas, de nível básico e/ou secundário, destinadas ao
aprofundamento de determinadas linguagens artísticas, independentemente do futuro profissional
(Ribeiro, 2008, p. 45).

Em 2012, a Portaria nº 243-B/2012, de 13 de agosto, vem estabelecer princípios


orientadores da organização e da gestão dos currículos do ensino secundário, reforçando a
autonomia pedagógica e organizativa das escolas, bem como definir novos planos de estudos de
modo a permitir uma adaptação progressiva às exigências de novas formações. A portaria em
questão estabelece ainda a «transição dos alunos para os novos planos de estudos,
salvaguardando a coerência do percurso formativo daqueles, bem como normas relativas à
constituição de turmas, gestão do currículo, admissão, matrícula, avaliação e certificação destes
cursos» (Portaria 243-B/2012, de 13 de agosto).

7
Uma das grandes alterações no plano de estudos do secundário levada a cabo pela Portaria
nº 243-B/2012 remete-se na mudança da denominação da disciplina anteriormente designada
de História da Música, passando a denominar-se História da Cultura e das Artes. Uma outra
alteração ao nível desta disciplina verificou-se na carga horária semanal atribuída passando de
90 minutos para 135 minutos semanais (podendo ser divididos em 3 blocos de 45’).

1.1.1. A disciplina de Formação Musical

Atualmente designada de Formação Musical, a disciplina que no passado se designava por


Rudimentos e Solfejo tinha principais objetivos o domínio da leitura e escrita musical (Pedroso,
2004).
Tendo em conta o que já foi mencionado no ponto anterior, que o ensino da música é cada
vez mais alargado para um elevado número de alunos que procuram diferentes saberes e
conhecimentos, é importante ter em consideração que o grande objetivo de maior parte desses
alunos não é tornarem-se músicos profissionais mas apenas adquirir uma formação na área da
música (Folhadela et al, 1998; Pedroso, 2004; Sousa, 2004; Ribeiro, 2013; Vasconcelos, 2002).
Desta forma, o ensino artístico especializado da música tem também um duplo papel
importante na formação dos alunos e não apenas na formação de músicos a nível profissional.
Considerando o exposto, a disciplina de Formação Musical não pode deixar de englobar esta
questão (Pedroso, 2004). Assim, a mesma deve incluir uma aprendizagem global, virada para o
entendimento dos contextos – musicais, históricos e sociais (Vasconcelos, 2000, 2002).
Neste sentido, é importante fazer com que os alunos tenham noção de que todo o
conhecimento é culturalmente situado, pelo que devem ser familiarizados, sempre que possível,
com a cultura de que fazem parte para a melhor compreenderem e admirarem, quer também
com outras culturas (Pedroso, 2004).
A aprendizagem deve ser realizada com base na importância em estimular nos alunos a
compreensão de informação, mais do que a mera acumulação e memorização. Desta forma, é
importante a participação ativa dos alunos em experiências de aprendizagem diversificadas,
partindo também das suas experiências vitais com a realidade, por oposição à situação de
meros recetores passivos de informação (Pedroso, 2004; Santomé, 1994).

8
Quanto às competências a serem desenvolvidas na disciplina de Formação Musical, atente-
se ao Decreto-Lei nº 310/83, de 1 de julho que refere que «O curso de Formação Musical visa o
aprofundamento da educação musical e de conhecimentos nos domínios das ciências musicais,
supondo, à saída, o domínio de um instrumento de tecla ao nível do curso geral» (Ponto 2).
Neste sentido, pudemos afirmar que a disciplina em questão é transversal a todas as áreas
artísticas da música.
Cada vez mais se tem verificado que as aulas de Formação Musical são «(…)
tradicionalmente constituídas por um conjunto de atividades mais ou menos fixas – ditados,
leituras, entoações, conceitos de Teoria Musical,… - que se vão repetindo aula após aula»
(Pedroso, 2004, p. 7). No entanto,

Um dos aspetos centrais da disciplina de FM é a educação do ouvido, isto é, o desenvolvimento das


capacidades de identificação e escrita dos sons musicais ouvidos, bem como a capacidade de
imaginar/ouvir os sons/estruturas sonoras escritas. (…) Por oposição a um treino auditivo muitas
vezes redutor, recorrendo a exercícios «vazios de conteúdo musical» (Pinheiro, 1994 como citado
em Pedroso, 2004) e focados quase exclusivamente em duas qualidades de som – altura e duração
(Pratt, 1990 como citado em Pedroso, 2004) – Pratt (1992, como citado em Pedroso, 2004)
defende que deveríamos considerar como conteúdos de formação auditiva os elementos de
expressão musical de que os músicos – compositores, intérpretes ou ouvintes – de facto precisam
(timbre, dinâmica, densidade, textura, articulação, tessitura, andamento, estrutura, …) (Pedroso,
2004, p. 8).

Neste sentido, com o objetivo de trabalhar todos os conteúdos musicais inerentes à música,
é necessário e fundamental o recurso à música real, disponibilizando os alunos a contactarem
com um repertório diversificado e experiências musicais reais em diferentes géneros, que
consequentemente tornarão mais simples a captação auditiva de música nos seus vários
aspetos. Segundo Pinheiro (1994, como citado em Pedroso, 2004, p. 8) o «verdadeiro conteúdo
da aula de Formação Musical deverá ser a própria música. Toda a aprendizagem deve ter como
ponto de partida a música, sendo ela também o ponto de chegada».
Inerente a todos estes aspetos e igualmente fundamental é o recurso a outras áreas do
conhecimento musical – como a Teoria Musical, a História da Música, a Acústica, a Análise, a
Composição (Pedroso, 2004). Tal como foi referido anteriormente, a Formação Musical trata
uma disciplina transversal a todas as áreas do saber musical. Desta forma, os alunos podem
construir um conhecimento mais amplo, aprofundado e contextualizado de conceitos,
acompanhados sempre de situações musicais reais, no sentido de ajudar na compreensão dos
vários aspetos abordados.

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O recurso a exemplos de música real pode/deve então servir ambos os objetivos: para além de
desenvolver a cultura musical dos alunos, permite abordar, trabalhar e desenvolver conhecimentos,
conteúdos e competências em contexto real. Será igualmente importante englobar conhecimentos
de outras áreas das ciências musicais, bem como utilizar diferentes tipos de fontes musicais – em
termos de épocas, de estilos, de origens geográficas (Pedroso, 2004, p. 16).

A disciplina pode e deve ser ainda um espaço para se fazer música. Cantar, em particular,
deve ter um papel central de modo a que todos possam explorar o instrumento próprio de cada
um, a voz, e que permite vivenciar e sentir a música de forma especial (Pedroso, 2004).

(…) uma disciplina para, de facto, formar musicalmente, que conduza a uma compreensão auditiva
e inteligente da música e à aquisição de uma literacia musical alargada que permita não só ler mas
sobretudo compreender e interpretar com sentido crítico o que se ouve e o que se produz (Pedroso,
2004, p. 16).

De facto, a disciplina em causa deveria incluir todos os aspetos mencionados até aqui para
que fosse possível construir/renovar o conceito de Formação Musical atualmente existente, com
o intuito de dotar os alunos com uma base de conhecimento musical abrangente, analítico,
reflexivo, criativo, crítico.

1.1.2. A disciplina de História da Cultura e das Artes

A disciplina de História da Cultura e das Artes, em substituição da disciplina anterior


denominada História da Música, é uma disciplina relativamente recente no que respeita ao
ensino artístico especializado da Música. Borges & Cardoso (2008) sublinham o facto de só nos
tempos modernos se ter começado a falar da Música como História, no entanto, de uma forma
indireta já o faziam Platão e Aristóteles nos seus escritos e também alguns teóricos como Sto.
Agostinho, Boécio, Cassiodoro, Sto. Isidoro de Sevilha, ainda que de uma uma forma mais
funcional e imediatista.
Considerando os autores mencionados, só a partir do século das luzes é que se impôs uma
conceção cronológica e enciclopédica do saber musical e, com isso, começam a surgir os
primeiros trabalhos específicos a fim de retratar a Música como História, tais como as primeiras
Enciclopédias da Música assinadas por D’Alembert e J. J. Rosseau e obras pioneiras de História
Geral da Música como é o caso dos autores Charles Burney e J. N. Forkel. A partir do séc. XIX,
com o Positivismo e o Evolucionismo, surgem os primeiros esforços a fim de sistematizar a

10
Música como progresso permanente, imparável, desde as épocas consideradas primitivas, até às
mais perfeitas. Neste século surgem grandes nomes da Musicologia como Guido Adler e Hugo
Riemann (Borges & Cardoso, 2008).
O conceito de História da Música deve estar inerente à abordagem da cultura musical e
deve abordar aspetos como: estudo da sociedade, abordagem das artes no geral, estudo do
repertório.

(…) a concepção de cultura musical pode não estar ausente da definição de História da Música. (…)
a História da Música teria de se verificar hoje como o estudo da Música na História, entendendo
com isso, não só os fenómenos musicais de cada época dentro dos seus géneros, obras e
compositores e intérpretes, mas tudo isso à luz de um contexto envolvente de ordem social, política,
religiosa e filosófica (Borges & Cardoso, 2008, p. 8)

A Portaria 243-B/2012, de 13 de agosto, veio, como já foi referido anteriormente, reformar


o plano de estudos do curso complementar de Música. Consultando o Programa de História da
Cultura e das Artes (2004), publicado pela Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento
Curricular do Ministério da Educação, o mesmo afirma que:

A disciplina de História da Cultura e das Artes (…) insere-se também na componente de formação
científica dos Cursos artísticos especializados de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, nos 10º,
11º e 12º anos, com uma carga horária de dois tempos letivos de 90 minutos por semana.

Com a Portaria anteriormente referida (243-B/2012, de 13 de agosto), os planos de


estudos do curso complementar alteram-se e, nos termos do anexo IX da mesma portaria, são
consideradas afins as disciplinas de História da Música e de História da Cultura e das Artes. Ao
abrigo da mesma portaria, a carga horária altera-se passando assim de 90 para 135 minutos
semanais da disciplina em questão.
A diferença mais evidente entre as disciplinas de História da Cultura e das Artes e História
da Música reside no facto de ser obrigatória a contextualização cultural e das artes em geral,
seguida de uma visão mais vincada da História da Música. Neste sentido, o único programa
existente publicado pelo Ministério da Educação (2004) de História da Cultura e das Artes refere
ainda que

(…) as diversas expressões artísticas não podem ser compreendidas, na sua complexidade, à
margem da compreensão global do quadro genérico onde se inscreve o seu dever, a criação de uma
disciplina onde a cultura e as artes se estudam em confronto permitirá avançar também para um
pressuposto em certo sentido mais radical: o de que é a própria História da Cultura que adquire

11
uma nova dimensão se analisada em permanente interação com os objetos artísticos nos quais, no
decurso do tempo, se foram materializando as sucessivas formas de entender e questionar o
mundo. O presente programa procura consagrar essa perpétua e fundamental interação entre as
artes e a cultura ou entre a cultura e as artes, consoante a perspetiva que se adopte na abordagem
da questão. E foi por isso também que se procurou favorecer uma abordagem não hierárquica, mas
essencialmente dinâmica e transversal dessa interação.

As finalidades da disciplina estabelecidas pelo programa em questão (2004) foram:

Finalidades da Disciplina
Ao nível da formação: Ao nível das competências gerais:
- Qualificar e diversificar a formação cultural e - Preservar e valorizar o património artístico e
artística; cultural;
Contribuir para a formação académica e - Entender a defesa do património como ato de
profissional; cidadania;
- Promover atitudes de investimento pessoal - Consolidar o sentido de apreciação estética
em formações futuras. do mundo;
- Evidenciar uma atitude crítica enquanto
recetor de objetos artísticos;
- Mobilizar os conhecimentos adquiridos na
disciplina para criticar a realidade
contemporânea;
- Pesquisar, selecionar e organizar informação
diversificada de uma forma autónoma,
responsável e criativa;
- Compreender o objeto artístico como
documento/testemunho do seu tempo
histórico;
- Enquadrar a especificidade do discurso e das
categorias analíticas de cada área artística na
análise conjuntural do tempo e do espaço
(histórico e cultural).
Quadro 1: Finalidades da disciplina de História da Cultura e das Artes

12
1.2. Contexto de Intervenção

1.2.1. Caracterização da escola

O Conservatório do Vale do Sousa, tal como o próprio nome indica, situa-se na região do
Vale do Sousa mais propriamente no concelho de Lousada, um dos 6 concelhos que integram
esta região. O município de Lousada situa-se a 35km do Porto, com 25 freguesias na sua origem
e uma população próxima dos 45 000 habitantes. Trata-se assim de um dos 18 municípios do
distrito do Porto.
O Conservatório Vale do Sousa, inicialmente denominado de Associação de Cultura Musical
de Lousada, nasceu precisamente no seio da Associação de Cultura Musical de Lousada e
fundou-se através de um protocolo assinado entre o Presidente da Associação e um técnico da
Inspeção Geral de Educação. Assim, inicialmente foi autorizado o funcionamento provisório da
academia, a partir do ano letivo de 1994/95. Esta autorização abrangeu o funcionamento do 1º
Grau dos Cursos Básicos de: Viola Dedilhada, Piano, Flauta Transversal, Saxofone, Clarinete,
Trompete, Trombone, Tuba e Percussão, em regime de planos e programas oficiais de acordo
com a Portaria nº 294/84, de 17 de maio.
As instalações da Academia inicialmente situaram-se na Praça da República, Cristelos
(Lousada) e foi seu Diretor Pedagógico, entre 1994 e 1998, Alberto Vieira. No dia 2 de novembro
de 1998 foram inaugurados oficialmente o Auditório e Academia pelo Ministro da Cultura,
Manuel Carrilho, datando daí a sua nova sede na Avenida Cidade Errenteria – Quinta das
Pocinhas (Lousada), onde foi construído um edifício de raiz, propriedade da Câmara Municipal
de Lousada, constituído por quatro pisos. Nos termos do nº 5 do art. 28 do Decreto-Lei nº
71/99, de 12 de março, foi concedida, por Despacho de 3 de maio de 1999, autorização
definitiva de funcionamento nº 2/DREN, a partir do ano letivo 1998/1999.
A Academia de Música da Associação de Cultura Musical de Lousada ficou autorizada a
ministrar em regime de planos e programas oficiais, os Cursos Básicos de Clarinete, Flauta
Transversal, Piano, Percussão, Saxofone, Trombone, Trompete e Viola Dedilhada. Até 2003 ficou
como Diretor Pedagógico Arnold Richard Allum. A partir desse ano letivo 2003/2004 e até ao
final desse ano, a direção pedagógica passou a ser constituída por Margarida Reis, Rosário
Valinho e Fernanda Alves. A partir de 2004, a direção pedagógica ficou composta por Rosário

13
Valinho e Fernanda Alves. Atualmente, a professora Fernanda Alves assume o papel de Diretora
Pedagógica do Conservatório do Vale do Sousa.
No ano letivo 2005/2006 foi realizada a alteração da designação de Academia de Música
da Associação de Cultura Musical de Lousada para Conservatório do Vale do Sousa, com
votação e aprovação por unanimidade.
O Conservatório do Vale do Sousa trata-se de uma escola do ensino artístico especializado
da Música, com autonomia pedagógica, integrada na rede territorial da Direção Regional de
Educação do Norte (DREN) e tem como principal objetivo a promoção, divulgação e ensino da
música, contando para o efeito com o patrocínio do Ministério da Educação de acordo com a
legislação aplicável.
Atualmente, as opções dos cursos são os seguintes: Acordeão, Canto, Clarinete,
Contrabaixo, Flauta de Bisel, Flauta Transversal, Formação Musical, Guitarra Portuguesa, Oboé,
Piano, Percussão, Saxofone, Trombone, Trompa, Trompete, Tuba, Viola Dedilhada, Violeta,
Violino e Violoncelo. O Conservatório ministra cursos de Música no âmbito oficial e não oficial no
sentido de proporcionar uma possível aprendizagem musical a um maior número de alunos,
independentemente das suas ambições profissionais. Estes mesmos cursos dividem-se em dois
ciclos de estudo: Básico e Complementar ou Secundário que podem ser frequentados em
regime articulado ou supletivo.
O Conservatório do Vale do Sousa tem ainda parcerias de colaboração não só da região do
Vale do Sousa como também de concelhos de regiões vizinhas. Nos últimos anos, devido ao
crescimento escolar verificado, o número de escolas tem vindo a aumentar significativamente.
Ficam assim registadas as escolas que no âmbito da legislação (Portaria nº 691/2009, de
25 de Junho) celebram protocolos de articulação sendo consideradas Escolas de Referência:

EB 2/3 de Lousada;
EB 2/3 de Nevogilde;
EB 2/3 de Lustosa;
EB 2/3 de Caíde;
EB 2/3 de Paços de Ferreira;
Escola Secundária de Lousada.

14
O Projeto Educativo do Conservatório do Vale do Sousa, intitulado Educação pela Música…e
para a Música (2012, p. 11) trata uma filosofia de ensino capaz de servir, eficazmente, a sua
população, respondendo «(…)às reais necessidades da população, contribuindo para a criação
duma verdadeira Escola onde o processo educativo seja um processo globalizante, capaz de
criar cidadãos conscientes, críticos e responsáveis». Assim, outro aspeto importante baseado
nestas ideologias de ensino é o de incorporar princípios flexíveis capazes de contemplar as
diferentes procuras de cada indivíduo e de cada grupo, tendo em conta os seus múltiplos
aspetos: social, económico e cultural.
Desta forma, o Projeto Educativo assenta em particular no Regime Articulado, opção por
excelência, de modo a contribuir para uma formação mais completa de cada indivíduo no que
respeita ao papel fundamental que a música desenvolve a nível pessoal e profissional,
transformando assim a sociedade e devolvendo-lhe novos cidadãos.

1.2.2. A turma de Formação Musical

A turma de Formação Musical selecionada para a implementação do projeto de intervenção


pedagógica frequentava o 2º grau do ensino básico do curso vocacional de música. Tendo em
conta o regime frequentado, regime articulado, as duas aulas semanais de Formação Musical
ocorreram numa das escolas de referência em parceria com o Conservatório do Vale do Sousa,
EB 2/3 de Lousada.
A turma era composta por 14 alunos (constituía o 1º turno da turma 6º E), com uma média
de idades compreendidas entre os 11/12 anos.

Turma de Formação Musical


2,5
Nº de Alunos

2
1,5
1
0,5
0

Classe Instrumental

Gráfico 1: Número de alunos por classe instrumental

15
No que respeita à carga horária semanal, os alunos frequentavam 90’+45’ de Formação
Musical, tendo em conta o plano de estudos do curso Básico de Música ao abrigo da Portaria nº
225/2012, de 30 de julho. Desta forma, para além dos tempos letivos mínimos constantes, 0,5
unidade letiva (correspondente a 45’) era integrada na disciplina em questão (ver imagem 1).

Imagem 1: Portaria nº 225/2012 de 30 de julho, Anexo nº 3

Deste modo, o plano de estudos das disciplinas da componente de formação vocacional


ministradas no estabelecimento do ensino artístico em causa era o seguinte:

Formação Vocacional Carga Horária Semanal (min.)


Instrumento 90
Formação Musical 90 + 45
Classe de Conjunto 90
Quadro 2: Plano de estudos das disciplinas da componente de formação vocacional no Curso Básico

Ao longo do período de observação direta não participante em sala de aula, desde meados
do mês de outubro, a turma revelou-se bastante motivada, entusiasmada e empenhada. A nível
geral revelaram um bom comportamento, à exceção de um aluno que maior parte das ocasiões
interferia negativamente na aula influenciando assim a atenção dos colegas.
As partes da aula estiveram sempre muito bem estruturadas e o tempo de aula bem
aproveitado e dividido para as atividades planeadas. Consequentemente, os alunos
demonstraram sempre uma boa dinâmica, no entanto, enquanto maior parte da turma revelava

16
uma excelente participação e atenção, um reduzido número de alunos revelava baixo nível de
atenção e consequente participação ativa nas aulas.

1.2.3. A turma de História da Cultura e das Artes

A turma de História da Cultura e das Artes selecionada para a implementação do projeto de


intervenção pedagógica frequentava o 6º grau do curso complementar, em regime articulado.
Tendo em conta o regime frequentado, uma das aulas semanais ocorria numa das escolas de
referência em parceria com o Conservatório do Vale do Sousa, Escola Secundária de Lousada.
A turma era composta por 12 alunos, com uma média de idades compreendidas entre os
16/17 anos.

Turma de História da Cultura e das Artes


3,5
Nº de Alunos

3
2,5
2
1,5
1
0,5
0

Classe Instrumental

Gráfico 2: Número de alunos por classe instrumental

No que respeita à carga horária semanal, os alunos frequentavam 90’+45’ de História da


Cultura e das Artes, perfazendo assim um total de 135’, tendo em conta o plano de estudos do
curso Complementar de Música ao abrigo da Portaria nº 243-B/2012 de 13 de agosto (ver
imagem 2). Desta forma, a carga horária de História da Cultura e das Artes era dividida em dois
blocos: 90’ + 45’. A aula de 45’ era ministrada no Conservatório do Vale do Sousa à segunda-
feira, enquanto a aula de 90’ era ministrada na Escola Secundária de Lousada, decorrendo à
quinta-feira.

17
Imagem 2: Portaria nº 243-B/2012 de 13 de agosto, Anexo II Parte A

Ao longo do período de observação não participante que ocorreu entre meados do mês de
outubro e meados do mês de janeiro, a turma revelou-se bastante participativa, empenhada e
motivada. Acompanhavam todas as aulas com questões pertinentes de modo a ficarem
elucidados acerca dos conteúdos abordados e tiravam os seus próprios apontamentos para
futuramente estudarem em casa. Revelaram um comportamento adequado e um excelente nível
de atenção sem nunca se sobressair nenhum aluno de forma negativa.

1.3. Plano Geral de Intervenção: objetivos e estratégias

Em meados do mês de outubro, após definição concreta do tema de intervenção e


consequente contacto com os orientadores cooperantes (Isadora Rodrigues de Formação
Musical e Sílvio Cortez de História da Cultura e das Artes), foi possível iniciar a implementação
do projeto. Numa primeira fase através de observação não participante e, numa fase posterior,
observação participante.
O tema escolhido A importância da Improvisação e o seu papel na formação de jovens
músicos: contexto de Formação Musical e História da Cultura e das Artes refere-se à
necessidade de se promover o desenvolvimento de competências artísticas/musicais através da

18
improvisação. Pretende-se demonstrar, através de metodologias que incluem a prática da
improvisação na sala de aula, que esta pode ser um potencial pedagógico no sentido de uma
aprendizagem mais eficaz dos alunos, na aquisição de competências e na formação de jovens
músicos, contribuindo para uma maior motivação.
O ensino de música no nosso país é uma realidade cada vez maior e, por sua vez, para um
número cada vez mais significativo de crianças e jovens de camadas sociais díspares que
procuram diferentes saberes e conhecimentos tendo em conta as várias necessidades. Neste
âmbito, é necessário abandonar um modelo de ensino único e renovar as práticas pedagógicas
para atender às diferentes populações que frequentam este tipo de ensino (Ribeiro, 2013).
Neste sentido, colocam-se os seguintes objetivos:

I. Averiguar o papel da improvisação no processo de ensino/aprendizagem;


II. Contribuir para a renovação das práticas pedagógicas;
III. Diversificar as estratégias metodológicas no ensino da música;
IV. Libertar os alunos da partitura/escrita musical;
V. Promover uma aprendizagem eficaz ao nível das Ciências Musicais e da Formação
Musical.

Com intuito de responder aos objetivos idealizados, foram levadas a cabo algumas
estratégias pedagógico-investigativas tais como (no que respeita à Formação Musical):

I. identificação dos graus da escala e reconhecimento auditivo das funções tónica e


dominante;
II. Audiação de funções tonais;
III. Improvisação sobre padrões tonais: tónica/dominante;
IV. Improvisação sobre melodias familiares e não-familiares;
V. Elaboração de algumas fichas de trabalho nomeadamente Teste de Audiação de Funções
harmónicas (ver pág. 63 e Anexo VI);
VI. Realização de um Workshop de improvisação vocal;
VII. Elaboração de um questionário aos professores de Formação Musical no sentido de
averiguar as práticas pedagógicas utilizadas em contexto de sala de aula.

19
No contexto de História da Cultura e das Artes:

I. Elaboração de um questionário a todos os alunos de História da Cultura e das Artes do


Conservatório do Vale do Sousa com o intuito de investigar o seu conhecimento acerca do papel
da improvisação na História da Música;
II. Abordagem das práticas de improvisação em períodos antigos da História da Música;
III. Reconhecimento/distinção do conceito de improvisação nos ‘dias de hoje’ e do mesmo
na Idade Média (período abordado);
IV. Elaboração de um questionário aos alunos da turma de intervenção de História da
Cultura e das Artes com o intuito de realizar uma avaliação final.

A estratégia de formação foi objeto de avaliação através das seguintes fontes de informação:

I. Questionários aplicados aos alunos de História da Cultura e das Artes e aos professores
de Formação Musical;
II. Tarefas de aprendizagem (fichas de trabalho) realizadas pelos alunos nos dois contextos
de intervenção;
III. Áudios/vídeos do contacto dos alunos com a prática da improvisação no contexto de
Formação Musical;
III. Questionário de avaliação final no contexto de História da Cultura e das Artes;
IV. Relatórios reflexivos de aula.

20
CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

21
22
2.1. Improvisação e Criatividade: conceitos e fundamentos

O Dicionário Oxford de Música (Kennedy, 1994, p. 346) define o conceito de Improvisação


como «Uma execução de acordo com a inspiração do momento, ou seja, sem uma partitura
escrita ou impressa, e sem a intervenção da memória».
Shih (2012, p. 12) refere que:

The root of the world improvisation is from the Latin improvisus, which translates as “unforeseen” or
“unexpected”. Accordingly, improvisation is associated with doing something unprepared or dealing
with an unexpected situation. With a broader definition, improvisation seems to be omnipresent and
involves daily life experience.

Autores como Briggs (1987) e Levin (2015) afirmam que a improvisação é algo com o qual
temos algum tipo de contacto diariamente podendo funcionar como um diálogo musical. Levin
(2015) afirma que a improvisação é algo inerente ao nosso dia-a-dia na medida em que as
pessoas improvisam o seu diálogo adaptando-o a cada situação diária, de forma a lidar com
situações inesperadas. Briggs (1987) menciona a improvisação como um diálogo musical
afirmando que os padrões e processos de interação do modelo de som são comuns a cada
improvisação.
Azzara (2002) refere que quando o conceito de improvisação foi incorporado nas práticas
pedagógicas dos currículos de música, a mesma surgiu de várias formas e que o consenso em
relação à definição do termo e às suas consequentes habilidades se tornou um trabalho árduo
de conquistar. No entanto, segundo o autor, a definição de improvisação envolve sempre termos
como a habilidade de fazer música «espontaneamente» com normas musicais específicas.

I defined improvisation as a manifestation of musical though. (…) improvisation means that an


individual has internalized a music vocabulary and is able to understand and to express
musical ideas spontaneously, in the moment of performance. Improvisation is often
compared to speaking and conversation in language (Azzara, 2002, p. 172).

Por outro lado, a improvisação pode ser comparada ao processo de aprendizagem da língua
materna (Dobbins, 1980; Suzuki, 1983, 1993; Gordon, 2000; Azzara, 2002; Caspurro, 1999,
2006, 2007). A aprendizagem da linguagem e consequente aquisição de níveis de compreensão
discursiva desenvolve-se através de processos inicialmente discriminativos/comparativos. Numa
primeira fase aprende-se por imitação e, numa última fase, através da transferência de

23
conhecimento interiorizado discriminativamente. A isto, podemos chamar de aprendizagem por
discriminação e aprendizagem por inferência. Tal como na música, onde segundo Gordon
(2000), é a forma como se aprende a discriminar a música que é determinante para a
concretização dos níveis de generalização e transferência de conhecimento.
B. Dobbins (1980, p. 37) faz uma pequena comparação entre improvisação e o processo
de aprendizagem da língua materna:

Full proficiency in a verbal language must include the ability to command a considerable vocabulary
with equal facility at the reading, conversational, and intuitive levels. The development of proficiency
in a music “language” involves the same general process.

Como já foi referido anteriormente, os termos espontâneo e criativo, estão frequentemente


ligados à improvisação. «A ideia de que a improvisação é uma manifestação de pensamento
criativo é sustentada por praticamente todos os músicos, educadores e estudiosos» (Caspurro,
2006, p. 65).

(…) a actividade criativa tende a ser combinada com os processos musicais generativos de
composição e improvisação, uma combinação que muitos questionaram, considerando que nem
tudo o que ocorre em nome da “composição” e “improvisação” seja necessariamente criativo (…)
embora a composição e improvisação tenham sido vistas tradicionalmente como processos
criativos, estes não são necessariamente os únicos processos através dos quais a atividade criativa
é evidenciada (Barrett, 2000, p. 32).

Outro autor que menciona o termo criatividade no que concerne à aprendizagem musical é
John Paynter (1970). Segundo Mateiro (2010, p. 9), para Paynter

[o] ponto de partida é a técnica de composição e, em consequência, o desenvolvimento da


capacidade criativa do aluno. Argumenta a favor da criatividade como base para o currículo de
música nas escolas e sustenta esta conceção afirmando que a música é uma arte criativa em todas
as suas formas, ou seja, em sua composição (inventar), execução (interpretar) e audição (refazer a
música dentro de nós mesmos).

Apesar do termo criativo surgir frequentemente ligado à pedagogia musical e ao conceito de


improvisação/criação, há que salientar o que é de facto a criatividade. Segundo Barrett (2000),
apesar do termo ser usado de forma comum, poucos são os escritores na área da música que
chegam a um entendimento acerca de uma única definição, apesar de ser um aspeto de
especulação filosófica desde o tempo de Platão e Aristóteles. Por sua vez, Gardner (1993)

24
considera que chegar a uma única definição desse mesmo termo criatividade é um mito,
embora se chegue com mais facilidade a uma definição global da pessoa criativa.
Alguns autores (Gordon, 2000; Azzara, 1999) salientam algumas diferenças existentes em
torno dos conceitos improvisação e criatividade: a improvisação, apesar de parecer espontânea,
obedece a um conjunto de padrões já conhecidos por quem realiza essa prática.
Azzara (1999) faz a distinção entre os dois conceitos salientando o facto de que enquanto a
improvisação envolve técnicas e linhas de pensamento específicas que provêm de uma
aprendizagem anterior, a criatividade, por sua vez, envolve menos restrições que a improvisação.
Gordon (2000, p. 273) afirma que «Toda a criatividade é, até certo ponto, uma forma de
improvisação e toda a improvisação é, até certo ponto, uma forma de criatividade», no entanto,
faz a distinção entre os dois conceitos salientando que «enquanto um compositor cria uma
composição com uma lógica interna própria, um músico de Jazz improvisa Blues baseado numa
progressão estandardizada de padrões harmónicos». Para o autor, apesar de parecer
impensável improvisar sem a capacidade de criar, a diferença entre os dois conceitos reside na
temporalidade, ou seja, o facto de a criatividade ser uma questão de preparação e a
improvisação uma questão de reação imediata.
Mais uma vez, poderíamos adaptar estas ideias, sustentadas pelos autores mencionados, à
forma como se processa a linguagem. No nosso discurso, apesar de improvisarmos com
frequência, utilizamos uma série de linguagem e padrões provenientes de uma aprendizagem
anterior, uma vez que a nossa intenção é criar um discurso com sentido e com uma finalidade.
Para isso, não somos totalmente livres pois não inventamos novas palavras nem atribuímos
novos significados às palavras já existentes no nosso vocabulário. Desta forma, a improvisação
em música, apesar de incluir uma grande componente criativa no momento de execução, é
também feita obedecendo a uma série de padrões que vamos assimilando ao longo da nossa
aprendizagem musical.

2.2. A Improvisação no Ensino Vocacional da Música

To improvise is to speak the musical language of motion and pitch, without text, but clearly,
expressively and memorably. Jaques-Dalcroze thought of improvisation as basic to life, as an
expression of life, and as life itself (Abramson, 1980, p. 68)

25
A filosofia de educação e suas consequentes pedagogias têm evoluído ao longo dos anos e,
a prova disso, são as várias reformas educativas que vão surgindo com o passar do tempo com
o objetivo de redefinir os planos educativos tão tradicionais e presentes, ainda hoje, no nosso
atual sistema de ensino.

A educação deve inspirar-se na natureza e nas leis de desenvolvimento da criança atentamente


observadas, libertando-se de todo o entrave levantado pela tradição ou hábito que se traduzem
praticamente em decisões arbitrárias (G. Caló como citado em Chateau, 1956, p. 342)

Desde o século XVII/XVIII que teóricos como Comenius, Pestalozzi, Rousseau têm debatido
acerca do papel da educação e das suas pedagogias. Neste século, surge o conceito de que a
pedagogia é prática e ordem, verificando-se uma grande alteração neste sentido.
Atualmente pode dizer-se que o ensino conserva ainda um grande número de
características presentes na chamada pedagogia tradicional do século XVII. A pedagogia em
questão foi passando de geração em geração, de professores para alunos, padronizando um
código pedagógico que progressivamente se tornou tradição, atingindo o seu auge com o ensino
mútuo já no século XIX. Esforços são feitos no sentido de melhorar as práticas pedagógicas
existentes, no entanto, ainda hoje verificamos características presentes quer na pedagogia
tradicional, quer na nova pedagogia no ensino da música. As metodologias, como já foi referido,
passam de professores para alunos e ao que frequentemente se assiste é professores seguindo
a mesma rotina que os seus professores seguiam.

Por exemplo, para um professor do 2º ciclo que tenha seguido um modelo de ensino de leitura
musical, audição e movimento de forma tradicional (expositiva e diretiva), a improvisação e
composição em projetos assentes em pequenos grupos de trabalho autónomos pode ser encarada
de forma estranha» (Webster, 2001, p. 10)

Por outro lado, se analisarmos as duas formas de educação, a tradicional e a evolutiva,


podemos concluir que tanto a antiga como a recente não se encontram adequadas às
necessidades educativas. (Dewey, 1997)
É necessário, segundo Webster (2001), servir-se de metodologias diversificadas e, acima de
tudo, recorrer a um pensamento construtivista que nos ajude a reformular os modelos
curriculares atualmente existentes.

26
Um bom modelo educativo deve assentar numa sólida base, que sirva quer a música quer a
educação. Uma visão particularmente poderosa de aprendizagem é o construtivismo (…) O ponto
forte do Construtivismo é o enfoque na importância da criatividade e na motivação da aprendizagem
através da prática. A aprendizagem é mais eficaz quando abordada através de experiências práticas
concretas do que quando colocam o sujeito numa atitude passiva de recetor» (Webster, 2001, p. 8)

Desde o século XVII/XVIII que alguns pensadores, confrontados com questões nos domínios
do conhecimento e da aprendizagem, «defendem que o princípio de que a experiência concreta
com os problemas deve preceder a teorização, lançando as bases para a emergência do que
pode ser considerado o berço do novo paradigma de reflexão pedagógica da música» (Caspurro,
2006, p. 32).
Centrados na pedagogia tradicional, salvo raras exceções, poucos são os professores que
inovam as suas pedagogias e experimentam novos métodos e teorias com os seus alunos, de
forma a superar as suas dificuldades e lacunas ao nível da aprendizagem. Isso leva a que cada
vez mais um número alargado de alunos abandone o ensino da música, por falta de motivação
e, frequentemente também, pelas grandes dificuldades que sentem (Pedroso, 2004; Pinto,
2004; Sousa, 2004; Webster, 2001; Caspurro, 2006, 2007).

Como explicar, por exemplo, fenómenos ainda hoje recorrentes no universo dos alunos de formação
‘erudita’, como a dificuldade em improvisar, compreender harmonia, ler ‘à primeira vista’, transpor
ou tocar ‘de ouvido’, ou, de um modo geral, criar música? Que eficácia pode ser imputada a um
sistema de ensino que se revela incapaz de responder a problemas de realização que estão para
além da performance propriamente dita, da reprodução imitativa de notação e do conhecimento de
teoria? Enfim, questionar a qualidade do conhecimento é pôr em causa a própria qualidade do
paradigma de ensino instituído (Caspurro, 2007, p. 17)

Um músico, ou um aluno estudante de música, nunca poderá ser considerado verdadeiro


músico se não ouvir (Willems, 1970). Para combater esta lacuna à qual frequentemente se
assiste, as práticas pedagógicas deveriam ser repensadas e reformuladas o quanto antes,
incluindo atividades como criação, composição, improvisação, etc., porém, no ensino da música,
mais propriamente no círculo de cultura erudito, raramente se assiste a esse tipo de exercícios.
«Aquilo que, pela boca de alunos, continua a ser frequente ouvir-se dizer – a dificuldade em
compreender “a música que se dá no Conservatório – as notas, as pautas, o solfejo…” – deveria
constituir um sinal de questionamento e reflexão para os educadores» (Caspurro, 2006, p. 30).
Crê-se que as dificuldades de desempenho ao nível justamente da audição, da improvisação
e, genericamente, do pensamento e expressão criativos, incluindo também a iliteracia
notacional, continuam a caracterizar o perfil de grande parte dos alunos que frequentam o

27
ensino artístico. Uma das consequências disso é o facto de pouco se ter debatido ainda sobre o
papel da improvisação no processo de aprendizagem musical no ensino artístico. Raros são os
professores que promovem essa prática junto dos seus alunos e, mais raros ainda, são aqueles
que se questionam acerca das razões inerentes ao facto da maioria dos alunos não ser capaz de
improvisar. Improvisar é tarefa digna de desorientação e preocupação. Outra consequência
presente nas práticas pedagógicas atuais (em grande parte dos casos) é o facto de, em grande
média, os músicos saberem ler e escrever e não serem capazes de falar música, ou seja,
improvisar, aquela que deveria ser uma das suas primeiras competências, está ausente na sua
formação (Caspurro, 2006, 2007).

A criatividade tem vindo a conquistar um lugar privilegiado nos discursos educativos,


nomeadamente, nos que se debruçam sobre a música. Paradoxalmente, sendo a improvisação um
gesto genuinamente criativo, é com alguma resistência que a vemos empreendida no quotidiano das
práticas escolares, tendo-se tornado quase numa “propriedade privada” de restritos círculos
musicais, como o Jazz, alguma música popular ou qualquer outra tendência de tradição “não
erudita” de transmissão cultural baseada na oralidade. (Caspurro, 1999, p. 1)

Apesar de a improvisação estar intimamente ligada às práticas jazzísticas atuais, é


importante salientar a importância e a mais-valia que esta poderia acarretar nas escolas do
ensino artístico vocacional de música (cf. 2.3).

2.2.1. A prática da improvisação aplicada à Formação Musical

a) A importância da audição interior na improvisação

A improvisação musical trata um tema cada vez mais estudado e explorado por pedagogos,
professores, investigadores e intérpretes. No seguimento dessa investigação, surge um outro
conceito cada vez mais abordado e discutido nas práticas pedagógicas: a audição interior. «A
procura de terminologias ou alegorias que permitam explicar e sublinhar, de uma maneira clara
e concreta, a qualidade do processo de assimilação musical é um fenómeno constante na
reflexão educativa de todo o século XX» (Caspurro, 2007, p. 18).
Com base nesse conceito, vários são os pedagogos e investigadores que se preocupam em
defender a importância da audição na aprendizagem musical. Matthay (1913 como citado em
Caspurro, 2007, p. 18) aborda o problema da audição interior sublinhando a diferença entre
28
ouvir e escutar : «there is nothing more fatal for our musical sense, than to allow ourselves – by
the hour – to hear musical sounds without listening to them». O termo audição interior é
frequentemente utilizado por vários pedagogos como Willems, Orff, Kodály, etc, com o mesmo
sentido de escuta defendido por Matthay.
Jaques-Dalcroze utiliza o termo Eurritmia como conceito fundamental do seu método de
ensino e nele «(…) vê a melhor forma de designar os princípios subjacentes à escuta sonora e
cinestésica da música e, deste modo, a manifestação do desempenho musical intrinsecamente
interiorizado, do qual depende decisivamente o desempenho da improvisação» (Caspurro, 2007,
p. 18).
Por outro lado, Suzuki (1983, 1993), com o seu método específico para a aprendizagem do
violino, sublinha a ideia de que o processo de assimilação musical se compara ao da língua
materna desenvolvendo, com isso, os princípios da aprendizagem percetiva dos sons.
Swanwick (1996), seguindo a mesma linha de pensamento de Edwin Gordon, cria um
método o qual designou de C(L)A(S)P ao unir as primeiras sílabas das palavras que ele
considera essenciais na aprendizagem musical: C – Composition/Creativity; L – Literature; A –
Audition; S – Skills; P – Performance. O autor defende estes aspetos como sendo muito
importantes no que concerne à assimilação musical encontrando, de certo modo, uma ligação
com o termo audiação de Edwin Gordon.
John Paynter (1970) surge ainda neste contexto com o seu conceito de escuta criativa, ou
seja, refazer a música interiormente. Para o autor, a composição, a escuta criativa, a introdução
de música contemporânea nas escolas e a integração da música com outras áreas artísticas
formam aspetos essenciais para a abordagem da música em geral (Paynter, 1970; Mateiro,
2010). «O seu pensamento fundamenta-se nas ideias educativas características do início do séc.
XX, tendo como alicerce pedagógico os princípios da liberdade, descoberta e individualidade»
(Mateiro, 2010, p. 9).
Edwin Gordon, para salientar a importância da audição interior na aprendizagem musical,
cria, em 1980, o termo audiação. Este significa a capacidade de ouvir e compreender a música
quando o som se encontra ausente.

A audiação tem lugar quando assimilamos e compreendemos na nossa mente a música que
acabámos de ouvir executar, ou que ouvimos executar num determinado momento do passado.
Também procedemos a uma audiação quando assimilamos e compreendemos música que
podemos ou não ter ouvido, mas que lemos em notação, compomos ou improvisamos. (…) Pode-se

29
audiar enquanto se escuta, relembra, executa, interpreta, cria ou compõe, improvisa, lê ou escreve
música (Gordon, 2000, p. 16).

Todos os autores supracitados têm um único objetivo: a forma como a música é apreendida
e assimilada pelo sujeito. Assim, é muito importante a valorização dada ao canto, ao movimento
corporal, a atividades de escuta sonora, à improvisação – antes de toda a teoria (Caspurro,
2007). É de grande importância mencionar a audiação como um ponto imprescindível na
aprendizagem musical.

(…) a criação do termo audiação resulta não apenas da incontornável subjectividade terminológica
que a simples palavra ‘audição’ encerra, como, e sobretudo, da necessidade de diferenciar a
qualidade do processo de conhecimento musical envolvido no acto de ouvir do fenómeno puramente
perceptivo» (Caspurro, 2007, p. 21).

O músico capaz de audiar agrupa em si um conjunto de competências que lhe permitem


um maior raciocínio da música em todas as suas componentes e que o torna capaz de entender,
no sentido literal da palavra, o que executa, o que lê e o que ouve. A forma como se ouve e o
que se ouve é que dita a diferença entre um singular ouvinte e um verdadeiro músico. Daí, tal
como na aprendizagem da língua materna, quanto mais palavras agruparmos no nosso
vocabulário, mais rico ele será. Na música, será mais rico quem conseguir audiar todas as
componentes musicais tais como: sintaxe musical (como se ouve), padrões tonais e padrões
rítmicos (o que se ouve) (Caspurro, 2006, 2007).
Devido à importância que o conceito encerra, este deveria ser debatido e aprofundado por
todos os músicos, inclusive professores. Face às dificuldades frequentemente sentidas por parte
dos alunos que leva à procura de diversas soluções por parte dos professores, o conceito de
audiação, quando inserido nas práticas pedagógicas, pode apresentar-se como uma forma de
recurso com o objetivo de resolver dificuldades comuns dos alunos.

(…) como nem todos os alunos partilham das mesmas capacidades, só através da compreensão
das características da audiação e da aptidão musical é possível tomarmos realisticamente
consciência de como melhor poderemos dar resposta, como professores (…), às necessidades
individuais de cada aluno, no que diz respeito ao seu desempenho musical (Gordon, 2000, p. 16).

Segundo Caspurro (2006), o processo de audiar constitui um desenvolvimento ou evolução


qualitativos. A compreensão da música não se trata de um processo linear, ou seja, a forma
como se processa a compreensão musical (a forma como se ouve, como se interpreta, como se

30
improvisa, como se compõe, como se lê), pode manifestar-se de diversas formas. «A atribuição
de significado musical a uma obra relaciona-se com a qualidade ou grau de complexidade com
que se manifesta a compreensão do sujeito. Isto é: traduz o seu estádio de audiação» (p. 49).
Assim, Gordon atribuiu 6 estádios de audiação sequenciais que representam níveis de
desenvolvimento ou compreensão musical (ver Quadro 3). O autor distingue-os ainda dos tipos
de audiação que «(…) representam diferentes modos de desempenho, através dos quais os
sujeitos realizam a compreensão de música, seja qual for o estádio de audiação em que se
encontram» (Caspurro, 2006, p. 49) (ver Quadro 4). Gordon (2000) explica a relação entre os
estádios e os tipos de audiação da seguinte forma: «nem todos os tipos incluem exatamente os
mesmos estádios e, embora os estádios sejam sequenciais, os tipos não o são; contudo, alguns
tipos servem de preparação para outros» (p. 28).

Estádio 1 Retenção momentânea


Estádio 2 Imitação e audiação de padrões tonais e rítmicos, e reconhecimento e
identificação de um centro tonal e dos macrotempos
Estádio 3 Estabelecimento da tonalidade e da métrica, objectiva e subjectiva
Estádio 4 Retenção, pela audiação, dos padrões tonais e rítmicos organizados
Estádio 5 Relembrança dos padrões tonais e rítmicos organizados e audiados
noutras peças musicais
Estádio 6 Antecipação e predição de padrões tonais e rítmicos
Quadro 3: Estádios de Audiação (Retirado de Gordon, 2000, p. 34)

Tipo 1 Escutar Música familiar ou não-familiar


Tipo 2 Ler Música familiar ou não-familiar
Tipo 3 Escrever Música familiar ou não-familiar
ditada
Tipo 4 Recordar e executar Música familiar memorizada
Tipo 5 Recordar e escrever Música familiar memorizada
Tipo 6 Criar e Improvisar Música não-familiar, durante a
execução, ou em silêncio
Tipo 7 Criar e Improvisar Leitura de música não-familiar
Tipo 8 Criar e Improvisar Escrita de música não-familiar
Quadro 4: Tipos de Audiação (Retirado de Gordon, 2000, p. 29)

Os tipos de audiação estão organizados por uma ordem de dificuldade crescente. Isto é, o
primeiro tipo é o mais simples enquanto o último se refere ao mais complexo. Um aluno que

31
consiga alcançar o tipo 8 será capaz de articular os vários tipos de audiação, no entanto, um
aluno que consiga alcançar apenas o tipo 1, não consegue outro tipo (Gordon, 2000).
A improvisação musical está inserida apenas nos 3 últimos tipos revelando, por isso, uma
capacidade de audiar mais complexa. Para o autor em questão, uma pessoa capaz de
improvisar deverá em primeiro lugar ser capaz de escutar, ler, escrever, recordar e executar
música familiar, não-familiar ou memorizada. Para além disso, quando é realizada a prática de
improvisação, o aluno deverá ser capaz de improvisar em diversos contextos: durante a
execução, em silêncio, na criação de uma nova obra, ler uma obra não-familiar, etc… Assim,
podemos concluir que a improvisação trata uma área complexa mas essencial na formação dos
alunos enquanto estudantes de música, potenciando os seus níveis de audiação. Os três tipos
que incluem o ato de improvisar deveriam ser estimulados nas disciplinas do ensino vocacional
com o objetivo de formar bons ouvidos e bons alunos capazes de enfrentar as possíveis
dificuldades que possam advir no futuro.

b) A dependência do código escrito

O atual sistema de ensino, mais precisamente o que se refere ao estudo da música erudita
ocidental, está demasiado voltado para o tão tradicional código de escrita musical. Atualmente,
maior parte dos professores entregam toda a sua atenção ao domínio da notação musical e da
leitura por parte dos alunos do que propriamente à audição, ao ouvir e perceber o que realmente
acontece quando os alunos ouvem música. Será que compreendem todos os processos que
ocorrem em torno da música na prática? Couto (2009, p. 97) afirma que «(…) o ensino
tradicional da música dá grande ênfase ao desenvolvimento da capacidade de dominar os
códigos de escrita musical». Por outro lado Caspurro (1999, p. 14) considera que a
sobrevalorização da leitura e da escrita constitui uma problemática associada à aprendizagem e
execução musicais nos conservatórios, criando-se uma relação de grande dependência.
Todos sabemos também que, a par do aumento significativo de alunos no ensino vocacional
da Música nas últimas décadas, a qualidade do mesmo não tem acompanhado este progresso,
tal como era previsto (Cruz, 2010).

Com a melhoria do nível sócio-económico da generalidade da população portuguesa e com uma


maior democratização das possibilidades de acesso ao ensino, a música passou a fazer parte das
escolhas de pais e encarregados de educação como atividade de ocupação dos tempos livres, de

32
enriquecimento cultural, intelectual e social e, eventualmente, mesmo como futura profissão (Sousa,
2004, p. 20).

O bem-vindo alargamento a um maior número de alunos do ensino da música em Portugal que se


tem verificado nas últimas décadas (e de forma exponencial nos últimos anos) não tem sido
acompanhado, como todos sabemos, da qualidade de ensino que desejaríamos. São difíceis as
condições do ensino da música (…) Mesmo assim, há muitos professores que fazem um bom
trabalho, por vezes excelente, apesar de espartilhados por imposições ministeriais totalmente
desligadas da realidade social e dos contextos escolares existentes. No nosso sistema de ensino, a
vários níveis, a avaliação dos alunos está profundamente errada. (…) Para quê insistir na leitura,
cedo demais, sabendo que é impossível a aprendizagem cognitiva se os alunos não têm bases
sensoriais para perceber um código que traduz uma “linguagem” que lhes é estranha? (Cruz, 2010,
p. 17).

Caspurro (2007) defende que maior parte das dificuldades sentidas pelos alunos ao nível
da audição, da improvisação, da iliteracia musical, do pensamento e expressão criativos,
residem no facto de maior parte das abordagens pedagógico-didáticas não basear os seus
métodos numa teoria psicológica e sequencial dos processos envolvidos no ato de ouvir. No
entanto, mais do que fazer música, importa como é de facto apreendida e assimilada pelo
sujeito. Se tivermos em atenção este último ponto, talvez assim possamos melhorar a qualidade
de ensino vigente. A autora defende ainda que a importância dada ao canto, ao movimento
corporal, a atividades de escuta sonora e à improvisação, deveriam anteceder a aprendizagem
da teoria, da leitura e escrita musical, para assim transformarmos o atual paradigma de ensino.
Atente-se à seguinte citação: «(…) sempre resisti à leitura musical nos primeiros estágios da
educação, porque ela incita muito facilmente a um desvio da atenção para o papel e para o
quadro-negro, que não são os sons» (Schafer, 1991, p. 307).
Outro facto que leva à sobrevalorização do código escrito é o caso da notação tradicional
estar frequentemente ligada ao conceito de literacia musical, um tema abordado com pertinência
nas últimas décadas.

O uso de notação tradicional tem também estado frequentemente “amarrado” ao conceito de


literacia musical (Barrett, 1998 como citado em Pedroso, 2004, p. 9). Sendo inegável que o
domínio do código musical escrito é fundamental no âmbito da música erudita ocidental, a literacia
musical não pode ser entendida apenas com base nele.

Cruz (2010, p. 17) defende que «(…) mesmo sendo a literacia musical um objetivo
educativo, um “fim”, a parte referente à leitura e à escrita só é importante se servir para fazer

33
música, ouvir melhor, conhecer repertórios, compor, perpetuar, lembrar, servir os compositores
ou a memória coletiva».
Apesar de todas as discussões por parte de autores e pedagogos em torno da excessiva
dependência do código escrito, a verdade é que essa sujeição continua a existir em demasia no
nosso atual sistema de ensino. Tomemos como exemplo uma aula de formação musical nos
conservatórios e academias de música. Quantas vezes vemos a prática repetida e insistente de
leituras, ditados, intervalos, etc…? Quantas vezes vemos professores darem demasiada atenção
à escrita muito antes de os seus alunos saberem exatamente do que aquilo se trata, muito antes
de conseguirem ouvir? Quantas vezes vemos as repetidas e tão tradicionais aulas de formação
musical acontecerem, levando ao insucesso e abandono por parte dos alunos no ensino
vocacional da música?

É significativo, por exemplo, que as frequentes dificuldades de improvisação melódica e tonal


demonstradas por alunos do ensino artístico estejam associadas a também frequentes problemas
de compreensão harmónica. É significativo como a insistência por estratégias baseadas em escalas
e intervalos – note-se que estes assuntos são continuamente repetidos ao longo dos oito ou mais
anos de ensino do conservatório – não é suficiente para gerar no aluno a capacidade de generalizar
e criar. É significativo, por fim, que a prática continuada e repetida de leituras e ditados não sirva
para evitar os elevados níveis de insucesso escolar, concretamente no plano da leitura e escrita
notacional. (Caspurro, 1999, pp. 12-13)

Neste sentido, de acordo com Cruz (2010), é crucial fazer com que os alunos não
dependam sempre da partitura que tantas vezes os condiciona; é necessário cantar, desenvolver
a audição, a memória, ouvir interiormente, «ler música» sem estar associada à escrita, não
perder o contacto visual com o professor e «reagindo musicalmente».

2.2.2. A prática da improvisação ao longo dos vários períodos da História da Música

O fenómeno da improvisação esteve sempre presente ao longo de toda a História da Música


ainda que, por vezes, esse facto não seja bem notório dado que maior parte da música era
registada por escrito. A improvisação é a forma mais natural e alargada no domínio da criação
da música e constitui-se como uma vertente importante nas mais variadas tradições musicais.
Podemos dizer que a música improvisada se encontra presente em todas as culturas.

34
Esta prática pode ser considerada como um processo de composição ou, por outro lado,
como algo espontâneo que o intérprete cria no momento da performance. O processo de
composição, ou o simples ato de compor, pode ser considerado um ato de improvisação na
medida em que o compositor cria algo, no entanto, a diferença entre os dois conceitos
(improvisação no processo de composição e improvisação no processo da performance) reside
na temporalidade. Ou seja, o tempo de escolha e decisão no momento da performance é
exatamente o mesmo, enquanto no processo de composição existe a possibilidade de voltar a
decidir. A temporalidade na performance é linear, contínua e irreversível, na composição é
sumativa, cumulativa e reversível.
Assim, neste contexto, criar uma obra, ornamentar uma peça instantaneamente ou até
mesmo a própria interpretação do músico no momento da performance, podem ser
considerados atos de improvisação.

Na improvisação, há apenas um momento. A inspiração, a estruturação e a criação da música, a


execução e a exibição perante uma plateia ocorrem simultaneamente num único momento em que
se fundem memória e intenção (que significam passado e futuro) e intuição (que indica o eterno
presente). O ferro está sempre em brasa (Nachmanovitch, 1993, p. 28).

Neste sentido, ao analisar os vários períodos da História da Música, verificamos que desde
cedo se encontram referências ao ato de improvisar.

Essa alegria de improvisar enquanto se canta ou se toca um instrumento é evidente em quase todas
as fases da história da música. Essa foi sempre uma força poderosa na criação de novas formas, e
todo o estudo histórico que se limita à prática ou às fontes teóricas que nos foram deixadas de
forma escrita ou impressa, sem levar em conta o elemento de improvisação e a vivência da prática
musical, deve ser considerado necessariamente como algo incompleto, certamente um retrato
distorcido. Pois quase não há um único campo na música que não tenha sido afetado pela
improvisação, nem uma técnica musical ou forma de composição que não tenha tido origem na
prática improvisadora, nem que não tenha sido influenciado essencialmente por ela. Toda a história
do desenvolvimento da música é acompanhada por manifestações de impulsos para se improvisar
(Ferand, 1961 apud Bailey, 1992 como citado em Lima & Albino, 2009, p. 98).

Nos períodos passados da História da Música a tradição/transmissão oral era frequente


pelo que existia alguma liberdade de expressão, entendida também como improvisação. Ao
longo dos tempos, essa tradição oral foi-se extinguindo dando origem à ‘tão’ atual tradição
escrita.
Apesar de muitos autores fazerem apenas referência à improvisação a partir do período
Barroco, esta já existia há muito tempo na história, inclusive na Idade Média (uma vez que as

35
principais fontes documentais datam dessa época) ainda que de uma forma mais
«inconsciente». Isto é, como a transmissão oral permitia a liberdade de interpretação, as
interpretações variavam de intérprete para intérprete, culminando num improviso.

Depois do colapso da cultura greco-romana, a música da Europa Ocidental era transmitida


oralmente, e as novas composições eram muito provavelmente aperfeiçoadas através da
performance ou criadas espontaneamente através da improvisação (Shih, 2012, p. 16).

Até ao século IX, o cantochão desconheceu qualquer sistema notacional, ou seja, tudo se
processava através da tradição oral. Na prática, sempre que era necessário criar uma peça para
um momento novo, a composição processava-se com base em fórmulas pré-existentes que
constituíam uma espécie de «depósito da tradição». Neste sentido, acreditou-se durante muito
tempo na sacralidade da tradição gregoriana e, assim, foi possível garantir a continuidade de um
repertório durante séculos sem que existisse algum tipo de notação. Crê-se que era difícil
assumir o papel de solista neste período uma vez que este precisava de 10 anos para
memorizar todo o repertório litúrgico devido à ausência de notação (Borges & Cardoso, 2008).
Ainda nesta época quando surge a necessidade de uniformizar o repertório em regiões
distantes, começam a utilizar-se alguns sinais, ou acentos com função musical, com o objetivo
de ajudar na memória do cantor. Estes sinais denominavam-se neumas que eram já utilizados
no canto gregoriano. Os primeiros manuscritos com estes sinais datam do século VIII/IX e os
últimos do século XIV.

Tomando como exemplo a Europa da Idade Média [verificamos que] (…) o sistema de notação
musical, ainda rudimentar tanto para as alturas quanto para as durações, permitiu que alguns
componentes da música fossem alterados, recombinados e finalmente memorizados na forma final
da ideia musical. Nesse período as atividades de compor, executar e improvisar fundiam-se na
mesma pessoa: a improvisação foi um recurso bastante utilizado (Lima & Albino, 2009, p. 99).

Ao longo da Idade Média o sistema notacional foi-se aperfeiçoando. Já no século XII, com a
Escola de Notre-Dame, surgem os primeiros modos rítmicos, notação mensural, sempre com
ritmo ternário (significando ‘perfeição’).

Aparecem neste período os primeiros teóricos da música medieval. Surgem as primeiras figuras da
notação mensural (Máxima, longa e breve) e a Música subordina-se aos ritmos de acentuação
ternária, considerados «perfeitos», utilizando os «modos rítmicos» (ou pés métricos) tomados da
poesia (Borges & Cardoso, 2008, p. 73).

36
O fenómeno dos tropos e os primeiros manuscritos sobre polifonia foram duas das muitas
circunstâncias que, ao longo da Idade Média, acompanharam o aparecimento da escrita musical
na música Ocidental. Deste modo, a improvisação foi aos poucos perdendo espaço devido à
busca de uma tradição escrita e sustentável. Vários são os autores que neste sentido defendem
que a improvisação começa a desaparecer na cultura Ocidental à medida que se desenvolve o
sistema de notação (Nachmanovitch, 1993; Borges & Cardoso, 2008; Lima & Albino, 2009;
Stanciu, 2010).
O aparecimento da notação veio, em grande parte, limitar o uso da improvisação no
entanto, no período Barroco ainda é claro o uso dessa prática principalmente no que se refere à
era do Baixo Contínuo.

Em relação ao Renascimento, a música barroca introduz inovações estruturais como expressão de


uma transformação interior: a harmonia maior-menor, o baixo contínuo, o princípio concertante, a
monodia, o moderno sistema de compassos. (…) O baixo contínuo é o fundamento harmónico da
música barroca. A voz mais grave, duplicada facultativamente numa obra polifónica do séc. XVI
(basso seguente), transforma-se, no Barroco, num elemento essencial da composição: uma linha do
baixo ininterrupta (basso continuo) que, com a sua harmonia implícita (realizada pelo executante do
B. C. apesar de não estar escrita), serve de base para as vozes concertantes (Michels, 2007, p.
307).

No período Barroco era frequente instrumentistas de tecla improvisarem sob uma harmonia
pré-definida, utilizando para o efeito apenas a linha do baixo. Segundo Stanciu (2010), foi esta
arte de tocar um instrumento de teclas a partir do baixo cifrado (ou também denominado baixo
contínuo) que influenciou os atuais músicos de jazz que criam música a partir de temas, motivos
e/ou estruturas pré-definidas.
Deste modo, o ato de improvisar no período Barroco, ao contrário da Idade Média,
manifestava-se conscientemente, propositadamente e de forma natural.

(…) no período barroco, apesar de o sistema notacional já estar praticamente consolidado, a


improvisação ainda foi muito utilizada. Havia a clara intenção de improvisar em música, talvez por
força de uma tradição oral que fazia parte do cotidiano musical (Lima & Albino, 2009, p. 99).

Uma boa parte da improvisação neste período esteve associada à prática do baixo contínuo.
Como já foi referido, era executado obrigatoriamente por um músico instrumentista de teclas
(cravo ou órgão) que, por norma, também poderia ser acompanhado por violoncelo, viola de
gamba ou fagote. Neste caso, o instrumentista de teclas com a mão esquerda deveria tocar o

37
baixo e, com a mão direita, improvisar sob a harmonia indicada através da notação cifrada
convencional (ver imagem 3).

Imagem 3: Sonata BWV 1030 de J. S. Bach – 2º Mov. (Comp. 11-12)


(Exemplo retirado de Almeida, 2006, p. 23)

Neste sentido, J. S. Bach « (…) foi mais conhecido como um exímio improvisador do que
como compositor (…) das suas improvisações restam apenas depoimentos de seus
contemporâneos que puderam testemunhar essa sua habilidade (Lima & Albino, 2009, p. 99).
Para além da prática do baixo contínuo onde era comum a prática da improvisação, existia
ainda outros espaços destinados a esse fenómeno por parte dos intérpretes. Partindo do
princípio de que toda a repetição em música deve trazer algo novo, nesta época era de esperar
que o intérprete desse um novo sentido à música, ou seja, que executasse mais do que aquilo
que estava escrito. E, por norma, esses acontecimentos aconteciam nas repetições propícias à
improvisação: através de ornamentações, da expressividade colocada numa peça, a mudança de
andamento ao longo da mesma, etc… (Lima & Albino, 2009).
Já no período Clássico, a prática de improvisação passou a ter um papel mais restrito à
medida que a notação ia evoluindo, até que as partituras começaram a incluir cada vez mais
indicações que limitavam a liberdade criativa do intérprete. Outro motivo que nesta época levou
ao declínio da improvisação, foi o facto de o grupo de instrumentistas (cada vez maior) exigir a
presença de um regente que não fosse intérprete, enquanto no Barroco o regente do grupo era o
instrumentista do cravo ou órgão. Contudo, apesar de todas as características evolutivas que
surgem nesta época, a prática da improvisação ainda era permitida na cadenza dos concertos,
onde o solista tinha oportunidade de exibir a sua técnica através de uma passagem virtuosista.
Corelli e Haendel são dois dos principais compositores que incluíram essa passagem nas suas
obras, pois apesar de estar incluída no período Clássico esta técnica foi criada no Barroco.

38
Ao longo do tempo, com a notação cada vez mais presente, os intérpretes deixaram de ter
criatividade nas suas interpretações e, com isso, dificuldade na capacidade de improvisar.

Entretanto, não demorou muito para que os futuros compositores passassem a escrever suas
próprias cadenzas, principalmente quando perceberam nos executantes certo declínio na
capacidade de improvisar. Beethoven foi o primeiro a fazer isso no Concerto para piano forte n. 5,
em mi bemol maior, op. 73 (1809) – o Imperador.
Gradualmente, os compositores foram adotando uma escrita musical extremamente precisa,
abolindo qualquer espaço para a improvisação. Tal procedimento seguiu até ao serialismo integral
no século XX (Lima & Albino, 2009, p. 101).

Vários foram os motivos que, progressivamente, levaram ao desaparecimento da


improvisação na música clássica ocidental: o aperfeiçoamento do sistema notacional; o prestígio
e influência que os regentes passam a ter na condução das orquestras; a separação gradual que
se estabeleceu entre a figura do compositor e do intérprete, etc… Tomando este último como
exemplo, podemos verificar que o mesmo teve um peso considerável na questão que se coloca.
Se no passado as peças eram exercidas por um único músico (que fazia o papel de compositor e
intérprete), agora passamos a ter dois (ou mais) agentes: o compositor a quem resta compor, e
o intérprete que executa apenas o que está escrito na partitura. Dessa forma, nem os
compositores disponibilizavam espaço para a improvisação, nem os intérpretes se mentalizavam
com tal decisão (Lima & Albino, 2009).
Com todos estes factos, e com a sacralização da partitura no Iluminismo, a improvisação foi
abandonada em quase todas as execuções musicais. No período Romântico, o fenómeno
consumou-se como uma atividade de pouca importância; a técnica era utilizada apenas pelos
compositores ao escreverem as suas peças ou então ao improvisarem sobre obras de outros
compositores, em contexto casual.
Porém, se até aqui a improvisação tinha sofrido restrições devido à busca de uma notação
musical precisa (um dos fortes motivos), na passagem entre o séc. XIX e XX o papel inverte-se.
Com a grande evolução do meio cultural e social (principalmente no que respeita à evolução dos
meios de comunicação, tecnológicos e de transporte) os ideais alteram-se também no que diz
respeito à busca de «(…) novos conhecimentos sobre o espírito e a matéria capazes de criar de
novo um espaço para uma maneira unitária de ver e viver a existência, condição necessária para
qualquer cultura, arte e música» (Michels, 2007, p. 519).

39
No final do século XIX a improvisação reaparece mais precisamente no domínio do Jazz e,
mais tarde, através da música contemporânea – componente essencial desta época onde os
compositores lutavam no sentido de obter algo autêntico, original e, acima de tudo, diferente.

O séc. XX é o século da nova música (música nova, música contemporânea, modernidade,


vanguarda). Nova música existiu também noutras épocas (…) No entanto, a ruptura com a história
provavelmente nunca foi tão forte como no séc. XX, e isto graças à renúncia da tonalidade
(Schoenberg), até chegar ao abandono do conceito tradicional de música e de obra na sua
totalidade (Cage) (Michels, 2007, p. 519).

Neste período assistimos a uma expansão da área de indeterminação nas composições e uma
liberdade interpretativa a níveis jamais vistos na história da música ocidental, despojando muitas
vezes a composição de qualquer vestígio de controle advindo do compositor. Também nesse
período, os meios tecnológicos que haviam sido empregados como proibitivos da liberdade
interpretativa foram utilizados como ferramentas adicionais para a produção sonora (Lima & Albino,
2009, p. 104).

Nesta época (mais precisamente na música posterior a 1950) surge então a chamada
música serial, música eletrónica, música aleatória e música pós-serial.

O serialismo integral, onde o princípio serial de organização dos sons não se dá apenas nas alturas,
mas também nas durações, ataques e dinâmicas, proporcionou um controle quase que absoluto,
até doutrinário do compositor sobre a sua obra. Coincidentemente é nessa época que a música
eletrónica também se desenvolve na Europa, podendo inclusive adotar o serialismo dentre outras
práticas composicionais. Na música eletrónica, o compositor podia trabalhar seu material
diretamente, podendo ouvi-lo em seguida, sem necessitar de um intérprete. Esse comportamento
cria um canal direto de comunicação entre o compositor e sua obra (Lima & Albino, 2009, p. 105).

Na mesma época, nos EUA, menciona-se a música aleatória como a principal representante
da música dita ‘experimental’, cujo resultado não é previsível (Michels, 2007, p. 549).
Surge então neste contexto o compositor John Cage. Cage é o inventor do «piano
preparado» (Bacchanale, 1938 como citado em Michels, 2007, p. 549) onde utiliza acessórios
extra para alterar o som do mesmo tais como: pedaços de papel, de madeira, de metal, etc…
(Michels, 2007). Uma das famosas obras do compositor que levou a música aleatória ao
extremo foi a peça 4’33’’ (tacet em três andamentos, 1952) (ver imagem 4).

Ao mesmo tempo, surge nos EUA uma outra corrente, incoporando o aleatório, a indeterminação e
a improvisação na música erudita. (…) A partitura 4’33’’ escrita por Cage, em 1952, leva ao
extremo o conceito de acaso e indeterminação. Não há na obra uma única nota escrita, apenas a
indicação tacet (não toque) e o tempo que isso deve durar (4 minutos e trinta e três segundos)
(Lima & Albino, 2009, p. 105).

40
Imagem 4 – 4’33’’: manuscrito escrito pelo próprio autor John Cage
(Retirado de Stanciu, 2010, p. 9)

A partir desta época, com o objetivo de oferecer maior liberdade ao intérprete e, em alguns
casos, maior fidelidade às ideias do compositor nascem as partituras gráficas como é o caso
também da peça Music for Cello and Piano de Earle Brown, composta em 1955 (ver imagem 5).

Imagem 5 – Music for Cello and Piano de Earle Brown, 1955.


(Retirado de http://www.earle-brown.org/works/view/19)

Certos compositores detetaram que o sistema notacional tradicional já não atendia mais às
necessidades composicionais. Efeitos extraídos com muita dificuldade das partituras do serialismo
integral podiam ser obtidos de uma forma mais interessante e espontânea utilizando-se a

41
indeterminação. (…) Muitas das partituras gráficas nasceram da intenção dos compositores em criar
um sistema notacional apropriado às novas ideias. Em algumas dessas obras concentravam-se em
igual medida, a fidelidade às ideias do compositor e uma liberdade interpretativa até então não
reconhecida nas partituras que seguiam a notação tradicional (Lima & Albino, 2009, pp. 105-106).

A improvisação teve o seu auge no período moderno (a partir do séc. XVIII) e mais
acentuadamente no século XX porém, posteriormente, a prática foi caindo novamente em
desuso e os intérpretes continuaram a seguir todas as indicações da partitura de forma integral.
A tradição escrita tem uma forte influência na música erudita ocidental, sendo um dos principais
motivos da decadência dessa prática no repertório erudito ocidental.

2.3. A improvisação aplicada ao Jazz

A prática musical jazzística, de onde provém o termo Jazz, nasceu e propagou-se ao longo
do séc. XX espalhando-se por todo o mundo.
A sua origem é um mistério por decifrar uma vez que, até hoje, ninguém conseguiu
encontrar as suas verdadeiras raízes, porém, é frequentemente atribuída aos E.U.A. mais
precisamente a Nova Orleães:

[Os escravos africanos] (…) inventaram, pois uma música nova com novas sonoridades, novas
acentuações rítmicas, muita improvisação e alguma alegria. Era a africanização de todas as
músicas. Nascera o Jazz, a música do século XX.
O Jazz não nasceu em Nova Orleães, como ninguém sabe exatamente quando e onde alguém
nasceu -, mas Nova Orleães serve perfeitamente para o efeito, dado que era o centro de encontro de
raças e costumes, de defeitos e qualidades (Duarte, 2009, p. 13).

Este estilo musical retrata não só um género musical com características bastante únicas,
como também um estilo com uma linguagem própria que apresenta encadeamentos harmónicos
característicos, com um baixo contínuo que nos remete para o período barroco e com harmonias
elaboradas.
Ao longo das várias épocas da história da música, com a busca constante por uma notação
musical precisa, a improvisação, o espaço para a criatividade e a margem de intervenção
destinada ao intérprete numa determinada execução passaram a ausentar-se das práticas
musicais. Em oposição a isso, encontram-se os atuais músicos preocupados com o seguimento
da partitura e com a sua performance. Contudo, já no século XX, é no Jazz que a improvisação

42
volta a conquistar um novo protagonismo sendo considerada por muitos como a principal
característica deste estilo musical respeitado, ainda hoje, como o estilo mais emblemático da
improvisação musical.

A improvisação reapareceu mais proeminentemente no século XX no domínio do jazz e, mais tarde,


através das contínuas influências das tradições musicais improvisadoras, nomeadamente as
orientais, na música erudita ocidental e na música americana, onde encontramos como principais
procedimentos musicais o sentido aleatório (ao acaso), a indeterminação e a improvisação (Stanciu,
2010, p. 9)

Tiberian (2005 como citado em Stanciu, 2010) considera que o jazz é um género criativo
por excelência, sendo por isso considerado uma arte coletiva (ou individual) que estimula a
criação. Assim, ele afirma que a criação e a improvisação constituem o DNA do jazz.
Praticamente todas as peças de Jazz contêm secções para improvisar, sejam elas divisões
inteiras destinadas a solos, improvisações sobre melodias, sobre progressões harmónicas, etc.
Ao longo de todo o século XX, foram surgindo também vários estilos (variações) e características
do Jazz como por exemplo: o Bebop, o Cool Jazz, o Free Jazz, o Electric Jazz, o Blues, o Swing,
etc…que, de certa forma, vieram procurar novas formas de incluir o Jazz nas práticas musicais
da época, em busca de novas cores e linguagens Jazzísticas.
No que respeita à pedagogia, o Jazz ainda não ocupa o seu devido lugar uma vez que,
contrastando com os EUA, não se encontra subjacente aos programas do ensino vocacional da
música nomeadamente nos conservatórios e academias, ficando este reservado apenas para
escolas específicas de ensino de Jazz. Porém, é de salientar a importância e a mais-valia que
esta prática poderia acarretar nas escolas de ensino vocacional da música. Se são frequentes as
dificuldades e o facto de os alunos não conseguirem dar resposta a situações espontâneas de
estar com a música, seria importante repensar e reformular as práticas pedagógicas, de modo a
que, com frequência, os alunos falassem música sem qualquer problema, pois é essa a essência
de tudo o que aqui é abordado. No entanto, há que salientar também o facto de que tudo isto se
torna um ciclo vicioso, ou seja, se os professores não tiveram a respetiva formação para abordar
questões práticas como o Jazz, jamais conseguiriam incutir essas abordagens na sala de aula
com os seus alunos.

Efetivamente não pode ser arredada da questão a forma como os educadores observam a
improvisação no contexto da sua própria vivência formativa e artística. Sendo eles próprios produtos
do sistema de ensino vigente, é natural que não se sintam suficientemente confiantes para pôr em

43
prática competências relativamente às quais não se encontram habilitados – nem, em virtude disso
mesmo, atribuem um significado experiencial concreto. A circularidade do fenómeno manifesta-se
também, como é óbvio, ao nível da sua formação pedagógica. Isto é: na qualidade do produto
resultante da acção desenvolvida, de uma forma generalizada, pelos próprios agentes de formação
(Caspurro, 2006, p. 15).

Contudo, seria pertinente a abordagem deste género musical complexo e de elevado nível
artístico no ensino vocacional da música, com o intuito de enriquecer musicalmente os nossos
alunos e dar-lhes mais aptidões para conseguirem enfrentar situações espontâneas que possam
surgir ao longo do seu percurso. Existe a necessidade de procurar modelos capazes de dar
resposta ao desenvolvimento da improvisação e do pensamento criativo dos alunos, uma vez
que o paradigma tradicional e atual de ensino musical não tem o permitido fazer (Caspurro,
2006).

44
CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO
DA INTERVENÇÃO

45
46
3.1. Instrumentos de recolha de dados

O capítulo em questão destina-se à apresentação dos resultados obtidos ao longo deste


projeto de intervenção, partindo da análise dos dados recolhidos ao longo de toda a Prática de
Ensino Supervisionada.
Deste modo, para a realização da mesma (PES) e posterior elaboração do relatório de
estágio, foi necessário recorrer a alguns instrumentos de recolha de dados com o objetivo de
analisar, investigar e avaliar o meio envolvente. Os resultados tornam-se desta forma valiosos
pois formam a base de toda a análise da prática.

3.1.1. Reflexões de observação não-participante

Os relatórios de observação não-participante foram realizados no período de observação que


ocorreu entre meados do mês de outubro de 2014 e meados do mês de janeiro de 2015 (no
contexto de História da Cultura e das Artes) e até meados do mês de maio de 2015 (no que
respeita ao contexto de Formação Musical). Neste tipo de observação, o observador identifica-se
e «(…) explica aos participantes quais são as suas intenções, mas assume sempre o seu papel
de investigador, não tentando mudar o rumo natural dos acontecimentos» (Coutinho, 2013, p.
138).
Ao longo das sessões observadas nos dois contextos, foram realizadas reflexões, em género
de resumo de aula, onde eram incluídas desde dúvidas por parte dos alunos a exercícios
propostos pelos professores, tendo sempre em atenção a motivação e atenção dos alunos a
cada aula e, acima de tudo, a participação e interesse dos mesmos. Deste modo, foram
realizados ‘relatos’ de aula como observador não-participante procurando recolher informações
relevantes para a elaboração e planificação da intervenção a realizar posteriormente, bem como
analisar as metodologias utilizadas em ambos os contextos.

3.1.2. Reflexões de observação participante

Todas as reflexões de aula neste contexto foram realizadas após cada aula lecionada de
forma a recolher os dados mais relevantes (dificuldades e/ou facilidades dos alunos, motivação
dos mesmos perante as atividades realizadas, possíveis alterações no decorrer da aula,

47
estratégias utilizadas para superar dúvidas dos alunos, etc…) para uma posterior análise da
intervenção pedagógica.
A prática pedagógica propriamente dita, incluindo o papel de observador participante,
iniciou em janeiro de 2015 em ambos os contextos de intervenção. Este instrumento distingue-
se do anterior no sentido em que o observador «(…) é também ele membro de pleno direito do
grupo que estuda» (Coutinho, 2013, p. 138), ou seja, intervém no acontecimento fazendo parte
dele tal como todos os outros membros que são observados: «(…) o investigador assume um
papel ativo e atua como mais um membro do grupo que observa» (Coutinho, 2013, p. 138).
Os ‘relatos’ de aula foram elaborados no final de cada sessão lecionada até à data da
última intervenção que ocorreu em junho de 2015.

3.1.3. Questionários

Os questionários foram o instrumento de recolha de dados mais valioso ao longo de toda a


prática pedagógica, uma vez que originou dados concretos acerca de questões pertinentes que
serviram de base para a análise final da intervenção.
Ao contrário dos anteriores, este instrumento de recolha de informação surge no sentido de
recolher apenas informações de outros sujeitos, intervenientes ou não no projeto, que poderão
ser úteis através das suas respostas dadas aos questionários (Coutinho, 2013).
Os mesmos foram elaborados e aplicados aos alunos de História da Cultura e das Artes
intervenientes (6º grau) e não intervenientes (7º e 8º grau: ver Anexo II) e a todos os professores
de Formação Musical (ver Anexo I) presentes no Conservatório do Vale do Sousa no ano letivo
2014/2015. No caso dos alunos de História do 6º grau, foram aplicados dois questionários: pré
e pós-observação (ver Anexo II e III).

3.2. Caracterização dos contextos: fase de observação

O projeto de intervenção incide em dois contextos distintos: Formação Musical e História da


Cultura e das Artes. Na seleção das turmas foi tido em consideração a escolha seletiva do grau
interveniente e, obviamente, a disponibilidade de cada uma e dos respetivos professores
cooperantes. Para o contexto de Formação Musical foi pertinente selecionar um grau inicial que
provavelmente, até à data, pouco ou até nenhum contacto tivesse com a improvisação de modo

48
a implementar essa mesma prática de raiz e perceber quais as facilidades e/ou dificuldades dos
alunos perante o tema selecionado. No caso de História da Cultura e das Artes, o facto de os
alunos associarem (na maior parte das vezes) o Jazz ao improviso, esteve na base da seleção de
um 6º grau. No 6º grau os alunos têm pela primeira vez contacto com a disciplina em questão e,
desta forma, poderiam ser abordadas as práticas de improviso presentes nos primórdios da
História da Música.
Os pontos seguintes irão descrever e caracterizar mais pormenorizadamente cada uma das
turmas intervenientes à luz dos registos efetuados na fase de observação.

3.2.1. Contexto de Formação Musical

A fase de observação de aulas no contexto de Formação Musical iniciou em meados de


outubro de 2014 e consistiu na observação não participante de duas aulas semanais (90’ +
45’), lecionadas pela professora cooperante Isadora Rodrigues. Em todas as aulas observadas
foram realizadas as reflexões, em jeito de relatório de aula, para posteriormente serem
analisadas de modo a servir de base para a criação da intervenção que viria a acontecer
futuramente.
Numa primeira observação constatou-se que a turma, constituída por 14 alunos, era muito
motivada à exceção de dois alunos que por revelarem um pouco mais de dificuldade, falta de
atenção e participação, demonstravam desinteresse pela disciplina apresentando-se na maior
parte das vezes distraídos e desmotivados. Um dos fatores mais evidentes ao longo das aulas foi
o comportamento de um desses alunos que por se revelar irrequieto e demasiado conversador,
interferia nas aulas de forma negativa obrigando a professora a intervir com alguma severidade.
À exceção desse facto e de uma forma geral, todos se demonstravam entusiasmados, motivados
e empenhados. Era uma turma bastante participativa, embora existissem alunos com algumas
dificuldades, que colocava questões pertinentes sempre que possível para melhor
compreenderem os conteúdos.
A análise das aulas observadas demonstrou, desde cedo, alguns problemas por parte dos
alunos. Os mesmos revelavam mais dificuldades na teoria (como leitura de notas, construção de
intervalos, acordes, armações de clave, etc…) e um pouco mais de facilidade no que se refere ao
contexto prático, nomeadamente identificações auditivas (de escalas, acordes, intervalos…). No
entanto, no que dizia respeito a entoações, os mesmos não conseguiam reconhecer os padrões

49
musicais ao longo dos excertos indicados pela professora pelo que lhes dificultava a realização
deste género de exercícios, daí ser pertinente a abordagem de uma metodologia que tivesse
como foco principal o treino auditivo, para posteriormente, conseguirem improvisar e reconhecer
sensorialmente progressões harmónicas.
As aulas foram sempre muito práticas de forma a motivar os alunos para a aprendizagem
dos conteúdos e tornaram-se valiosas pois permitiram uma melhor compreensão e constatação
da problemática que fundamentou toda a prática de ensino supervisionada, uma vez que o
improviso estava ausente nas práticas pedagógicas observadas.

3.2.2. Contexto de História da Cultura e das Artes

A fase de observação neste contexto iniciou em meados do mês de outubro de 2014 e


consistiu na observação de apenas uma aula semanal num bloco de 90’ lecionado pelo
professor cooperante Sílvio Cortez. À luz do outro contexto, este também foi acompanhado por
reflexões realizadas em todas as aulas observadas, para posteriormente serem analisadas de
modo a servir de base para a criação da intervenção que viria a acontecer futuramente.
Após a primeira aula observada consegui constatar que a turma era bastante empenhada,
motivada e participativa. O comportamento revelou-se sempre positivo, não havia ruídos
impertinentes ao longo das aulas e raramente era necessária a intervenção por parte do
professor pois eram muito atentos independentemente do assunto abordado na aula.
Os alunos tiravam os seus próprios apontamentos ao longo da aula, consoante o que era
abordado. Para além dos apontamentos que tiravam, o professor entregava outros documentos
auxiliares para permitir um bom estudo individual em casa. Era uma turma bastante participativa
na aula, mantendo a interação com o professor e colocando frequentemente diversas questões
pertinentes de forma a ficarem esclarecidos acerca dos conteúdos abordados.
A relação professor – alunos era excelente, o que se tornou um ponto muito positivo para o
bom funcionamento da aula e consequente motivação da turma em questão.

50
3.3. Intervenção (Prática de Ensino Supervisionada)

3.3.1. Análise dos Questionários

Os dados obtidos neste projeto não podem ser generalizados, uma vez que a amostra
inquirida é representada por uma pequena parte dos intervenientes no ensino vocacional da
música. No entanto, foi pertinente realizá-los no sentido de recolher dados e opiniões mais ricos
através de testemunhos na área a ser estudada (alunos e professores).

3.3.1.1. Formação Musical

O questionário realizado aos professores de Formação Musical presentes no Conservatório


do Vale do Sousa no ano letivo 2014/2015 foi aplicado com o objetivo de obter dados acerca
das metodologias utilizadas pelos mesmos, no sentido de analisar o lugar que tinha a
improvisação nas planificações das suas aulas. No presente ano letivo encontravam-se 4
professores a lecionar a disciplina de Formação Musical no CVS, no entanto, apenas 3
responderam ao presente questionário (Ver Anexo I: Questionário aos professores de Formação
Musical).

Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3


Sexo Feminino Feminino Feminino

Formação Académica Licenciatura Licenciatura Licenciatura

Experiência Profissional 16 anos 9 meses 14 anos


(anos de serviço)
Graus que leciona no 1º, 2º, 3º, 4º e 5º 2º, 3º, 4º e 5º 1º, 2º, 3º, 4º, 5º,
CVS 6º, 7º e 8º
Quadro 5: Caracterização dos Professores de Formação Musical

Abaixo seguem-se as questões e respetivas respostas dos professores inquiridos.

51
1. Utiliza a prática da improvisação nas suas aulas?

Ambos os sujeitos responderam sim. O sujeito 1 referiu utilizar a improvisação rítmica e


melódica, já o sujeito 2 referiu a improvisação melódica como hábito nas suas práticas
metodológicas enquanto o sujeito 3 referiu a improvisação rítmica, vocal e melódica.

2. Acha útil a improvisação aplicada à Formação Musical? Porquê?

O sujeito 1 acha útil a improvisação aplicada à sua disciplina pois favorece a criatividade. O
sujeito 2 justificou a utilidade desta prática como algo que traz espontaneidade musical ao aluno,
ajudando também na criatividade. O sujeito 3 vê a prática como algo essencial da disciplina pois
vê a mesma como uma expressão da compreensão musical.

3. Muitos pedagogos, nomeadamente Gordon, Shafer, entre outros, defendem


que no ensino da música a prática deve preceder a teoria. Concorda com este
aspeto? Porquê?

O sujeito 1 afirma que este aspeto depende dos conteúdos que são abordados mantendo-
se, por isso, neutro no que se refere à concordância com a afirmação colocada em causa.
O sujeito 2 mencionou não concordar com o aspeto presente na afirmação. Justifica com o
facto de ter que existir um fio condutor no ensino da música de modo a não criar confusão na
aprendizagem dos alunos.
O sujeito 3 concorda com o aspeto em causa e justifica-o da seguinte forma: «‘Tudo passa
pelo corpo e pelo movimento’ - Dalcroze. Não podemos compreender o que não
experienciamos».

4. Quando planifica as suas aulas tem em consideração o aspeto da


‘criatividade’?

Ambos os sujeitos afirmaram planificar as suas aulas tendo em conta este aspeto.

52
4.1. Concorda que a improvisação pode ser, até certo ponto, uma forma de
criatividade? Porquê?

Ambos concordam com a afirmação.


O sujeito 1 refere que a improvisação desenvolve o espírito crítico e a autonomia, daí poder
ser considerada como uma forma de criatividade. O sujeito 2 refere que, na sua opinião, com a
prática da improvisação as ‘melodias’ melhoram e que esse facto se liga com a
imaginação/criatividade dos alunos. Já o sujeito 3 afirma que a improvisação pode ser uma
forma de criatividade pois mesmo quando é condicionada a muitos aspetos, há sempre alguns
que se prendem com a criatividade de quem improvisa.

5. Mencione, no seu entender, vantagens da utilização da improvisação


aplicada à disciplina de Formação Musical.

Sujeito 1: autonomia, criatividade, estimular a originalidade de expressão.


Sujeito 2: Raciocínio musical mais rápido
Sujeito 3: Quando um aluno é capaz de improvisar um ritmo numa dada métrica ou numa
melodia, numa dada tonalidade, é porque compreende essa linguagem e é capaz de se exprimir
nela.

6. Mencione, no seu entender, desvantagens da utilização da improvisação


aplicada à Formação Musical.

Nenhum sujeito mencionou desvantagens da improvisação aplicada à disciplina de


Formação Musical.

7. Considera importante a inclusão da disciplina de Improvisação nos cursos do


ensino artístico especializado da música? Se sim, a partir de que graus?

Ambos os sujeitos consideram importante a inclusão de uma disciplina de Improvisação nos


cursos do ensino vocacional da Música. O sujeito 1 e 2 consideram importante em todos os
graus (básico e secundário). O sujeito 3 refere que se a improvisação acontecer regularmente na

53
sala de aula, nas aulas de Formação Musical, a inclusão de uma disciplina de Improvisação
torna-se pertinente apenas a partir do ensino secundário, tal como já existe como opção.

De uma forma geral ambos os sujeitos revelaram opiniões muito distintas. No que respeita
à improvisação na sala de aula, ambos concordam que esta deve existir, no entanto, o sujeito 1
e o sujeito 2 revelaram-se, a meu entender, um pouco mais reservados no que respeita à
exploração desta metodologia, apesar de concordarem com certas questões propostas. O sujeito
3 revelou-se mais recetivo a esta prática em contexto de sala aula.
Penso que, pela pouca abordagem desta prática ao longo da formação quer dos alunos
quer dos professores, ela constitui uma tarefa particularmente digna de desorientação e
inquietude, uma vez que maior parte dos professores não tiveram formação suficiente nesta
mesma área, daí a resistência à exploração da mesma na sala de aula junto dos seus alunos.
Apesar de os sujeitos inquiridos concordarem com a abordagem da mesma quer na sala de
aula, quer com a inclusão de uma disciplina de Improvisação no ensino artístico especializado
da música, a prática não é abordada com frequência como seria suposto, uma vez que maior
parte dos inquiridos revelam depender dos conteúdos que são abordados para conseguirem
incluir a mesma em contexto sala de aula. Apenas o sujeito 3 referiu ser importante a inclusão
de uma disciplina de improvisação somente a partir do secundário, tal como já existe a opção de
Acompanhamento e Improvisação, pois refere que se a prática estiver presente nas aulas de
Formação Musical, não é necessário existir uma disciplina que trate esse aspeto ao longo do
ensino básico.

3.3.1.2. História da Cultura e das Artes

Numa fase inicial foram entrevistados 20 alunos, com idades compreendidas entre os 15 e
os 18 anos, que frequentavam o 6º, 7º e 8º grau de História da Cultura e das Artes no
Conservatório do Vale do Sousa, distribuídos pelas demais classes instrumentais. O questionário
foi aplicado com o intuito de recolher dados em relação ao conhecimento de cada aluno acerca
do desenvolvimento do conceito de Improvisação ao longo das várias épocas da História da
Música. (Ver Anexo II: Questionário Inicial de História da Cultura e das Artes)

54
Na questão 6, O que entendes por Improvisação?, as respostas foram múltiplas e variadas.
O 6º grau (turma de intervenção) deu respostas como: inventar música na própria hora, tocar
algo «livre» mas com algumas regras, tocar sem seguir a partitura, música que não é escrita,
etc… No que respeita ao 7º e 8º grau as respostas apresentaram-se um pouco mais elaboradas
e coerentes: composição imediata em tempo real, criação pessoal do momento, tocar livremente
com base numa escala, técnica musical onde o músico é livre para inventar o que toca, etc…
Na questão seguinte (ver gráfico 3), as respostas variaram entre Idade Média, Barroco,
Clássico e Séc. XX. No que respeita a proporções, o 7º e 8º grau tinham uma noção mais
alargada do conceito, uma vez que de 8 alunos 5 responderam Idade Média. No que respeita ao
6º grau, de 12 alunos 6 responderam Idade Média enquanto os outros percorreram o Barroco,
Clássico e Séc. XX. Atente-se no seguinte gráfico:

Na tua opinião, a música improvisada começa a ser


praticada em que período da História da Música?
7
6
5
4
3
2 6º Grau
1 7º e 8º Grau
0

Gráfico 3: Resultados da questão 7 do questionário inicial de História da Cultura e das Artes

Na 8ª questão (ver gráfico 4) as respostas, em ambas as turmas, percorreram o Jazz (em


grande maioria) e o Blues. Na justificação da resposta dada a esta questão obtive resultados
como: porque é o género onde a improvisação é mais utilizada, porque não usam partitura e
inventam na hora, porque é um género que tem muitos solos improvisados, é conhecido como o
estilo de música onde se improvisa, porque na música clássica não existe esse hábito e no Jazz
é tudo à base da improvisação, porque é uma corrente em que a liberdade de interpretar da
forma como queremos é uma liberdade, etc…

55
Quando é mencionado o termo 'improvisação', a
que género/estilo musical associas?
12
10
8
6 Jazz
4 Blues
2
0
6º Grau 7º e 8º Grau

Gráfico 4: Resultados da questão 8 do questionário inicial de História da Cultura e das Artes

Na tua opinião, a improvisação pode ser


interpretada como (assinala a(s) opção(s)):
9
8
7
6
5
4
3 6º Grau
2 7º e 8º Grau
1
0
Um processo Auxiliar do Elemento Género
que envolve processo integrante de musical
composição e composicional interpretação autónomo
execução musical

Gráfico 5: Resultados da questão 9 do questionário inicial de História da Cultura e das Artes

O questionário foi dividido em duas partes, deste modo, tentei analisar também as práticas
dos alunos no que respeita ao fenómeno da improvisação. Atente-se ao seguinte gráfico:

É habitual utilizares a técnica da


improvisação em algum contexto musical?
8
6
4 Sim
2 Não
0
6º Grau 7º e 8º Grau

Gráfico 6: Resultados da questão 10 do questionário inicial de História da Cultura e das Artes

56
Os alunos do 6º grau que responderam ‘sim’ afirmaram fazê-lo nas aulas de Formação
Musical e em contexto extra de aula juntamente com colegas e em Big Band’s. Os restantes
alunos mencionaram, na sua maioria, a disciplina de Acompanhamento e Improvisação
(implícita como opção no plano de estudos a partir do 7º grau), alguns referiram fazê-lo no
estudo diário, em Big Band’s e também entre colegas fora do contexto de aula.
Os alunos que referiram não utilizarem a técnica da improvisação nos seus hábitos
musicais, justificaram-no através das respostas assinaladas no gráfico 7, completando com
outras respostas tais como: não tenho jeito, nunca aprendi, etc…

Se assinalaste 'não' na questão 10, porque não o


fazes? (assinala a(s) opção(s))
6
5
4
3 6º Grau
2 7º e 8º Grau
1
0
Não gosto Não me sinto Nunca me foi Nunca surgiu
à vontade pedido oportunidade

Gráfico 7: Resultados da questão 12 do questionário inicial de História da Cultura e das Artes

Na última questão, Achas que esta técnica deveria estar implementada ao longo dos vários
anos de conservatório?, as respostas foram unânimes. Todos os alunos inquiridos acham
pertinente a implementação de uma disciplina de improvisação ao longo dos vários anos de
conservatório pelos seguintes motivos (justificados pelos alunos): porque é importante no futuro
de um músico; melhora a capacidade de realizar algo autónomo; desenvolve capacidades que
um músico erudito não desenvolve; ajuda no desenvolvimento auditivo; dá-nos destreza e
capacidade de interpretar de forma mais apurada; confere ao músico uma maior confiança nas
habilidades durante a execução; porque é uma forma de desenvolver a criatividade e o raciocínio
rápido; etc…

Numa fase final, de modo a concluir a implementação do projeto na disciplina de História


da Cultura e das Artes, foi realizado um último questionário para recolha e análise de dados
posteriores à minha intervenção pedagógica. Assim, o mesmo foi entregue apenas à turma de

57
intervenção neste contexto, 6º grau (Ver anexo III). O mesmo pretendia verificar e comparar os
resultados obtidos e conhecimentos adquiridos pelos alunos em comparação com o primeiro
questionário aplicado na fase inicial. Deste modo, algumas questões mantiveram-se idênticas,
acrescentando outras que achei pertinente para a análise.
Na questão 6, O que entendes por Improvisação?, indicaram respostas mais claras e
coerentes em comparação com o questionário anterior. Desta forma, 9 alunos responderam algo
como «arte de inventar e executar algo em tempo real», 2 indicaram que improvisação é
«compor e executar ao mesmo tempo» enquanto 1 aluno mencionou «criar uma melodia
partindo de nós próprios».
Na questão 7 (ver gráfico 8), 11 alunos responderam Idade Média pelo que apenas um
indicou o período Barroco como resposta.

Na tua opinião, a música improvisada começa a ser


praticada em que período da História da Música?
12
10
8
6
4
6º Grau
2
0

Gráfico 8: Resultados da questão 7 do questionário final de História da Cultura e das Artes

Na questão 8, a turma dividiu-se entre as duas respostas (ver gráfico 9).

Achas que o conceito de 'improvisação' tal como o conhecemos


hoje se manteve inalterável ao longo das várias épocas da
História da Música?
10

5
6º Grau

0
Sim Não

Gráfico 9: Resultados da questão 8 do questionário final de História da Cultura e das Artes

58
Na questão 8.1., Se respondeste não, o que achas que mudou?, os 6 alunos deram
respostas como: mudaram as técnicas de execução pois nos dias de hoje é uma performance
consciente; o conceito; as técnicas de improvisação; antigamente era mais simples do que hoje
em dia; etc…
Na questão seguinte, Em tempos mais antigos da História da Música, achas que os
intérpretes utilizavam a técnica da improvisação de forma consciente?, 4 em 12 alunos
responderam ‘sim’, os restantes 8 assinalaram ‘não’.

O que achas que influenciava o facto de improvisarem com


frequência em épocas passadas? (assinala a(s) opção(s))
8
7
6
5
4
3 6º Grau
2
1
0
Para inovar A ausência de Para ornamentar Para criar novos
notação géneros musicais

Gráfico 10: Resultados da questão 10 do questionário final de História da Cultura e das Artes

Na questão 11, Quando é mencionado o termo ‘improvisação’, a que género/estilo musical


associas? Porquê?, todos mencionaram o Jazz tal como no questionário inicial, pelos mesmos
motivos assinalados anteriormente: porque se trata do estilo onde, atualmente, o improviso é
utilizado com frequência.

Na tua opinião, a improvisação pode ser interpretada como


(assinala a(s) opção(s)):
12
10
8
6
4
2 6º Grau
0
Um processo que Auxiliar do Elemento Género musical
envolve processo integrante de autónomo
composição e composicional interpretação
execução musical

Gráfico 11: Resultados da questão 12 do questionário final de História da Cultura e das Artes

59
Através da análise dos questionários consegui constatar que, no que respeita ao 7º e 8º
grau, os alunos tinham já um conhecimento mais alargado em relação ao tema respondendo,
por isso, de forma mais coerente, apesar de determinados alunos sentirem dúvidas acerca do
conceito de improvisação quando se menciona a História da Música. Isto deve-se, em parte, à
pouca abordagem do conceito nas práticas pedagógicas atuais, em geral nas disciplinas técnico-
artísticas e científicas nos nossos conservatórios e academias. Os alunos têm uma pequena
noção (à exceção dos que frequentem a disciplina de Acompanhamento e Improvisação sugerida
a partir do 7º grau) do conceito, no entanto, quando lhes é pedido que o definam, as respostas
ficam um pouco aquém do desejado, tal como acontece com o 6º grau. Todos associam o
improviso ao Jazz uma vez que se trata do estilo atual onde é frequente a técnica, no entanto,
raros são os alunos que associam essa prática aos primórdios da História da Música. Uma vez
que a tradição oral era um recurso fortemente utilizado, levou ao que hoje denominamos de
improvisação, apesar do conceito em si se ter vindo a afirmar de forma mais consciente ao longo
dos tempos.
Após a intervenção realizada na turma de 6º grau, senti melhorias no que respeita ao
conhecimento da prática ao longo dos vários períodos da História da Música, apesar de o ponto
forte ter incidido na época relativa à Idade Média. Os alunos demonstraram-se surpresos e
curiosos ao longo da intervenção, na medida em que desconheciam ser uma prática tão antiga.
Ao longo das sessões demonstraram uma boa aquisição de conhecimentos e isso reflete-se, em
parte, na análise efetuada aos questionários finais da turma em questão.

3.3.2. Análise das principais atividades realizadas (metodologias)

3.3.2.1. Formação Musical

A fase de intervenção na disciplina de Formação Musical ocorreu entre meados do mês de


janeiro e junho de 2015. Neste contexto, foram ministradas 6 aulas. Depois de conversar com a
professora cooperante Isadora Rodrigues, decidimos não acordar datas concretas para a
intervenção, uma vez que a turma tinha imenso programa a cumprir seguido de testes e provas
(2º grau). Outro fator que esteve na base dessa decisão foi o facto de o tema de intervenção não
constar no programa e, dessa forma, atrasaria a professora cooperante nos conteúdos que teria

60
para abordar. As datas de intervenção foram decididas de acordo com os motivos descritos não
conseguindo, dessa forma, concretizar o total de 8 aulas previstas inicialmente.
As aulas ministradas ocorriam à segunda (90’) ou sexta (45’) dependendo da
disponibilidade da professora e da turma.
Todas as aulas foram planificadas seguindo as orientações e sugestões da professora
cooperante, tendo em conta os objetivos a serem concretizados. Na fase inicial de intervenção
comecei por elaborar e pensar detalhadamente em todos os pontos que queria incluir nas
planificações das aulas para que, no final, alcançasse os resultados pretendidos (Ver Anexo IV:
Planificação de Formação Musical).
Como o objetivo final da intervenção na disciplina de Formação Musical consistia em os
alunos conseguirem improvisar sobre uma base harmónica com as funções tónica/dominante,
numa primeira fase foi pertinente mencionar a função e denominação de todos os graus da
escala, fazendo sobressair sensorialmente os fundamentais para a implementação do projeto (I e
V).
Inicialmente tudo foi realizado com base na imitação de padrões tonais, com a abordagem
das cadências perfeita e suspensiva e a sensação que cada uma delas nos transmitia (muito
importante para posteriormente trabalharmos a improvisação sobre padrões de pergunta –
resposta), de melodias com I e V, com entoação de sequências, com a entoação a duas vozes
(um grupo entoava a melodia enquanto um outro entoava a sequência harmónica), ou seja,
todos estes passos metódicos que se estenderam ao longo de aproximadamente 4 aulas de 90’,
serviram como apoio para posteriormente, numa fase já avançada, os alunos conseguirem
improvisar de forma consciente sobre aquilo que conseguiam audiar.
Todos os métodos utilizados ao longo da intervenção tinham como fim não só os alunos
conseguirem improvisar como também saberem audiar. Desta forma, na terceira aula lecionada
e após ter abordado alguns conteúdos de forma a alcançarem um estado inicial de audiação, foi-
lhes entregue uma ficha de trabalho com exercícios bastante sensoriais, de forma a analisar a
aquisição de conhecimentos e objetivos previstos até à data (Ver Anexo V: Ficha de Trabalho de
Formação Musical).
A questão da improvisação surgiu nas últimas 3 aulas de intervenção, ou seja, numa fase
onde os alunos já tinham interiorizado muito bem as funções tónica/dominante. Deste modo,
iniciei a fase da improvisação propriamente dita com os exercícios de pergunta/reposta incluindo
a sensação das cadências. Os padrões Gordon (ver imagem 6) foram um excelente auxiliar no

61
sentido em que ajudaram os alunos a compreender a sensação de pergunta e resposta. A turma
foi dividida em dois grupos de forma a realizar um diálogo musical entre eles.

‘Pergunta’

‘Resposta’

Imagem 6: Padrões Gordon

Depois de terem compreendido e assimilado o carácter de pergunta /resposta no contexto


musical pretendido, foi-lhes pedido que improvisassem (dois a dois) uma conversa musical sobre
a base harmónica estudada: I/V – V/I. Numa primeira fase todos os alunos participaram e senti-
os bastante motivados com o exercício que acabavam de experimentar. Todos conseguiram
improvisar, inclusive os alunos que se demonstravam mais distraídos e desmotivados ao longo
das aulas.
Nas intervenções seguintes, para além dos exercícios de pergunta/resposta que acabaram
por servir como ‘aquecimento’ para a improvisação, foi abordada uma melodia familiar
denominada O meu Chapéu tem três Bicos (Tradicional). Era conhecida por maior parte da
turma pelo que foi simples incluir a questão improvisação, tendo em conta também o ‘à vontade’
dos alunos para a nova experiência. Foi realizado, inicialmente, um exercício de improvisação
sem regras, ou seja, cada um, depois de entoarmos em conjunto a melodia, improvisava sobre
um determinado tempo e sobre uma progressão harmónica inventada por eles no momento da
interpretação, com base no I e V grau. De seguida, para dificultar um pouco mais, estabeleci
uma regra: cada um iria improvisar sobre o tema, com a progressão harmónica correta que o
mesmo nos proporcionava. Tiveram mais facilidade ao realizarem a improvisação ‘livre’ uma vez
que a progressão harmónica era decidida por eles, intuitivamente. No segundo exercício,
demonstraram um pouco mais de dificuldade pelo que, por vezes, ficavam fora da tonalidade e
acabavam por se sentir envergonhados e menos corajosos para experimentar. No entanto, todos
realizaram o exercício após algumas tentativas.
Na mesma aula optei por realizar ainda uma ficha de trabalho que consistia num Teste de
audiação de funções harmónicas (Ver Anexo VI: modelo adotado da Tese de Doutoramento da
Doutora Helena Caspurro (2006)). Este teve como principal objetivo analisar a compreensão

62
auditiva dos alunos relativamente às funções e progressões harmónicas tónica/dominante
(Caspurro, 2006). Com este teste pretendi avaliar a aquisição de conhecimentos adquiridos por
parte dos alunos no que respeita à audiação das funções estudadas, tendo em conta que antes
da minha intervenção tinham imensas dificuldades em audiar as progressões harmónicas uma
vez que o ouvido não estava suficientemente trabalhado para o tipo de exercícios abordados.
Assim sendo, no final recolhi cada uma das fichas de trabalho para posterior análise.
Os resultados do Teste de audiação de funções harmónicas foram melhores que o
esperado. Dois dos alunos presentes na turma obtiveram o resultado de 100% e os restantes
pontuações também muito boas (ver Gráfico 12).

Resultados obtidos no «Teste de audiação de


funções harmónicas»
5
4
Nº de alunos

3
2
1
0
0% - 49% 50% - 69% 70% - 89% 90% - 100%
Percentagens obtidas

Gráfico 12: Resultados obtidos no Teste de audiação de funções harmónicas

O objetivo neste contexto foi alcançado mesmo perante todos os percalços existentes ao
longo da intervenção, como o reduzido número de aulas ministradas. Concluindo, grande
maioria dos alunos conseguiu atingir o nível de improvisação prevista de forma facilitada,
audiando corretamente as funções harmónicas estudadas e, de forma geral, a metodologia
abordada melhorou a compreensão da música, tendo em conta os bons resultados obtidos
(práticos e teóricos), uma vez que a escuta interior para as padrões tonais I/V foi trabalhada de
uma forma metódica.
A intervenção neste contexto terminou no início de junho de 2015.

63
3.3.2.2. História da Cultura e das Artes

A fase de intervenção na disciplina de História da Cultura e das Artes ocorreu entre meados
do mês de janeiro e maio de 2015. Neste contexto, foram ministradas 8 aulas. Depois de
conversar com o professor cooperante, Sílvio Cortez, decidimos acordar datas concretas para a
minha intervenção. As datas acordadas inicialmente decorreram sem contratempos dentro do
tempo previsto.
As intervenções ocorriam à quinta-feira, num bloco de 90’.
Todas as aulas foram planificadas seguindo as orientações e sugestões do professor
cooperante, tendo em conta os objetivos a serem concretizados. Na fase inicial de intervenção
comecei por elaborar e pensar detalhadamente em todos os pontos que queria incluir nas
planificações das aulas para que, no final, alcançasse os resultados pretendidos (Ver Anexo IX:
Planificação de História da Cultura e das Artes).
Iniciei esta fase com a entrega de questionários na turma de intervenção, com o objetivo de
recolher dados no sentido de investigar o conhecimento dos alunos em relação à prática da
improvisação: se tinham noção de quando o fenómeno surge na História da Música e se esta
mesma prática era utilizada pelos próprios (quer em aulas, em casa durante o estudo ou em
outros contextos).
Como o objetivo era mencionar a improvisação como uma prática já antiga na História da
Música, tive o cuidado de a referir como um fenómeno comum entre as épocas primitivas da
História em todas as aulas planificadas. Iniciei a minha intervenção já na Idade Média, tendo em
conta a data oficial da primeira intervenção. Desta forma, o tema abordado nas primeiras 4
aulas inseriu-se na origem da polifonia na Idade Média. Uma vez que o canto era
frequentemente improvisado, passando pela tradição oral, foi pertinente salientar a diferença
entre o que designamos hoje de improvisação e o que era de facto a improvisação naquela
época, de que forma se praticava e porquê. Senti que foi uma forma de motivação, para além da
turma motivada que já era, pois alguns alunos não tinham ideia que este conceito atualmente
existente em algumas práticas, como o Jazz, já existia, ainda que de forma mais inconsciente na
época abordada.
Na aula nº 5 ao passar da música sagrada para a música profana, ainda na mesma época,
o tema da improvisação continuou a servir de base para a implementação do projeto. Foi
sempre referido o conceito como uma característica principal das canções da época, fazendo

64
com que os alunos percebessem que o mesmo não tinha o significado tal como o conhecemos
hoje mas que, no entanto, não deixava de ser realizada essa prática ainda que em contextos
diferentes dos atuais.
Na última fase de intervenção fiz uma síntese da prática da improvisação ao longo da Idade
Média. Os questionários pós-intervenção foram entregues na última aula lecionada, de modo a
recolher dados com o objetivo de analisar o conhecimento dos alunos antes da implementação
do projeto e após o mesmo ter sucedido. As aulas foram sempre acompanhadas com exemplos
auditivos pertinentes para uma melhor compreensão dos conteúdos, com o acompanhamento
de partituras, fichas de trabalho e exercícios de aula.
Os objetivos foram alcançados uma vez que os resultados obtidos, quer nos questionários
analisados quer no trabalho e interação ao longo das aulas, foram positivos.

3.3.2.3. Projeto Artístico: Workshop de Improvisação Vocal

No dia 12 de junho de 2014 realizou-se, no Conservatório do Vale do Sousa, um workshop


de Improvisação Vocal de forma a cumprir os requisitos para finalizar a unidade curricular de
estágio profissional. O mesmo contou com a presença da professora cooperante, Isadora
Rodrigues e da professora (co) supervisora, Joana Castro (Ver Anexo VII: Planificação do
Workshop).
O espaço selecionado para a realização da atividade nada teve a ver com a dita tradicional
disposição da sala de aula. A sala 11 possuía cadeiras posicionadas em formato de um círculo à
volta da sala, um piano situado de forma a que professor lá sentado conseguisse ter uma visão
geral da sala e dos alunos e, mais importante, o espaço central estava totalmente desocupado, o
que era ótimo para a realização das atividades.
Estiveram presentes cerca de 16 alunos (10 da turma de intervenção de Formação Musical
e 6 de um outro 2º grau de Formação Musical). O reduzido número de alunos presentes na
atividade deveu-se ao facto de ser já uma data extra, ou seja, fora do período ‘normal’ de aulas,
pelo que maior parte dos alunos de ambas as turmas não compareceu tal como lhes tinha sido
pedido. No entanto, apesar desse reduzido número de participantes, foi possível aplicar todas as
atividades previstas e tirar algumas conclusões.
Uma vez que eu não conhecia alguns alunos presentes e de forma a explicar no que
consistia o exercício, decidi alterar um pouquinho o rumo da planificação. Comecei por realizar

65
um exercício de pergunta/resposta mas não totalmente improvisado. Este foi direcionado apenas
para os alunos do 2º turno de modo a que se ambientassem um pouco com a sensação de
tónica/dominante (uma vez que não tiveram contacto sensorial com as funções harmónicas ao
contrário dos restantes alunos). O exercício consistia no seguinte: a professora perguntava Como
te chamas? entoando a sequência das funções harmónicas I e V, terminando no V como forma
de pergunta (cadência suspensiva) e os alunos, ordenadamente, respondiam p. ex. Chamo-me
Paulo! com a sequência inversa V-I de modo a completar a conversa (cadência perfeita). Alguns
alunos, não percebendo qual o objetivo do exercício, imitavam a pergunta, no entanto, de um
modo geral, todos conseguiram executar de uma forma bastante satisfatória o exercício
proposto.
De seguida, seguiu-se o exercício improvisado de pergunta/resposta tal como estava
planificado. Depois de uma breve explicação seguida de dois exemplos distintos, pedi aos alunos
que tomassem iniciativa de irem ao meio improvisar uma conversa musical, sempre com base
nas funções harmónicas tónica/dominante (sílaba neutra). Cada um dos alunos escolhia alguém
com quem pretendesse conversar, iam ao meio da roda e com acompanhamento do piano
improvisavam pequenos motivos melódicos. Alguns alunos da outra turma não conseguiram
improvisar logo na primeira vez. Houve alunos que faziam a pergunta seguida da resposta,
outros que imitavam o como te chamas? (em sílaba neutra) sem inventar nada mais em torno da
questão e outros que simplesmente não conseguiam afinar com o acompanhamento que
ouviam. Por outro lado, outros superaram as dificuldades conseguindo inventar um pouquinho
mais e ir mais além do que era previsto.
Realizou-se, de seguida, uma improvisação sobre uma melodia não familiar. Selecionei a
melodia «Long, long ago» extraída de Azzara, Grunow & Gordon (1997, p. 4). A melodia era
familiar para 3 alunas de violino presentes que já a tinham interpretado nas aulas de
instrumento. Nesse sentido, todos aprenderam a melodia enquanto outros aproveitaram para
recordá-la. De seguida, depois de estar bem interiorizada (com sílaba neutra), entre cada refrão
eu chamava alguém ao centro para improvisar consoante a progressão harmónica da melodia,
com acompanhamento do piano (depois de uma breve explicação seguida de exemplo). Uns
tiveram mais facilidade enquanto outros demonstraram algumas dificuldades em fazê-lo no
entanto, de um modo geral, todos conseguiram improvisar ainda que uns de forma mais afinada
e consciente que outros.

66
Apesar de ter havido alunos da outra turma de Formação Musical com bastantes facilidades
em improvisar, destacaram-se os alunos do 1º turno que tiveram contacto com esta prática, uma
vez que o fizeram de uma forma mais consciente audiando as funções harmónicas.
A última atividade e a que colocou os alunos mais entusiasmados ao longo do workshop foi
o denominado Circle Singing (Ver Anexo VIII). O grande grupo foi dividido em 4 pequenos grupos
mais ou menos equilibrados. O objetivo do exercício era atribuir um pequenino motivo melódico
a cada um dos grupos (dentro dos padrões tonais I e V) que se repetia vezes sem conta.
Comecei por improvisar uma voz de base para o 1º grupo, fui improvisando outra para o 2º
enquanto o 1º grupo continuava a entoar a sua e assim sucessivamente até estarem os 4 grupos
a entoar pequenos motivos melódicos distintos, ao mesmo tempo que marcavam a pulsação
com cliques. Expliquei, que de seguida, que ia ordenar que cantassem mais pianinho ou mais
forte consoante houvesse algum voluntário no centro da roda para improvisar, ou não.
O exercício correu como previsto e os objetivos do mesmo foram atingidos. Todos foram ao
centro improvisar, incluindo professoras. Alguns alunos demonstraram dificuldades em
improvisar pois o seu instinto era ir ao encontro dos pequenos motivos melódicos que ouviam,
outros tiveram uma prestação muito boa. Cada um improvisava sobre tempo indeterminado,
sem regras e sem tempo estabelecido.
O workshop teve a duração de aproximadamente 1h (tempo instituído para a realização do
mesmo).
Concluindo, a grande questão que se colocava em torno da atividade realizada: «Que
diferença existe entre os alunos que frequentaram a turma de intervenção e os outros alunos (do
mesmo grau), que não tiveram qualquer tipo de contacto com a prática?», foi resolvida. De facto,
os alunos que mantiveram um treino auditivo ao longo de aproximadamente 6 aulas
conseguiram improvisar de forma consciente, ou seja, reconhecendo os padrões harmónicos
sendo notável a compreensão harmónica enquanto realizavam os exercícios de improvisação.
Por outro lado, os alunos que não tiveram qualquer tipo de contacto com a improvisação
anteriormente também o conseguiram fazer, no entanto, a capacidade auditiva e a compreensão
harmónica não existiram, uma vez que não reconhecem e, consequentemente, não escutam as
progressões harmónicas. Assim, a sensação que nos transmite cada função harmónica é
fundamental para que se consiga um bom nível de improvisação. Desta forma, se esse facto não
existe, os alunos apenas se prendem com a melodia, não estando o ouvido treinado para
conseguirem compreender a base harmónica, crucial para o improviso.

67
3.4. Análise final da Prática de Ensino Supervisionada

Após ter recolhido dados na fase de observação e, posteriormente, implementado as


atividades realizadas no sentido de promover a prática da Improvisação em contexto sala de aula
juntamente com os alunos das turmas selecionadas para o efeito, torna-se necessário sintetizar
os resultados obtidos, bem como a evolução ocorrida em torno da intervenção em causa.
No que respeita ao contexto de Formação Musical e como foi referido anteriormente ( cf.
3.2.1), na fase de observação foram notadas dificuldades no contexto teórico e um pouco mais
de facilidade no que respeita a identificações auditivas (prática). No entanto, quando lhes era
proposta a realização de entoações estes nem sempre tinham uma boa prestação uma vez que,
ao longo da melodia, não reconheciam os padrões musicais pelo que lhes dificultava a afinação
e todos os fatores que norteiam esta questão. Um dos aspetos também notáveis foi o facto de,
perante uma partitura com notação convencional, os alunos serem capazes de ler as notas
(ainda que com alguma dificuldade) mas não entenderem quando sobe ou quando desce, ou
seja, se a atividade sensorial não está bem desenvolvida, eles jamais compreenderão os códigos
de escrita musical, levando a que não haja compreensão harmónica e melódica por parte dos
intervenientes. Assim, achei pertinente abordar a prática da improvisação (ausente das práticas
pedagógicas da turma observada) uma vez que algumas dificuldades apresentadas se prendiam
com o conceito de audiação (Gordon, 2000).
Após a implementação do projeto e perante os dados recolhidos ao longo da intervenção,
pude constatar que, para além de terem aderido ao projeto de forma bastante satisfatória,
sentiram-se motivados com todas as atividades realizadas e, ao mesmo tempo, curiosos com o
fenómeno abordado. A improvisação vocal no contexto sala de aula revelou-se uma experiência
única e uma prática adequada com o objetivo de trabalhar a capacidade auditiva dos alunos
bem como a sua capacidade criativa.
Os resultados obtidos ao longo das sessões foram muito positivos. Todos os alunos
demonstraram facilidade em improvisar (sílaba neutra), após todo o trabalho auditivo
desenvolvido. Outro aspeto que revelou uma boa capacidade de audiação das funções
harmónicas estudadas e bons resultados ao nível da mesma foi um dos materiais didáticos
aplicado em uma das sessões: Teste de audiação de funções harmónicas (cf 3.3.2.1.) (ver
Anexo VI).

68
Embora as conclusões sejam um pouco limitadas, tendo em conta o reduzido número de
alunos sujeitos a este tipo de exercícios e o tempo disponibilizado para os mesmos, não
podemos generalizar e afirmar que houve melhorias na compreensão harmónica e melódica no
contexto tradicional de sala de aula (ditados melódicos, entoações, etc…), no entanto, podemos
concluir que muito positivamente, ao nível das progressões harmónicas estudadas, houve de
facto uma boa aquisição de conhecimentos, levando também a uma boa prática de
improvisação em contexto sala de aula.
Relativamente aos alunos de História da Cultura e das Artes, estes revelaram-se sempre
muito participativos, empenhados e motivados. Neste contexto utilizei sempre apresentação
PowerPoint em forma de guião para os alunos, de modo a apresentar os conteúdos de forma
organizada e facilitar-lhes o processo de recolher os devidos apontamentos. Estes apresentavam-
se de forma didática (muitas imagens, exemplos auditivos e pouco texto) de modo a colaborar
com uma maior atenção e motivação.
No que respeita aos resultados obtidos neste contexto, pode-se dizer que foram bastante
positivos tendo em conta a participação oportuna dos alunos ao longo das várias intervenções,
os excelentes resultados nas fichas de trabalho aplicadas nas aulas e os resultados obtidos nos
questionários aplicados. Pela análise dos mesmos (cf. 3.3.1.2.), podemos verificar que as
respostas realizadas no questionário inicial e no questionário final diferem, uma vez que no
último, os alunos apresentaram respostas mais coerentes e uma opinião mais exata em relação
ao conteúdo.
Neste contexto achei pertinente esta abordagem pois, na minha opinião, é uma lacuna os
alunos pensarem que a improvisação está intimamente ligada apenas ao séc. XX aquando do
surgimento do Jazz ou ao período Barroco devido ao Baixo Contínuo. Na verdade, a
improvisação realizada de forma mais consciente surge precisamente no período Barroco, no
entanto, acho importante e oportuno saberem que em períodos primitivos, a música era maior
parte improvisada (uma vez que a notação da altura não permitia que fosse de outra forma),
uma vez que passava pela tradição oral, ainda que de uma maneira mais inconsciente e não
propositada. Desta forma, também foi importante incutir-lhes a ideia de que o conceito, tal como
o definimos atualmente, não tinha o mesmo significado e peso na época abordada (Idade
Média).
A análise dos resultados é um exercício muito importante nesta avaliação final, no entanto,
a mesma não se traduz apenas na análise dos resultados aritméticos recolhidos. As questões

69
observadas ao longo da intervenção e não possíveis de depositar no presente relatório
apresentam-se de igual forma importantes para a compreensão dos resultados adquiridos. A
forma como os alunos intervêm, a motivação e entusiasmo perante as atividades, a evolução
interior dos mesmos ao longo da prática e a relação que se mantém com cada um deles, são
fundamentos necessários e essenciais para a compreensão do trabalho em causa.
Desta curta experiência e sua posterior análise, posso concluir que as atividades onde os
alunos têm um papel central e que promovem a interação entre eles, resultam em atividades
que eles próprios consideram importantes e interessantes e nas quais revelam,
consequentemente, um maior empenho e motivação.

70
CONCLUSÕES

O Relatório de Estágio aqui apresentado analisa os resultados obtidos ao longo da


intervenção realizada no ano letivo de 2013/2014 com duas turmas intervenientes, no processo
que pretendia, acima de tudo, explorar o potencial pedagógico da improvisação adaptando-o ao
contexto do ensino vocacional da música, na formação de jovens músicos, no âmbito das
disciplinas de Formação Musical e História da Cultura e das Artes. A questão colocada
inicialmente, acerca do papel desempenhado pela improvisação nas disciplinas em causa,
encontrou resposta ao longo do desenvolvimento do projeto de intervenção no seu todo.
Pelo seu caráter e natureza muito distintos, mas simultaneamente muito próximos, as
disciplinas em causa contribuem fortemente para a análise e abordagem da improvisação
musical, podendo corelacionar-se não só com as disciplinas em causa, como também com as
demais que completam o plano de estudos do Ensino Vocacional da Música, como Análise e
Técnicas de Composição, instrumento, etc…
A abordagem desta prática no Ensino Vocacional da Música é crucial, de forma a contribuir
com uma aprendizagem mais significativa e, assim, uma mudança exequível de mentalidade,
inovando as práticas pedagógicas. Verifica-se, pela abordagem pedagógica e pelos materiais e
recursos utilizados para cumprimento dos objetivos, que a improvisação revela um potencial
pedagógico a ser abordado em contexto sala de aula, tendo em conta a reação muito positiva
dos alunos.
No contexto de Formação Musical, na fase de observação, constatou-se que a maioria dos
alunos apresentava dificuldades relacionadas com a compreensão harmónica. Estas dificuldades
estavam diretamente relacionadas com o conceito de audiação, pelo que a temática da
improvisação abordada ao longo da intervenção revelou-se como uma prática adequada para
trabalhar a capacidade auditiva dos alunos no sentido de melhorar aspetos sensoriais. As aulas
consistiram na abordagem de metodologias diversificadas para implementar a prática da
improvisação, consolidando as competências necessárias bem como o trabalho auditivo
realizado ao longo de todas as sessões. Assim, foram introduzidas, metodicamente, formas de
improvisação (com base em sílaba neutra) onde se procurou desenvolver a criatividade dos
intervenientes neste processo de aprendizagem.
As estratégias desenvolvidas, fundamentadas na literatura existente e, posteriormente,
adaptadas aos objetivos idealizados para a turma em questão, revelaram resultados muito

71
positivos. No final da PES, os alunos de Formação Musical demonstraram ser capazes de
reconhecer as progressões harmónicas abordadas, bem como uma excelente, mais coerente e
consciente capacidade de improvisar, ainda que orientada, ao longo das sessões. Os resultados
obtidos permitem concluir que a instrução baseada na audiação promove a compreensão
harmónica necessária para a improvisação melódica, juntamente com o importante
acompanhamento harmónico, cujo papel facilita o processo da aprendizagem da improvisação.
No que diz respeito ao contexto de História da Cultura e das Artes, na fase de observação,
foi notável a motivação e empenho dos alunos. Assim, com a abordagem da improvisação no
período da Idade Média (e posterior síntese da improvisação ao longo da História da Música nos
demais períodos), foi pertinente dar-lhes a conhecer a forma como o conceito se desenvolveu ao
longo da História da Música, uma vez que a maioria desconhecia a presença da improvisação
em épocas primordiais. À luz do outro contexto, esta turma revelou resultados muito positivos
tendo em conta as estratégias desenvolvidas e fundamentadas na recolha de informação ao
longo das várias intervenções.
Em síntese, os resultados obtidos neste projeto de investigação foram, em geral, bastante
positivos. Os benefícios que a improvisação acarreta para a aprendizagem das disciplinas em
questão são reconhecidos e fundamentados por vários autores, há vários anos. Por um lado,
temos a História da Cultura e das Artes, onde para além de se abordarem as questões
tradicionais da História, torna-se pertinente contextualizar com o fenómeno da improvisação, de
forma a superar as lacunas dos alunos ao ponderarem que a improvisação surge apenas
aquando do Jazz ou do período Barroco. É necessário inovar ao nível das pedagogias pois os
alunos, cada vez mais, procuram um ensino adaptado às suas necessidades.
Por outro lado, encontramos a disciplina de Formação Musical onde nos deparamos com
alguns problemas, como por exemplo, um aluno que é capaz de resolver problemas complexos
no domínio da análise mas que, auditivamente não é capaz de identificar progressões
harmónicas; ou com um aluno que é excelente na leitura de notas, mas que não consegue
executar o que quer que seja musicalmente sem esse apoio. Os típicos ditados, as típicas
leituras de aula, as típicas entoações, não são bastantes para os alunos ganharem as
competências suficientes ao nível da música e principalmente a nível auditivo/sensorial. Um
músico não pode ser considerado bom músico se não ouvir.
Concluindo, a inclusão da prática da improvisação na sala de aula poderá trazer grandes
benefícios, revelando-se como um grande potencial pedagógico na melhoria do

72
ensino/aprendizagem das Ciências Musicais e da Formação Musical, aumentando, em ambos
os contextos, a motivação dos alunos e desenvolvendo-lhes competências para uma melhor
compreensão da música em geral.

73
74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abramson, R. M. (1980). Dalcroze-based improvisation. In Music Educators Journal, Vol. 66 (5),


pp. 62 – 68.

Almeida, S. (2006). Um Modelo de Realização de Baixo Contínuo: 2 Movimento da Sonata em Si


Menor BWV 1030 para Flauta e Cravo Obbligato de J. S. Bach. Retirado de
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Legislação

Decreto-Lei nº 553/80, de 21 de novembro – Aprova o Estatuto do Ensino Particular e


Cooperativo.

Decreto-Lei nº 310/83, de 1 de julho – Insere o ensino artístico nos moldes gerais de ensino em
vigor através da reconversão dos Conservatórios de Música em Escolas Básicas e Secundárias,

79
criando as respetivas Escolas Superiores de Música inseridas na estrutura de Ensino Superior
Politécnico.

Portaria nº 294/84, de 17 de maio – Aprova o plano de estudos dos Cursos Gerais de Música, a
nível do ensino preparatório e ensino secundário unificado, assim como o plano de estudos do
Curso Complementar de Música ao nível do ensino secundário.

Despacho nº 76/SEAM/85, de 9 de outubro – Aprova os planos de estudos dos Cursos Básico e


Complementar de Música em regime supletivo.

Decreto-Lei nº 344/90, de 2 de novembro – Estabelece as bases da educação artística no


âmbito pré-escolar, escolar e extraescolar.

Decreto-Lei nº 71/99, de 12 de março – Estabelece as competências do Ensino Particular e


Cooperativo.

Portaria nº 1550/2002, de 26 de dezembro – Publica os planos de estudo dos Cursos Básicos


do Ensino Especializado da Música e da Dança, em regime articulado, assim como as condições
de admissão, constituição de turmas, avaliação e certificação dos alunos nos cursos básicos e
secundários neste regime de frequência.

Portaria nº 225/2012, de 30 de julho (2009). Cria o Curso Básico de Dança, o Curso Básico de
Música e o Curso Básico de Canto Gregoriano do 2º e 3º ciclo do Ensino Básico e aprova os
respetivos planos de estudo.

Decreto-Lei nº 139/2012 de 5 de julho (2012). Estabelece os princípios orientadores da


organização e da gestão dos currículos dos ensinos básico e secundário.

Portaria nº 243-B/2012, de 13 de agosto (2012). Define o regime de organização e


funcionamento, avaliação e certificação dos cursos secundários artísticos especializados de
Dança, de Música, de Canto e de Canto Gregoriano e aprova os respetivos planos de estudos
ministrados em estabelecimentos de ensino público, particular e cooperativo.

80
ANEXOS

81
82
ANEXO I
Questionário aos professores de Formação Musical

Questionário aos professores de Formação Musical

O presente inquérito surge no âmbito de um projeto de Mestrado em Ensino de Música com o


tema «A importância da improvisação e o seu papel na aprendizagem das ciências musicais e da
formação musical». O mesmo visa obter dados acerca das metodologias utilizadas pelos
professores de Formação Musical ao longo das suas aulas.
Os dados recolhidos são confidenciais e anónimos.
Obrigada pela colaboração!

I. Dados Pessoais

1. Sexo:

___ Masculino ___ Feminino

2. Formação Académica: ___________________________

3. Tempo de serviço: ____________ anos

3.1. Tempo de serviço no CVS: __________ anos

4. A quantos alunos leciona atualmente no CVS? ________________________

5. Neste momento, que grau(s) leciona no CVS? (assinale com x)

___ 1º ___ 2º ___ 3º ___ 4º

___ 5º ___ 6º ___ 7º ___ 8º

83
II. Metodologias de ensino na disciplina de formação musical

1. Utiliza a prática da improvisação nas suas aulas?

Sim ___ Não ___

1.1. Se respondeu sim, que tipo de improvisação é utilizada nas suas metodologias?
(assinale com x a(s) opção(s))

___ Improvisação rítmica


___ Improvisação vocal
___ Improvisação instrumental
___ Improvisação melódica
Outra: ____________________

1.2. Se respondeu não, porque não o faz?


______________________________________________________________________
__________________________________________________________________

2. Acha útil a improvisação aplicada à Formação Musical?

___ Sim ___ Não

2.1. Porquê?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

3. Muitos pedagogos, nomeadamente Gordon, Schafer, entre outros, defendem que no


ensino da música a prática deve preceder a teoria. Concorda com esse aspeto?

___ Sim ___ Não

84
3.1. Porquê?

____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

4. Quando planifica as suas aulas tem em consideração o aspeto da ‘criatividade’?

___ Sim ___ Não

4.1. Concorda que a improvisação pode ser, até certo ponto, uma forma de criatividade?

___ Sim ___ Não

4.1.1. Porquê?

______________________________________________________________________
____________________________________________________________________

5. Mencione, no seu entender, vantagens da utilização da improvisação aplicada à


disciplina de Formação Musical.
______________________________________________________________________
__________________________________________________________________

6. Mencione, no seu entender, desvantagens da utilização da improvisação aplicada à


disciplina de Formação Musical.
______________________________________________________________________
__________________________________________________________________

7. Considera importante a inclusão da disciplina de Improvisação nos cursos do ensino


artístico especializado da música?

___ Sim ___ Não

85
7.1. Justifique.

______________________________________________________________________
____________________________________________________________________

7.2. Se respondeu sim, a partir de que graus considera esse aspeto relevante?

______________________________________________________________________
____________________________________________________________________

Obrigada pela colaboração!

86
ANEXO II
Questionário inicial de História da Cultura e das Artes

Questionário aos alunos de História da Cultura e das Artes

O presente inquérito surge no âmbito de um projeto de mestrado em Ensino de Música e visa


obter dados acerca do teu conhecimento em relação ao tema da improvisação. Sê o mais
sincero possível em cada resposta. A tua colaboração é muito importante.
Os dados recolhidos são confidenciais e anónimos.

I. Dados Pessoais

1. Sexo:

___ Masculino ___ Feminino

2. Idade: _____________

3. Grau que frequentas no CVS: _________________

4. Instrumento: _______________

5. Com que idade começaste a estudar música? __________________

II. A Improvisação na História da Música

6. O que entendes por ‘Improvisação’?

______________________________________________________________________

87
7. Na tua opinião, a música improvisada começa a ser praticada em que período da
História da Música?

___ Idade Média (até cerca de 1450)


___ Renascimento (1450 – 1600)
___ Barroco (1600 – 1750)
___ Clássico (1750 – 1810)
___ Romântico (1810 – 1910)
___ Séc. XX (Modernismo – a partir de 1900)

8. Quando é mencionado o termo ‘improvisação’ a que género/estilo musical associas?


Porquê?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

9. Na tua opinião, a improvisação pode ser interpretada como (assinala a(s) opção(s)):

___ Um processo que envolve composição e execução


___ Auxiliar do processo composicional
___ Elemento integrante de interpretação musical
___ Género musical autónomo

III. A prática da improvisação

10. É habitual utilizares a técnica da improvisação em algum contexto musical?

___ Sim ___ Não

(Se respondeste sim, passa à questão 11. Se respondeste não, passa à questão 12.)

88
11. Em que contexto o fazes?

_____________________________________________________________________

12. Se assinalaste ‘não’ na questão 10, porque não o fazes? (assinala a(s) opção(s)):

___ Não gosto


___ Não me sinto à vontade
___ Nunca me foi pedido
___ Nunca surgiu oportunidade
___ Outro(s): ________________________

13. Achas que esta técnica deveria estar implementada ao longo dos vários anos de
conservatório?

___ Sim ___ Não

13.1. Porquê? ________________________________________________________

Obrigada pela colaboração!

89
90
ANEXO III
Questionário final de História da Cultura e das Artes

Questionário aos alunos de História da Cultura e das Artes

O presente inquérito surge no âmbito de um projeto de mestrado em Ensino de Música e visa


obter dados acerca do conhecimento do público-alvo em relação ao conceito de improvisação e à
história que o rodeia.
Os dados recolhidos são confidenciais e anónimos.

Obrigada pela colaboração!

I. Dados Pessoais

1. Sexo:

___ Masculino ___ Feminino

2. Idade: _____________

3. Grau que frequentas no CVS: _________________

4. Instrumento: _______________

5. Com que idade começaste a estudar música? __________________

II. A Improvisação na História da Música

6. O que entendes por ‘Improvisação’?

______________________________________________________________________

91
7. Na tua opinião a música improvisada começa a ser praticada em que período da
História da Música?

___ Idade Média (até cerca de 1450)


___ Renascimento (1450 – 1600)
___ Barroco (1600 – 1750)
___ Clássico (1750 – 1810)
___ Romântico (1810 – 1910)
___ Séc. XX (Modernismo – a partir de 1900)

8. Achas que o conceito de ‘improvisação’ tal como o conhecemos hoje se manteve


inalterável ao longo das várias épocas da História da Música?

___ Sim ___ Não

8.1. Se respondeste não, o que achas que mudou?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

9. Em tempos mais antigos da História da Música, achas que os intérpretes utilizavam a


técnica da improvisação de forma consciente?

___ Sim ___ Não

10. O que achas que influenciava o facto de improvisarem com frequência em épocas
passadas? (assinala a(s) opção(s) com a(s) qual(s) concorda(s)):

___ Para inovar


___ A ausência de notação
___ Para ornamentar
___ Para criar géneros musicais novos

92
11. Quando é mencionado o termo ‘improvisação’ a que género/estilo musical associas?
Porquê?

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

12. Na tua opinião, a improvisação pode ser interpretada como (assinala a(s) opção(s) com
a(s) qual(s) concorda(s)):

___ Um processo que envolve composição e execução


___ Auxiliar do processo composicional
___ Elemento integrante de interpretação musical
___ Género musical autónomo

Obrigada pela colaboração!

93
94
ANEXO IV
Planificação de Formação Musical

Conservatório do Vale do Sousa

Planificação Formação Musical 2º grau (6ºE1)


Duração da aula: 90’ Data: 12/06/2015
Tema da aula: Improvisação: música- familiar
Palavras – Chave: padrões tonais, pergunta-resposta, improvisação, contexto familiar.
Objetivos Gerais: concentração; desenvolver afinação; desenvolver a audiação; desenvolver a prática de improvisação vocal.
Conteúdos: Entoação de padrões tonais, exercícios de pergunta-resposta, improvisação sobre uma melodia familiar.

IMPROVISAÇÃO: MÚSICA- FAMILIAR

CONTEÚDOS OBJECTIVOS ESTRATÉGIAS/ACTIVIDADES


 Entoar os Padrões Gordon,  Será relembrado o exercício da aula passada, de modo a dar continuidade à improvisação
MELODIA  Audiar as funções tonais I/V; sobre os padrões tonais I e V. Os Padrões Gordon servirão como revisão para esse mesmo
ponto;
 Improvisar motivos melódicos de  Será repetido o exercício de improvisação de modo a que todos os alunos participem e
pergunta/resposta; audiem as funções tonais estudadas e as principais características de cada uma delas (sem
HARMONIA nome de notas);
 Será utilizada a canção tradicional «O meu chapéu tem três bicos» para dar continuidade à

95
improvisação em contexto de música-familiar;
 Audiar as funções tonais tónica/dominante:  Antes de entoarem o tema, a professora entrega uma pequena ficha de trabalho onde os
Teste de audiação de funções harmónicas alunos, depois de ouvirem alguns temas interpretados no piano, terão que colocar a
(ver Anexo VI); respetiva sequência dos graus tonais, de modo a posteriormente avaliar a compreensão
auditiva dos intervenientes após todas as sessões lecionadas. A ficha de trabalho inclui,
entre outros, o tema selecionado para a improvisação na presente aula.
 Entoar o tema «O meu Chapéu tem trrês  De forma a introduzir a improvisação incluindo música-familiar, será entoada a respetiva
bicos»; canção, acompanhada com o piano.
 Improvisar sobre o tema em questão;  De seguida, os alunos terão que improvisar livremente sobre o tema em questão, com
acompanhamento do piano, numa sequência harmónica inventada por eles, sem duração
pré-estabelecida.
 Após todos os intervenientes terem participado, terão que, de seguida, improvisar sobre a
progressão harmónica estabelecida pela melodia em questão. A cada improvisação, segue-
se a melodia original entoada por todos os alunos e assim sucessivamente.

Recursos utilizados no decorrer da aula:


 Piano;
 Fotocópia com os Padrões Gordon

96
ANEXO V
Ficha de Trabalho de Formação Musical (Aula nº 3)

Ano Letivo 2014/2015


6º E

Ficha de Trabalho

1. Classifica a cadência que ouves como Cadência Perfeita ou Cadência Suspensiva.

1. __________________________

2. __________________________

3. __________________________

4. __________________________

2. Descobre a sequência que acabas de ouvir (I = Tónica e V = Dominante):

a)
1. I V I I V I I V
2. I V I V V I V I
3. I I V I V I V I
4. V I I V V I I V

b)
1. I V I V V I
2. I I V I V V
3. V I V I I V
4. I V I I V V

97
3. Constrói os graus tónica (I) e dominante (V) a partir da tonalidade:

Sol M

Mi M

Si m

Sib M

Fá m

Lá b M

98
ANEXO VI
«Teste de audiação de funções harmónicas» (Aula nº 6)

Ficha de Trabalho – 6ºE1

Nome: ______________________________________Instrumento: ________________

1. Melodia nº 1

Anacruse Modo

Sim Não Maior Menor

2. Melodia nº 2

Anacruse Modo

Sim Não Maior Menor

99
3. Melodia nº 3

Anacruse Modo

Sim Não Maior Menor

100
ANEXO VII
Planificação do Workshop de Improvisação Vocal

Conservatório do Vale do Sousa


Workshop de Improvisação Vocal

Duração da aula: 60’ Data: 12/06/2015


Palavras – Chave: Padrões tonais, funções harmónicas, pergunta/resposta, improvisação vocal.
Objetivos Gerais: concentração; desenvolver afinação; desenvolver a audiação; desenvolver a prática de improvisação vocal.
Conteúdos: Exercícios de «pergunta-resposta», improvisação vocal sobre uma melodia não familiar, circle singing.
Questão: Que diferenças existem entre os alunos do 6ºE1, que tiveram contacto com a improvisação ao longo das sessões de intervenção e os alunos do
6ºE2 que nunca tiveram esse mesmo contacto?

CONTEÚDOS OBJECTIVOS ESTRATÉGIAS/ACTIVIDADES


 Improvisar sobre padrões tonais I/V como  Será realizado um exercício de pergunta/resposta improvisado pelos alunos. Depois de uma
MELODIA forma de pergunta/resposta; breve explicação, a professora entoará um género de pergunta numa tonalidade à escolha e
selecionará um aluno para a resposta (e vice-versa). Esse aluno, dentro das funções tonais I
e V, deverá responder, improvisando uma pequena melodia. O exercício será realizado de
modo a que todos os alunos participem e audiem as funções tonais tónica e dominante e as
HARMONIA principais características de cada uma delas (sem nome de notas), principalmente os alunos
que nunca tiveram contacto com a improvisação.
 Improvisar sobre a melodia «Long, long  Será utilizada uma melodia não-familiar para o exercício de improvisação vocal. A melodia

101
ago», com os padrões I/V; será ensinada aos alunos com acompanhamento do piano e com sílaba neutra, ou seja,
 Desenvolver competências de audição sem nome de notas.
interior com as funções tonais abordadas;  De seguida, cada um dos alunos improvisará sobre o tema em questão, com
acompanhamento do piano. Será uma improvisação livre, sem regras estabelecidas, apenas
sobre tónica e dominante.
 Entoar pequenos motivos melódicos a vozes,  Num círculo, todos de pé, a professora divide o grande grupo em 4 partes, formando dessa
reconhecendo os padrões tonais abordados; forma 4 grupos. A cada grupo é atribuído um pequeno motivo melódico improvisado pela
professora, de modo a formar uma harmonia a vozes com as funções tónica e dominante (a
 Improvisar melodicamente ao longo do capella). Desta forma, os alunos entoam 4 vozes diferentes, numa espécie de loop. De
exercício «circle singing». seguida, é pedido a um aluno que improvise, enquanto todos os outros entoam os pequenos
motivos melódicos atribuídos e marcam a pulsação com cliques. O exercício segue sempre
essa ordem até que todos os intervenientes participem.

102
ANEXO VIII
Exercício «Circle Singing»

103
104
ANEXO IX
Planificação de História da Cultura e das Artes

Planificação
História da Cultura e das Artes

Aula nº 8
Tema: A prática da Improvisação na Idade Média
Ano de Escolaridade: 10º ano
Duração: 90’ Data: 07/05/2015
Palavras – Chave: Improvisação, Idade Média, arte oratória, ars praedicandi.

Conteúdos
 A prática da Improvisação na Idade Média
 Revisão da aula nº 6 (Arte Trovadoresca na Península Ibérica)

Competências
No final o aluno deverá ser capaz de:
 Saber a etimologia do conceito ‘improvisação’ e a evolução que sofre ao longo dos séculos;
 Definir improvisação como a arte de inventar e executar simultaneamente, em tempo real;
 Saber que a variedade em música, que mais tarde dá origem à improvisação (nível de intervenção
destinada ao intérprete), provém da arte oratória na Idade Média;
 Reconhecer que o conceito está implementado na música da Idade Média, desde o canto gregoriano à
música dos trovadores e troveiros (salientando as épocas abordadas nas aulas de intervenção).

105
Metodologia/Situações de Aprendizagem

 A aula dá início com o tema da prática da improvisação ao longo da Idade Média (salientando as épocas
abordadas ao longo das aulas de intervenção);
 Em primeiro lugar será feita uma breve contextualização acerca da origem do conceito, da evolução que
este sofre ao longo das várias épocas da história e, acima de tudo, quais as suas influências;
 Em segundo lugar mencionarei a prática da improvisação na Idade Média, desde o surgimento do canto
gregoriano e da polifonia primitiva ao canto dos trovadores e troveiros, especificando de que forma era
executada;
 No final desta abordagem será entregue um breve inquérito aos alunos, para aquisição de dados
relevantes acerca deste tema para o futuro relatório de estágio;
 Na última parte da aula será realizada uma breve revisão da aula nº 6 (Arte Trovadoresca na Península
Ibérica) devido à falta de alguns alunos nessa mesma aula;
 Por fim, será realizada uma ficha de trabalho para consolidação de conceitos acerca da arte trovadoresca
na Península Ibérica.

Recursos
 Computador;
 Colunas;
 Projetor (para apresentação em PowerPoint);
 Ficha de Trabalho.

Avaliação

 Observação direta;
 Avaliação informal.

Links do Youtube para audição de obras


 https://www.youtube.com/watch?v=anbEEf7T8ik (Alleluia: Angelus Domini)
 https://www.youtube.com/watch?v=PhqWgfGK1Xw («Sederunt Pincipes» - Pérotin)

106
Bibliografia

 Bennett, R. (1986). Uma Breve História da Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor
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107

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