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ARTIGO ORIGINAL

Planejamento estratégico de uma equipe


profissional de futsal: um olhar para as
características

Strategic Planning of a Professional Indoor Football Team: a look at the


characteristics

Marlon Neves Resumo: Este estudo surgiu do interesse em compreender o valor da admi-
Licenciado e Bacharel em Educação nistração profissional no contexto esportivo, tendo como enfoque o desen-
Física pela Universidade Estadual do volvimento do planejamento estratégico. Tomou-se como base o trabalho
Oeste do Paraná (UNIOESTE). Professor de gestão numa equipe de futsal do Estado do Paraná, que tem conseguido
da Rede Municipal de Ensino de se sobressair com êxito no cenário esportivo estadual e nacional. A respeito
Mercedes-PR. desta equipe, procuramos analisar as características do planejamento es-
tratégico, fazendo isso mediante um procedimento de análise de conteúdo
de entrevistas realizadas e de um questionário respondido por dirigentes da
Mauro Myskiw equipe. Foi possível concluir que o planejamento é caracterizado pela forte
Doutor em Ciências do Movimento Hu- orientação ao produto, este relacionado à formação e manutenção de um
mano (UFRGS). Professor do Colegiado time competitivo, capaz de vencer (ocupar um excelente posicionamento num
de Educação Física da Universidade Es- mercado esportivo, em competições relevantes no cenário da modalidade).
tadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
Membro do Grupo de Estudos Socio- Palavras-chave: Gestão esportiva; Planejamento estratégico; Futsal.
culturais em Educação Física (GESEF/
UFRGS/CPNq).
Abstract: This study arose out of an interest to understand the value of
professional administration in a sports context, having as its focus strategic
development and planning. As a basis for the work, the management of an in-
door football team from the state of Paraná was taken; this team has excelled
successfully in the state and in the national sports scene. Regarding the team,
we have sought to understand the characteristics of strategic planning through
a procedure of analysis of the content of interviews and from a questionnaire
answered by the directors of the team. It was possible to conclude that the
planning is characterized by a strong orientation of the product related with
the formation and maintenance of a competitive team, capable of winning
(occupying an excellent place in the sporting market in competitions relevant
in the model scenario).

Keywords: Sports Management; Strategic Planning; Indoor Football.

Caderno de Educação Física (ISSN 1676-2533 | e-ISSN 1983-8883)


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1 INTRODUÇÃO instituições esportivas precisam reformular seus


processos de gestão em vista da profissionaliza-
ção, numa espécie de enfrentamento às práticas
Um olhar sobre os grandes palcos da orga-
classificadas como “amadorísticas” (rapidamente
nização social nos possibilita afirmar, com certa
relacionadas aos compadrios, aos favorecimentos
segurança, que o esporte compreende um campo1
individuais ou de grupos, da falta de preparo téc-
de funcionamento relativamente autônomo que,
nico-administrativo, ao desperdício e aos desvios
cada vez mais, incorpora, nas suas lógicas inter-
ou práticas escusas), dentre os quais destacamos
nas, dinâmicas de gestão2 peculiares e crescen-
Brunoro e Afif (1997), Melo Neto (1998), Aidar e
temente especializadas, o que não significa dizer
Leoncini (2000), Azevêdo (2002), Santos (2002),
que são locais ou pertencentes a um determinado
Bastos (2003), Azevedo e Barros (2004), Rodrigues
grupo ou região. Assim como as práticas espor-
(2006) e Spessoto (2008).
tivas engendradas dentro dos campos, das qua-
dras ou das pistas, as práticas de gestão esportiva O fato da maioria desses trabalhos, consta-
também tem extrapolado as fronteiras nacionais tações e reflexões terem tematizados a gestão do
e tem se consolidado como um fenômeno cultu- futebol não é despropositado. No cenário nacio-
ral internacional, especialmente quando se coloca nal, dentre os vários circuitos esportivos, aquele
em questão o papel dos veículos de comunicação em que a dimensão do profissionalismo mais é
disponíveis e a ampla circulação de pessoas, entre demandada como legítima, sem dúvida, é o fu-
elas, jogadores e administradores, em distintos es- tebol. Isto ocorre justamente porque a dinâmica
paços. Quer dizer, os grandes eventos esportivos concorrencial entre os times não fica restrita ao
(como a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpía- interior das arenas esportivas, se desenvolvendo a
das) não são apenas resultados da disseminação, partir delas ou no seu entorno, conformando uma
assimilação e apropriação de técnicas corporais e volumosa e dinâmica indústria3, cada vez mais
táticas de grupos em face às disputas esportivas, competitiva na seara dos negócios. Nessa configu-
mas igualmente da disseminação de modelos de ração mercadológica, que envolve a profissionali-
gestão rumo ao que se convencionou denominar zação dos jogadores, dos gestores, a contratação
de “profissionalização”. de muitos especialistas (treinadores, preparado-
res físicos, fisiologistas, médicos, fisioterapeutas,
Nesse rumo, no interior do campo esporti- psicólogos, etc.), a comercialização e o consumo
vo, tem se constituído o lugar do gestor esporti- de inúmeros produtos e serviços relacionados, a
vo, cuja demanda na sustentação das instituições proteção e a comercialização dos direitos de ima-
(sejam elas do primeiro, do segundo ou do ter- gem, emergem constructos teórico-práticos plenos
ceiro setor) não se limita a dominar técnicas ad- de significados, como “esporte espetáculo”, “clube
ministrativas inerentes a outros setores empresa- -empresa” e “produto esportivo”.
riais e deslizá-los para seus espaços. Cabe a ele
compreender as especificidades e a complexidade Em se tratando de um “negócio”, não é te-
da estrutura esportiva (as similitudes e as pecu- meroso afirmar que a indústria esportiva – com
liaridades entre as modalidades, os níveis ou tipo destaque para a futebolística, no cenário nacio-
de competições, e os circuito de práticas, etc.). No nal – movimenta bilhões de dólares anualmente,
Brasil, não são poucos os investigadores, estudio- e que o mercado esportivo cresce a cada dia, se
sos e administradores que, nas últimas décadas, tornando mais amplo e complexo no que tange a
tem encorpado o coro (ou a crença) de que as circulação e transação de recursos (FERNANDES,
2000). E, quando a administração passa a ser
1 Utilizamos a noção de campo aqui tendo como referência a pensada nesse cenário ou nessa perspectiva – de
reflexão e o programa de análise produzido por Pierre Bour-
dieu sobre o esporte enquanto um espaço social particular, negócios –, avultam-se as afirmações em torno da
de disputas, dotado de lógicas, regras, princípios e capitais importância do planejamento estratégico4 dentre
específicos de funcionamento, irredutíveis a outros espaços as preocupações e práticas dos gestores. Tam-
(ver em Bourdieu, 1983 e 1990).
2 A gestão, neste trabalho, compreende o entendimento de 3 Dois trabalhos que apontam elementos importantes dessa
que são todos os esforços (não apenas os técnico-administra- configuração são os de Diniz e César (1999) e de Aidar e
tivos) colocados em ação para estabelecer trocas benéficas e Leoncini (2000).
positivas (o que inclui a dimensão financeira) às instituições 4 Na sequência deste texto, apontamos com mais precisão
empresariais e seus clientes e stakeholders. nossa interpretação a cerca desse termo.
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bém nesse sentido já se pode observar esforços 2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO/DO ES-
e análise de instituições esportivas, várias delas PORTE
empregando matrizes formuladas noutros setores,
a respeito das contingências internas e externas
No âmbito mais ampliado das reflexões e
(especificamente “a SWOT” – forças, fraquezas,
teorizações a respeito das estratégias empresa-
oportunidades e ameaças – e o modelo das 5 for-
riais, ganham destaque as formulações de Igor
ças “de Porter” – compradores, entrantes, substi-
Ansoff (1981), Michael Porter (1986), Henry Mintz-
tutos, concorrentes e fornecedores) e das decisões
berg (1995), Garry Hamel e Coimbatore Prahalad
de posicionamento no mercado (de enfoque no
(1995). Estes autores atentam para a importân-
produto-mercado, “de Ansoff”, e de enfoque na
cia do planejamento estratégico enquanto uma
concorrência, “de Porter”). Algumas dessas análi-
ferramenta de gestão, não como uma “tábua de
ses podem ser observadas com mais profundidade
salvação”, mas como um esforço intensamente
nos trabalhos de Myskiw (2003), Pilatti e Vlastuin
orquestrado que compreende um plano de negó-
(2005) e Souza (2007).
cios orientado para um mercado particular, o es-
Outra direção de análises a cerca do plane- tabelecimento de metas para um posicionamento
jamento estratégico enquanto ferramenta de ges- valioso (ou diferenciado), a constante prospecção
tão de negócios na “indústria esportiva” – esta mais e desenvolvimento das competências que serão
próxima daquilo que se propõe este trabalho –, en- necessárias no futuro, isso tudo em consonância
volve a aproximação ou até mesmo o desenvolvi- com as condições objetivas de eficiência e eficácia
mento de “modelos” que orientam não apenas as operacional sustentável. Tais dimensões são im-
avaliações e as tomadas de decisões, mas também preteríveis na definição de práticas adequadas no
a operacionalização no âmbito das organizações. âmbito das organizações (LIMA, 2003), servindo
Nesse sentido, destacamos as proposições realiza- como referências concretas para estabelecer me-
das Fernando París Roche (2002) e de Taís Stefanello tas, enfrentar situações, alinhar esforços e interes-
Ghisleni (2005). O que estes dois trabalhos tem em ses dos colaboradores (BATEMAN; SNELL, 1998).
comum é o fato de que ambos apresentam e fun-
damentam modelos específicos de planejamento Estas definições não são menos relevantes
estratégico – adaptados ou adequados à realidade quando se considera o contexto da gestão espor-
esportiva –, orientando não apenas as avaliações, tiva, cujas entidades, afirma Roche (2002), sen-
mas também os processos de implementação no tem-se, cada vez mais, obrigadas a refletir sobre
âmbito das instituições esportivas. o caminho a ser adotado no futuro. Para este au-
tor, urge a necessidade de fazer o planejamen-
É exatamente na expectativa de compreen-
to e acompanhar constantemente os resultados
der um pouco mais da “realidade concreta” em
de suas ações, interna e externamente. Cabe ao
torno desse processo, que desenvolvemos este es-
gestor esportivo operacionalizar diligências nesse
tudo, que teve como objetivo analisar caracte-
sentido, procurando articular as suas metas com
rísticas do planejamento estratégico de uma
as condições/situações enfrentadas no cenário de
equipe de futsal cuja trajetória evidencia um
negócios, alinhando as práticas daqueles que fa-
grande crescimento no cenário esportivo estadual
zem parte das entidades em torno de uma cultura
(Paraná) e também no nacional, com resultados
organizacional, que incorpora um processo dinâ-
expressivos no âmbito esportivo, num circuito pro-
mico objetivado numa forma de trabalhar que,
fissional5. Inicialmente, este estudo das caracterís-
ticas teve como questões operacionais categorias não raro, se torna um traço da marca, da identi-
já bastante enfatizadas no processo da estratégia dade da organização.
(análises ambientais; definições de objetivos, mis- Em que pese esse processo dinâmico corres-
são, visão; decisões estratégicas; formulação e pondente à cultura das organizações esportivas,
execução de projetos; avaliações e retroalimenta- destacamos os modelos de planejamento estraté-
ções), tal como será referido rapidamente na pró- gico propostos por Roche (2002) e Ghisleni (2005).
xima seção do trabalho, com ênfase no ambiente O primeiro foi concebido a partir das experiências
esportivo. do seu autor na gestão de distintas entidades es-
5 O nome da equipe não será divulgado por razões de ética portivas na Espanha e o segundo retrata o resulta-
de pesquisa. do de uma investigação sobre as práticas no âm-
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bito de dois grandes clubes de futebol profissional Com base nessas análises (internas e exter-
da cidade de Porto Alegre. É importante ressaltar nas) pode-se compreender, com maior eficiência
que o modelo de planejamento estratégico apre- e consistência, os pontos fortes e fracos, as opor-
sentado por Ghisleni (2005) incorpora e reforça as tunidades de mercado, as ameaças a serem en-
proposições de Roche (2002), como também e de frentadas, as competências e os posicionamentos
outros dois trabalhos relacionados a organizações competitivos necessários para as organizações
sem fins lucrativos. esportivas se manterem de modo sustentável, as-
sim como os seus valores (princípios norteadores)
Tanto Roche (2002), como Ghisleni (2005)
e as suas missões (razão de ser). Estes elementos
argumentam que a elaboração e a implemen-
derivados das análises, por sua vez, servirão de
tação do planejamento estratégico compreende
base para as próximas etapas do planejamento
exercícios de análise sobre o ambiente interno e
estratégico, isto é, na criação e produção de va-
externo, sendo estes fundamentais para as deci-
lores. O primeiro aspecto para tanto – apontado
sões em relação aos problemas, limitações, pos-
pelos dois autores que estamos destacando – re-
sibilidades, medidas e objetivos. A análise interna
fere-se ao estabelecimento dos objetivos gerais,
do ambiente, conforme aponta Roche (2002, p.
isto é, o apontamento claro de quais os resultados
68-69), engloba três aspectos: os recursos huma-
que se pretende alcançar e quais ações devem ser
nos (a equipe humana que forma a base da en-
concretizadas. A respeito destes objetivos, Roche
tidade); os recursos orçamentários (a capacidade
(2002, p. 80-81) ressalta que devem ter algumas
econômica presente e futura); a estrutura organi-
características: serem coerentes com a política
zacional e os procedimentos da entidade (a capa-
da entidade; serem um número reduzido; serem
cidade de funcionamento da entidade para atingir
mensuráveis; representarem propósitos a alcançar
com sucesso a realização de seus objetivos, en-
em médio prazo; e serem aceitos pelos responsá-
globando a execução de seus programas e a agi-
veis pela entidade.
lidade de seus procedimentos). Para além desses
fatores, Ghisleni (2005, p. 107-108), observando Uma vez definidos os objetivos gerais das
e tomando os clubes de futebol como espaços de organizações esportivas, e feito isso de maneira
disputas, incorpora no seu modelo o aspecto das ponderada, baseado nas análises, torna-se possí-
relações de poder no interior das organizações, vel elaborar, então, aquilo que Roche (2002, p. 87-
compreendendo que estes não são menos signi- 88) denominou de “estratégias organizacionais”,
ficativos nas definições das necessidades e metas isto é, caminhos ou etapas operacionais específi-
das instituições. cos e concretos (correspondentes às capacidades
e competências agregadas) capazes de atender as
Em relação à análise ambiental externa, nos
metas, devendo estes apresentar algumas carac-
dois modelos são destacados os fatores sociológi-
terísticas, como: possibilidade de mensuração e
cos (como aspectos demográficos, sociais, hábitos
de avaliação; serem compreensíveis e motivado-
de comportamento, estilos de vida), jurídicos ou
res. Derivam dessas estratégias os “projetos”, nos
normativos (estabelecimento e mudanças de leis,
quais estarão envolvidas as pessoas, os grupos ou
resoluções e normativas que podem afetar), po-
os setores que fazem parte das organizações es-
líticos (provisões de governantes ou instituições
portivas, em vista da execução de ações orques-
governamentais a respeito das políticas esporti-
tradas e verossimilhantes dentro do cotidiano e
vas, econômicas e sociais) e a opinião dos usu-
da cultura organizacional. Tais projetos, de acordo
ários (aqueles que, de uma forma ou e outra, se
com a investigação realizada por Ghisleni (2005)
beneficiam da entidade). A respeito da realidade
podem ser de longo ou de curto prazo, consubs-
dos clubes de futebol profissional, Ghisleni (2005)
tanciando o entendimento de Roche (2002) sobre
observa que estas análises externas devem estar
o fato de que devem ter um tempo de duração
atentas ao mercado de jogadores (contratações,
delimitado, além de estarem associados à susten-
salários, formação, circulação, categorias de base,
tabilidade da entidade e sob a responsabilidade
etc.), aos interesses e demandas dos torcedores
de uma pessoa.
(lazer, calendários, consumo de imagem, poder
aquisitivo, comunicação, etc.) e aos patrocinado- Os objetivos (metas a seguir), as estratégias
res (marketing esportivo, mídia esportiva, mate- (caminhos operacionais) e os projetos (ações com
riais esportivos, etc.). tempo previsto das pessoas, grupos ou setores)
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servem para consubstanciar um alinhamento so- equipe foi orientada pelos modelos de planeja-
bre aquilo que Roche (2002) chamou de um “pla- mento anteriormente mencionados – de Roche
no operacional anual”. Quanto a esse alinhamen- (2002) e de Ghisleni (2005) –, por se tratarem de
to, uma preocupação que transpassa claramente propostas específicas do campo esportivo, em que
as propostas de planejamento em tela é a contí- pese a gestão. Com base neles, estivemos atentos
nua avaliação e acompanhamento, tanto dos fa- às “análises internas e externas”, às formulações
tores internos quanto dos externos, uma vez que de “objetivos, estratégias e projetos” e ao “estabe-
deve sempre subsistir a capacidade de adaptação lecimento de indicadores de avaliação”. O levan-
juntamente com o esforço de focalização em torno tamento destas informações foi realizado através
das metas. Por isso, a mensurabilidade dos objeti- de entrevistas semiestruturadas e questionários
vos, das estratégias e dos projetos é uma preocu- com 3 membros/dirigentes da equipe de gestão8.
pação constante nas descrições de Roche (2002), A escolha dos sujeitos que participaram do estudo
sendo fundamental a definição de um conjunto de foi feita com base no critério de “envolvimento nas
indicadores que ofereçam parâmetros de compa- tomadas de decisão” na gestão, ou seja, aqueles
ração para as tomadas de decisões futuras. Estes que decidem sobre os “rumos” da equipe.
indicadores podem ser quantitativos (número de Para dar conta da realização das entrevistas
usuários, arrecadação, percentuais de vitórias) ou foi mantido o contato com os sujeitos da pesqui-
qualitativos (ser campeão, manter-se na primeira sa, foram explicados os objetivos do trabalho e foi
divisão). apresentado um roteiro das questões. Diante da
aceitação da participação no estudo a entrevista
3 DECISÕES METODOLÓGICAS foi agendada e realizada. O conteúdo das entre-
vistas foi registrado em aparelho de gravação di-
gital e posteriormente transcrito para o formato
A investigação foi realizada com a preocu- de texto. Um dos sujeitos optou por responder as
pação sobre a descrição6 das características do questões do roteiro (na forma de um questionário)
planejamento estratégico desenvolvido – de modo e entregá-la posteriormente. Os três dirigentes
mais ou menos deliberado ou emergente7 – por participantes da pesquisa foram informados das
uma equipe de futsal. Esta equipe foi escolhida por condições do estudo e seus objetivos, como tam-
ter conseguido, nos últimos anos, classificações bém sobre os usos posteriores das informações
consideradas “excelentes” nas primeiras divisões produzidas. Diante disso, concordaram esponta-
dos campeonatos estaduais e nacionais, represen- neamente com a participação e assinaram o ter-
tando um “caso de sucesso” no cenário esportivo mo de consentimento livre e esclarecido.
paranaense. E, além dos resultados, essa classifi-
cação como “de sucesso” está fundamentada no As informações produzidas através das en-
fato de que a equipe conta com profissionais (jo- trevistas e do questionário foram analisadas a
gadores, treinadores, preparadores físicos, médi- partir de seu conteúdo. Segundo Fiorentini e Lo-
co e psicólogo) e com o envolvimento de vários renzato (2006, p. 136) a análise de conteúdo “[...]
patrocinadores (entre empresas locais, órgãos pú- significa um processo de classificação ou organi-
blicos e empresa de materiais esportivos). zação de informações em categorias, isto é, em
classes ou conjuntos que contenham elementos
A produção das informações a respeito das ou características comuns”. A primeira fase desta
características do planejamento estratégico da classificação foi representada pela de leitura dos
6 O estudo descritivo é compreendido aqui como um esforço conteúdos e pela organização destes na forma de
sistemático de investigação, cujo propósito central, tal como unidades de significados. Estas unidades, inicial-
argumenta Gil (1991), é a descrição de determinadas ca- mente, foram alocadas de acordo com os “mo-
racterísticas de uma determinada população ou de um fe-
nômeno – no caso deste estudo, de um fenômeno – e o es- mentos” do processo de planejamento estratégico
tabelecimento das relações entre estas características com o (análise ambiental; objetivos; estratégias; proje-
propósito produzir conclusões a respeito. tos; indicadores e avaliação). Com os conteúdos
7 Nessa definição nos foi cara a reflexão de Mintzberg e
Quinn (2000) sobre os diferentes tipos de estratégias, varian- 8 Por questões de ética de pesquisa, os nomes dos dirigentes
do deste puramente deliberadas pelos gestores até puramen- foram substituídos por letras do alfabeto (dirigentes A, B e C),
te emergentes das condições concretas da organização e do para que pudéssemos garantir o anonimato dos interlocuto-
cenário de negócios. res que colaboraram com a pesquisa.
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organizados desta forma, numa segunda etapa, rio esportivo – demanda acréscimos dos recursos,
foi realizado um exercício de agrupamento/cate- como ressaltou o entrevistado B ao dizer que “[...]
gorização das unidades de significado de acordo o investimento da equipe aumentou, principalmen-
com as características do planejamento implemen- te porque nós estamos disputando a Liga Nacio-
tado e operacionalizado pela equipe de futsal. Tal nal de 2009 [...]”. Mas, isto não é considerado um
esforço culminou com a formulação de 4 catego- problema. Se, por um lado, o vínculo com com-
rias, cujas análises contemplam uma abordagem petições de maior nível corresponde ao aumento
compreensiva sobre aquilo que se faz. Não se tem dos investimentos, por outro, simultaneamente,
a pretensão (e o objetivo) de afirmar o que se deve ele está relacionado ao aumento da visibilidade e
fazer ou de encaixar as características dentro de do valor agregado da equipe e, portanto, da sua
um processo evolutivo. atratividade enquanto canal de comunicação (de
marketing), potencializando a captação de patro-
cinadores e de outros parceiros ou apoiadores. É
4 CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO ES- nesse sentido que a avaliação das condições fi-
TRATÉGICO nanceiras (elemento interno) deveria estar alinha-
da ao valor das competições (aspecto externo).
A análise dos conteúdos nos possibilitou a Este mesmo exercício analítico era referido em
formulação de 04 categorias que se relacionam relação ao plantel de jogadores – elementos in-
diretamente com as diferentes etapas do processo ternos – que também deveriam estar em acordo
de formulação e implementação do planejamen- com a relevância da competição.
to estratégico, porém com foco nas suas caracte- No caso da equipe de futsal estudada, que
rísticas. Inicialmente, as categorias são definidas disputaria, em 2009, o Campeonato Paranaense,
e, na sequência, são descritas e analisadas, com Série Ouro, e a Liga Nacional de Futsal, segundo
destaque – em negrito – para os elementos mais a avaliação explicitada pelo dirigente A, “[...] já
contundentes na caracterização. foi viabilizado o orçamento e já temos todo esse
dinheiro em caixa, para que nós possamos dispu-
tar as competições no ano de 2009”. As avaliações
4.1 O produto entre a reputação e o dinheiro
das competições e do volume de caixa, por seu
em caixa
turno, se intercambiam com outro tipo de análise,
a do mercado de jogadores contratáveis, isto
Nesta categoria foram alocadas as unidades é, daqueles que atendem aos anseios da comissão
de significados que se referiam às análises am- técnica e dos gestores, de acordo com perfis. Um
bientais externas e internas engendradas pelos destes foi traçado pelo dirigente B, ao explicar que
gestores da equipe de futsal. Em que pese este o mapeamento de jogadores contratáveis no mer-
tipo de conteúdo, os dirigentes, ao tratarem das cado considerava “[...] atletas que tenham um per-
avaliações sobre as próprias condições para criar, fil competitivo, ou seja, jogadores que embora não
produzir e sustentar uma posição de valor, ressal- tenham títulos de expressão a nível nacional, mas
tavam o volume do caixa financeiro e o plan- são atletas que buscam em suas equipes esse tipo
tel9 de jogadores existente. E, quando eles foram de resultado [...]”. Tal afirmação chama a atenção
questionados sobre os fatores que não estão sob não apenas para a “vontade de vencer” do joga-
o controle direto dos membros do time, mas que dor. Do mesmo modo que as competições agre-
são elementos importantes a serem considerados gam valor, isso também ocorre com a reputação
no planejamento, ficou latente a atenção dispen- dos jogadores – os que tem títulos, por exemplo
sada às características das competições que –, posto que aqueles já bastante reconhecidos no
disputavam ou que disputariam e ao “mercado cenário do futsal profissional ampliam não apenas
de jogadores”. os custos, mas também as possibilidades de cap-
Na lógica dos interlocutores, uma competi- tação de recursos.
ção de maior nível – pelo tipo de times/adversá- A partir dessas informações, foi possível ob-
rios que agrega e pela sua reputação no cená- servar que a análise ambiental está fortemente
9 Termo utilizado para se referir ao conjunto de jogadores orientada para o produto (entendido como a for-
contratados para fazer parte da equipe. mação de um time de futsal competitivo e ven-
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cedor10), especialmente na sua adequação ao va- 2009: “[...] então a expectativa maior, este ano, da
lor simbólico da competição, o que ressoa sobre diretoria da [nome da equipe], é claro ser campeão
o atendimento dos desejos e no envolvimento11 paranaense [...]” (dirigente A); “[...] o objetivo na
de um mercado de consumidores primários – verdade, a gente tem um objetivo só, que é o título
os torcedores. Se considerarmos o planejamento do campeonato paranaense [...]”(dirigente B). Se
estratégico como uma maneira de selecionar os os objetivos são os elementos que ofertam con-
mercados de atuação (ANSOFF, 1981), de bus- sistência a uma entidade esportiva – como afirma
car posicionamento competitivo (PORTER, 1986) Roche (2002) –, representando a sua missão e as
ou de incorporar/agregar competências (HAMEL; competências arregimentadas, não restaram dú-
PRAHALAD, 1995), não seria imprudente afirmar vidas de que a equipe de futsal estudada procura,
que as análises ambientais aqui observadas com- fortemente, fundamentar-se enquanto unidade de
preendem avaliações bastante restritas, orien- sentido a partir dos seus resultados nos jogos e
tadas para o posicionamento no mercado das nas competições que disputa.
competições esportivas e para a agregação de Em decorrência deste “objetivo central”, tal
competências (o conhecimento tático, as habilida- como apontaram os conteúdos das entrevistas,
des esportivas) e reputações aí valorizadas (títulos, são planificadas outras estratégias que parecem
trajetórias). Não se destacam avaliações mais pre- depender consistência de um projeto: a capta-
cisas – o que não significa que não existam – sobre ção de recursos financeiros. Não significa que a
os torcedores ou sobre outros mercados, como, dimensão financeira seja a única estratégia, mas
por exemplo, o de marketing institucional. que sua consistência é quem oferece parâme-
tros para formular e ajustar os objetivos, assim
como para planificar e colocar em operação ou-
4.2 Um núcleo de orientações para o resulta- tras ações. Também não significa que se trata de
do e para os parceiros uma ação que antecede as outras, mas que ocupa
constantemente a pauta dos gestores. Uma das
unidades de significado que ilustra a preocupação
A partir dos conteúdos foi possível iden- com a captação de recursos consta na entrevista
tificar um núcleo de preocupações recorrentes, do dirigente A, quando este se referia a necessida-
cujas orientações e decisões eram referidas como de de fazer isso durante o ano todo e de maneira
centrais para a gestão da equipe de futsal. Esse organizada, comentando que “a [nome da equipe
núcleo, então, foi considerado uma categoria da de Futsal] hoje tem os projetos pra buscar os recur-
análise, na qual foram alocadas as unidades de sos financeiros, tem os projetos das escolinhas, tem
significado relativas às orientações e decisões cru- os projetos de outras modalidades [...], e, dentro
ciais destacadas. desses projetos, é bem dividido, é bem direcionado,
Ao serem questionados sobre os objetivos como buscar os recursos para todas as modalida-
da equipe, isto é, sobre as metas a serem atingi- des [...]”.
das em longo prazo, ou seja, aquelas que tem o A captação desses recursos financeiros en-
propósito de orientar os colaboradores internos e volvia “instituições parceiras”, como eram mencio-
externos num fluxo comum de ações, restou bas- nadas – estas do setor privado e público –, que
tante evidente que o resultado esportivo é o ele- tinham interesse em vincular suas marcas com a
mento central, tal como enfatizaram os entrevis- imagem da equipe. A respeito disso, embora a
tados A e B sobre o planejamento para o ano de orientação para os parceiros – as fontes dos recur-
10 Esta é uma dimensão bastante restrita da noção de pro- sos financeiros – não tenha sido apontada como
duto futebol, mas que é bastante verossimilhante em relação um objetivo da equipe, certamente ela ocupava
aos conteúdos analisados. Uma discussão mais ampla a res- lugar nas estratégias a serem otimizadas. Sobre
peito do assunto pode ser encontrada no trabalho de Leon-
cini e Silva (2005), que tratam do tema a partir da lógica da essa questão, o entrevistado C explicou que “[...]
produção do espetáculo. o retorno para as empresas patrocinadoras é feito
11 Destacamos o envolvimento, porque o produto esportivo, a divulgação proporcional ao valor investido, algu-
na lógica das ponderações de Minquet (2001), é resultado de
mas empresas divulgamos nos uniformes, outras
uma produção agregada e complementar. Nesse sentido, os
torcedores, ao mesmo tempo em que figuram como consumi- empresas divulgamos no ginásio de esporte e pla-
dores são, simultaneamente, produtores de valor. cas publicitárias na [nome da Associação], divulga-
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mos também na revista da [nome da empresa pa- planejamento para o produto, que concorre den-
trocinadora] o nome das empresas durante o ano”. tro de uma competição esportiva e que atende
aos anseios de uma comunidade de torcedores.
O que se procura destacar até aqui é que
Porém, não são estes torcedores (consumido-
a anterioridade em termos de relevância e preo-
res primários) que fornecem diretamente os re-
cupação dos gestores dessa dimensão financeira
cursos mais significativos, numa relação de troca,
não é descabida, como se pode observar explici-
para que o time possa produzir e agregar valor de
tamente na afirmação do dirigente A de que “[...]
modo estável e consistente. Isto ocorre de modo
viabilizando esse dinheiro começa o projeto
indireto, mediado pelos parceiros que são cap-
da comissão técnica [...]”. Contudo, essa di-
tados (consumidores secundários), sendo es-
mensão de anterioridade poderia ser relativizada
tes os principais responsáveis pelos investimentos
quando os entrevistados tratavam da imbricação
mais sólidos e previsíveis, o que justifica a crença
com a relevância das competições e dos ad-
de que tão importante quanto o número de tor-
versários no cenário do futsal paranaense e bra-
cedores é o quanto eles ressoam sobre o volume
sileiro. Tal imbricação pode ser observada na afir-
e solidez dos recursos disponíveis. Não é despro-
mação do dirigente B, a respeito da reformulação
positada a hierarquia explicitada pelo dirigente A
do grupo para disputar a liga nacional de futsal:
de que depois de viabilizado os recursos começa
“[...] quando nós montamos a equipe [no início do
o trabalho da comissão técnica. Igualmente não
ano], não tínhamos essa garantia de que disputa-
seria um problema supor que o mercado de par-
ríamos à liga, a liga veio depois, portanto, tivemos
ceiros guarde maior atenção ou centralidade nas
que fazer um paralelo ao objetivo principal, “o pa-
decisões estratégicas de gestão, o que não signi-
ranaense”; nós tivemos que também redimensionar
fica, de modo algum, o desprezo do mercado de
algumas coisas”.
torcedores.
Como já foi ressaltado, o montante de recur-
sos estava fortemente relacionado à relevância es-
portiva, tanto no que se refere à geração de recei- 4.3 Projetos de periodização e de motivação
tas, como ao volume dos custos – trata-se de uma
via de mão dupla. Observando essa relação é que A terceira categoria de análise observada no
os gestores tomam as decisões estratégicas cru- conteúdo das entrevistas englobou as unidades de
ciais em torno da captação de recursos e da mon- significado que tratavam das práticas correspon-
tagem do plantel que corresponderia às expec- dentes à produção do valor desejado ou do posi-
tativas da comissão técnica. Quando se referiam cionamento diferencial almejado. Quanto a isso,
a esta montagem, os entrevistados realçavam as restou evidente a necessidade de periodizar as
avaliações em torno dos contratos de jogadores e atividades e as metas – contemplando diferen-
membros da comissão técnica a serem renovados tes fases e distintos níveis de exigências de resul-
ou da busca de outros profissionais capazes de re- tados –, como também a constante preocupação
forçar a equipe, o que o dirigente B mencionou com a motivação dos profissionais, sobretudo
como um processo em duas fases: “[...] nós dividi- dos jogadores.
mos o processo de montagem da equipe em duas
Para atender ao objetivo de ser campeão
fases [...]”, primeiro as renovações e as dispensas
paranaense, foram estabelecidas metas a serem
e, depois, as novas contratações. Também mere-
cumpridas, para que a equipe pudesse evoluir
ceu destaque, nos conteúdos, a quantidade de
durante a competição. Um exemplo dessa ló-
jogadores para montagem da equipe, pensando
gica de periodização manifestou-se no conteúdo
a dimensão orçamentária e a qualidade dos pro-
da entrevista do dirigente B, quando este asse-
fissionais, o que não possibilitava a formação de
vera que “[...] nós pegamos esse objetivo que é o
um grupo grande: “[...] nós montamos um plano
campeonato paranaense e fracionamos em metas.
para fazer um grupo de 14 ou 15 jogadores [...]”
As metas são as frações do objetivo final [...]. Em
(dirigente B).
2009 foi estabelecido à meta de chegar entre os
Estas características explanadas em relação doze classificados na Liga Nacional [...]”. Este mes-
às orientações e às decisões estratégicas cruciais mo dirigente menciona outro exemplo de plane-
para o time ressaltam ainda mais o enfoque do jamento em relação a necessidade (esportiva) de
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dar ritmo à equipe, o que fora objetivado pela esforços em duas frentes: uma – a periodização
participação em outra competição: “a primeira – direta e claramente vinculada ao desempenho
meta que nós tínhamos era de dar ritmo a equipe. “em quadra” e “dentro das competições”, sob o
Participamos no início do ano da Super Liga, como comando da comissão técnica; e outra – a mo-
nós fizemos [...] então foi uma meta de participa- tivação – indiretamente relacionada com a per-
ção, nós não tínhamos como objetivo de vencer a formance, de “natureza” acessória (conforto, bem
Super Liga [...]”. estar, recuperação), sob a tutela dos gestores ou
de staff e stakeholders. Vale ressaltar que isso não
Não menos importante que a periodização
significa que, em termos estratégicos, não sejam
era a atenção sobre as condições ofertadas aos
operados projetos e ações destinadas diretamente
profissionais envolvidos, para que estes pudessem
ao mercado de consumidores, aos fornecedores
treinar e jogar de maneira intensamente motiva-
ou aos parceiros, mas que, conforme o conteúdo,
da. Notadamente, os projetos que procuram in-
o enfoque está sobre o time.
cidir sobre a motivação dos profissionais não se
restringiam ao salário, como também não ficavam
limitados à infraestrutura esportiva (relacionada 4.4 Acompanhamento de rendimento e disci-
ao desempenho), englobando outras dimensões. plina, de receitas e despesas
A respeito disso, uma lista de ações foi menciona-
da pelo dirigente C:
A respeito do esforço dos gestores em avaliar
- O conforto em viagens e no dia-a-dia: “[...] do desenvolvimento dos seus projetos e a adequa-
da melhor maneira possível ofertemos o conforto e ção destes às decisões e objetivos estratégicos, foi
as condições que os atletas precisam, não só para possível formular a categoria acompanhamento
viagem como também no trabalho do dia-a-dia”; de rendimento e disciplina, de receitas e des-
“[...] sempre é oferecido um bom deslocamento, pesas. Nesta categoria foram alocadas as unida-
de ônibus de ótima qualidade, a determinação da des de significado que guardavam relação com a
diretória é de que de preferência seja leito [...]”. existência de indicadores de mensuração/obser-
vação do processo estratégico12. A necessidade
- Salários e moradia (familiar): “aos jogadores
de indicadores não é uma demanda estranha ao
casados é oferecido, além do salário, a estrutura
ambiente esportivo e, no entendimento de Roche
de uma casa ou apartamento mobiliado, aos jo-
(2002), eles também se mostram fundamentais
gadores solteiros são oferecidos, além do salário,
para a gestão estratégica.
alojamento [...]”.
No caso da equipe de futsal estudada, a par-
- Alimentação de qualidade: “[...] é oferecido tir do conteúdo, foi possível constatar 04 diferen-
uma alimentação de ótima qualidade, até porque é tes categorias de indicadores. A primeira delas e,
um esporte de rendimento e depende de resultados sem dúvida, a mais recorrente nas interlocuções
[...]”. registradas, foi a do desempenho esportivo. Ao
- Tratamentos médicos: “eventualmente aconte- avaliar se as metas/projetos estão sendo cumpri-
cem alguns imprevistos, como contusões, operação dos/executados, os dirigentes consideram de ma-
de um joelho ou tornozelo. Acontecendo esta situ- neira bastante significativa os resultados obtidos
ação vamos atrás de mais parceiros para buscar pelo time nas competições em que participa. Entre
estes recursos necessários para cobrir este déficit”. os indicadores e alguns exemplos de conteúdos
referidos estão:
- Espaços de lazer e divertimento: “[...] com-
putador com internet e toda a parte de lazer da - Os títulos: “[...] a meta inicial era uma das mais
[nome da Associação]”. importantes, era vencer a primeira fase, vencer a
primeira fase demonstra que nós temos condições
12 Uma obra bastante relevante na análise em torno do pla-
Do mesmo modo que as categorias anterio- nejamento estratégico como um processo dinâmico e contí-
res, esta lista de ações e as periodizações também nuo foi publicada por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998)
– intitulada Safari de estratégia –, na qual tal processo é
acaba por salientar a orientação estratégica para
examinado num quadro (evolutivo) de dez abordagens - ou
o produto. Quando se pensa a implementação do “escolas”, abordando o tema da indissociabilidade entre a
planejamento, coerentemente, são engendrados formulação e a implementação das estratégias.
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de chegar ao objetivo final, de ser campeão, nós as receitas, verificou-se, ainda, o indicador do nú-
conseguimos essa meta [...]” (dirigente B); mero de parcerias, correspondente a quantidade
necessária (financeiramente) de patrocinadores
- A pontuação e a classificação: “[...] se nós
ou apoiadores para a efetivação do planejamen-
conseguimos alcançar uma pontuação que nós es-
to. É nesse sentido, que o dirigente C diz, em tom
távamos buscando, pode dizer que a estratégia é
positivo, que atualmente “[...] no total são setenta
realmente satisfatória, se nós estamos abaixo disso,
e três empresas patrocinadoras”.
percebemos que tem que mudar algumas coisas
[...]” (dirigente A); Novamente, em face do que já havíamos
destacado até aqui, não foi surpresa notar que os
- Desempenho (estatístico) dos jogadores:
indicadores tratam de avaliar o desenvolvimento
“[...] em relação aos atletas, cobra-los resultado,
do produto – o time de futsal, vencedor, competi-
desempenho, avaliação desse desempenho, avalia-
ção desses resultados, para saber se realmente nós tivo –, sobretudo a partir dos critérios de desem-
estamos em um nível bom [...]”; “[...] nós pegamos penho esportivo e da planilha de receitas e des-
todo o nosso resultado, que nós estamos alcançan- pesas. Este, certamente, é o enfoque. Porém, cabe
do e planificamos isso em planilhas de desempe- enfatizar, mais uma vez, que não quer dizer que
nho técnico. Então a estatística talvez seja um dos inexistam outras avaliações, estas relacionadas a
indicadores mais expressivo que nós utilizamos, [...] outras dimensões, como revela a afirmação do di-
estatística de desempenho coletivo para analisar o rigente C sobre a cartilha de normas de conduta
desempenho coletivo da equipe e uma estatística em acordo com a sociedade, a partir da qual se
individual para saber o número de aproveitamento pode pressupor uma orientação aos valores dos
que cada atleta tem em determinada competição” consumidores (mercado direto e indireto).
(dirigente B).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segunda categoria de indicador dos ges-
tores que observamos foi a noção de discipli- O propósito deste estudo surgiu do interesse
na, também destacada como uma referência do em compreender o valor da gestão na adminis-
“bom” desenvolvimento do planejamento, intima- tração de negócios no contexto esportivo, tendo
mente vinculada ao alinhamento dos trabalhos como enfoque a caracterização do planejamento
dos membros do time em busca dos títulos (obje- estratégico. Para tanto, tomou-se como base o tra-
tivo principal). Sobre esse aspecto, o entrevistado balho de gestão realizado em face de uma equipe
C relata que “em relação à disciplina, possuímos de futsal do Estado do Paraná, que tem consegui-
uma cartilha que é seguida a rigor, desde conduta do se sobressair com êxito (e reconhecimento) no
na sociedade, nas estruturas da [nome da Associa- cenário esportivo estadual e nacional. Este caso
ção], em jogos, treinamento etc., não cumprindo é de sucesso instigou-nos a compreender o desen-
punido financeiramente, afastamento do grupo e volvimento o processo da estratégia objetivado, o
até última instância será desligado do grupo”. que foi realizado mediante um procedimento de
análise de conteúdo de entrevistas e um questio-
As outras duas categorias de indicadores es-
nário respondidos por dirigentes da equipe, res-
tão relacionadas às receitas e as despesas, isto é
ponsáveis pelas tomadas de decisão.
à maneira de controlar o fluxo financeiro mensal e
anual. Através de planilhas financeiras são regis- Após o exercício analítico foi possível con-
tradas receitas e despesas, como também a pre- cluir que o planejamento estratégico da equipe
visão destas. O dirigente C, sobre esse indicador, de futsal é caracterizado pela forte orientação ao
manifestou-se da seguinte maneira: “[...] o contro- produto, este relacionado à formação e manuten-
le é realizado através de uma planilha de receitas e ção de um time competitivo, capaz de vencer (ocu-
uma planilha de despesas, e um demonstrativo de par um excelente posicionamento num mercado
resultado entre receitas e despesas. Ela é controla- esportivo, em competições relevantes no cenário
da por mês e um acumulativo geral por ano. Nes- da modalidade). Sabe-se que este produto e po-
ta planilha também é realizada uma previsão de sicionamento – enquanto diferencial – atenderá
receitas das rendas dos jogos, vendas de bebidas, aos anseios de um mercado de torcedores, mas,
salgados etc., isso como mandante”. Em que pese em termos estratégicos, destaca-se um interesse
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central sobre como ele ressoará na captação de GHISLENI, T. S. O planejamento estratégico do Grêmio
recursos dentro de um “mercado de parceiros” Football Porto Alegrense e do Sport Club Internacional
através de modelos interpretativos. 2005. 125 fls. Disser-
(patrocinadores e apoiadores). Isto ocorre porque tação (mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenha-
tais parceiros proveem as fontes recursos mais vo- ria da Produção, Universidade Federal de Santa Maria, Santa
lumosas, sólidas e previsíveis. Esta dinâmica es- Maria, 2005.
tratégica de enfoque sobre o produto e sobre os HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro. 10.
parceiros dá contornos (e limita) os projetos ope- ed. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
racionalizados, como também corresponde aos
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ganizações esportivas em Porto Alegre. Porto Alegre: Pa-
Autor: Marlon Neves Neves
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E-mail: marlonnevesesquerda@hotmail.com

Recebido em 21 de julho de 2011.

Aceito em 08 de fevereiro de 2013.

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