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( olcçao.

Linguagem/Crluca EN I PULCINELLl ORLANDI


Direção: Charlone Calves
Eni Pulcinelli Orlandi
Con#lho Editorial: Charlotte Calves
Eni Pulcinclli Orl1ndi (presidente)
Marilda Cavalcanti
Paulo Otoni

A LINGUAGEM
E SEU FUNCIONAMENTO
FICHA CATALOCRÁF!CA As farmas do discurso
Dados de C•••lopçlo n1 Publicação (CIP) Internacional
2.ª EDIÇÃO REVISTA E AUMENTADA
(Clma.ra 8ra1Hcira do Livro, SP. Brasil)

Orlandl. Enl Pulclnelli


079L A linauaaem e aeu funcionamento : as formu do
2.ed. d1>curoo I Ení Pulc1nclli Or!Jlndi. - 2. ed. rev. e aum.
- Camplnu. SP : Pontes. 1987.
L•naua~mfCrhiea
B1bl....,.fia
1. A"'11x do d1>curoo 2. Sociolinaüfstica 1. r~
tulo. li. Thulo As formas do d1tc:WIO 111. Slri<.
CD~l . 41
87--0940 -40 1. 9

1.ndlCCI piir• c1t6.Joao 111k:IÚllClO:


1. A"'1i.e do d11CUr10 Comunaçio • Unaua..,. 401.41
2 OllCUrao A°'1Jtc Comunicaçio : Un_...., 401.41
3 Sociolinl"bllCll 401 9 1 987
de discurso e sua relação com a natureza da linguagem, cm qualquer
cultura. O que pode nos levar Q uma reavaliação critica dos conceitos
com os quaiJ operamos.

BIBLIOGRAFIA

Cl.ASTRES, PlERRE - A S«ododr -tro o &todo. Francúco Alves. Rio .t. A SOCIOLIN001STICA, A TEORIA DA
lan<uo, t978. ENUNCIAÇÃO E A ANALISE DO DISCURSO
Com1solo Pró-lndao, $io Paulo, A q•ml<> tio Educorõo /ndit•na. São l'llulo (CONVENÇÃO E LINGUAGEM)•
Bra.. hen... tHI .
FERREIRO. E A TEBEROSKY A - Los Siswnas dr e.cruuro .,, ri o..,,.
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8 MELIA - Ed-f60 '""•x•.. , Alfobr11UI(*>, Ed. l.oyola, s.
Paulo, 1979 !NTRODU(.AO
PE:C~EUX, M. cl FUCHS. M - "Mises au Poon1 <I PuspoctJves à Propoo ck
1Anal11< Au1omahque du D.-un·, tm Lo111otrs. o.• 37, Paris, 1975. Para se re>pondu a dc1erminadas questões colocadas pela lio-
SIL - lrodat Muodu•uÃuJ. vol 3. BrHiha, t979. güísuca - por exemplo como entender a variação cm língua, qual
o dominio das mudanças cm hngua. como significar - . fatos que
concernem diretamente à natureltl da con1•<'•1çâo na linguagem, deve-
mos questionar o uw hngülsuco e deslocar o estudo para o dommio
d• socioftngU1>11C11, entendida aqui cm seu sentido amplo. As tenta-
tivas de explicar o rundonomcnto da linguagem somente ao nível da
lingüística imanente, ou seja, t"ondic1onar os !atores de uso aos fatores
internos ao MMcmo linglhstico. se mostram parciais e não satisfazem
um olhar mais abrangente e mais explicativo sobre e linguagem.
Entretanto, mio se traia de propor uma leorie sociolingüís1icu
que se conslltua de uma 1eoria lingüística (sintaxe e fonologia) com
parâmetros sociológicos que se teria que formalizar adequadamente
( B. Scbliebcn-Lan&ue, 1977 ).
Oue existe uma relação entre hngua e sociedade, é fato que se
1ornou senso comum nos estudos sociolingUlstico). Menos corriqueiros,
mas também já incfu1dos no pensamento lingüístico, se encontram os
<vncellos de interação {1n1ercuí$0 social) e trabalho. Porém não faz
~entido colocar-se a anterioridade de um desses elementos, pois o que
existe é &imult1ne1dade (Benveniste, 1974).
Quanto a ""'"'~lP da relação enttc eles, dtversas têm sido as
perspccuvas. desde se considerar que CSSC!I elementos apenas c:o-ocor-
rcm. como se considerar que existe uma causalidade entre eles. Pode-

• Tu10 publ- na 51rlr l:.ltw/01 6, U~raba, 1981

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moi. cuar autores que estão no campo dessas tfüunçócs: Wborf. pa11 l'n-"1 de produçao • • hislonc1dade e o SU)ello. A rara. que hi>tonca-
quem o homem vive rodeado pelo mundo tal qual a linguagem e mtnle precede a hngu.a. e 10dividual, ocasional, da qual ele exclua
rcpre-cnta. Sapir, para quem a linguagem interpenetra a cxpeni:n<1• qualquer referencia ao social. O h1stónco e o 50Clal. cm Saussure.
Bernstein, para quem a estrutura social dá origem às formas bngüiill 1 10 d1co1om1:wdos.
ca\ ou códigos d1st1ntos e estes códigos lransmuem csseoc1almcnl< a
cul!ura e. desta forma. constrangem o comportamento, para Lab." s~u.,.urc, apoiando-se oa caracterização abstrata da hngua. des-
a estrutura social se reílete na linguagem e só o estudo da linguagem >111culou-o daquilo que é propriamente social e histórico. Quando fala
no contexto social revela seus aspectos fundamentais. 1111 caráter convencional da linguagem, toma. da convcnçao, apenas
...u caráter arb11rtfrio (e abstrato), e deixo de lado o que haveria de
Pelo que vemos, tanto no domínio das perspectivas da sociolu1 111111\ cnrnc1criltldor cm seu aspecto social. A arbltruricdadc, em
gUfstico como no domínio de autores, encontramos divc111idade. \11u••ure, está implicada pela noção de valor. Essa noçiio, a de valor,
A lingüístico e a sociologia encon1ram-se no mesmo plano ena 1 bastante crihcada por autores que, como F. Rossi-Landi (1975),

lítico : o dos sistemas e instituições. Quando nos perguntamos pela 11dmcm a linguagem como produção e situam a produção lingüística
natureza da relação entre linguagem e SOCledade. seria, no entanto. 11• produção social geral. Segundo esse autor, ao separar o produto
banal presumir o isomorfismo: a um determinado tipo de csl!Utura hngul<11co de sua produção social. Saussure leva ao re11ch1smo verbal.
social acompanharia determinado upo de estrutura hngwsllca. Pock rm \ UI teoria tio valor hngüíslico (Orlaodi. 1978).
ria ser mais fecundo partir do condicionamento reciproco desses do11 Ainda segundo Roo1-Landi, deve-se encarar a hnguagcm como
llpos de csl!Utura em duas direções: oonsideraríam<n, cotão, o coo
dicionamento liogilistico da sociedade - a língua cria identidade -
lr•balho e ª' hnaua~ como produtos desse trabalho. O problema da
arburancdade aparece, assim. analisado dessa pe111pcc11va : o que é
e o condac10namen10 social da língua - a estrutura da sociedade está pmduto tio 1rabalho humano se contrapõe tanto ao que t natural quan-
"refletida" na estrutura lingüística. Ainda assim. estaríamos conside- to ao que i arbitrário, a10da que pareça natural ou arb1tn\rio uma vez
rando relações que permanecem exteriores ao fato lingüístico. M elhor 11ue o produtor não possui o seu controle. !! assim que a língua deve
serio niio se observar estaticamente os tipos de sistemas que se estuda. "" vista. A representação que produ:r. o renexo da rc11hdade no língua
o wcial e o li11güíslico, mas olhar-se a partir de umn teoria geral da t 1rubalho lingUlstico. Em suma, a língua não é s6 um ins1rumento,
atuação que, entre outras coisas, tratasse da relação entre ações não· nem um dado. mos um trabalho humaflo, um produto histórico-social.
lingUlsticas e lingUfsticas (Schlieben-Languc, idem) . Se par11rm0< do rato de que as línguas s6 existem na medida cm
A questão decisiva para a sociolingüíslica está cm como coOA1· 11ut se acham associadas a grupos humanos, podemos chegar à con·
dcrar aquilo que é socialmente constitutivo da linguagem. Nessa pro- 1tpção de que, na Jingua, o social e o histórico coincidem. Trata-se
cura, devemos retomar a afirmação de Saussure, segundo a qual a .rmpre de ação (trabalho) humana. Nem a sociedade nem as línguas
língua é um rato social. E o que é rato social para Saussurc7 Em te modilicam autonomamente. São os atos dos homens que tomam
termos teóricos, deriva da sociologia de Durkheim ( cf. Doroszewslts. parte delas que as vão transformando. O caráter histórico da língua
"Quclques Remarques sur lcs Rapporu de la Sociologte el la Lingu11- nul em u:r ela um rato social no qual entram o caliter de processo,
uque: E. Durlthcim et F. De Saussurc, in Cassircr, 1969). E repre- a intervenção da memória, a relativa estabilidade do sistema e das
scntaçlo coletiva (exterior ao individuo), dotada de um poder de Junções sociais e normas de componamenlo. As oonveoçõcs estão
coerção cm vinude do qual os fatos sociais se impõem ao individuo, e n1re11amente ligadas ao caráter histórico da língua Podem<n. pela
l~m por substrato e suporte a consciência coletiva. Em termos de r ·rspcctiva do estudo da língua como ação (trabalho), recuperar a
análise lingüística, essa caracterização da língua como fato social leva '"ª historicidade assim como sua runção social.
à dicotomização, à separação do que é abstrato (social) e o que é Tomando-se como critérios, para a definição da convenção
concreto (individual). Ou seja, à distinção Liogua/Fala. Saussure ( Lendcsman, 1972), a regularidade, o aspecto ttleol6gico, .1eu cartfter
toma, poi.s , a língua como um produto social do qual exclui o pro- 11rb11rdrio, e o ftllo de flÔO ser acidental podemos concluir que, pela

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caracterização da linguagem como trabalho e da hngua como produto '"'"' cconom1ca J. CorrespomJentemente, para o lingüiMa, ha a poss1·
histórico $0Cial, confirmam-se os critérios da rcguluridade e do aspecto l>1hdadc de uma pr811ca críuca. que não discuta concepções de lin
teleológico. A sua não-causalidade remete-se, entretanto, nio ao JOIO puagcm no vai10. mas cm situaçôe~ histórico-sociais específicas (cl,
das intenções, mas no foto de ser mediação necessária (produto d• 1 1bov ( 1976) e Prchcux ( 1969))
h1>lória ). e a sua arbitrariedade não aparece como arbitrána, ma.
motivada pelo sistemo de produção a que peneoce (produto do tra A lingua. cm "· não u1ste. Assim como também e ficção a hngua
bailio l. A convençao, assim. se caractcriz.a pelo seu ''Onteudo ~oc1al homogêneo. Foz pune da prtlpnu c~ncía da língua revestir-se de
e pelo sua historicidade. E nesse >Colido que entendemos que a lin oncrctiuções histoncas determinadas. como o ponuguês, o franci:s.
guagcm e convencional. " alemão. o inglés, etc. E<te é o conceito de lfngua histórica Bourdicu,
1-ando a questão da lcg111midade. trabalha o conceito de hngua
nf1cial.
O PONTO DE VISTA DA SOCIOLINGOISTICA O crnerio para se d1st111guirem ª' hngua. não e nem a inter
omprccn'1b1hd~d<. nem "' oractens11cas estruturais. Um grupo de-
Vários desses aspectos que abordamos não lazcm parte da refie· 1rrminado a leva e vive na <"tmsdl11âa de sua id~midadc. Essa cons..
xão hngufatica, pois, dentro de uma perspectiva ''Onvencional do o<ncia da 1dcnt1dad< pode ser pur•mente h1>1orica ou ideal (exemplo :
estudo da linguagem, parte-se de posições estabelecidas como .1s de 1><:c11an) ou pode corre.ponder a uma M>C1cdade pollllca e ccon6mica
que: se estudam as constantes, o sistema é homogêneo. é autônomo, Na maior pane da. veLcs se apóia na unidade política, ecoo6mica,
smcrônico, etc. , ultural. A vida em comum consolida certos traços caractcrisucos da
Esse automatismo com que a lingiusllca 101-se laundo reflete hngua e a dehm11a, na coesão para dentro e na distinção. para Cora
o automausmo que se imputava à linguagem No eotan10, não falta- t B xhlicben-Languc. idem l
ram hngumas que alertassem para esses aspectos mat~ dinâmicos da Essa hngu• individual histonca cons111u1da pela consciência de
linguagem. Por citemplo. Sechchayc ("la Pet1s~c ct la Langue - Ou k!US falantes nao e homogénea, como supõem o estruturalismo e o
commcot coocevoir le rapport orguniquc de J'rnd1viduel et du ~ocial uanslormacionalismo. A homogeneidade atnbuída à língua é abstra·
dans lc Jangage", in Cassirer, 1969), disttnguc a invenção lingüi>t1c• \ao. A hngua 1nd1V1dual concreta e heterogênea. Em dois sentid~s:
(instrumento que o homem crio para as suas necessidades) e o "'u • l porque apresenta vários subsistemas. b) porque cada Calante d1spoc,
uso autom6tico. Segundo ele. !alar não é puro reflexo. mas o US<> utc ccno ponto. de vários subsistemas.
ativo de uma língua consiste em fazer apelo a hábitos adquiridos e " Um dos autnre• que trabalhou mais explicitamente sobre a
reflexo desempenha um papel preponderante. O ato automático (tlusãn •1ucstão da heterogeneidade da língua é Labov. Ele cn11ca a homoge·
do sujeito, pseudonaturalidade) se substitui ao ato consciente. Então. neodadc, considerando que não é ncccssario que a disunção sistema/
pode-se !alar pensando palavras sem que o pensamento dos coisa) 1nan1fcstação do sistema recubra a di!ltmção 1nvanança/ vanaçào e a
esteja verdadeiramente cm movimento. Não indo às causas pnmcmu de ~ocial/indiv1dual . Coloca a possibilidade de tomar como centro de
do pensamento, o ato de linguagem toma.se um reflexo de valor essen- tudo o caráter SJ)tcmát1co da vanaçâo hngüísuca, reieitando a rela·
cialmente social, que responde simplesmente às situações cstcreoupa- \ .10 entre estrutura e homogeneidade. Para ele, a heterogeneidade é
das das vida comum. Fazendo a critica a esse uso automático, Po11ZJn ormal e conMllUJ o resultado natural dos !atores lingüísticos luoda·
( 1974). consciente da manipulação exercida pelo 51stema social sobre noentois. Para esse autor, um aspecto importante da competência lin-
o falante ,propõe o que chama desalicnação lingUfslica, caracterlz.an- uil>uca é a apudão de se empregarem regras vanâve1s e que s6 pode
~ como realiz.ação da possibilidade cntica e da intervenção respon- M:r demonstrada por um estudo aprolundado da língua no seu _em·
sável no processo de elaboração dos códigos sociais, isto é, a tomada prego (conte11:to social). Procura, poi,, um nível de estrutura vanavcl
da palavra, a eliminação da propncdade privada lingUfstica ( reestru- t).. julgamentos categóricos, de que na língua só u1stcm unidades
turação total da realidade histórico-social presente e dcsalienação lunc1ona1> mvariantcs. são inaênuo< A ausência de pcrmuiuçõ<" e>11

100 101
lísucas e Sistemas de comunicaç!o estratificados é que se revelaria dis- am na >cm'inttca'I A smtaxe tena função mediadora? ~ desi-
funcional ( Wcmreich, 1976). Labov distingue as variações sociair l~;:~ades fooéti~&>reriam função s1mbóhca? Estas são questoes que
que caracterizam discursos de subgrupos, com normas veladas, opos- 8s11 •rdam res~ra.
tas ls normas da correção gramatical explícita, e as variações wilü
lit:os. que são a adaptação da linguagem do locutor ao contexto ime- 1raia-'IC. do pon•.o ~e v1\t: dar ~:i"~!ü~:~~:~~: :vi~;~
diato ao seu ato de fala. "ntar como cs1á d1smbu1do o . abe g - tão relae10oadas
'f"I grupos e cstraltricaçôes SOCta" A\ convençoes es
d d <IM grupos que se deve referir seu
A situação da vanação, pois, é normal e a heterogeneidade é .... grupos e é a hctcroiene1 a e
coerente Desde que não se pense estrutura e homogeneidade, é pos- r•tudo.
sível construir instrumentos formais para o tratamento da variação, A chamad3 competcncia hngu1sttca inclui muitos outros =~
inerente l comunidade linguística e, então, a estruturação interna da
v1naçio se revela. 11uc não
t
=~0 naqsu:~ :~~:~~~t=n~~n~~:·~br~~:";;'r$~":;'vas
mun1ca..,.a , para
Labov define a comunidade hngüísuca como um grupo de f>C'" e .1udo da linguagem concreta .
soas que compandham um conjunto de normas comuns com USfHtüo . de A Sthaff ( 1966), que não prescinde do conce110
d linguagem e não como um grupo de pessoa~ que falam do mesmo A ..cmanttca . m rtan1es acerca da natureza da
,1, ~-omunicação, ~'OIOC• mar~-os 1 "::mcnto e a realidade. A comu·
modo. A relaçio com a língua é fator primordial do conbec1mento
linguístico. Dai a afirmação de que conhecer uma língua não é apenas lmguagcm • . sua relação com~
nlcação cfcttva. 'ICgundo ele.
º.:::ssde tudo compreensão (condição
s alem de se compreender um
conhecer as formas engendradas pela gramática, mas também o valor
social atribuído o elas. '" cui.ária, ma' não >uf1c1ente). ma ha1a comunicação efetiva é
. d d mci.ma man~ira. para que 1
rnuncta o " t !hem a:. t'Ollvicç<WI relativas a e e.
Nesse passo, e que podemos compreender que o uso lingüístico preciso que O• ontcrlocutore< par i .
implica atitudes, ou seja, avaliações em relação à língua. E, embora . · . f· zcndo ao estnta-
Porrnnto. pelo dc..:nv1llvon1c11to que vimos a .' premissas
uma língua apresente muitos subsistemas, vem acompanhada de u ma . .. . do pensado concrcLBmen1e, 1untam se
rede de avaliações liomoglneas. Dentro de uma mesma sociedade, as lllCDtC hngu(SltCO, qua~ f l pan e do ato da linguagem, da

atitudes são homogfneas. Como situar esse fator, isto é, o saber em iociais. atítudes, convicções. que ~un ··s fatores como constitutivos.
• A N" podtm<X recusu r e<,,.
tomo du língua? Acerca de todos os objetos da vida diária, e também
1
omumcaç o. a0 · é . unicaüva que vão os estudos
r • pois, cm direção à compct nctA com
acercu da língua, se dá um 1aber cotidiano (senso comum) que é ..1ciohngüístico•
determinado por uma rede de estruturas de relevância (o falar de
prcsrfgio, o esrigmati1.ado), As avaliações estão em estreita dependêo- Um \ctnr c<pccifico da soc1olmgüi.st1cn amencani,.;:;,":ese;;::,~
H ( 1974) a partir do< conccnos de compet P• •
cin dns circunstâncias sociais da comunidade cm ques1ão. Fazem pane Jlt>í ym~s : se introduzir o conceito de competencta
da identidade do grupo e, conseqüentemente, de sua adaptação a suas manct, vc. a ncce;s1doder!e m a do conceito de performo11ce. A com·
normas. •umun1cat1va. da o u po t e i . od as regras de comunicação,
Em geral, pode-se folar em diferenças diatópicas (regionais), llétcncta comunicativa comprcendena t as
.,rama11cal e acrescen
tanºa as de perfor·
mduMvc a~ ~a rompe. ~nc1~ " • tam'bém acerca da aceitabilidade,
1
diastráticas (camadas sociais) e diafásicas (funções e estilos)
(Schliebcn-Languc, 1977). Assmalam~. então, diferenças fooiticas. mance. isto e. pcrmuma cc1soes... . ssível se e realizável, se
'ltlb quatro formas~~ u ~ ~o ~~s::~ ~ éu::a co~petência que com·
1
1
sintá11cas, mas com dificuldade se podem comprovar as diferenças
scminticas. São apenas de conotação trazidas por difeJCntes âmbitos apropnado e se rea iu o ·ais u.e dc<;erevem como se utiliza a
da experi~ncia ou é a ptópria signíficaçio do sigoo que se modifica preendcna também regrasd soco d ~nte cm situações de interação.
competência gramaucal a equa am
de um grupo a outro? Questlo bastante relevante para a liogüíslica,
bo • teórica de Habennas
na medida em que discute a relativa constincia da relaçã.o semiótica, Indo mais longe, cnconuam<X a e1a . raçaq:c tcmattza a faculdade
.. isto é, da relação cxpresslo/con1eúdo. As desigualdades primárias ~ue considera uma compcténc11 comun1cauva

103
102
dos faJan1c~ de cn1cndcrcm.,c cm lluilogo•. Não se 1ra1a aqm. wrn11 11 u• •ondula por ele Jge 1mpropríamcn1e. quer d1icr, deve 8'CUar inco-
dcscnvolvimen10 das v r, do cstabelcc1mcn10 correto de enunci•d< 111<xhdadc .mconvcn1cnc1111> enquanto a ma1ona do grupo conta com a
cm dependência de ccrln\ varáveís. ma, da descrição de ato, Jiogiu •ubm1cnc1a do co.iumc e dirige por de •ua conduta.
!ocos dial6{c1cm
A •\•O wcial po<le unentar·"'· quanto aos seus paruc1p:m1es,
O que se torna cada vc1 ma°' claro. lc•ando-sc cm conta 1 pela rcprcsentaçao de uma ordem lc11íuma. A probabdidade de que
bctcrogcneodadc das hnguas e .cu caráter historico. e que se tkv L<«I <><.'flrra de fato "' chama vahdade da ordem cm questão. E é pela
repensar a relação entre o folar e o •ISlcma da língua. percurso agora vahdade que se 1h<1tngucm a convenção e o d11e110 do costume. A
lcoto no scnlldo onvcr-..l: não como as hngua' se deformam na '"" validade de uma ordem •1g111fic1 algo ma1s que a regularidade deter-
rcahzação, '"ª' como chegam a 'IC ms111uc1ooahurem as atuaçõe<. d.I minada pelo cmtumc. Entram 11 o regulamento e o scnttmento de
·rala". as10 t, como 'IC chega a 1«11á-las comumente numa wc1edalk d.-cr. Ha ordem quando a ac;ao se onenta por m!U1mas que podem
como sua s1stcma11zação alcança certo peso proprio e como podem-M" •rr a.-onalada~ E há vahdaJc quando a oncntaçio de fato por essas
modolicar cm no•as a1u~. Ou, como '" tsrabelecem t romo '" maxtma' 1rm lugar porque tm algum grau sigmficattvo - quer d~r
mod1/lcam ar <'On>·en1·6<'•. em um grau que J'C"' prat1camcn1e - aparecem váhdlb para a açao.
,,0 é. como obngatónas ou como modelos de conduta Aparecem oo~
As unidade< hngü1s11c1> devem ~r concebida~ como umdadc olgo que dne >tr A ordem que aparece com o .presugio.de ~r obn·
que llC fazem his1óricas e que são basicamente recuperave1s na rcah ntória e modelo e a que aparece com o prcst1g10 da leg1umulade: A
zaçào. Por cs>C caminho, podc·'ie atingir o que é cons111uuvo. ~ lcgit1m1dade. por ~ua vez. pode cMar garanttda. a) de maneira 111ttm•
ne~ caminho encon1ramos o dl\c11rso. Por isso. vemos t..-omo uni.. (ulettva. racional cm f•ce de valore•, religiosa), b) pela cxpectauva
perspectiva futura. nm110 de•ciávcl, n articulação da sociohogúisli.- Je determ10ad•~ conseqüénc1M externa• (de determinado género)· A
com a Análii.e do Discu"O. Mantendo <ua, diferenças. ordem legh1ma pode chamar-se:
/)1Tc//o. quand<l csul garanuda cxtcrna~c?tc pel~ .pos.s~ili·
dadc de ·coação.. exercida por um "quadro de tnd1viduos onslltu1do
O PON10 DE VISTA DA SOCIOLOGIA com n missllo de obrigur u ob<ervãncia dc<•a ordem ou cas11gar sua
1ran~gres~ão.
As convenções são de natureza social e só uma teoria da açáu
social em scnlido amplo pode dar coma do seu papel na consuluiçào Co11vtt1çt10: quando sua vnlidude está garantida externamen-
do ato de linguagem. 1c pela possibilidade de que, dentro de um determinado grupo, uma
condula dhcordantc pro•oca .. reprovaç1'o" geral e prattcamente
Weber ( 1964) . con~idcrnndo, na ação social, o uso. o c:ostumt. ...,n,fvel.
a co11vmçào e o dirtito, mostra a existência de trâasuo entre esse.'
conceitos, mu os d1s1tngue. A «0nvmçoo t " <OJtomot qut. dtmro dt um 11rupo dt pessoas.
1., considera como válido t uttl garantído ptla rtprovaçõo da con-
O usu "' dcl1nc como a probab1hdadc de uma regularidade na duta ducordnme.
conduta, quando e na medida em que essa probabilidade, dentro de
A •ubmissão a convenção não tem caráter hvre. Se exige muito
um grupo. cst' dada unicamente pelo cxcrctcio de lato.
,eriamente do individuo. como obngaçáo ou modelo. A convenção é
O uso deve chamar-se costume quando o cxerc1c10 de fato rt cosiumc cstamental e a pumçào tem con'>Cqtiéocias eficazes e sensíveis
pousa cm uma cstabihdadc duradoura. O costume aparece como uma ! mais do que as 1und1cas) pela açao dm membros do próprio e:5ta·
norma não garan11da u1cnormcn1c. Nc>se scn1tdo. o costume carece mcnto. A clicaci• da rcprC$SBO rc,1dc cm que os mctOS rcpressiv~
de "validade", mnguem exige que "' o tenha em conta A estabtl1dad. não ~ão entregue< a um quadro de pesso3\ ms111u1do, mas ao propno

- do costume se apóia csscnc11lmtn1c no !110 de que quem não oncn11

IO.S
grupo. e que <e mO'tra ~'Orno 1nd1vtdual

105
As ordens são garantidas de modo externo e de modo intemo- "" 1uma1) a une con•enuon 1dcn11quemcnt reçuc en1re partenaucs"
(represcotaçõe$ oormauvas de caráter ético; valores morais, crenças) ,1 ~9 ). Isto e. em B~l)_vcmste. n6o separamos, no scm1óhco, os con-
As atribuições da valtdade leg111ma a uma ordem determinada 1hl\ de unidade. sistema. in\utuiç:io >OC1al. sigmhcânc1a.

se dá: pela trad1çtio ( vulid1de do que sempre existiu), crença afeuu Do outro lado. no s~mà11t1<0, encontramos o d1scur<o conunuo,
(o exemplar), crença racional baseada cm valores, mé.rito do e•t• 1otocado pelo indivíduo. produtor de mcn'lagcns. E. ai, não há su-
tu1do posiuvamentc cm cuia lcgaltdade se crê. A validade pode valer uüo de unidades que se 1dcnt1í1cam o;eparadamtn1c, pois é o scmido.
c:omo lcg111ma cm virtude de um pacto ou por outorga (por auton- , n.;cb1do globalmcn1c, que \C reahu e -;e divide cm signos particula-
dade). Hoie, a forma de legi11midade m&Js corrente é a crença na 1n 1palavra.\). não é uma adição de signos que produ"L o scnudo.
lcgahdadc. Em geral a adesão • ordem está dctcrmmada pelas situa-
ções de mttr<'SJ<' de todas as espécies e pela mistura de vinculação à Em resumo. podemos d11xr que, ne.se texto, Bcnveniste coloca
trcdlçáo e idéia~ de lcguimidadc. ,onvcnc1onal no domin1n do •cmióuco: o signo existe e e rcco-
nhrcido como s1gn1hcante pelo coniunto do§ membros da comuOJ-
E aqw reencontr1mos ~s caractens11cas ambuídas à convenção ll•dc hngu1suca e evoca para cada um, m11s ou menos, as mesmas
na an"isc da linguagem: o 1<pccto telcol6g1co (os interesses e o gru ••voc1açoo e as mc<ma. oposiçOO. Do outro lado, a ordem semântica
po), a llitor1c1dade (a tradiçlo) e a sua mouvaç:lo na forma social (a .., idcnufic• ao mundo da cnunc1aç•n e ao univer..o do discurw. Have-
legitimidade) . 11 ai lugar para o convencional?
Pelo que podemos observar, uma teoria hngülstica que busque Observando • dl\Unçlio. fcua pelo autor, cni.re o semiótica (que
o que de social é constitutivo da linguagem e que se mostre como ucve ser reconhecido) e o scmánuco (que deve ser compreendido).
1eona da ação nllo pode prescindir da rcOcxão sobre a ação social cm >tmos que a enunciação. proc:e.so mediador do semântico, se define
geral, colocando a ação linguística junto à ação não-lingüística. Nessa .umn um proces'o de apropriação, cnq11an10 realização individual.
perspectiva, não se pode estudar o ato lingüístico sem estudar o ato
social em geral . A linguagem uparecc, então, como 11 possibilidade da subjetívi-
,Jadc e o discurw como provocnndo a rmergencia da subjetividade.
r 0 locutor n<1 exerc!cio do discurso que se apropria das formas que
O PONTO DE VISTA DA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO 11 linguagem propõe e às quu1~ ele refere a sua pessoa derinind~se a
,; mesmo (como cu) e ao parceiro (como 1u). Nessa perspecuva o
Vejamos como é tratado o problema da convenção pela teoria processo do ou ~ semánuco, é histórico. enquanto o '" permanece no
da enunciação. nivel sem1ótico. Btnveniste diz que temos "no locutor a vontade de
referir pelo discurso e no outro a possibilidade de corrcferir identica-
Podemos depreender, os estudos de Benvcniste (1974 ), em sua mente no consenso pragmtluco que faz de cada locutor um colocutor".
distinção entre semióuco e semântico (cf. Semiolog1e de la Langue) Assim, o interlocutor. enquanto tal, é possibilidade estabelecida pelo
que a língua se apresenta, cm lodos os seus aspectos, como uma -cmióuco e, quando se faz scmãn1ico, se faz locu1or. E só nesse sentido
dua!Jdade: inst1tu1çáo social, e praticada pelo indivíduo; discurso con- ~ue vemos um contato entre o scmióuco e o semântico. mas que não
tinuo. e composta de unidades fixas. <e faz como pa<;agem. e é d1<\lmctr1co. Ne~<e senudo, o quadro figu-
rauvo da cnunciaçao - as duas figuras cm posição de participantes
O sonidtico, nessa dualidade, compreende o dommio que se que <ão a/1trno11vomt111t protagOtu$ras da enunciação - ap~rec~ c?mo
rcíere ao rato da língua ser instituição soci1I e composta de umdades cenário para que o eu represente seu papel E a conccpçao dialeuca
fixas (o domínio do sistemático). E aí está o convencional. Ao dis- do cu-tu (ind1Y1duo e sociedade) proposta por Benvenistc ( 1976) cm
cu!Jr a natureza das umdadcs nas artes de figuração e na língua, o "Da Sub)Cliv1dadc na Linguagem (p. 287) desaparece: o que há é
..
autor diz que, ao contrino da línaua, "la signifiance de l'art ne renvoie

106
um tu que subsume um 1u. pois este só -;e raz presente se se toma um

107
ru. O estntuto da cnunciaçào é, n<> mínimo, ob5curo e dlSW decorrr 1\lem d1~0. segundo Pêcheux, es a< rcgiõc-. •áO atre>es.ada, por
uma série de dificuldades na interpretação d<l' plano, de Benven1\te uma teoria da subeittvidade. d< natureza ps1canalittca (que de-.rá
.cr explicitada) em que uma das questões centrais é a de leaum, do
Ao demonstrar que nt'ío há corr~spodnêncin nem de natureLa ríc110-le11or como constitutivo da subjetividade.
nem de e\lruture entre o; elementos con\utut"o> da hngua e °'
constuuuvos da sociedade, Beovenl\te diMmgue do" n1ve1s nas entt· Ao distanguir °'trcs nive" (o hngu1st1co, o d1scurMvo e o 1de<>-
dudcs hngua e sociedade: <l nível histórico e o rundomental Conclui lug1cn-cuhural), Pêcheux deixo claro que a AD - que tem como
pela rrlaçio entre língua e !>OCiedadc no nivcl fundamental E'.\'.clu1. •il>Jeto 1 anah'IC não subictiva do sentido - passa por uma ruc de
portanto ,o histórico. E o social, que é considerado. e um social geral. 1nál"e ling11ls111a.
rundamcntal, de principio. Que, 11<1 relação com a linguagem e por Ouul <l e\tututo de\\a anah<e cm relação ao discursc:i? Essa ana-
ela detcrmmado - enquanto relação de si\temas l>Cnuót1cos - e h\.C: hnguísuca t: de n.tture.za morfo-.~1nta1ica. Mas <> recurso a um
mc•mo, m11s do que isso. é comido pela linguagem. Não há nada mnanti<mo 1mphcito nao esta excluído.
parecido com as determinações histórico-sociais de que estamos fu.
lando .a nào ser quando Bcnveruste fala na lmgua como <l\tema pro- Uma da' mancir3' de"" •er o discur'iO é a que ru dele o sintoma
dumo, no mtcrior da sociedade: produz sentido, produz enunc1açõc\, 1lc uma •rise interna à hngu1s1tca. no dommio da ;cmân11ca, em par-
cria objetos lingüfsucos que silo introduzidos no circuito da comum- ticular. E é. realmente. nesse domrnio, que li> dificuldade> se uprc-
·ntam com toda 'ua 1n1ens1dadr. As regras sintática;, aphcadu na
cação. Ne~e passo. se exploraria mais o aspecto funcJOnal da rela·
\D. <egundo Pccheu~. 1n1roduum subrepticiamcnte o recurso ao \Cn·
ção hnguagem/soc1cdade. Mas Bcn•emstc d11 que para ISSO e neces-
ttdo. No entanto, e p1cci\o di<trnguir entre C>>a semân11ca e •quera
stlno puxar mais longe a "oria, para tornar as comporai,,-ões frutuosa\. 11u~ ~ prop<Kta pela andih~ do d1'ieursu.
e aílrma que ah foi possível dar apenas uma pnmc1re aproximação.
E 11 ílcanKX A ~~mãntira diJc:ursn•a é u nnaJ1.sc c1cntíf1ca dos processos carac·
1rrisuc°" de uma formação discursiva. que deve dar conta da arucula-
\ m entre o processo de produçao de um discuN> e as condições cm
O PONTO DE VISTA DA ANALISE DO DISCURSO (AD> •IU< ele e produzido. Não é uma semánuca lex1cal. e deve ter como
11b1eto os processos de arranjo dos termos em uma seqüência dos-
Procuro-se uma passagem entre enunciação e enunciado, entre ursiva e cm função das condições em que a scqúêoc1a d1scurit•a e
hngua e ra1a. etc. E talvez daí derive a dificuldade. Ao invés disso. produL1da. A umânuca l1ngii/J11ra é uma semântica formal. Segundo
poder-se-ia deslocar o distinção para o nível língua/ discurso. como fel l'ccheu• (idem) essa semântica ainda niio está ícitn. Sena .. uma tc<1ria
Jo funt1onamen10 material da língua na 5ua relação com ela me;,ma,
Pêchewi ( l 97S), considerando a língua como co11diç60 de pnssib1/i
to e, uma s1stcma11cidade que não se opõe ao não smematico (hn-
dadr do discurso.
Mlla/fal.1 ), "'"' que •e articula sobre processos"
O quadro epistemológico colocado por Pêcbeux, para a análise
Pua "" perceber bem a natureza dessa proposta de Pechcux.
do discurso, se apresenta como a articulação de três regiões do conhc· 1kve-<e lembrar a crit1c11 que ele faz ils teoria;, da enunciação que.
cimento cicntirico:
•CMundo ele, refletem. na teoria, a ilusão do su1c110.
1) Ma1enal1Smo histórico como teoria das formações wc1ais e Com a distinção entre scman11ca formal e scmãnuca d1scurs1va,
suu transrorrnaçóe . aí compreendida a teoria da ideologia. •cgundo Pêcheux, ~ possível atingir o lugar especifico da língua que
2) A hngarsucu como teoria ao mesmo tempo dos mecanismo• "'tresponde à C011$1ruçôo do efeito-sujeito. Através da articulação
sintáticos e dos proces-;os de cnunciaçao. ntre scmânuc1 d1scurs1vafsemân11ca hngííisuca (ou formal). a ana-
3) A teona do d1scurw como teoria da determinação h1Mórica 11-c ntlo reproduzoria es'IC efeito e, ao mesm<1 tempo, reconhecena
do' processo;, semânttcns. ;ua exi\l!ncia no objeto de estudo.

IUh l IJ'l
Voltando, po15, à nos.~a colocaçóo inicial. u lingüistico e o dis- 1.,.,,.. forma, é :.ob essa perspccuva que e vista 1 convenção a não
cursivo permanco:m disunt~. São necessariamente heterogêneos. "'ª' 11 ulcntalidade e o aspecto t~leológico derivam da relação estabelecida,

não se traia de uma distinção estanque, sem uma passagem. Como diz '"' quadro teórico de Pécheux, entre formação discursiva e formação
P~heux. as sistematicid&dcs da língua não existem sob a forma de um 1dc11lógica.
bloco homogêneo de regl'as organtZadas a maneira de uma máquina
A "arbitrariedade" resulta do fato de haver uma relação entre o
lógica. A fronteira que sep01a o lingüístico e o d~ursivo é sempre
1h .cu~ e o si.iema de produção no qual existe.
colocada em causa cm toda prática d1i.curs1va, e é próprio d• relação
entre língua e discurso que ª' regra.~ fonológicas, morfológlca~ e"º- O cnteno da regularidade é mais complexo porque pressupõe a
táticas - que são a, condições materiais de busc sobre as qual\ se 1elação entre o hngüísiico e o discursivo, relação essa ainda SUJCÍta a
desenvolvem os processos discursivos - sejam objeto de recobri- muita controvér~1a.
mento, e de apagamentos parciais. Daí a proposta da AD de uma
Assim como na sociolingU1suca se percebeu que a variação é
teoria não ~ubjetiva da enunciação. pois o lingüís11co e o d1.cur•ivo
.tcmauca e runc1onal, a AD procura tipificar os discursos das difc-
se comunicam. Não da maneira colocada por algun~ autores (como
1coies formaçõc~ discursivas, procura destacar constantes justamente
Maingueneau, 1976). em que o texto ~ uma unidade de um nível de
no lugar em que o llngül\tico e o social se arhculam (no dbcurso) .
análise superior (à frase) que faz parte da língua, embora concorde-
Nao <e trau de opor cnuncioçlo/ enunc1ado, sístcma/ discurso, mas os
mos com a autora quando ela recusa a idéia de que. dada a diversidade
•l\lcma; de signos são tornados no jogo das formações discursivas que
das ideologias dolO locutores. da variação do contexto, se não manti·
311 r c0CXO• e ~-ond1ÇÕC1> das pràtiC8S soc1a1b.
vermos a existência de uma base lingüística comum. teremos um plura-
lismo heterogéneo de m1crollnguas. Como Pêcbcux, ao invé$ de 11/vd Podemos, então, reavaliar alguns cooceuos. a partir da reflexão
superior de análise, preferimos ver essa relação como a existenle entre ,1c,.es domrnio< do estudo da linguagem.
condições materiais de base e processo. Em suma, trabalhar con1 a
Pelo que podemos concluir, a sociolingUlstica, a teoria da enun-
noção de funcionamento.
\ldçào, e a AO. 1rabalhandn com a exterioridade que envolve a
O conoeito básico para a AO é o de co11diçóes de pruduçôo. linguagem, o fazem de maneira~ distintas. Na soc1olingUística, trata-se
Essas condições de produção caracterizam o discurso, o constituem e de se visar a relação entre o social e o lingUístico, através do reflexo,
como lal suo obje10 da análise. Essa modificação na perspec1.iva do k\de uma concepção mais pertfénca do que seia "reOetir" até uma
objeto traz consigo a necessidade de se ver a enunciação não como u1ncepção mais abrangente (competência comunicativa) . Na teoria
desvio mas como processo constitutivo da matéria enunciada. il.1 enunciação trata-se da dett'rm111Qfào entre o funcional (enuncia-
"') e o formal (enunciado) A análise do discurso procura estabe-
Em Benveniste é o sujeito que se apropria da linguagem, num
lc<cr essa relação de forma mais imanente, considerando as condições
movimento md1vidual. Nesse passo. podemos dizer que, pela consi-
Jc produção (exterioridade, processo histórico-social) como constitu-
deração íundamental das condições de produção na AO, não é o
ti va; do discurso.
sujeito (locutor) que se apropria. mas há uma formo social de apro-
prtoÇiio da linguagem em que está rcOeuda a ilusão do sujeito, isto ~. Devemos acrescentar que a análise do discurso não prescinde de
sua in1erpcJaçâo feita pela ideologia. E nesse )Ogo do lugar social e uma teoria de enunciação, ao contrário, procura constituí-la, ainda que
dos sentidos estabelecidos que está representada a determinação hís- diversamente à perspectiva de, por exemplo, Bcnvcn1ste; isto é, pro-
tórico-•ocial do dtScurso. '"'ª constuuí-la como teoria 114o.sub}ctiva.
Retomando-se os cntérios do que ~ convencional, podemos di.ter Por outro lado, algo que até o momento foi pouco explorado e
que. pela análise do discurso, recupera-se o processo bistórico-soc1al. merece uma maior a1cnção ~ a relação da análise do discurso com a

110 111
sociohngU1s11ca, uma vez que os pomos comuns na consideração Jo tHll A.NOI. l "'O l1n1ubt1(:0 e o Social""' em roco ,. p,,"uposirão, Série
objeto de que 1ra1nm são cv1den1cs, como pudemos observar por eslc F.1111dru •. PP• 7!-~o. 197K
"º"° estudo. Mais do que isso, sabemos que o termo 'IOCiolingüístic• ••rc Hl:.UX. M - Afla/)•t Au1omot1quf' du 01.JCOflrs, Ounod. Parb. 1969
recobre trabalhos ex1rcmamcnte diver~ - etnografia da romumca- t•tNll(). A Prudllc<I"" '-'"'"º'"º ,. IJrolo1io Sodnl, Albero Ednor.
çâo, variação hngUistica. relação com a linguagem e até mesmo anáh'lt \tadro<l. 1974 •
l'I t. Hl:.UX ~1 ,, 1.1lu - *An1l)''iC: du 01.-..--oun.. Lln1ue et ldá>log»e'". ÜUtKOtttJ,
de discurso - ou seja, trabalhos que iratam da análise da linguagem
no 17 P•rt\ 1'17~
no co111u10. Há, pois, um dominio de interesses comuns. cm que a
"ll'>Sl-t ANOI. ~ A t insuas<m como rrabo.lho e como MeJaclo", cm
SOC10hngüishca j6 estabeleceu 1istcmattZaÇÕC$ bastante claras. Tratar- \1'1tunlur"' ,. ú11t•dttwa Hot' Rt0 de J1ne1ro. 197j
!e-ia. polS, para a AD. de reílchr sobre cS!as sis1cmanzaçõcs de u~ r..- HAf-f- A lntruJt.f t ""' a Je ~tn•.dttttto. Fondo de Cultura Ecooom.ca.
ouira perspectiva, de ~ua perspectiva '4CJ.tc0, 14J66
M:HI ll:.BE.N·LAN<.iUI 8 '"''°"''1.ttc"" • lo 5oc1ol1nriiíst1eo. Gredol.. Ma·
Além disso, rcílcur sobre a questão da discussão me1odol6gica dnd. 1977
estabelecida pela soc101ingüíshca que, a partir de Labov, se dcfiM \\ 1 81:-R. M /.ÁcU'lnnu4 t .\.lx,~dad, 1. t-ondo de: Cuhun Eeooómte:a. Méx»co.
como uma lingüística, pode ser bastante fecundo para um dommio 191>4
V.l lt.RE-ICH S. 1.:11•00 rur 1 ~80\. cm S«iol1n111i.111q11f'. M1nu11. Pans. 1976.
como o da AD que procede. a1ualmente, a uma vigorosa rcaval1ação
critica de conceitos estabelecidos por uma hngü1St1ca que ja podemo<>
chamar de Lmgílíshca Tradicional (ou imanente. ou hors-c<>r11u1e)
Finalmente, pcnsando-•c cS!as modificações, na reflexão lingfüs-
1ica acerca das funções da linguagem. podemos afirmar que nao bas1a
dizer que a função íundamcnl81 não é apenas informar, acresccotando-
sc que não é apenas a comunicação, ou apenas a persuasão. E tambem
o re<:o11llt!oml!1110 pelo confronto ideológico. E, pelo menos, tudo isso.
E o mistério da linguagem rnlvci c~1eja cm ser rundamen1almen1e tu'.lo
isso e nilo ser prioritarlamcnle nenhuma coisa.

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