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moçambique
Como As nossas casas estão
cada vez mais inteligentes
dívidas ocultas
Apesar de tudo, os sinais
macroeconómicos são positivos
ENTREVISTA
José Reino da Costa, PCE
do millennium bim
cannabis
Um novo mega mercado
global em ascensão
Como Formar
o Futuro?
A formação de quadros é um tema
estruturante da economia e do país
MARÇO 2019 • ano 02
no 12 • Preço 200 MZN
Sumário
6
67 ócio
Observação
Celebração
Uma das imagens do ano acontece na Índia,
a 21 de Março, no Holi, a festividade da Primavera 68 Escape A magia das Quirimbas 70 Gourmet Uma
escapada ao espaço criativo ‘Deal’ 71 Adega A história
única dos Vinhos Verdes 72 Agenda Música, livros, filmes
8 Radar 73 Arte A inauguração do maior museu das civilizações
negras 74 Ao volante O que tem o novo Porsche 911
Panorama Economia, Banca, Finanças,
Infra-estruturas, Investimento, Lá Fora
12 Macro
ENQUADRAMENTO
12 Dívida Como a economia está a reagir bem
ao escândalo judicial que se arrasta
16 Smart houses O segmento da habitação
inteligente tem vindo a crescer, em Moçambique
26 nação
Formação de Quadros
26 Como formar o futuro Como Moçambique
está, ou não, a formar as novas gerações para
os grandes desafios económicos que se avizinham
34 Conteúdo Local... O bom e mau exemplo
de Angola, ao nível do oil & gas
38 Na voz de... Narciso Matos, reitor
da Universidade Politécnica
42 provÍncia
Tete
Na Província do carvão teme-se, agora, a descida
anunciada dos preços do mineral nos mercados
50 empresas 56 sociedade
PME Erva
Arco Investimentos Uma empresa cotada O mercado da cannabis é um novo nicho
em Bolsa, com o foco no turismo nacional multimilionário para as grandes marcas
52 Megafone 60 lÁ fora
Marketing Brasil
O que está a acontecer no mundo das Como Bolsonaro vê o Brasil na CPLP, com quem
marcas, em Moçambique e lá por fora sempre teve uma relação fria? Eis a questão
Mega projectos vs
formação de quadros
Iacumba Ali Aiuba
moçambique está empolgado, há mais de uma década, com o desenvolvimento Março 2019 • Nº 12
de projectos ligados aos hidrocarbonetos, mas sem um alinhamento claro com PROPRIEDADE Executive Moçambique
um plano prospectivo de formação de quadros para responder às necessida- DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
des previsíveis dos grandes empreendimentos em curso em particular, e para conselho EDITORIAL
o desenvolvimento do país, em geral, num contexto de contribuição relevante Alda Salomão; António Souto;
dos recursos naturais na conta geral do Estado. Narciso Matos; Rogério Samo Gudo
JORNALISTAS Celso Chambisso;
O primeiro Governo de Moçambique, consciente das limitações de recursos Hermenegildo Langa; Cristina Freire,
humanos qualificados para as necessidades de então e futuras do país, e peran- Elmano Madaíl, Rui Trindade;
PAGINAÇÃO José Mundundo
te limitações financeiras da época, foi capaz de se organizar e, de forma estru- FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio
turada, preparar quadros para diversas áreas, dentro e fora do país, contando, REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos
certamente, com apoios de países amigos. Esta experiência que correspondeu à PRODUÇÃO Executive Moçambique
PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora
visão estratégica dos dirigentes da época, como medida de antecipação ao seu Comercial - Moçambique) ana.antunes@
tempo, poderia ser seguida pelos decisores de hoje. executive-mozambique.com; iona@iona.
Há, no mundo, experiências bem-sucedidas de países sem muitos recursos na- pt/contacto@iona.pt (Portugal)
ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
turais, mas que, com base na visão holística dos seus dirigentes, definiram o E PUBLICIDADE Executive Moçambique;
desafio da educação e formação de talentos em diversas áreas como motor Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana
Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.:
impulsionador do desenvolvimento económico e social. O Governo é que deve lide- +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150;
rar o processo em parceria com outros actores do sector de dentro e do exterior. geral@executive-mozambique.com
DELEGAÇÃO EM LISBOA Telheiras, Rua
Nesta edição, publicamos em exclusivo a entrevista com o Professor Narci- Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600-
so Matos, Reitor da Universidade Politécnica e membro do Conselho Editorial 233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566;
desta revista, onde, mais uma vez, chama a atenção para a necessidade de se iona@iona.pt
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
levar a sério a formação de quadros, alertando para o risco de ficarmos cada Minerva Print - Maputo - Moçambique
vez mais atrasados se não apostarmos também na formação de moçambica- Tiragem 4 500 exemplares
Número de Registo
nos no exterior. Faz algumas revelações da sua rica experiência nesta maté- 01/GABINFO-DEPC/2018
ria e apresenta a sua visão para as diversas vertentes, versus, oportunidades,
que poderá, quiçá, ajudar a mudar o paradigma da eduçação e formação de
talentos em Mocambique.
A E&M fornece este tipo de informação para que o estimado leitor possa es-
tar informado da realidade moçambicana e pretende também contribuir pa-
ra a tomada de decisões de quem de direito, com impacto positivo na esfera
económica, política e social do país, pois ‘quem lê sabe mais’.
a globalização é um fenómeno multifacetado que pode ser “China: Estabilidade e Crescimento Económico”, os factores res-
entendido como uma inter-penetração, à escala global, de fac- ponsáveis pelo sucesso económico da China foram: (i) processo
tores económico-financeiros, em especial o capital, produção de liberalização do sistema de formação de preços; (ii) libera-
de bens e serviços e de elementos político-culturais através lização do comércio exterior; (iii) criação das ZEE´s, no litoral
do intercâmbio de ideias e valores da cultura dominante. sul, em zonas próximas de Hong Kong; (iv) existência de mão-
A volatilidade dos fluxos de capital, bens, mão-de-obra e infor- -de-obra rural com produtividade baixa, que possibilitou o seu
mação ditada, em primeira análise, por grupos empresariais deslocamento para as cidades, mantendo baixos os salários; (v)
transnacionais, cuja acção se baseia em princípios de vanta- ausência de protecção à propriedade intelectual; (vi) números
gem comparativa e maximização de dividendos, é uma das da população que favoreceram a existência de economias de
características do processo de globalização. Ao longo das duas escala, com impactos sobre o custo de produção; (vii) crescimen-
últimas décadas foi possível constatar a existência de factores to do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) que, entre 1981 e
que têm facilitado esse processo. O mais significativo, segun- 2007, passou de 265 milhões de dólares para 138 mil milhões,
do José Manuel Plascencia (2009), baseado no documento “La e; (viii) políticas de incentivo à inovação e a tecnologia.
Creación de Zonas Económicas Especiales en China: Impactos Conceptualmente, as ZEE´s são áreas geográficas bem delimi-
positivos y negativos en su implementación”, parece ser o sur- tadas, cujas regras económicas são liberais em comparação
preendente desenvolvimento tecnológico comprovado pelo com as vigentes noutras zonas do país, nas quais as empresas
constante redobrar de capacidades ao nível das telecomu- estrangeiras e também nacionais podem investir e negociar
nicações, robótica e tecnologia de informação. Tal realidade sem estarem sujeitas ao controlo e regulamentação de outras
implica o reconhecimento de um novo paradigma tecno-eco- regiões, sendo áreas que têm como objectivo estimular o in-
nómico criador de uma nova geografia espacial, em particu- vestimento estrangeiro e acelerar o crescimento económico.
lar, de uma geografia do espaço electrónico onde a distância é Shenzhen, no litoral sul da China, perto da fronteira com Hong
gradualmente reduzida. Na verdade, a tecnologia revelou-se Kong, foi o primeiro local a ter o estatuto de ZEE, esta que há
a principal impulsionadora de produtividade ao mesmo tem- pouco mais de 50 anos era uma pobre aldeia de pescadores,
po que a competitividade se assume como uma poderosa de- hoje transformou-se num centro de comércio em expansão,
terminante da inovação tecnológica. e num pólo de inovação tecnológica, sendo uma das maiores
Nos finais da década de 1970, Deng Xiaoping, Presidente da Re- cidades do país. As outras três primeiras ZEE´s situam-se tam-
pública Popular da China entre 1978 e 1989, introduziu uma sé- bém no sul da China, em Guangdong (Shantou e Zhuhai, a últi-
rie de reformas económicas que permitiram a abertura para ma na fronteira de Macau) e Fujian em Xiamen.
o capital internacional, criando facilidades para as empresas A implementação das ZEE surge em decorrência das reformas
estrangeiras se implementarem na China, consolidando uma económicas estruturais procurando dar resposta à inserção da
política de modernização que, durante mais de três décadas, China no processo de globalização, mas de forma cuidadosa, ba-
permitiu alcançar taxas de crescimento superiores a 8%. seada no trinómio: experimentação, gradualismo, adaptação.
Essas políticas foram posteriormente chamadas de “po- Isto por forma a impulsionar o desenvolvimento de regiões
lítica de portas abertas”, cuja ideia central é “não inte- carentes de infra-estruturas, ambiente de negócios adequado
ressa a cor do gato, o que interessa é que ele cace o rato”. e desenvolvimento tecnológico. Nelas há uma legislação mais
Na óptica de Marcelo José Nonnenberg (2010), no seu artigo flexível para atrair capitais, tecnologias e experiências mais
Nos finais da década de 1970, Deng Xiaoping introduziu uma série de reformas económicas
que permitiram a abertura da China ao capital internacional criando facilidades ao investimento
avançadas, além de que 70% da produção dessas zonas vai reafirma que “a China não vai fechar as portas já abertas ao
para o mercado externo. Em suma, desenvolve-se uma políti- exterior” e enfatiza que está comprometida em manter um
ca de integração internacional, em detrimento do isolacionis- ambiente de negócios mais aberto, padronizado e previsível.
mo predominante nas décadas anteriores. Em virtude deste exemplo positivo, Moçambique decidiu im-
Entre os impactos positivos da implementação do modelo de plantar o modelo e criou o Gabinete das Zonas Económicas de
ZEE´s na China, segundo Hongbin Coi & Daniel Treisman (2006) Desenvolvimento Acelerado (GAZEDA), em 2007, tendo criado a
no seu livro “Did Government Descentralization Cause China`s primeira ZEE de Moçambique, em Nacala em 2007 (Nampula), e
Economic Miracle”, pode-se referir que foi o motor fundamen- mais tarde a ZEE de Manga-Mungassa em 2012 (Beira, Sofala),
tal para a modernização económica do país, expandiu o foco de Crusse & Jamali, no turismo, em 2013 (Nampula) e de Mocuba em
intervenção das PME e a geração significativa de empregos 2014 (Zambézia), hoje sob a gestão da Agência para a Promoção
na indústria e serviços registou-se uma atracção significativa de Investimento e Exportações (APIEX). Esse modelo de desen-
de capitais provenientes de Hong Kong, Macau, Taiwan e ou- volvimento económico funciona, mas requer uma autoridade
tras comunidades na diáspora, permitiu a criação de “clusters forte da instituição gestora, nas componentes de gestão e atri-
industriais” com “spillovers positivos”. As ZEE comparticipa- buição da terra, implantação de infra-estruturas essenciais
ram no crescimento sustentável da China, contribuindo para para facilitar negócios (energia, água, estradas, porto, aeropor-
o incremento da competitividade, do espírito empreendedor e to, linha férrea), desburocratização, simplificação de procedi-
para a geração de remessas que os trabalhadores passaram mentos para atrair empresas estrangeiras, incentivos fiscais
a enviar para as suas zonas de origem. e ter um foco orientado para a inovação, desenvolvimento
Importa reconhecer que a introdução de reformas económi- tecnológico e as exportações.
cas estruturais e a adopção do modelo de ZEE´s é um claro Não temos a capacidade financeira, técnica e gerencial, insti-
exemplo de que políticas públicas de índole regional podem tucional e organizacional para acolher investidores estran-
contribuir para o progresso das regiões e do país. geiros em muitos pontos do país, bem como para promover o
O actual Presidente Chinês, Xi Jinping, está empenhado em desenvolvimento económico inclusivo e acelerado em todo o
prosseguir com a abertura económica, promover firmemen- território nacional. Concentrando em certas zonas pré-defini-
te as reformas e acelerar a transformação do modelo de das, podemos fazer com que as políticas públicas de natureza
desenvolvimento, através de um melhor ambiente de negó- económica tenham um impacto mais significativo no desenvol-
cios e condições mais favoráveis às empresas estrangeiras. vimento regional e local, possam contrariar alguns dos efeitos
Apesar de a economia mundial continuar marcada por in- negativos da globalização e incrementem a produtividade, a
certezas e instabilidade, ele advoga uma aposta estratégica competitividade, promovam as exportações e permitam ge-
na industrialização, informatização, urbanização e moderni- rar emprego. É quando a roda da economia passar a girar em
zação agrícola. No seu livro “A Governança da China” (2014), Nacala, Beira, Mocuba e outros pontos de Moçambique, que o
o Presidente Xi insiste na economia de mercado socialista, progresso e a prosperidade se vão multiplicar.
1
a economia moçambicana tem estado “não vai hesitar e tomará as medidas que
imune às revelações da justiça norte- estiverem ao seu alcance para garantir
-americana sobre as dívidas ocultas, a manutenção da estabilidade macroe-
segundo a avaliação do Banco de Moçam- conómica”, tal como já aconteceu em 2016.
bique (BM). “O Banco tem estado a fazer A economia pode estar imune, mas as
a devida monitoria da situação, através revelações vão causar impacto. Resta
dos nossos indicadores, e o que nós nota- saber de que forma. O primeiro-ministro
mos é que não há alterações de relevo”, Milhão moçambicano, Carlos Agostinho do Rosá-
referia Silvina de Abreu, nova directo- rio, já admitiu, por diversas vezes, que
ra de comunicação da instituição, no final
É o número de páginas as revelações “trazem novos elementos
de Janeiro. Os números garantem tran- que constam da acusação para o diálogo com os credores” dos 2,2
quilidade relativamente à estabilidade anunciou a procuradoria, mil milhões de dólares das dívidas ocul-
cambial, redução da inflação e das taxas tas, esperando “soluções no interesse dos
de juro. “Continuaremos atentos”, acres-
abrangendo transcrições moçambicanos”. O ministro da Economia
centou, ressalvando que o banco central e históricos bancários e Finanças, Adriano Maleiane, refere
em tempos, ligar a televisão, o ar condi- o seu funcionamento a partir do smart artificial, cada vez mais sofisticada… e
cionado, as luzes ou abrir a janela eram phone, mesmo se estiver distante de ca- customizada às nossas necessidades.
actividades que requeriam o toque hu- sa ou do escritório. Claro que tudo isto já é mais ou menos co-
mano. Mas, tal como todos sabemos, e já Este é um segmento que já existe há nhecido de todos mas, porventura o que
há alguns anos, nada isso é necessário, mais ou menos uma década no mundo, não imaginávamos tão claramente, pelo
bastando para tal um simples toque no pelo menos organizado enquanto mer- menos, é que isso já existe, e até nem é as-
telemóvel ou um comando de voz. cado aberto ao consumidor. sim tão incomum, aqui em Moçambique.
Diariamente, chegam-nos notícias que A nível global, a indústria de auto- Como seria de esperar, por cá, os nú-
nos falam de casas transformadas em mação residencial continua a crescer. meros (e as inovações) têm uma escala
gadgets onde, se estiver a ler o jornal Prova disso advém de um estudo da diferente, e este segmento do mercado
(só para ter algo dos tempos antigos Zion Market Research que prevê que residencial tecnológico está ainda nu-
neste artigo) não mais terá de cortar este segmento de mercado chegará a ma fase prematura. Porém, já existem
o seu fio de pensamento porque se es- 53,45 mil milhões de dólares até 2022, exemplos concretos de pessoas que têm
queceu de fechar a janela. Porque agora maioritariamente impulsionado pe- sistemas ‘inteligentes’ de gestão tecnoló-
é possível programar a hora de utiliza- la Google Home, o Alexa ou o Amazon gica nas suas residências, indústrias, ou
ção de qualquer acessório e monitorar Echo e pelos avanços da inteligência escritórios. E a E&M foi descobri-los.
“Hoje em dia, uma lâmpada, tal como todos os utensílios casa tenho conseguido reduzir consi-
deravelmente o consumo de energia”,
domésticos, funciona quando detecta a presença humana. complementa Guift que começa, assim, a
Mas quando não há ninguém por perto, tudo se desliga” amortizar o avultado investimento efec-
tuado, conta. E não é só em habitações
que este sistema tem sido implementado.
proporciona”, acrescentando mesmo maior atenção por parte de singulares Segundo a FPB, esta componente de redu-
que, “as pessoas, neste mercado, vêem e empresas tem a ver com a redução da ção de custos tem sido uma das razões
nas novas tecnologias uma forma factura energética, algo que é possível que tem levado grandes infra-estrutu-
de fazer aumentar a segurança nas com a gestão computorizada de utensí- ras a optarem por sistemas idênticos,
suas casas ou nos seus negócios, até lios domésticos. “Usando um sistema de como grandes superfícies e edifícios
pelas características do próprio país”. gestão energética automatizado irá, cer- residenciais. “O que fazemos nos shop-
Flávio Libombo será um dos poucos que tamente, poupar de forma considerável pings, por exemplo, está precisamente
já instalaram um sistema de automação na factura de energia”, revela a FPB. ligado a esta componente de economiza-
na sua residência, em Moçambique. A Smart Living também afirma, a esse ção de consumos energéticos”, assinala.
À E&M, explica que decidiu investir no respeito, que “hoje em dia, uma lâmpada, Podem ainda ser poucos os que vivem
sistema depois de ter constatado, numa tal como todos os utensílios domésticos, em casas inteligentes, que trabalham
busca pela internet, que em Moçam- funciona quando detecta a presença por nós, zelam pela nossa segurança e
bique já existia um sem número de humana, mas quando não há ninguém que até nos ajudam a poupar ao fim do
empresas para o efeito. “O kit básico por perto tudo se desliga gerando uma mês. Mas não há dúvidas de que o mer-
custou-me perto de 33 mil dólares, e grande poupança ao fim do mês.” cado está a crescer e promete mudar o
decidi apostar nele para poder garan- Com isto, Guift Zandamela, um outro entu- interior das nossas casas, e a maneira
tir a segurança da minha propriedade”, siasta das ‘smart houses’, já consegue como vivemos nelas.
argumenta, para depois acrescentar controlar e amenizar os custos de energia
que desde que instalou o sistema nun- na sua residência, localizada no bairro
ca mais teve problemas com intrusos. Belo Horizonte, na Matola, conta à E&M. texto hermenegildo langa
Outro dos segmentos que tem recolhido “Desde que instalei o sistema na minha fotografia jay garrido
Os números
bons e maus
das Pescas
é um dos subsectores económicos no
qual se tem registado crescimento ao nível
do impacto macro-económico mas, ainda
assim, pesa pouco (apenas 3%) nas con-
tas gerais do país. No entanto, como em
tantas outras áreas, se o potencial é tre-
mendo, ele é quase tão grande quanto as
ameaças. Por exemplo, a da pesca ilegal
nas águas territoriais de Moçambique, que
provoca ao Estado (e ao país) um prejuízo
de aproximadamente 60 milhões de dóla-
res por ano, quase tanto como a produção
global do sector (70 milhões de dólares).
Grande parte, destinada à exportação,
nomeadamente o camarão, que continua
a ser o rei das exportações e um dos pro-
dutos nobres de Moçambique no mundo.
Até por isso, o Ministério do Mar, Águas In-
teriores e Pescas e os grandes armadores
se têm mostrado preocupados com a pes-
caria de crustáceos na costa, sobretudo do
camarão de superfície e a gamba. “Há uma
sobre-exploração de alguns crustáceos
e outros invertebrados marinhos. Neste
momento regista-se a sobre-exploração
do camarão de profundidade e superfície
na zona sul do país e no banco de Sofala.
Outro motivo de preocupação são as espé-
cies de linha, aquelas que estão a ser cap-
turadas em fundos rochosos”.
Para a protecção dos recursos em causa,
a pescaria do camarão de superfície e de
profundidade está a ser praticada em re-
penta
gime fechado, ou seja, não há novos licen- ka
ciamentos de embarcações para a captura
gosta
das espécies marinhas.
la
atum
gostim
la
Produção aumentou desde 2014
Em apenas cinco anos, a produção 7,7
6,9
pesqueira nacional aumentou 56,2%
3,3
(1) Previsão
Em milhares de toneladas
402,3
0,9
397,2
340,2
290,9 303,3
254,3
70 000 000
de meticais
Camarão é o rei da exportação É quanto o país exporta de camarão
de superfície e gamba anualmente.
No global, as exportações cresceram
20%, face a 2017, para 90,4 milhões de 60 000 000
dólares. Camarão continua a liderar, de dólares
destacado. Maiores mercados são a União
É o prejuízo com pesca ilegal nas
Europeia, China e Japão.
águas territoriais de Moçambique,
marão
Em milhões de dólares estimado pelo Ministério do Mar,
ca Águas Interiores e Pescas.
sca d o
pe 397 262
anguej toneladas
ar Foi o volume global da produção
gamba 32,3 pesqueira, em Moçambique, ao
o
c
longo de 2018.
8 envolve, em Moçambique. No
entanto, 92% praticam pesca de
pequena escala e artesanal.
20%
melhor
Foi quanto as exportações de
pescado e mariscos cresceram,
só em 2018.
3%
do PIB
O subsector das pescas contribui
ainda de forma reduzida para o
PIB naquilo que é a balança de
pagamentos em Moçambique.
A ameaça da 4ª revolução
industrial em Moçambique
Jaime Fernandes • Country Director da Ipsos Mozambique
e se descobrisse, amanhã, que no emprego para o qual estu- As profissões que desaparecerão relacionam-se, pois, com tra-
dou e adquiriu experiência durante anos a fio foi substituído balhos não especializados, que também ocupam a maioria da
por um robot ou software? Poderá pensar que tal apenas acon- população. Como tal, os salários poderão baixar e o desempre-
tecerá num futuro distante ou que será algo fruto de um filme go tenderá a aumentar para além dos actuais 27%. E até o sec-
de Hollywood, um livro do Aldous Huxley ou quiçá de Orson tor informal poderá igualmente ser afectado (pelo ‘e-commer-
Wells. Poderá até pensar que a sua profissão nunca será au- ce’, por exemplo), através de um serviço mais rápido, cómodo
tomatizada. Todavia, os mais recentes avanços tecnológicos e oferecendo preços mais competitivos. Tudo pode acontecer.
estão inclusivamente a automatizar profissões na área da jus- Que consequências sociais resultarão, futuramente, num país
tiça e no sector financeiro, através de sofisticados algoritmos. crescentemente populoso que corre o risco de ficar maiorita-
As profissões actualmente mais susceptíveis de desaparece- riamente desempregado? E o que fará a população maiorita-
rem nos próximos dez anos são: taxistas, pintores, empregados riamente jovem e desocupada?
fabris, agricultores, mas também contabilistas ou bancários. Alguns utópicos, diria, argumentam que, no futuro, o trabalho
No entanto, pode ficar descansado (por agora) se a sua profis- deverá deixar de existir e que o Homem viverá numa socie-
são envolver prestar assistência a outras pessoas, altos níveis dade onde atingirá a felicidade plena, similar à descrita por
de criatividade ou competências de liderança. As profissões Aristóteles, onde prevalecerá a “auto-suficiência, o lazer e a
que requerem interacção e empatia humanas terão, portanto, ausência de fadiga”. Mas, para tal acontecer, os donos dos ro-
menores riscos de desaparecer. Incluem-se neste lote: médicos, bots teriam de devolver à sociedade o fruto dos seus lucros.
psicólogos, músicos, artistas ou líderes políticos ou empresariais. Considerando a remota probabilidade de tal acontecer, é pro-
Num estudo publicado em 2017 (A Future that Works: Automa- vável que surjam convulsões sociais resultantes da eterna luta
tion, Employment, and Productivity), a Mckinsey estima que de classes que Karl Marx amplamente descreveu durante a
África será particularmente afectada pela automatização, 2ª revolução industrial. A história repete-se, como diria Hegel.
prevendo que uma percentagem elevada de empregos seja Há quem defenda que os Governos deveriam pagar um salá-
automatizada brevemente (41% na África do Sul, 52% no Qué- rio básico a toda a população que lhes permitisse viver acima
nia, 46% na Nigéria e 50% na Etiópia). Actualmente, existe uma do limiar da pobreza para, justamente, distribuir os benefícios
média de dois robots industriais por cada 100 mil trabalhado- tecnológicos e manter a paz social. Bill Gates e Warren Buffet
res no continente, segundo o World Bank. Mas apesar do ainda defendem, inclusivamente, que os Governos deveriam cobrar
reduzido número, será uma questão de tempo até que a 4ª re- impostos de automatização às empresas, para financiar tais
volução industrial seja sentida. A automação será progressiva benefícios sociais. Aqui relativamente perto, o Quénia tem da-
e inevitavelmente acontecerá quando for eficaz e o preço e cus- dos passos decisivos para digitalizar a economia, reconhecen-
to de operar um robot for menor do que contratar uma pessoa. do o papel estratégico das novas tecnologias plasmado na ‘Vi-
No caso do fabrico de mobiliário, um estudo prevê que, em 2023, são Governativa 2030’, estabelecendo planos para a expansão
nos Estados Unidos, os robots sejam menos dispendiosos do que da banda larga, assegurar a segurança cibernética e apoiar
a respectiva mão-de-obra. No Quénia, por exemplo, prevê-se hubs tecnológicos. Numa época em que muito se fala dos efei-
que o ponto de inflexão aconteça uma década depois. Esse é tos da exploração dos recursos naturais e das dívidas ocultas,
provavelmente o tempo que temos para nos prepararmos. deixo aqui o desafio: durante a próxima década, Moçambique
Os sectores mais visados serão a indústria e a agricultura, terá a oportunidade de se adaptar antes que a 4ª revolução
sendo este, de resto, quem mais emprega em Moçambique. industrial surja em pleno. O que deverá, até então, ser feito?
35
um estudo recentemente publicado vam a E&M a ouvir os entendidas em
no Fórum de Davos revela que Moçam- matéria de formação de capital humano,
bique é “o 3º pior país do mundo ao nível a actuarem no país. Narciso Matos, Reitor
da capacidade de produzir, atrair e re- da Universidade Politécnica, é um deles, e
ter força de trabalho qualificada.” o tom que usa é tão crítico quanto conciso:
Assim, de forma pura, dura e a seco. “Moçambique não está preparado pa-
É verdade que o ranking considera ape- ra ter capital humano a trabalhar nas
nas 125 países, e analisa menos de metade mil alunos áreas técnicas dos projectos de gás que
dos países africanos (24), mas os resulta- já arrancaram na Bacia do Rovuma”, de-
dos não deixam de suscitar preocupação é o número de jovens fendendo que a “mudança deve começar
em relação ao futuro, e uma análise mais moçambicanos nas pela definição de prioridades a todos os
aprofundada de uma realidade que, qua- Universidades públicas níveis de formação, com a criação de es-
se todos os que vivem e trabalham no país, colas-modelo com elevado padrão de
já perceberam: “É muito difícil encontrar de todo o país qualidade, que sirvam para orientar e
técnicos qualificados em Moçambique”. massificar a formação de ‘cérebros’”.
É esta a conclusão essencial da pesquisa. Igor Felice, representante da Organi-
O que não é propriamente novidade, zação Internacional do Trabalho (OIT),
mas é preocupante o suficiente para enaltece “os esforços na promoção do
suscitar uma reflexão de fundo. conhecimento através da formação
Moçambique mora, então, no 122º (ter- profissional”, mas não está convenci-
ceiro pior) lugar no ranking global e do que isso seja o “suficiente”. E propõe
fica também na cauda (22º posto) no a introdução da tecnologia na educa-
ranking regional da África subsaariana. ção, desde o nível primário, “para dotar
Motivos mais do que suficientes que le- os recursos humanos de habilidades em
O QUE É O ÍNDICE
DE COMPETITIVIDADE
3 Crescer
GLOBAL DE TALENTOs? O QUE MEDE
2 Atrair
Como um país desenvolve o seu povo,
Produzido desde 2013 pela INSEAD, por exemplo, através de um bom
uma das mais importantes escolas sistema de educação que ofereça
de administração do mundo, em aprendizagem ao longo da vida.
parceria com o Grupo Adecco e
Human Capital Leadership Institute
da Singapura (HCLI), o índice mede O QUE MEDE Pontuação:
como os países capacitam, atraem O quão aberto um país é para atrair 14,86 (-3,82)
e retêm talentos, fornecendo um e reter talentos externos (pessoas ou Ranking mundial:
recurso importante para a tomada empresas), e de origens desfavorecidas 124.º (-7)
de decisões de modo a entender o sobretudo mulheres e pessoas idosas. Ranking África Subsaariana:
quadro global de competitividade 24.º
do capital humano e a desenvolver Pontuação: O melhor da região:
estratégias para aumentar a sua 39,65 (-0,36) África do Sul
competitividade. Ranking mundial: O pior da região:
O relatório analisa seis grandes 85.º (-12) Moçambique
indicadores, nomeadamente Ranking África Subsaariana:
habilitar, atrair, crescer, reter, 15.º
habilidades profissionais e O melhor da região:
técnicas e habilidades globais Namíbia
de conhecimento. O pior da região:
Estes desdobram-se em sub- Zimbabwe
indicadores que totalizam 68
variáveis analisadas.
4
associado da instituição responsável
pela pesquisa (Insead), ao revelar, numa
Reter entrevista recente à Rádio France Inter-
Habilidades
5
nacional que “quando todos percebermos
realmente os efeitos da transformação
O QUE MEDE profissionais digital, das novas tecnologias, e das econo-
A qualidade de vida num
determinado mercado. É uma
e técnicas mias integradas por novos eco-sistemas
e plataformas, maior vai ser a exigência
das principais componentes para os talentos disponíveis. Por outro
da retenção de talentos. O QUE MEDE lado, mais competitiva será a dinâmica
A disponibilidade de trabalhadores global, porque os países que têm econo-
Pontuação: com habilidades vocacionais mias mais desenvolvidas vão estar a
21,39 (+2.78) e técnicas que confiram competir pelos mesmos talentos”.
Ranking mundial: competitividade ao país.
117.º (+1) A educação é, por isso, um Capacitar o capital
Ranking África Subsaariana: dos principais requisitos. Ou seja, é esta a única arma de que as
17.º economias, principalmente as menos de-
O melhor da região: Pontuação: senvolvidas, como a moçambicana, dis-
Maurícias 8,71 (-9,53) põem por forma a não sucumbirem pe-
O pior da região: Ranking mundial: rante a globalização: Formar qualidade.
R.D. Congo 125.º (-7) Internamente, e pela experiência que
Ranking África Subsaariana: têm, as empresas de recrutamento ou-
24.º vidas pela E&M entendem que a maior
O melhor da região: deficiência que o país apresenta é a pre-
Maurícias paração em áreas técnicas. Já lá vamos.
O pior da região: Comecemos pelo princípio, pela escola.
Moçambique Ao nível dos números, observamos que
existem claros progressos no Ensino
Primário, onde a participação de alunos
cresceu exponencialmente ao longo dos
Habilidades últimos anos, o número de escolas que
6 globais de
conhecimento
lecciona o Ensino Secundário quase tri-
plicou e a taxa bruta de escolarização re-
gistada anda em torno dos 50%, contra os
39% de 2008 e os 24,6% de 2005.
Resulta assim da leitura da posição de
O QUE MEDE Moçambique no relatório, que a questão
A disponibilidade de trabalhadores em é mais qualitativa (qualidade do que
cargos profissionais, gerenciais ou de se ensina logo na base escolar) do que
liderança. Ou seja, a capacidade de quantitativa (número de alunos que
produzir e manter novos líderes. têm acesso à escola). “As taxas de apro-
veitamento registaram uma quebra
Pontuação: a partir de 2008 em quase todos os níveis
7,16 (-1,96) de Ensino Geral. Existe ainda a percepção
Ranking mundial: de que um número considerável de crian-
116.º (-9) ças termina o primeiro ciclo sem as com-
Ranking África Subsaariana: petências de leitura e escrita, facto que
18.º interfere negativamente na aprendiza-
O melhor da região: gem nos ciclos e níveis de ensino subse-
África do Sul quentes.” A conclusão é do estudo de 2016
O pior da região: sobre o Ensino Básico em Moçambique,
Burundi elaborado pelas investigadoras Stela
Mithá Anrade e Hildizina Norberto Dias.
Torna-se assim difícil deixar de lado
a apreensão, com a possibilidade real
de grande parte das oportunidades
que, se prevê, advenham dos gran-
des projectos, e que criarão milhares
de novos postos de trabalho, poderem
(De)méritos da Lei
de trabalho
Mesmo reconhecendo a fraca
capacidade técnica de muitos
profissionais, a legislação procura
proteger o cidadão nacional,
limitando a contratação de
estrangeiros. O resultado mais
visível disso é a ineficiência e a fraca
remuneração dos trabalhadores
nacionais, pouco competitivos,
visto que para contratar quadros
competentes, as empresas têm de
preencher determinadas quotas de
trabalhadores nacionais.
Segundo a Lei do Trabalho em vigor
(Lei nº 23/2007, de 01 de Agosto), nas
disposições combinadas do nº 5 do
artigo 31 com o nº 1 do artigo 34, fixa
as seguintes quotas para as empresas
admitirem trabalhadores estrangeiros:
5% da totalidade dos trabalhadores,
nas empresas que empregam mais de
100 trabalhadores; 8% nas empresas
que empregam entre 11 e 100
trabalhadores; e 10% nas empresas
que empregam até 10 trabalhadores.
Número de moçambicanos nas principais indústrias tem crescido, mas ainda é insuficiente
passar ao lado de toda uma geração. Sousa estudo destaca a fraca capacidade de
Mergulhando nos resultados do Índice de atracção de Investimento Directo Estran-
de Competitividade Global de Talentos, Directora-executiva geiro (que caiu acentuadamente nos últi-
Marlene
este reproduz a análise a 68 variáveis da Atittude mos quatro anos), com efeitos na redução
(agregadas em seis categorias princi- do pessoal qualificado nacional ou es-
pais), muitas delas interdependentes, trangeiro nesses empreendimentos.
dando uma medida exacta da realidade Outro obstáculo está relacionado com a
do país a este respeito, e fornecendo as dificuldade em compensar a qualidade do
ferramentas para uma correcção das capital humano melhorando a sua quali-
preocupações constatadas. “O grau académico já não é, em dade de vida, por exemplo, através de sa-
A começar pelo ambiente regulatório, si, suficiente. É preciso usar as lários competitivos ou outros incentivos.
avaliado no indicador “Habilitar”, que competências vocacionais como factor A grande e inconveniente realidade é
aponta a corrupção como “a principal diferenciador. Para ser um verdadeiro que os moçambicanos têm menos hipóte-
mancha do mercado”, e a razão que talento, a pessoa tem de identificar, ses de desenvolver competências profis-
provoca um “mau funcionamento das primeiro, o que mais gosta de fazer”. sionais ao longo da vida, revela o estudo
entidades responsáveis pela produção, no indicador “Crescer” (14,86 pontos, 124º
atracção e retenção de talentos”, lê-se. lugar, e penúltimo do ranking), apontan-
Um destaque ainda para a insuficiência do como ponto crítico “a fraca qualidade
de infra-estruturas do sector das Tec- da educação ao nível escolar, e a quase
nologias de Informação e Comunicação total ausência de instituições ou iniciati-
(10,81 pontos, e o 115º lugar a nível mun- vas que explorem a orientação vocacio-
dial), que influencia negativamente a nal das pessoas.”
evolução de competências. O relatório faz, ainda, menção à fraca
Quando não se tem bom ambiente ge- qualidade das escolas de formação de
ral, obviamente não se consegue atrair quadros (3,12 pontos na 124º posição, e no-
os melhores profissionais. Ainda que vamente penúltima do ranking), e à débil
se trate do indicador em que Moçam- capacidade de treinamento de recursos
bique tem o desempenho menos mau, o pelas empresas empregadoras (424,67
“Atrair” apresenta dados sobre os quais pontos, 70º lugar). Para agravar, “o país
vale a pena lançar um olhar mais atento. não tem um ambiente capaz de reter
Em relação à abertura ao exterior, o os “cérebros” que consegue produzir, ou
35%
No período de 2013 a 2014, as empresas Associada a ela, a falta de uma legislação
angolanas tiveram grande participação que se ajuste aos novos contextos do mer-
no sector em termos de Conteúdo Local, cado, questões de ordem geopolítica, téc-
por conta do elevado nível de facturação nica e financeira, que contribuem para o
registado e também de know-how, o que decréscimo do Conteúdo Local em Angola,
representou cerca de 3,5 mil milhões de segundo fontes contactadas pela E&M.
dólares de volume de negócios, informou Paulo Cardoso, CEO da All Brokerage So-
Pedro Godinho, o CEO da Prodiaman, uma Sector dos petróleos é lutions (ABS), empresa 100% angolana, de-
das empresas de prestação de serviços responsável por mais de um fende ser necessária uma “renovação”
do sector. Entretanto, lamentou que, “des- das políticas como primeiro passo “pa-
de então, os projectos foram engavetados”. terço de toda a actividade ra criar emprego localmente e parar de
Mesmo sendo o sector forte da econo- económica em angola, mas depender em demasia do petróleo e dos
mia angolana, como sabemos, (represen- a participação de empresas seus derivados do ponto de vista das re-
ta cerca de 35% do PIB e mais de 90% ceitas. Ainda estamos na fase de desenvol-
das exportações), depara-se com desa- angolanas fica-se pelos 10% vimento e por isso não podemos compa-
fios que impedem o seu crescimento, mui- rar as políticas proteccionistas de outros
to por conta da crise iniciada em 2014. países, porque precisamos da sua tecnolo-
há experiências bem sucedidas que de- mar profissionais para qualquer sector
veriam inspirar os decisores de hoje a da economia. Ou seja, têm as bases para
solucionarem as insuficiências de sem- se adaptarem às exigências específicas
pre, em número e em qualidade, de ta- do ramo em que vão trabalhar, embo-
lentos ou falta deles, em Moçambique. ra seja difícil encontrar pessoas que, ao
Quando, para estimular o desenvolvi- Corremos o risco sair das universidades, estejam prontas
mento de novos quadros, o Governo de de ficar cada vez para trabalhar em determinadas em-
Samora Machel decidiu enviar para presas que têm de ser, elas próprias, a
Cuba milhares de jovens para serem for- mais atrasados. Não formar estas competências muito direc-
mados nas mais diversas áreas profissio- temos como dar o cionadas às suas exigências. A segunda é
nais, ter-se-á antecipado ao seu tempo.
Fazia uma leitura correcta que, even-
salto sozinhos. É que existem áreas onde não temos capa-
cidade e, pior, não estamos a fazer o que
tualmente, deveria ter sido continuada impossível! Temos deveríamos para mudar esta realida-
nos anos que se seguiram, por forma a de ir às melhores de, porque não sabemos tomar decisões.
melhor aproveitar as oportunidades na Há dez anos, dizíamos que Moçambique
indústria do petróleo e gás, do carvão,
escolas do mundo iria precisar de 4 mil técnicos da área
do alumínio, areias pesadas e de todas os para aprender e de geologia. Agora pergunto: qual foi o
sectores cuja força de trabalho é, ainda depois aplicar esse plano seguido para esse efeito? Mesmo
hoje, maioritariamente assegurada por agora, falamos em carvão e gás mais no
expatriados. Em exclusivo à E&M, Narci- ensinamento em sentido dos acordos que estão a ser ru-
so Matos, reitor da Universidade Politéc- Moçambique bricados do que no capital humano que
nica, explica que é tudo uma questão “de está a ser (ou já foi) formado para daqui
vontade e não de inventar a roda.” a cinco anos poder responder às exigên-
cias. Isto é desperdício de oportunidade.
A competitividade económica depen-
de, cada vez mais, da forma como os Então, é válido concluir que não acre-
países enfrentam o desafio da for- dita que estejamos preparados para
mação de quadros. Olhando para Mo- as novas oportunidades, é assim? Pre-
çambique, acredita ser possível que vê que os moçambicanos venham a
os grandes empreendimentos de que ser meros espectadores do processo
se fala, há quase uma década, encon- de produção de gás, por falta de mão-
trem os quadros necessários para po- -de-obra qualificada?
derem funcionar de acordo com pa- Se não tivermos juízo, é possível, e até
drões de exigência internacionais? provável, que o gás se transforme numa
Para esta questão são possíveis duas maldição em vez de uma bênção. Agora
respostas válidas: a primeira é que, em fala-se de carvão e gás como se estes pu-
algumas áreas, temos capacidade de for- dessem empregar toda a gente ou como se
Nómadas digitais
Cristina Simón • Professora de RH da IE Business School e directora do MBA IE-BROWN
como tem vindo a acontecer nos últimos anos, as possibilida- uma leitura histórica do mundo do trabalho tal como o conhe-
des que abre a tecnologia permitem uma nova concepção do cemos no mundo ocidental actual. Ainda seguimos o modelo
trabalho: as comunidades dos chamados nómadas digitais. São gerado durante a Revolução Industrial do século XIX e deve-
basicamente profissionais da geração millenial que decidem mos recordar o choque que representou em seu momento. Os
prescindir dos laços espaço-temporais marcados pelas formas operários suicidavam-se por não poderem passar a cada dia
de relação laboral tradicionais e trabalham enquanto viajam. um número de horas fixas dentro de um edifício com luz ar-
Iniciativas como a Selina.com organizam espaços físicos em tificial quando a sua forma de vida, essencialmente agrícola,
destinos de interesse turístico para que estes jovens nómadas tinha estado vinculada ao movimento do sol e ao ritmo do cli-
digitais disponham de conexão e lugares adequados para de- ma e das estações. A nossa forma de trabalho não é tão antiga
senvolver a sua actividade. nem inerente à nossa espécie. Não quero dizer com isso que
Obviamente esta opção não é para toda a gente, nem para tenhamos de voltar ao campo ou que devamos tornar-nos lu-
todos os postos de trabalho. Aquelas actividades que reque- ditas, senão simplesmente que não é a primeira vez que acon-
rem atenção próxima ao cliente ou presença física (indústria tecem mudanças na concepção que temos do trabalho e que
ou determinados serviços) não são susceptíveis de noma- não deveríamos escandalizar-nos por isso. Sim, é certo que
dismo em geral. Contudo, é interessante analisar o que esta estes nómadas digitais nos recordam estes tempos anteriores,
forma de trabalho representa. Uma vez superado o “onde onde não existiam as amarras que actualmente marcam o
vamos parar” inicial - uma primeira análise a estas comu- nosso sistema produtivo.
nidades de nómadas digitais gera a sensação de qualquer Como em tantos fenómenos socio-económicos gerados pela
coisa menos produtividade ao estilo clássico –, o certo é que tecnologia, ainda está por ver a extensão deste nomadismo
há muitos trabalhos que, ao não requererem presença física, digital e se irá além de ser outra moda efémera. Cada vez são
podem realmente ser desempenhados a partir de qualquer mais os jovens que decidem romper com o sistema durante
sítio. E inclusive podemos pensar em muitos que requerem uma temporada e viajar sem amarras, com trabalhos pre-
inspiração e renovação (como o desenho ou as tarefas cria- cários mas que lhes permitem ter experiências diferentes e
tivas), para os quais sair da rotina diária pode ser um estí- aprender com outras culturas, o que pode ser também uma
mulo importante para a eficácia pessoal. E devemos espe- valiosa fonte de talento para as organizações.
rar que este tipo de trabalhos venha a aumentar no futuro, Esperemos que os departamentos de selecção se adaptem
visto que a robotização absorve as tarefas mais rotineiras, também a esta nova visão do mundo e saibam ver nos cur-
físicas e que requerem presença num posto de trabalho. rículos dos nativos digitais o maior valor que podem trazer
O fenómeno do nomadismo digital permite-nos também fazer às novas gerações.
O certo é que há muitos trabalhos que, ao não requererem presença física, podem
realmente ser desempenhados a partir de qualquer sítio. E inclusive podemos pensar
em muitos que requerem inspiração e renovação como o desenho ou as tarefas criativas
a actuação do Millennium bim pode crescimento do resultado líquido da ins- Como é que podemos olhar para o ano
definir-se em poucas palavras: consis- tituição, com um rácio de capital acima de 2018 do Millennium bim?
tência, sobriedade e crescimento. dos 30% (bem para lá dos 9% mandató- Continuou a ser um ano em que hou-
E há resultados palpáveis dessa rea- rios por parte do Banco de Moçambique). ve evolução de crédito, fruto, ainda,
lidade ao nível da base de clientes (1,8 No entanto, ao nível do crédito malpa- obviamente de um crescimento da eco-
milhões), da expansão da utilização de rado, que se terá agravado nos últimos nomia fraco e do nível de taxa de juro
canais remotos (Millennium IZI, Inter- anos, a situação ainda é delicada, mas, que, apesar de já ter descido significa-
net Banking e redes de ATM e TPA), ou assinala, “prosseguem os esforços de tivamente, ainda foi bastante elevado.
por ser o primeiro banco a estar presen- aperfeiçoamento dos mecanismos de Portanto, o mercado como um todo ain-
te em todos os distritos do país, chegando monitorização de risco e de uma políti- da decresceu a sua carteira de crédito.
aos 193 balcões. ca de provisionamento prudente, com Nós decrescemos mais do que o merca-
Ainda sem o relatório de contas referen- vista à eficiência e robustez do balan- do, simplesmente, porque houve dois
te ao ano de 2018, José Reino da Costa fala, ço”, assume o gestor, para quem a saúde ou três clientes que tiveram liquidez e
em exclusivo à E&M, de um crescimen- financeira do bim é hoje “assinalável”. aproveitaram para liquidar crédito pa-
to de 10% ao nível do número de clientes O que provoca reflexos na “grande ca- ra reduzir os seus encargos financeiros,
e dos depósitos, sendo que os valores fi- pacidade de concessão de crédito... assim e isso afectou a nossa carteira ain-
nais apontam, por essa via, para um que a economia puxe por nós”, assume. da de uma forma mais significativa.
investirnoturismo
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019
51
megafone
Fundação Galp e
Ronil inaugurou a nova a Helpo oferecem
sede da Hyundai no país bolsas de estudo
Inserido no âmbito do projecto
Representante da marca investiu 2,5 milhões “Educar para o Futuro”, a fun-
de dólares nas novas instalações dação Galp, em parceria com
associação Helpo, ofereceu re-
centemente bolsas de estudo
(material escolar e bicicletas)
a 103 crianças carenciadas da
Millennium bim e escola de Natoa, no norte da
MITADER aliam-se pela província de Nampula.
inclusão financeira As referidas bolsas foram atri-
buídas às crianças que, pela
“Promover a bancarização e a primeira vez, vão ingressar na 8ª
inclusão financeira”. Este é o classe. De acordo com as duas
objectivo do memorando rubri- entidades, a oferta de bicicle-
cado entre o Millennium bim e tas a estes jovens “pode fazer
o Ministério da Terra, Ambien- a diferença entre continuar os
te e Desenvolvimento Rural estudos ou abandonar a esco-
(MITADER) no qual se pretende, la”, visto que devido à dispersão
a breve trecho, instalar agências dos estabelecimentos de ensino,
bancárias em 12 novos distritos muitos alunos têm de percorrer,
do país. Inserido no âmbito do diariamente, grandes distâncias
programa “Um Distrito, um ban- para chegarem às aulas.
co”, através do Fundo Nacional
de Desenvolvimento Sustentável
(FNDS), as duas instituições pre- proceder à venda, assistência pós-venda de viaturas da
tendem “acelerar o processo de marca Hyundai e “melhorar a qualidade de prestação de ser-
inclusão financeira nas zonas ru- viços ao cliente” é o propósito da instalação da nova sede da
rais”, dotando todos os distritos Hyundai em Maputo. Representada em Moçambique pela
com pelo menos um balcão até Ronil, um dos principais e mais antigos grupos de automóvel
ao final deste ano. no país, o investimento na nova sede, localizada na avenida
das FPLM, está avaliado em mais de 2,5 milhões de dólares.
Trata-se de um empreendimento que, numa fase inicial, irá
Standard Bank garantir 40 postos de trabalho, dos quais 97% serão desti-
pretende facilitar nados a moçambicanos. Segundo Henrique Bettencourt, ge-
investimento chinês rente da Hyundai, o empreendimento foi feito “a pensar na
qualidade de serviços a oferecer ao cliente”, e com a ambi- Bureau de crédito
Com vista a incrementar os la- ção de tornar a marca “numa das principais referências” do chega ao mercado
ços empresariais entre Mo- mercado. “Inovámos ao nível de qualidade e competitivida-
çambique e a China, o Stan- de nos principais segmentos e surgimos também como uma “Acrescentar transparência e
dard Bank apresentou, num oferta única de garantia de cinco anos em todas as viaturas confiança para ajudar a ban-
workshop alusivo às celebra- por nós comercializadas”, acrescentou. ca comercial e as instituições de
ções do novo ano chinês, um microcrédito a reduzir os riscos
conjunto de soluções financeiras do crédito e melhorar o acesso
para facilitar a realização de in- ao financiamento”. É desta for-
vestimentos e negócios no país. ma que a Compuscan, a primeira
Trata-se assim de um mecanis- agência privada de sistemas de
mo através do qual o banco pre- informação de crédito no país
tende trazer “novas soluções (bureau de crédito) se apresen-
para facilitar as remessas pes- ta, com a missão de “contribuir
soais entre Moçambique e a Chi- para facilitar o acesso ao crédi-
na”, permitindo, desta forma, a to a particulares e empresas”.
facilitação de pagamentos in- Hyundai De acordo com Lara Cangi, res-
ternacionais online directos en- O Grupo Hyundai, representado em Moçambique pela Ronil, é ponsável em Moçambique, “a
actualmente o quinto maior fabricante mundial, tendo no ano
tre particulares e empresas, re- empresa pretende contribuir pa-
passado ultrapassado a marca das 7,5 milhões de vendas nos
duzindo os custos e aumentando ra uma maior transparência
cerca de 193 mercados onde está representada.
a eficiência para os clientes pes- e confiança através de informa-
soais e empresariais. ção fiável e de qualidade.”
cv
ra em assuntos polémicos, me- zer nada ilegal. A ideia do lan- estamos a conseguir respon-
nos ainda para protestar. Fáti- çamento desta campanha foi der à demanda das pessoas.
ma Mimbire, pesquisadora do dos colaboradores do CIP on- O que estamos a fazer é dis-
Centro de Integridade Pública de também me enquadro. Te- ponibilizar aos cidadãos os
(CIP), é uma destas figuras, ten- mos um plano estratégico curriculum vitae desenhos da camiseta para
do sido um dos rostos da pro- que nos guia, e dentro dele as pessoas poderem, de for-
moção da mais famosa frase elaboramos os nossos planos Fátima Mimbire trabalhou ma independente, estampar
dos últimos meses “Eu não pa- anuais. Temos, no nosso plano como jornalista na a sua própria t-shirt. A cam-
go as dívidas ocultas”. de acção, estabelecido a cin- Agência de Informação panha tem tido uma enorme
co anos, a vertente da monito- de Moçambique (AIM) e aceitação nas ruas e nas re-
O que motivou o CIP para ria e acompanhamento rela- foi professora assistente des sociais, o que demonstra
criar a campanha? tivamente às dívidas ocultas na Escola Superior de que há uma insatisfação po-
É preciso dizer que a ideia da e esta campanha enquadra- Jornalismo. Actualmente pular evidente.
produção das camisetas foi do -se nesta actividade. Depois, a é pesquisadora do CIP
Edson Cortez que era nosso nossa Constituição da Repúbli- em processos ligados à Qual será o posicionamen-
colega na altura e ainda não ca é muito clara sobre a ques- indústria extractiva. to do CIP caso o Governo
era director do CIP quando tão das manifestações, e quan- mantenha a opinião sobre
as dívidas ocultas foram re-
veladas. Esta campanha foi o
do distribuímos as camisetas é
para que as pessoas as vistam
CIP a legalidade das dívidas
contraídas?
culminar da confirmação de e se expressem por via delas. Sabemos que existe promis-
que, definitivamente, como Isso é permitido constitucio- cuidade entre o sistema judi-
moçambicanos, não devemos nalmente. O CIP tem estatu- de obediência às autoridades cial e o poder executivo, mas
pagar essa dívida. E a ideia tos que foram aprovados pe- é muito grande, tanto que as acreditamos que o bom senso
é dar voz ao povo, dizer-lhes lo Governo, portanto, sabe-se pessoas até acabam por aca- pode reinar no final do dia. Te-
que se podem pronunciar em que o nosso objectivo é trazer tar ordens ilegais. No entan- mos uma pequena esperança
relação a essas dívidas, não a consciência pública e moni- to, continuamos com a campa- de que isso pode acontecer.
aceitando que sejam pagas torizar a governação. Por via nha de distribuição nas pro- Podíamos recorrer a outros
porque não passaram pela desta campanha, estamos a víncias. E ela vai continuar mecanismos como o Tribu-
Assembleia da República (AR). consciencializar os cidadãos até os moçambicanos esta- nal Africano mas, infelizmen-
Estamos a ampliar o espaço de que não vamos aceitar pa- rem satisfeitos com a deci- te, não podemos fazê-lo por-
para os cidadãos se expres- gar uma dívida que é ilegal. são da AR. Penso que se que- que o governo ainda não per-
sarem e também a fortalecer remos construir este país, te- mitiu que os moçambicanos
a ideia de que os moçambica- Quando a campanha foi mos de fazer as coisas com pudessem aceder a ele. Aí,
nos não devem aceitar pagar lançada a Polícia procurou seriedade. poderíamos processar o go-
essas dívidas porque há ra- impedir a operação. Como é verno por violação dos direi-
zões mais do que suficientes que lidaram com isso? Sente que as pessoas que tos humanos porque é com-
para que o Estado não assu- Simplesmente continuámos têm a t-shirt a vestem, ou provadamente visível que
ma o seu pagamento. a fazer a distribuição e re- temem represálias das estas dívidas vão comprome-
comendámos às pessoas que autoridades? ter os direitos, liberdades e
Há vozes que dizem que resistissem. Houve algumas É difícil aferir isso, mas te- garantias dos cidadãos.
não é o papel do CIP criar que o fizeram mas, infeliz- mos visto gente nas ruas
este tipo de campanhas. Co- mente, outros obedeceram com elas vestidas. Há pes-
mo é que vê essa posição? às ordens da polícia uma vez soas que vestem, mas tam- texto Hermenegildo Langa
Bom, é uma crítica. Mas, na que, no nosso país, a cultura bém há outras que sim- fotografia Jay Garrido
57
no ponto de encontro anual da elite da produção, comercialização e consumo
política, económica e financeira global, o da cannabis, tanto para fins medicinais
Forum de Davos acolheu, numa das suas como recreativos, a expectativa é que
sessões, personalidades tão diversas co- este mercado represente, em 2027, a ní-
mo Ehud Barak (antigo primeiro-minis- vel global, um valor que poderá atingir
tro de Israel, país que é um dos maiores os 57 mil milhões de dólares.
produtores de cannabis para fins me-
dicinais) e Bruce Linton, CEO da Canopy mil milhões de dólares Novos segmentos do mercado da ‘erva’
Growth, a maior produtora canadiana De acordo com os relatórios, a fatia de
de cannabis, para falarem da situação
é a estimativa de valor mercado mais significativa será a da
actual do mercado e das tendências de do mercado da cannabis cannabis para fins recreativos (67%) sen-
evolução para os próximos anos. até 2027 ao nível da do os restantes 33% para a cannabis pa-
Na outra sessão, patrocinada pela Cana- ra fins medicinais. O maior crescimento
dian Securities Exchange e o OTC Ma-
comercialização e consumo, em número de consumidores irá verifi-
rkets Group Inc., os participantes analisa- tanto para fins medicinais car-se na América do Norte (EUA e Cana-
ram as perspectivas financeiras e de co- como recreativos dá) o que, em termos de volume de negó-
tação em bolsa das empresas que já ho- cio, representará uma evolução dos ac-
je se movimentam neste novo mercado. tuais 9,2 mil milhões de dólares para os
No entanto, o que passou em Davos re- 47,3 mil milhões em 2027. Porém, o maior
flecte apenas uma nova realidade. De crescimento de mercado, em termos
acordo com dois relatórios recentes (The absolutos, (isto é, não apenas relativo à
State of Legal Marijuana Markets e The componente de consumo) irá ocorrer fo-
Road Map to a $57 Billion Worldwide Ma- ra da América do Norte (os relatórios
rket) produzidos pela empresa Arcview prevêem que se deverá passar dos ac-
Market Research, em parceria com a BDS tuais 52 milhões de dólares (números
Analytics, com a progressiva legalização de 2017) para 2,5 mil milhões, em 2027).
60%
Que afirmação internacional pode ter “Temos de dar tempo ao tempo”, disse Ma-
uma comunidade de países sem o país que ria do Carmo Silveira. “Só posso desejar
representa 75% da população total do blo- que a colaboração, a participação, o en-
co e 83% da economia? volvimento do Brasil na CPLP possam sair
A pergunta, incómoda, está na origem da mais reforçados”, acrescentou.
multiplicação de declarações políticas de A dificuldade em prever a política exter-
líderes da CPLP, a Comunidade dos Países na de um líder pouco versado na matéria
de Língua Portuguesa, desde a eleição em foi quanto cresceram as e de comportamento tendencialmente er-
Novembro passado do novo Presidente trocas comerciais entre rático está a ser comprovada com o pre-
brasileiro. Em Janeiro, na tomada de posse sidente norte-americano Donald Trump
de Jair Bolsonaro, o Presidente português o Brasil e outros Estados- – é, por isso, cedo para antever o que
fez questão de colocar o “empenho” do Bra- -membros da CPLP em 2017, poderá ser a conduta de um Brasil com
sil na CPLP como um dos temas prioritários somando, aproximadamente, Bolsonaro face à CPLP. Certo é que se o
na primeira conversa com Jair Bolsonaro. novo presidente não se desviar muito da
Pouco tempo antes, questionada pelos me- 3,5 mil milhões de dólares linha estrutural traçada há vários anos, o
dia sobre se Bolsonaro não iria afastar ain- Brasil deverá continuar como tem estado:
da mais o Brasil da comunidade lusófona, a interessado em aprofundar as relações
secretária-geral da CPLP pareceu lacónica. bilaterais com alguns países da CPLP,
Tomada de posse do novo presidente teve medidas de segurança nunca vistas no Brasil
dizem-nos as notícias que, ao longo do último mês, se agu- social e económica, o dos Países também. E essa mudança de
dizaram os ataques na Província de Cabo Delgado, se propa- papéis causou que alguns se tenham desligado demasiado do
garam as detenções relacionadas com o caso das dívidas não seu propósito e outros se tenham esquecido de o fazer.
declaradas, aumentaram as tarifas de electricidade (uma vez Uns e outros Pais e Países foram-se desconectando à medida
mais) e se multiplicaram as chuvas, por todo o País. que o mundo de interligava de outras formas, e tornando mais
O que é que tudo isto tem em comum? Absolutamente nada, ou vago o significado maior que lhes deu luz, no princípio. Torna-
quase, não fosse o facto de tudo se ter passado… no País. ram-se estranhos um ao outro, a seguir. E de todos nós.
O que me leva a pensar na origem etimológica da palavra. Mas porque todos tendemos a sê-lo, em diferentes fases da
País é pois, mais do que uma mera palavra que, na origem, vida, a responsabilidade também é nossa, de não deixar que
provém de Patriarcado, que deriva por sua vez, do grego ‘Pa- um País sem Pais nos ameace tornar em Pais sem País.
ter’, que se refere a um território ou jurisdição governados Lembro-me de como em países que passaram por guerras
por um patriarca. É ele, o Pai na origem da Pátria, a Amada, civis prolongadas, como Angola e Moçambique, a juventude
por onde se começa a cantar o hino nacional moçambicano. parece tantas vezes perdida, sem a referência dos passos de
Em função das transformações sociais, culturais e familiares um Pai que esteve na guerra do seu País.
ocorridas desde o século XIX, o papel da figura paterna foi- E como, por via disso, em inúmeros casos tenha sucedido que
-se alterando, o que não quer dizer que tenha evoluído, com a figura maior do Estado acabe por ser respeitada como se de
as mudanças da sociedade. E isso teve impactos na forma de um Pai (da Pátria) se tratasse. Quase como um duplo do cine-
viver e estar em sociedade. “Historicamente, o Pai desempe- ma, que até é parecido com o real, mas não é bem aquilo, se
nhava essencialmente uma função educadora e disciplinado- olharmos e pensarmos bem.
ra, segundo códigos frequentemente rígidos e repressivos. E, Não são invulgares os exemplos desta realidade, e eles repe-
a interacção entre Pai e Filho era reduzida, particularmente tem-se em demasiadas latitudes do nosso mundo. Na Coreia do
nos primeiros anos de vida, bem como a sua participação nos Norte, há mais de um século, com a sucessão de Kim’s. Ou, mais
cuidados diários à criança”, pode ler-se num estudo intitula- atrás no tempo, no pequeno Omã, no Médio Oriente, que é go-
do ‘A importância da figura paterna para o desenvolvimento vernado pela mesma família há mais de 260 anos.
infantil’. Freud, um outro Pai, neste caso da psicanálise, dizia Ali a Pátria é do sultão Qaboos bin Said Al Said, como foi, antes,
no trabalho, ‘Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua in- do seu Pai. Ali, não existe constituição e as leis são as do Islão.
fância’, que “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como Mas há mais exemplos de Pátrias desligadas do seu sentido.
nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa auto- Ao contrário do que possamos pensar, existem actualmente
ridade de qualquer espécie é tão imperativa que o seu mundo 49 países que ainda vivem em regime ditatorial – segundo
desmorona se essa autoridade é ameaçada”. um estudo da Freedom House, uma ONG norte-americana que
Claro que se o papel do Pai terá sido reescrito com a evolução monitoriza anualmente as democracias ao redor do mundo.
País, é mais do que uma palavra que provém de Patriarcado e deriva, por sua vez,
do grego ‘Pater’, que se refere a um território ou jurisdição governados por um patriarca.
É ele, o Pai na origem da Pátria, a Amada, por onde se começa a cantar o hino nacional
68
Nesta edição,
visitamos o
Parque nacional
e
das Quirimbas,
em Cabo
Delgado
g 70
O Deal, em
Maputo
congrega arte
e gastronomia
na mesma
mesa
71
A escolha
da Adega,
recai na
descoberta
da essência
dos vinhos
verdes
Parque Nacional das Quirimbas
e
ralinas, povoadas e deser- praia, pachorrentas tartaru-
tas que se deitam no oceano gas que procuram o silêncio bem perto do paraíso
Índico, por mais de 400 qui- para colocar os ovos. O Parque Nacional das Qui-
lómetros entre a cidade de A cerca de 40 milhas náuti- rimbas foi declarado em Ju-
Pemba e a cidade de Palma. cas, ou 75 quilómetros para nho de 2002 e abrange uma
A primeira é a mais afastada, Leste do Ibo, está o Banco de área de cerca de 750 mil hec-
Rua José
Mateus 265
Maputo
(Fechado
aos
domingos e
segundas-
feiras)
g
DEAL - ESPAÇO CRIATIVO
o seu conceito multidiscipli-
nar, juntando artes plásticas,
mobiliário urbano contempo-
râneo, livros, roupa e acessó-
País: Portugal
Região: Região Demarcada dos Vinhos
Verdes/ Sub-Região Monção Melgaço Curvos Curvos DOC
Casta: Alvarinho
Cor: amarela ligeiramente dourada
Aroma: Apresenta notas de frutos
DOC Vinho
Verde
Loureiro Vinho Verde
tropicais, com nuances fumadas e fruta
de polpa branca
Branco
2017 Loureiro Branco 2017
Paladar: Apesar da idade, um branco a verdade é que a origem do vinho verde e da sua
ainda fresco, frutado, de enorme volume País designação como tal está sobretudo ligada ao local
e alguma complexidade Portugal onde é produzido e não à sua cor. Convém ter presen-
Final:Termina com médio comprimento Região te que é feito exclusivamente numa região, localiza-
Teor Alcoólico: 13º Vinhos Verdes da no noroeste de Portugal. Ou seja, nenhum outro
Casta lugar do mundo é capaz de produzir vinhos verdes.
Loureiro Assim, na opinião de alguns especialistas, este vinho
Cor é chamado de “verde” devido à sua alta acidez, o
Amarelo palha que deriva do perfil das uvas produzidas na região,
Quinta de Santa límpida a que se somam os solos de origem granítica, res-
Cristina Aroma ponsáveis pelas características únicas deste tipo
Vinho Verde Impacto muito de vinho, que se traduzem numa leveza, frescura e
Avesso tropical, com elegância inimitáveis.
Branco 2017 nuances florais, Apesar da Região Demarcada dos Vinhos Verdes
notas de manga, ser, no que respeita à sua delimitação geográfica,
País: Portugal papaia, pêssego e relativamente pequena, a verdade é que ela tem
Região: Região Demarcada camomila tantos microclimas que foi dividida em 9 sub-re-
dos Vinhos Verdes Paladar giões. Cada uma delas tem diferentes castas e é esta
Casta: Avesso Acidez viva, variedade que permite aos vinhos verdes, apesar
Cor: Amarelo cítrico pálido levíssimo, corpo de uma identidade muito própria e definida, ter um
Aroma: Apresenta aromas cítricos, muita muito simples, mas leque de oferta tão estimulante.
frescura, nuances florais e algum pêssego de sabor frutado e De uma forma genérica, os enólogos costumam defi-
Paladar: Bom equilíbrio de acidez, vinho intenso nir os “verdes” como vinhos leves, com uma frescura
simples, atractivo, volume ligeiro e suave Final vibrante e notas frutadas e florais. Pode-se dizer que
gás sem estar em excesso Termina com essas qualidades gustativas e aromáticas marcan-
Final: Termina com médio comprimento média persistência tes estão presentes na maioria dos vinhos verdes.
Teor Alcoólico: 12,5º Teor alcoólico Os “verdes” podem ser brancos, de cor citrina ou pa-
11,5º lha, aromas ricos, frutados e florais, dependendo das
castas que lhes dão origem. Na boca são harmonio-
sos, intensos e evidenciam uma grande frescura.
Os vinhos verdes rosados revelam uma cor leve-
Quinta de Santa mente rosada ou carregada, aromas jovens, frescos,
Cristina lembrando frutos vermelhos. O sabor é harmonio-
Vinho Verde so, fresco e persistente. Já os verdes tintos apresen-
Azal tam cor vermelha intensa e, por vezes, espuma ro-
Branco 2017 sada ou vermelha viva, aroma vinoso, com desta-
que para os frutos silvestres. Na boca são frescos e
País: Portugal intensos, muito gastronómicos. Por fim, o Espuman-
Região: Região Demarcada dos Vinhos te de Vinho Verde mantém o perfil, com reforçadas
Verdes/ sub-região de Basto características de frescura aromática, associadas a
Casta: Azal uma maior complexidade gustativa.
Cor: Amarela cítrica límpida A nossa principal sugestão deste mês vai para o
Aroma: Tem um bouquet entre notas Curvos DOC Vinho Verde Loureiro Branco 2017. Pro-
cítricas, lima, laranja, maçãs verdes, duzido a partir da casta Loureiro e exibindo uma
e herbáceos cor amarelo citrino, tem uma aroma mineral com
Paladar: Vinho fresco, acidez viva notas cítricas muito intensas e evidencia na boca
e evidente, frutado e um ligeiro gás um sabor elegante, equilibrado, com a acidez a ba-
que o torna espirituoso lancear a doçura, possuindo um final persistente.
Final:Termina com um comprimento curto Combina bem, em termos de harmonização, com
Teor Alcoólico: 12,5º frutos do mar, peixes de água salgada e saladas.
EXPOSIÇÕES
“(DES)MASCARADO” • em destaque
de Venâncio Calisto
com Lucrécia Paco The History of Graphic Design
As Marcas Que Não e Rita Couto Jens Müller / Julius Wiedemann
Devem Morrer Editora Taschen
Exposição de Pintura
de Marcos P’fuka Centro Cultural
Franco-Moçambicano
Dia 27 de Março
Fundação Fernando Hora: 19h “The History of Graphic Design”, editado pela Taschen, é
Leite Couto uma obra monumental que retrata a história do design
Galeria gráfico de 1890 até à actualidade.
Inauguração: 6 de Março CINEMA Da autoria de Jens Müller, designer, curador e professor, e
Hora: 18h Julius Wiedemann, designer e editor, é uma edição trilingue
Patente até 1 de Abril “Ouvrir la voix” de Amandine de grandes dimensões organizada de forma cronológica.
Gay (França, 2017, 129’) O primeiro volume – “The History of Graphic Design – Book
“TRAÇOS DIGITAIS 1: 1890-1959” – apresenta mais de 2 500 exemplos funda-
DA MINHA VIDA” mentais à compreensão deste período e destaca ainda o
Afroivan, Mauro Brito, Centro Cultural trabalho de 61 designers que são referências históricas.
Celma Costa, Hugo Mendes, Franco-Moçambicano O segundo volume – The History of Graphic Design –
Hélio Januário, Taila Carrilho, Dia 27 de Março Book 2: 1960–Today – acabado de sair completa, de for-
Tégui, Abel Balate, Maria Hora: 19h ma exaustiva, a história mais recente.
Chale e Pedro Mahumbi Embora já tenham sido editadas, ao longo dos anos, mui-
24 Semanas” de Anne Zohra tas obras com um propósito semelhante, esta edição da
Curadoria: Frédérique Martin Berrached (Alemanha, 2016, Taschen é, sem sombra de dúvida, uma das mais rigoro-
102’) seguido de conversa sas, abrangentes e visualmente fascinantes.
com Drª Dália Matsinhe
Centro Cultural (psicóloga)
Franco-Moçambicano
Sala de Exposições
Inauguração: 13 de Março Centro Cultural
Hora: 18h30 Franco-Moçambicano
Aberta até 30 de Março Auditório
Dia 5 de Março
Hora: 19h
TEATRO
CICLO DE CINEMA FRANCÓFONO
Os Monólogos das Vaginas - “A Orquestra dos Cegos”
Grupo Cultural de Mohamed Mouftakir
Hanya Arte (Marrocos, 2016, 112’)
Adaptação e Encenação
Maria Clotilde Centro Cultural
Franco-Moçambicano
Auditório
Fundação Fernando Dia 11 de Março
Leite Couto Hora: 19h
Dia: 12 de Março
Hora: 18h -”Nicolas Bouvier 22 Hospital “Quem disse que as mulheres
Street” (Suíça, 2005, 83’) &
MÚSICA não podem fazer
Agora é a voz delas “Noces” de Stephan Streker uma serenata?”
Evento alusivo ao Dia (Bélgica, 2017, 98’) MR. FREDDY Banda Kakana
Internacional da Mulher KONGOLOTI SESSIONS e convidadas
Centro Cultural
Fundação Fernando Franco-Moçambicano Fundação Fernando Centro Cultural
Leite Couto Auditório Leite Couto Franco-Moçambicano
Dia: 28 de Março Dia 13 de Março Dia: 8 de Março Dia: 8 de Março
Hora: 18h Hora: 18h30 e 20h30 Hora: 18h Hora: 20h30
Dakar,
Senegal
v
Oficialmente apresentado no Salão debitar 450 cv (mais 30 cv do
de Los Angeles (EUA) no final do que anteriormente).
O Carrera vai de 0 a 100 km/h
ano passado, o novo Porsche 911 já em 3,7 segundos, podendo atin-
começou a ser comercializado gir 308 km/h de velocidade.