Esperança

na mudança
“Esperança” e “Mudança” são duas das palavras
mais ouvidas e pronunciadas no ano que
termina. São vocábulos que reflectem
o contexto actual que o País vive e que, por isso
mesmo, alicerçam a Retrospectiva do Jornal
de Angola ao agora finado ano de 2018.
Nas páginas que se seguem, o leitor tem
os factos políticos, económicos e
sociais que marcaram o país nos
últimos 365 dias. Da prisão
preventiva do ex-ministro dos
Transportes, Augusto Tomás, e
do ex-presidente do Fundo
Soberano, José Filomeno dos
Santos, à legislação para o
repatriamento voluntário e
coercivo de capitais e bens
patrimoniais transferidos
para o estrangeiro de
forma ilícita, estendem-
se informações que
lembram o que
foi 2018.
ESPECIAL FIM DE ANO • 17 A 32
18 ESPECIAL Terça-feira
1 de Janeiro de 2019

PERSPECTIVAS PARA 2019

Osvaldo Gonçalves
As perspectivas dos cidadãos para 2019
estão longe de ser concensuais. Paira no
ar um clima de incerteza devido, sobretudo,
ao longo período de desorganização em
que o País esteve mergulhado. A guerra
contribuiu em demasia para toda essa
situação, mas deve dizer-se que muitos
se aproveitaram do conflito para tentarem
justificar os desvios de conduta que foram
mantendo durante anos.
O Presidente da República, João Lou-
renço, disse em Portugal que, ao dar
início à luta contra a corrupção em
Angola, tinha-se noção de se estar a
mexer num ninho de marimbondos.
Alertámos o Chefe de Estado, e voltamos
a fazê-lo agora, que é preciso estar atento
também aos matrindindes, essa espécie
de gafanhotos que, na calada, dão cabo
das colheitas. Cantam e como cantam!
Até chegam a embalar o povo no seu
canto indolente. Verdadeiros pairas, os
matrindindes devoram tudo ao seu redor
e, quando a comida acaba, comem-se
uns aos outros.
As autoridades devem saber ao que
vêm, que na maioria dos casos, não se
trata de mero resgate, da reposição de
algo que se teve e se perdeu, mas de
dizer às pessoas que viver em sociedade
implica a observância de certas regras.
Será difícil para qualquer um entender
que a Administração Pública funciona
Angola espera um ano de desafios
como uma máquina, que precisa de
combustível e de ser oleada, lubrificada,
sob a pena de empenar as engrenagens
ou mesmo gripar.
Durante muitos anos, os angolanos
habituaram-se a viver alheios a toda e
qualquer responsabilidade. Daí que seja
difícil conceber a adopção de certas nor-
mas de convivência. Se, ao longo dos
anos, os trabalhadores se foram desa-
percebendo do Imposto sobre o Rendi-
mento do Trabalho (IRT), que religio-
samente lhes é descontado do salário,
o mesmo não se pode pedir em relação
a outras tributações.
Pode mesmo dizer-se que a forma
como foram introduzidos certos impostos
e como se pocede à cobrança de valores
devidos à cedência de imóveis e à ocu-
pação de terrenos, nomeadamente para
fins habitacionais, choca sobremaneira
devido à falta de consciência generalizada
sobre os deveres de cada um como ci-
dadão.
A informação, posta a circular tendo
como fonte o Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) de que o adiamento da
introdução do Imposto de Valor Acres-
centado (IVA) para a segunda metade
de 2019 vai ser compensada pela criação
de um imposto especial sobre as bebidas,
a joalharia, o álcool e o tabaco, é sinónimo
de maior habilidade por parte das au-
Na sua mensagem de
Ano Novo, o Presidente
da República foi claro no
que diz respeito aos
esforços que a todos
esperam em 2019. João
Lourenço esteve certo ao
afirmar que “durante o
ano de 2018, foram feitos
significativos avanços em
matéria da defesa e
salvaguarda dos direitos
e liberdades
fundamentais do
cidadão”
toridades no tratamento de questões
tributárias.
Documentos colocados no site do
FMI, a propósito da ajuda financeira so-
licitada pelo Governo de Angola, referem
que haverá um “aumento de esforços
na mobilização da receita não petrolífera,
que será sustentada pela introdução do
imposto sobre o valor acrescentado
(IVA) durante a segunda metade de 2019”.
Enquanto tal não acontece, haverá
um “aumento no sector imobiliário
não residencial e pela recuperação de
pagamentos de impostos em atraso”.
Além disso, com vista a reequilibrar as
contas públicas, proceder-se-á à ra-
cionalização da despesa corrente,
tendo como foco a contenção do cres-
cimento salarial e no controlo da des-
pesa, prestando atenção, ao mesmo
tempo, aos sectores prioritários como
a educação e a saúde.
Outras medidas apresentadas pelo
Governo e FMI dizem respeito ao controlo
do crescimento da despesa com bens
e serviços, acelerar a transferência de
despesas, com ênfase na eliminação
gradual dos subsídios para os produtos
petrolíferos refinados, electricidade,
água e tarifas dos transportes públicos.
A bem dizer, estamos diante de um
ano em que, além de enormes sacrifícios
que há por consentir no plano econó-
mico, tarefas ingentes se apresentam
no que diz respeito à moralização da
sociedade.
Na sua mensagem de Ano Novo, o
Presidente da República foi claro no
que diz respeito aos esforços quea todos
esperam em 2019. João Lourenço esteve
certo ao afirmar que “durante o ano de
2018, foram feitos significativos avanços
em matéria da defesa e salvaguarda dos
direitos e liberdades fundamentais do
cidadão”. Mais correcto ainda quando
disse que “há de facto maior liberdade
de pensamento e de expressão, maior
liberdade de imprensa, maior respeito
pela diversidade de opiniões” que “a
sociedade civil tem mais voz e é mais
ouvida e consultada acerca dos principais
assuntos da nossa sociedade”.
Mas é importante frisar que o Chefe
de Estado não se ficou por aí. O Presidente
manifestou plena confiança “nas nossas
valorosas mulheres e homens de negó-
cios, que vêm demonstrando sua garra,
sua capacidade de superar os constran-
gimentos da actual conjuntura, porque
são passageiros, descobrindo neles as
oportunidades às vezes escondidas de
vencer e se afirmar”.
Também disse que será com estes que
se conta para, durante o ano de 2019,
“continuar a materializar a agenda do
Executivo pelo relançamento e fortaleci-
mento da economia nacional, na satisfação
das necessidades e do bem-estar dos an-
golanos”. Mas avisou: “Muitos desafios
nos esperam, juntos vamos enfrentá-los,
determinados a vencê-los, para o bem de
Angola e dos angolanos”.

Cândido Bessa
Duas palavras marcaram o ano acabado
de terminar: mudança e esperança. No
mundo, no continente africano e em An-
gola. Por isso, merecem a escolha como
o título de capa do caderno especial que
marca o fim de 2018. No caso de Angola,
as duas palavras pareceram emergir com
uma rapidez jamais vista e a estas podemos
acrescentar corrupção e nepotismo. Não
que as palavras já não existissem, mas
nunca foram tão utilizadas como nos úl-
timos 365 dias, tudo por culpa de um
grupo de indivíduos da nossa sociedade
que proclamavam defender os interesses
dos angolanos e tinham práticas contrárias.
Depois do Presidente lançar o apelo ao
combate cerrado à corrupção, que foi o
seu lema da campanha eleitoral, a Ins-
pecção Geral da Administração do Estado
vinha a público confirmar a “existência
de comportamentos graves dos agentes
do Estado, em relação à gestão financeira,
patrimonial e de recursos humanos,
muitos dos quais redundam em crimes
graves, como peculato e nepotismo”.
Como exemplo, foi destacada a existência
de dupla folha de salário ou ainda contratos
para obras públicas pagas na totalidade
ou em 50 por cento, sem que, contudo,
tenham iniciado. Houve ainda casos de
despesas não cabimentadas ou realizadas
em proveito próprio ou ainda situações
de gestão da coisa pública como se de
algo pessoal se tratasse, sem o cumpri-
mento da legislação em vigor.
Era só o começo do destapar de um rol
de descobertas de comportamentos de
arrepiar. E foi o próprio Presidente a
liderar o debate do resgate dos valores
básicos para a vida em convivência, para
A hora da imprensa
O ano de todas as mudanças
mostrar que o país pode ser melhor. Sem mento das actividades vitais. Este é o ca- há comportamentos nocivos, que devem tornar a nossa sociedade mais justa e
nunca fugir ao debate e até incentivando minho para este ano. Trazer a público ser denunciados, combatidos. Para que solidária.
a própria fiscalização, João Lourenço temas que interessam as pessoas para os próximos candidatos ao exercício do Acções como a “Operação Resgate” devem
pode mobilizar a sociedade. Coisa inédita, as orientar na vida. mandato do povo saibam, de facto, merecer de todos o devido apoio, come-
concedeu duas conferências de imprensa Trazer o leitor para o debate. Para que traduzir na prática aquilo que prometem. çando cada um a fazer o seu trabalho de
a jornalistas no país e submeteu-se a per- ele possa participar deste momento novo Que sirvam o cidadão e não se sirvam forma profissional e honesta, sem violar
guntas no exterior. O mundo tomou boa que estamos a viver. Para discutir, debater do cidadão para aumentar o seu patri- as regras estabelecidas.
nota dos desenvol- mónio. Denunciar os bajuladores, a cor- É preciso cuidar para não permitirmos
vimentos ocorridos rupção, o nepotismo e todas outras o retrocesso. Congreguemos as mais di-
em Angola no ano práticas ilícitas. ferentes opiniões, para a sociedade de
que terminou. As condições estão criadas para o debate paz e harmonia que queremos para os
Os profissionais da O mundo tomou boa nota dos em torno da defesa dos valores que vão nossos filhos.
comunicação social
fizeram a sua parte,
desenvolvimentos ocorridos em Angola
é verdade. Mas, se no ano que ontem terminou. Os
calhar ainda aquém
das expectativas da
profissionais da comunicação social
sociedade, que es- fizeram a sua parte, é verdade. Mas, se
perava uma postura
mais actuante dos
calhar, ainda aquém das expectativas
jornalistas. Que os da sociedade, que esperava uma
acontecimentos
ocorridos em 2018
postura mais actuante dos jornalistas.
sirvam de lição para Que os acontecimentos ocorridos em
o ano que agora co-
meça e que, como
2018 sirvam de lição para o ano que
porta-vozes da so- agora começa e que, como porta-vozes
ciedade, saibamos
interpretar e apro-
da sociedade, saibamos interpretar e
veitar melhor a aber- aproveitar melhor a abertura dada
tura dada para
transmitir, com cla-
para transmitir, com clareza, os factos
reza, os factos mais mais marcantes
marcantes. Ser mais
um fiscal do poder,
.
quer seja Governo
ou empresários, explorando as reper- e até opinar sobre os assuntos que mexem
cussões dos factos, tudo que mexe com com o seu destino.
a vida do cidadão, para que ele possa João Lourenço soube mobilizar os an-
decidir a sua vida. Para o bom funciona- golano para a causa. É verdade que ainda
ESPECIAL
Presidente da República convida
investidores estrangeiros
No quadro do programa de
diversificação da economia,
o Presidente João Lourenço
efectuou, no ano que ontem
terminou, visitas de Estado
à França, Alemanha, Bélgica,
República Popular da China
e Portugal.
O Chefe de Estado esteve
também em Nova Iorque,
Estados Unidos, onde dis-
cursou, pela primeira vez,
na Assembleia Geral das Na-
ções Unidas.
Além de contactos polí-
ticos com os homólogos, João
Lourenço reuniu-se com
empresários locais, a quem
apresentou as oportunidades
de investimento em Angola,
fora do sector petrolífero.
João Lourenço anunciou
No mês de Setembro, a
Procuradoria Geral da Re-
pública (PGR) decretou a
prisão preventiva do ex-
ministro dos Transportes,
Augusto Tomás, como re-
sultado de uma medida de
coação pessoal por indícios
de crimes de peculato e cor-
rupção na gestão do Con-
selho Nacional de Carrega-
dores (CNC).
Pesam ainda sobre o ex-
ministro, que continua em
prisão preventiva na Cadeia
de São Paulo, em Luanda,
os indícios dos crimes de
branqueamento de capitais
e outros.
A acção decorre do pro-
cesso-crime 23/18-DNIAP,
que corre os seus trâmites
legais na Direcção Nacional
de Investigação e Acção Penal
da PGR, relacionada ao caso
que investiga actos de gestão
do Conselho Nacional de
Carregadores, afecto ao Mi-
nistério dos Transportes.
A PGR chegou a decretar
também a medida de coação
pessoal de prisão preventiva
a Rui Manuel Moita, ex-di-
rector geral adjunto para área
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
a adopção de uma nova mo-
dalidade de financiamento
externo para a construção
de grandes infra-estruturas
públicas, para evitar o au-
mento da dívida pública.
“Não queremos manter
a modalidade de financia-
mento para a construção de
grandes infra-estruturas pú-
blicas, fica muito caro para
o Estado, porque aumenta
o nível do endividamento
para com outros países”,
anunciou, em Nova Iorque,
num encontro com empre-
sários norte-americanos.
O Presidente da República
convidou os estrangeiros a
participarem na gestão e
construção de grandes por-
tos, a exemplo do Porto de
Prisão de Augusto Tomás
e José Filomeno dos Santos
Técnica do Conselho Nacio-
nal de Carregadores.
A PGR decretou igual-
mente a prisão preventiva
do ex-presidente do Fundo
Soberano de Angola (FSA),
José Filomeno dos Santos
“Zenu”. O filho do ex-Pre-
sidente da República foi acu-
sado, pelo Ministério Público,
dos crimes de associação
criminosa, falsificação, trá-
fico de influências, burla,
peculato e branqueamento
de capitais. As acusações di-
zem respeito à presidência
de José Filomeno dos Santos,
também conhecido por “Ze-
nu”, do Fundo Soberano de
Angola (FSA).
Está igualmente em prisão
preventiva o empresário suí-
ço-angolano e amigo de José
Filomeno dos Santos, Jean-
Claude Bastos Morais.
José Filomeno dos Santos
é acusado de montar, jun-
tamente com outros três ar-
guidos, um esquema que
pode ter desviado 500 mi-
lhões de dólares do Banco
Nacional de Angola. Por essa
razão, o ex-governador do
Banco Nacional de Angola
águas profundas da Barra do
Dande, a norte de Luanda.
“Temos preferência em
que ele seja construído na
modalidade BOT (Build,
Operate e Transfere, em In-
glês, que significa constrói,
gere e transfere). É uma mo-
dalidade que é vantajosa quer
para o Estado como para o
investidor”, sublinhou.
Além dos portos, Angola
quer construir novos apro-
veitamentos hidroeléctricos,
também na mesma moda-
lidade BOT.
O Presidente da República
convidou também os em-
presários estrangeiros para
participarem na exploração
do novo Aeroporto Interna-
cional de Luanda, que Angola
COMBATE À CORRUPÇÃO
(BNA), Valter Filipe, é tam-
bém arguido no mesmo pro-
cesso, que corre trâmites no
Tribunal Supremo.
De acordo com a acusa-
ção, o então governador do
Banco Nacional de Angola
(BNA), Valter Filipe, celebrou
a 3 de Julho de 2017 um con-
trato de prestação de serviços
com a empresa Mais Finan-
cial Services. Terá ficado es-
tipulado que os serviços
previam a elaboração de di-
ferentes estudos em troca
de 30 mil milhões de euros.
Em representação da Mais
Financial Services, esteve
Jorge Gaudens Pontes Se-
bastião, também ele arguido.
A acusação explica que, “sem
ter prestado qualquer serviço
ao BNA”, a Mais Financial
Services emitiu, ainda assim,
quatro facturas, com o valor
total de 24 milhões e 850 mil
euros. As facturas terão sido
pagas pelo BNA “assim que
foram recebidas (…) mesmo
não tendo havido qualquer
contrapartida”.
Mais tarde, a 18 de Agosto
de 2017, tendo como base
um outro contrato assinado
quer transformar num im-
portante eixo da aviação civil
no continente africano.
O Presidente apelou ainda
aos empresários estrangeiros
a investirem na indústria far-
macêutica em Angola, pro-
duzindo medicamentos e
produtos hospitalares no país.
Nos encontros com em-
presários norte-americanos,
o Chefe de Estado destacou
igualmente as potencialida-
des de Angola nas áreas da
Agricultura, Turismo e Pes-
cas.
Outro sector que mereceu
a atenção do Presidente da
República é o diamantífero,
que teve aprovados novos
moldes de trabalho na in-
dústria e comercialização,
entre o BNA e a Mais Finan-
cial Services, o governador
Valter Filipe Duarte da Silva
é acusado desta vez de trans-
ferir 500 milhões de dólares
para a empresa do amigo de
José Filomeno dos Santos.
A acusação refere que a
transferência dos 500 mi-
lhões de dólares foi possível
apenas porque o governador
do BNA ordenou “verbal-
mente” que ela fosse feita,
ao arrepio das regulações e
das suas competências. O
referido montante foi travado
pelas autoridades britânicas,
tendo já retornado ao país.
Um outro processo des-
poletado no quadro do com-
bate à corrupção envolve o
ex-director da Unidade Téc-
nica para o Investimento Pri-
vado (UTIP) e antigo secre-
tário do MPLA para a Infor-
mação, Norberto Garcia, que
cumpre medida de prisão
domiciliar, decretada pelo
Tribunal Supremo.
Ele e mais oito arguidos
são acusados de tentativa de
burla ao Estado no valor de
50 mil milhões de dólares,
no caso conhecido processo
para incentivar as grandes
empresas diamantíferas a
investir no sector.
O Presidente acredita que
com isso as grandes empre-
sas de extracção de diaman-
te s vo l ta rã o a A ng o l a e
trabalhar para o aumento
da produção e nos novos
moldes de comercialização.
Em Antuérpia, Bélgica,
que é responsável pela co-
mercialização de 84 por cento
de todos os diamantes brutos
do mundo e 50 por cento de
todos os diamantes lapidados,
o Presidente da República
visitou o Centro Mundial de
Diamantes, que considerou
como “o coração da indústria
diamantífera do mundo”,
para ser conhecido e aprender
“burla tailandesa”.
A tentativa de burla de 50
mil milhões de euros come-
çou, segundo a acusação,
em 27 de Novembro de 2017,
quando chegou a Angola um
grupo de dez pessoas com
visto de fronteira, do qual
fazia parte os quatro arguidos
tailandeses, bem como os
prófugos Pracha Kanyaprasit,
Kanphitchaya Kanyaprasit,
Watcharinya Techapingwa-
ranukul, igualmente oriun-
dos da Tailândia.
O grupo chefiado por Ra-
veeroj Ritchchoteanan,
criador e presidente da ale-
gada Fundação Mundial
com o seu nome, com o fito
de erradicar a pobreza e
promover educação e saúde
de qualidade na Ásia e em
África, chegou a Angola por
intermédio da arguida Ce-
leste de Brito, que foi es-
tudante na Tailândia, onde
conheceu o prófugo Pierre
Rene Tchio Noukekan e com
o qual “manteve sempre
contacto desde aquele pe-
ríodo até à data da sua che-
gada a Angola”.
O Ministério Público refere
19
com a experiência dessa ins-
tituição no domínio do tra-
tamento de diamantes.
Durante a visita à Repú-
blica Popular da China, os
dois países rubricaram um
acordo de facilitação que
prevê um financiamento do
Banco de Desenvolvimento
Chinês, avaliado em 2 mil
milhões de dólares. A linha
de crédito servirá para a
construção e conclusão de
várias infra-estruturas em
curso no país.
Foram igualmente assi-
nados um acordo para evitar
a dupla tributação, um Acor-
do de Cooperação Económica
e Técnica e o Memorando de
Entendimento sobre os Re-
cursos Humanos.
na acusação que foi Celeste
de Brito quem solicitou cartas
às instituições do Estado an-
golano a convidar a fundação
a realizar financiamentos
em Angola, tendo antecipa-
damente sido enviada uma
cópia do cheque no valor de
5,2 mil milhões de dólares
“para fazer prova da capa-
cidade financeira da empre-
sa”, bem como de vários
documentos da empresa
Centennial, sociedade em
que é presidente Raveeroj
Ritchchoteanan.
O visto de entrada dos ci-
dadãos tailandeses, segundo
a acusação, foi solicitado em
7 de Novembro de 2017 pelo
ex-director da UTIP ao Ser-
viço de Migração e Estran-
geiros, em nome da empresa
de Celeste de Brito.
Segundo a acusação, no
mesmo dia em que os ar-
guidos chegaram a Angola,
foi realizado um encontro
na sede da UTIP com repre-
sentantes de bancos comer-
ciais, ocasião em que
Raveeroj Ritchchoteanan
exibiu o cheque de 50 mil
milhões de dólares.
20 ESPECIAL
Ex-Presidente da República e do MPLA garantiu que, apesar dos erros cometidos ao longo dos quase 40 anos em que esteve no poder, sai de cabeça erguida da vida política nacional
José Eduardo dos Santos
abandona vida política activa
O ex-Presidente da Repú-
blica, José Eduardo dos San-
tos, que em 2017 abandonou
a liderança do Estado, onde
foi substituído por João Lou-
renço, que ganhou as elei-
ções gerais, abandonou em
2018 a liderança do partido.
José Eduardo dos Santos li-
derou o MPLA e o Estado
CASA-CE abana alicerces
O acórdão nº 497/2018, do
Tribunal Constitucional, pro-
vocou um rombo na estrutura
da coligação CASA-CE, a ter-
ceira força política do país, li-
derada por Abel Chivukuvuku.
A CASA-CE foi formal-
mente criada como coligação
de quatro partidos políticos
- PADDA ( Aliança Patrió-
tica), PALMA (Partido de
Aliança Livre de Maioria An-
golana), PNSA (Partido Na-
09 – ABR
Autoridades das Ilhas Maurícias
congelam contas no valor de 148
milhões de dólares ligadas ao
Fundo Soberano de Angola, que
eram geridas por Jean-Claude
Bastos de Morais, sócio de José
Filomeno dos Santos.
Após liderar o partido MPLA desde a morte de Agostinho Neto
desde Setembro de 1979,
depois da morte do primeiro
Presidente de Angola, Agos-
tinho Neto.
No discurso de despedi-
da, na abertura do VI con-
gresso extraordinário do
MPLA, que elegeu João Lou-
renço, José Eduardo dos
Santos assumiu que come-
Acórdão do Tribunal Constitucional
cional de Salvação de Angola)
e PPA (Partido Pacífico An-
golano), que sobreviveram
das eleições de 2008. Jun-
taram-se, mais tarde, o PDP-
ANA e o Bloco Democrático.
Devido a desentendimen-
tos na estrutura directiva da
coligação, cinco dos seis par-
tidos membros solicitaram
ao Tribunal Constitucional
esclarecimento sobre o papel
do presidente da coligação,
6 – MAR
Serviço de Investigação Criminal
(SIC) anuncia a detenção de seis
estrangeiros e dois angolanos
que, em 2017, anunciaram, em
Luanda, um financiamento de 50
biliões de dólares (40,2 mil milhões
de euros) para apoiar projetos
sociais.
teu erros ao longo dos quase
40 anos no poder, mas ga-
rantiu que saía de “cabeça
erguida”.
“Não existe, naturalmen-
te, qualquer actividade hu-
m a n a i s e n ta d e e r ro s e
assumo que também os co-
meti, pois só deste modo os
podemos ultrapassar”, disse
a distribuição dos fundos
alocados pelo OGE e a es-
trutura de funcionamento
da organização.
No acórdão, o TC dá razão
às formações políticas, con-
siderando que as decisões
do líder da coligação - ou de
qualquer outro órgão -, não
se devem sobrepor à vontade
dos partidos coligados. O TC
nega legitimidade aos cha-
mados “independentes” de
xxxxxxxxxx
25 – SET
Lançada “Operação Transparên-
cia” com objectivo de combater
a imigração ilegal e o garimpo
ilegal de diamantes. Depois de
50 dias, o balanço indica mais de
400 mil imigrantes ilegais expulsos
e cerca de 280 casas de venda
ilegal de diamantes encerradas.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
o ex-Chefe de Estado. “Esta “É de cabeça erguida que João Lourenço, então vice-
é a minha última interven- estou neste grande conclave presidente do partido.
ção na qualidade de pre- do nosso partido”, disse Após a sua eleição como
sidente do MPLA”, começou ainda, ao dirigir-se aos mais presidente do partido, João
por afirmar, recordando de dois mil delegados, ao Lourenço indicou, como vi-
que assumiu aquele cargo mesmo tempo que se assu- ce-presidente a deputada
em 21 Setembro de 1979, miu “pronto para passar a Luísa Damião, enquanto
após a morte do então pre- liderança do partido ao pró- que o antigo governador do
sidente e Chefe de Estado, ximo presidente”, mas sem Bié, Boavida Neto, assumiu
António Agostinho Neto. nunca referir o nome de como secretário-geral.
M. MACHANGONGO | EDIÇÕES NOVEMBRO
integrarem os órgãos de di-
recção da coligação, com ex-
cepção de Abel Chivukuvuku,
cuja legitimidade emana do
acordo constitutivo.
Na sequência desse acór-
dão, a estrutura directiva da
CASA-CE foi remodelada. O Abel Chivukuvuku é o líder da terceira força política do país
Conselho Presidencial, que
anteriormente era dominado deres dos seis partidos co- André Mendes de Carvalho,
pelos “independentes”, foi ligados e três independentes: presidente do Grupo Parla-
substituído pelo Colégio Pre- Abel Chivukuvuku, que con- mentar, e Cesinanda Xavier,
sidencial, que integra os lí- tinua à frente da coligação, indicada como porta-voz.
12 – MAR 21 – MAR
Presidente João Lourenço nomeia Chefe de Estado reúne, pela pri-
Fernando Garcia Miala para chefe meira vez, o Conselho da Repú-
do Serviço de Inteligência e Se-
gurança do Estado. Miala esteve
blica. Autarquias na agenda do
encontro, que tem a presença do
preso durante quatro anos durante ex-Presidente José Eduardo dos
a Presidência de José Eduardo Santos. Governo garante ter tudo
Santos, por “insubordinação”. pronto para autarquias em 2020.
15 – OUT
Chefe de Estado discursa no Parla-
mento sobre o Estado da Nação e
afirma que o tempo de graça acabou
para aqueles com dinheiro ilicitamente
domiciliado no exterior. Fala das
visitas efectuadas ao estrangeiro, e
afirma que obteve garantias de in-
vestimento e financiamentos.
ESPECIAL Terça-feira
1 de Janeiro de 2019 21

1925 - 2018
D. Pedro Luís Scarpa
Morre em Luanda, aos 93 anos, o primeiro
bispo da diocese do Cuanza-Norte. Nascido
na Itália, após aderir à congregação dos
frades Capuchinhos foi enviado em missão
para Angola na década de 60, tendo exercido
as funções de bispo auxiliar de Luanda.

1943 - 2018
Joka Santinho
Antigo seleccionador nacional de futebol,
Joka Santinho morreu de doença em
Dezembro. Formado em Educação Física
e Desportos, na especialidade de futebol,
em Leipzig (Alemanha), dedicava-se à
formação de jovens talentos.
1936 - 2018
Winnie Madikizela-Mandela
Ficou mundialmente conhecida como
esposa de Nelson Mandela durante o
período da prisão do líder sul-africano.
Com a libertação deste, escândalos de
envolvimento em crimes e de infidelidade
causaram a separação do casal.
País ficou mais pobre com o desaparecimento deles
Da política ao desporto, passando pela cultura, activismo, religião e jornalismo. Angola viu partir várias personalidades de destaque
no ano passado. Entre estes nomes destacam-se os nacionalistas Ambrósio Lukoki e Jaka Jamba. O primeiro, histórico do MPLA,
que já desempenhou as funções de ministro da Educação, morreu vítima de doença numa clínica em Luanda, aos 78 anos. O
Presidente da República, João Lourenço, afirmou que recebeu “com profunda consternação” a notícia da morte do nacionalista
e embaixador Ambrósio Lukoki. Já o segundo, dirigente histórico da UNITA, morreu aos 69 anos em Luanda, também vítima de
doença. O político era um dos últimos negociadores angolanos vivos dos Acordos de Alvor, que antecedeu a independência de
Angola. Descrito como “diplomata, professor, político e homem de cultura”, Jaka Jamba era considerado um requintado negociador
e homem de grandes consensos. O país viu, igualmente, partir o lendário Alberto da Silva “Pepino”, um dos seus maiores ícones
do Desporto Nacional. A Federação Nacional de Ciclismo considerou-o um “exímio ciclista que conservava ainda as habilidades
que o tornaram uma referência obrigatória da modalidade e do desporto angolano em geral, sendo, por isso, uma verdadeira
inspiração para milhares de jovens à prática desportiva”. Vale ainda ressaltar a morte de D. Pedro Luís Scarpa. Chegou a Angola
em 1960 e foi coptado para várias funções ao nível do clero católico, entre as quais de primeiro bispo da Diocese de Ndalatando
(província do Cuanza-Norte), missão que exerceu de 1990 a 2005, altura em que foi jubilado a seu pedido.

1953 - 2018
Afonso Dhlakama
Era dirigente da Renamo desde 1979,
sucedendo a André Matsangaíssa, fun-
dador da Resistência Nacional Moçam-
bicana, que foi morto durante a guerra
civil naquele país do Índico.

2018, o ano do adeus a Hawking,

1922 - 2018
Annan, Bush, Pomar, Aretha e Roth
Stan Lee O último ano assistiu ao desaparecimento de figuras maiores da cultura, da política e da ciência. Cá e lá fora
O ano foi marcado, logo em Março, pela
Criador do Homem Aranha, Stan Lee foi morte do físico Stephen Hawking, um
um escritor, editor, publicitário, produtor, homem que ultrapassou largamente as
diretor, empresário e actor americano. suas expectativas iniciais de vida e deu
Foi editor e presidente da Marvel Comics uma contribuição essencial para o nosso
antes de deixar a empresa para se tornar entendimento do universo. Hawking
presidente emérito da editora. morreu aos 76 anos, o que, não tendo
sido o maior dos seus feitos, foi suficien-
temente notável para merecer destaque
nos obituários.
Em Portugal, o falecimento do histórico
1952 - 2018 socialista António Arnaut ofereceu uma
oportunidade para lembrar o valor da
Morgan Richard Tsvangirai obra principal a que ficou associado: o
Sistema Nacional de Saúde, uma criação
Sindicalista, activista de direitos humanos originalmente polémica e hoje indiscutível.
e político do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai Nem sequer políticos que se encontram
foi primeiro-ministro do país, após acordo nos antípodas dele se atrevem a questionar
de divisão de poder estabelecido com directamente o SNS, sob pena de morte
Robert Mugabe depois das eleições, em política. Embora por vezes tentem reduzir
Setembro de 2008. o seu alcance, a pretexto de o salvar.
Nas artes, como sempre, perderam-
se dezenas de personagens notáveis.
2018 foi um ano negro para a literatura
Especial norte-americana, com as mortes de
Retrospectiva 2018 Philip Roth, talvez o maior romancista
Coordenação: Caetano Júnior em todo o mundo, e Tom Wolfe, um ho-
Edição: Cândido Bessa mem que contribuiu bastante para a
Textos: Cândido Bessa, Osvaldo Gonçalves, Amândio
Presidente do Rui André Marques evolução do chamado jornalismo literário.
Clemente, Nhuca Júnior, Alberto Pegado, Luciano Rocha,
Cristóvão Neto, António Canepa, Matadi Makola, António
Conselho de Upalavela, Luena Na ficção científica há que mencionar
Administração: Kassongue Ross
Bequengue, Adriano de Melo, Victor Carvalho, Fonseca Víctor Silva Guinapo
Ursula Le Guin e no teatro Neil Simon,
Bengui
Administradores Administradores
recipiente de mais nomeações para Ós-
Fotógrafos: Edições Novembro Executivos: não Executivos: cares e Tonys (o equivalente dos óscares
Caetano Pedro da Filomeno Jorge Manaças
Coodenação gráfica
Irineu Caldeira & Salavador Escórcio (Chefes), Ana , Mateus Francisco dos
no teatro) do que qualquer outro actor.
Conceição Júnior,
Dinamene, Evaristo Sacupalica, Valter Vunge José Alberto Domingos, Santos Júnior Em matéria de artes plásticas, e vol-
Bruno Bernardo, Luquemba Pedro e Tomás Cruz
tando a Portugal, dois nomes incontor-
náveis são os de Helena Almeida, uma
renovadora das relações entre pintura e
fotografia, e Júlio Pomar, um artista que
parece ter vivido em estado permanente
de metamorfose. Os realizadores Milos
Forman e Bernardo Bertolucci e a cantora
Aretha Franklin — que alguns consideram
a maior de sempre, e não apenas no soul
— são referências universais.
O fotógrafo iraniano Abbas Attar, co-
nhecido simplesmente como Abbas, foi
um membro célebre da agência Magnum,
autor de muitas imagens extraordinárias
obtidas nalguns dos lugares mais pertur-
bados e perturbantes do mundo, desde
o Vietname e o Biafra até ao Irão (durante
a revolução e depois) e a África do Sul. Fa-
lando de outra arte que muita gente não
aceita como tal, morreram os cozinheiros
Paul Bocuse e Anthony Bourdain. O primeiro
era um expoente da “nouvelle cuisine”, o
segundo um incansável explorador da co-
zinha internacional — não apenas, ou prin-
cipalmente, a dita alta cozinha — nos seus
populares programas de televisão.
Ainda noutra arte dita menor, o estilista
Hubert de Givenchy, associado a deusas
como Audrey Hepburn e princesas como
Grace Kelly e Jacqueline Kennedy (esta
última uma princesa republicana, “mais
quand même”) merece uns momentos
de nostalgia — aquela nostalgia que no
fundo é recordação de um tipo de charme
já desaparecido. A política americana
perdeu John McCain, o herói de guerra
que se tornou senador e que acabou os
seus dias como o exacto oposto — e fre-
quente opositor — do actual Presidente
norte-americano. Trump foi expressa-
mente não-convidado para o funeral de
McCain, mas esteve presente no de
George W. H. Bush, um dos seus ante-
cessores e homem tido como modelo
de decência (ou, talvez mais precisamente,
como exemplo das virtudes de mérito
e modéstia que a expressão ‘noblesse
oblige’ costuma resumir). A ninguém
passou despercebido o facto de Trump
não ter discursado nessa cerimónia.
Ainda mais discreto era o antigo líder
do Partido Liberal britânico, Paddy As-
hdown, um ex-militar descrito como o
melhor primeiro-ministro que o Reino
Unido jamais teve. Ashdown ficou as-
sociado à reconstrução dos Balcãs após
as guerras dos anos 90, sem esquecer o
imperativo de fazer a justiça possível a
criminosos como Milosevic.
O general José Loureiro dos Santos, o
político João Semedo, o empresário Pedro
Queiroz Pereira, o pediatra T. Berry Bra-
zelton, o fundador do IKEA Ingvar Kamprad,
o genial escritor V. S. Naipaul, o escritor
e editor Stan Lee (presidente da Marvel
Comics) e os cantores Charles Aznavour,
Madalena Iglésias e Maria Guinot são
outros falecimentos dignos de menção.
Para não falar do antigo Secretário-Geral
da ONU, Kofi Annan, sobre cujo papel du-
rante a II Guerra do Golfo e, antes, durante
o genocídio do Ruanda, muitos livros já
foram e hão-de ser escritos.
22 ESPECIAL Terça-feira
1 de Janeiro de 2019

ONDE MENOS SE ESPERAVA Cyril Ramaphosa devolveu esperança aos sul-africanos

A chegada ao poder de Cyril Ramaphosa, ainda as que envolvem a China, eleita pelo inquilino

Abiy Ahmed: um herói que por força da saída forçada de Jacob Zuma
da Presidência sul-africana, é outro motivo de
destaque nesta altura de retrospectiva em relação
da Casa Branca como a sua inimiga número 1.
Por isso, Donald Trump merece ser refe-
renciado numa retrospectiva africana pela

dos tempos de mudança aos assuntos mais importantes e que marcaram

Victor Carvalho
O ano que agora acaba, no
que ao continente africano
diz respeito, revelou o Pri-
meiro-Ministro etíope, Abiy
Ahmed, como um verdadeiro
herói dos tempos modernos
por, entre outras coisas, ter
conseguido transformar um
dos mais conservadores paí-
ses do mundo num Estado
moderno, deitando por terra
todas as teorias negativas que
o Ocidente é farto de debitar
em relação a África.
Com apenas 42 anos de
idade, Abiy Ahmed conse-
guiu, num abrir e fechar de
olhos, colocar um ponto final
a uma guerra que o país man-
tinha há mais de 20 anos com
a vizinha Eritreia, introduzir
reformas internas que colo-
cam a mulher em paridade
com o homem nos grandes
centros de decisão política e
judicial e conduzir, com su-
cesso, um complicado mas
desafiante processo de re-
conciliação nacional desti-
nado a acabar com décadas
de conflitos dentro das fron-
teiras do seu país.
Como se tudo isto não bas-
tasse, sozinho, conseguiu
impedir que um grupo de
200 militares que chegaram
a invadir os jardins da sua
residência usassem da vio-
lência para conseguir da sua
parte cedências em relação
a reivindicações salariais.
Tudo isto foi feito entre
Abril e Dezembro de 2018,
porque para 2019 ele promete
usar a União Africana, que
curiosamente está sedeada
no seu país, como tribuna
para tornar o continente um
melhor sítio para se viver e
dar-lhe a força necessária
para desfazer as tais teorias
negativas que o Ocidente
gosta de descobrir quando
se refere a África.
Tratando-se do líder afri-
cano mais jovem a chegar
ao poder, Abiy Ahmed reforça
a sua façanha pelo facto de
ser Primeiro-Ministro de um
país, como a Etiópia, que es-
teve décadas a viver debaixo
de um estado de emergência
que sufocava as liberdades
e garantias fundamentais dos
cidadãos e que serviu de ar-
gumento para atirar milhares
de pessoas para as prisões
pelo único crime de terem
um pensamento político di-
ferente daquele que era o do-
minante.
Oito meses depois de ter
chegado ao poder, este jovem
Primeiro-Ministro pode or-
gulhar-se de ter acabado já
com o estado de emergência,
libertado milhares de prisio-
neiros políticos, de ter con-
s e g u i d o c o nve n c e r o s
principais líderes da oposição
a regressar ao país, de des-
bloquear centenas de web-
sites e canais de televisão e
de ter acabado com uma
guerra de duas décadas com
o seu principal vizinho.
Como se de uma cereja em
cima do bolo se tratasse, Abiy
Ahmed conseguiu também
formar um Governo com 50
por cento de mulheres, de pro-
por a indicação de uma mulher
para Presidente da República,
outra para presidente do Su-
premo Tribunal e uma terceira
para liderar a comissão eleitoral
que preparará uma ida às urnas,
onde em 2020 se irá submeter
pela primeira vez ao sufrágio
do seu povo.
o continente ao longo do ano de 2018.
É que Ramaphosa teve a virtude de devolver
a esperança aos sul-africanos e de apagar um
pouco da vergonha que sentiam ao ver o nome
do seu país envolvido em sucessivos escândalos
de corrupção e de má governação.
Este primeiro ano de poder, tem tido para
Cyril Ramphosa o amargo sabor das dificuldades
provocadas por ter encontrado o partido a que
pertence e que governa o país desde que este
é independente, o ANC, como que atordoado
e acomodado ao estilo de governação pouco
transparente do seu antecessor.
Muita desta acomodação resulta do facto de
Jacob Zuma ter tido o cuidado de deixar em
alguns lugares chaves homens da sua confiança
e que perdem poucas oportunidades para bloquear
algumas das principais medidas preconizadas
pelo novo líder e que visam as eleições que se
irão realizar no ano que hoje começa.
Por isso, mesmo com a justiça pronta para
lhe pedir contas, Jacob Zuma continua a ser
uma sombra que atrapalha a governação de
Ramaphosa, faltando saber qual a resposta
que o povo dará quando se tiver que pronunciar
nas próximas eleições, até porque algumas
das reformas que ele prometeu ainda não con-
seguiu aplicar devido, precisamente, à tal
sombra de Zuma que não o larga.
O inimigo comum
No ano de 2018, os 54 países africanos tiveram
um raro período de unidade, quando em Janeiro
foram confrontados com as desabridas ofensas
lançadas pelo seu inimigo comum: Donald
Trump, o intratável Presidente dos Estados
Unidos da América.
Nem mesmo com a visita de charme que a
sua esposa, Melania, mais tarde efectuou a
quatro países africanos, Donald Trump conseguiu
lavar a face pelos insultos que lançou à gene-
ralidade dos países do continente e pelas in-
gerências que tentou fazer em relação às
decisões soberanas de alguns Estados, sobretudo
virtude que teve em proporcionar uma razão
de unidade para os diferentes países do con-
tinente, que de resto parecem fazer questão
em não encontrar outras formas para juntarem
as suas sinergias nos diálogos que terão que
manter com o resto do mundo.
Mas, não se pense que Trump é o único a
não gostar de imigrantes africanos. Emmanuel
Macron, embora com uma linguagem mais co-
medida, também não morre de amores por
eles, tendo sido necessário a um imigrante ma-
liano trepar a um prédio para salvar uma criança
em perigo para que lhe fosse concedida a na-
cionalidade francesa, que ele já procurava,
sem sucesso, há mais de nove anos.
Esse episódio, pelo mediatismo que lhe
foi dado pelas redes sociais, obrigou a França
a olhar temporariamente com outros olhos
para os imigrantes africanos, tendo o “homem
aranha” conseguido concretizar, por uma
insólita razão, aquilo que lhe vinha sendo su-
cessivamente negado.
Talvez por isso, o Presidente do Ghana, Nana
Akufo-Addo, não resistiu a dizer olhos nos olhos
ao seu homólogo gaulês, que África não precisa
da generosidade ou da misericórdia do mundo,
mas apenas de ser tratada com respeito e em
pé de igualdade com os outros continentes.
No ano de 2018, destacaram-se ainda o
cantor ugandês Bobi Wine, detido, agredido e
acusado de traição, por ter alegadamente par-
ticipado no apedrejamento a uma caravana
automóvel onde seguia o Presidente Yowery
Museveni, o médico congolês Denis Mukwege,
por ter sido galardoado com o Prémio Nobel
da Paz e o antigo futebolista George Weah, que
venceu a eleição para se tornar em Janeiro o
novo Presidente da Libéria.
Numa outra vertente, foi igualmente digno
de registo o facto de na África do Sul se ter
devidamente assinalado o centenário do nas-
cimento de Nelson Mandela. Isto, no mesmo
ano em que morreu a esposa, Winnie Mandela,
e Kofi Annan, antigo Secretário-Geral das
Nações Unidas. Victor Carvalho

22 – JAN 23 - MAR 19 - DEZ

Antiga estrela do futebol Presidente das Maurícias demite- África do Sul: Justiça emite man-
mundial toma posse como se depois de escândalo envolvendo dado de prisão contra Grace
Presidente. George Weah ONG de Álvaro Sobrinho. A bióloga Mugabe. Ex-primeira dama do
promete lutar contra a cor- de reputação internacional enviou Zimbabwe é acusada de ter
rupção, mais emprego e mais uma carta de demissão à presidente agredido uma modelo sul-afri-
educação na Libéria. da Assembleia Nacional das Ilhas cana em 2017.
Maurícias.

12 – FEV 15 – FEV 26 - AGO

Emmerson Mnangagwa toma
Ellen Johnson Sirleaf ganha prémio Cyril Ramaphosa eleito Presidente posse no Zimbabwe. Mnangagwa
Mo Ibrahim para a Excelência na da África do Sul. A eleição acon- ganhou com 50,8% dos votos,
Liderança Africana. Foi a primeira teceu no Parlamento, depois da contra 44% de Nelson Chamisa.
mulher Presidente de um país renúncia um dia antes de Jacob Ex-Presidente Mugabe indica que
africano e a primeira a ganhar o Zuma. Ramaphosa promete muito deu o seu voto ao líder da opo-
prémio da Fundação Mo Ibrahim. trabalho “para não decepcionar sição. “Não voto por aqueles que
a África do Sul”. me atormentaram”, justificou .
ESPECIAL
Uma ameaça à estabilidade mundial
António Canepa
Sem dúvidas, a guerra co-
mercial iniciada pelos EUA
contra a China, quase logo
após à chegada à Casa Branca
do Presidente norte-ame-
ricano, Donald Trump, foi
um dos grandes ecos do ano,
por constituir uma forte
ameaça à estabilidade eco-
nómica mundial.
A disputa comercial entre
China e Estados Unidos em
2018 começou depois que o
Presidente norte-americano,
Donald Trump, anunciou,
em Março, a intenção de im-
por tarifas de 50 mil milhões
a produtos chineses, basean-
do-se na Lei de Comércio
de 1974, citando um histórico
chinês de “práticas comer-
ciais desleais” e roubo de
propriedade intelectual. Em
retaliação, o Governo chinês
impôs tarifas em mais de 128
produtos norte-americanos,
incluindo principalmente a
soja, um dos principais pro-
dutos de exportação dos EUA
para a China.
Durante a eleição presi-
dencial norte-americana de
2016, Donald Trump já de-
fendia a renegociação de
acordos comerciais dos Es-
tados Unidos.
11 - MAR
Parlamento chinês elimina limite
de mandatos presidenciais. Pen-
samento de Xi Jinping aprovado
também para a constituição. A
emenda, apresentada pelo Comité
Central do Partido Comunista da
China.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019 23
cluindo os aliados tradicio-
nais, que procuram proteger
as suas economias, fortale-
cendo alianças para fazer
face aos agravamentos da
política económica de Trump.
Em 2018 os EUA impu-
seram uma tarifa de 25 por
cento sobre as importações
do aço e uma tarifa de 10 por
cento sobre o alumínio por
um período de tempo inde-
finido e foi por essa atitude
de restrições comerciais que
o próprio Presidente apeli-
dou-se a si próprio de “Ho-
mem das tarifas”.
Como consequência, ins-
talou-se um clima de des-
confiança entre os investido-
res em todo o mundo, e au-
mentaram os custos de pro-
dução para as empresas nor-
te-americanas.
Ainda durante o ano, vá-
rias discussões giraram à
volta do abandono do dólar
nas transacções internacionais
GUERRA COMERCIAL CHINA-EUA em muitos países, inclusive
entre os próprios aliados de
Washington.
Não foi por acaso que alguns
analistas mundiais, em jeito
de desabafo, lembraram que
os EUA usam frequentemente
o estatuto do dólar como moeda
global para lidar com os pró-
Trump afirmou, na altura, dos EUA com a China, ava- flitos comerciais entre as tarifas sobre produtos impor- prios problemas económicos
que taxaria as importações liados em 375 mil milhões duas economias mais im- tados da China, acordada no à custa de outros países.
chinesas para os EUA em 45 de dólares, em 2017, que re- portantes do mundo. Como princípio de Dezembro, à mar- Para reduzir gradualmente
por cento. Após ser eleito, sultou, segundo ele, de uma resultado, os dois Estados gem da Cimeira do G20, na a avalanche de imigrantes
prometeu “colocar os EUA concorrência desleal (vio- envolveram-se em troca de Argentina, entre os dois líderes, nos próximos anos, muitas
em primeiro lugar” e rene- lação dos direitos de pro- restrições comerciais que Donald Trump e Xi Jinping, são as vozes que se levantam,
gociar “os acordos bilaterais priedade intelectual, controlo afectaram não apenas os começou a desenhar-se al- e coincidem em que os países
de comércio para promover estatal do yuan, a moeda do mercados locais como tam- guma esperança aos investi- devem fazer mais para as
mais empregos e o desen- gigante asiático, a criação bém os mercados mundiais, dores de que Washington suas populações, acabar com
volvimento da indústria” no de barreiras de entrada no principalmente dos países abandone a sua política agres- os conflitos, as perseguições
seu país. Depois dessas crí- mercado chinês e espiona- emergentes. Depois de quase siva nos próximos anos. de qualquer tipo e pensar
ticas do Presidente Trump, gem industrial) por parte da um ano de disputa, a moratória A política de Washington em novas políticas de dis-
contra o défice comercial China, agudizaram os con- de 90 dias na introdução de atingiu outros países, in- tribuição das riquezas.
Crises migratórias
Ao longo dos últimos meses do ano, gurança em países vizinhos, no Médio Estima-se que em 2018 cerca de dos seus cidadãos, criando alguma
o mundo assistiu também ao cresci- Oriente, Ásia, África e na Europa. um milhão de cidadãos de várias instabilidade social e até política, pelo
mento exponencial da movimentação O fenómeno, conhecido também origens tenham morrido no Mar Me- facto de muitos deles não contarem
de milhões de cidadãos que abando- como crise migratória ou crise migratória diterrâneo quando tentavam alcançar com suporte financeiro suficiente para
nam os países de origem em busca de no Mediterrâneo, movimentou cerca o continente europeu. cobrir as despesas sociais com os re-
outras condições de vida. Em 2018 o de 2 milhões de cidadãos que, sem Os índices das movimentações mi- fugiados.
fenómeno tomou contornos preocu- olhar a meios, condições e nem pensar gratórias, que tiveram o pico em 2015, Como medida, tendo em conta o
pantes e ameaçadores à estabilidade nas consequências, procuram a pros- desde o ano anterior, produziram mais aumento da pressão na rota migratória
de Estados, sociedades e Governos. peridade económica e estabilidade de mortes em 2018, com um registo de ocidental (Turquia-Grécia) e central
São milhões de cidadãos de vários todo o tipo nos países de destino. uma morte em cada dezanove pessoas através da Líbia ou Tunísia para a Itália),
países em movimento em quase todo Entre adultos, crianças e mulheres e gerou uma crise sem precedentes os Governos europeus passaram a con-
o ano. Fogem da pobreza, dos desastres de todas as idades, os migrantes cons- nos países de destino, sobretudo na trolar também o Mar Mediterrâneo.
naturais, das guerras, perseguições tituíram ao longo dos últimos anos Europa, onde os governos tiveram que Nessa fase as redes de tráfico de
políticas, culturais ou religiosas e da um amplo movimento de cidadãos tomar, em muitos casos, duras medidas migrantes aumentaram as suas acti-
falta de esperança. do mundo. e sofisticar a protecção das suas fron- vidades via Espanha, e chegaram a
Desde a eclosão do conflito armado De África, Ásia e Médio Oriente saí- teiras para evitar a entrada ilegal e transportar mais de 50 mil entradas
na Síria, em 2011, metade dos apro- ram milhares de pessoas cruzando massiva de imigrantes. de refugiados, tornando-se a principal
ximadamente 23 milhões dos habitantes mares e atravessando fronteiras contra Em muitos países acolhedores sur- porta de entrada da imigração clan-
do país viu-se obrigada a procurar se- todos os riscos de vida. giram sentimentos de revolta por parte destina no velho continente.
01 - JAN 10 - FEV 11 - FEV
Presidente sul coreano Moon Jae- Queda de avião russo perto de
Kim Jong Un reitera que in recebe Kim Yo Jong irmã do Moscovo mata 71 pessoas. O avião,
pode atingir EUA com ar- líder norte coreano.Coreia do um Antonov AN-148, tinha como
mas nucleares. Líder nor- Norte convida Presidente da Coreia destino a cidade russa de Orsk,
te-coreano propõe conver- do Sul para uma cimeira. Seúl na região de Orenburg, que faz
sações con Coreia do Sul reage com cautela prometendo fronteira com o Cazaquistão.
para discutir jogos Olím- trabalhar para "criar condições"
picos de Inverno. para encontro.
18 - MAR 12 - DEZ
Vladimir Putin reeleito Presidente Homem mata quatro pessoas em
com 76 por cento dos votos. Com Estrasburgo e foge da polícia.
o líder da oposição impedido e Desconhece-se a origem do crime
denúncias de ilegalidades, foram e a procuradoria de contra-ter-
às urnas 57 por cento dos eleitores. rorismo iniciou uma investigação.
"Vamos trabalhar duro, de forma O atirador viria a ser abatido dois
responsável e eficiente. dias depois.
24 ESPECIAL
DESENVOLVIMENTO DE IMPACTO
Consolidação fiscal
e reforma cambial
transformam economia
Cristóvão Neto
A evolução da economia foi
influenciada, em 2018, pela
aplicação de um processo de
consolidação fiscal, com o
qual o Governo pretende eli-
minar o défice por via do au-
mento das receitas e do corte
das despesas, o que se prevê
que tenha sido conseguido.
O Governo e o Fundo Mo-
netário Internacional coin-
cidem na previsão de um
excedente fiscal de entre 0,4
e 0,6 por cento do Produto
Interno Bruto (PIB), com o
que reduzem as necessidades
de financiamento do Gover-
no e se criam as premissas
para reduzir o endividamen-
to do Estado.
A dívida pública, de 70 mil
milhões de dólares (algo mais
que 70 por cento do PIB), foi
considerada “sustentável”
pela directora-geral do Fundo
21 – NOV
Ana Gomes promete ajudar Angola
a recuperar dinheiro desviado
para o exterior. Eurodeputada
quer que Angola e Portugal dis-
cutam a corrupção. Diz que Go-
verno pode recorrer a mecanismos
internacionais.
Monetário Internacional
(FMI), Christine Lagarde, nu-
ma entrevista exclusiva há
uma semana concedida ao
Jornal de Angola, mas o seu
serviço, de acordo com dados
disponíveis, representa cerca
de metade da despesa orça-
mental em 2019.
Os números disponíveis
indicam que, na óptica da re-
ceita, a processo de consoli-
dação está a ser bem sucedido:
no aniversário da Adminis-
tração Geral Tributária (AGT),
em meados de Dezembro, o
presidente do Conselho de
Administração daqueles ser-
viços anunciou um aumento
da receita arrecadada em
2018 de 27 por cento face à
meta estabelecida.
Sílvio Burity indicou que
a receita total ascendeu a
4.790 mil milhões de kwan-
zas, constituindo, também,
o crescimento de 96 por cento
10 – JAN
Presidente João Lourenço exonera
a administração do Fundo Sobe-
rano de Angola, presidida por
José Filomeno dos Santos, e no-
meaCarlos Alberto Lopes para li-
derar a instituição. Até a altura
Carlos Alberto Lopes era secretário
para os Assuntos Sociais.
em relação à obtida no ano
passado, com a receita pe-
trolífera a avançar 159 por
cento face a 2017 e a não-pe-
trolífera 29 por cento.
Ainda em Outubro último,
a directora da AGT Edna Ka-
posso anunciou, num se-
minário consagrado aos
grandes contribuintes, que
só a receita não-petrolífera
tinha avançado, desde Ja-
neiro, 18 por cento sobre a
arrecadada em igual período
do ano passado.
Na lista das contribuições
não-petrolíferas obtidas até
àquela altura, o imposto mais
pago era o Industrial, com
cerca de 208,4 mil milhões
de kwanzas, estando a seguir,
o de Rendimento do Trabalho
(IRT), com 105,6 mil milhões,
de Consumo, com 89,6 mil
milhões, e de Aplicação de
Capitais (IAC), com 59,5 mil
milhões de kwanzas.
Jean-Claude Bastos de Morais
demarca-se do caso 500 milhões
de dólares. Sócio de José Filomeno
dos Santos diz desconhecer por-
que é que contas dos seus fundos
de investimento foram congeladas
nas Maurícias.
29 - NOV
Equipa económica explica as dú-
vidas sobre os 15 mil milhões de
dólares que o ex-PR afirmou ter
deixado. Ministro de Estado do
Desenvolvimento Económico e
Social diz que não se pode con-
fundir Reservas Internacionais
Líquidas e dinheiro em cofre.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
Flexibilização do câmbio
Com tanto ou maior im- A reforma é elogiada,
pacto, a reforma cambial
iniciada em Janeiro con-
duziu a uma depreciação
sobretudo por não se ter
verificado um esperado
“efeito repasse” da taxa
do kwanza de 47,5 por cen-
to em relação ao euro e de
46,6 face ao dólar. A taxa
d e c â m b i o pa s s o u d e
de câmbio sobre os preços,
com o que o Governo agen-
dou mesmo uma meta de
inflação de 19 por cento
185,40 kwanzas por euro
em Janeiro, para 355 kwan-
zas na sexta-feira, ao mes-
em 2018, a mais baixa dos
últimos três anos.
Ao rebater a questão
mo tempo que de 165,90 do efeito repasse não se
FRANCISCO BERNARDO|EDIÇÕES NOVEMBRO
kwanzas por dólar para ter verificado, os especia-
310,1. listas afirmam que tal se
A reforma cambial fica deveu a que a taxa de câm-
concluída em Janeiro ou bio que perdurou até Ja-
Fevereiro. Ao defendê-la, neiro era tão irrealista, que
na entrevista ao Jornal de os operadores económicos
Angola, a directora-geral não a utilizavam para fixar
do FMI considerou que “o preços e outros cálculos,
problema da taxa de câm- fazendo-o com a taxa do
bio é que o banco central mercado informal.
estava a intervir significa- De acordo com o minis-
tivamente e estava a tentar tro de Estado do Desen-
manter a taxa de câmbio volvimento Económico e
fixa, com o que paralisava Social, Manuel Nunes Jú-
a economia angolana: não nior, a diferença entre a
havia nenhum amortece- taxa de câmbio oficial e a
dor de choque cambial”. do mercado paralelo caiu
“Agora, que a política de 150 por cento, em Ja-
monetária e a economia neiro, para 19 por cento
estão a passar para um em Setembro.
regime de taxa flutuante”, Estima-se que, ao longo
prosseguiu, “as variações do ano pelo qual vigora a
são absorvidas pela taxa reforma, o Banco Nacional
de câmbio e vão restaurar de Angola tenha vendido
a competitividade de An- 9,5 mil milhões de dólares
gola na sua relação com no mercado primário de
o resto do mundo e in- câmbios, num exercício
centivar o desenvolvi- que associa a oferta às me-
mento de actividades que didas legislativas e que le-
irão substituir aquilo que vou ao fim da pressão
eram, até ao momento, sobre as divisas, de acordo
importações”. com o banco central.
Estas declarações, mais
do que a magnitude do cres- FRANCISCO BERNARDO|EDIÇÕES NOVEMBRO
cimento da receita fiscal e
aduaneira, reflecte, pela pro-
veniência dos maiores fluxos,
a ocorrência de uma activi-
dade económica mais dinâ-
mica, ou às medidas legisla-
tivas tomadas pelo Governo
no quadro do seu programa
de consolidação fiscal.
Sílvio Burity chegou par-
cialmente a essa conclusão
nas suas declarações de De-
zembro, ao afirmar que os
números da arrecadação re-
flectem a aposta da institui-
ção na modernização dos
serviços e nas tecnologias
de informação, as quais con-
tribuíram para potenciar a
receita tributária, propor-
cionar serviços mais céleres,
promover a desburocrati-
zação, bem como conferir
maior proximidade e con-
forto ao contribuinte.
12 – ABR 28 – JUN
João Lourenço cancela o projeto
de construção e concessão, por
30 anos, do porto da Barra do
Dande., à Atlantic Ventures. A
obra, de 1.500 milhões de dólares,
foi entregue por José Eduardo
dos Santos uma semana antes
de João Lourenço tomar posse .
20 – DEZ
Christine Lagarde garante apoio
às reformas do Governo angolano
e confirma empréstimo de 3,7
mil milhões de dólares. João Lou-
renço diz que apoio do FMI dá
credibilização às reformas em
curso. Recessão económica em
Angola é de 1,7 por cento.
ESPECIAL
REVERSÃO DA QUEDA DO PETRÓLEO
Reformas projectaram sector
petrolífero para o crescimento
O cenário de desinvestimento e declínio da produção que até 2017 caracterizou a indústria
angolana de hidrocarbonetos foi substituído, durante ano, por novos fluxos de capital,
Cristóvão Neto
As reformas que ocorreram
da indústria angolana dos
hidrocarbonetos este ano,
prepararam o país para o
crescimento em 2019, quan-
do se espera uma expansão
global da economia de 2,8
por cento, impulsionada pelo
avanço de 3,1 por cento do
sector petrolífero (mais que
os 2,6 por cento do sector
não-petrolífero).
Ao iniciar as funções, em
Setembro de 2017, o Governo
propôs-se a executar uma
agenda fortemente influen-
ciada pelo combate à cor-
rupção e na aplicação de
reformas claramente direc-
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
projectos bem-sucedidos e descobertas
cionadas para dinamizar o
sector petrolífero e a eco-
nomia no seu todo.
O Ministério dos Recursos
Minerais e Petróleos impôs
ao longo do ano uma dinâ-
mica concertada com os
principais operadores da in-
dústria angolana dos hidro-
carbonetos, a Sonangol, Eni,
Total, Esso, British Petroleum
(BP), Equinor e Chevron.
Essa aliança traçou pro-
cedimentos reformistas, im-
plementando uma agenda
concentrada na simplificação
do processo de gestão de
concessões de petróleo,
adopção de incentivos para
investimentos em campos
marginais e a criação de um
marco regulador para o gás
natural.
Os acontecimentos pro-
varam rapidamente a efi-
ciência das reformas: em
Junho, a italiana Eni anunciou
uma importante descoberta
no sector Kalima do campo
15/06, estimada entre 230 e
300 milhões de barris de pe-
tróleo, voltando a fazê-lo
nas primeiras semanas deste
mês de Dezembro, quando
encontrou reservas de 170 a
200 milhões de barris no
campo Afoxé, desse mesmo
bloco.
Começa, assim, a cum-
prir-se a meta do Governo
e da Sonangol de inverter a
tendência de declínio da pro-
dução petrolífera angolana,
que passou do seu pico de
1,9 milhões de barris por dia
(bpd) em 2008, para 1,5 mi-
lhões este ano.
Caso não se fizesse nada,
a produção petrolífera co-
meçaria a registar um de-
clínio anual de entre dez a
15 por cento, o que conduziria
à redução dos actuais 1,5 mi-
lhões de bpd até 2023.
As causas desse cenário
foram parcialmente atribuí-
das pelo ministro dos Re-
cursos Minerais e Petróleos,
Diamantino Azevedo, na
apresentação dos resultados
finais do grupo de trabalho
interministerial criado para
actualizar o modelo de rea-
justamento do sector dos pe-
tróle o s , ao “ exce ss o de
burocracia”.
A estratégia, apontou Dia-
mantino Azevedo, consiste
na introdução de um quadro
regulatório baseado na fle-
xibilização que permita a
exploração de campos mar-
ginais e mantenha a produ-
ção numa mé dia nunca
inferior a 1,5 milhões de bpd.
As reformas incluem mu-
danças profundas na legis-
lação tributária e nos
contratos de concessão, bem
como a abertura de campos
marginais, atraindo novos
investidores. No mês que
hoje termina, foram pro-
mulgadas as leis projectadas
para dinamizar a introdução
de uma dinâmica virtuosa
da indústria angolana dos
hidrocarbonetos.
25
Refinação
e abertura
do mercado
da distribuição
Uma das mais firmes de-
cisões do Governo e da So-
nangol foi a de investir na
produção de derivados de
petróleo e substituir a im-
portação, que absorve cerca
de dois mil milhões de dó-
lares por ano dos escassos
recursos cambiais angola-
nos.
A decisão recai sobre a
retomada da construção de
uma refinaria no Lobito, para
o que já foram pré-selec-
cionadas oito empresas, e
outra em Cabinda, num pro-
cesso que também já conta
com sete empresas candi-
datadas para a empreitada.
Angola importa 80 por
cento do combustível con-
sumido, produzindo o res-
tado na Refinaria de Luanda,
a favor da qual a Sonangol
subscreveu, em Junho, um
contrato de 260 milhões de
dólares com a Eni.
Este mês, a Sonangol
abriu o mercado da distri-
buição de combustíveis com
a entrada da Total à mercê
de um contrato que dá ênfase
à logística e distribuição de
refinados e à luz do qual a
companhia francesa instala
45 postos de abastecimento
de combustível em áreas ur-
banas e vias rápidas.
26 ESPECIAL
Resistir à crise com
imaginação à “mwangolé”
O ano 2018 findou derradeiramente, já sendo alimento da história os seus acontecimentos de
vulto. A cultura, felizmente, não se coibiu em dar uma réplica a quem foi devoto do prognóstico
de que o abalo da crise impediria drasticamente a sua desenvoltura.
Matadi Makola
De pura imaginação “mwan-
golé”, as soluções que não
fazem a máquina parar não
demoram a vincar, e bem
vimos, só para citar as mais
sonantes, a continuidade
plausível do “Show do Mês”,
o original “Duetos N´Aven-
dia”, o necessário “Palco do
Semba”, o típico “Muzonguê
da Tradição”.
Congregando diversos
actores em diferentes espa-
ços, a música cumpriu com
as suas ambições. A safra
foi boa, porque vieram à luz
do dia álbuns cuja espectativa
s e a r ra s tava p o r a lg u m
tempo. A nova vaga viu
Ndaka Yo Wini concretizar
a sua estreia com “Oluk-
wembo”, o esperado álbum
de uma voz que conquistou
os amantes da boa música
à primeira aparição.
Pela mão da ArcaVelha,
Dom Caetano fez sair a sua
“Divina Esperança”, em
ritmo semba e rumba, e Ana-
bela Aya consolidou-se ao
trazer ao mercado “Kuame-
leli”, o álbum que convenceu
a crítica do TOP dos Mais
Queridos 2018. Embora
internamente tenha logrado
a terceira posição deste
Ano cultural 2018
mediático concurso, o pulo
internacional de Matias
Damásio, numa galopante
corrida à conquista de públi-
cos de diversas latitudes, fez
eco na nossa banda, que
recebeu orgulhosa o facto
de o cantor ter lotado o Altice
Arena no dia 24 de Novem-
bro e já ter na mira o público
latino. O mesmo não só brin-
dou-nos com o seu mais
recente álbum “Augusta”,
como deu provas do seu
carisma além-fronteiras.
Em Portugal, por exemplo,
a imprensa o reverencia des-
tacando que em 2017 tinha
protagonizado cerca de qua-
tro dezenas de espectáculos,
proeza que se arrastava desde
2010, quando já lotava o
Coliseu de Lisboa, tanto que
nos jornais era consensual
a acusação de que “Matias
Damásio conquista Lisboa”.
O barómetro do mercado
doméstico indica que este
foi, seguramente, o ano das
bonanças de Gerilson Insrael,
que teve a sua popularidade
n o aug e c o m o s u c e s s o
“Minha Bêbada”, garan-
tindo-lhe o segundo lugar
n a t r i n d ad e c i m e i ra do
renhido Top dos Mais Que-
ridos, vencido finalmente
por Kyaku Kyadaff, que já
“Um ano
particularmente
duro para a cultura,
que consentiu as
perdas dos
escritores António
Panguila e
Frederico Ningui,
do músico Tony
Caetano e da
bailarina Laritza
Sebastião”
há quatro anos vem sendo
um candidato forte à con-
quista da prestigiante posição.
Nesta luta pela visibilidade
acresce-se também o nome
da promessa da kizomba
Liriany Castro, autora dos
sucessos “Faço Como” e “Ser
Feliz”, que neste ano viu o
seu cartão-de-visita preen-
chido com o álbum de estreia
“Menina Mulher”.
No seu terceiro álbum de
originais, em que apela à
“irmã de causa e de casa”,
Aline Frazão chegou “Dentro
da Chuva”, já o rapper MCK
afortunou os admiradores
do seu trabalho com “Valo-
res”, o seu quarto álbum de
originais. Cada vez mais
apreciada, a cantora e vio-
linista Maria-Gracia Latedjou
dá-se a conhecer artistica-
mente à medida que explora
o seu Ep “Baile dos Sentidos”,
um balaio onde ela joga a
voz para agitar intuição, razão
e sensibilidade. Na senda da
sua divulgação, Latedjou
seguiu com ele para Berlin
e Paris. O Nguami Maka não
só foi exibir a ancestralidade
angolana no Festival da Luso-
fonia de Macau como tam-
bém fundiu, já no palco do
Palácio de Ferro, com o jazz
do trio alemão Slowfox,
ficando a promessa de ida a
Berlim para 2019, a cargo do
Goethe Institut Luanda.
Ainda que o festival I Love
Kuduro tenha somado mais
um silencioso ano de inter-
regno, não faltaram novi-
dades da parte deste género.
Por força do projecto Team
de Sonho, Nino Republicano
foi mediador do “Acordos
de Bicesse” do kuduro ao
desdramatizar a rivalidade
entre Puto Prata e Nagrelha,
e dessa comunhão resultar
o hit “Wamona”. Pé de Galo
ficou apenas pelo seu hit
DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Bonga foi
condecorado
com a Ordem
do Mérito Civil,
1.º Grau
“Cair com Cadeira”. Porém,
Noite e Dia, solitária no
“avanço” do seu sucesso de
“livro aberto”, provou ser
merecedor ostentar a auréola
de “diva”.
Já com o tempo a minguar,
a kizomba ficou ainda mais
“ n u t r i d a ” p o r f o rç a d e
Livongh colocar à disposição
do público o álbum
“Kizomba na Passada” e
Konde acrescer com o álbum
“Te Amo e Não Nego”. No
rap, Yanick Afroman chegou
de “Outros Mundos” e os
Mobbers mostraram-se “Sob
Pressão”, dois álbuns que
assinalam, pela constelação
de vozes participantes, a pro-
fícua comunhão entre os
géneros musicais lavrados
no nosso mercado.
Um ano memorável para
si, Waldemar Bastos foi enfim
distinguido com o Prémio
Nacional de Cultura e Artes,
tendo, na ressaca, protago-
nizado duas concorridas ses-
sões no Show do Mês.
A representar a Lunda-
Sul, a música “Nguli Nhi
Usona”, trabalhada à base
da tchianda, de Benilde
Miúdo, conquistou a 25.ª edi-
ção do Variante 2018.
De fora para dentro, apor-
taram nos nossos palcos Fally
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
Ipupa, Fredy Massanba,
Jimmy Dludlu, Mafikizolo,
Dina Medina, Nuno Mindelis,
Rael da Rima, Azagaya e
Valate.
Definitivamente,
o ano do Bonga
I mb u í d a n o e s p í r i to d a
“reconciliação com a his-
tória”, este ano a cultura foi
satisfatoriamente contem-
plada nos festejos do 43.º
ano da Independência
Nacional. Numa só cajadada,
o Presidente da República,
João Lourenço, condecorou,
a título póstumo, o músico
Liceu Vieira Dias e o artista
plástico Victor Teixeira
“Vitex” com a Ordem do
Mérito Civil, 1.º Grau. Entre-
tanto, dentre estas e muitas
outras coisas boas que acon-
teceram na cultura, não seria
nenhuma hipérbole desca-
bida acentuar 2018 como o
ano do Bonga. Para além de
fazer igualmente parte dos
prestigiados com a Ordem
do Mérito Civil, 1.º Grau, viu
o seu génio, isto em Outu-
bro, secularizado no livro
“Bonga - Marcas na Orali-
dade Angolana”, da autoria
do jornalista Filomeno Pas-
coal, fruto de um trabalho
de monografia apresentado
em 2008. Ademais, dias
após à condecoração foi alvo
de uma homenagem no
Muzongué da Tradição. Para
fechar gloriosamente, teve
este fim apoteótico no Cen-
tro de Conferências de Belas,
partilhando o palco com
Manu Dibango, um monstro
da música africana da sua
craveira.
Teatro - O renascer das
cinzas do Henrique Artes?
Não restam dúvidas que neste
capítulo a cultura só somou.
S e “ C a s s i n d a n ã o Vo l ta
Atrás”, fê-lo o júri do Prémio
Nacional de Cultura e Artes,
ao premiar esta obra do Ngui-
zane Tuxicane que já leva
duas décadas desde a sua
estreia. Porém, e é de todo
importante frisar, para não
ser injustamente esquecido,
o nome de Paulo Miala, actor
e encenador deste espectá-
culo, falecido em 2015, sem
ter testemunhado a mani-
festação oficial do reconhe-
cimento nacional pelo seu
empenho nas artes cénicas.
Neste ano o Elinga-Teatro
completou 30 anos de exis-
tência, sendo o mais novo
da tríade do teatro angolano,
Encenador
Flávio Ferrão
foi premiado
nos Globos de
Ouro Angola
ESPECIAL
a par do Horizonte Njinga
Mbande e Oásis. Em clima
de aniversário, a tão esperada
quarta edição do Festival
Internacional de Teatro &
Artes de Luanda, aconteceu
de 21 de Maio a 10 de Junho,
no Elinga-Teatro e Casa das
Artes, em Talatona. Fora os
grupos nacionais, marcaram
presença grupos do Brasil,
Argentina, Portugal, Cabo
Verde e Moçambique.
De vento em poupa, o
Centro de Animação Artística
do Cazenga (ANIMA´ART),
sob liderança de Orlando
Domingos, realizou em Julho
a 13.ª edição do Festival de
Teatro do Cazenga, que reu-
niu mais de vinte grupos,
sete dos quais oriundos do
estrangeiro.
De 30 de Junho a 17 de
Setembro decorreu o Circuito
Internacional de Teatro (CIT),
acolhido na LAASP e CCBA.
Encabeçado por Adérito
Rodrigues “BI”, cumpriu-
se a arrojada promessa da
ex i b i ç ã o d e m a i s d e 3 0
estreias.
Foi um ano soberbo para
o Henrique Artes, três anos
depois de ter forçado a classe
teatral a aceitar a atribulada
notícia que anunciava o fim
desta importantíssima com-
panhia do xadrez teatral
luandense. Depois da pro-
posta de “encenador do ano”
não passar no exame de
Violinista Maria-Gracia Latejdou
honestidade intelectual do
dramaturgo Mena Abrantes,
a organização dos Globos de
Ouro Angola indicou Flávio
Ferrão, que dirige a compa-
nhia Henrique Artes, que
também arrecadou as cate-
gorias de melhor peça para
o espectáculo “Hotel
Komarca” e melhor actriz
para Naed Branco. David
Inock, do Horizonte Njinga
Mbande, foi considerado o
melhor actor do ano pela
referida organização.
Realizado na primeira
quinzena de Abril entre
Luanda e Bié, o Festival de
Teatro da Paz (Festeapaz),
d i r i g i d o p o r O sva l d o
Moreira, voltou a destacar
o valor do Henrique Artes,
que arrebatou o categoria
de melhor espectáculo, pela
peça “Hotel Komarka”, e
melhor actor, para Adilson
Vunge. Questionado a pro-
pósito, Flávio Ferrão acen-
tua: “Foi a cereja no topo
do bolo. É um ano em que
nos levantamos das cinzas,
tanto pela atenção de ins-
tituições privadas, quanto
pelo carinho do público.
Continuaremos a fazer teatro
por mais vinte anos”.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
António Ole tem
patente a exposição
“Ossos do Ofício”
Aneth Silva
é bailarina
da Palasa
Company
Dance
Dança - Palasa Dance
Company estreia-se
com “Candongueiro”
No esteio das comemorações
do Dia Internacional da
Dança, assinalado a 29 de
Abril, Luanda recebeu o
coreógrafo francês Yugson
Hawks.
Em Julho, a Companhia
de Dança Contemporânea
de Angola (CDCA) estreou
o espectáculo “O monstro
está em cena”, de Ana Clara
Guerra Marques e Nuno Gui-
marães. Já a finalizar o ano,
a recém nascida Palasa Dance
Company estreou-se, na
Casa das Artes, em Talatona,
com o espectáculo “Can-
dongueiro”.
Na dança, Sakaneno João
de Deus é Prémio Nacional
Escritora
Marquita 50
publicou
“As Simetrias
de Mulher”
de Cultura e Artes deste ano
e, à margem da gala, pede
“maior união da classe”.
Literatura - A vez de Viriato
da Cruz e de Marquita 50
Embora fosse uma questão
de tempo, numa história que
já contava um veto, só este
ano Viriato da Cruz teve luz
verde para a consagração
póstuma de Prémio Nacional
de Cultura e Artes. À obra
“Mahambas”, contos de Oli-
ver Soares Quiteculo, atri-
bui-se o Prémio Literário
António Jacinto edição 2018,
pelo Instituto Nacional das
Indústrias Culturais (INIC).
O livro destacou-se pela
“artesania da palavra”, jus-
tificou o júri, presidido pelo
escritor Albino Carlos.
Pela obra “Ferreiros e Fun-
didores da Ilamba”, a his-
toriadora brasileira Crislayne
Alfagali venceu o Prémio
Kyaku Kyadaff
venceu o Top dos
Mais Queridos
Internacional de Investigação
Histórica Agostinho Neto
edição 2018, a quem coube
um trofeu e um cheque no
valor de 50 mil dólares.
O prémio literário “Um
bouquet de rosas para ti”,
cuja patrona é Eugénia Neto,
distinguiu como primeira
classificada a obra “Março
entre Meridianos”, de Luísa
Fresta, seguindo-se “As
Simetrias de Mulher”, de
Marquita 50, pseudónimo
literário de Cíntia Gonçalves,
e “Seios e Ventres ”, de Kan-
guimbo Ananás, foi a ter-
ceira classificada.
Lopito Feijoó deu conti-
nuidade à sua obra com
“Doutrinárias Lâminas Dou-
trinárias”, o seu mais novo
rebento literário. Já Fernando
Carlos levou a música num
plano teatral com a peça “Rit-
mos da Luta – O Semba como
Ferramenta de Libertação”,
Ministra Carolina Cerqueira é a titular da pasta da Cultura
o primeiro intento de um
projecto que visa “inventa-
riar lugares e figuras do pro-
cesso histórico da cidade de
Luanda”. Numa reviravolta
das ciências sociais ao plano
literário, António Pitra Neto
lega-nos o poemário "Tri-
butos aos Sonhos, Lições e
Encantos".
A fechar o ano, à mesa do
tradicional debate Maka à
Quarta-feira, promovido
pela União dos Escritores
Angolanos, o escritor con-
golês Kamanda Kama exorta
os leitores africanos a espe-
rarem “mais autenticidade
e verdade dos autores”.
Artes plásticas - Van
posicionou-se
“No Centro da Questão”
Na disciplina de artes visuais
e plásticas, o gravurista Antó-
nio Feliciano “Kidá é o Pré-
mio Nacional de Cultura e
Artes deste ano. Cristiano
Mangovo, em pintura, e
Ângelo de Carvalho, em
escultura, foram os vence-
d o re s d a 1 4 . ª e d i ção d o
Grande Prémio ENSA-Arte,
c u j a ga l a d e p re m i ação
de correu no Mu s eu da
Moeda, a 2 de Maio. A fechar,
ainda a decorrer, António
Artista Kidá foi distinguido
27
Ole, a partir do Centro Cul-
tural Português de Luanda
– Camões, com a exposição
“Ossos do Ofício”, e Nelo
Teixeira, a partir do Espaço
Luanda Arte - ELA, com a
exposição “Muro Vermelho”,
nos transportam para 2019.
Entretanto, pelo meio ainda
há muito: Hildebrando de
Melo é representado nos
Estados Unidos da América,
Thô Simões revela “Congo-
lândia – Multiversos em
Desencanto”, Van posiciona-
se pictoricamente “No Centro
da Questão”, Toy Boy iden-
tifica as “Guerras Globais”,
um quinto “Fuckin Globo”
de doze (di)visões...
Cinema – Hochi Fu
faz rir Angola
Em 2018 o cinema angolano
não foi improdutivo. Hochi
Fu, com uma passagem bem
sucedida na produção de
vídeo clips, desafia-se rea-
lizando a longa-metragem
“Sexta-feira Mwangolé”, e
Dorivaldo Fernandes realiza
a também longa-metragem
“Falso Perfil”, que traz na
trama Sílvio Nascimento,
actor que desponta no Hen-
rique Artes, e Micaela Reis,
ex-miss Angola. Nas pre-
miações, Misael Filipe de
Almeida, a título póstumo,
é Prémio Nacional de Cul-
tura e Artes em Cinema e
Audiovisuais.
Por estas e outras aqui
não ditas, foi um ano pro-
dutivo na lavra de Carolina
Cerqueira, a titular da pasta,
que atravessa para 2019
tendo sobre a mesa o pro-
cesso de pedido de “resti-
tuição dos inúmeros objectos
c u l t u ra i s p a t e n t e s n o s
museus portugueses, reti-
rados de Angola durante o
período colonial”. Por outro
lado, foi um ano particular-
mente duro para a cultura,
que consentiu as perdas dos
escritores António Panguila
e F re d e r i c o N i n g u i , d o
músico Tony Caetano e da
bailarina Laritza Sebastião.
28 ESPECIAL Terça-feira
1 de Janeiro de 2019

Feito aumenta auto estima do país Campeã africana

Supremacia absoluta
Conquista do Mundial no andebol continental
O ano de 2018 foi igual- da partida. De forma imacu-

é o acontecimento de
mente dourado para o andebol
feminino angolano que ci-
mentou a sua hegemonia
continental com a conquista
do décimo terceiro título, no
lada, as Pérolas Africanas
não deram qualquer hipótese
às adversárias, vincando a
sua superioridade, aplicando
monumentais "cabazadas"

maior impacto do ano princípio deste mês na cidade

Amândio Clemente
A conquista do Campeonato
do Mundo pela Selecção Na-
cional de Futebol para am-
putados, na cidade mexi-
cana de Guadalaja, é a maior
conquista desportiva do país
no que agora finda, que tem
ainda como acontecimentos
relevantes a vitória da "sete"
nacional feminino no Cam-
peonato Africano das Na-
ções (CAN), na capital do
Congo, Brazzaville, que
completa o décimo terceiro
título continental, bem co-
mo garantiu a qualificação
para o Mundial, feito tam-
bém alcançado pelo "cinco"
nacional sénior masculino,
que carimbou o passaporte
para a Copa da China.
O feito dos "paralímpicos"
do futebol com muletas co-
meçou a ser anunciada ainda
em 2014, quando alcança-
ram a segunda posição no
Mundial, disputado na ci-
dade de Culyacan, no Mé-
xico, ao perderem na final
para a Rússia. Estava lan-
çado o aviso. A ambição de
chegar al lugar mais alto do
pódio tomou conta dos atle-
tas angolanos. Mesmo sem
as condições que as outras
selecções desfrutam du-
rante a preparação para a
competição, mundial os jo-
gadores e equipa técnica
angolanos acreditaram que
era possível melhorar a
prestação anterior. E tra-
balharam com rigor e es-
pírito de sacrifício para atin-
girem a meta. Augusto Bap-
tista "Cheto" e pupilos sa-
biam que para se alcançara
a glória era preciso "sofrer" tição. Nos outros jogos A se-
antes da competição, para lecção somou apenas vitórias
sorrir no final. sobre Ucrânia (4-0, Espanha
No local da competição (1-0). Nos oitavos de final
nem tudo foram "rosas ou fa- vitória sobre a Itália (2-0).
vas contadas". Atletas e equipa Nos quartos-de-final afastou
técnica tiveram de superar a Polónia (6-5), após grandes
dificuldades, como a adap- penalidades, e tirou do ca-
tação a fusos horários e clima minho o Brasil nas meias fi-
diferentes, mas estavam fo- nais (2-0) e na final suplantou
cados no objectivo. Jogo a a Turquia, aos penaltis (5-
jogo a equipa foi cimentando 4), após empate sem golos
a crença que era possível e no tempo regulamentar.
conforme os adversários fo- Com a conquista, o des-
ram sendo afastados, aumen- porto adaptado de Angola
tava a confiança e o estado chega ao segunda título mun-
anímico da Selecção Nacional. dial, depois do alcançado
Na primeira fase do Mun- por José Armando Sayovo
dial, o combinado angolano no Campeonato Mundial de
consentiu uma derrota diante Atletismo exclusivo para de-
do Haiti (1-2, numa manobra ficientes visuais em 2003 no
estratégica para evitar o cru-
zamento com a Rússia, com
quem só pretendia jogar caso
Canadá: três medalhas de
ouro e recorde mundial nos
400 metros (50 segundos e
chegasse à final da compe- 23 décimos).
Alegria de volta
Regresso ao CAN
Sub-17alegra
adeptos do futebol
A grande proeza da modalidade rainha
neste ano foi a qualificação da selecção
Nacional Sub-17 para o Campeonato Afri-
cano das Nações (CAN), a ser disputado
na Tanzânia em Abril, de 14 a 28. Facto
relevante é igualmente o primeiro lugar
da selecção de Sub-16, no torneio dos
Jogos da CPLP, disputados em São Tomé
e Príncipe. Referência obrigatória para
a campanha do 1º de Agosto na Liga dos
Clubes Campeões Africanos de Futebol,
onde foi afastado nas meias finais pelo
Esperance de Tunis, ajudado pela arbi-
tragem "pecaminosa" do zambiano Janny
Sikwaze, ao passo que os Palancas Negras
fizeram as pazes com os adeptos, apesar
de não terem garantido o apuramento
para o CAN.
de Brazzaville, numa com-
petição onde não teve ad-
versários à altura, embora se
tenha deixado surpreender
por uma "atrevida" selecção
do Senegal que, no entanto,
não teve argumentos para
manter a ousadia até ao final
Basquetebol
Qualificação arrancada
com muito sofrimento
Digna de destaque é igual-
mente a qualificação para o
Campeonato do Mundo a ser
disputado no ano que hoje
inicia na China conseguido à
tangente pela Selecção Na-
cional sénior masculina de
basquetebol, que longe do
brilhantismo e das facilidades
anteriores, teve de sofrer bas-
a quem cruzasse o seu ca-
minho. A vitória em Brazza-
ville garantiu mais uma
presença no Campeonato do
Mundo, competição onde as
angolanas procuram dar o
pulo: a meta é a superação
do sétimo lugar alcançado
em 2007 na França .
tante para concretizar o de-
siderato, também devido ao
nnovo modelo adoptado pela
entidade reitora da modalidade
a nível mundial.
Em doze jogos partidas dis-
putadas, nas janelas do Torneio
Africano de Qualificação para
a 18ª edição do Campeonato
do Mundo, a disputar-se de
31 de Agosto a 15 de Setembro
do próximo ano no gigante
asiático, a Selecção Nacional
venceu nove e perdeu três
frente a Marrocos (47-61) e
Congo Democrático (56-66),
na cidade do Cairo, Egipto,
na janela, e diante da Tunísia
(64-84), na quarta e penúl-
tima janela. Os hendecacam-
peões, fizeram parte do Grupo
C, e ganharam em Luanda,
Marrocos (62-56), Egipto (68-
64) e Congo (73-64), fazendo
o pleno.

Mundial da Rússia
consagra França
15 - JUN 15 - JUL
França é campeã do mundo de
Começa a Copa do Mundo da Rús- futebol, apó derrotar a Croácia.
sia. A expectativa do hexa tomou Depois do título de Zidane, o Mun-
conta dos brasileiros, que apoiaram dial da Rússia vê despontar uma
a seleção brasileira. No fase de outra estrela francesa: Kylian
grupos, o Brasil encarou as seleções Mbappé. Eleito o melhor jogador
da Sérvia, Suíça e Costa Rica. jovem do torneio, o craque tem
tudo para se tornar lenda.
ESPECIAL Terça-feira
1 de Janeiro de 2019 29
Alberto Pegado

O sector da Saúde é uma das

áreas vitais que requer uma
atenção redobrada das auto-
DESENVOLVIMENTO DE IMPACTO
ridades, mas, para isso, é pre-
ciso que se criem políticas
consentâneas para que o in-
vestimento se reflicta na vida
da população.
Saúde dá passos
Nos últimos tempos há
sinais de alguma mudança,
mas ainda longe do esperado.
para a melhoria
dos serviços
Mas se olharmos para aquilo
que está a ser projectado,
pode-se concluir que o Exe-
cutivo está apostado em re-
verter o quadro.
As acções em curso fa-
zem-nos pensar que, daqui
em diante, o sector pode ser
bem servido, quer em meios
técnicos e humanos quer em
infra-estruturas, a maioria
das quais a merecer obras de
recuperação.
É o caso do Hospital Sa-
natório de Luanda, que cuida
de pessoas com tuberculose
e outras do foro respiratório,
que, à luz da Linha de Crédito
da China, beneficia de obras
de recuperação.
Depois de concluída, a
unidade sanitária terá outra
designação e funcionalida-
de. Não será apenas para
atender pessoas com tu-
berculose. Será transfor-
mado num instituto
multidisciplinar para tratar
de todas as doenças do foro
respiratório, algumas tro-
picais e cirurgia cardíaca.
A ministra da Saúde, Sílvia médicos, enfermeiros, téc- díaca do Hospital Josina Ma- Com o encerramento dos do século XXI".
Lutucuta, informou que o nicos de laboratórios e ou- chel, em Luanda, deixou de serviços, a equipa médica foi Neste encontro, o basto-
Hospital Sanatório de Luanda tros, foi uma nota de destaque funcionar. Em causa esteve para o desemprego com toda nário da Ordem dos Enfer-
vai ser uma unidade de re- em 2018. No total, foram dis- uma dívida do Ministério da a experiência adquirida, sem meiros de Angola garantiu
ferência e de grandes dimen- ponibilizadas 7.667 vagas. No Saúde para com a empresa salários e sem indemnização. continuar a trabalhar no sen-
sões com capacidade para entanto, a titular da pasta da Intercontinental Trading Uma cirurgia realizada no tido de contribuir para que
300 camas. Ministra Silvia Lutucuta Saúde reconheceu, em diversas Company Lda (ITC), que, Hospital Josina Machel pou- a taxa de mortalidade infantil
A unidade vai dispor de ocasiões, que o concurso pú- além de anular alguns ser- pava 80 mil dólares aos cofres chegue a dois mortos por
serviços cardiotoráxicos, Saúde. Nos hospitais públicos, blico não iria resolver os pro- viços, não pagava salários do Estado, valor que a Junta cada mil nascidos vivos.
imagem, laboratório, con- o atendimento melhorou con- blemas do sector, que carece aos trabalhadores, há mais Nacional de Saúde paga no Paulo Luvualo disse que
sultas e internamento com sideravelmente. Os medica- de mais investimento. de seis meses. exterior a apenas um paciente. em Angola existe uma con-
tecnologia de ponta, com 50 mentos e o acesso a serviços Ainda em Agosto, a mi- A ITC mantinha um acordo Numa clínica privada, o preço tradição em termos de dados
novos médicos, enfermeiros outrora difíceis começam, de nistra da Saúde declarou que com o Ministério da Saúde fica acima de 50 mil dólares. da mortalidade infantil, pois
e técnicos de diagnóstico. forma tímida, a fazer parte Angola conta com 6.400 mé- para a instalação de equipa- Nesta unidade, 35 cirurgias o indicador múltiplo de saúde
O novo edifício, que está do passado. dicos para uma população de mentos, formação de espe- cardíacas foram feitas em revela que a taxa baixou de
a ser erguido num espaço de A ministra Sílvia Lutucuta mais de 28 milhões de habi- cialistas angolanos e oito meses, após a paralisação 115 para 44 óbitos em cada
30 mil metros quadrados, deu garantias de melhores tantes, número considerado exploração da área de car- deste serviço. Destas opera- mil crianças nascidas vivas.
com três andares, vai dispor dias para o sector. "O Minis- insuficiente. diologia, por um período de ções, apenas duas não tiveram Mas, explicou, os dados da
de cinco torres e está orçado tério tem melhorado, a cada Sílvia Lutucuta alegou dez anos, iniciado em 2008. sucesso devido ao quadro Central de Inteligência Ame-
em 157 milhões de dólares. dia que passa e os doentes que é preciso haver um es- Alguns médicos expatria- crítico que os pacientes apre- ricana (CIA), realizados em
Os trabalhos encontram- têm sido atendidos sem so- forço redobrado para atingir dos acabaram por regressar sentavam. Semanalmente 2018, mostram que é de 68
se em fase de execução na bressaltos. Estamos a trabalhar as metas definidas pela Or- aos seus países por falta de eram operados dois pacientes, por cada mil.
ordem dos 12 por cento. Além com o Ministério do Interior ganização Mundial da Saúde salários. Os trabalhadores an- além de doentes que recebiam Os dados colocam Angola
do Hospital Sanatório de no sentido de detectar as pes- (OMS), segundo a qual o rácio golanos afirmaram que os es- implantes de pilhas. em décimo segundo lugar,
Luanda, está também em soas que procedem ao desvio deve ser de um médico para pecialistas estrangeiros Luanda acolheu o 4.º Con- entre 195 países do mundo
construção o Hospital Materno de medicamentos e equipa- 1.000 habitantes. (cubanos e brasileiros) tinham gresso dos Enfermeiros de e em décimo primeiro a nível
Infantil de Camama. mentos.” a responsabilidade de formar Angola que decorreu sob o de África, e segundo na região
Com inúmeras acções, O concurso público reali- Serviços encerrados quadros nacionais para, mais lema “A contribuição da en- dos PALOP com a taxa mais
2018 é visto como o ano de zado em Agosto, para o preen- No mês de Março, o serviço tarde, o Ministério da Saúde fermagem na promoção da alta.
mudança para o sector da chimento de vagas, entre de Cardiologia e Cirurgia Car- dar continuidade aos serviços. saúde em Angola os desafios

08 - FEV 22 – MAI 19 – JUL

Rafael Marques ganha prémio Universidades lusófonas reunidas
Titular do Poder Executivo é in- Herói da Liberdade de Imprensa no Lubango. Secretária de estado
formado que a conclusão das Galardão do Instituto Interna- de Portugal defende trabalho
obras de infraestruturas da pro- cional da Imprensa destaca "luta "em rede" de todas as universi-
víncia de Luanda, com a visita à anti-corrupção" do jornalista e dades. O encontro tem como ob-
vala de drenagem Cazenga/Ca- pede fim da perseguição. "Or- jectivo melhorar o intercâmbio
riango/Benfica está condicionada gulho e surpresa", diz Rafael entre as instituições.
à disponibilidade financeira. Marques..

30 - OUT 5 – NOV 15 – NOV

Arranca oficialmente em todo o Inventores angolanos conquistam Depois de conquistar uma me-
país a Operação Resgate, com em Nuremberga, Alemanha, uma dalha de prata e duas de bronze
objectivo de repor-se a autoridade medalha de ouro, cinco de prata na Feira de Ideias, Invenções e
do Estado. Ministro do Interior e três de bronze. Os angolanos Novos Produtos em Nuremberga
afirma que a autoridade tem sido apresentaram 19 ideias e invenções – Alemanha, o inventor/criador
ferida e levado à alteração de e fazem a sua nona participação angolano Helder Silva ficou com
condutas e comportamentos com no evento de Noremberg, onde o segundo lugar da Feira INNO-
implicações na segurança. já conquistou 67 medalhas. VAWORLD e INNOVA SOCIAL 2014.
30 ESPECIAL
Negligência pública também
mata nas estradas nacionais
Nhuca Júnior
“Ainda vamos a tempo de
evitar [mais] mortes”, afir-
mou o engenheiro civil An-
tónio Venâncio, quando
comentava, na sua página do
Facebook, a opinião do autor
destas linhas sobre a confi-
guração geométrica dos re-
to r n o s c o n s t r u í d o s n a s
principais estradas da pro-
víncia de Luanda, um assunto
levantado pelo engenheiro,
que defende a sua alteração.
“Solução?”, interroga-
se António Venâncio, que
também deu ele próprio a
resposta à sua pergunta:
“corrigir”. O texto postado
na sua página do Facebook
resulta do facto de ter veri-
ficado que, à entrada de Ca-
cuaco, “mais um infeliz
cidadão terá seguramente
perdido a vida ontem”.
No entender de António
Venâncio, nunca é demais
insistir para que seja alterada
a configuração geométrica
dos retornos construídos nas
estradas de Luanda.
António Venâncio alerta,
no texto, que os retornos estão
mal desenhados, além de que
não havia necessidade de se-
rem construídas “barreiras
intransponíveis” com sepa-
radores de betão. O especia-
lista em Engenharia Civil
comenta que “uma boa mar-
cação horizontal no pavi-
mento com material flexível
para a prevenção seria sufi-
ciente para separar”.
António Venâncio subli-
nha que “só pode ser uma
impiedosa incúria e um de-
mérito para o construtor es-
t ra ng e i ro q u e a s s i m o s
concebeu”, se deixar como
estão, matando “pobre gente
inocente”, uma negligência
que aumenta com a falta de
iluminação nocturna.
O engenheiro civil admi-
tiu que, qualquer dia, alguma
família enlutada venha a
decidir processar o Estado
por “negligência assassina”.
“Vocês ainda me darão
razão!”, acentuou no texto
António Venâncio, um en-
genheiro civil bastante in-
terventivo no Facebook, por
via do qual faz interessantes
comentários sobre assuntos
ligados à sua área de forma-
ção académica.
O debate virtual, levantado
por António Venâncio, foi en-
riquecido com vários comen-
tários, um dos quais de
Marinela Matos Flora, que,
resumidamente, reflecte o
pensamento geral: “Arran-
jou-se uma maneira airosa
de imputar a culpa sempre ao
cidadão: excesso de veloci-
dade. Assim, o Estado pode
fazer tudo: deixar degradar
as estradas; permitir que os
camionistas deixem os pe-
dregulhos a meio da via; per-
mitir que haja falta de
iluminação e de sinalização;
deixar que as máquinas fi-
quem no meio da via em obras;
quebra molas sem sinalização
em estradas nacionais, etc.”
O longo intróito serve para
justificar a pertinência de
mais uma abordagem de fim-
de-ano sobre o estado das
estradas de Luanda, um ano
depois de ter sido feito um
exercício similar, na espe-
rança de melhoria da segu-
rança rodoviária, para peões
e automobilistas, ao longo
do ano terminado ontem.
O problema mantém-se,
sendo humanamente im-
possível ter à noite uma con-
dução defensiva em Luanda,
realidade extensiva a todo o
país, por ser ainda deficiente
o sistema de iluminação pú-
blica, facto reflectido no nú-
mero de acidentes de viação
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
INSEGURANÇA RODOVIÁRIA
que ocorrem no período noc- como se fossem autênticas de passagens pedonais. A Provincial de Luanda de que-
turno em qualquer via da crateras, sem reflectores nos iluminação pública não é rer fazer, a falta de ilumi-
província, seja ela primária, separadores das faixas de ro- uma responsabilidade da nação pública deixa de ser
secundária ou terciária. dagem e com retornos nas Empresa Nacional de Elec- um problema, porque todos
Não seria correcto afirmar mesmas condições, sendo tricidade (ENDE), mas sim os anos há verbas”.
que, em Luanda, há falta de estes já um empecilho devido dos governos provinciais, O Governo Provincial de
iluminação pública. Na ver- à sua configuração geomé- não sendo por isso com- Luanda está dentro da carteira
dade, o sistema de iluminação trica, reprovada pelo enge- preensível que, havendo de “clientes especiais”, que
pública sempre foi deficiente, nheiro António Venâncio. anualmente alocação de ver- são aqueles que têm grande
não havendo um “período O sistema de iluminação bas para iluminar Luanda, consumo de energia. A ENDE
áureo” de que os luandenses pública na província de Luan- a capital angolana continue, vende energia de média ten-
se podem lembrar. da é deficiente por funcionar frequentemente, às escuras. são ao Governo Provincial
O deficiente sistema de ilu- como ilhas, devido à existên- Será que, havendo mortes de Luanda para este órgão da
minação pública não é o único cia, em todas as vias, de troços nas estradas, por falta de ilu- administração local do Estado
grande obstáculo à segurança com candeeiros acesos e troços minação pública, o Estado iluminar as vias da capital
rodoviária em Luanda, mas a com candeeiros apagados. não estará a cometer “ho- angolana. A ENDE é também
falta de luz aumenta, em gran- Esta é a paisagem nocturna micídio por negligência”? cliente, por comprar à Rede
de medida, a dificuldade do de Luanda, em cuja província Em 2017, um engenheiro Nacional de Transporte (RNT)
motorista quando estiver a os atropelamentos ocorrem da ENDE disse ao autor des- energia de alta tensão para
circular, por exemplo, por a qualquer hora do dia e da tas linhas que, “se houver abastecer em baixa tensão
uma via com buracos, alguns noite e alguns mesmo ao lado boa vontade do Governo os “clientes especiais”, como
as unidades fabris e os go-
vernos provinciais. A RNT
Resgate da urbanidade em todo o país compra, por sua vez, energia
eléctrica à Empresa de Pro-
dução de Electricidade.
O Governo Provincial de Luanda instalou nas deravelmente, uma vitória da Polícia Nacional Curiosamente, nos últimos
vias mais movimentadas da capital passagens que ficou beliscada na celebração do Natal, meses, o sistema de ilumi-
pedonais para dar maior segurança aos tran- durante a qual foram registados 118 acidentes nação pública não funciona
seuntes, no âmbito de um projecto de prevenção de viação com 23 mortos e 125 feridos, mais 78 só como “ilhas”, uma vez que
rodoviária com o objectivo de reduzir signifi- acidentes, sete mortos e 54 feridos em comparação agora várias lâmpadas ficam
cativamente o número de atropelamentos. com o balanço de 2017. Os números do Natal todo o dia acesas, um cenário
Ainda há resistência por parte de peões que de 2018 trazem à reflexão a necessidade de ins- verificado, sobretudo, na Ave-
insistem em atravessar a estrada, mesmo talação de câmaras de videovigilância para uma nida Deolinda Rodrigues e
quando ao lado de si há pedonais, uma im- maior fiscalização do trânsito rodoviário. na Via Expresso, um assunto
prudência que tem sido fatal, nos períodos que tem sido motivo de con-
AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO
diurno e nocturno. À noite, muitos optam por versa por pessoas que habi-
atravessar a via por receio de serem assaltados tualmente circulam por estas
nas pedonais em áreas sem iluminação pública. duas movimentadas vias da
O combate à imprudência na estrada tem província de Luanda.
sido feito há dois meses, no âmbito da “Operação Há pessoas que, de forma
Resgate” que, entre outros objectivos, está jocosa, afirmam que o Go-
também direccionada à sensibilização dos verno Provincial de Luanda
peões no que toca à necessidade de fazerem não deve “estar nem aí”
uso das pedonais e passadeiras, um apelo com o slogan “corrigir o que
também extensivo aos automobilistas para está mal e melhorar o que
respeitarem a passadeira e terem uma condução está bem”, ao deixar que
prudente, fora e dentro das localidades. lâmpadas fiquem acesas
A “Operação Resgate” é mais um elemento durante todo o dia. Com as
que se junta à estratégia de prevenção rodoviária, lâmpadas acesas, o Governo
que, em 2018, introduziu o uso do “bafómetro”, Provincial de Luanda só
aparelho que permite determinar a concentração vem aumentar a “dívida
de bebida alcoólica, analisando o ar exalado eterna” que tem com a Em-
dos pulmões de uma pessoa. O número de aci- presa Nacional de Distri-
dentes de viação e de vítimas diminuiu consi- Imagem que espelha a negligência de muitos peões buição de Electricidade.
ESPECIAL
Nhuca Júnior
Bonitas e inteligentes. O fu-
turo de ambas estava marcado
para o sucesso profissional.
Mas, infelizmente, já não
estão no mundo dos vivos.
Tiveram, inesperadamente,
um fim trágico. Foram as-
sassinadas por pessoas in-
suspeitas: os maridos. A
primeira era médica e a se-
gunda advogada, duas pro-
fissões com gritante défice
de quadros em Angola.
A médica Dílvia Frederico
Matias, licenciada em 2013
pela Universidade Jean Piaget,
em Luanda, casou-se em 2014
e no ano seguinte conseguiu
uma colocação no Hospital
Geral do Dundo, capital da
província da Lunda-Norte.
O marido, desempregado,
condição que a mulher só
descobriu depois do casa-
mento, decidiu ir ao encontro
da médica. A relação já não
era boa por ela ter sido en-
ganada pelo marido, quando
ocultou que havia sido afas-
tado da Administração Geral
Tributária (AGT), por ter con-
seguido o emprego com re-
curso, presumivelmente, a
um certificado de habilitações
literárias falso.
O marido ficou em Luan-
da à procura de emprego,
uma decisão a que renun-
ciou, tendo decidido unila-
teralmente ir para a
Lunda-Norte, onde o ciúme
e os receios de que a mulher
pudesse ter outra relação
aumentaram gradativamente.
As brigas passaram a ser
uma constante, com a mulher
a já não querer continuar a
relação com o marido “im-
bumbável”. Chegaram a estar
separados, mas, depois de
seis meses, voltaram, a pedido
Preocupação
Mundo violento
Uma em cada três mulheres é
vítima de violência sexual ou física
no mundo. Ao todo, 49 países
ainda não têm leis que protegem
as mulheres da violência doméstica.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
da mãe da médica, que dizia
à filha que os desentendi-
mentos eram uma fase pas-
sageira. Uma garantia que o
marido dava à sogra quando
ia chorar “baba e ranho” para
a senhora convencer a filha
a mudar de ideias. Uma de-
cisão que veio a ser fatal, por-
que o marido nunca quis
aceitar a ideia de separação,
exteriorizada nas discussões,
em que reiteradamente dizia
que “se não ficas comigo, não
ficas com mais ninguém”.
A médica foi barbaramen-
te assassinada no dia seguinte
ao seu regresso da província
de Luanda, onde esteve, du-
rante uma semana, a fazer
uma formação.
Na noite do homicídio, o
casal chegou a casa a discutir,
cujo barulho foi ouvido por
vizinhos. Já em casa, a dis-
cussão continuou, tendo a
médica conseguido livrar-
se do marido e fugido.
Foi perseguida pelo marido
que, quando a alcançou, a
segurou pelos cabelos, ar-
rastando-a de volta para casa.
Ela gritava por ajuda e,
quando apareceram alguns
rapazes do prédio em que
vivia, o marido dizia que era
uma briga de casal, ao que a
médica dizia ser mentira por-
que ele já não era seu marido.
Os jovens decidiram recuar.
O marido conseguiu o que
queria: pôr a mulher dentro
de casa, onde executou o as-
sassinato com requintes de
crueldade. Depois de uma
forte agressão física, a médica
perdeu os sentidos, o que
terá levado o marido a pensar
que já estivesse morta. Regou
o corpo com gasolina e, a
partir da varanda do apar-
tamento, esteve a assistir à
morte da pessoa que um dia
Pensamento da ONU
Pandemia global
O Secretário-Geral da ONU, o por-
tiguês António Gueterres, declarou,
em 2018, que a violência contra
mulheres e meninas é uma “pan-
demia global”.
Mortes que trazem
à reflexão a necessidade
de endurecimento
das penas
fez juras de amor. Já foi julgado
pelo Tribunal Provincial da
Lunda-Norte, que o condenou
a 24 anos de prisão, pena maior
em Angola, que a sociedade
já acha ser muito branda para
os casos de homicídio.
No dia em que os restos
mortais da vítima foram
transladados para Luanda,
a cidade do Dundo parou li-
teralmente, com pessoas nas
ruas por onde passou o carro
funerário, num gesto de re-
conhecimento pelo trabalho
desempenhado pela médica,
que salvou várias vidas no
curto período em que exerceu
medicina na província. Dílvia
Frederico Matias tinha apenas
30 anos e foi assassinada em
Maio de 2018.
Crime que chocou Luanda
Seis meses depois, mais um
“amor bandido” enlutou uma
família, a da advogada Carolina
Joaquim de Sousa, cujo marido
conseguiu enganar “meio
mundo” ao simular que a mu-
lher teria estado desaparecida,
depois de a ter supostamente
deixado numa paragem de
táxi, no Zango, para se deslocar
ao serviço, um conhecido es-
critório de advogados. A men-
tira tem pernas curtas. Em
dois dias, o Serviço de Inves-
tigação Criminal (SIC) des-
cobriu o corpo da mulher na
fossa séptica da moradia em
que vivia.
A advogada Carolina Joa-
quim de Sousa morreu aos
26 anos e licenciou-se em
Direito aos 21, pela Univer-
sidade Gregório Semedo, onde
depois passou a dar aulas.
Carolina Joaquim de Sousa
contraiu matrimónio com
Olívio Silva em 2014, curio-
samente, no mesmo ano em
que a médica também se uniu,
Muitas mulheres são assassinadas
em casa pelo companheiro ou fa-
miliares, o que faz da própria mo-
radia “o lugar mais perigoso para
uma mulher”, indica um relatório.
Feminicídio
Número da violência
Um relatório sobre feminicídio
revela que mais de 50 mil mulheres
são assassinadas anualmente por
companheiros actuais ou passados,
pais, irmãos e outros parentes.
31
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
pelo casamento, a Vando Há uma semana, um cri- à lida doméstica, encontran-
Cambinda. O marido da ad- me por razões passionais do-se muitas num patamar
vogada aguarda detido pelo também ocorreu numa lo- profissional e social superior
julgamento, que pode ocor- calidade do Bié, cuja vítima ao dos seus parceiros que, se
rer ainda este ano. é uma jovem que estava no não conseguirem gerir a si-
No funeral, uma amiga segundo ano da Faculdade. tuação, podem fazer asneiras,
desabafou que Olívio Silva O marido, que só tem a às vezes, premeditadas.
tinha “ciúme doentio” da oitava classe, matou a mulher Embora não seja conhecido
mulher, um sentimento que e lançou o corpo a um rio. o número de casos de violência
já manifestava durante o na- Na província do Bié, fo- doméstica, o avolumar de cri-
moro, período em que a ad- ram registados, no ano pas- mes deste tipo cometidos no
vogada chegou a pensar em sado, 79 crimes passionais ano passado pôs em alerta a
pôr fim à relação, que só com 17 óbitos. sociedade, razão pela qual já
continuou depois de o pre- Por que razão maridos se defende a revisão da Lei
tendente ter garantido que matam as suas mulheres? contra a Violência Doméstica,
mudaria de comportamento. Por uma suposta traição? existente há sete anos, estando
Nunca mudou e a prova está Um argumento sempre uti- a iniciativa a ser liderada pelo
no facto de ter feito osten- lizado pelos algozes e que Ministério da Acção Social,
sivamente desvio de cha- nem sempre tem fundamen- Família e Promoção da Mulher.
madas do telemóvel da to, por não corresponder à O assassinato da advogada
mulher para o seu, uma for- verdade. As razões podem Carolina Joaquim de Sousa
ma de ter o controlo da es- ser outras e uma delas é a deu origem à realização, há
posa que o ajudou, segundo raiva que sentem devido à dias, em Luanda, de uma
a amiga, a formar-se no cur- progressão profissional e marcha de repúdio contra
so de Economia, por via do académica das parceiras. aquele tipo de crimes, em
qual fazia “alguns bicos” No Mundo moderno, a memória de todas as vítimas
como consultor, por estar função social da mulher já de violência doméstica, in-
desempregado. não se resume à cozinha ou cluindo homens.
Consulta pública para a revisão da lei
O processo de revisão da Lei contra a Violência para o quinquénio 2018-2022 recomenda a cons-
Doméstica é uma realidade. Está a decorrer uma trução de uma casa de abrigo e um centro de
consulta pública. A primeira fase do processo aconselhamento em cada província.
de revisão decorreu de Maio a Dezembro de 2018 Actualmente, existem dez casas de abrigo,
e a segunda fase está prevista para ocorrer de distribuídas pelas províncias do Bié, Cabinda e
Janeiro a Março deste ano. Depois da redacção Uíge, 11 centros de aconselhamento e 117 salas
da proposta do novo diploma, que se vai chamar de aconselhamento, em 119 municípios.
Lei Contra a Violência Baseada no Género, o Exe-
cutivo vai enviar o documento para a Assembleia AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Nacional para aprovação. Enquanto não existir
uma nova lei, a actual vai continuar a ser um in-
centivo ao hábito de denúncias, porque ela foi
criada para educar e despertar a sociedade sobre
a existência de actos de violência.
A actual Lei contra a Violência Doméstica não
impõe a reeducação do agressor, sendo esta
uma das lacunas do diploma ainda em vigor.
Embora conste da Lei, as casas de abrigo para
vítimas de violência não existem em todas as
províncias. O Plano de Desenvolvimento Nacional
Lugar inseguro Violação de direitos
Mortas em casa Violência por regiões
As regiões do planeta que menos
garantem os direitos das mu-
lheres continuam a ser a África
Subsaariana, a Ásia Meridional
e o Médio Oriente.
Legislação
Hungria e Rússia
A Hungria é o único país da União
Europeia (UE) que não pune o
assédio sexual. A Rússia, país
que não pertence à UE, descri-
minalizou a violência de género.
32 ESPECIAL
As diferentes faces de Luanda
Capital continua
igual a si mesma
Luciano Rocha |
Luanda chega ao fim de mais
um ano praticamente igual,
em alguns casos até pior, a
como começou, nível de
iluminação eléctrica, pública
ou domiciliária, tal como a
água potável, trânsito auto-
móvel e pedonal, lixo, estado
das vias, insegurança.
Estado das vias
Becos, ruas, avenidas, quase
tudo o que sejam vias de cir-
culação automóvel, por de-
ficiente construção, idade,
mau uso, falta de manuten-
ção e limpeza, continuaram,
salva raras excepções, a de-
gradar-se, tal como os pas-
seios, com consequências
negativas para viaturas, con-
dutores, transeuntes e ima-
gem da própria capital e do
resto da restante província,
onde se situa.
19 - NOV
Médicos declaram greve de três
dias em todo o território nacional,
mas salvaguardando os serviços
mínimos. A classe reivindica con-
dições de habitabilidade para os
médicos colocados nos municí-
pios, fora das capitais.
Nos últimos meses, al-
gumas artérias foram repa-
rada s , outra s ap ena s
remendadas, a dar-lhes o
aspecto de cobertor reta-
lhado. Com os passeios pas-
sou-se o mesmo. Mas, os
buracos e buracões, autên-
ticos alçapões para automo-
bilistas e peões, continuaram
a distinguir Luanda. Com os
inconvenientes que isso
acarreta. A nível da integri-
dade física e monetária.
Os parques de estaciona-
mento automóvel mantive-
ra m - s e p rat i ca m e nte
inexistentes, com os condu-
tores a “arrumarem” as via-
turas em tudo que é espaço
vazio: passeios, passadeiras,
esquinas, em frente a portões
de quintais e garagens par-
ticulares. O que contribuiu
para o caos do tráfego rodo-
viário e pedonal.
A juntar a tudo isto, e mais
uma quantidade quase in-
13 - MAR
Chefe de Estado autoriza o lan-
çamento do procedimento de
contratação simplificada para a
assinatura do contrato de em-
preitada de obras públicas para
reabilitação, ampliação e ape-
trechamento do Hospital Sanatório
de Luanda.
finita de impedimentos à
normal circularão de carros
e transeuntes, houve a falta
de passadeiras, as quase in-
visíveis devido à tinta des-
botada pelo tempo e as que,
por distracção de quem as
pintou ou falta de tinta, se
ficaram pela metade das ar-
térias, cabos e tubos, de toda
a espécie, a saírem do solo,
árvores e candeeiros públicos
tombados por terra, falta de
semáforos, separadores de
vias sem reflectores que os
tornassem visíveis a auto-
mobilistas e peões na escu-
ridão da noite.
Condutores, cobradores,
“lotadores” de táxis colec-
tivos, zungueiras e zunguei-
ros sem zunga, traficantes
ilegais de moeda, que enci-
maram a pirâmide de ilega-
lidades visíveis a olho nu,
principalmente os últimos,
ajudaram,igualmente, a
manter o pandemónio em
Entra em vigor o regime de isenção
e simplificação para a concessão
do visto de turismo determinado
por decreto presidencial. Angola
passa assim a isentar de vistos
de turismo cidadãos de 61 países,
para permanência de até 30 dias,
por entrada.
05 - DEZ
Chefe da brigada que dirigiu
operação contra zungueiras
em Luanda foi suspenso. Co-
missão Administrativa da Ci-
dade de Luanda abre inquérito
à acção considerada “excesso
de zelo”.
Luanda, numa demonstração
que a “Operação Resgate”,
que acudiu a algumas situa-
ções, frise-se, terminou 2018
longe de atingir os objectivos
propostos.
Após os primeiros dias,
em que se verificou ligeiro
desanuviamento na balbúr-
dia luandense, a confusão
regressou. Candongueiros e
moto táxis voltaram a parar
e estacionarem onde qui-
seram, não raro, perante a
passividade de agentes da
Polícia, com todo o cenário
que os rodeia e provocam.
Principalmente os “lotado-
res” em correrias, constan-
tes, pregões que mais
parecem ameaças, discus-
sões entre eles, com even-
tuais clientes e os próprios
motoristas. Muitos dos pas-
seios, devolvidos aos peões
nos primeiros dias da “Ope-
ração Resgate”, em breve se
transformaram, outra vez,
em amontoados de pequenas
kitantas e postos de venda
de dinheiro.
Entre artérias restauradas
ou remendadas e “resgates”
possíveis, houve coisas po-
sitivas. como o das passa-
deiras aéreas , agora com a
função pela qual foram cria-
das depois de desimpedidas
das “bancas” de “vender tu-
do” e a boca de esgoto, na
Rua da Alfândega, tapada
após mais de uma década
aberta, num perigo perma-
nente para os milhares de
peões e de viaturas automó-
veis que diariamente circu-
lam por ali..
30 - MAR
Água e luz
Os sistemas de electricidade
e água potável, tanto a nível
domiciliário, como púbico,
sem terem atingido os níveis
desejados, melhoraram na
parte final do ano que já lá
vai.
O manto de escuridão que
cobria praticamente Luanda,
de uma ponta à outra, mal
o sol se punha, deixou de ser
tão vasto nos últimos dias
de 2018, embora haja zonas,
onde se manteve, num con-
vite ao crime, atropelamentos
e colisões automóveis. Mas,
se há candeeiros públicos
que continuaram ininter-
ruptamente apagados, outros,
alguns nas mesmas artérias,
mantiveram-se acesos noite
e dia. Os semáforos é que
passaram a ser apenas ob-
jectos sem utilidade.
Com a água, a situação
foi idêntica. Houve áreas,
onde escasseou, enquanto
noutras sobrava. Ao ponto
de escorrer, pela via pública,
durante horas a fio, às vezes
dias, em caudais, com várias
ramificações.
Lixo e desmazelo
Luanda adormeceu em 2018
suja e desmazelada e acordou
este ano na mesma devido
a uma série de circunstâncias
por demais conhecidas, com
consequências nefastas.
A situação, com culpas re-
partidas, transformou-a num
viveiro gigante de doenças
trazidas pelos mosquitos, mas
também por baratas, ratos,
que se passeiam, dia e noite,
Ministra da Educação exara um
despacho, no qual determina o
encerramento do complexo escolar
“American School of Angola” por
estar a funcionar à margem da
lei. O estabelecimento foi inau-
gurado pelo antecessor.
18 - DEZ
Polícia Nacional expulsa mais de
120 agentes por prática de crimes.
Mais 46 encontram-se presos por
outros crimes. Comandante-geral
alerta que não vai permitir que
agentes da Lei pratiquem actos
que envergonhem a corporação.
Terça-feira
1 de Janeiro de 2019
nas ruas imundas, com con-
tentores sem tampa, alguns,
nem fundo, na companhia de
cães e gatos vadios.
Luanda continuou a ser
em 2018 uma cidade suja e
mal cuidada. Com árvores
por podar, troncos do que
restam de alguma delas, caí-
dos na via pública. Junta-
mente com postes de
iluminação pública e sinais
de trânsito derrubados, sar-
jetas entupidas por falta de
limpeza ou propositadamen-
te tapadas, bocas de incêndio
sem água, capinzais por cor-
tar, carência de espaços ver-
des e parques infantis, leitos
secos de lagoas de águas da
chuva à espera que ela caia
para os encher.
Luanda terminou também
2018 com placas toponímicas
insultuosas, edifícios patri-
moniais abandonados, parte
do Museu das Forças Armadas
tapado por prédio destinado
a centro de consumo. E trans-
formada, toda ela, num “uri-
nol público a céu aberto”.
Notas de realce, pela po-
sitiva, a juntar à tampa que,
ao fim de anos, foi posta na
boca de esgoto da Rua da Al-
fândega, o combate à con-
dução automóvel sob efeito
de álcool, a “Operação Res-
gate”, apesar de deficiências
verificadas. Destaque, ain-
da, para a aprovação, pelo
Conselho de Ministros, do
novo modelo de recolha de
lixo doméstico, e entrar em
funcionamento já em 2019.
Que , para já, cria expec-
tativas e há-de fazer parte
do balanço de 2019.
06 - JUN