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Foi publicada, no dia 08/03/2019, a Lei nº 13.

810/2019, que dispõe sobre o cumprimento de


sanções impostas por resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Vejamos sobre o que ela cuida, mas, antes, é importante fazer algumas considerações
preliminares.

NOÇÕES PRELIMINARES
Organização das Nações Unidas (ONU)
A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização internacional, intergovernamental,
criada para promover a cooperação internacional.
Organização internacional é “uma associação de Estados estabelecida por meio de uma
convenção internacional, que persegue objetivos comuns aos membros e específicos da
organização, dispondo de órgãos próprios permanentes e dotada de personalidade jurídica
distinta da dos Estados-membros.” (CRETELLA NETO, José. Teoria Geral das Organizações
Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 44).

Conselho de Segurança da ONU


O Conselho de Segurança da ONU (CSNU) é o órgão interno das Nações Unidas (ONU)
responsável por garantir a manutenção da paz e da segurança internacional.
As decisões do CSNU são chamadas de “resoluções” e podem ser obrigatórias (vinculantes) ou
não-obrigatórias.
Caso o CSNU tenha editado uma decisão obrigatória, ela será vinculante para todos os
Estados-membros da ONU. Vale ressaltar que é possível até mesmo que o CSNU determine
intervenção militar em um Estado com o objetivo de garantir a execução de suas resoluções.
O Conselho de Segurança é composto por 15 membros, sendo 5 membros permanentes e 10
membros eleitos para mandato de 2 anos.
Os membros permanentes são os seguintes: EUA, China, Rússia, Reino Unido e França.

Brasil deve cumprir as Resoluções do CSNU


O Brasil é membro da ONU, tendo assinado e promulgado a Carta das Nações Unidas (Decreto
nº 19.841/45).
Por essa razão, as resoluções do CSNU são obrigatórias para o Brasil, conforme previsto no
artigo 25 da Carta das Nações Unidas:

Artigo 25. Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do
Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta.

Sanções impostas pelo CSNU


O Conselho de Segurança da ONU pode impor sanções a países, bem como a pessoas físicas ou
jurídicas. Essas sanções são aplicadas por meio de resoluções.
Dentre as sanções existentes, o CSNU pode determinar a indisponibilidade de ativos que
pertençam à pessoa física ou jurídica punida.
Normalmente, o CSNU aplica tais sanções a pessoas que tiveram participação comprovada no
financiamento ou na prática de ações terroristas.

Lei nº 13.170/2019
A Lei nº 13.170/2019 regulamenta como deverá ser o cumprimento das sanções impostas pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas em nosso país, ou seja, ela disciplina como o Brasil
irá cumprir as Resoluções do CSNU.
Vamos verificar, resumidamente, o que dispõe essa Lei.

INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS
Como vimos acima, o Conselho de Segurança da ONU pode impor, por meio de resoluções,
punições (sanções) a:
• países;
• pessoas jurídicas (ex: empresas);
• e até mesmo a pessoas físicas (ex: ex-ditadores).

Dentre as sanções existentes, o CSNU pode determinar a indisponibilidade de ativos que


pertençam à pessoa física ou jurídica punida.
Normalmente, o CSNU aplica tais sanções a pessoas que tiveram participação comprovada no
financiamento ou na prática de ações terroristas.

O que são ativos?


Ativos são bens, direitos, valores, fundos, recursos ou serviços, de qualquer natureza,
financeiros ou não.
Ex: imóveis, automóveis, valores depositados no banco, ações, joias etc.

Quando se fala em “indisponibilidade de ativos”, o que se quer dizer com isso?


Indisponibilidade de ativos significa que o titular (“proprietário”) do ativo ficará proibido de
transferir, converter, trasladar (mudar de um lugar para o outro), disponibilizar ou dispor de
qualquer forma desse ativo, seja direta ou indiretamente.
Em palavras simples, é como se esse ativo ficasse “bloqueado” (indisponível).

Importante esclarecer que a indisponibilidade de ativos não constitui a perda do direito de


propriedade (art. 4º da Lei nº 13.810/2019). Assim, por exemplo, se o imóvel de um indivíduo
suspeito de ato de terrorismo é tornado indisponível, isso não significa que ele já tenha perdido
o domínio. Ele ainda continua sendo proprietário do bem até ulterior deliberação.

O que acontece se o ativo for alienado mesmo havendo uma determinação de


indisponibilidade?
Essa alienação será considerada nula e ineficaz, ressalvados os direitos de terceiro de boa-fé.
A Lei nº 13.810/2019 determina que:
Art. 5º São nulos e ineficazes atos de disposição relacionados aos ativos indisponibilizados
com fundamento nesta Lei, ressalvados os direitos de terceiro de boa-fé.

Hipóteses de indisponibilidade
A indisponibilidade de ativos de que trata a Lei nº 13.810/2019 ocorrerá nas seguintes
hipóteses:
1) por execução de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por
designações de seus comitês de sanções; ou
2) a requerimento de autoridade central estrangeira, desde que o pedido de indisponibilidade
esteja de acordo com os princípios legais aplicáveis e apresente fundamentos objetivos para
exclusivamente atender aos critérios de designação estabelecidos em resoluções do Conselho
de Segurança das Nações Unidas ou de seus comitês de sanções.

CUMPRIMENTO IMEDIATO E EXTRAJUDICIAL DAS RESOLUÇÕES DO CSNU OU DE


DESIGNAÇÕES DE SEUS COMITÊS DE SANÇÕES
Como ocorre essa indisponibilidade de ativos?

Antes da Lei nº 13.810/2019 Com a Lei nº 13.810/2019


A União tinha que, obrigatoriamente, ingressar com As resoluções sancionatórias do Conselho de Segurança
uma ação judicial de indisponibilidade. das Nações Unidas e as designações de seus comitês de
Essa ação era disciplinada pela Lei nº 13.170/2015, sanções são agora dotadas de executoriedade
que foi revogada pela Lei nº 13.810/2019. imediata no Brasil.
Não é necessária mais, em regra, uma ação judicial,
bastando a comunicação feita pelo Ministério da Justiça,
para as pessoas físicas e jurídicas, determinando a
indisponibilidade.

Veja o que diz a Lei nº 13.810/2019:


Art. 9º As pessoas naturais e jurídicas de que trata o art. 9º da Lei nº 9.613, de 3 de março
de 1998, cumprirão, sem demora* e sem prévio aviso aos sancionados, as resoluções do
Conselho de Segurança das Nações Unidas ou as designações de seus comitês de sanções
que determinem a indisponibilidade de ativos de titularidade, direta ou indireta, de pessoas
físicas, de pessoas jurídicas ou de entidades submetidas a sanções decorrentes de tais
resoluções, na forma e nas condições definidas por seu órgão regulador ou fiscalizador.

No art. 9º da Lei nº 9.613/98 estão listadas uma série de pessoas físicas e jurídicas, como, por
exemplo: bancos, bolsa de valores, seguradoras, empresas de leasing, factoring, vendedores
de joias, pedras preciosas, objetos de arte, antiguidades, juntas comerciais, registros públicos,
empresas de transporte de valores etc.
Tais pessoas serão informadas sobre a existência da sanção e deverão tornar os bens do
sancionado indisponíveis, mesmo sem ordem judicial.

* sem demora: significa “imediatamente ou dentro de algumas horas” (art. 2º, V).

Ministério da Justiça comunicará a existência das sanções aos órgãos públicos


Sem prejuízo da obrigação de cumprimento imediato, o Ministério da Justiça comunicará, sem
demora, as sanções de:
I - indisponibilidade de ativos aos órgãos reguladores ou fiscalizadores, para que comuniquem
imediatamente às pessoas naturais ou jurídicas de que trata o art. 9º da Lei nº 9.613/98;
II - restrições à entrada de pessoas no território nacional, ou à saída dele, à Polícia Federal,
para que adote providências imediatas de comunicação às empresas de transporte
internacional; e
III - restrições à importação ou à exportação de bens à Receita Federal, à Polícia Federal e às
Capitanias dos Portos, para que adotem providências imediatas de comunicação às
administrações aeroportuárias, às empresas aéreas e às autoridades e operadores portuários.

A comunicação de indisponibilidade também deverá ser feita:


I - às corregedorias de justiça dos Estados e do Distrito Federal;
II - à Agência Nacional de Aviação Civil;
III - ao Departamento Nacional de Trânsito do Ministério do Desenvolvimento Regional;
IV - às Capitanias dos Portos;
V - à Agência Nacional de Telecomunicações; e
VI - aos outros órgãos de registro público competentes.

Essas comunicações poderão ser feitas por via eletrônica, com confirmação de recebimento.

Tais resoluções são obrigatórias para todos


É vedado a todos os brasileiros, residentes ou não, ou a pessoas naturais, pessoas jurídicas ou
entidades em território brasileiro, descumprir, por ação ou omissão, sanções impostas por
resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por designações de seus comitês
de sanções, em benefício de pessoas naturais, pessoas jurídicas ou entidades sancionadas,
inclusive para disponibilizar ativos, direta ou indiretamente, em favor dessas pessoas ou
entidades.
Essa vedação aplica-se também aos órgãos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e às entidades da administração pública indireta.
Publicação no Diário Oficial
A resolução sancionatória e a designação do comitê de sanção devem ser cumpridas
imediatamente. No entanto, além disso, elas devem ser publicadas na íntegra, ou então o seu
extrato, no Diário Oficial da União, em língua portuguesa, para fins de publicidade.

AUXÍDIO DIRETO JUDICIAL


Auxílio Direto Judicial
Como vimos acima, em regra, todos os ativos do sancionado deverão ficar indisponíveis
mesmo sem decisão judicial.
Se forem descobertos, no entanto, ativos do sancionado que não foram tornados indisponíveis
pela via administrativa, essa situação deverá ser comunicada à Advocacia-Geral da União para
que promova, sem demora, o auxílio direto judicial.
Esse auxílio direto judicial é uma ação proposta pela União pedindo a indisponibilidade dos
ativos em relação aos quais não se conseguiu a medida na via administrativa.

Juiz deverá determinar a indisponibilidade sem oitiva do requerido


O juiz, ao receber o pedido, verificará se ele atende aos requisitos da Lei nº 13.810/2019 e,
em caso positivo, determinará, no prazo de 24 horas, contado da data do recebimento dos
autos, e sem a prévia oitiva do requerido, as medidas pertinentes para cumprimento da
sanção.
Vale ressaltar que a competência para conhecer desse pedido é do Juiz Federal de 1ª instância,
nos termos do art. 109, I e III, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as
de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
(...)
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional;

Citação do requerido
O juiz ordenará a citação do requerido para, caso deseje, impugnar a determinação no prazo
de 15 dias, contado da data da citação.
Repare que o termo utilizado pela Lei é impugnação (e não contestação).

Impugnação
A impugnação não terá efeito suspensivo e as únicas matérias que o requerido poderá alegar
serão as seguintes:
I - homonímia (o indivíduo que foi sancionado pela CSNU possui o mesmo nome que eu, mas
se trata de uma outra pessoa);
II - erro na identificação do requerido ou dos ativos que sejam objeto de sanção;
III - exclusão do requerido da lista de sanções, por força de resolução proferida pelo Conselho
de Segurança das Nações Unidas ou por designação de seus comitês de sanções; ou
IV - expiração do prazo de vigência do regime de sanções.

Oitiva da União
A União será ouvida sobre a impugnação no prazo de 15 dias, contado da data da intimação.

Sentença
Havendo ou não a impugnação, o juiz proferirá sentença.
Se não houver interposição de recurso, os autos serão arquivados.
Ação revisional
Na hipótese de sobrevir a exclusão posterior do requerido da ação originária da lista de
pessoas sujeitas ao regime de sanções ou qualquer outra razão que, segundo o Conselho de
Segurança das Nações Unidas ou seus comitês de sanções, fundamente a revogação da
sanção, as partes poderão ingressar com ação revisional do que foi estatuído na sentença.

AUXÍLIO DIRETO JUDICIAL A REQUERIMENTO DE AUTORIDADE CENTRAL


ESTRANGEIRA
Indisponibilidade de quem ainda só está sendo investigado
Pode acontecer de a pessoa física ou jurídica estar sendo investigada por atos de terrorismo
sem que tenha sido ainda sancionada.
Mesmo sem a existência ainda de sanção, será possível decretar a indisponibilidade dos ativos
como medida cautelar.
Para isso, no entanto, será necessário, obrigatoriamente, o auxílio direto judicial.
Assim, a União, após ser provocada pela autoridade central estrangeira, irá ingressar com o
pedido de auxílio direto judicial requerendo a indisponibilidade dos ativos. É o que prevê o art.
18 da Lei nº 13.810/2019:

Art. 18. A União poderá ingressar com auxílio direto judicial para indisponibilidade de ativos,
a requerimento de autoridade central estrangeira, de modo a assegurar o resultado de
investigações administrativas ou criminais e ações em curso em jurisdição estrangeira em
face de terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados.

Procedimento
• A autoridade central estrangeira formula requerimento ao Governo brasileiro pedindo a
indisponibilidade dos ativos de determinada pessoa.
• Neste requerimento, a autoridade central estrangeira deverá informar que há investigação ou
ação em curso no país estrangeiro para apurar atos de terrorismo, seu financiamento ou atos a
ele correlacionados. Além disso, deverá apontar fundamentos objetivos da participação da
pessoa titular dos ativos que se busca a indisponibilidade.
• Fundamentos objetivos consistem na existência de indícios ou provas da prática de
terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados, por pessoa natural ou por
intermédio de pessoa jurídica ou entidade, conforme disposto na Lei nº 13.260/2016 (Lei
Antiterrorismo).
• O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em coordenação com o Ministério das Relações
Exteriores, verificará, sem demora, se o requerimento de indisponibilidade de ativos formulado
por autoridade central estrangeira está de acordo com os princípios legais aplicáveis e
apresenta fundamentos objetivos para o seu atendimento.
• Verificado que o requerimento da autoridade central estrangeira está de acordo com os
princípios legais aplicáveis e apresenta fundamentos objetivos para o seu atendimento, o
Ministério da Justiça e Segurança Pública encaminhará, sem demora, o requerimento à AGU
para que promova, sem demora, o auxílio direto judicial, se houver elementos que demonstrem
a existência, no Brasil, de ativos sujeitos à medida de indisponibilidade.
• Conforme explicado, esse pedido é de competência da Justiça Federal de 1ª instância.
• O procedimento judicial será o mesmo que já foi exposto acima, ou seja, o juiz deferirá a
medida sem oitiva do requerido; em seguida, ele será citado e poderá apresentar impugnação
sobre matérias restritivas; a União é ouvida em 15 dias, sendo, então, proferida sentença. A
única diferença é que no presente caso (auxílio direto judicial a requerimento de autoridade
central estrangeira), a impugnação poderá versar também sobre a ausência de fundamentos
objetivos para estabelecer a relação entre os ativos e os fatos investigados:
Matérias que podem ser alegadas pelo requerido na impugnação:
1) Em caso de auxílio direto decorrente de sanção Em caso de auxílio direto judicial a requerimento de
determinada em resolução do CSNU ou em designação autoridade central estrangeira:

de seu comitê de sanções:


I - homonímia; Todas as matérias expostas ao lado e também uma
II - erro na identificação do requerido ou dos ativos que quinta hipótese:
sejam objeto de sanção; V - a ausência de fundamentos objetivos para
III - exclusão do requerido da lista de sanções, por estabelecer a relação entre os ativos e os fatos
força de resolução proferida pelo Conselho de investigados.
Segurança das Nações Unidas ou por designação de
seus comitês de sanções; ou
IV - expiração do prazo de vigência do regime de
sanções.

Compete ao Ministério da Justiça, em consulta com a autoridade central estrangeira, manter a


AGU informada sobre a situação da investigação ou da ação que tramita no estrangeiro.
Na hipótese de a autoridade central estrangeira informar que não é mais necessária a
indisponibilidade de ativos, as partes poderão ingressar com ação revisional do que foi
estatuído na sentença.

COMUNICAÇÕES, MEDIDAS CAUTELARES E PROVAS NECESSÁRIAS À INVESTIGAÇÃO


OU AÇÃO ESTRANGEIRA
Imagine que no país estrangeiro está em curso uma investigação ou ação criminal para apurar
financiamento ou apoio a atos terroristas.
Suponhamos que, no interesse da investigação ou do processo, será necessária a prática de
atos no Brasil. Ex: a intimação de uma pessoa que more em nosso país ou a oitiva de uma
testemunha aqui residente.
Em tese, tais atos precisariam de uma carta rogatória para serem cumpridos no Brasil.
Contudo, o procedimento da rogatória é extremamente custoso, burocrático e demorado.
Pensando nisso, a Lei nº 13.810/2019 afirmou que será possível aplicar para esses casos o
mesmo procedimento do auxílio direto judicial acima exposto, que é bem mais simplificado:
Art. 22. Aplica-se, no que couber, o auxílio direto judicial para atender a requerimento de
autoridade central estrangeira que tenha por objetivo promover comunicações de atos
processuais e obter outras medidas cautelares ou provas necessárias à investigação criminal
ou às ações criminais em curso em outro país relativas ao financiamento ou apoio a atos
terroristas, nos termos das alíneas "e" e "f" do item 2 da Resolução 1373 (2001) do Conselho
de Segurança das Nações Unidas, de que trata o Decreto nº 3.976, de 18 de outubro de
2001.
Parágrafo único. No caso de auxílio direto para a prática de atos que não necessitem de
prestação jurisdicional, o Ministério da Justiça e Segurança Pública adotará as providências
necessárias para seu cumprimento.

DESIGNAÇÕES NACIONAIS
A Lei nº 8.810/2019 determina que todas as vezes que o Poder Judiciário, no Brasil, decretar
medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores relacionados com crimes de terrorismo, o
magistrado deverá, de ofício, intimar a União.
O motivo dessa intimação é para que a União saiba da existência desse fato e possa requerer,
perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou seu comitê de sanções pertinente, as
providências de designação nacional.
A designação nacional é como se fosse uma comunicação para o Conselho de Segurança da
ONU (ou seu comitê) informando que existem suspeitos de terrorismo sendo investigados ou
processados no Brasil a fim de que o organismo internacional avalie a situação e, se entender
pertinente, edite uma resolução aplicando sanções a essa pessoa.
Assim, a AGU, após receber essa intimação, irá comunicar a decisão ao Ministério da Justiça e
Assim, a AGU, após receber essa intimação, irá comunicar a decisão ao Ministério da Justiça e
ao Ministério das Relações Exteriores, para que essas duas Pastas deliberem se seria
necessário ou não fazer a designação nacional.

DISPOSIÇÕES FINAIS
Lista de pessoas sujeitas à indisponibilidade
O Ministério da Justiça manterá lista de pessoas naturais e jurídicas e entidades cujos ativos
estão sujeitos à indisponibilidade em decorrência de resoluções do Conselho de Segurança das
Nações Unidas ou de designação de seus comitês de sanções, de requerimento de outro país
ou de designação nacional.

Solicitação de exclusão da lista


A pessoa poderá solicitar a sua exclusão da lista de sanções.
Para isso, no entanto, deverá formular pedido fundamentado, com vistas a atender aos
critérios estabelecidos na resolução pertinente do Conselho de Segurança das Nações Unidas
ou de designação de seus comitês de sanções, e encaminhar ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública.
Analisada a solicitação de exclusão, o Ministério da Justiça e Segurança Pública deverá
encaminhá-la ao Ministério das Relações Exteriores, que a transmitirá ao Conselho de
Segurança das Nações Unidas ou ao comitê de sanções pertinente para sua deliberação.

Liberação parcial da indisponibilidade


Os ativos indisponibilizados poderão ser parcialmente liberados, caso necessário, para o custeio
de despesas ordinárias ou extraordinárias.
Consideram-se despesas ordinárias, entre outras:
I - despesas básicas com alimentos, aluguéis, hipotecas, medicamentos, tratamentos médicos,
impostos, seguros e tarifas de serviços públicos;
II - pagamento de honorários profissionais de montante razoável e reembolso de gastos
efetuados com a prestação de serviços jurídicos; e
III - pagamento de taxas ou encargos relacionados com a administração e a manutenção
ordinárias de fundos ou de outros ativos ou recursos indisponíveis.

Segredo de justiça
As medidas de auxílio direto judicial previstas na Lei nº 13.810/2019 tramitarão sob segredo
de justiça.

Alienação antecipada
Se os ativos estiverem sujeitos a deterioração ou depreciação ou se houver dificuldade para
sua manutenção, poderá ser requerida ao juízo competente a alienação antecipada dos ativos
declarados indisponíveis para a preservação de seus valores.
O interessado será intimado da avaliação dos ativos para, caso deseje, manifestar-se no prazo
de 10 dias, contado da data da intimação.
Feita a avaliação dos ativos e dirimidas eventuais divergências sobre o valor a eles atribuído,
será determinada a sua alienação em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por valor
não inferior a 75% do valor atribuído pela avaliação.
Realizado o leilão ou o pregão, a quantia apurada será depositada em conta bancária
remunerada.
Serão deduzidos da quantia apurada no leilão ou no pregão os tributos e as multas incidentes
sobre o ativo alienado.

Administração, guarda ou custódia


Será designada pessoa qualificada para a administração, a guarda ou a custódia dos ativos
indisponibilizados, caso necessário.
Aplicam-se à pessoa designada as disposições legais relativas ao administrador judicial.
No caso de ativos financeiros, a sua administração caberá às instituições em que se encontrem,
com incidência do bloqueio dos juros e de outros frutos civis e rendimentos decorrentes do
contrato.

Comunicações
O Ministério da Justiça e Segurança Pública comunicará:
I - ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal as medidas de indisponibilidade de ativos
adotadas e as tentativas de transferência relacionadas às pessoas naturais, às pessoas
jurídicas ou às entidades designadas, para avaliação de abertura ou não de investigação
criminal; e
II - ao Ministério das Relações Exteriores as medidas de indisponibilidade de ativos adotadas
em cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou de
designações de seus comitês de sanções, para conhecimento e comunicação ao respectivo
organismo internacional.

Aplicação subsidiária do CPC e do CPP


Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições do CPC e do CPP.

Vigência
A Lei nº 13.810/2019 entrará em vigor no dia 06/06/2019

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