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Vejamos sobre o que ela cuida, mas, antes, é importante fazer algumas considerações
preliminares.
NOÇÕES PRELIMINARES
Organização das Nações Unidas (ONU)
A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização internacional, intergovernamental,
criada para promover a cooperação internacional.
Organização internacional é “uma associação de Estados estabelecida por meio de uma
convenção internacional, que persegue objetivos comuns aos membros e específicos da
organização, dispondo de órgãos próprios permanentes e dotada de personalidade jurídica
distinta da dos Estados-membros.” (CRETELLA NETO, José. Teoria Geral das Organizações
Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 44).
Artigo 25. Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do
Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta.
Lei nº 13.170/2019
A Lei nº 13.170/2019 regulamenta como deverá ser o cumprimento das sanções impostas pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas em nosso país, ou seja, ela disciplina como o Brasil
irá cumprir as Resoluções do CSNU.
Vamos verificar, resumidamente, o que dispõe essa Lei.
INDISPONIBILIDADE DE ATIVOS
Como vimos acima, o Conselho de Segurança da ONU pode impor, por meio de resoluções,
punições (sanções) a:
• países;
• pessoas jurídicas (ex: empresas);
• e até mesmo a pessoas físicas (ex: ex-ditadores).
Hipóteses de indisponibilidade
A indisponibilidade de ativos de que trata a Lei nº 13.810/2019 ocorrerá nas seguintes
hipóteses:
1) por execução de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou por
designações de seus comitês de sanções; ou
2) a requerimento de autoridade central estrangeira, desde que o pedido de indisponibilidade
esteja de acordo com os princípios legais aplicáveis e apresente fundamentos objetivos para
exclusivamente atender aos critérios de designação estabelecidos em resoluções do Conselho
de Segurança das Nações Unidas ou de seus comitês de sanções.
No art. 9º da Lei nº 9.613/98 estão listadas uma série de pessoas físicas e jurídicas, como, por
exemplo: bancos, bolsa de valores, seguradoras, empresas de leasing, factoring, vendedores
de joias, pedras preciosas, objetos de arte, antiguidades, juntas comerciais, registros públicos,
empresas de transporte de valores etc.
Tais pessoas serão informadas sobre a existência da sanção e deverão tornar os bens do
sancionado indisponíveis, mesmo sem ordem judicial.
* sem demora: significa “imediatamente ou dentro de algumas horas” (art. 2º, V).
Essas comunicações poderão ser feitas por via eletrônica, com confirmação de recebimento.
Citação do requerido
O juiz ordenará a citação do requerido para, caso deseje, impugnar a determinação no prazo
de 15 dias, contado da data da citação.
Repare que o termo utilizado pela Lei é impugnação (e não contestação).
Impugnação
A impugnação não terá efeito suspensivo e as únicas matérias que o requerido poderá alegar
serão as seguintes:
I - homonímia (o indivíduo que foi sancionado pela CSNU possui o mesmo nome que eu, mas
se trata de uma outra pessoa);
II - erro na identificação do requerido ou dos ativos que sejam objeto de sanção;
III - exclusão do requerido da lista de sanções, por força de resolução proferida pelo Conselho
de Segurança das Nações Unidas ou por designação de seus comitês de sanções; ou
IV - expiração do prazo de vigência do regime de sanções.
Oitiva da União
A União será ouvida sobre a impugnação no prazo de 15 dias, contado da data da intimação.
Sentença
Havendo ou não a impugnação, o juiz proferirá sentença.
Se não houver interposição de recurso, os autos serão arquivados.
Ação revisional
Na hipótese de sobrevir a exclusão posterior do requerido da ação originária da lista de
pessoas sujeitas ao regime de sanções ou qualquer outra razão que, segundo o Conselho de
Segurança das Nações Unidas ou seus comitês de sanções, fundamente a revogação da
sanção, as partes poderão ingressar com ação revisional do que foi estatuído na sentença.
Art. 18. A União poderá ingressar com auxílio direto judicial para indisponibilidade de ativos,
a requerimento de autoridade central estrangeira, de modo a assegurar o resultado de
investigações administrativas ou criminais e ações em curso em jurisdição estrangeira em
face de terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados.
Procedimento
• A autoridade central estrangeira formula requerimento ao Governo brasileiro pedindo a
indisponibilidade dos ativos de determinada pessoa.
• Neste requerimento, a autoridade central estrangeira deverá informar que há investigação ou
ação em curso no país estrangeiro para apurar atos de terrorismo, seu financiamento ou atos a
ele correlacionados. Além disso, deverá apontar fundamentos objetivos da participação da
pessoa titular dos ativos que se busca a indisponibilidade.
• Fundamentos objetivos consistem na existência de indícios ou provas da prática de
terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados, por pessoa natural ou por
intermédio de pessoa jurídica ou entidade, conforme disposto na Lei nº 13.260/2016 (Lei
Antiterrorismo).
• O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em coordenação com o Ministério das Relações
Exteriores, verificará, sem demora, se o requerimento de indisponibilidade de ativos formulado
por autoridade central estrangeira está de acordo com os princípios legais aplicáveis e
apresenta fundamentos objetivos para o seu atendimento.
• Verificado que o requerimento da autoridade central estrangeira está de acordo com os
princípios legais aplicáveis e apresenta fundamentos objetivos para o seu atendimento, o
Ministério da Justiça e Segurança Pública encaminhará, sem demora, o requerimento à AGU
para que promova, sem demora, o auxílio direto judicial, se houver elementos que demonstrem
a existência, no Brasil, de ativos sujeitos à medida de indisponibilidade.
• Conforme explicado, esse pedido é de competência da Justiça Federal de 1ª instância.
• O procedimento judicial será o mesmo que já foi exposto acima, ou seja, o juiz deferirá a
medida sem oitiva do requerido; em seguida, ele será citado e poderá apresentar impugnação
sobre matérias restritivas; a União é ouvida em 15 dias, sendo, então, proferida sentença. A
única diferença é que no presente caso (auxílio direto judicial a requerimento de autoridade
central estrangeira), a impugnação poderá versar também sobre a ausência de fundamentos
objetivos para estabelecer a relação entre os ativos e os fatos investigados:
Matérias que podem ser alegadas pelo requerido na impugnação:
1) Em caso de auxílio direto decorrente de sanção Em caso de auxílio direto judicial a requerimento de
determinada em resolução do CSNU ou em designação autoridade central estrangeira:
DESIGNAÇÕES NACIONAIS
A Lei nº 8.810/2019 determina que todas as vezes que o Poder Judiciário, no Brasil, decretar
medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores relacionados com crimes de terrorismo, o
magistrado deverá, de ofício, intimar a União.
O motivo dessa intimação é para que a União saiba da existência desse fato e possa requerer,
perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou seu comitê de sanções pertinente, as
providências de designação nacional.
A designação nacional é como se fosse uma comunicação para o Conselho de Segurança da
ONU (ou seu comitê) informando que existem suspeitos de terrorismo sendo investigados ou
processados no Brasil a fim de que o organismo internacional avalie a situação e, se entender
pertinente, edite uma resolução aplicando sanções a essa pessoa.
Assim, a AGU, após receber essa intimação, irá comunicar a decisão ao Ministério da Justiça e
Assim, a AGU, após receber essa intimação, irá comunicar a decisão ao Ministério da Justiça e
ao Ministério das Relações Exteriores, para que essas duas Pastas deliberem se seria
necessário ou não fazer a designação nacional.
DISPOSIÇÕES FINAIS
Lista de pessoas sujeitas à indisponibilidade
O Ministério da Justiça manterá lista de pessoas naturais e jurídicas e entidades cujos ativos
estão sujeitos à indisponibilidade em decorrência de resoluções do Conselho de Segurança das
Nações Unidas ou de designação de seus comitês de sanções, de requerimento de outro país
ou de designação nacional.
Segredo de justiça
As medidas de auxílio direto judicial previstas na Lei nº 13.810/2019 tramitarão sob segredo
de justiça.
Alienação antecipada
Se os ativos estiverem sujeitos a deterioração ou depreciação ou se houver dificuldade para
sua manutenção, poderá ser requerida ao juízo competente a alienação antecipada dos ativos
declarados indisponíveis para a preservação de seus valores.
O interessado será intimado da avaliação dos ativos para, caso deseje, manifestar-se no prazo
de 10 dias, contado da data da intimação.
Feita a avaliação dos ativos e dirimidas eventuais divergências sobre o valor a eles atribuído,
será determinada a sua alienação em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por valor
não inferior a 75% do valor atribuído pela avaliação.
Realizado o leilão ou o pregão, a quantia apurada será depositada em conta bancária
remunerada.
Serão deduzidos da quantia apurada no leilão ou no pregão os tributos e as multas incidentes
sobre o ativo alienado.
Comunicações
O Ministério da Justiça e Segurança Pública comunicará:
I - ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal as medidas de indisponibilidade de ativos
adotadas e as tentativas de transferência relacionadas às pessoas naturais, às pessoas
jurídicas ou às entidades designadas, para avaliação de abertura ou não de investigação
criminal; e
II - ao Ministério das Relações Exteriores as medidas de indisponibilidade de ativos adotadas
em cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou de
designações de seus comitês de sanções, para conhecimento e comunicação ao respectivo
organismo internacional.
Vigência
A Lei nº 13.810/2019 entrará em vigor no dia 06/06/2019