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IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA NA GESTÃO PÚBLICA

VIEIRA, Eliane Marcelino 1


SILVEIRA JUNIOR, Olney Bruno da2

RESUMO

É de grande relevância o maior conhecimento sobre a atuação de líderes no cotidiano de


empresas e na gestão pública, seja coordenando equipes ou mesmo atuando na execução de
estratégias e planejamentos governamentais para garantir melhor qualidade dos produtos e
serviços gerados. Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma pesquisa bibliográfica
sobre a modernização sofrida pela gestão pública no Brasil e discutir o papel da liderança na
harmonia de desempenho de equipe de trabalhadores. As características do estado
patrimonialista foram aos poucos dando lugar a inúmeras medidas de reformas políticas e
administrativas que representaram um avanço considerável na adoção de princípios gerenciais
e de liderança na forma como se lida com a administração pública no Brasil. Ressalvando as
diferenças básicas de atuação dos profissionais ligados ao setor público e privado, é possível
observar a viabilidade de adaptações na atuação de líderes visando melhorar a qualidade dos
relacionamentos dentro e fora das empresas. Isso vem agilizando a gestão pública que
incorpora aos poucos conceitos de cobrança de resultados, eficiência, valorização do capital
intelectual e melhor atendimento aos cidadãos. Enquanto líderes no setor privado tem o foco
centrado no lucro e na melhor remuneração, as lideranças da gestão pública empenham-se
para buscar de forma competente o atendimento do interesse público e maior motivação para
se beneficiar de planos de carreira baseados no mérito.

Palavras-chave: Gerenciamento. Líderes. Serviço. Eficiência.

ABSTRACT

It is of great importance to better understanding of the role of leaders in the daily business and
public administration, is coordinating teams or even acting in the execution of government

1
Acadêmico do Curso de Gestão Pública, Nível Pós-Graduação, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Sul de Minas Gerais – Campos Muzambinho. e-mail: elianemvieira@hotmail.com
2
Mestre em Administração das Organização pela FEARP-USP, Especialista em Administração de Recursos
Humanos, Bacharel em Administração de Empresas e Técnico Contábil. Professor Universitário e pós-
graduação. Pesquisador nas áreas de Gestão Pública, Empreendedorismo, Recursos Humanos e
Empreendimentos Coletivos. Delegado Regional do Conselho Regional de Administração de Minas Gerais.
Gestor do Núcleo de Empreendedorismo da FESP/UEMG. Consultor e Palestrante. e-mail:
olney@observatorioconsultoria.com.br
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plans and strategies to ensure better quality products and services generated. This work aims
to present a literature search on the modernization experienced by the public administration in
Brazil and discuss the role of leadership in the harmony of team performance of employees.
The characteristics of the patrimonial state were gradually giving way to several measures of
political and administrative reforms that represented a considerable advance in the adoption of
management principles and leadership in how to deal with the public administration in Brazil.
Except the basic differences of performance of the professionals associated with public and
private sector, it is possible to observe the feasibility of changes in the performance of leaders
to improve the quality of relationships within and across enterprises. This is streamlining
public administration that embodies the concepts of collecting a few results, efficiency,
valuation of intellectual capital and better service to citizens. As leaders in the private sector
has the focus centered on profit and the best compensation, the leaders of public management
strive to seek the assistance of a competent public interest and greater motivation to take
advantage of career plans based on merit.

Key words: Management. Leaders. Service. Efficiency.

INTRODUÇÃO

No mundo globalizado do século XXI, em plena era digital e de transformações


rápidas do conhecimento e dos mercados, as empresas para se manterem competitivas tem
buscado investimentos significativos em recursos humanos. De acordo com Bergamini
(1994), além dos investimentos em tecnologia e metodologias de gestão mais eficientes, o
capital intelectual da empresa é visto como algo precioso que pode lhe garantir um lugar de
destaque e sobrevivência nas crises e desafios a serem enfrentados.
Têm sido comuns os debates sobre o preparo das empresas tanto públicas quanto
privadas em seu posicionamento a respeito dos seguintes problemas: empresas que
reconhecem a importância de investimentos no capital intelectual e formação de lideranças
apresentam melhores condições competitivas e de atendimento aos clientes? É possível obter
retornos financeiros compensadores e melhor atendimento aos cidadãos investindo tempo e
recursos na melhor qualificação profissional dos trabalhadores?
Esse trabalho se justifica pela grande relevância do melhor conhecimento sobre o
perfil e a atuação de líderes no cotidiano de empresas e na gestão pública, seja coordenando
equipes ou mesmo atuando na execução de estratégias e planejamentos governamentais para
garantir melhor qualidade dos produtos e serviços gerados. De acordo com Ouimet (2002) a
liderança pode inclusive estimular os trabalhadores para uma aplicação mais eficiente dos
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conhecimentos recebidos em sua qualificação profissional, tornando o clima de produção


mais harmonioso e agradável para todos. As empresas que valorizam seus recursos humanos e
investem na promoção de lideranças e melhores condições de atuação em suas áreas
específicas tem sido menos vulneráveis às crises e obtido mais sucesso na competição de
mercados. O conhecimento gerado tanto pela experiência profissional como pelas atualizações
constantes obtidas em cursos e eventos constitui atualmente um capital precioso para o
sucesso e a sobrevivência da maioria das empresas.
São notórios também os enfoques na relevância do preparo de lideranças para atuar
com a nova ordem mundial de mercados cada vez mais interligados e competitivos, onde a
excelência do atendimento, qualidade e redução de custos são diferenciais das empresas de
sucesso. As publicações de artigos, teses, livros com essa temática são crescentes, oferecendo
um rico material para consulta e atualização de conhecimentos. Também as biografias de
líderes empresariais tornam-se sucessos editoriais em todo o mundo, refletindo a relevância
que o tema apresenta em várias culturas.
Esse trabalho tem como objetivos apresentar uma pesquisa bibliográfica sobre a
modernização histórica sofrida pela administração pública no Brasil e a importância do
investimento na formação de liderança na gestão pública.
Neste estudo, foi realizada uma revisão bibliográfica como instrumento de coleta de
informações, que segundo Köche (2006) utilizam-se conhecimentos disponíveis em livros ou
outros textos de publicações impressas ou digitais. Foram utilizadas páginas da Internet e
mecanismos de buscas com as palavras chaves: liderança, gestão pública e empresas. As
fontes utilizadas são de origem primária e secundária, como bibliografias diversas ou artigos
científicos publicados em periódicos. Adotou-se como instrumento de investigação a
Metodologia Qualitativa, que além de contemplar a difícil análise do processo de gestão de
empresas públicas, permite investigar a construção do conhecimento coletivo (MINAYO,
2000).
O presente artigo seguiu o modelo de exposição e análise das informações obtidas na
literatura apresentado e discutido por Abrucio (1997, p.7) em seu enfoque sobre o impacto do
modelo gerencial na administração pública.
O referencial teórico deste trabalho foi dividido em duas seções: na primeira, são
apresentados aspectos históricos da evolução da administração pública brasileira; na segunda,
conceitos e princípios de liderança na gestão de empresas são discutidos, bem como a
possibilidade de transferi-los para a administração pública. Nas considerações finais,
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apresenta-se o modelo mais adequado de liderança para condições de empresas públicas e seu
potencial de êxito, tendo por base estudos realizados.

2 EVOLUÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL

O processo autoritário e exploratório da colonização portuguesa lançou no Brasil as


primeiras bases do patrimonialismo, através do processo de concessão de títulos, de terras e
poderes quase absolutos aos mandatários, dando início a prática político-administrativa em
que o público e o privado não se distinguem perante a administração pública. O processo de
loteamento de cargos e o abuso de autoridade na confusão de atribuições e posse dos recursos
do Estado para a malversação do bem público foi "natural" desde o período colonial (1500 -
1822), atravessando o período Imperial (1822 - 1889) e chegando mesmo à República Velha
(1889 - 1930) e aos dias atuais (BRESSER-PEREIRA, 2001).
A formação da nação brasileira teve inúmeros males de origem, com destaque especial
para a burocracia patrimonialista, formada por uma elite de juristas e políticos com amplo
acesso e domínio tanto da educação quanto das riquezas, que subjugou e silenciou grande
parcela da sociedade e um estado loteado confundindo o público e privado para manter-se em
funcionamento. Por isso, foi relativamente longa a formação e estruturação do estado
patrimonialista no Brasil, estendendo-se da colonização até a chamada era Vargas (1945).
Mesmo com o surgimento da sociedade capitalista e industrial e com a formação do Estado
burocrático, ainda persistiram resíduos do patrimonialismo entre funcionários públicos,
políticos e alguns setores da sociedade. As transformações sofridas pela população brasileira
mesmo durante o período do estado autoritário e do golpe militar de 1964 foram conduzindo a
nação a repensar suas estruturas administrativas tanto dos setores públicos quanto privados
(ABRUCIO, 1997).
As tentativas de modernização administrativa do estado tiveram início no governo de
João Goulart (1963) com a criação do Ministério Extraordinário da Reforma Administrativa,
com o objetivo de se criar grupos de estudos para propor modelos e projetos para melhorar a
competência do gerenciamento estatal. Porém, os projetos elaborados só foram
implementados depois do golpe de 1964, durante os longos 20 anos de imposição de um
estado autoritário, modernizador, burocrático e capitalista. A sociedade brasileira nesse
período se consolidou formando uma aliança diversificada de interesses entre civis e militares,
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surgindo uma nova burguesia não mais mercantil e industrial, mas bastante complexa e
diversificada. Houve aceleração do acúmulo e concentração de riquezas entre a elite
dominante, agravando os problemas econômicos e aumentando as injustiças sociais,
principalmente entre as camadas mais pobres da sociedade (NOGUEIRA, 1997).
A estratégia administrativa adotada pelo estado brasileiro é discutida por Motta (2007,
p.88):
a administração pública desenvolveu-se como um dos grandes instrumentos para a
manutenção do poder tradicional, e carregava fortes características desse poder. A
forma de organização e gestão obedecia menos a critérios técnicos racionais e
democráticos para a prestação de serviços e mais a sistemas de loteamento político,
para manter coalizões de poder e atender a grupos preferenciais.

A partir de 1994, com o Plano Real e a estabilização da economia, surgiram novas


propostas de modernização e reforma do estado que introduziram princípios capazes de
permitir a integração dos cidadãos no processo de definição, implementação e avaliação das
instituições e seus gestores públicos. Isso foi feito através de agências reguladoras de
empresas estatais, do estímulo crescente do controle social sobre a qualidade dos serviços e
criação de novos canais de comunicação direta dos cidadãos com o governo. Essas medidas
representaram um avanço considerável na adoção de princípios gerenciais e de liderança na
forma como se lida com a administração pública no Brasil. Abriu caminho para inovações e
ajustes necessários de experiências bem sucedidas em outros países, tais como a privatização,
a redução da participação do estado em provimento de serviços com potencial de
terceirização, maior transferência para a iniciativa privada de atividades em que o estado era
notoriamente ineficiente e o estabelecimento de parcerias público-privada (BRESSER-
PEREIRA, 2001).
A partir de 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o país experimentou
uma ampla modernização do estado, com atenção para três reformas: tributária, previdência
social e administrativa. Destas, apenas a última foi aprovada e implementada com êxito,
contribuindo para reduzir drasticamente as práticas burocráticas, clientelistas e
patrimonialistas, com a implantação de práticas modernas de administração pública gerencial.
A estabilidade da economia permitiu a descentralização administrativa e transferência de uma
série de incumbências para estados e municípios, para promover e facilitar a terceirização de
serviços como limpeza, segurança, informática e outros. Isso deu agilidade e mais eficiência
para setores antes dominados por reconhecida lentidão e ineficiência, dando ao governo mais
condições de se dedicar ao núcleo estratégico e tomar decisões com base no apoio político e
de funcionários com melhor formação técnica para as funções exercidas. Também abriu
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caminho para uma nova política de recursos humanos, que estabeleceu que apenas servidores
com dedicação exclusiva a atividades administrativas do estado passariam a ser contratados
anualmente. As demais atividades de apoio seriam terceirizadas, atividades sociais e
científicas transferidas para o setor público não estatal, evitando-se a contratação direta pelo
estado. Houve também incentivos a planos de carreira, adaptação de princípios de liderança e
qualidade total no setor público e esforços para melhorar a remuneração com base em
produtividade e eficiência (ABRUCIO, 1997).

3 PRINCÍPIOS DE LIDERANÇA E GESTÃO PÚBLICA

Liderança pode ser conceituada como sendo um processo complexo e diferenciado de


influência, exercido por uma pessoa ou um grupo especialmente preparado para atuar no
cumprimento de metas. Isso exige exercício de poder e influência e ampla interação da
liderança com seus seguidores de forma contratual ou consensual. A eficácia da liderança
pode ser medida pela capacidade de adaptação e ajustes que apresenta para cada situação
vivenciada. Não existe um modelo de liderança perfeito, pois é exercida por seres humanos
sujeitos a erros e acertos, num processo contínuo de aprendizagem e acúmulo de capital
intelectual (STEFANO; GOMES FILHO, 2004).
Existem lideranças formais (gerente, diretores, supervisores, presidentes e outros) que
são investidos formalmente de autoridade e poder organizacional e lideranças informais que
mesmo não tendo o mesmo tipo de poder, pelos seus méritos, dedicação e competência no
trabalho que realiza consegue influenciar e liderar os demais trabalhadores. Segundo
Bergamini (1994, p.27), ainda é possível distinguir variações nos tipos de liderança:

percebe-se que ela significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Essas
numerosas percepções entre os vários pesquisadores levaram à escolha dos vários
aspectos a serem observados, que, consequentemente, investigaram, por sua vez,
novos ângulos do mesmo fenômeno, concluindo com interpretações também
próprias a respeito desse mesmo aspecto comportamental.

Existem várias teorias que buscam explicar as origens e a forma de atuação dos líderes
em diferentes condições de trabalho, conforme apresenta e discute Stefano e Gomes Filho
(2004). Os autores apresentam as abordagens dos traços de liderança (os líderes já nascem
como tal), comportamental (pode ser aprendida por meio de técnicas de desenvolvimento
pessoal) e situacional (há líderes para cada situação). Destas teorias, a mais complexa e
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contemporânea é a última, que tem sido amplamente debatida entre pesquisadores e


profissionais ligados à área de recursos humanos. Isso porque analisa cada situação específica,
considerando os estilos de liderança, talentos, habilidades e necessidades de cada local de
trabalho nas empresas. Tornou-se por isso muito atraente e considerada como bastante
democrática e humanizada, pois englobou não apenas a liderança em si, mas os seguidores e o
ambiente onde o processo flui.
Nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI, inúmeros autores e
pesquisadores se dedicaram em análises aprofundadas do tema liderança, explicando a
diversidade de abordagens e a riqueza de literatura produzida sobre o assunto. Embora
existam divergências e polêmicas tanto nas caracterizações dos tipos e suas formas de
atuação, um ponto de convergência nesses estudos é a valorização do ser humano e o acesso
mais facilitado para que todos possam aprender, praticar e contribuir para o sucesso
organizacional das empresas. Essa visão mais humanista das relações interpessoais enquanto
se apresenta, discute e executa metas e objetivos exige também planejamentos bem
elaborados e amplo conhecimento das condições de mercado (BERGAMINI, 1994).
As rápidas transformações dos meios de comunicações e informática aceleram ainda
mais a competição entre empresas, diminuindo a longevidade de produtos e serviços
oferecidos ao mercado. O ciclo de desenvolvimento e introdução de produtos está cada vez
mais curto, exigindo da administração das empresas uma diferenciação na qualidade,
atendimento, custo/benefício e rapidez de entrega. Essas novas tendências aos poucos estão
sendo transferidas também para o ambiente de gestão pública, mesmo considerando as
diferenças significativas de gerenciamento em relação ao setor privado. Para atender a esse
novo paradigma, há necessidade de busca constante de qualificação e atualização dos
trabalhadores envolvidos com a equipe de produção (NOGUEIRA, 1997).
As incertezas da economia mundial agravam-se com a globalização e constantes crises
cambiais e de mercados como o europeu e o americano. Por outro lado, surgem competições
acirradas de produtos oriundos da Ásia, tornando vulneráveis as gestões das empresas
brasileiras públicas e privadas. Nesse ambiente de grandes desafios e riscos, torna-se
fundamental investir em conhecimentos, trocas de informações relevantes e experiências
capazes de garantir a competitividade dos produtos e serviços oferecidos. O capital intelectual
e atuação de lideranças na gestão pública são fatores decisivos para se atingir esses objetivos.
Por isso, é crescente a preocupação de pesquisadores e autoridades ligadas à economia e
administração de empresas com a melhor qualificação profissional dos trabalhadores e
gestores públicos. Inúmeros cursos, publicações e eventos vêm sendo realizados desde a
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primeira década do século XXI, tanto no Brasil quanto no exterior, tratando desse tema
(BASSANI, NIKITIUKI, QUELHAS, 2002).
Segundo Armond e Nassif (2009) parece haver consenso sobre o fato de que o
elemento central do empreendedorismo é o empreendedor e a sua função como líder. Com
base nessa premissa os autores realizaram uma pesquisa para identificar os comportamentos
de liderança adotados pelos empreendedores para promover as mudanças organizacionais
requeridas para consolidar e desenvolver seus empreendimentos. A pesquisa envolveu
entrevistas em profundidade, com três empreendedores, sendo encontradas evidências de que
os comportamentos de liderança adotados pelos empreendedores, visando ao crescimento de
suas organizações, estão alinhados com a literatura disponível, especialmente no que se refere
às ações orientadas ao relacionamento e à mudança. Concluíram que, embora as experiências
relatadas apresentem convergência com os pressupostos teóricos, há nuanças pessoais e
contextuais significativas que caracterizariam, assim, a liderança como um exercício
individual, mediado por fatores ambientais específicos.
A política científica e tecnológica brasileira também sofreu uma inflexão semelhante a
dos países desenvolvidos na busca de estreitar os elos entre a pesquisa pública e os princípios
de gestão de empresas. De acordo com Furtado (2005) essa política de apoio à pesquisa e
desenvolvimento (P&D) cooperativa ainda enfrenta sérias limitações no Brasil, porque o setor
privado efetua um esforço tecnológico limitado. Ainda assim, os mecanismos encontrados
para fomentar essa interação são inadequados porque não incentivam a empresa a fazer P&D,
mas que a contrate fora. Contudo, o principal problema da gestão pública e da política
científica e tecnológica brasileira está em: por um lado, na ausência de foco associada à
dispersão de recursos entre um grande número de programas e iniciativas; e, por outro lado,
na falta de força política dentro do governo federal que permita implementar as verbas
destinadas à esses setores.
É possível verificar que modelos gerenciais na gestão pública foram e estão sendo
discutidos em vários países, incluindo o Brasil, envolvendo modelos de avaliação de
desempenho de funcionários públicos, controle de orçamento e serviços direcionados às
preferências ou necessidades dos clientes/cidadãos, sempre com a preocupação de considerar
as condições locais e não apenas as antigas estruturas administrativas. Nesse processo
complexo e muitas vezes conflituoso, pois abala acomodações e tradições do setor público
cristalizadas há décadas no Brasil, estão sendo aos poucos introduzidos conceitos de liderança
típicos do setor corporativo de empresas privadas. Como exemplo dessa tendência pode-se
apresentar o conceito de qualidade total e o que a falta de definição clara dos princípios
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desejados pode representar para inviabilizar essa prática comum de gerenciamento estratégico
do setor privado nas condições da gestão pública. Podem ser citadas algumas diferenças
marcantes de adoção da qualidade total no setor público e privado: no público, o controle é
feito pelas diretrizes políticas do governo e no privado é o mercado que atua; na gestão
pública, a autonomia de atuação é descentralizada, enquanto no setor privado é centralizada
pela empresa; o foco do sucesso no setor público está no interesse dos cidadãos e no privado,
na satisfação do cliente, mas com geração de lucro (BRESSER-PEREIRA, 2001).
De acordo com Abrucio (1997) apesar das diferenças marcantes da gestão pública e do
moderno gerenciamento empresarial, tornou-se comum no Brasil, nos últimos anos, entre os
cidadãos, ministros e administradores estaduais e municipais o apoio de forma contundente de
reformas e adoção de um estado gerencial. Isso fica mais evidente nos discursos feitos nos
palanques eleitorais onde é defendida pela maioria dos políticos a adoção de algumas práticas
usadas em empresas privadas para órgãos públicos. Apesar da evidente demagogia desses
discursos, alguns conceitos empresariais vem sendo adotados, tais como a crescente separação
entre atividades exclusivas do estado e serviços sociais e científicos incluídos no orçamento
da União. Também, sinais marcantes de popularização de expressões como: “reforma
gerencial”, “qualidade total”, “contratos de gestão”, “eficiência administrativa” e outras, são
cada vez mais comuns em entrevistas e discursos tanto entre altos funcionários e políticos
como em escolas de administração espalhadas pelo Brasil. Isso demonstra que a sociedade
não só vem apoiando, mas optou por dar espaço em seu cotidiano aos princípios adotados
pelo Estado que se propôs ser mais gerencial e moderno e menos patrimonialista para atender
seus cidadãos.
A modernização da gestão pública no Brasil, com ênfase em princípios de
gerenciamento, liderança e cobrança de resultados como é comum no setor privado, é um
processo complexo e ainda em fase de ajustes e adaptações. São destaques nesse aspecto, os
estados de Minas Gerais com seu choque de gestão e Rio de Janeiro. Embora alguns
resultados já possam ser observados, muitas questões permanecem em aberto, principalmente
em se tratando de relações entre o novo modelo de administração pública e construção de
lideranças. Oliveira, Sant’ Anna e Vaz (2010, p.1473) apresentaram e discutiram essas
questões, concluindo que vem ocorrendo:

a introjeção e disseminação de práticas discursivas e dispositivos de gestão, com


significativa influência de políticas e práticas amplamente disseminadas no meio
empresarial. Além disso, revela-se evidente a utilização de tais iniciativas como
bandeira e plataforma política, tendo por base o apelo positivo que noções como
resultado e eficiência causam sobre a opinião pública e o eleitorado.
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Adicionalmente, ganhos imediatos, obtidos por meio de tais iniciativas, ao serem


mais facilmente passíveis de mensuração e apresentação asseguram-lhes maior
visibilidade, atribuindo aos seus executores imagens de competência e eficiência.

O estudo citado acima ainda permitiu também, identificar competências individuais


associadas ao gestor e líder do setor público, possibilitando, inclusive, algumas análises
comparativas. Na opinião dos executivos entrevistados, entre as competências requeridas aos
gestores públicos, face às demandas do contexto da nova administração pública, destacam-se:
conhecimento da máquina pública, conhecimento jurídico, capacidade de promover o
envolvimento da sociedade, capacidade de lidar com o público, objetividade, orientação para
resultados, perspectiva global, relacionamento interpessoal e visão sistêmica. São desejáveis
para o “líder eficaz” atributos de competência, como: capacidade de comunicação, capacidade
de lidar com os liderados, legitimidade, bom-senso, capacidade de agregação, disciplina,
visão sistêmica e espírito de corpo. Observa-se que não foram mencionados aspectos éticos ou
de apoio à sustentabilidade, conceitos muito difundidos pela mídia atualmente. Porém, são
realçadas as características de competência e articulação para maximizar os benefícios de
recursos internos e motivar os demais trabalhadores na execução de suas funções com brilho
(OLIVEIRA, SANT’ANNA, VAZ, 2010).
É notório que a maior busca na atualidade tanto em empresas públicas como privada
está na aplicação dos princípios de liderança para melhorar o relacionamento interno e com os
clientes. Hunter (2006, p.101) com suas abordagens sobre o líder servidor, explica:

algumas pessoas têm questionado por que o foco está concentrado nos aspectos da
liderança orientados para o relacionamento, em vez de no trabalho em si ou em
aspectos técnicos. Na verdade, era exatamente o que costumávamos fazer, mas ao
longo dos anos descobrimos que quase nunca encontrávamos gerentes com
problemas na área técnica ou na realização do trabalho. Ao contrário, sua força
nessas áreas era o motivo pelo qual haviam sido promovidos a posições de liderança.

É fundamental para o êxito no acompanhamento do trabalho de lideranças e seus


seguidores na gestão pública de um sistema justo e eficiente de avaliação. Isso além de
motivar os trabalhadores, pode permitir análises qualitativas e quantitativas dos serviços e
produtos gerados pela empresa. Segundo Guimarães et al. (2004) uma avaliação nesse sentido
é positiva quando é capaz de contribuir para a identificação dos problemas e de proposições
para o seu enfrentamento. Apenas desta forma, pressupõe-se que a avaliação proposta não se
encerra em si mesma, ao contrário, subsidia o planejamento de um futuro na direção da
conquista de um desenvolvimento pleno da capacidade de gestão. Envolve também um
processo contínuo de observação da capacidade dos gestores para ser possível arbitrar valores
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e posicionar o desempenho numa escala aceitável de mérito e reconhecimento dos esforços


envolvidos.
A transposição dos princípios de liderança do mundo corporativo para a gestão pública
vem para atender a necessidade cada vez mais evidente de cidadãos que cobram e exigem
mais transparência, eficiência e ética na gestão pública. Não que isso seja a solução perfeita
para os inúmeros problemas que o Brasil possui em termos de gerenciamento dos gastos
públicos, mas pode auxiliar as lideranças políticas verdadeiramente comprometidas com o
interesse público a trabalharem com equipes cada vez mais técnicas e preparadas para liderar
mudanças significativas que o Estado tanto necessita para crescer e ser sustentável. Conforme
Nogueira (1997) não é possível mais adiar a implementação de mudanças na gestão pública
para torná-la mais próxima do povo e do respeito aos seus direitos como cidadãos e
contribuintes de um estado que arrecada muito e gasta mal seus recursos.
A projeção dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro em termos de eficiência de
gestão pública principalmente nas áreas de educação, saúde, transportes e segurança pública
conforme apresentado por Oliveira, Sant’ Anna e Vaz (2010) começa representar um modelo a
ser seguido em outros estados brasileiros. Considerando o impacto que isso pode apresentar
em futuras gestões e no aumento da pressão da opinião pública, é possível que em médio
prazo outros gestores públicos escolham esse caminho para se projetarem politicamente. Isso
é um alento novo e pode ser o início de implantação de um novo paradigma em termos de
eficiência e competência na gestão de recursos dos contribuintes brasileiros. Principalmente
tendo em vista a elevada carga tributária (aproximadamente 35% do Produto Interno Bruto) e
a tradição de arrecadar cada vez mais e gastar mal em serviços e obras para os cidadãos.
Mesmo que não seja adotado um modelo adaptado de estado gerencial, a quebra de antigas
acomodações e vícios seculares associados ao serviço público representa uma grande
conquista para o Brasil.

CONCLUSÃO

O estado brasileiro historicamente patrimonialista vem passando por mudanças


significativas em sua administração, com reflexos em todos os setores da gestão pública. A
partir da implantação do Plano Real e nos governos que se seguiram, ficaram mais evidentes
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as mudanças no gerenciamento do setor público, que passou a incorporar inúmeros princípios


de liderança do setor privado.
Ressalvando as diferenças básicas de atuação dos profissionais ligados ao setor
público e privado, é possível observar a viabilidade de adaptações na atuação de líderes
visando melhorar a qualidade dos relacionamentos dentro e fora das empresas. Isso vem
agilizando a gestão pública que incorpora aos poucos conceitos de cobrança de resultados,
eficiência, valorização do capital intelectual e melhor atendimento aos cidadãos.
O estilo de liderança mais aceitável compreende o serviço em clima de relacionamento
harmonioso e afinado com as metas estabelecidas, adaptando-se de forma contínua para cada
situação na busca da eficiência, competência e satisfação de todos os envolvidos com o
processo de gestão.
Enquanto líderes no setor privado tem o foco centrado no lucro e na melhor
remuneração, as lideranças da gestão pública empenham-se para buscar de forma competente
o atendimento do interesse público e maior motivação para se beneficiar de planos de carreira
baseados no mérito. Essas tendências estão sendo difundidas em todas as esferas
administrativas e contam com amplo apoio da população, visto a incorporação desse discurso
nas plataformas políticas da maioria dos partidos brasileiros.

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