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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.

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30 de Maio de 2019

A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.

A polícia judiciária e a promoção dos direitos fundamentais.

Texto escrito pelo meu colega de magistério, Professor Álvaro Castelo


Branco, Mestre em Direito Internacional pelo Ceub - DF, Advogado da União,
exercendo a função no Ministério das Relações Exteriores.

1. Introdução.

O Título V da Constituição Federal trata da defesa do Estado e das


Instituições Democráticas. Por sua vez, a preservação da ordem pública, da
incolumidade das pessoas e do patrimônio está disciplinada na Constituição
da República. De fato, no artigo 144, encontra-se assim disposto o Capítulo
sobre a Segurança Pública:

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,


serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional
e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o


contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais.

§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,


incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e


reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela


segurança pública, de maneira a garantir a e ciência de suas atividades.

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30/05/2019 § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas
A Polícia Civil municipais
e a defesa destinadas
das instituições à proteção de seus
democráticas.
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos


relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.” (sem grifos
no original)

Percebe-se, portanto, que a segurança pública consiste numa situação de


preservação ou restabelecimento da convivência social que permite que todos
gozem de seus direitos e exerçam suas atividades sem perturbação de outrem.
Na sua dinâmica, é uma atividade de vigilância, prevenção e repressão de
condutas delituosas.

A polícia administrativa tem por objetivo as limitações impostas a bens


jurídicos individuais. A polícia de segurança que é a segurança ostensiva que
tem por objetivo a preservação da ordem pública e, pois, as medidas
preventivas que em sua prudência julga necessário para evitar o dano ou
perigo para as pessoas. A polícia judiciária que tem seu objetivo atividades de
investigação, de apuração das infrações penais e de indicação de sua autoria, a
fim de fornecer os elementos necessários ao Ministério Público em sua função
repressiva das condutas criminosas, por via de ação penal pública.

Dessa forma, como a polícia judiciária interfere na vida dos cidadãos, tornam-
se indispensáveis uma série de cautelas, a fim de sempre ser preservada a
dignidade da pessoa humana, ainda que uma pessoa tenha anteriormente
violado o ordenamento jurídico do Estado.

2. A dignidade da pessoa humana.

Pode-se afirmar que, historicamente, a dignidade da pessoa humana encontra-


se ligada ao cristianismo. Ernest Benda afirma que sua fundamentação está
amparada no fato de que o homem foi criado à semelhança de Deus. O
cristianismo antigo adotou a idéia da liberdade do ser humano como
característica da sua condição racional e em virtude de ser dotado de livre
arbítrio, mesmo que não chegassem a ser reconhecidos na antigüidade os
direitos fundamentais tal como se incorporaram ao textos legislativos
atualmente.[1]
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A Magna Charta inglesa, AdePolícia
1215, Civil e a defesa das instituições democráticas.
por sua vez, estabeleceu a proteção de
aspectos fundamentais da dignidade da pessoa humana, como a liberdade,
vindo a reconhecer, implicitamente, os direitos da personalidade.

No entanto, somente após a 2ª Guerra Mundial, considerada uma das maiores


atrocidades praticadas por um Estado contra a individualidade da pessoa
humana e contra a humanidade como um todo, a sociedade internacional
sentiu a necessidade de garantir a proteção de uma categoria básica de direitos
reconhecidos à pessoa humana. Nesse contexto pós-guerra, em 1948, foi
assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos documentos
básicos das Nações Unidas, que enumera os direitos que todos os seres
humanos possuem. Apesar de ser não considerado um tratado, propriamente
dito, o texto da Declaração deixa consignado em seu artigo 1º:

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade.”

Desde a época de Thomas Hobbes, sabe-se que os piores inimigos dos seres
humanos são os próprios seres humanos. Portanto, foi preciso construir uma
rede de proteção ao indivíduo, tanto no que se refere à proteção internacional
dos direitos humanos, quanto no aspecto interno dos Estados soberanos.

Vislumbra-se, portanto, que a construção jurídica da proteção e efetivação dos


direitos do homem é relativamente recente, especialmente após o traumático
período das duas grandes guerras mundiais. A isto deve se acrescentar, no
atual contexto em que nos encontramos, a chamada globalização e o
conseqüente estreitamento das relações internacionais, principalmente em face
do crescimento dos meios de comunicação do comércio internacional.

Em verdade, a normatividade internacional de proteção dos direitos humanos,


conquistada por meio de incessantes lutas históricas e teve três importantes
marcos: o tratado de paz de Westfália; a criação da Liga das Nações; e a
criação da Organização Internacional do Trabalho.

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O Tratado de Westfália, celebrado em 1648, teve por finalidade dar fim à
Guerra dos Trinta Anos. Esse Tratado restabeleceu a paz na Europa e
inaugurou nova fase na história política daquele continente, propiciando o
triunfo da igualdade jurídica dos Estados, com o que ficaram estabelecidas
sólidas bases de uma regulamentação internacional positiva. Esta igualdade
jurídica elevou os Estados ao patamar de únicos atores nas políticas
internacionais, eliminando o poder da Igreja nas relações entre os mesmos e
conferindo aos mais diversos Estados o direito de escolher seu próprio
caminho econômico, político ou religioso. Ficou, então, consagrado o modelo
da soberania externa absoluta, e iniciou-se uma ordem internacional
protagonizada por nações com poder supremo dentro de fronteiras territoriais
estabelecidas.

A Liga das Nações é considerada a primeira organização internacional


dedicada à paz universal. Foi criada após a Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), com a finalidade de promover a cooperação, paz e segurança
internacionais, condenando agressões externas contra a integridade territorial
e independência política de seus membros.

Por fim, a Organização Internacional do Trabalho (IOT) foi criada em 1919,


finda a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de estabelecer critérios
básicos de proteção ao trabalhador, regulando sua condição no plano
internacional.

Estes três precedentes contribuíram em conjunto para a idéia de que a


proteção dos direitos humanos deve ultrapassar as fronteiras estatais,
transcendendo os limites da soberania territorial dos Estados.

3. Gênese dos direitos humanos.

Fábio Konder Comparato, dissertando sobre o sentido e evolução dos direitos


humanos, assim se manifesta:

“... Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e


culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos
entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. É o
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reconhecimento universal AdePolícia
que,Civil
eme arazão
defesa das instituições democráticas.
dessa radical igualdade, ninguém
– nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação –
pode afirmar-se superior aos demais.”[2]

A nível internacional, temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos,


adotada em 10 de dezembro de 1948, pela aprovação unânime de 48 Estados,
como importante marco de proteção do ser humano no mundo. De fato, a
Declaração consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um
consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados.

Ainda assim, falar em dignidade da pessoa humana não é tão fácil como se
aparenta. Há várias questões, notadamente as de cunho cultural, que podem
gerar uma certa discórdia entre os defensores das teses “universalistas” e os
“relativistas”. Flávia Piovesan disserta com maestria:

“ A concepção universal dos direitos humanos demarcada pela Declaração


sofreu e sofre, entretanto, fortes resistências dos adeptos do movimento do
relativismo cultural. O debate entre os universalistas e os relativistas culturais
retoma o velho dilema sobre o alcance das normas de direitos humanos: as
normas de direitos humanos podem ter um sentido universal ou são
culturalmente relativas? Esta disputa alcança novo vigor em face do
movimento internacional dos direitos humanos, na medida em que tal
movimento flexibiliza as noções de soberania nacional e jurisdição doméstica,
ao consagrar um parâmetro internacional mínimo, relativo à proteção dos
direitos humanos, aos quais os Estados devem se conformar.

Para os relativistas, a noção de direitos está estritamente relacionada ao


sistema político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada
sociedade. Neste prisma, cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos
direitos fundamentais, que está relacionado às específicas circunstâncias
culturais e históricas de cada sociedade. Neste sentido, acreditam os
relativistas, o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal,
tornando-se necessário que se respeite as diferenças culturais apresentadas por
cada sociedade, bem como seu peculiar sistema moral. A título de exemplo,
bastaria citar as diferenças de padrões morais e culturais entre o islamismo e o
hinduísmo e o mundo ocidental, no que tange ao movimento de direitos
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humanos. Como ilustração, caberia mencionar a adoção da prática da
clitorectomia e mutilação feminina por muitas sociedades da cultura não
ocidental.[3]”

Isto explica, também, a existência de sistemas regionais de proteção à pessoa


humana: o sistema americano, o sistema europeu e o recém inaugurado
sistema africano. Obviamente, apesar de um existir um padrão “mínimo” de
proteção à dignidade da pessoa humana, diante da diferente situação do
homem no mundo, os costumes e regras culturais de sua sociedade, não se
pode exigir um mesmo padrão de conduta “europeu” e “africano”, por
exemplo.

4. Evolução dos Direitos humanos.

Os direitos humanos estão em constante processo de evolução e até mesmo de


criação. É certo que na antigüidade não existia a idéia de um Estado
democrático de direitos. De fato, àquela época não se conhecia o fenômeno da
limitação do poder do Estado. As leis que organizavam os Estados não
atribuíam ao indivíduo direitos frente ao poder estatal. No entanto, apesar de
não haver um consenso universal quanto à cronologia da evolução histórica
dos direitos humanos, a doutrina costuma elencar pelo menos 4 grandes
períodos: a antigüidade; a era medieval, o estado social e a época atual.

4.1. Antigüidade

Como afirma Fábio Konder Comparato, a eclosão da consciência histórica dos


direitos humanos só se deu após um longo trabalho preparatório, centrado em
torno da limitação do poder político. O reconhecimento de que as instituições
de governo devem ser utilizadas para o serviço dos governados e não para o
benefício pessoal dos governantes foi um primeiro passo decisivo na admissão
da existência de direitos que, inerentes à própria condição humana, devem ser
reconhecidos a todos e não podem ser havidos como mera concessão dos que
exercem o poder.[4]

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Nesse sentido, pode-se vislumbrar uma gênese na proteção dos direitos
humanos com a criação das primeiras instituições democráticas em Atenas, e,
em momento posterior, com a fundação da república romana. De fato, nessas
antigas cidades Greco-Romanas que, nos séculos VI e V a. C., surgiram as
primeiras cogitações filosóficas sobre o direito: Aristóteles, Sócrates e Platão.
Entretanto, já existiam leis escritas como os códigos de Hammurabi e de
Manu, que datam respectivamente dos séculos XVII e. XIII a. C.

4.2. Do pensamento cristão medieval à Revolução Francesa.

Com relação à idade média, os historiadores costumam ressaltar que direito


vigente nas sociedades da antigüidade, tanto oriental, quanto ocidental,
limitava-se a proteger a vida, a integridade física, a honra, a família e a
propriedade privada. As primeiras leis escritas da antigüidade que ainda são
objetos de estudos e citações:

a) O Código de Hammurabi (séc. XVII, a. C) tem 282 parágrafos com matéria


processual, penal patrimonial, obrigacional e contratual, família, sucessão,
regulamenta profissões, preços e remuneração de serviços.

b) O Código de Manu (séc. XIII a. C.), Compõe-se de 12 livros. Este código


protegia a propriedade privada, a honra pessoal, a vida, a integridade física
das pessoas, a família – exigia do marido comportamento digno em relação a
mulher e à família.

c) Lei mosaica (séc. XIII a. C.), atribuída a Moisés e reunida nos primeiros
livros da Bíblia sob o título de pentateuco, ao qual os Judeus denominam
Torá, ou Lei. Compõe-se de um conjunto de regras morais, sociais e religiosas
de observação obrigatória para o povo de Israel. Pela primeira vez,
governantes e governados estavam sujeitos a mesma Lei. Só Deus estava
acima da Lei.

Raul Machado Horta sintetiza muito bem esta fase processo histórico
evolução dos direitos humanos:

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“A recepção dos direitos individuais no ordenamento jurídico pressupõe o
percurso de longa trajetória, que mergulha suas raízes no pensamento e na
arquitetura política do mundo helênico, trajetória que prosseguiu vacilante na
Roma imperial e republicana, para retomar seu vigor nas idéias que
alimentaram o Cristianismo emergente, os teólogos medievais, o
Protestantismo, o Renascimento e, afinal, corporificar-se na brilhante floração
das idéias políticas e filosóficas das correntes do pensamento dos séculos
XVII e XVIII. Nesse conjunto temos fontes espirituais e ideológicas da
concepção, que afirma a precedência dos direitos individuais inatos, naturais,
imprescritíveis e inalienáveis do homem.”[5]

4.3. Do Estado Liberal ao Estado Social.

Durante os séculos que sucederam à Idade Média, a Europa conheceu um


período de intensas mudanças, com o recrudescimento da concentração de
poderes. Nesse período, ressalta Fábio Konder Comparato:

“ A ‘crise da consciência européia’ fez ressurgir na Inglaterra o sentimento de


liberdade, alimentado pela memória da resistência à tirania, que o tempo se
encarregou de realçar com tons épicos. Por outro lado, as devastações
provocadas pela guerra civil reafirmaram o valor da harmonia social e
estimularam a lembrança da antigas franquias estamentais, declaradas na
Magna Carta. Generalizou-se a consciência dos perigos representados pelo
poder absoluto, tanto na realeza dos Stuart, quanto na ditadura republicana do
Lord Protector.

No entanto, as liberdades pessoais, que se procuraram garantir pelo habeas


corpus e o Bill of Rights do final do século não beneficiavam indistintamente
todos os súditos de Sua Majestade, mas, preferencialmente, os dois primeiros
estamentos do reino: o clero e a nobreza. A novidade é que, pela sua
formulação mais geral e abstrata do que no texto da Magna Carta, a garantia
dessa liberdades individuais acabou aproveitando, e muito, à burguesia rica.
Pode-se mesmo afirmar que, sem esse novo estatuto das liberdades civis e
políticas, o capitalismo industrial dos séculos seguintes dificilmente teria
prosperado.

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A instituição-chave para aAlimitação
Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
do poder monárquico e a garantia das
liberdades na sociedade civil foi o Parlamento. A partir do Bill of Rights
britânico, a idéia de um governo representativo, ainda que não de todo o povo,
mas pelo menos de suas camadas superiores, começa a firmar-se como uma
garantia institucional indispensável das liberdades civis.”[6]

Nessa linha de idéias, na Inglaterra, foram produzidos alguns instrumentos


muito expressivos da proteção dos direitos individuais:

a) Petition of Rights – 1628, documento dirigido ao monarca em que os


parlamentares pediram o reconhecimento de diversos direitos e liberdades
para os súditos. Meio de transação entre o Parlamento e o Rei;

b) Habeas Corpus Amendment Act - 1679, instituindo o que Eduardo Spinola


Filho tem como “uma das maiores conquistas da liberdade individual, em face
da prepotência dos detentores do poder público”;

c) Bill of Rights - 1688, efetiva o surgimento da monarquia constitucional na


Inglaterra, submetendo-a a soberania popular.

No século seguinte, tivemos igualmente outros importantes instrumentos que


materializaram a preocupação com o indivíduo:

a) A Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, de 1776 – trata-se da


primeira declaração de direitos fundamentais no sentido moderno: Consagrava
o princípio da isonomia; tripartição do poder; eleições livres para os
representantes do Executivo e Legislativo; devido processo legal; juiz
imparcial; liberdade de imprensa e de religião;

b) A Declaração da Independência dos Estados Unidos –1776. Caracterizou-


se como afirmação dos direitos inalienáveis do ser humano e a proclamação
de que os poderes dos governos derivam do consentimento dos governados;

c) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão –1789 - emergiu da


Revolução Francesa ocorrida no mesmo ano e sintetiza o pensamento político,
moral e social de todo o século XVIII.
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4.4. A crise do Estado Social.

O processo de liberalização estatal, apesar de trazer inegáveis avanços para


uma parte da sociedade dominante, acarretou um brutal empobrecimento das
massas proletárias. Esse processo acabou por originar a indignação da classe
trabalhadora. A Constituição francesa de 1848 reconheceu algumas exigências
econômicas e sociais, no entanto, a plena afirmação desses novos direitos
humanos só veio a ocorrer no século XX, com a Constituição mexicana de
1917 e a Constituição de Weimar de 1919. Sobre a importância histórica da
Constituição de Weimar, assim discorre Fábio Konder Comparato:

“ Apesar das fraquezas e ambigüidades assinaladas, e malgrado a sua breve


vigência, a Constituição de Weimar exerceu decisiva influência sobre a
evolução das instituições políticas em todo o Ocidente. O Estado da
democracia social, cujas linhas-mestras já haviam sido traçadas pela
Constituição mexicana de 1917, adquiriu na Alemanha de 1919 uma estrutura
mais elaborada, que veio a ser retomada em vários países após o trágico
interregno nazi-facista e a 2ª Guerra Mundial. A democracia social
representou efetivamente, até o final do século XX, a melhor defesa da
dignidade humana, ao complementar os direitos civis e políticos – que o
sistema comunista negava – com os direitos econômicos e sociais, ignorados
pelo liberal-capitalismo. De certa forma, os dois grandes Pactos internacionais
de direitos humanos, votados pela Assembléia Geral das Nações Unidas em
1966, foram o desfecho do processo de institucionalização da democracia
social, iniciado por aquelas duas Constituições no início do século.

A estrutura da Constituição de Weimar é claramente dualista: a primeira parte


tem por objeto a organização do Estado, enquanto a segunda parte apresenta a
declaração dos direitos e deveres fundamentais, acrescentando às clássicas
liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social.”[7]

Nesta mesma época começa também a internacionalização dos Direitos


Humanos. É criada a Sociedade das Nações e especificamente no campo dos
Direitos Sociais, a O. I. T. (Organização Internacional do Trabalho). O Direito
do Trabalho é o Direito Social por excelência sendo que os precursores da
idéia de uma legislação internacional “são dois industriais, o inglês Robert
Owen e o francês Daniel Le Grand, no começo do século XIX”.[8]
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De fato, tem-se para os autores do Direito Internacional que o Direito
Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho
situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos
direitos humanos. No entanto, para que os direitos humanos se
internacionalizassem, foi necessário redefinir o âmbito e o alcance do
tradicional conceito de soberania estatal, a fim de que se permitisse o advento
dos direitos humanos. Foi ainda necessário redefinir a condição do indivíduo
no cenário internacional, para que se tornasse verdadeiro sujeito de direito
internacional.

5. A reivindicação por novos direitos.

Costuma-se dividir os direitos humanos fundamentais em três dimensões, com


base no decorrer dos momentos históricos que inspiraram a sua criação.

Para o constitucionalista Paulo Bonavides, pode-se afirmar que os direitos de


primeira dimensão são os direitos de liberdade lato sensu, sendo os primeiros
a constarem dos textos normativos constitucionais, quais sejam: os direitos
civis e políticos, que em grande parte correspondem, sob o ponto de vista
histórico, à fase inaugural do constitucionalismo ocidental.. São direitos que
têm por titular o indivíduo, sendo, portanto, oponíveis ao Estado. Os direitos
de segunda dimensão, nascidos a partir do início do século XX, são os direitos
de igualdade lato sensu, quais sejam: os direitos sociais, econômicos e
culturais, bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no
constitucionalismo do Estado social, depois que germinaram por obra da
ideologia e da reflexão antiliberal daquele século. Por fim, os direitos de
terceira dimensão são aqueles assentados no princípio da fraternidade, como o
direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao
patrimônio comum da humanidade. Há que se falar ainda, modernamente, nos
chamados direitos de quarta dimensão, resultantes da globalização dos direitos
fundamentais, de que podem ser exemplos o direito à democracia, o direito à
informação e o direito do pluralismo, deles dependendo a concretização da
sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para
a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de
convivência.[9]

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É importante deixar consignado, que os direitos fundamentais existentes em
um dado ordenamento jurídico não se restringem aos elencados na sua Carta
fundamental pois, englobam também aqueles que estão enraizados na
consciência do povo. O conceito meramente formal não basta, pois, desde que
se revelem essenciais para a dignidade da pessoa humana, sua liberdade e
igualdade, os direitos fundamentais podem localizar-se fora do texto escrito.

Os direitos fundamentais das pessoas não podem ser compreendidos se


dissociados de uma realidade histórica, uma vez refletem os anseios e os
desafios vividos pela sociedade em um determinado contexto. Em verdade, os
direitos fundamentais, em face da sua natureza histórica, não nasceram na
extensão que hoje se conhece, pois evoluíram e sofreram varias
transformações em aspectos do seu conteúdo, titularidade, eficácia e
efetivação, e encontram-se ainda em fase de expansão.

6. A proteção internacional dos Direitos do homem.

Como bem ressalta Valério de Oliveira Mazzuoli, antes de se adentrar no


estudo da proteção internacional dos direitos humanos, é preciso estabelecer a
distinção doutrinária entre as expressões “direitos do homem”, “direitos
fundamentais” e “direitos humanos”:

“a) Direitos do homem – é a expressão de cunho mais naturalista (rectius:


jusnaturalista) que jurídico-positivo. Conota a série de direitos naturais (ou
ainda não positivados) aptos à proteção global do homem. São direitos que,
em tese, ainda não se encontram nos textos constitucionais ou nos tratados
internacionais de proteção dos direitos humanos. Contudo, nos dias atuais, é
muito difícil (ou quase impossível) existir direito conhecível que ainda não
conste de algum documento escrito, seja interno ou de índole internacional.

b) Direitos fundamentais – é a expressão mais afeta à proteção constitucional


dos direitos dos cidadãos. Ligam-se, assim, aos aspectos ou matizes
constitucionais (internos) de proteção, no sentido de já se encontrarem
positivados nas Constituições contemporâneas. Tais direitos devem constar de
todos os textos constitucionais, sob pena de esse instrumento chamado
Constituição perder totalmente o sentido de sua existência, tal como já
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asseverava o conhecido art. 16 da Declaração (francesa) dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789: “A sociedade em que não esteja assegurada a
garantia dos direitos nem estabelecida a separação de poderes não tem
Constituição.

c) Direitos humanos – são, por sua vez, direitos inscritos (positivados) em


tratados ou costumes internacionais. Ou seja, são aqueles direitos que já
ascenderam ao patamar do Direito Internacional Público. Dizer que os
“direitos fundamentais” são mais facilmente visualizáveis que os “direitos
humanos”, pelo fato de já estarem positivados no ordenamento jurídico
interno (Constituição) de determinado Estado é falsa. Basta compulsar os
tratados internacionais de proteção dos direitos humanos (tanto do sistema
global, como dos sistemas regionais) para se poder visualizar nitidamente
quantos e quais são os direitos protegidos. Deve-se destacar aqui a importante
atuação do Conselho de Direitos Humanos (antiga Comissão de Direitos
Humanos) das Nações Unidas no que tange à redação e às negociações de
vários dos mais importantes tratados de direitos humanos (do sistema global)
concluídos até os dias de hoje.”[10]

Note-se, por oportuno, que a Constituição da República de 1988, nesse ponto,


foi extremamente feliz ao se utilizar das expressões direitos fundamentais e
direitos humanos. Com efeito, quando o texto constitucional brasileiro faz
referência aos direitos nele previstos, utiliza-se da expressão “direitos
fundamentais”, como faz no artigo 5º, § 1º, segundo o qual “as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Por
sua vez, quando o mesmo texto constitucional refere-se às normas
internacionais de proteção da pessoa humana, faz referência à expressão
“direitos humanos”, tal como no § 3º do mesmo artigo 5º, segundo o qual “os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”.

Voltando-se, novamente, à proteção internacional dos direitos humanos, a


doutrina internacionalista mais autorizada costuma elencar uma série de
características de tais direitos, relacionados à sua titularidade, natureza e aos
seus princípios, tais como:
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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
a) Historicidade – os direitos humanos são históricos, ou seja, são direitos que
vêm se desenvolvendo ao longo do tempo. Como já ressaltado anteriormente,
foi somente a partir de 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, que
tais direitos começaram efetivamente e serem desenvolvidos no plano
internacional.

b) Universalidade – todas as pessoas são titulares dos direitos humanos,


independentemente de qualquer condição, como origem, raça, cor, sexo,
opção sexual ou religiosa etc.

c) Essencialidade – os direitos humanos são essenciais por natureza, sendo


reconhecidos como valores supremos dos seres humanos.

d) Irrenunciabilidade – se traduz na idéia de que mesmo diante de eventual


autorização de seu titular, não se justifica ou se admite qualquer violação de
seu conteúdo.

e) Inalienabilidade – os direitos humanos não permitem a sua desinvestidura


por parte de seu titular, não podendo ser transferidos ou cedidos (onerosa ou
gratuitamente) a outrem, ainda que com consentimento do agente, sendo
indisponíveis e inegociáveis.

f) Inexaurabilidade – os direitos humanos têm a possibilidade de expansão,


podem haver acréscimos de novos direitos, como se observa no artigo 5º, § 2º,
da Constituição da República.

g) Imprescritibilidade – não se esgotam com o passar do tempo, e podem ser


invocados a qualquer tempo, não se justificando a perda pelo exercício da
prescrição.

h) Vedação do retrocesso – os direitos humanos devem sempre agregar algo


de novo e melhor ao ser humano, não podendo jamais retroceder na proteção
de direitos.

7. A generalização da proteção internacional dos direitos humanos.

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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
A partir da adoção, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos
e da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (1948), houve a
abertura do processo de generalização da proteção internacional dos direitos
humanos. Com o processo de generalização da proteção internacional dos
direitos humanos passou-se a visar a proteção do ser humano como tal e não
mais sob certas condições do passado, no qual era dirigido a proteção para as
minorias, trabalhadores, refugiados, apátridas, e outros. Os sistema de tutela
vigente, antes do processo de generalização, era o chamado sistema de
minoria e mandatos, utilizado na liga das nações, que era antecessor ao
sistema de petições individuais atual das Nações Unidas.

Segundo Flávia Piovesan, o processo de universalização dos direitos humanos


traz em si a necessidade de implementação desses direitos, mediante a criação
de uma sistemática internacional de monitoramento e controle. Relembra a
renomada autora que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com seus
inúmeros instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional. Pelo
contrário, situa-se como direito paralelo e suplementar ao direito nacional, no
sentido de permitir sejam superadas suas omissões e deficiências. No sistema
internacional de proteção dos direitos humanos, o Estado tem a
responsabilidade primária pela proteção desses direitos, ao passo que a
comunidade internacional tem a responsabilidade subsidiária. Os
procedimentos internacionais têm, assim, natureza subsidiária, constituindo
garantia adicional de proteção dos direitos humanos, quando falham as
instituições nacionais.[11]

Na verdade, a multiplicação dos instrumentos de proteção é um reflexo do


processo histórico de generalização dos direitos humanos no plano
internacional. Neste sentido, outro aspecto importante deste processo é a
interação entre os vários instrumentos internacionais de proteção, sejam as
declarações, convenções ou cartas constitutivas das organizações
internacionais (OEA e ONU) voltadas à observância dos direitos humanos. O
uso do direito internacional tem como objetivo ampliar e aperfeiçoar a
proteção dos direitos humanos.

8. A polícia judiciária e a promoção dos direitos fundamentais.

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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
Como já ressaltado anteriormente, os direitos fundamentais são a proteção da
dignidade da em normas internas dos Estados. Nesse aspecto, a Constituição
da República de 1988 é uma das mais evoluídas do mundo, por conter um
Título exclusivo sobre os Direitos e Garantias Fundamentais (Título II).

Vários dispositivos constitucionais cuidam da proteção da dignidade da


pessoa humana em situações de investigação e persecução penal (ninguém
será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal; são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos; a prisão de qualquer pessoa e o
local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e
à família do preso ou à pessoa por ele indicada; o preso será informado de
seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado; o preso tem direito à identificação dos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; a prisão ilegal
será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; não haverá prisão civil
por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel).

Nenhum outro ramo do Direito, ou qualquer outra atividade estatal é tão


invasiva sobre os direitos fundamentais quanto o Direito Penal e a atividade
policial. Dessa forma, ao pautar suas atuações, a polícia judiciária deve
sempre se atentar aos limites constitucionais que lhe são impostos.

É de se recordar, também, que em recente decisão, o Supremo Tribunal


Federal, no Habeas Corpus n.º 87.585/TO, assim decidiu:

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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
“Em conclusão de julgamento, o Tribunal concedeu habeas corpus em que se
questionava a legitimidade da ordem de prisão, por 60 dias, decretada em
desfavor do paciente que, intimado a entregar o bem do qual depositário, não
adimplira a obrigação contratual — v. Informativos 471, 477 e 498. Entendeu-
se que a circunstância de o Brasil haver subscrito o Pacto de São José da
Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida ao descumprimento
inescusável de prestação alimentícia (art. 7º, 7), conduz à inexistência de
balizas visando à eficácia do que previsto no art. 5º, LXVII, da CF (“não
haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;”).
Concluiu-se, assim, que, com a introdução do aludido Pacto no ordenamento
jurídico nacional, restaram derrogadas as normas estritamente legais
definidoras da custódia do depositário infiel. Prevaleceu, no julgamento, por
fim, a tese do status de supralegalidade da referida Convenção, inicialmente
defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento do RE 466343/SP, abaixo
relatado. Vencidos, no ponto, os Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso,
Ellen Gracie e Eros Grau, que a ela davam a qualificação constitucional,
perfilhando o entendimento expendido pelo primeiro no voto que proferira
nesse recurso. O Min. Marco Aurélio, relativamente a essa questão, se absteve
de pronunciamento.” (Informativo 531)

Diante de tal decisão, a proteção à dignidade da pessoa humana encontra-se


ainda mais protegida, uma vez que os tratados sobre direitos humanos
incorporados a partir da Constituição de 1988, que não se sujeitaram ao
quórum qualificado de emenda constitucional, têm status de supralegalidade,
e deverão ser respeitados ainda com mais força.

Conclui-se, portanto, que a polícia judiciária exerce um importante papel,


tanto na defesa das instituições democráticas, quanto na promoção dos
direitos fundamentais, uma vez que ao atuar de acordo com os ditames da
Constituição da República, bem como dos tratados sobre direitos humanos,
ela está, na verdade, implementando tais garantias que são inerentes aos
próprios seres humanos.

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30/05/2019 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas.
[1] BENDA, Ernest. Dignidad humana y derechos de la personalidad. In
Manual de Derecho Constitucional. Madrid: Marcial Pons, Ediciones
Jurídicas y Sociales, S. A., 1996. P. 118

[2] COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos


humanos. São Paulo: Sariava, 2001. 2. Ed. P. 1

[3] PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional


internacional. São Paulo: Max Limonad, 2002, 5. Ed., pp. 156-157

[4] COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos


humanos. São Paulo: Sariava, 2001. 2. Ed. P. 39.

[5] MACHADO HORTA, Raul. Constituição e direitos individuais, Separata


da Revista de Informação Legislativa. A. 20 n.- 79, Julho/Set., 1.983, pp. 147-
148.

[6] COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos


humanos. São Paulo: Sariava, 2001. 2. Ed. Pp. 46-47.

[7] COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos


humanos. São Paulo: Sariava, 2001. 2. Ed. Pp. 198-199.

[8] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São


Paulo: Saraiva, 1989, 7. Ed., p. 59.

[9] BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo:


Malheiros, 2000, 10. Ed., pp. 516-525.

[10] MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 2. Ed. Pp. 671-672.

[11] PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional


internacional. São Paulo: Max Limonad, 2002, 5. Ed., pp. 163-165.

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