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O livro “LIBRAS Que Lingua é Essa?

” foi escrito por Audrei Gesser, doutora em linguística


aplicada. O livro poderia ser descrito como um livro protesto, situado em torno da
afirmação todavia, e cansadamente, necessária “LIBRAS é uma língua.”. O livro tem
um formato de desmitificação informativa, trazendo consigo diversas perguntas que
são respondidas acerca do universo que toca a questão da LIBRAS e conjunto a
essas os preconceitos remanescentes, ainda que o status linguístico oficial date de
1960, em relação a essa, que ainda permeiam a vida de seus praticantes e
obstaculam a seriedade do estudo e do entendimento dessa língua complexa, de
sinais e brasileira.
A metodologia de resposta é então de alguma forma algo que dá às pessoas leitoras
do livro, sejam elas surdas ou ouvintes, material de aprendizado prévio e
repensamento para que se atenue a distância ignorante e histórica na entre-relação
desses mundos, tal que LIBRAS é uma língua, que permite e permeia a comunicação
de uma vasta comunidade e que pode ser tanto uma língua materna ou se
desenvolver a posteriori – seja por necessidade de comunicação, seja por interesse
em comunicar-se com alguém que use essa língua. A autora deseja, com o livro, fazer
repensar crenças e apontar novas formas e novos olhares para narrar a(s) realidade(s) surda(s).

Acho difícil descrever o livro sem comentar que sou ouvinte e, só com a ajuda dele (e da
obrigatoriedade de uma disciplina na faculdade) pude aprofundar meu entendimento sobre o
vasto e complexo universo da língua e das pessoas que a praticam, principalmente as pessoas
surdas, que, por eu não ter aprendizagem em LIBRAS, ficamos barrados de uma comunicação
mais complexa. É uma posição de abertura que o livro evoca, uma inclusão em si de vislumbres
a cerca de um mundo que, sem a devida importância ser colocada no ensino da língua como
algo mais próximo, poderia passar “alheio” como diz a autora quando fala da situação de
surpresa que ocorre muitas vezes quando a língua é dita enquanto língua (surpresa que só não
ocorre por pessoas surdas, ou ouvintes proximais de alguma forma). A importância
transformativa do livro é algo sentido a cada palavra que expande, literalmente, um universo e
permite o desejo de uma relação de vizinhança, onde antes havia ignorância ou
deslegitimidade (seja voluntária ou “inconsciente”). Tal pontuação da qualidade da minha
língua, serve para justificar a distância utilizada ao falar de universos distintos, partindo de um
referencial da minha história de vida e relações mais frequentes, mas que em nada se difere
por superioridade ou alcance em relação a essa outridade (em relação a mim) que a
comunidade surda me evoca (ser (comunidade ouvinte) e escrever (“os surdos”).

O livro se divide em três capítulos: um sobre a Língua de Sinais, o segundo sobre O Surdo e o
terceiro sobre A Surdez.

No primeiro capítulo sabemos: universal é o impulso humano para a comunicação, a língua de


sinais, tal como as línguas orais, existe com suas diferenças de acordo com a região praticada,
configurando uma nova língua – a partir daquilo que se pode ver mínimo comum – a cada
território e organização demarcada, sendo assim a LIBRAS a língua de sinais brasileira, por
exemplo, que dista da língua de sinais japonesa e da língua de sinais americana. Em todas essas
existem ainda variações regionais. A Língua de sinais é também uma língua natural, tal que
evolui como parte de um grupo cultural e não é uma língua estabelecida por um grupo de
pessoas com um propósito específico. A língua de sinais tem gramática, ainda que essa só
tenha sido estudada aprofundamente em 1960 por Stokoe.

A língua de sinais não é mímica, tal que não parte de uma invenção aleatória de
correspondentes a palavras e expressões e sim de um código complexo e existente de
expressões. Embora se trate de uma língua expressa pela dimensão visual, a língua de sinais
não é icônica e tem expressões também abstratas em sua constituição.

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