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DIREITO PENAL

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Características das contravenções penais (DECRETO-LEI


Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941): 1 - Pena de
DIREITO PENAL prisão simples (regime semi-aberto e aberto, não
podendo nunca regredir para o regime fechado)
cumulado ou não com multa ou só multa. 2 - Não se
pude tentativa de contravenção. 3 - Todas as
contravenções penais são de ação penal pública
PROGRAMA: incondicionada. 4 - Não há extraterritorialidade da lei
DIREITO PENAL: penal brasileira. 5 - Pena máxima de 5 anos. 6 - São
sempre julgadas pela justiça estadual. OBS.: A justiça
Infração penal: elementos, espécies; Sujeito ativo e federal não julga contravenções penais, mesmo que
sujeito passivo da infração penal; Tipicidade, ilicitude, atinja interesses da União. Porém existe uma exceção,
culpabilidade, punibilidade; Imputabilidade penal. quando o contraventor tiver foro especial na justiça
Crimes contra a pessoa; federal. Ex.: Juiz federal, que comente contravenção
penal, é julgado pela justiça federal - TRF.
Código Penal (Decreto-lei nº. 2.848, de 7 de dezembro
de 1940): Título XI - Dos Crimes Contra a Administração Diferenças básicas entre os regimes: 1 - Regime
Pública. Fechado - O cumprimento se dará em penitenciárias,
podendo, após diversos critérios, o preso trabalhar
Abuso de Autoridade (Lei nº 4.898/65), externamente somente em serviços ou obras públicas.
Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). OBS.: O preso poderá também trabalhar internamente,
de acordo com suas aptidões ou habilidades que eram
desenvolvidas antes da condenação.
2 - Regime semiaberto: O cumprimento se dará em
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL colônias agrícolas, industriais ou estabelecimentos
semelhantes, podendo o preso trabalhar externamente,
assim como frequentar cursos de ensino superior,
médio, profissionalizantes e dentre outros.
3 - Regime aberto: O cumprimento se dará nas
conhecidas casas de albergados, podendo o preso
Anterioridade da lei
trabalhar externamente.
OBS.: Nos regimes fechados e semiabertos o preso terá
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não direito a remição, ou seja, a cada três dias de trabalho
há pena sem prévia cominação legal. diminuirá um na sua pena. Todavia no regime aberto
não tem previsão expressa para esta remição.
Princípio da Anterioridade - A lei incriminadora deve
COMENTÁRIOS
ser anterior ao fato praticado, ou seja, não pode ser
No primeiro momento se faz necessário que saibamos a aplicada aos fatos anteriores a sua entrada em vigor.
diferença entre crime/delito e contravenção penal. Ex.: Joaquim praticou um ato no dia 15/01/2017. No dia
Características dos crime/delitos: 1 - Pena de reclusão 20/01/2017, entra em vigor uma lei que tipifica a
(regime fechado, regime semi-aberto e aberto), conduta de Joaquim como crime. Conclusão: Joaquim
detenção (regime semi-aberto e aberto, podendo haver não poderá responder pelo crime, pois o ato foi
a regressão de regime semi-aberto para fechado) praticado antes da lei entrar em rigor.
cumulada ou não com multa. 2 - Tentativa de crime é Princípio da Reserva Legal - Somente lei federal,
punida. 3 - Admitem três espécies de ação penal: Ação ordinária ou complementar, pode criar ou modificar
Penal Pública Incondicionada, Ação Penal Pública infrações penais e sanções penais. OBS.: Não se pode
Condicionada e Ação Penal Privada. 4 - Existe criar ou modificar infrações penais e sanções penais
extraterritorial idade da lei penal. 5 - Tempo máximo é por: 1 - Leis estaduais, municipais ou do distrito federal.
de prisão 30 anos. 6 - A competência para julgar os 2 - Lei delegada. 3 - Emenda constitucional. 4 - Medida
crimes é da justiça federal e justiça estadual. provisória (Art. 62 - “Em caso de relevância e urgência,
o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de

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imediato ao Congresso Nacional”, § 1º - “É vedada a Taxatividade) e necessária (Princípio da Intervenção


edição de medidas provisórias sobre matéria” - I - Mínima).
“relativa a”, b - “direito penal, processual penal e
No Art. 1° do C.P. entendamos infração penal (crime e
processual civil”, da Constituição Federal de 1988). 5 -
contravenção penal), sanção penal (penas e medidas de
Costumes, princípios gerais de direito e analogias.
segurança).
É terminantemente proibida a analogia in malam
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE = RESERVA LEGAL +
partem, ou seja, aquela que irá prejudicar o réu. Porém
ANTERIORIDADE.
é perfeitamente aceita a analogia in bonam partem, ou
seja, aquela que irá beneficiar o réu. Ex.: Manoel faz Normas Penais em Branco: São aquelas que necessitam
uma ligação clandestina para pegar o sinal de Sky do seu de um completo de outra norma.
vizinho. Seu vizinho vai a uma delegacia de polícia, após
Classificação das Normas Penais em Branco: 1 -
ser realizado os procedimentos, o juiz recebe a
Normas Penais em Branco próprias (complemento
denúncia de um furto. Porém, verifica que o delegado
proveniente de outras espécies normativas, como por
equiparou o furto de sinal da Sky, com furto de energia,
exemplo, portarias.) e Normas Penais em Branco
por analogia. Conclusão: Como a analogia é com animus
impróprias (completamente proveniente da mesma
de prejudicar o réu, a mesma não poderá ser aplicada.
espécie normativa, como por exemplo, lei penal
Ex2.: Uma parteira, em uma cidade longínqua, que
completada pelo código civil ou pelo próprio código
pratica uma manobra abortiva em uma jovem que foi
penal). OBS.: Ainda podemos dividir as Normas Penais
vítima de estupro. Conclusão: O Art. 128, I e II do C.P.
em Branco impróprias em: Homovitelina (completo
(“Não se pune o aborto praticado por médico”: I - “se
está dentro do próprio código penal. Ex.: O crime de
não há outro meio de salvar a vida da gestante”; e II -
peculato, suja elementar é o funcionário público.
“se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
Conclusão: Encontraremos o conceito de funcionário
de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de
público no próprio código penal, mais precisamente no
seu representante legal”) prevê somente a prática do
seu art. 327.) e Heterovitelina (completo está dentro de
aborto realizada por médico, mas, por analogia (in
outra lei, localizada no código civil, por exemplo. Ex.: No
bonam partem), o legislador achou que poderia ser
delito de art. 236 - "Contrair casamento, induzindo em
praticado por outras pessoas como a enfermeira e a
erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
parteira, por exemplo.
impedimento que não seja casamento anterior",
Segundo Mirabete, “o costume é uma regra de conduta encontraremos as hipóteses de impedimento da união
praticada de modo geral, constante e uniforme, com a civil, dentro do código civil.).
consciência de sua obrigatoriedade”. Assim, apesar de
Norma Penal em Branco Reversa, Revés ou Investida: É
ser proibida a criação de normas penais por meio de
aquela cujo complemento normativo está relacionado à
costumes, os mesmos podem auxiliar o intérprete a
sanção penal (pena) e não ao conteúdo da proibição.
traduzir conceitos, tais como de repouso noturno,
Ex.: Art. 304 do C.P. "Fazer uso de qualquer dos papéis
honra e etc., permitindo assim um enquadramento
falsificados ou alterados, a que se refere os arts. 297 a
correto do fato ao tipo penal. Ex.: Raimundo adentrou
302.
uma residência em uma cidade do interior do Pará, por
volta das 20h, para cometer um furto. Os moradores Pena - A cominada à falsificação ou à alteração."
desta cidade iniciam seu repouso noturno às 18h.
Conclusão: O juiz poderá utilizar os costumes locais e
qualificar o furto do Art. 155, § 1º (“Subtrair, para si ou
para outrem, coisa alheia móvel”; § 1º - “A pena
aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante
o repouso noturno”) do C.P., por ter sido cometido
durante o repouso noturno.
Princípio da Taxatividade - A lei incriminadora deve
descrever de forma clara e precisa a conduta criminosa.
Este princípio proíbe leis penais vagas, genéricas ou
imprecisas (de conteúdo duvidoso).
A lei tem que ser escrita, estrita (proíbe a utilização de
analogia incriminadora), certa (Princípio da

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LEI PENAL NO TEMPO EXTRATIVIDADE = RETROATIVIDADE + ULTRATIVIDADE


Lei excepcional ou temporária
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei decorrido o período de sua duração ou cessadas as
posterior deixa de considerar crime, cessando em circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença praticado durante sua vigência.
condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo COMENTÁRIOS:
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em As leis, em regra, são feitas para vigorarem por prazo
julgado. indeterminado, até que sejam revogadas por outra lei.
Porém existem duas exceções: Lei excepcional e Lei
temporária (Possuem durações determinadas).
COMENTÁRIOS Não se aplica nas leis excepcionais e temporárias a
A Abolitio Criminis nada mais é que a abolição do abolitio criminis.
crime, ou seja, se um fato deixa de ser crime, então o Lei Excepcional - É a lei feita para vigorar durante
sujeito não poderá mais ser punido, e mesmo que já situações excepcionais, ou seja, de anormalidade. Ex.:
tenha transitado em julgado a sentença condenatória, guerra, calamidades e etc.
cessará todos os efeitos penais. Ex.: Pedro cometeu um
crime, e o processo já transitou em julgado e o mesmo Lei Temporária - É a lei feita para vigorar durante prazo
está cumprindo sua pena. Porém, 2 meses após o certo e exato, ou seja, em seu próprio texto consta o dia
cumprimento de pena, surge uma lei abolindo o crime da sua revogação. Ex.: Uma lei que começou a vigorar
praticado por Pedro. Conclusão: Pedro será colocado no dia 01/01/2017 e se findará no dia 01/02/2017.
em liberdade. OBS.: Somente serão cessados os efeitos As leis excepcionais e temporárias continuam sendo
penais, ou seja, os extrapenais continuarão sendo aplicadas após serem revogadas, ou seja, são ultrativas.
aplicados. Ex.: Mario corta o rosto de João. Na esfera Mas apenas aos fatos ocorridos durante a sua vigência.
penal foi condenado por lesão corporal e na esfera cível Ex.: Suponhamos que surge uma lei que proíbe lavar
foi condenado a pagar a reparação estética do rosto de carro no período de 01/02/2017 à 01/03/2017. João
João. Suponhamos que o delito de lesão corporal foi lava seu carro neste período. Conclusão: Mesmo que a
abolido do código penal. Conclusão: Mario não lei tenha vencido seu prazo de validade, João irá
precisará cumprir nenhum ato decidido por sentença responder pelo delito praticado à época do fato. OBS.:
penal, todavia continuará obrigado a fazer a reparação Uma lei perde sua vigência em algumas situações
estética no rosto de João. específicas, quais sejam: revogação por outra lei,
desuso e decurso de tempo. OBS2.: Revogação é o
fenômeno pelo qual uma lei perde a sua vigência, pois
Retroatividade - A lei penal não retroagirá, salvo para entra em vigor outra norma. OBS3.: Repristinação é um
beneficiar o réu (Novatio legis in mellius) - Art. 5, XL C.F. instituto jurídico, no qual, uma norma que foi revogada,
Ex.: José cometeu um delito que tem uma pena de 5 a volta a vigência novamente, após ter sido revogada por
10 anos de reclusão. No decorrer do processo, o mesmo uma terceira lei, ou seja, seria a revogação da
delito passou a ter uma pena de 2 a 7 anos de reclusão. revogação.
Conclusão: José será beneficiado com a nova lei.
Ultratividade - A lei posterior mais rigorosa não poderá
retroagir para agravar a situação do agente (Novatio
legis in pejus). Sendo assim aplicada a lei revogada. Ex.:
No dia 10/01/2017, João cometeu um crime que trazia
uma pena de 1 a 3 anos de reclusão. Antes da sentença
transitada em julgado, a lei foi revogada e o crime
passou a ter uma pena de 2 a 5 anos de reclusão.
Conclusão: Será aplicada a João a lei que foi revogada,
tendo em vista, que a lei nova é mais maléfica.

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Tempo do crime de reclusão. Conclusão: Pablo será julgado com base na


lei mais nova, mesmo sendo mais rigorosa.
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do Crime Permanente - É aquele que se prolonga no
resultado. tempo. Ex.: Sequestro, Redução a condição análoga à
de escravo e etc.
Crime Continuado - É uma sucessão de crimes da
COMENTÁRIOS mesma espécie, praticados nas mesmas circunstâncias
O Art. 4° do C.P. refere-se ao tempo no qual o crime de tempo, lugar e maneira de execução. Ex.: Três furtos
ocorreu. (Art. 155 do C.P.) praticados em três casas vizinhas em
três dias seguidos, nos mesmos horários, com os
Teoria Atividade - Considera-se praticado o crime no
mesmo modos operantes e etc. OBS.: Só é possível
momento da conduta (ação ou omissão), ou seja, no
existir crime continuado, se estivermos diante de
momento da atividade criminosa e não no momento do
crimes da mesma espécie, ou seja, descrito no mesmo
resultado. (ADOTADA PELO C.P.) Ex.: Pedro atira em
tipo penal (mesmo artigo de lei). Ex.: Art. 155 “caput” e
Paulo no dia 10/01/2017. Porém, o mesmo vem a
155, § 4º, ou seja, furto simples e furto qualificado,
falecer no dia 13/01/2017. Conclusão: Será considerado
porém os dois são furtos.
praticado o delito no dia 10/01/2017.
Teoria do Resultado - Considera-se praticado o crime
no momento do resultado e não da conduta. (NÃO Territorialidade
ADOTADO PELO C.P.) Ex.: Pedro atira em Paulo no dia
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
10/01/2017, que vem a falecer no dia 20/01/2017.
convenções, tratados e regras de direito internacional,
Conclusão: Será considerada a pratica do delito no dia
ao crime cometido no território nacional.
20/01/2017.
Teoria Mista ou Ubiquidade - Considera-se praticado o
crime, tanto no momento da conduta quanto do §1º - Para os efeitos penais, consideram-se como
resultado. (NÃO ADOTADO PELO C.P.) Ex.: Pedro atira extensão do território nacional as embarcações e
em Paulo no dia 10/01/2017, que vem a falecer no dia aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
20/01/2017. Conclusão: Será considerado a pratica do do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
delito tanto no dia 10/01/2015 quanto no dia bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
20/01/2017. mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
Se durante um crime permanente ou continuado (Art.
em alto-mar.
71 do C.P. - "Quando o agente, mediante mais de uma
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma §2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
execução e outras semelhantes, devem os estrangeiras de propriedade privada, achando-se
subsequentes ser havidos como continuação do aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em territorial do Brasil.
qualquer caso, de um sexto a dois terços") houver a
alteração de lei, aplica-se sempre a lei mais nova,
mesmo que seja mais grave ao acusado (Súmula N° 711
do STF - "A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da
permanência"). Ex.: Pablo pratica o crime de sequestro
no dia 05/01/2017. O mesmo se estende, e vem a findar
no dia 25/08/2017. No dia do início do sequestro (dia
05/01/2017), suponhamos que o delito tinha uma pena
de 4 a 10 anos de reclusão, porém no dia 10/07/2017 a
lei é alterada, dando ao delito uma pena de 6 a 15 anos

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COMENTÁRIOS OBS.: A competência será da justiça estadual, quando


se tratar de delitos cometidos a bordo de iates, lanchas,
Em regra aplica-se a lei penal brasileira em todo
botes e embarcações equiparadas, pois a CF/88 em seu
território nacional, não importando a nacionalidade da
Art. 109 - “Aos juízes federais compete processar e
vítima ou agente ou do bem jurídico tutelado (Princípio
julgar”, IX - “os crimes cometidos a bordo de navios ou
da Territorialidade Relativa).
aeronaves, ressalvada a competência da Justiça
O Art. 5° do C.P. adotou a Territorialidade Temperada Militar”, menciona o termo navios (embarcações de
(aquela que permite a eficácia da norma de outros grande porte, autorizadas e adaptadas para viagens
países em certos casos, como, tratados, convenções e internacionais). OBS2.: No que se refere ao termo
regras de direito internacional.) pela aeronaves, a sua interpretação é extensiva, ou seja,
intraterritorialidade (lei do estrangeiro adentrando no aeronaves de modo geral.
Brasil).
O Brasil adota a chamada Passagem Inocente (Lei
Território Nacional = Espaço físico (Geográfico) + Espaço 8.617/93 - Art. 3º - "É reconhecido aos navios de todas
Jurídico (Equiparação - Art. 5º, §§ 1º e 2º C.P.). as nacionalidades o direito de passagem inocente no
No Art. 5°, §§ 1º e 2º do C.P. temos: 1 - Quando as mar territorial brasileiro"). Quando o navio privado
embarcações ou aeronaves brasileiras forem públicas passa pelo território nacional apenas como passagem
ou estiverem a serviço brasileiro, quer se encontre em necessária para chegar ao seu destino (no nosso
território nacional ou estrangeiro, são considerados território não atracará) não se aplica a lei brasileira,
partes do nosso território; 2 - Se privados, quando em desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à
alto-mar ou espaço aéreo correspondente, seguem a lei segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
da bandeira de ostentam (Princípio da Bandeira); 3 - OBS.: Apesar de não existir previsão expressa,
Quanto às embarcações ou aeronaves estrangeiras em garantindo o direito de passagem inocente de
território brasileiro, desde que públicas, não são aeronaves, não tem sentido excluí-las, desde que
considerados parte de nosso território. Porém se respeitados os requisitos impostos às embarcações
privadas são considerados parte de nosso território. (doutrina majoritária). Conclusão: A letra de lei traz
somente previsão para navios, excluindo as aeronaves.
Embaixada não é extensão do território que No entanto, para muitos doutrinadores, não há motivos
representam. Porém as embaixadas são invioláveis. para excluí-las.
Na dúvida de territorialidade, a doutrina resolve o
problema, aplicando a lei da nacionalidade do agente.
Ex.: Em alto-mar, duas embarcações privadas colidem, Lugar do crime
uma brasileira e outra italiana. Um americano e um Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em
japonês constroem uma jangada com os destroços das que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
duas embarcações, e sobre os destroços misturados das bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
embarcações, o americano mata o japonês. Será resultado.
aplicada a lei da nacionalidade do agente, pois a
territorialidade está mistura/confusa. Porém, se no
mesmo caso, fossem duas embarcações brasileiras COMENTÁRIOS
privadas em alto-mar, como os destroços são
brasileiros, então seria aplicada a lei da bandeira que Teoria Atividade - Considera-se praticado o crime no
ostentam, ou seja, lei brasileira. lugar da conduta e não do resultado (NÃO ADOTADA
PELO C.P.). Ex.: Pedro atira em Paulo no Estado do Pará.
Se a embarcação estrangeira for pública e estiver Porém, o mesmo vem a falecer no Estado de São Paulo.
atracada em porto brasileiro, e acontece um crime no Conclusão: Será considerado o lugar do delito no
interior da embarcação, então será aplicada a lei Estado do Pará.
estrangeira. Porém se o crime for cometido fora da
embarcação, ou seja, em território brasileiro, temos Teoria do Resultado - Considera-se praticado o crime
duas hipóteses: Se o agente estiver a serviço do seu país no lugar do resultado e não da conduta (NÃO
será aplicada a lei estrangeira, se não estiver será ADOTADO PELO C.P.). Ex.: João atira em Paulo no
aplicada a lei brasileira. Estado do Amazonas. Porém, o mesmo vem a falecer no
Estado de Fortaleza. Conclusão: Será considerado o
A competência para julgar os crimes cometidos a bordo lugar do delito no Estado de Fortaleza.
de embarcações e aeronaves é da justiça federal,
ressalvada quando a competência for da justiça militar.

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Teoria Mista ou Ubiquidade - Considera-se praticado o Extraterritorialidade


crime, tanto no lugar da conduta quanto do resultado
ou onde deveria se produzir o mesmo (ADOTADO PELO Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
C.P.). Ex.: João atira em Paulo no Estado do Acre. cometidos no estrangeiro:
Porém, o mesmo vem a falecer no Estado do Pará. I - os crimes: contra a vida ou a liberdade do Presidente
Conclusão: Será considerado o lugar do delito tanto no da República; contra o patrimônio ou a fé pública da
Estado de Acre quanto no Estado do Pará. União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Crimes Plurilocais - São aqueles que a conduta ocorre Município, de empresa pública, sociedade de economia
em um lugar e o resultado em outro lugar, porém mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
ambos dentro do Brasil (percorre dois ou mais lugares Público; contra a administração pública, por quem está
do mesmo país soberano). Ex.: Conduta no Rio de a seu serviço; de genocídio, quando o agente for
Janeiro e resultado no Pará. Ex2.: Conduta em São brasileiro ou domiciliado no Brasil;
Paulo, passando pelo Rio de Janeiro, se consumando em II - os crimes: que, por tratado ou convenção, o Brasil se
Minas Gerais. Conclusão: Como gera um conflito obrigou a reprimir; praticados por brasileiro; praticados
interno de competência, será em regra resolvido pelo em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes
Art. 70 do C.P.P. (“A competência será, de regra, ou de propriedade privada, quando em território
determinada pelo lugar em que se consumar a infração, estrangeiro e aí não sejam julgados.
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
§1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a
praticado o último ato de execução”) que adotou a
lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
teoria do resultado.
estrangeiro.
Crimes à Distância ou Crime de Espaço Máximo - São
§2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
aqueles que parte ocorre no Brasil e parte no
depende do concurso das seguintes condições:
estrangeiro (percorre dois países soberanos), ou seja, a
conduta ocorre no Brasil e o resultado ou possibilidade entrar o agente no território nacional; ser o fato punível
de resultado no estrangeiro e vice-versa. Ex.: Conduta também no país em que foi praticado; estar o crime
no Brasil e resultado na Argentina ou vice-versa. incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
Conclusão: Como gera um conflito internacional de autoriza a extradição; não ter sido o agente absolvido
jurisdição, será resolvido pelo Art. 6º do C.P. que no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; não ter
adotou a teoria da ubiquidade. sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei
Crime em Trânsito - Crime percorre mais de dois países
mais favorável.
soberanos. Ex.: Conduta no Brasil, passando pela
Argentina, e se consumando no Paraguai. Conclusão: §3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime
Como gera um conflito internacional de jurisdição, será cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
resolvido pelo Art. 6º do C.P. que adotou a teoria da Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo
ubiquidade. anterior:
OBS.: Será aplicada a teoria da ubiquidade somente nos não foi pedida ou foi negada a extradição;
crimes à distância ou em trânsito. Já que nos plurilocais
houve requisição do Ministro da Justiça.
a conduta e o resultado ocorrem dentro do Brasil.

Se, parte do crime (conduta, resultado ou possibilidade


do resultado) ocorrer no Brasil, já é possível aplicar a lei
penal brasileira. Porém, poderá ser aplicada a lei do país
estrangeiro. Mas para evitar o BIS IN IDEM (dupla
punição pelo mesmo fato) a pena cumprida no
estrangeiro será descontada ou atenuada na pena a
cumprir no Brasil (Art. 8° do C.P. - “A pena cumprida no
estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo
mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada,
quando idênticas”).

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COMENTÁRIOS fundadas em tratado ou contrato da União com Estado


estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes
políticos e as infrações penais praticadas em
Princípio da Defesa - Este princípio está preocupado detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
com a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico (Art. de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
7°, I, “a”, ”b” e ”c” - C.P.). excluídas as contravenções e ressalvada a competência
Princípio da Justiça Universal - Pois o Brasil se obrigou a da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes
reprimir por meio de tratados, não importando onde, previstos em tratado ou convenção internacional,
por quem e contra quem é praticado (Art. 7°, I, “d” e quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha
Art. 7°, II, “a” - C.P.). ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos
Princípio da Nacionalidade Ativa - Este princípio se humanos a que se refere o §5º deste artigo; (Incluído
preocupa com a nacionalidade do agente (Art. 7°, II, “b” pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004); VI - os
- C.P.). crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
Princípio da Representação - A lei penal nacional aplica- determinados por lei, contra o sistema financeiro e a
se aos crimes praticados em aeronaves e embarcações ordem econômico-financeira; VII - os "habeas-corpus",
privadas, quando no estrangeiro, e ai não sejam em matéria criminal de sua competência ou quando o
julgados (Art. 7°, II, “c” - C.P.). constrangimento provier de autoridade cujos atos não
estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
Princípio da Defesa (Art. 7°, § 3° - C.P.).
VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data"
A extraterritorialidade pode ser incondicionada, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos
prevista no Art. 7º, I, "a", "b", "c" e "d" do C.P., hipótese de competência dos tribunais federais; IX - os crimes
em que o agente será processado de acordo com a lei cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no a competência da Justiça Militar; X - os crimes de
estrangeiro, condição prevista no Art. 7º §1º do C.P. ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a
OBS.: São crimes contra a vida: Homicídio, Infanticídio, execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de
Aborto e Instigação, induzimento e auxílio ao suicídio. sentença estrangeira, após a homologação, as causas
OBS2.: São crimes contra a liberdade: Constrangimento referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva
ilegal, Ameaça, Sequestro e cárcere privado e Redução a opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos
condição análoga de escravo. indígenas", da CF/88) fazendo com que a competência
A extraterritorialidade será condicionada (Art. 7º, II, "a", seja da justiça federal.
"b" e "c" do C.P.), pois dependerá de alguns requisitos No Art. 7° § 2° do C.P., “c” - Serão comparadas com os
descritos no Art. 7º § 2º do C.P. crimes que o Brasil autoriza a extradição, que serão os
Ainda temos a extraterritorialidade hipercondicionada mesmos delitos que o Brasil irá alcançar, mesmo que
que está expressa no § 3º do Art. 7º do C.P., que praticados no estrangeiro. Não significa dizer que o
acumula os requisitos do § 2º e § 3º do mesmo artigo. Brasil irá extraditar, e sim apenas verificar essa hipótese
Ex.: Brasileiro em Orlando, nos EUA, é morto por um que está elencada no Art. 7°, § 2° do C.P. OBS.: Estes
americano. Aplica-se a lei brasileira? SIM, desde que casos de extradição estão definidos no estatuto do
presentes os requisitos do Art. 7º, § 2° do C.P. estrangeiro.
(Extraterritorialidade condicionada). OBS.: Os requisitos No Art. 7° § 2°, “e” do C.P. - Se o crime foi prescrito na
do Art. 7º, § 2° do C.P. são cumulativos. OBS2.: A lei estrangeira, mesmo que não esteja prescrito no
competência para julgar este americano em Regra é da Brasil, não pode o Brasil aplicar a pena e vice-versa.
justiça estadual, salvo se presente alguma hipótese do
Art. 109 da C.F/88 ("Art. 109 - Aos juízes federais No Art. 7° § 3°, temos a hipótese de aplicação da lei
compete processar e julgar: I - as causas em que a penal brasileira, quando um crime for praticado por
União, entidade autárquica ou empresa pública federal estrangeiro contra um brasileiro. Todavia, temos que
forem interessadas na condição de autoras, rés, cumular as hipóteses estabelecidas no § 2°, mais duas
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de que são: 1 - Não foi pedida (pelo país de origem do
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à infrator) ou foi negada a extradição (pelo Brasil) e 2 -
Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado Houve requisição (no sentido de requerimento, ou seja,
estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pedido) do Ministro da Justiça.
pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas

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PM-TO
DIREITO PENAL

OBS.: O Art. 7º do C.P temos expressamente que a lei anos. Então após cumprir 10 anos na Alemanha, irá
penal brasileira será aplicado somente aos crimes, cumprir somente 10 anos no Brasil.
excluindo assim as contravenções penais e demais leis
OBS.: Percebe-se que o Art. 8º do C.P. descreve de
especiais que não preveem extraterritorialidade,
maneira clara, uma exceção relacionada ao princípio do
exemplo, ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
"non bis in idem", admitindo dois processos, dois
Porém existem duas correntes nesse sentido: 1ª
julgamentos e duas condenações. Com o fim de atenuar
corrente - Sendo o ato infracional um ato previsto como
a dupla punição pelo mesmo fato, o Art. 8º anuncia que
crime praticado por adolescente (Art. 103 do ECA -
a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta
"Considera-se ato infracional a conduta descrita como
no Brasil, quando diversas, ou nela é computada,
crime ou contravenção penal"), admite-se a
quando idênticas. OBS2.: Diferenças entre atenuante,
extraterritorialidade da nossa lei aplicada para menores
agravante, aumento e diminuição de pena.
de idade. 2ª corrente - Somente será possível a
extraterritorialidade da lei penal (Código Penal), Atenuante: É a diminuição de pena, todavia não poderá
todavia, não há igual previsão no ECA. Do mesmo modo esta, ultrapassar a pena mínima estipulada para o
que não se admite extraterritorialidade em se tratando crime.
de contravenção, também não se admite em caso de Agravante: É o aumento de pena, porém não poderá
ato infracional, ambas hipóteses sem previsão legal. esta, ultrapassar a pena máxima estipulada para o
crime.

Pena cumprida no estrangeiro Diminuição de pena: É a diminuição da pena, que vem


estipulado em frações, por exemplo, um terço, um
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena sexto e etc., podendo deixar a pena abaixo da
imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, estipulada para o crime.
ou nela é computada, quando idênticas.
Aumento de pena (majorante): É o aumento da pena,
que vem estipulado em frações, por exemplo, um terço,
COMENTÁRIOS um sexto e etc., podendo deixar a pena acima da
estipulada para o crime.
É possível que suceda a hipótese de ser o agente
processado, julgado e condenado tanto pela norma
penal brasileira como pela estrangeira (somente nos Eficácia de sentença estrangeira
casos de extraterritorialidade incondicionada - Art. 7º, I
do C.P.). Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da
lei brasileira produz na espécie as mesmas
O termo “atenua” está ligado a palavra “diversas”, ou
consequências, pode ser homologada no Brasil para:
seja, se a pena no estrangeiro for diversa (diferente) da
pena no Brasil, então deverá ser atenuada (diminuída). I - obrigar o condenado à reparação do dano, a
Ex.: Suponhamos que na Inglaterra um determinado restituições e a outros efeitos civis;
crime tem uma pena de multa e no Brasil uma pena de II - sujeitá-lo a medida de segurança.
detenção, e um brasileiro pratica este crime na
Inglaterra, e é punido com pena de multa, e no Brasil é Parágrafo único - A homologação depende:
punido com penal privativa de liberdade. Então o para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte
magistrado irá atenuar a pena imposta no Brasil. interessada;
Todavia, o magistrado não poderá diminuir a pena, de
forma que a mesma fique menor que a mínima prevista para os outros efeitos, da existência de tratado de
em lei por tal crime. extradição com o país de cuja autoridade judiciária
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
O termo “computada” está ligado a palavra “idênticas”, requisição do Ministro da Justiça.
ou seja, se a pena no estrangeiro for idêntica a pena
aplicada no Brasil, então deverá ser computada
(subtraída). Ex.: Um Brasileiro foi condenado por
homicídio contra a presidente do Brasil, que se
encontrava na Alemanha, com uma pena de reclusão de
10 anos, e no Brasil com uma pena de reclusão de 20

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DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS Frações não computáveis na pena


O Art. 9º, I do C.P. está ligado com alínea “a” (efeitos Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de
civis), do mesmo artigo. Depende do pedido da parte liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia,
interessada. Ex.: O sujeito na França subtraiu um valor e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
de R$ 500.000,00 e depositou o dinheiro no Brasil. A
vítima do crime requer através do STJ, que a sentença
condenatória lá na Franca, tenha efeito no Brasil, ou COMENTÁRIOS
seja, para que o Brasil reconheça que a sentença
O Art. 11 do C.P. quer dizer que não poderá alguém ser
condenatória francesa teve repercussões civis
condenado, por exemplo, em 3 ano, 8 meses, 20 dias, 6
(indenizatória) e bloqueie o valor depositado no Brasil
horas, 17 minutos e 45 segundo. Neste caso, o
em benefício da vítima estrangeira.
magistrado irá desprezar as horas, minutos e segundos,
O Art. 9º, II do C.P. está ligado com alínea “b” (medida assim sendo, o condenado irá cumprir 3 ano, 8 meses e
de segurança). Se existir tratado de extradição com país 20 dias.
no qual foi emanada a sentença (requisição do PGR -
O mesmo raciocínio será feito com as penas de multas,
Procurador Geral da República), ou, na falta de tratado,
ou seja, alguém foi condenado a pagar (atualmente em
é feito por meio de requisição (no sentido de
Real) R$ 3.780,37. Logo o juiz irá desprezar os centavos,
requerimento, ou seja, pedido) do Ministro da Justiça.
assim sendo o condenado irá pagar somente R$
Ex.: Um brasileiro comete um crime na Itália e lá e
3.780,00.
sentenciado para cumprir medida de segurança.
Conclusão: A sentença estrangeira poderá ser
homologada no Brasil, desde que feita requisição do
PGR (Procurado Geral da República) ou Ministro da
Legislação especial
justiça, a depender da situação, vista anteriormente.
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos
fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser
Contagem de prazo de modo diverso.
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do
prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
COMENTÁRIOS
calendário comum.
Havendo um conflito de normas, deverá ser afastada a
normal geral e aplicada a norma especial, este princípio
COMENTÁRIOS é denominado Princípio da Especialidade (lês specialis
derogat legi generali). Ex.: Um crime praticado por um
Para contagem do prazo no direito penal, leva-se em
menor de idade ficará sujeito à pena estabelecida na
consideração o dia que ocorreu o fato delituoso, ou
legislação especial - ECA.
seja, o dia do crime.
Em caso de conflitos de norma, temos os seguintes
Esta forma de contagem aplica-se a todos os prazos
princípios: 1 - Princípio da Especialidade - Determina
materiais, tais como os de duração das penas,
que se afaste a lei geral para se aplicar a especial,
livramento condicional, prescrição e etc.
quando esta dispuser da mesma conduta delitiva. Ex.:
O prazo é contado de acordo com calendário comum Alexandre agrediu sua esposa, causando-lhe lesões
(gregoriano), assim 1 mês de prazo vai de determinado graves. Conclusão: O mesmo irá responder de acordo
dia à véspera do mesmo dia do mês subsequente. Ex.: com a lei Maria da Penha.
Se um crime de furto ocorre dia 10/01/2017 e o mesmo
prescreve em 8 anos (Pretensão Punitiva em Abstrato),
então no dia 09/01/2025 será o último dia para o
recebimento da denúncia.

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DIREITO PENAL

2 - Princípio da Subsidiaridade - Neste princípio, temos DO CRIME


o inverso do princípio da especialidade, pois a norma
principal prevalece sobre a norma subsidiária. A norma
subsidiária é a norma que é aplicada na ausência ou Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do
impossibilidade de aplicação da norma principal mais crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
grave, então aplica-se a norma subsidiária menos grave. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
Ex.: Art. 132. “Expor a vida ou a saúde de outrem a resultado não teria ocorrido.
perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não
Superveniência de causa independente
constituir crime mais grave".
§1º- A superveniência de causa relativamente
Conclusão: Somente "se o fato não constituir crime
independente exclui a imputação quando, por si só,
mais grave" é que a pena relativa ao delito descrito no
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto,
Art. 132 do C.P. será aplicada ao agente. Ex2.: Jorge
imputam-se a quem os praticou.
efetua um disparo de arma de fogo para o alto. A
munição, ao cair, atingir a cabeça de João, que vem a
falecer. Conclusão: Neste caso, Jorge irá responder pelo
Relevância da omissão
delito de homicídio na modalidade culposa. OBS.: Caso,
a munição, não tivesse atingindo ninguém, então Jorge §2º- A omissão é penalmente relevante quando o
responderia pelo delito menos grave, ou seja, disparo omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
de arma de fogo. dever de agir incumbe a quem:
3 - Princípio da Consunção - Princípio segundo o qual o tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
fato mais amplo e mais grave absorve outros menos vigilância; de outra forma, assumiu a responsabilidade
amplos e graves. Desta forma, não é a norma que de impedir o resultado; com seu comportamento
absorve a outra, e sim a infração prevista na primeira anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
norma constitui simples fase de realização da segunda
infração, ou seja, o crime meio ficará absorvido pelo
crime fim. Ex.: Em um crime de homicídio, a lesão COMENTÁRIOS
corporal será absorvida.
Conceito Formal de Crime - É tudo aquilo que está
4 - Princípio da Alternatividade - É aquele que será descrito em uma norma penal incriminadora, e que se
aplicado quando o delito trouxer em sua redação caso seja infringido, acarretará uma pena.
diversos verbos (crimes de múltipla ação ou
Conceito Material de Crime - É um comportamento
plurinucleares). Assim sendo, o agente que pratica
humano causador de relevante lesão ou perigo de lesão
várias ações do mesmo tipo penal, será
ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal.
responsabilizado por um só delito. Ex.: Art. 299 - Omitir,
em documento público ou particular, declaração que Conceito Formal Material - Nada mais é que a soma
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir dos conceitos de formal e material de crime.
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, Conceito Analítico de crime - É aquele que fragmenta
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou os elementos que constituem o crime, ou seja, estuda
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. uma estrutura dogmática do delito. Surgindo assim
Conclusão: Por se tratar de um crime de múltipla ação, algumas divergências de teorias. As teorias que existem
caso o agente venha praticar mais de uma conduta são: Bipartite (Fato típico + Antijurídico/Ilícito, sendo a
descrita no delito, o mesmo irá responder somente por culpabilidade um pressuposto para a aplicação da
um crime, ou seja, falsidade ideológica. pena), Tripartite (Adotada pela maioria da doutrina) e
Quadripartite (Fato típico + Antijurídico/Ilícito +
Culpabilidade + punibilidade, esta teoria é defendida
por Nucci). A Teoria Tripartite ou Finalista do crime ou
Tricotômica, segundo o criador Hans Welzel e a
doutrina majoritária, diz que para a existência de um
crime, deve-se ter um fato típico, antijurídico/ilícito e
culpável.

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DIREITO PENAL

CRIME = FATO TÍPICO + ANTIJURÍDICO/ILÍCITO + atípico, já que o estrito cumprimento do dever legal é
CULPÁVEL/CULPABILIDADE. causa de exclusão de tipicidade. OBS3.: A doutrina
moderna entende que Tipicidade Penal = Tipicidade
Fato Típico - Conduta humana indesejada, que se formal + Tipicidade material (Relevância da lesão ou
enquadra formal e materialmente no tipo penal. perigo de lesão ao bem jurídico tutelado).
O fato típico possui quatro elementos: 1 - Conduta: É Antijurídico/Ilícito - É tudo aquilo que é contrário ao
um comportamento humano voluntário (vontade), ordenamento jurídico.
dirigido psiquicamente a um fim. OBS.: A conduta pode
ser dolosa (com intenção), culposa (agindo sem São causas excludentes de ilicitude ou antijuridicidade
intenção, porém com imprudência, negligência ou (Art. 23, I, II e III do C.P. - "Não há crime quando o
imperícia), comissiva (ação) ou omissiva (omissão). agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II -
OBS2.: Excluem a conduta: 1.1 - Caso fortuito em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de
(Fenômeno que acontece por acaso, ou seja, uma causa dever legal ou no exercício regular de direito"): 1 -
estranha que não pode ser imputada às partes. Ex.: Estado de Necessidade (Art. 24 do C.P. - "Considera-se
Tomar um comprimido para dor de cabeça, sem saber em estado de necessidade quem pratica o fato para
que era alérgico a um dos componentes do mesmo, salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vindo a causa um transtorno metal que levará o agente vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
a inconsciência total dos seus atos. 1.2 - Força maior próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
(São eventos climáticos causados pela natureza). Ex.: era razoável exigir-se"); 2 - Legítima defesa (Art. 25 do
Um furação faz um pessoa ser atirada em cima de outra, C.P. - "Entende-se em legítima defesa quem, usando
vindo-lhe causar lesões corporais graves. 1.3 - Coação moderadamente dos meios necessários, repele injusta
física irresistível. Ex.: João empurra Pedro, que cai por agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
cima de uma criança que vem a sofre uma lesão outrem"); 3 - Estrito cumprimento do dever legal (Art.
corporal. 1.4 - Atos de reflexo. Ex.: João dá um susto 23, III do C.P.) e 4 - Exercício regular de direito (Art. 23,
em Mateus, que estava segurando em seu colo uma III do C.P.). OBS.: Existe ainda uma excludente supra
criança, vindo deixar, em decorrência do susto, a legal que é o consentimento do ofendido. Porém este
mesma cair, causando assim a morte da criança. 1.5 - consentimento deverá ser dado antes e o bem tem ser
Atos inconscientes (Ex.: Sonâmbulos). Assim sendo, não disponível. OBS2.: No Art. 20 § 1º do C.P. ("É isento de
há vontade no comportamento (fato atípico). 2 - pena quem, por erro plenamente justificado pelas
Resultado - Pode ser naturalístico (morte; diminuição circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse,
patrimonial e etc.) ou jurídico/normativo (bem jurídico tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
protegido por lei). OBS.: Todo crime tem resultado quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
jurídico/normativo, mas nem todo crime possuí crime culposo") temos a figura das discriminantes
resultado naturalístico. Ex.: Crime de Desobediência - putativas (imaginárias), que se aplicam às excludentes
Art. 330 do C.P. - "Desobedecer a ordem legal de de ilicitude/antijuridicidade. Ex1.: Carlos é um desafeto
funcionário público". Conclusão: Por se tratar de um de Kaio, e ameaça o mesmo de morte. Certo dia, Kaio
crime de mera conduta, o mesmo, possui um resultado vem caminhando pela rua, quando avista Carlos alguns
jurídico/normativo, mas não possui resultado metros a sua frente. Ao ver Kaio, Carlos mete a mão na
naturalístico. 3 - Nexo de causalidade - É o elo entre a cintura, e saca uma arma de fogo de brinquedo
conduta do agente e o resultado. 4 - Tipicidade Penal - (simulacro), para amedrontar seu desafeto. Kaio ao
Esta poderá ser formal (É a adequação de um fato acompanhar o movimento, saca uma arma e atira,
cometido à descrição que dele se faz em lei) ou vindo a ceifar a vida de Nando. Conclusão: Sendo
conglobante (não adotada pelo código penal brasileiro). impossível Caio saber que não se tratava de uma arma
OBS.: Tipicidade conglobante é aquela que deve se verdadeira, então o mesmo será isento de pena
ajustar ao tipo penal e que provoca lesão ou perigo de (Legitima defesa putativa). EX2.: exemplo de estado de
lesão ao jurídico tutelado, caracterizando ato necessidade putativo e etc...
antinormativo. Assim sendo, teremos, segundo Culpável/Culpabilidade - É o juízo de reprovação
Zaffaroni, um fato atípico. OBS2.: A tipicidade pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente.
conglobante traz o estrito cumprimento do dever legal e
o exercício regular de direito incentivado, para compor Os requisitos que excluem a culpabilidade são:
a tipicidade, servindo como causas de sua exclusão. Ex.: 1 - Imputabilidade está subdivida em:
João, oficial de justiça, cumpri um mandado de busca e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado
apreensão de bens. Conclusão: João praticou um fato (Art. 26 do C.P. - "É isento de pena o agente que, por

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DIREITO PENAL

doença mental ou desenvolvimento mental incompleto Existem outras espécies de concausas, que são:
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES: São
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do aquelas que não se originaram da conduta do agente,
fato ou de determinar-se de acordo com esse ou seja, não possui absolutamente nenhum vínculo com
entendimento"), Menor idade (Art. 27 do C.P. - "Os a conduta do agente.
menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
1 Preexistente: Quando a causa do resultado se deu
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas
antes do comportamento do agente. Ex.: João coloca
na legislação especial") e Embriaguez completa
veneno no suco de José. Após 30 minutos, José é
provocada por caso fortuito ou força maior (Art. 28, §
atingindo por um disparo feito por Marcos. José é
1° do C.P. - "É isento de pena o agente que, por
socorrido, mas vem a falecer no hospital em
embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
decorrência do veneno ingerido. Conclusão: João irá
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
responder por homicídio consumado e Marcos por
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
tentativa de homicídio.
fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento"). 2 - Potencial consciência da ilicitude 2 Concomitante: Quando a causa do resultado se deu
que é o erro inevitável sobre a ilicitude do fato ou Erro simultaneamente à do comportamento do agente. Ex.:
de proibição (Art. 21 do C.P. - "O desconhecimento da Maria coloca veneno na sopa de João. No momento em
lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se que João esta ingerindo a sopa, sofre um disparo
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la efetuado pelo seu desafeto Luiz e vem a falecer, em
de um sexto a um terço") e 3 - Exigibilidade de Conduta decorrência do disparo. Conclusão: Luiz responderá por
Diversa que se divide em: Coação moral irresistível e homicídio consumado e Maria por tentativa de
obediência hierárquica (Art. 22 do C.P. - "Se o fato é homicídio.
cometido sob coação irresistível ou em estrita 3 Superveniente: Quando a causa do resultado se deu
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de depois do comportamento do agente. Ex.: Pedro coloca
superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou veneno na comida de Tiago. Após, ter ingerido a comida
da ordem"). com veneno, senta-se para descansar e é atingindo por
Só podemos imputar um crime a alguém, se o mesmo um disparo feito por Manoel, que vem a ceifar sua vida.
lhe deu causa, ou seja, sem a sua ação ou omissão o Conclusão: Manoel responderá por homicídio
resultado não seria possível. Ex.: João com vontade de consumado e Pedro por tentativa de homicídio.
matar (animus necandi), atira na cabeça do José, que CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES: São
vem a falecer. Conclusão: João será responsabilizado aquelas que se originaram da conduta do agente, e
por crime de Homicídio. mesmo que indiretamente, dão causa ao resultado.
Temos como exemplo do Art. 13, § 1° do C.P. 1 Preexistente: Quando a causa do resultado já existia
(superveniência de causa relativamente independente antes do comportamento do agente. Ex.: Manoel, com
que por si só): Ex.: Pedro com vontade de matar intenção de matar, desfere uma facada em Carlos, que
(animus necandi), mete uma faca na barriga do Carlos. é portador de hemofilia e vem a falecer em decorrência
O mesmo é socorrido e passa por intervenção cirúrgica, disso. No entanto, a facada por si só não seria capaz de
quando está para receber alta, o hospital pega fogo e consumar o homicídio.
ele vem a falecer em decorrência das queimaduras
causadas pelo incêndio. Conclusão: Pedro responderá Conclusão: Manoel irá responder por homicídio
por tentativa de homicídio, pois a causa morte não tem consumado, pois, se não fosse os ferimentos da facada,
nada haver com a facada. o Carlos não morreria.

Temos outra situação como exemplo do Art. 13, § 1° do 2 Concomitante: Quando a causa do resultado acontece
C.P. (superveniência de causa relativamente simultaneamente ao comportamento do agente. Ex.:
independente que não por si só): Ex.: Tiago com João com intenção de matar Maria efetua um disparo
vontade de matar (animus necandi), atingi com uma contra ela. No entanto, erra o tiro. Porém, Maria se
barra de ferro a cabeça de Paulo. O mesmo é socorrido assusta com o barulho e tem um infarto, vindo a
e ao passar por intervenção cirúrgica, vem a falecer em falecer. Conclusão: João responderá por homicídio
decorrência de erro médico. Conclusão: Tiago consumado, pois se não fosse o barulho do disparo,
responderá por homicídio, pois a causa morte era Maria não teria falecido.
previsível que acontecesse, e o médico responderá por No Art. 13, § 2° do C.P. temos o crime omissivo
homicídio culposo. impróprio, pois é cometido por pessoas que tem o

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DIREITO PENAL

dever legal de agir (e pode agir - não exige ato de A COGITAÇÃO e os ATOS PREPARATÓRIOS, em regra,
heroísmo) ou assume a responsabilidade de impedir o não são puníveis em nosso ordenamento jurídico. OBS.:
resultado ou ainda que criou o risco. Existem casos em que os atos preparatórios são
puníveis. Ex.: Quadrilha ou bando (Art. 288 C.P. -
No Art. 13, § 2°, “a” (tenha por lei obrigação de cuidado,
"Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim
proteção ou vigilância) - Ex.: Antônio é um policial e ver
específico de cometer crimes"). OBS.: Foi retirado do
Sílvio sendo roubado, e nada faz para impedir o
código penal o termo quadrilha ou bando, atualmente
resultado, por ser inimigo de Sílvio. Conclusão: Antônio
chamado de Associação Criminosa.
responderá pelo crime de roubo por omissão.
Os ATOS EXECUTÓRIOS/ e a CONSUMAÇÃO são puníveis
No Art. 13, § 2°, “b” (de outra forma, assumiu a
em nosso ordenamento jurídico.
responsabilidade de impedir o resultado) - Ex.: Edilson
está na praia pegando um sol. Izonete se aproxima e Alguns doutrinadores ainda falam no EXAURIMENTO
pede para que ele repare seu filho, enquanto ela dá um como componente do iter criminis. O Exaurimento vem
mergulho. Edilson aceita tomar de conta da criança, sempre após a consumação do crime. Ex.: No crime de
mas pega no sono e a criança vai atrás da mãe e se Concussão (Art. 316 C.P. - "Exigir, para si ou para
afoga, vindo a falecer. Conclusão: Edilson responderá outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
por homicídio culposo. função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida"), o crime se consuma no momento
No Art. 13, § 2° “c” (com seu comportamento anterior,
que o agente exigi, sendo o resultado do crime, ou seja,
criou o risco da ocorrência do resultado) - Ex.: Beto
a obtenção da vantagem, um mero exaurimento.
convida João para dá um mergulho na praia, mas João
diz que não saber nadar. Beto, porém, diz que não irá Quanto à consumação do crime temos três
deixá-lo se afogar, todavia, João se afoga e vem a classificações: 1 - Crime Material, 2 - Crime Formal e 3 -
falecer, Beto nada faz, pois ficou com medo de se afogar Crime de Mera Conduta.
também. Conclusão: Beto responderá por homicídio
1 - Crime Material - É aquele cujo resultado
culposo.
naturalístico é indispensável para a consumação. Ex.:
OBS.: Nas alíneas “a”, “b” e “c” poderá o agente Homicídio, só irá se consumar com o resultado
responder por dolo ou culpa, a depender da naturalístico MORTE.
voluntariedade presente na conduta.
2 - Crime Formal - É aquele que também possui
resultado naturalístico, porém o mesmo não é
necessário para que se consume o crime. Ex.:
Art. 14 - Diz-se o crime:
Corrupção Ativa - Art. 333 do C.P. - "Oferecer ou
Crime consumado prometer vantagem indevida a funcionário público,
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de
I consumado, quando nele se reúnem todos os
ofício".
elementos de sua definição legal;
Conclusão: Mesmo que o funcionário público recuse a
Tentativa oferta ou promessa, o delito já estará consumado.
II tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma 3 - Crime de Mera conduta - É aquele que não possui
por circunstâncias alheias à vontade do agente. resultado naturalístico, ou seja, a lei descreve apenas a
Pena de tentativa conduta. Ex.: Antônio adentra a casa de Joaquim sem
sua permissão (Violação de Domicílio - Art. 150 C.P. -
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune- “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente,
se a tentativa com a pena correspondente ao crime ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
consumado, diminuída de um a dois terços. direito, em casa alheia ou em suas dependências”).
COMENTÁRIOS Existem outros tipos de crimes que são:
No Art. 14, I do C.P. temos o conceito de crime Crime Próprio - São aqueles que exigem determinadas
consumado, ou seja, aquele o qual se reúnem todos os qualidades do agente. Ex.: Peculato (cometido por
elementos de sua definição legal. funcionário público). OBS.: É admitida a co-autoria e
Iter criminis (caminho do crime) - COGITAÇÃO/ATOS participação.
PREPARATÓRIOS/ATOS EXECUTÓRIOS/CONSUMAÇÃO.

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DIREITO PENAL

Crime de Mão Própria - São aqueles que só podem ser 1 Tentativa Imperfeita (ou inacabada) - O agente é
praticados pelo individuo pessoalmente, não exigindo impedido de prosseguir na sua intenção, deixando de
nenhuma qualidade especial do agente (crime comum). praticar todos os atos executórios. Ex.: Tício com
Ex.: Falso testemunho - Art. 342. do C.P - “Fazer intenção de matar (animus necandi) Matias, pega uma
afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como pistola que dispõe de 16 tiros, chega próximo a Matias e
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete efetua 2 disparos, porém ouve a sirene da polícia se
em processo judicial, ou administrativo, inquérito aproximando e foge, deixando assim de praticar todos
policial, ou em juízo arbitral”. OBS.: Não é admitida a os atos executórios.
co-autoria, mas somente a participação.
2 - Tentativa perfeita (ou acabada ou crime falho) - O
Crimes Hediondos - São todos aqueles que estão agente pratica todos os atos executórios, porém o
dispostos na Lei 8.072/90 (Lei de crimes hediondos). crime não se consuma com circunstâncias alheias a sua
OBS.: Os crimes hediondos são inafiançáveis e vontade. Ex.: Paulo com intenção de matar (animus
insuscetíveis de graça e anistia, respondendo por eles os necandi) Tiago, pega um revólver que dispõe de 5 tiros,
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, chega próximo a Tiago e descarrega a arma no corpo do
se omitirem. mesmo, porém Tiago é socorrido, vindo a sobreviver.
Crimes Militares - São aqueles que estão dispostos no Quanto ao resultado produzido na vítima:
código penal militar (Decreto Lei 1.001/69).
1 Tentativa não cruenta ou incruenta (ou branca): O
Crimes Multitudinários - São aqueles cometidos corpo da vítima não é atingido. Ex.: Elton dispara 5 tiros
geralmente em tumulto, ou seja, praticados por contra o corpo de Moises e não acerta nenhum.
multidões. Ex.: Linchamento.
2 Tentativa cruenta (ou vermelha) - O corpo da vítima é
Crime de Bagatela - São aqueles que o juiz aplicará o atingindo. Ex.: Bruno dispara um tiro contra o corpo de
princípio da insignificância, afastando ou excluindo a Augusto e acerta o tiro, porém o mesmo é socorrido e
tipicidade penal, tornado o fato atípico. sobrevive.
Crime a Prazo - São aqueles que dependem de um Quanto à possibilidade de alcançar o resultado: 1 -
determinado tempo para se configurar, por exemplo, a Tentativa Idônea - O resultado não ocorre por
lesão corporal grave, onde a vítima terá que ficar circunstâncias alheias à vontade do agente, porém o
incapacitada de suas ocupações habituais por mais de resultado era possível de ser alcançado (conceito puro
30 dias. de tentativa). Ex.: Carlos atira em Júlio, o mesmo é
socorrido por um vizinho e sobrevive. Conclusão: O
Crimes Ambientais - São todos aqueles que estão
crime não se consumou por vontade alheia a de Carlos.
dispostos na Lei 9.605/98 (Lei de crimes ambientais).
2 - Tentativa Inidônea ou crime Impossível (Art. 17 do
Crimes de Responsabilidade - São aqueles que
C.P. - "Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
correspondem às infrações político-administrativas
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
cometidas no desempenho da função presidencial,
objeto, é impossível consumar-se o crime") - O
desde que definidas por lei federal. Estabelece a
resultado não é alcançado por ineficácia absoluta do
Constituição Federal como crimes de responsabilidade
meio empregado ou absoluta impropriedade do objeto.
condutas que atentam contra a Constituição e,
Ex.: Lobato está morto e Pedro atira para matá-lo.
especialmente, contra a existência da União, o livre
Conclusão: Não tem como matar quem já está morto
exercício dos Poderes do Estado, a segurança interna do
(absoluta impropriedade do objeto). Ex2.: Edson tentar
País, a probidade da Administração, a lei orçamentária,
matar Jean com uma arma que não tem munição
o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais e o
(ineficácia absoluta do meio aplicado). OBS.: Tentativa
cumprimento das leis e das decisões judiciais.
inidônea nada mais é que o “apelido” dado para o crime
No Art. 14, I do C.P. temos o conceito de crime tentado, impossível.
ou seja, aquele que não se consuma por vontade alheia
Alguns crimes não admitem tentativa: crimes culposos,
a do agente.
crimes preterdolosos, crimes omissivos próprios,
A doutrina classifica a tentativa em: 1 - Quanto ao iter contravenções penais, crimes unissubsistentes e etc.
criminis percorrido, 2 - Quanto ao resultado produzido
na vítima e 3 - Quanto à possibilidade de alcançar o
resultado.
Quanto ao iter criminis percorrido:

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PM-TO
DIREITO PENAL

O Art. 14, parágrafo único do C.P., traz a punição da pelo crime normalmente. Ex.: Valdo descarrega a arma
tentativa, que seria a aplicação da pena correspondente no corpo de Pedro. Porém vem a se arrepender do seu
ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. ato, levando Pedro ao hospital. O mesmo, após passar
Ex.: Joaquim tenta matar Adolfo, o juiz aplica a pena de por intervenções cirúrgicas, sobrevive. Conclusão:
homicídio, diminuída de um a dois terço. Logo, se Valdo irá responder só pelos atos já praticados. Porém
Joaquim foi condenado a 15 anos, o juiz poderá dar a se Pedro vier a falecer, Valdo responderá por homicídio
pena de 5 anos, se foi aplicou a redução de um terço, consumado.
por exemplo.
Não cabe tentativa na desistência voluntária e
arrependimento eficaz, pois na tentativa tem que ser
circunstâncias alheias à vontade do agente, ou seja, o
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
agente não responderá por tentativa e sim pelos atos já
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de praticados, desde que esses atos configurem algum
prosseguir na execução ou impede que o resultado se crime.
produza, só responde pelos atos já praticados. Nos crimes formais ou de mera conduta são
incompatíveis a desistência voluntária e
arrependimento eficaz, pois nesses o crime se consuma
COMENTÁRIOS
na simples conduta.
No Art. 15 do C.P. temos a chamada Tentativa
Qualificada ou Abandonada, que se divide em duas
espécies: desistência voluntária e arrependimento Arrependimento posterior
eficaz. Porém, neste artigo, temos que identificar os
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave
dois conceitos. Quando o legislador usa o termo
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa,
“desiste de prosseguir”, o mesmo está se referindo a
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
desistência voluntaria. E na expressão “impede que o
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
resultado se produza”, diz respeito ao arrependimento
terços.
eficaz. OBS.: Tentativa qualificada ou abandonada nada
mais é que o “apelido” dado para a desistência
voluntária e arrependimento eficaz.
COMENTÁRIOS
Na desistência voluntaria o agente ainda não praticou
O arrependimento posterior se dá na fase de
todos os atos de execução, ou seja, ele desiste de ir até
consumação, porém este só cabe para os crimes
o final, quando ainda dispunha de meios de execução
cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa.
para consumação do crime. Nessa situação é exigida a
voluntariedade e não a espontaneidade. Ex.: André, O réu será beneficiado com a diminuição de pena, de
após efetuar dois disparos contra João, desiste de um a dois terços, se houver a reparação integral do
prosseguir na execução do crime, tendo em vista que dano. OBS.: Se a reparação do dano for parcial e a
sua arma ainda possui munições a serem disparadas. vítima assim aceitar, então por entendimento
Conclusão: André será punido pelos atos já praticado, jurisprudencial admite-se a aplicação do benefício (STF).
ou seja, se causou lesão, responderá por lesão corporal Ex.: Fábio furta (animus rem sibi habendi - intenção de
leve, grave ou gravíssima. OBS.: Se o motivo da ficar com a coisa) a bicicleta do Bruno, porém no outro
desistência foi uma circunstância exterior, que fez o dia se arrepende e devolve a bicicleta nas mesmas
agente parar a execução, com receio de ser condições. Conclusão: Fábio irá responder por furto,
surpreendido, haverá tentativa e não desistência com diminuição de pena.
voluntária. Ex.: Tião pula o muro de uma residência com Esse arrependimento tem que ser voluntário ainda que
objetivo de furtar um objeto, pega o mesmo, mas o não espontâneo.
morador aciona o alarme, e o Tião foge, deixando o
objeto para trás. Conclusão: Tião irá responder por
tentativa de furto e não desistência voluntária.
No arrependimento eficaz o agente já terá praticados
todos os atos de execução, e logo após impede que o
resultado aconteça. O arrependimento eficaz deve ser
realmente eficaz, pois se não for, o agente responderá

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PM-TO
DIREITO PENAL

Esta reparação tem que ser feita antes do recebimento que Tião estava morto no momento do tiro, em
da denuncia (ato do MP (Ministério Público)) ou da decorrência de uma parada cardíaca. Conclusão: José
queixa (ato da vítima ou representante legal). Quando a não será punido, pois é impossível matar quem está
reparação do dano é feita após o recebimento da morto. Ex2.: Pedro coloca um pó branco no suco de
denuncia ou queixa, porém antes do transito em João, pensando ser veneno, no entanto era açúcar.
julgado, existe a cogitação de ser aplicada a Conclusão: Pedro não será punido, pois ninguém morre
circunstância atenuante prevista no Art. 65, III, “b” do com açúcar.
C.P. - (Art. 65 “São circunstância que sempre atenuam a
Crime Putativo: É aquele no qual o agente realiza a
pena” - Inciso III, “b” - “procurado, por sua espontânea
conduta com dolo, pensando está cometendo um
vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe
crime, porém este só existe em sua imaginação
ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do
(fantasia), sendo assim considerado um fato atípico.
julgamento, reparado o dano”).
Ex.: Maria toma um medicamento para abortar, porém
Para a doutrina majoritária, em caso de concurso de a mesma não se encontra grávida. Conclusão: Sua
pessoas, esse benefício será aplicado a todos, ou seja, conduta é atípica, ou seja, não está descrita em nosso
se comunica aos demais participantes. ordenamento jurídico como sendo crime. Já que o
aborto é a interrupção da gravidez, logo se faz
necessário que a agente esteja gestante. OBS.: Existem
Crime impossível três espécies de crime putativo:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia 1 - Delito putativo por Erro de tipo: É o crime
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do impossível pela impropriedade absoluta do objeto,
objeto, é impossível consumar-se o crime. como no exemplo da mulher grávida, mencionado
anteriormente; 2 - Delito putativo por Erro de
proibição: É quando o agente pensa estar cometendo
COMENTÁRIOS algo injusto, mas, na verdade está praticando uma
conduta perfeitamente normal. Ex.: Um lutador de
O crime impossível possui várias denominações como:
MMA, que ao aplicar um golpe em seu adversário, vem
crime oco, quase crime, tentativa inidônea, tentativa
a causar uma lesão grave. Conclusão: O lutador pode
impossível ou tentativa inadequada.
achar ter praticado algo injusto, porém o mesmo está
Existem várias teorias que discutem os efeitos do crime acobertado por uma excludente de ilicitude ou
impossível, são elas: 1 - Teoria Sintomática - Diz que antijuridicidade denominada exercício regular de
mesmo o crime sendo impossível de ser consumado, o direito; 3 - Delito putativo por obra do agente
agente age com dolo, ou seja, mostra na sua conduta provocador, conhecido também como delito de ensaio,
que é perigoso, logo deveria ser punido. 2 - Teoria delito de experiência ou delito de flagrante preparado,
Subjetiva - diz que se a conduta for perfeita, ou seja, o no qual não existe crime por parte do agente induzido,
agente agiu consciente do que estava fazendo, deveria ante a ausência de espontaneidade. Ex.: Um policial se
ele sofre as penas impostas à tentativa, mesmo que seja disfarça e passa por usuário de drogas, para comprar a
impossível de consumar o delito. 3 - Teoria Objetiva - droga, e no momento que o traficante entrega a droga
Diz que o crime é composto por conduta e resultado, para ele, o mesmo efetua a prisão em flagrante do
logo o execução deverá ser idônea, ou seja, o evento infrator.
tem que trazer potencialidade, pois se a execução for
Art. 18 - Diz-se o crime:
inidônea, estaremos diante de crime impossível. Dentro
da Teoria Objetiva, ainda temos duas divisões: 1 - Teoria
Objetiva Pura - Diz que não há tentativa em crime
Crime doloso
impossível, mesmo que a inidoneidade seja relativa. 2 -
O Código Penal adota a Teoria Objetiva Temperada, I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu
que diz que, crime é conduta e resultado, e que a o risco de produzi-lo;
execução deverá ser idônea, se for inidônea fica
configurado o crime impossível. Porém para ser atípico
o fato, a eficácia do meio e a impropriedade do objeto
tem que ser absoluta, se for relativa, o agente irá
responder pela tentativa. Ex.: José atira em Tião que
estava deitado dormindo. Porém o laudo pericial consta

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DIREITO PENAL

Crime culposo realizar a conduta com um fim específico. Ex.: Rui mata
Marcos, pois o mesmo lhe viu furtando a casa do Pedro.
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado
por imprudência, negligência ou imperícia. 7 - Dolo Geral (erro sucessivo) - O agente pensando que
atingiu o resultado, pratica nova ação que de fato vem a
Parágrafo único- Salvo os casos expressos em lei, provocar o resultado desejado. Ex.: Alex enfia uma faca
ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, no peito de Beto, pensando que o mesmo já está
senão quando o pratica dolosamente. morto, joga o corpo dentro de um rio, vindo o mesmo a
falecer em decorrência do afogamento.
COMENTÁRIOS 8 - Dolo de Dano - Quando agente quer causar um
efetivo dano ao bem jurídico protegido. Ex.: Manoel
Crime doloso nada mais é do que aquele que o agente
atira e mata Carlos. Conclusão: Causou dano a um bem
quis o resultado (dolo direto - teoria da vontade), ou
jurídico protegido, a vida.
assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual - teoria do
assentimento). Ex.: Augusto, querendo matar 9 - Dolo de Perigo - O agente quer apenas expor a
Alessandro, atira na cabeça do mesmo (Dolo Direto). perigo o bem jurídico protegido. Ex.: Ivar efetua um
Ex2.: Alberto, de madrugada, resolver ultrapassar um disparo de arma de fogo para cima. Conclusão: Como a
sinal em alta velocidade (roleta paulista), porém não munição poderá atingir alguém, ele está colocando em
quer colidir com outro carro, mas assumi o risco de perigo um bem tutelado, a vida.
provocar um acidente (Dolo Eventual - Foda-se!!!). 10 - Dolo de Propósito - É o dolo pensando/refletido,
Existem várias espécies de dolo, os principais são: 1 - ou seja, o agente já sabe que irá cometer o crime. Ex.:
Dolo (direto) de primeiro graus - O agente prevê um João planeja matar Maria daqui a uma semana. OBS.: O
resultado e seleciona meio para executá-lo. Não dolo de propósito, em regra, aumenta a pena.
existindo efeitos colaterais. Ex.: João quer matar José, 11 - Dolo de Ímpeto - É o dolo repentino, ou seja, não
para tanto, dá um tiro contra sua cabeça. pensado. Ex.: Em uma briga durante um jogo de futebol
2 - Dolo (direto) de segundo graus - O agente prevê um um indivíduo mata o outro. OBS.: O dolo de Ímpeto, em
resultado e seleciona meio para executá-lo. Porém regra, atenua à pena.
provocará efeitos colaterais. Ex.: Antônio querendo 12 - Dolo Natural - É o dolo comum, que integra o fato
matar Raimundo, que vai embarcar para o Rio de típico e é composto de dois elementos: consciência e
Janeiro de avião, coloca uma bomba no avião. O mesmo vontade.
explodi matando Raimundo e o resto dos passageiros.
13 - Dolo Normativo - Integra a culpabilidade e é
3 - Dolo Indireto Alternativo - O agente prevê dois ou composto por três elementos: vontade, consciência e
mais resultados possíveis, querendo qualquer um deles, consciência atual da ilicitude (elemento normativo).
com igual intensidade de vontade. Este ainda pode ser
dividido em: Objetivo - Quando está se referindo à ação Crime Culposo - É aquele que o agente comete por
pretendida. Ex.: João atira para matar ou ferir Maria. imprudência (agir), negligência (omitir) ou imperícia
Subjetivo - Quando está se referindo à vítima que será (relacionado à falta de aptidão técnica na profissão).
atingida. Ex.: Pedro atira com ânimo de matar João ou Imprudência - Ex.: João, dirigi seu carro na Av. Nazaré, a
José que estão próximos um do outro. uma velocidade de 200 km/h.
4 - Dolo Indireto Eventual (Foda-se) - O agente prevê Negligência. Ex.: Luiz deixa sua pistola em local de fácil
vários resultados, porém sua intenção se dirige a apenas acesso, tendo em casa um filho de 6 anos.
um resultado, no entanto, aceita o fato de acontecer o
outro resultado, também previsto. Ex.: Carlos atira em Imperícia. Ex.: Marcus é médico ginecologista, mas
Pedro querendo feri-lo, porém aceitando a resolve operar o coração de um paciente.
possibilidade de matar. Existem algumas espécies de culpa:
5 - Dolo Genérico ou Dolo sem fim específico - O 1 - Culpa Consciente (ou com previsão) / Fudeu-se !!! -
agente quer realizar a conduta sem um fim específico. O agente prevê o resultado, mas acha que não irá
Ex.: Paulo quer estuprar Maria. acontecer devido suas habilidades ou sorte. Ex.: Celso é
6 - Dolo Específico ou Dolo com fim específico ou Dolo um artista circense, e faz o espetáculo do arremesso de
com elemento subjetivo do tipo - O agente quer facas. Coloca então uma maçã na cabeça de Leandro, e
ao atirar uma faca, acerta a cabeça do mesmo.

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PM-TO
DIREITO PENAL

2 - Culpa Inconsciente (ou sem previsão) - O agente não se joga de cima de um viaduto, vindo a cair em cima de
prevê o resultado, que lhe era previsível. Ex.: Taynan um veículo que trafegava dentro das legalidades de
trabalha como pedreiro, está no 10° andar de um trânsito. Conclusão: Culpa exclusiva da vítima.
prédio, olha pela sacada e não avista ninguém abaixo.
O Art. 18, parágrafo único do C.P. diz que o agente deve
Então pega um bloco de concreto e arremessa. No
cometer o crime dolosamente para que seja punido,
entanto, na hora do arremesso, aparece outro pedreiro,
salvo previsões legais para crimes culposos, ou seja, se
que tem sua cabeça esmagada pelo concreto.
não estiver expresso em lei o crime na modalidade
3 - Culpa Própria - É a culpa propriamente dita, aquela culposa, o agente não poderá ser punido. Ex.: Furto
que o agente não quer o resultado e nem assumi o risco (Art. 155 C.P. - "Subtrair, para si ou para outrem, coisa
de produzi-lo. Agindo, o agente, com imprudência, alheia móvel") - Só pode ser praticado na modalidade
negligência ou imperícia. dolosa. Não podendo o agente ser punido por furto
culposo. Ex2.: Homicídio culposo (Art. 121, §3° do C.P. -
4 - Culpa Imprópria (culpa por extensão, por
"Se o homicídio é culposo"). Neste caso o agente
assimilação ou por equiparação) - É aquela na qual
poderá ser punido, pois existe previsão legal do crime
recai o agente que, por erro, fantasia situação de fato,
na modalidade culposa.
supondo estar acobertado por causa excludente de
ilicitude (caso de descriminante putativa) e, em razão,
disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito e
Agravação pelo resultado
evitável. O agente apesar de ter agido com dolo, será
punido por crime culposo se o erro for evitável. Ex.: Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a
Márcio ao encontra com seu desafeto Celso, pela pena, só responde o agente que o houver causado ao
manhã, mete a mão no bolso para pegar o celular de menos culposamente.
cor amarela, Celso achando que Márcio irá puxar uma
arma, pega uma pedra e joga na cabeça de Márcio,
COMENTÁRIOS
pensando está em legítima defesa.
O Art. 19 do C.P. traz o chamado crime preterdoloso,
Existem graus de culpa, que são: Leve, Grave e ou seja, aquele que é praticado com dolo no
gravíssima. OBS.: O grau de culpa não altera a espécie
antecedente e culpa no consequente. Ex.: Kiko com
de crime, ou seja, o crime continuará sendo culposo,
intenção de ferir (animus laedendi), aplica uma paulada
porém será levado em conta na dosagem da pena.
na barriga de Chaves, vindo o mesmo a falecer em fase
Concorrência de culpa é quando a vítima atua com da gravidade das lesões. Conclusão: Kiko irá responder
parcela de culpa no resultado, além do infrator, ou seja, pelo crime de lesão corporal, seguida de morte (Art.
o resultado ocorre em parte por culpa do agente e em 129, §3° do C.P. - "Se resulta morte e as circunstâncias
parte por culpa da vítima ou terceira pessoa. Ex.: Celso evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
atravessa a rua fora da faixa de pedestre, e é atropelado assumiu o risco de produzi-lo").
por um veículo que estava em excesso de velocidade. O crime preterdoloso na verdade é uma espécie de
Conclusão: Agiu com culpa a vítima e o condutor, crime qualificado, que é o gênero.
porém a parcela de culpa da vítima não exclui a
Somente será punido o crime preterdoloso se tiver
responsabilidade penal do infrator, pois não existe em
previsão expressa em lei.
direito penal a compensação de culpas. No entanto, a
parcela de culpa da vítima será levada em consideração, Não se aplica a qualificadora, quando o resultado mais
pelo juiz, na dosagem da pena do infrator, fazendo com grave advém de caso fortuito ou força maior, mesmo
que sua pena fique menor (Art. 59 do C.P. - “O juiz, que exista nexo causal. Ex.: Márcio dá um soco em
atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à Celso que cai e desmaia. Uma senhora para tentar
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, reanimá-lo, coloca álcool em um pano e põe sobre o
às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como nariz de Celso. Porém, Celso é alérgico a álcool, vindo a
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme falecer por asfixia, devido à alergia ter fechado sua
seja necessário e suficiente para reprovação e garganta, evitando a respiração (Caso Fortuito).
prevenção do crime”, inciso II - “a quantidade de pena Conclusão: Não será aplicada a qualificadora. Ex2.:
aplicável, dentro dos limites previstos”). OBS.: A Márcio dá um soco em Celso, que cai e desmaia na
responsabilidade do infrator só será excluída, quando beira da praia. Logo após, uma ventania muito forte
ocorrer culpa exclusiva da vítima ou do terceiro, ou seja, empurra o corpo de Celso para dentro da praia, vindo o
não houve culpa nenhuma do agente. Ex.: Um homem mesmo a falecer afogado (Força Maior). Conclusão:
Não será aplicada a qualificadora.

20
PM-TO
DIREITO PENAL

Erro sobre elementos do tipo Se o erro de tipo essencial, sobre a elementar, for
inescusável (evitável/vencível), então exclui o dolo e o
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo agente poderá responder por crime culposo, se previsto
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por em lei. Ex.: Marcus foi caçar com Luiz durante o dia,
crime culposo, se previsto em lei. então para dar um susto em Luiz, Marcus se esconde
atrás de um arbusto, Luiz achando ser um animal atira e
mata Marcus. Conclusão: Luiz responderá por
Descriminantes putativas homicídio culposo. Tendo em vista que era dia e que se
§1º - É isento de pena quem, por erro plenamente tivesse mais cautela perceberia que não se tratava de
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato um animal.
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há
isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato
é punível como crime culposo. ERRO ACIDENTAL
Erro sobre o objeto: O agente pensa que está atingindo
Erro determinado por terceiro
um objeto, porém atinge outro. Isso, no entanto, é
§2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o irrelevante, pois o mesmo irá responder pelo delito
erro. praticado, da mesma forma. Ex.: Diogo furta um relógio
pensando ser um rolex de R$ 30.000,00, porém é um
Erro sobre a pessoa
relógio falsificado de R$ 50,00. Conclusão: De acordo
§3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é com entendimento da maioria, Diogo irá responder
praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste pelo crime de furto. E por falta de previsão legal, o juiz,
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da na dúvida, considerará o objeto mais favorável ao réu,
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. ou seja, poderá ser considerado o objeto desejado ou
atacado, analisando qual o mais benéfico.
Erro sobre a pessoa (Art. 20 § 3º): O agente se
COMENTÁRIOS
confunde e atinge outra pessoa. Ex.: Fábio querendo
O erro de tipo se apresenta de duas formas: ERRO matar seu pai que está vestido com a camisa do
ESSENCIAL E ERRO ACIDENTAL. paysandu, vai até seu quarto pega a arma, e quando
volta, atira nas costas de seu vizinho, que também
usava a camisa do paysandu. Conclusão: Fábio
ERRO ESSENCIAL responderá por homicídio, tendo sua pena agravada,
O erro de tipo essencial recai sobre os elementos ou pois será levado em consideração as condições e
circunstâncias. qualidades da vítima que Fábio gostaria de atingir (seu
pai), e não da vítima que foi atingida.
Elementos - Dados essenciais do tipo penal, faltando o
elemento o crime desaparece ou caracteriza outro Erro na execução: O agente por inabilidade ou outro
crime. Ex.: Furto (Art. 155 C.P. - “Subtrair *coisa alheia motivo qualquer, atinge pessoa diferente da
móvel...” - *elementar). pretendida. O erro na execução está dividido em duas
espécies: Erro por acidente ou Erro no uso dos
Circunstâncias - Dados que influenciam na fixação da instrumentos de execução. Ex.: Mário querendo matar
pena. Ex.: Art. 155, §4°, I, C.P. - “mediante seu irmão André envenenado, coloca no seu suco o
*rompimento de obstáculo” - *circunstância, pois veneno e deixa na sua mesa. Porém, Mário vai trabalhar
altera a pena. e Antônio, seu amigo, toma o suco (Erro por acidente).
Se o erro de tipo essencial, sobre a elementar, for Conclusão: Mário responderá por homicídio doloso,
escusável (inevitável/invencível), ou seja, qualquer um levando em consideração as condições e qualidade da
cometeria o erro, então exclui o dolo e a culpa. Ex.: vítima (André - seu irmão). Ex2.: Adriano querendo
Marcus foi caçar com Luiz durante a noite, então para matar seu pai Augusto, atira e erra, acertando a cabeça
dar um susto em Luiz, Marcus se fantasia de anta e se de Tiago, seu vizinho (Erro no uso dos instrumentos de
esconde atrás de um arbusto, Luiz achando ser um execução). Conclusão: Adriano responderá por
animal atira e mata Marcus. Conclusão: Luiz não homicídio doloso, levando em consideração as
responderá pelo delito de homicídio. condições e qualidade da vítima (Augusto - seu pai).

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PM-TO
DIREITO PENAL

Resultado diverso do pretendido: O agente quer atingir intenção de matar, pede para uma auxiliar de
um bem jurídico, mas, por erro, atinge outro de enfermagem, aplicar uma injeção com determinada
natureza diversa. Ex.: José joga uma pedra para quebrar substância em um paciente, sabendo que o paciente é
o vidro do carro de Marcelo, porém erra e acerta a alérgico a tal medicamento, vindo a causar a morte do
cabeça de João que vem a falecer. Conclusão: José paciente. Conclusão: Somente o médico irá responder
responderá por homicídio culposo. pelo homicídio, na modalidade dolosa. OBS.: Se o
Erro sobre o nexo causal: Esta espécie está dividida em médico não almejava a morte do paciente, no entanto
duas categorias: Erro sobre o nexo causal em sentido foi negligente, imprudente ou imperito, então
estrito (O agente com uma só conduta provoca o ato responderá por homicídio culposo. A auxiliar de
desejado, porém com nexo diverso do pretendido. Ex.: enfermagem por sua vez também poderá responder
Pedro quer matar Paulo afogado, joga-o de cima de pelo homicídio doloso, caso seja coautora ou por
uma ponte. Paulo, porém bate a cabeça em uma pedra homicídio culposo, caso tenha agido com culpa
e vem a falecer em decorrência de um traumatismo (negligência, imprudência ou imperícia).
craniano) e Dolo Geral (visto anteriormente). OBS.: A teoria adotada pelo código penal com relação
às descriminantes putativas é a Teoria limitada da
culpabilidade, que considera que tais descriminantes
ERRO DE TIPO PERMISSIVO § 1° estão dentro do fato típico. Assim sendo, apesar do
No Art. 20, § 1° do C.P. temos a conhecida termo "isenção de pena", que nos leva a crer que
descriminante putativa (imaginária) que nada mais é tratasse de uma excludente de culpabilidade, o mesmo
que um erro causado pelo agente, por achar que sua exclui dolo e pode ser punido por culpa, caso haja
ação é legítima. previsão legal.
Se o erro cometido sobre uma descriminante putativa
for escusável (inevitável/invencível), ou seja, qualquer Erro sobre a ilicitude do fato
um cometeria o erro, então o agente é isento de pena.
Ex.: Nando é um desafeto de Caio, e ameaça o mesmo Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro
de morte. Certo dia, Caio vem caminhando pela rua, por sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
volta de 22h, quando avista Nando alguns metros a sua se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
frente. Ao ver Caio, Nando mete a mão na cintura, Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
como se fosse pegar uma arma, porém, o mesmo pega agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude
o celular de cor preta. Caio ao acompanhar o do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
movimento, saca uma arma e atira, vindo a ceifar a vida ou atingir essa consciência.
de Nando. Conclusão: Sendo impossível Caio saber que
não se tratava de uma arma, então o mesmo será isento
COMENTÁRIOS
de pena.
Quando uma lei é publicada no Diário Oficial da União,
Se o erro cometido sobre uma descriminante putativa
subentende-se que todos terão conhecimento desta.
for inescusável (evitável/vencível), o agente não será
isento de pena, respondendo pelo crime na modalidade O erro de proibição recai sobre a potencial consciência
culposa, se está estiver estipulada em lei. Ex.: Nando é sobre ilicitude do fato, ou seja, o agente sabe que está
um desafeto de Caio, e ameaça o mesmo de morte. praticando um fato, porém não sabe que este fato é
Certo dia, Caio vem caminhando pela rua, por volta de proibido. Ex.: João e Maria são casados. Em uma bela
9h, quando avista Nando alguns metros a sua frente. Ao noite, João quer ter relações sexuais com sua esposa,
ver Caio, Nando mete a mão na cintura, como se fosse que se nega a fazer. João, usando de violência, mantém
pegar uma arma, porém o mesmo pegar o celular de cor relações, pois acha que está no exercício regular de
amarelo. Caio ao acompanhar o movimento, saca uma direito conjugal. Conclusão: João não poderá alegar o
arma e atira, vindo a matar Nando. Conclusão: Se Caio desconhecimento da lei, porém tendo vista que João é
tivesse um pouco mais de cautela, iria perceber que não do interior do estado e analfabeto, e nunca teve
se tratava de uma arma, logo Caio não será isento de contato com ninguém da cidade, será o mesmo isento
pena, respondendo por homicídio culposo, já que o de pena, pois o erro de proibição era inevitável.
mesmo está descrito em nosso código penal. Conclusão2: João na sua atual situação de professor,
não poderá negar o desconhecimento da lei e poderia
O Art. 20, § 2° do C.P. dispõe sobre o erro determinado
ter evitado o fato, se procurasse saber mais sobre a lei.
por terceiro, onde será punido o terceiro que
Neste caso, João poderá ter sua pena diminuída de um
determinou a ação criminosa. Ex.: Um médico, com
sexto a um terço (Art. 21 parágrafo único do C.P.).

22
PM-TO
DIREITO PENAL

Erro de proibição direto: O agente não conhece ou não No caso da obediência hierárquica temos que verificar a
compreende o conteúdo proibitivo da norma penal. Ex.: presença de dois elementos: Tem que ser ordem não
Acha que a eutanásia não está alcançada pelo tipo penal manifestamente (completamente) ilegal e ordem vinda
do Art. 121 do C.P. ("Matar alguém"). de um superior hierárquico (vinculada à função
pública).
Não configura para efeitos do Art. 22 do C.P., ordem
Erro de proibição indireto ou erro permissivo: O agente
dada por qualquer outro tipo de subordinação. Ex.: Pai
apesar de conhecer a lei, acha que está acobertado por
e filho; Chefe e empregado de empresa privada e etc.
uma excludente (legitima defesa, exercício regular de
direito, estado de necessidade ou estrito cumprimento
do dever legal), ou seja, uma proposição permissiva.
Exclusão de ilicitude
Ex.: Carlos subtrai a televisão do seu devedor Camargo,
que está lhe devendo 5 meses de aluguel. Achando que Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
está acobertado pelo exercício regular de direito.
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Coação irresistível e obediência hierárquica
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou exercício regular de direito.
em estrita obediência a ordem, não manifestamente
Excesso punível
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
coação ou da ordem. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.
COMENTÁRIOS
O Art. 22 do C.P. trata de duas excludentes de
COMENTÁRIOS
culpabilidade, norteada pela exigibilidade de conduta
diversa. O Art. 23 do C.P. está tratando das excludentes de
ilicitude ou antijuridicidade.
A coação moral irresistível não abrange a coação física,
pois essa é uma excludente de conduta, ou seja, Ilicitude ou antijuridicidade - É a relação contrária
elemento que compõe o fato típico, tornando assim o entre o fato típico e o ordenamento jurídico, ou seja, é
fato atípico. aquilo que está em desacordo com nossa norma penal.
A coação tem que ser irresistível, pois se for resistível, a Presume-se que toda conduta típica seja antijurídica até
pena será apenas atenuada (Art. 65, III, “c” - Art. 65 - que se prove o contrário.
“São circunstância que sempre atenuam a pena” - Inciso Estrito cumprimento do dever legal - É quando um
III, “c” - “cometido o crime sob coação a que podia agente público em suas atribuições é obrigado por lei a
resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade violar um bem jurídico. Ex.: Um policial que para deter
superior, ou sob influência de violenta emoção, um meliante, o derruba, causando uma lesão.
provocada por ato injusto a vítima”) e não excluída.
Exercício regular de direito - Refere-se à conduta do
O mal prometido pelo coator pode ser dirigido a cidadão comum, autorizada pela existência de direito
membros da família do coato. Ex.: João é gerente de um definido em lei. Ex.: A prisão em flagrante efetuada por
banco no interior. O mesmo é pego pelo meliante qualquer do povo. Ex2.: Um lutador de MMA que vem a
Daniel, que exige que ele abra o cofre do banco, caso causar lesão no seu adversário.
contrário irá matar seu filho, que está sob a mira do
A doutrina ainda acrescenta mais uma excludente de
revolver de Mario, seu parceiro. Conclusão: Somente o
ilicitude, que é considerada supralegal (não prevista em
Daniel será punido, pois o mesmo é autor da coação.
lei) que é o Consentimento do Ofendido. OBS.: O
Além disso, Daniel (coator) irá responder pelo crime de
consentimento deverá ser dado antes e o bem deve ser
tortura (Art. 1°, I, “b”, da Lei 9.455/97 - Lei de Tortura -
disponível.
“Constranger alguém com emprego de violência ou
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou O Art. 23, parágrafo único do C.P., está punindo agente
menta” - alínea “b” - “para provocar ação ou omissão de que excede dolosa ou culposamente responderá pelo
natureza criminosa”). crime.

23
PM-TO
DIREITO PENAL

Estado de necessidade A doutrina majoritária entende que cabe o estado de


necessidade contra fato que o agente causou
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem culposamente. Ex.: Sem tomar os devidos cuidados,
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não João acende uma vela próxima a cortina da sala dos
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo professores, que começa a pegar fogo. João, para fugir
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas das chamas, causa lesão corporal em Eduardo.
circunstâncias, não era razoável exigir-se. Conclusão: De acordo com entendimento doutrinário
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem majoritário, João poderá alegar o estado de
tinha o dever legal de enfrentar o perigo. necessidade.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do No Art. 24 § 1º, o legislador diz que não pode alegar
direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a estado de necessidade quem tem o dever (entende-se
dois terços. dever/poder, não exigindo ato de heroísmo, ou seja, ele
tem que enfrentar o perigo enquanto o perigo
comportar enfrentamento) legal de enfrentar o perigo.
COMENTÁRIOS Ex.: Arthur é um policial militar, ao entrar em uma
agência bancária para pagar uma conta, presencia um
No estado de necessidade, o perigo deve ser atual (está assalto. Entram no banco 10 homens fortemente
acontecendo). Porém parte da doutrina entende que armados com fuzis. Arthur, tem o dever legal de agir,
esse perigo pode ser iminente (próximo de acontecer), porém se assim fizer terá sua vida ceifada sem
por analogia “In bonan partem”. nenhuma dúvida, devido a desproporcionalidade de
Teoria Diferenciadora é aquela que admite duas recursos.
espécies diferentes de estado de necessidade que são: A doutrina majoritária entende que a expressão “dever
1 - Estado de Necessidade Justificante - Exclui a legal” é no sentido amplo, ou seja, abrangendo também
ilicitude, quando o bem preservado for maior ou igual o agente que assumiu a responsabilidade de impedir o
ao bem sacrificado. Ex.: João destrói a porta da casa de resultado, bem como o que, com sua conduta, criou o
Maria, que está incendiando, para salvá-la. risco. Ex.: Um segurança particular se dispõe a proteger
um empresário. Um matador de aluguel se aproxima do
Conclusão: Foi sacrificado o patrimônio para preservar a carro do empresário para matá-lo e o segurança nada
vida. 2 - Estado de Necessidade Exculpante - Exclui a faz. Conclusão: O segurança não poderá alegar estado
culpabilidade, quando o bem preservado, for inferior ao de necessidade.
bem sacrificado. Ex.: Paulo, sabendo que um granada
vai explodir dentro de uma sala, o que lhe causará lesão O comportamento lesivo ao bem jurídico deve ser
corporal, empurra Pedro, fazendo-o cair sobre a inevitável, pois se evitável, não há o que se falar em
granada, vindo este a falecer. Conclusão: Foi sacrificada estado de necessidade.
a vida para preservar a integridade física. É possível estado de necessidade contra estado de
necessidade.
Teoria Unitária é a teoria adotada pelo código penal,
que diz que, todo estado de necessidade é justificante, O estado de necessidade putativo se dá quando o
ou seja, o bem jurídico sacrificado tem que ser de igual agente, imaginando está em estado de necessidade,
ou menor valor jurídico. Ex.: Quebrar um carro para lesiona o bem jurídico de outro. Porém se era
salvar a vida de um bebê que está dentro dele (sacrifica escusável, o agente é isento de pena, se inescusável o
patrimônio em detrimento da vida). Ex2.: João e agente irá responder por crime culposo. OBS.: O estado
Marcelo estão em um navio, este afunda e só lhe sobra de necessidade putativo não exclui a ilicitude. Ex.: João
uma tábua. João mata Marcelo afogado para ficar com a e Maria estão em uma caverna, quando a sua entrada e
tábua (sacrifica vida em detrimento de outra vida). fechada por pedras que caíram do alto da caverna. Após
3 dias dentro da caverna, João mata Maria para se
O pratica do ato deverá buscar salvar direito próprio ou alimentar. Porém 30 minutos após matar Lobão, os
alheio, de perigo. bombeiros abrem a entrada da caverna. Conclusão: Se
A situação de perigo não pode ter sido causada era impossível de João saber que estavam abrindo a
dolosamente. Ex.: Pedro põe fogo na sala dos caverna, então o mesmo ficará isento de pena. Todavia,
professores, e para fugir do fogo, empurra Heitor, que se o mesmo se precipitou, achando que não iriam
bate a cabeça na parede e vem a falecer de conseguir abrir a caverna, apesar de ouvir a mesma
traumatismo craniano. Conclusão: Pedro não poderá sendo quebrada, então responderá por homicídio
alegar estado de necessidade. culposo.

24
PM-TO
DIREITO PENAL

No Art. 24, § 2º temos uma causa de redução de pena, Admiti-se legítima defesa real de legítima defesa
no caso do direito ameaçado valer menos que o bem putativa.
sacrificado. Ex.: Carlos, percebendo que um botijão de
Admiti-se legítima defesa putativa de legítima defesa
gás irá explodir, o que destruirá sua casa, joga José em
putativa. Ex.: Dois neuróticos se encontram, e um
cima do gás, que ao explodir, destrói completamente
pensando que o outro vai atirar, começa a se atirarem.
seu corpo, vindo lhe causar a morte (sacrifica vida em
detrimento do patrimônio). A legítima defesa subjetiva é o excesso exculpável
(reconhecer ausência de culpa de alguém) na legítima
defesa, pois qualquer pessoa na mesma circunstância se
Legítima defesa excederia (hipótese de inexigibilidade de conduta
diversa - excludente supra legal de culpabilidade) -
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando exclui a culpabilidade. Ex.: Uma vítima ao ser abordada
moderadamente dos meios necessários, repele injusta por um meliante, que utiliza uma arma de fogo, reage,
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. efetuando vários disparos sobre o agressor, por estar
apavorada. Conclusão: Será considerado o excesso
exculpável se for provado que qualquer pessoa, naquela
COMENTÁRIOS
condição, agiria igualmente.
Os requisitos da legítima defesa são: agressão injusta
A Legítima defesa sucessiva ocorre na repulsa contra o
(humana ou de animal ordenado), atual ou iminente
excesso abusivo do agente (não são simultâneas e sim
(não é aceito agressão passada (vingança) ou futura
sucessivas - temos aqui duas legítimas defesas). Ex.:
(mera suposição), uso moderado dos meios necessários
Francisco, agindo em legítima defesa contra Joaquim,
(menos lesivo dentre os capazes de repelir a injusta
começa a se exceder. Joaquim achando injusta a
agressão), proteção do direito próprio ou de outrem e
agressão poderá agir em legítima defesa também.
conhecimento da situação de fato justificante (requisito
subjetivo). Na ausência de qualquer dos requisitos
exclui a legítima defesa. Ex.: João pega uma faca e
começa a atacar Ana, para matá-la. A mesma tendo em
mãos uma arma atira na perna de João (Legítima defesa
em situação de perigo atual). Ex2.: Marcelo está
dirigindo seu carro, quando olha pelo retrovisor e um
motoqueiro se aproximando com uma arma em punho.
Ao apontar a arma em direção a Marcelo, o mesmo DA IMPUTABILIDADE PENAL
atira e mata o motoqueiro. (Legítima defesa em
situação de perigo iminente).
A agressão deve ser injusta, independente da
consciência da injustiça por parte do agressor. Assim, Inimputáveis
quem se defende de agressão praticada por
inimputável, age em legítima defesa, não importando a Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença
consciência do agressor. mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
Na legítima defesa, a agressão pode ser tanto ativa inteiramente incapaz de entender o caráter Ilícito do
quanto passiva. Desde que seja injusta. OBS.: É possível fato ou de determinar-se de acordo com esse
legítima defesa de omissão injusta. Ex.: Um preso passa entendimento.
a agredir o agente penitenciário (passivo) que se recusa
a cumprir alvará de soltura. Conclusão: O preso age em
legítima defesa. Redução de pena
A Legítima Defesa Putativa (imaginária) - É aquela em Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a
que o agente imagina está em legitima defesa. Todavia, dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
a mesma só está em sua cabeça. Ex.: Fábio é inimigo saúde mental ou por desenvolvimento mental
mortal de Silvio. Ao se deparar na rua com o mesmo, incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
ver Silvio meter a mão na cintura para pegar algo, entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
imaginando ser uma arma, Fábio atira e mata Silvio. de acordo com esse entendimento.

25
PM-TO
DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS Emoção e paixão


Nos Arts. 26, 27 e 28 estão descritos os elementos da Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
culpabilidade, que estão divididos da seguinte maneira:
Imputabilidade (anomalia psíquica - Art. 26 caput; I - a emoção ou a paixão;
menoridade - Art. 27 e embriaguez acidental - Art. 28, §
1º), Potencial Consciência da Ilicitude (erro de
proibição - Art. 21 do C.P.) e Exigibilidade de Conduta Embriaguez
Diversa (coação moral irresistível e obediência II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
hierárquica - Art. 22 do C.P.). substância de efeitos análogos.
O critério para analisar o doente mental e considerá-lo § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
inimputável é o Critério Biopsicológico. completa, proveniente de caso fortuito ou força maior,
O doente mental pode ser considerado imputável, se no era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
momento do fato, tiver entendimento e incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
autodeterminação. determinar-se de acordo com esse entendimento.

Ao inimputável aplica-se medida de segurança. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito
No caso do parágrafo único, teremos a redução de pena ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da
de uma a dois terço se o agente, no momento do fato, omissão, a plena capacidade de entender o caráter
não era inteiramente incapaz de entende o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
ilícito ou de determina-se de acordo com esse entendimento.
entendimento. Para este agente chamamos de semi-
imputável.
Com a reforma do código penal em 1984, adotou-se o COMENTÁRIOS
Sistema Vicariante que autoriza o magistrado aplicar ao Se a emoção e a paixão forem de caráter patológico
semi-imputável, pena ou somente medida de (doentio), então as mesmas excluem a imputabilidade.
segurança. Não podendo ser aplicada as duas sanções.
Apesar da paixão e da emoção não excluírem a
imputabilidade. A emoção é causa de diminuição de
Menores de dezoito anos pena, segundo o Art. 65, III, “c” do C.P. - (Art. 65 - “São
circunstâncias que sempre atenuam a pena:” - “III” - ter
Art. 27- Os menores de 18 (dezoito) anos são o agente: - “c” - “cometido o crime sob coação a que
penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas podia resistir, ou em cumprimento de ordem de
estabelecidas na legislação especial. autoridade superior, ou sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima;”). OBS.: A
paixão não é causa de diminuição de pena, pois
COMENTÁRIOS entende-se que a mesma é duradoura, dando assim
Os menores de 18 anos ficam sujeitos a legislação tempo de pensar antes de cometer o crime.
especial (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente). Existem vários tipos de embriagues: não acidental,
O critério para analisar o menor de idade, adotado pelo acidental (fortuita ou involuntária), patológica e
código penal foi o Critério Biológico, levando-se em preordenada.
consideração apenas o desenvolvimento mental do A embriaguez não acidental não isenta de pena, mesmo
agente (idade). quando completa. A teoria adotada foi Actio Libera In
A emancipação civil não retira a inimputabilidade do Causa, ou seja, analisa-se o agente antes de começar a
agente. ingerir a substância. Ex.: Artur começa a ingerir bebida
alcoólica voluntariamente com seus amigos em uma
Em caso de crime permanente, se iniciado quando o festa. Ao final da festa, Artur resolve furta o carro de
agente possuía 17 anos e se prolongar até o mesmo Maria. Conclusão: Artur responderá pelo crime de
completar 18 anos, então o considera imputável. furto, mesmo que a sua embriaguez seja completa, pois
será considerado para a análise do fato, o momento em
que Artur começou a ingerir a bebida alcoólica.

26
PM-TO
DIREITO PENAL

A embriaguez acidental/fortuita/involuntária por O CONCURSO DE PESSOAS


decorrer de caso fortuito ou força maior, se completa
exclui a imputabilidade e se incompleta responderá pelo
crime com diminuição de pena de um a dois terços. Ex.: Regras comuns às penas privativas de liberdade
Manoel não sabendo que era alérgico a tal
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o
medicamento, ingeri o mesmo com um copo de cerveja,
crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
vindo a ficar completamente embriagado e cometer um
sua culpabilidade.
homicídio. Conclusão: Manoel será isento de pena, pois
sua embriaguez era completa, e foi causada por caso § 1º - Se a participação for de menor importância, a
fortuito. OBS.: Se a embriaguez não fosse completa, pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
Manoel teria apenas sua pena diminuída de um a dois
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de
terços.
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
Ex2.: Fabrício coloca uma arma na cabeça de José, e essa pena será aumentada até metade, na hipótese de
força o mesmo ingerir uma grande quantidade de ter sido previsível o resultado mais grave.
bebidas alcoólicas. José completamente embriagado
COMENTÁRIOS
comete um homicídio. Conclusão: José será isento de
pena, pois sua embriaguez era completa e foi causada Crime Monossubjetivo ou Unissubjetivo (crime de
por motivo de força maior. OBS.: Se a embriaguez não concurso eventual): É o crime que pode ser cometido
fosse completa, José teria apenas sua pena diminuída por uma única pessoa, e eventualmente por duas ou
de um a dois terços. mais. Ex.: Homicídio, Furto, Roubo e etc.
A embriaguez patológica (doentia), dependendo do Crime Plurissubjetivo (crime de concurso necessário): É
caso, pode receber o mesmo tratamento dos o crime que só pode ser cometido por duas ou mais
inimputáveis em razão da anomalia psíquica (Art. 26 pessoas. Obrigatoriamente exige concurso de pessoas.
caput). Ex.: Quadrilha ou bando (Art. 288 - "Associarem-se 3
(três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
Na embriaguez preordenada, o agente bebe para
crimes" - OBS.: Foi retirado do código penal o termo
cometer o crime. Então será analisado pela teoria Actio
quadrilha ou bando, atualmente chamamos de
Libera In Causa. O agente terá agravada a sua pena (Art.
Associação Criminosa.), Rixa (Art. 137 do C.P. -
61, II, “l” - “São circunstâncias que sempre agravam a
"Participar de rixa, salvo para separar os contendores")
pena, quando não constituem ou qualificam o crime:” -
e etc.
“l” - “em estado de embriaguez preordenada”). Ex.:
Hélio começa a ingerir bebidas alcoólicas com objetivo As regras do concurso de pessoas do Art. 29 ao 31 do
de criar coragem para matar Daniel. Ao ficar C.P., somente se aplica ao crimes Monossubjetivo ou
embriagado pratica o crime de homicídio. Conclusão: Unissubjetivo.
Hélio irá responder pelo delito de homicídio e ainda Autor - Quem pratica a conduta típica ou verbo do tipo
terá sua pena agravada, independentemente da penal. Ex.: Diego efetua dois disparos e mata Lucas.
embriaguez ser completa ou incompleta. Conclusão: Diego é o auto do delito de homicídio.
Coautor - Dois ou mais autores praticando o mesmo
crime. Ex.: Felipe segura Carla e Pedro mantém relação
sexual com a mesma. Conclusão: Felipe e Pedro serão
coautores do crime de estupro.
Participe - Quem, apesar de não executar a conduta
típica e nem executar o verbo do tipo penal, induz (cria
a ideia do crime), instiga (reforça a ideia, já existente,
do crime) ou auxilia (fornece meios de execução para o
autor). A teoria adotada pelo código penal, com relação
ao participe, foi a Teoria da acessoriedade média ou
limitada, que diz que o partícipe será punido se a
conduta do autor for típica e ilícita, ainda que não
culpável. Ex.: Caio induz Rafael (doente mental) a
praticar um furto na casa de Joana. Conclusão: A
conduta do autor (Rafael) foi típica e ilícita, porém

27
PM-TO
DIREITO PENAL

Rafael é inimputável. Mesmo assim, Caio irá responder casa de Silvia. Mário irá entrar na casa, enquanto José
pelo crime de furto. ficará vigiando o local. Porém ao entrar na casa, Mário
se depara com Maria, empregada de Silvia. Mário então
Não existe crime só com participe. Pois a conduta do
estupra e mata Maria para roubar uma televisão.
participe por si só é atípica.
Conclusão: Mário responderá pelos crimes de estupro e
O código penal adotou com relação ao autor e coautor, latrocínio (roubo seguido de morte - Art. 157, § 3º do
a Teoria Restritiva, onde faz diferença entre C.P.). Enquanto José responderá apenas por furto. Ex2.:
autor/coautor e partícipe. Ex.: Pedrinho empresta uma Valdir pega uma arma de fogo, coloca na cintura e
arma de fogo para Tico e Teco cometerem um roubo. combina com Manoel de roubar uma farmácia. Ao
Conclusão: Tico e Teco são coautores e Pedrinho é entrar na farmácia e se deparar com um segurança
partícipe. armado, atira e mata o mesmo. Conclusão: Valdir irá
O STF vem tomando decisões de acordo com a Teoria responder por latrocínio e Manoel responderá por
do Domínio do Fato, ou seja, esta teoria diz que o autor roubo, com pena aumenta até a metade, pois era
não necessariamente realiza o verbo nuclear, mas previsível que Valdir poderia vim a matar alguém.
possui o domínio do fato criminoso. Ex.: Joaquim Autoria Colateral - Quando duas ou mais pessoas
manda Benedito matar Lobão. Conclusão: Para esta executam a infração simultaneamente, sem que uma
teoria Joaquim também é considerado autor. saiba da conduta da outra, ou seja, não existe liame
Autoria mediata (indireta) - O autor mediato é aquele subjetivo (acordo de vontades). Ex.: Lobão e Carlos
que realiza o crime sem executar a conduta típica, ou desejando matar Silvio Caminha, sem que nenhum
seja, realiza o crime utilizando-se de uma pessoa que saiba da vontade do outro, fica cada um de um lado da
age sem dolo, sem culpa ou sem culpabilidade. Ex.: 1 - rua. Quando Silvio passa os dois atiram ao mesmo
Erro determinado por terceiro (Art. 20 § 2º C.P.). 2 - tempo. A perícia identificou que o tiro que matou Silvio
Coação moral irresistível (Art. 22, primeira parte, do C.P. saiu da arma de Carlos. Conclusão: Carlos responderá
- “Se o fato é cometido sob coação irresistível ...”). 3 - por homicídio e Lobão por tentativa de homicídio.
Obediência hierárquica (Art. 22, segunda parte, do C.P. - Autoria Incerta - Ocorre quando na autoria colateral
“...em estrita obediência a ordem, não não foi possível saber qual dos agentes consumou o
manifestamente ilegal, de superior hierárquico...”) e 4 crime. Ex.: Lobão e Carlos desejando matar Silvio
- Instrumentos impuníveis (inimputável). Caminha, sem que nenhum saiba da vontade do outro,
Autoria Imediata (direta) - O autor mediato é aquele fica cada um de um lado da rua. Quando Silvio passa os
que realiza o crime executando a conduta típica, ou dois atiram ao mesmo tempo. Na perícia não foi
seja, realizando o núcleo do tipo penal. possível identificar de que arma saiu o tiro que matou
Silvio. Conclusão: Lobão e Carlos responderão por
O código penal adotou a Teoria Monista onde todos os tentativa de homicídio (In Dubio Pro Reo).
envolvidos no crime responderão pelo mesmo crime.
Porém, o juiz pode aplicar penas diferentes, de acordo Autoria Ignorada ou Desconhecida - O infrator não foi
com participação de cada um. Ex.: João empresta uma identificado. Ex.: Alguém atira em Joselito. A polícia não
arma para Carlos matar Joana. Conclusão: João e Carlos consegue descobrir o autor de delito.
responderão por homicídio, porém o juiz pode dar uma
pena de 10 anos para Carlos e 7 anos para João. OBS.:
No Brasil poderá ser aplicada a Teoria Pluralista (por Circunstâncias incomunicáveis
esta teoria os agente respondem por crimes diferentes) Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as
como exceção. Ex.: O traficante Lobato vende drogas condições de caráter pessoal, salvo quando
com dinheiro financiado pelo empresário Rodolfo. elementares do crime.
Conclusão: Lobato responderá por tráfico de drogas
(Art. 33 "caput", Lei de drogas) e Rodolfo responderá
por financiamento para o tráfico (Art. 36 da Lei COMENTÁRIOS
11.343/06 - Lei de Drogas).
Elementares: São dados essenciais do tipo penal.
No Art. 29, § 2º do C.P. temos a situação, em que o
Circunstâncias: São dados agregados ao tipo penal, que
agente quis participar de crime menos grave, logo
influenciam na pena. Ex.: Margareth, servidora pública,
responderá por este, todavia se era previsível o
com ajuda de Marcos, um particular, apropria-se de
resultado mais grave, então, sua pena será aumentada
uma impressora do órgão no qual Margareth trabalha.
até metade. Ex.: Mario combina com José de furtar a
Conclusão: Margareth e Marcos responderão pelo

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PM-TO
DIREITO PENAL

crime de peculato, desde que Marcos soubesse das


condições de servidora pública de Margareth. Ex2.:
Homicídio qualificado
Saulo e Alex comentem o crime de furto. Saulo é réu
primário e Alex é inimputável. Conclusão: Saulo terá o § 2° Se o homicídio é cometido:
benefício por ser réu primário e Alex ficará isento de
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
pena, ou seja, suas condições pessoais não irão se
outro motivo torpe;
comunicar, pois não são elementares do delito de furto.
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
Casos de impunibilidade
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o possa resultar perigo comum;
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
tentado. defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a
COMENTÁRIOS impunidade ou vantagem de outro crime:
Existem crimes que o legislador adianta sua Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
consumação, ou seja, o ajuste já consuma o crime. Por Feminicídio
isso, este artigo usa o termo “salvo disposição expressa
em contrário”. Ex.: Associação Criminosa. Ex2.: Mateus VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
e Leo combinam de matar Augusto envenenado. Na feminino:
noite em que os mesmos iriam cometer o crime, um liga VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142
para o outro e desiste. Conclusão: Se o crime não chega e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
nem a ser tentado, não terá punição. prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA § 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve:
TÍTULO I I - violência doméstica e familiar;
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
HOMICÍDIO SIMPLES Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3
Caso de diminuição de pena (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de prestar imediato socorro à vítima, não procura
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a
da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
terço.

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DIREITO PENAL

praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou (deixar a morte seguir seu curso natural, ou seja, não
maior de 60 (sessenta) anos. prolongar a vida, já que a morte é certa) também não é
crime no Brasil.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
deixar de aplicar a pena, se as consequências da No Art. 121, § 1º do C.P. temos o homicídio privilegiado,
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave ou seja, aquele que terá uma diminuição de pena. O
que a sanção penal se torne desnecessária. mesmo traz as situações que garantem essa diminuição
de pena que são: 1 - Impelido por motivo de relevante
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a
valor social ou moral. Ex.: Alguém mata um terrorista
metade se o crime for praticado por milícia privada, sob
que está cometendo crimes em uma cidade e
o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
aterrorizando todos os moradores (Valor Social -
grupo de extermínio.
Coletivo). Ex2.: O pai mata o estuprador da filha (Valor
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um Moral - Individual). 2 - Sob o domínio de violenta
terço) até a metade se o crime for praticado: emoção, logo em seguida a injusta provocação da
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores vítima. OBS.: Aqui o agente tem que está sob o domínio
ao parto; de violenta emoção e não apenas por influência da
mesma. Ex.: O marido que mata a mulher adultera, pois
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de está sob domínio de violenta emoção. OBS2.: A injusta
60 (sessenta) anos ou com deficiência; provocação poderá recair sobre terceira pessoa ou até
III - na presença de descendente ou de ascendente da mesmo sobre um animal. Ex.: O pai que mata uma
vítima. pessoa que ofendeu sua filha, chamando-a de
prostituta. OBS3.: Considera-se a violenta emoção no
momento em que o homicida toma ciência da injusta
COMENTÁRIOS provocação. Ex.: Joana foi traída no dia 10/01/2017,
porém só ficou sabendo da traição no dia 17/01/2017.
O bem jurídico protegido é a vida, mas precisamente a
Logo, a violenta emoção só ocorreu no dia em que a
extrauterina.
mesma ficou sabendo do fato. OBS4.: Se o juiz
O sujeito ativo do crime de homicídio poderá ser reconhecer o privilégio, deverá diminuir a pena de um
qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo sexto a um terço. Pois a expressão "pode" encontrada
também poderá ser qualquer pessoa. na lei é com relação à quantidade da diminuição da
pena, e não, a faculdade de diminuí-la.
A consumação do delito se dá com a morte cerebral da
vítima. Considera-se vida humana a ultra-uterina, ou O Art. 121, § 2º do C.P. traz o homicídio qualificado,
seja, no início do parto. O mesmo não se consuma com descrevendo em seus incisos, o que leva a qualificar o
a morte presumida (aquela reconhecida pelo direito delito (I - mediante paga ou promessa de recompensa,
civil). OBS.: Não importa se a vida da vítima era ou não ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com
viável. Ex.: João mata o filho que acaba de nascer com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
uma doença, que lhe dará poucos minutos de vida (vida outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
inviável). perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou
mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
O homicídio pode ser praticado por ação ou omissão,
ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para
sendo necessário, na segunda hipótese, que o agente
assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
tenha o dever jurídico de evitar a morte. Ex.: Salva-vidas
vantagem de outro crime).
vê um banhista se afogando e nada faz, podendo fazer.
Conclusão: O salva-vidas irá responder pelo crime de No Art. 121, § 2º, I do C.P. temos a qualificadora, que se
homicídio doloso, por omissão, ou seja, o dolo está na aplica, se o delito for cometido mediante paga ou
omissão. promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.
OBS.: Essa recompensa, para maioria da doutrina, tem
Em regra o homicídio simples, descrito no caput, não é
que possuir valor patrimonial. OBS2.: O Art. 121, § 2º, I
crime hediondo, exceto quando praticado em atividade
do C.P., traz a figura de dois sujeitos, o mandante e o
típica de grupo de extermínio.
executor. Porém, a doutrina majoritária e maioria das
A eutanásia é considerada homicídio, porém na turmas do STF, entende que somente é aplicada a
modalidade privilegiado. OBS.: A distanásia não é crime, qualificadora ao executor, já que as circunstâncias e as
pois a mesma refere-se ao prolongamento da vida, ou condições de caráter pessoal, não se comunicam (Art.
seja, o contrário da eutanásia. OBS2.: A ortotanásia 30 do C.P). Ex.: Um pai que paga um justiceiro para

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DIREITO PENAL

matar o estuprador da filha. Conclusão: O matador irá Meio insidioso é o meio disfarçado, dissimulado e etc.
responder por homicídio qualificado por motivo torpe Ex.: Retirar os freios do motocicleta da vítima. OBS3.:
(pagamento de recompensa). No entanto, o pai Meio cruel é o meio que provoca o sofrimento
responderá pelo homicídio simples, com diminuição de desnecessário na vítima. Ex.: Excesso de tiros, excesso
pena relativa ao relevante valor moral. OBS3.: Aplica-se de golpes de faca (com intenção de causar sofrimento).
a qualificadora mesmo que a recompensa prometida OBS4.: Meio possa resultar perigo comum é aquele que
não seja paga. OBS4.: A vingança por si só não é além de matar a vítima, coloca em perigo a vida de
qualificadora do homicídio. Porém o motivo que o outras pessoas. Ex.: Causar desmoronamento de um
originou a vingança pode ou não ser motivo torpe. Ex1.: barracão que está em um morro.
O pai que mata o estuprador da filha (Não é torpe).
Todas as qualificadoras encontradas no Art. 121, § 2°, IV
Ex2.: O empregado mata o outro, porque perdeu a
do C.P. são meios utilizados para que a vítima não
disputa da promoção de um cargo (É torpe).
perceba que está sendo atacada ou que dificulte a sua
Motivo Torpe: Motivo nojento, repugnante, sem defesa. OBS.: Traição é quando a vítima não sabe que
motivos, que causa indignação total em relação ao vai ser atacada. Ex.: José atira em João, pelas costas.
senso comum, ou seja, que não possui motivo, o que OBS2.: Emboscada é quando o agente se esconde e
torna a conduta do agente uma violação ao senso ético espera a vítima chegar para atacá-la desprevenida. Ex.:
comum. A torpeza tem como característica, a obtenção Marcos se esconde atrás de uma árvore, e quando
de vantagens pessoais. Ex.: Irmão mata o outro para Pedro passa, ele ataca-o. OBS3.: Dissimulação é o
ficar com toda herança. Ex2.: Um funcionário mata o disfarce que permite o infrator aproximar-se da vítima
outro para ficar com seu cargo na empresa. sem que ela perceba que será atacada. Ex.: João se
veste de carteiro e quando Josefina vem receber a carta
Motivo Fútil: Insignificante, desproporcional com a
ele ataca-a. OBS4.: Recurso que dificulte ou torne
reação do homicida, ou seja, apesar de existir motivo,
impossível a defesa do ofendido. Ex.: Mata uma pessoa
este é totalmente desproporcional com a conduta do
algemada com os braços para trás.
agente. Ex1.: Marido mata a mulher porque ela
esqueceu de colocar para gelar, sua cerveja. Ex2.: João No Art. 121, § 2°, V do C.P. o crime é praticado com
mata José por causa de R$ 1,00. objetivo de: 1 - assegurar a execução de outro crime
(Homicídio qualificado pela Conexão Teleológica). Ex.:
No Art. 121, § 2º, III do C.P. encontramos várias
Joaquim mata o segurança da empresa para incendiar a
qualificadoras que são: 1 - emprego de veneno
empresa. 2 - assegurar a ocultação, impunidade ou
(Venefício). OBS.: A qualificadora referente ao emprego
vantagem de outro crime (Homicídio qualificado pela
de veneno, só será aplicada se o veneno for ministrado
Conexão Consequencial). Ex.: O autor de um delito de
sem que a vítima saiba que o está ingerindo. Ex.:
roubo mata a testemunha que presenciou o crime.
Colocar veneno no bolo, na comida, sem que ela saiba.
OBS.: Não se aplica a qualificadora do Art. 121, § 2°, V
OBS2.: Se o veneno for aplicada de forma forçada na
do C.P., se o crime for cometido em razão de uma
vitima, com a vitima ciente que está sendo envenenada,
contravenção penal. Ex.: João mata José, pois o mesmo
então recai sobre meio cruel, que é outra qualificadora
ficou sabendo que ele estava anunciando, produtos
do mesmo inciso. 2 - fogo ou explosivo. Ex.: Incendiar a
com finalidade abortiva, nas escolas de seu bairro (Art.
vítima ou colocar uma bomba no carro para explodir a
20 do Decreto Lei 3.688/41 - Lei de Contravenções
vítima. 3 - asfixia. Ex.: João mata Maria, impedindo que
Penais - "Anunciar processo, substância ou objeto
ela respire, colocando sua cabeça um dentro de um
destinado a provocar aborto"). OBS2.: Se o homicídio
saco plástico. 4 - tortura ou outro meio insidioso ou
for praticado em razão de uma contravenção, haverá a
cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Ex.:
qualificadora do motivo torpe.
Pedro, com intenção de mata João, corta parte a parte
de seu corpo, fazendo-o perder sangue até a morte No Art. 121, § 2°, VI do C.P. temos o crime de
(tortura). OBS.: Homicídio qualificado pela tortura (Art. feminicídio, ou seja, o homicídio praticado contra a
121, § 2°, III do C.P.) é diferente da tortura qualificada mulher por razões da condição de sexo feminino.
pela morte (Art. 1º, § 3°, Lei 9.455/97). A diferença
No Art. 121, § 2°, VII do C.P. temos a qualificadora que
entre os dois delitos está no DOLO, ou seja, no
será aplicada ao agente que cometer o crime de
Homicídio qualificado pela tortura o dolo é de matar e a
homicídio contra autoridade ou agente descrito nos
tortura é apenas o meio de atingir esse intento, já na
arts. 142 (As Forças Armadas) e 144 (Policiais, Guardas
tortura qualificada pela morte o dolo é de torturar e por
Municipais e Servidores dos Detrans) da Constituição
culpa (excesso) é causado a morte (Crime Preterdoloso
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
- Dolo no antecedente e culpa no consequente). OBS2.:

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DIREITO PENAL

Nacional de Segurança Pública, no exercício da função tinham ciência que a morte seria com emprego de
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, veneno, logo ambos responderão pelo homicídio
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro qualificado. Ex2.: João e Pedro combinam matar Maria
grau, em razão dessa condição. com uso de arma de fogo. João compra a arma e
entrega para Pedro matar a vítima. Porém, no
Ex.: Matar um policial em serviço. Ex2.: Pedro mata o
momento da execução do crime Pedro resolve matar a
filho de um agente de trânsito, porque seu pai aplicou
vítima colocando veneno em seu suco, sem o
uma multa em seu carro.
conhecimento de João. Conclusão: João irá responder
OBS.: Segundo o art. 5° lei 4.898/65 (Abuso de por homicídio simples e Pedro responderá por
autoridade), considera-se autoridade, quem exerce homicídio qualificado por emprego de veneno.
cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou
O homicídio qualificado-privilegiado é possível, desde
militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
que a qualificadora seja objetiva (meios/modos de
O Art. 121, § 2º-A, vem esclarecendo, o que se execução do crime), ou seja, as descritas no Art. 121, §
considera as razões de condição de sexo feminino, que 2°, III e IV do código penal. Pois as qualificadoras
se dá quando o crime envolve: I - violência doméstica e subjetivas são incompatíveis com as circunstâncias,
familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de também subjetivas (motivos do crime), do homicídio
mulher. OBS.: Podemos concluir com o Art. 121, § 2º-A, privilegiado, descrito no Art. 121, § 1° do código penal.
que não é a morte de qualquer mulher que irá EX.: Carlos mata o estuprador de sua filha usando
configurar o feminicídio. Tendo, portanto, que analisar veneno. Conclusão: O homicídio será qualificado pelo
se o crime se deu em situações em que o agressor mate emprego de veneno e privilegiado pelo relevante valor
a mulher numa atitude de exercício de um suposto moral. Ex2.: Pedro comete um homicídio por relevante
“direito de posse” ou de “domínio pleno” sobre a valor moral e qualificado por motivo torpe. Conclusão:
vítima, ou seja, relacionamento doméstico. Ex.: Marido São circunstâncias logicamente incompatíveis, pois não
matou a mulher. Ex2.: Mãe matou a filha, para impedir podemos ter um relevante valor moral e motivo torpe
que a mesma frequente a escola, já que acha que o ao mesmo tempo. Logo não estaremos diante de
papel da mulher é ser dona de casa. OBS3.: Não homicídio qualificado-privilegiado.
podemos excluir as relações homoafetivas. OBS4.:
Na aplicação da pena no homicídio qualificado-
Femicídio é a morte de pessoas do sexo feminino,
privilegiado o juiz aplicará a pena do homicídio
independentemente de qualquer outro critério.
qualificado (12 a 30 anos) e diminui de um sexto a um
O homicídio qualificado em todas as suas modalidades é terço, em decorrência do homicídio privilegiado (Art.
considerado crime hediondo. 121, § 1° do código penal).
A premeditação não é qualificadora do homicídio, pois O homicídio qualificado-privilegiado, segundo a
não está descrito como qualificadora no código penal. doutrina majoritária, não é considerado crime
O Art. 121, § 2°, I, II e V do C.P., possuem qualificadoras hediondo. Pois as circunstâncias subjetivas do
subjetivas, ou seja, os motivos do crime. Logo, essas homicídio privilegiado, prevalecem sobre as
qualificadoras nunca se comunicam entre os agentes, qualificadoras objetivas do homicídio qualificado.
em caso de concurso de pessoas. Ex.: João e Pedro Pluralidade de qualificadora é quando no homicídio tem
matam Maria. João matou por motivo torpe, porém mais de uma qualificadora. Ex.: Homicídio duplamente
Pedro apenas emprestou a arma para João. Conclusão: qualificado por motivo fútil e emprego de fogo.
Como a qualificadora do crime é subjetiva, a mesma
No caso de pluralidade de qualificadoras, a primeira
não será aplicada a Pedro, ou seja, João responde por
delas serve para tornar o crime qualificado,
homicídio qualificado e Pedro por homicídio simples.
possibilitando a aplicação da pena de 12 a 30 anos.
O Art. 121, § 2°, III e IV do C.P., possuem qualificadoras Quanto às demais qualificadoras, existe divergência
objetivas, ou seja, os meios/modos de execução do quanto à finalidade delas: 1ª corrente - as demais
crime. Logo, essas qualificadoras se comunicam entre os qualificadoras funcionam como agravantes. 2ª corrente
agentes, em caso de concurso de pessoas e desde que o (STF) - as demais qualificadoras funcionam como
coautor ou participe tenha conhecimento da circunstâncias judiciais desfavoráveis (Art. 59 do C.P. -
qualificadora. Ex.: João e Pedro combinam matar Maria "O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
com emprego de veneno. João compra o veneno e conduta social, à personalidade do agente, aos motivos,
Pedro coloca o veneno no suco de Maria. Conclusão: às circunstâncias e consequências do crime, bem como
Como a qualificadora do crime é objetiva, e ambos ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme

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PM-TO
DIREITO PENAL

seja necessário e suficiente para reprovação e No Art. 121, § 5º do código penal, temos o perdão
prevenção do crime"), que serão consideradas na judicial, onde o juiz deixa de aplicar a pena ao infrator,
dosagem da pena base. embora o fato seja típico, ilícito e culpável, ou seja,
embora haja crime, pois trata-se de uma medida de
O homicídio culposo está tanto no Art. 121, § 3º do C.P.
política criminal.
quanto Art. 302, CTB (Código de Trânsito Brasileiro -
“Praticar homicídio culposo na direção de veículo A natureza jurídica do perdão judicial é uma causa
automotor”). extintiva de punibilidade, que está descrita no Art. 107,
IX, do C.P. (“Extingue-se a punibilidade: IX - pelo perdão
O homicídio culposo é aquele no qual o agente mata a
judicial, nos casos previstos em lei”). Por outro lado, a
vítima por imprudência, negligência ou imperícia, ou
natureza da sentença que concede o perdão judicial é a
seja, o mesmo não tem a intenção de matar a vítima.
declaratória, segundo a súmula 18 STJ - ("A sentença
Só será aplicado o homicídio culposo do CTB, se for concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção
praticado na condução de veículo automotor terrestre, da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
como expresso Art. 302 do CTB. Em qualquer outra condenatório").
hipótese, será aplicado o homicídio culposo do código
O perdão judicial só é cabível nas hipóteses
penal, expresso no seu Art. 121, § 3º - "Se o homicídio é
expressamente previstas em lei e possuí algumas
culposo".
particularidades como: 1 - Não é cabível em homicídio
O conceito de veículo automotor está descrito no CTB doloso. 2 - É cabível no homicídio culposo do código
que é todo veículo de propulsão que se movimenta pela penal, quando o infrator sofrer consequências tão
força do motor e que serve para o transporte viário de graves, que a sanção penal se torne desnecessária, ou
pessoas ou coisas, incluindo os veículos elétricos que seja, as consequências da infração já são uma punição
não circulem sobre trilhos. Logo, estão fora do conceito para o próprio infrator. 3 - É cabível no homicídio do
de veículos automotores, os veículos aquáticos e Código de Trânsito Brasileiro. OBS.: O Art. 300 do CTB
aéreos, assim como de propulsão animal, humana, que previa o perdão judicial foi vetado. Embora o CTB
ciclomotores (veículos de duas ou três rodas com não preveja o perdão judicial, ele é cabível ao homicídio
capacidade máxima de motor de 50 cc e velocidade culposo de trânsito, aplicando-se por analogia ao
máxima de fabricação de 50 Km/h) e os que circulam perdão judicial previsto no código penal.
sobre trilhos. Sendo assim, ficam sujeitos as regras do
No Art. 121, § 6º do código penal, temos uma causa de
código penal.
aumento de pena, de um terço até a metade, caso o
No homicídio culposo do Art. 302 do CTB a pena é de 2 homicídio seja praticado por milícia privada, sob o
a 4 anos de detenção, mais suspensão ou proibição do pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
direito de dirigir. Enquanto que no Art. 121, § 3º, do grupo de extermínio. OBS.: Milícias são organizações
código penal, a pena é de 1 a 3 anos detenção. formadas por militares ou paramilitares, que
No Art. 121, § 4º do código penal, temos as causas de geralmente prestam serviço de segurança. Porém,
aumento de pena aplicadas ao homicídio culposo e passam com o tempo, a extorquir a uma população.
homicídio doloso. OBS2.: Grupos de extermínios são organizações
formadas por militares ou particulares que atuam como
No caso do aumento de pena do homicídio culposo, o matadores de aluguel, ou seja, cobram para matar.
agente terá sua pena aumenta de 1/3 (um terço), se o
crime resulta de inobservância de regra técnica de No Art. 121, § 7º do código penal, temos uma causa de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar aumento de pena, de um terço até metade, caso o
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as feminicídio seja praticado: I - durante a gestação ou nos
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa
flagrante. menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta)
anos ou com deficiência; III - na presença de
No caso do aumento de pena do homicídio doloso, o descendente ou de ascendente da vítima.
agente só irá responder pelo mesmo, se souber que a
vítima é menor de 14 anos ou maior que 60 anos, ou Para finalizar, temos o homicídio doloso político que
seja, se o agente não souber a idade da vítima, não será está expresso no Art. 29, Lei 7.170/83 (Lei de Segurança
aplicada a ele a majorante. Importante saber que Nacional) - "Matar qualquer das autoridades referidas
considera-se a idade da vítima no momento da conduta no Art. 26". E no Art. 26 da mesma lei, temos as
e não no dia da morte dela. seguintes autoridades em destaques, que são: "Caluniar
ou difamar o Presidente da República, o do Senado

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PM-TO
DIREITO PENAL

Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo somente se, o suicida vier a morrer ou pelo menos ter
Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como lesão corporal de natureza grave, ou seja, não haverá o
crime ou fato ofensivo à reputação". OBS.: Para que crime se o suicida não morre ou não sofre lesões
seja aplicado o Art. 29, Lei 7.170/83, faz-se necessário graves.
que o crime seja contra um dos presidentes
Não existe tentativa do crime do Art. 122 do C.P. OBS.:
supracitados e que o delito tenha motivação política.
A expressão "tentativa de suicídio" encontrada no Art.
Trata-se de um crime de ação penal pública 122 do C.P. está se referindo, ao ato de se suicidar, e
incondicionada. não ao crime em si.
As condutas puníveis são: Induzir (Criar a ideia do
suicídio na vítima), Instigar (Reforçar a ideia de suicídio
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
já existente na vítima) ou prestar auxílio material (Dar
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou ajuda material).
prestar-lhe auxílio para que o faça: Se o autor induzir, instigar e auxiliar a mesma vítima,
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se ele responderá por um só crime (Princípio da
consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da Alternatividade). Pois estamos diante de um crime do
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza tipo misto alternativo ou crime de conduta múltipla ou
grave. variada, ou seja, um crime que descreve várias
condutas.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Se o infrator pratica ato executório da morte da vítima,
então o agente irá responder por crime de homicídio.
Aumento de pena A corrente majoritária da doutrina, entende que o
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; crime do Art. 122 do C.P., não pode ser cometido por
omissão. Pois o instigar, induzir ou auxiliar subentende-
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer se ação.
causa, a capacidade de resistência.
A pessoa que não impede o suicídio, quando poderia
impedir, irá responder por omissão de socorro
COMENTÁRIOS qualificada pela morte, se não tiver o dever jurídico de
evitar o resultado, que está descrito no Art. 135,
O bem jurídico protegido é a vida.
parágrafo único do código penal (“A pena é aumentada
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
comum). Porém o sujeito passivo do crime poderá ser natureza grave, e triplicada, se resulta a morte“). No
qualquer pessoa, desde que seja capaz de entender que entanto se tiver o dever jurídico de evitar o resultado,
está se suicidando. Logo, se a vítima não tem nenhuma responderá por homicídio, previsto no Art. 13, § 2º do
capacidade de entendimento, então haverá o crime de código penal (“A omissão é penalmente relevante
homicídio. Ex.: Induzir uma criança de 5 anos a disparar quando o omitente devia e podia agir para evitar o
uma arma contra si. OBS.: Somente haverá o crime do resultado.“).
Art. 122 do C.P., se a conduta do autor for direcionada a
No Art. 122 do C.P., parágrafo único, incisos I e II temos
uma pessoa determinada ou a um grupo determinado
causas de aumento de pena do crime, o que levará à
de pessoas, ou seja, não haverá o crime, se for um
duplicação da pena, nos seguintes casos: 1 - Motivo
induzimento ou instigação genérico, ou seja,
egoístico. Ex.: José induz o irmão a se suicidar, para ficar
direcionadas a pessoas indeterminadas. Ex.: Alguém
com toda a herança. 2 - Se a vítima for menor (18 anos),
publica na internet, um site, ensinando as pessoas a se
ou se a vítima tem diminuída, por qualquer causa, a
suicidarem.
capacidade de resistência. Ex.: Artur sofre de
O crime previsto no Art. 122 do C.P., só aceita a forma depressão, sabendo disso Carlos induz o mesmo ao
dolosa, ou seja, não existe a forma culposa desse crime. suicídio. OBS.: Se a vítima não tem nenhuma
capacidade de resistência, o infrator responderá por
O suicídio e a tentativa de suicídio não são crimes, ou
homicídio.
seja, o suicida não comete crime nenhum.
Tanto no caso de duelo americano (cada participante
O terceiro que colabora com o ato suicida irá responder
escolhe uma arma e começa a disparar contra si, no
pelo crime do Art. 122 do C.P. na sua forma consumada,
entanto apenas uma arma está municiada), quanto no

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PM-TO
DIREITO PENAL

caso da roleta russa (uma única arma, com uma só O infanticídio só poderá acontecer durante o parto ou
munição, e o agente dispara contra si, passando a arma logo após. A doutrina diz que a expressão "logo após",
para outro agente, disparar contra si também), um deve ser entendida da seguinte maneira: enquanto
desafiante irá se suicidar, e o desafiante sobrevivente durar o estado puerperal.
irá responder pelo Art. 122 do código penal.
Estado puerperal - São perturbações físicas e ou
No pacto de morte ou ambicídio, podemos ter três psíquicas que atingem determinadas mulheres,
situações: 1 - Ambas as pessoas morrem (Não há crime). diminuindo-lhe a capacidade de autodeterminação e
2 - Uma pessoa morre e a outra sobrevive (A pessoa resistência. Produzem na mulher sentimentos de
sobrevivente irá responder por homicídio (Art. 121 do angustia, de ódio e de repulsa em relação ao próprio
C.P.), se executou o ato da morte ou irá responder por filho.
instigação ao suicídio, se não executou o ato da morte
Se a mãe mata o filho, durante o parto ou logo após,
(Art. 122 do C.P.)). 3 - ambas as pessoas sobrevivem
sem está sob a influência do estado puerperal, então
(Responderá por tentativa de homicídio, aquele que
estaremos diante do crime de homicídio.
executou o ato da morte (Art. 121 c/c 14, II do C.P.) e
responderá por instigação ao suicídio, aquele que não Se o estado puerperal for tão intenso, transformando-
executou a morte, desde que o outro tenha lesões se em uma doença mental, então a mulher será
graves (Art. 122 do C.P.)). considerada inimputável (Art. 26, "caput" do C.P. - " É
isento de pena o agente que, por doença mental ou
Trata-se de um crime da ação penal pública
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
incondicionada.
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter Ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.") ou semi-
Infanticídio
imputável (Art. 26, parágrafo único do C.P. - "A pena
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
próprio filho, durante o parto ou logo após: virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
Pena - detenção, de dois a seis anos.
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.").
COMENTÁRIOS
O crime de infanticídio somente será punido na forma
O bem jurídico protegido no Art. 123 do C.P. é a vida
dolosa. Porém, se a mãe, sob a influência do estado
humana extra-uterina, ou seja, durante o parto ou logo
puerperal, matar o próprio filho culposamente, não
após.
responderá por infanticídio. Nessa situação temos duas
O crime só poderá cometido pela mãe (sujeito ativo) no correntes: 1ª corrente - a mãe responderá por
estado puerperal (crime próprio) e o sujeito passivo homicídio culposo e 2ª corrente - o fato é atípico.
deste crime é o próprio filho, que pode ser nascente
O delito de infanticídio, por ser um crime próprio,
(que está nascendo) ou recém-nascido/neonato (que
admite co-autoria e participação. Logo, o terceiro que
acabou de nascer). Neste caso estamos diante de um
figurar no papel de co-autor ou partícipe deste crime,
crime bipróprio, ou seja, aquele que o tipo penal exige
irá responder também por infanticídio.
uma qualidade especial do sujeito ativo e uma
qualidade especial do sujeito passivo. Trata-se de um crime material, ou seja, exige resultado
naturalístico, e sua tentativa é perfeitamente possível.
Se a mãe em estado puerperal, mata o filho de outra
mulher, pensando ser o próprio filho, estará cometendo O infanticídio por motivo de honra é aquele onde a mãe
também o crime de infanticídio, baseado no que diz o mata o próprio filho, não por está sob a influência do
Art. 20, § 3° do C.P. - (Erro sobre a pessoa - "O erro estado puerperal, mas para ocultar desonra ou gravidez
quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não indesejada. Neste caso haverá o crime de homicídio,
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as pois o Brasil não possui em seu código penal, a
condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa tipificação por motivo de honra.
contra quem o agente queria praticar o crime"), ou seja,
O critério adotado pelo código penal brasileiro é o
a mãe responderá como se tivesse matado o próprio
fisiopsicológico, ou seja, só haverá infanticídio se a mãe
filho (Infanticídio putativo).
estiver sob a influência do estado puerperal.

35
PM-TO
DIREITO PENAL

Trata-se de um crime da ação penal pública 124 a 127 do código penal. 7 - Aborto legal/permitido
incondicionada. descrito no Art. 128 do código penal.
No Art. 124 do C.P. encontramos o auto-aborto (1ª
parte) e consentimento para o aborto (2ª parte).
Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento O delito do Art. 124 do C.P é um crime de mão própria,
ou seja, não admite co-autoria, podendo ser cometido
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir somente pela gestante. Porém admite participação de
que outrem lho provoque: terceiro, podendo este instigar, induzir ou auxiliar a
Pena - detenção, de um a três anos. gestante.
A gestante que consentir o aborto, responde pelo Art.
124 do C.P. e o terceiro que praticou o aborto com o
COMENTÁRIOS
consentimento da gestante, responde pelo crime
O bem jurídico protegido no Art. 123 do C.P. é a vida expresso no Art. 126 do C.P. OBS.: Esta situação é uma
humana intra-uterina. exceção da teoria aplicada em casos de concurso de
pessoas, pois está sendo aplicada a Teoria Pluralista
O sujeito ativo, em ambas as condutas é a mulher que
(exceção) e não a Teoria Monista (regra). Caso de
está grávida (crime de mão própria).
aplicação da teoria pluralista: Ex.: A gestante, induzida
O aborto é conceituado como a interrupção da gravidez pelo marido, autoriza o médico a realizar o aborto
natural ou por inseminação artificial, com a destruição ilegal. Conclusão: A gestante responde pelo crime do
do produto/resultado da concepção, ou seja, com a Art. 124 do C.P. como autora; O marido responderá
eliminação da vida humana intra-uterina. pelo delito do Art. 124 do C.P. como participe; e o
A vida humana intra-uterina pode ser: o óvulo médico responderá do crime do Art. 126 do C.P.
fecundando até a terceira semana de gestação; o Se for uma gravidez extra-uterina não será crime. Ex.: A
embrião que existe da terceira semana até três meses gravidez molar, gravidez em mola ou mola hidatiforme,
de gestação; ou o feto a partir do terceiro mês de é uma condição rara onde, durante a fecundação, há
gestação. Logo, é crime de aborto, a destruição de um erro genético e o feto não recebe os pares de
qualquer desses tipos de vida intra-uterina. cromossomos vindos da mãe, somente do pai, fazendo
Haverá aborto, mesmo que o feto seja expulso do com que o suposto bebê seja formado de um
ventre materno com vida e morra instantes depois do emaranhado de células, que formam várias vesículas no
ato de aborto. Também não é preciso que ocorra a útero da mulher, semelhante a cachos de uvas.
expulsão do produto da concepção do ventre materno. Não haverá o crime de aborto, se a mulher não estiver
Ex.: A mãe pratica uma manobra abortiva, destrói o grávida, ou se estiver, o feto já está morto por outro
embrião, mas o embrião não é expulso, pois foi motivo. Nesses casos, estaremos diante de crime
absolvido pelo organismo. impossível, por absoluta impropriedade do objeto.
É possível a tentativa de aborto. Trata-se de um crime da ação penal pública
Não há aborto culposo, somente cometido com dolo ou incondicionada.
dolo eventual.
Existem várias espécies de aborto: 1 - Aborto natural Aborto provocado por terceiro
(fato atípico); 2 - Aborto acidental (fato atípico); 3 -
Aborto miserável ou sócio econômico é aquele Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
praticado por pessoa que não tem condições gestante:
econômicas de criar a criança (é crime); 4 - Aborto Pena - reclusão, de três a dez anos.
honoris causa é o aborto para ocultar uma gravidez
desonrosa para gestante (é crime); 5 - Aborto Eugênico
ou Eugenésico é o aborto praticado, quando se tem COMENTÁRIOS
certeza de que a criança nascerá com graves anomalias
O bem jurídico protegido no Art. 123 do C.P. é a vida
físicas ou psíquicas (é crime). OBS.: O STF decidiu que o
humana intra-uterina.
aborto de anencéfalos não é mais considerado crime no
Brasil. 6 - Aborto Criminoso são os descritos nos Art. O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa (crime
comum). Admiti-se co-autoria e participação. E os

36
PM-TO
DIREITO PENAL

sujeitos passivos são: o produto da concepção (feto) e COMENTÁRIOS


gestante (que não autorizou o abordo), ou seja, trata-se
A qualificadora prevista no Art. 127 do C.P., será
de um crime de dupla subjetividade passiva.
aplicada somente ao terceiro que fizer a manobra
O crime é praticado somente na forma dolosa. abortiva, com ou sem, o consentimento da gestante, ou
seja, não se aplica ao crime descrito no Art. 124 do C.P.
O não consentimento da gestante poderá ser:
tácito/presumido (Ex.: Médico faz o aborto sem o Nos crimes dos artigos 125 e 126 do código penal, as
conhecimento da gestante, pois a mesma encontra-se penas serão aumentadas de um terço se em
em coma induzido) ou expressa (Ex.: Gestante consequência do aborto ou dos meios empregados para
expressamente não permite o aborto e o médico provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
mesmo assim o faz). grave, e é duplicada se resultar a morte da gestante.
Trata-se de um crime de ação penal pública A lesão grave ou a morte da gestante poderá decorrer
incondicionada. tanto do aborto, quanto dos meios empregados para
realizar o aborto.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da
gestante: A forma qualificada do Art. 127 do código penal é
considerado crime preterdoloso, pois há dolo no aborto
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
e culpa na lesão corporal grave ou na morte.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se
As qualificadoras ou causas de aumento de pena
a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada
aplicam-se mesmo que o aborto não ocorra. Ex.: Um
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido
médico pratica manobras abortivas na gestante, o feto
mediante fraude, grave ameaça ou violência.
sobrevive, ou seja, não o ocorre o aborto, mas a
COMENTÁRIOS gestante morre. Conclusão: o médico irá responder
O bem jurídico protegido no Art. 123 do C.P. é a vida pelo crime do art. 125 ou 126 do código penal (1ª
humana intra-uterina. corrente - aborto consumado; 2ª corrente - tentativa de
aborto qualificada pela morte da gestante, ou seja, é
O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa (crime uma exceção, onde é admitido a tentativa de crime
comum). Admiti-se co-autoria e participação. E o sujeito preterdoloso; 3ª corrente - tentativa de abordo sem a
passivo será somente o produto da concepção (feto). qualificadora, mais homicídio culposo da gestante.
O crime é praticado somente na forma dolosa. OBS.: NÃO EXISTE CORRENTE MAJORITÁRIA),
dependendo se houve ou não consentimento da
Se o consentimento for válido, então o terceiro gestante, e ainda terá sua pena duplicada, de acordo
responderá pelo crime do Art. 126 do C.P. e a gestante com o que reza o Art. 127 do C.P. Ex2.: Um médico
pelo delito do Art. 124 do C.P. pratica manobras abortivas na gestante, o feto morre,
O Art. 126, parágrafo único do C.P. dispõe da aplicação ou seja, ocorre o aborto, mas a gestante sofre lesões
da pena do Art. 125 do C.P. (reclusão, de três a dez graves. Conclusão: o médico irá responder pelo crime
anos), se a se a gestante não é maior de quatorze anos, do Art. 125 ou 126 do código penal (crime consumado),
ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é dependendo se houve ou não consentimento da
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. gestante, e ainda terá sua pena aumentada de um
terço, de acordo com o que reza o art. 127 do C.P.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
Forma qualificada I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
anteriores são aumentadas de um terço, se, em
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
consequência do aborto ou dos meios empregados para
precedido de consentimento da gestante ou, quando
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
incapaz, de seu representante legal.
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas,
lhe sobrevém a morte.

37
PM-TO
DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS Trata-se de um crime de ação penal pública


No Art. 128 do C.P. encontramos o aborto legal ou incondicionada.
permitido, ou seja, aqui encontraremos duas hipóteses
de excludente de ilicitude que poderá ser aplicada nesta
CAPÍTULO II
modalidade de aborto.
DAS LESÕES CORPORAIS
As hipóteses previstas no Art. 128 do C.P. são causas
excludentes de ilicitude, apesar de, o artigo usar a
expressão "não se pune", deixando a impressão de Lesão corporal
serem causas excludentes de culpabilidades.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
O inciso I do Art. 128 do C.P. traz o abordo necessário outrem:
ou terapêutico. Este deve ser praticado por médico e
que seja para salvar a vida da gestante, pois não há Pena - detenção, de três meses a um ano.
outro meio para salvar a vida da mesma. OBS.: Se o
aborto for realizado por uma enfermeira ou uma Lesão corporal de natureza grave
parteira, não haverá crime, pois agiram em estado de
necessidade (Art. 24 do C.P. - “Considera-se em estado § 1º Se resulta:
de necessidade quem pratica o fato para salvar de I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem de trinta dias;
podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, II - perigo de vida;
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se.”), da gestante. III - debilidade permanente de membro, sentido ou
função;
O inciso II do Art. 128 do C.P. traz o abordo sentimental
ou humanitário. O mesmo deve possuir alguns IV - aceleração de parto:
requisitos como: 1 - realizado por médico; 2 - que haja Pena - reclusão, de um a cinco anos.
autorização da gestante ou seu representante legal (não § 2° Se resulta:
é necessária ordem judicial); e 3 - que a gravidez seja
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
resultado de estupro (Art. 213 do C.P. - “Constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter II - enfermidade incurável;
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele III - perda ou inutilização do membro, sentido ou
se pratique outro ato libidinoso”). função;
Observações gerais: OBS1.: No Art. 20, da Lei de IV - deformidade permanente;
Contravenções Penais (Decreto Lei 3688/41) - "Anunciar
V - aborto:
processo, substância ou objeto destinado a provocar
aborto". Ex.: Divulgar publicamente um medicamento Pena - reclusão, de dois a oito anos.
com efeito abortivo. OBS2.: Fornecer algum meio
abortivo para a gestante, configurará participação no
Lesão corporal seguida de morte
crime de aborto por meio de auxílio material. OBS3.: O
uso da pílula do dia seguinte, mesmo que possua efeito § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
abortivo, não configura crime por se tratar de exercício que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco
regular do direito (Art. 23 do C.P. - “Não há crime de produzí-lo:
quando o agente pratica o fato: III - em estrito Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito.”). OBS4.: O aborto eugenésico ou engênico é
aquele que é praticado após ser comprovado os risco do Diminuição de pena
feto nascer com graves anomalias psíquicas ou físicas. § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
Todavia, essa modalidade é considerada criminosa. de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
Exceção: O STF, após decisão, admitia o aborto de feto violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
anencéfalo (má formação cerebral ou ausência total do da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
encéfalo e da caixa craniana do feto), não incriminando terço.
tal conduta.

38
PM-TO
DIREITO PENAL

Substituição da pena No Art. 129 caput do C.P. temos o que chamamos de


lesão corporal leve. OBS.: Em se tratando de lesão
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda corpora que chamamos de levíssima, como por
substituir a pena de detenção pela de multa, de exemplo, um tapa, que causará apenas uma
duzentos mil réis a dois contos de réis: vermelhidão, estaremos diante de uma contravenção
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo penal (Art. 21 da lei de Contravenções Penais - "Praticar
anterior; vias de fato contra alguém") e não do delito de lesão
corporal descrito no código penal.
II - se as lesões são recíprocas.
A consumação do delito se dá com a comprovação da
lesão, por meio de perícias, seja a integridade física,
Lesão corporal culposa psíquica ou a saúde da vítima. Trata-se de um crime
material. Admiti-se a tentativa.
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
No Art. 129, § 1º e seus incisos I, II, III e IV do C.P.,
Pena - detenção, de dois meses a um ano. temos a chamada lesão corporal grave, que ocorrerá
caso a conduta do agente resulte em incapacidade para
as ocupações habituais, por mais de trinta dias (Ex.:
Aumento de pena Quebrou o braço e não consegue escovar os dentes);
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer perigo de vida (Ex.: Traumatismo craniano); debilidade
qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste permanente de membro, sentido ou função (Ex.: Perda
Código. de uma das visões; ter o tendão da mão cortado e etc.)
ou aceleração de parto. OBS.: Para comprovação de
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do qualquer dos incisos se faz necessária uma perícia e a
art. 121. depender do caso, um exame de corpo de delito
complementar, para comprovar que, a debilidade se
pendurou por mais de 30 dias.
Violência Doméstica
No Art. 129, § 2º e seus incisos I, II, III, IV e V do C.P.,
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, temos a chamada lesão corporal gravíssima, que
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com ocorrerá caso a conduta do agente resulte em
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, Incapacidade permanente para o trabalho (OBS.: O
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de legislador foi bastante genérico, pois não trata do
coabitação ou de hospitalidade: trabalho que a vítima exercia e sim, apenas de
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. trabalho); enfermidade incurável (OBS.: Levando em
consideração a medicina da época que ocorreu a lesão);
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1° a 3° deste artigo, se perda ou inutilização do membro, sentido ou função
as circunstâncias são as indicadas no § 9° deste artigo, (Ex.: Perda dos dois olhos; ter a mão decepada e etc.);
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). deformidade permanente (Ex.: Ácido jogado no rosto
§ 11. Na hipótese do § 9° deste artigo, a pena será da vítima, causando deformidade que irá trazer para
aumentada de um terço se o crime for cometido contra vítima um sentimento de desprezo, vergonha,
pessoa portadora de deficiência. constrangimento e etc.) ou aborto (OBS.: No caso do
aborto, trata-se de crime preterdoloso, pois se houver o
dolo de causar o aborto na vítima, então o delito será
COMENTÁRIOS de aborto provocado sem o consentimento da gestante
que está descrito no Art. 125 do C.P. - "Provocar aborto,
O bem jurídico protegido no Art. 129 do C.P. é a
sem o consentimento da gestante").
incolumidade (bem-estar, segurança e etc.) pessoal do
indivíduo, protegendo a sua saúde corporal (integridade No Art. 129, § 3º do C.P., temos um crime preterdoloso
física), fisiológica (processos físicos e bioquímicos que (Dolo no antecedente e culpa no consequente).
ocorrem no interior de cada organismo) e mental Todavia, se a intenção for matar a vítima, configurará o
(sentimental, intelectual e etc.). delito de homicídio descrito no Art. 121 do C.P. ("Matar
Alguém"). Ex.: João da um soco em José, que cai e bate
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
a cabeça na calçada, vindo a falecer.
(crime comum).

39
PM-TO
DIREITO PENAL

No Art. 129, § 4º do C.P., temos a chamada lesão No Art. 129, § 8º do C.P. temos a aplicação da mesma
corporal privilegiada, pois o agente cometeu o crime regra disposta no Art. 121, § 5º do C.P. ("Na hipótese de
impelido por motivo de relevante valor social (Ex.: homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
Agredir um traidor da pátria) ou moral (Ex.: Lesionar o pena, se as consequências da infração atingirem o
estuprador da filha, um ano após o crime) ou sob o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
domínio de violenta emoção (Ex.: Agredir o amante da se torne desnecessária. - Perdão Judicial que é uma
sua mulher adúltera, estando sobre violenta emoção), causa de extinção de punibilidade").
logo em seguida a injusta provocação da vítima, ele
No Art. 129, § 9º do C.P. temos a aplicação da pena no
poderá ter sua pena reduzida pelo juiz, de 1/6 a 1/3.
caso da conduta de lesão corporal ser praticada contra
OBS.: Apesar de, o artigo trazer o termo “pode”, o juiz
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
deverá diminuir a pena do agente, assim sendo, o
companheiro, ou com quem conviva ou tenha
mencionado termo se refere a faculdade do juiz, quanto
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
ao grau da diminuição.
relações domésticas, de coabitação ou de
No Art. 129, § 5º do C.P. temos a possibilidade de o juiz hospitalidade. OBS.: Somente será aplicado este artigo
substituir a pena de detenção, aplicando a de multa, no de lesão doméstica, no caso de lesão corporal de
caso da lesão corporal leve, descrita no Art. 129 caput, natureza leve.
se ocorrer sobre as condições do Art. 129 § 4º ("Se o
No Art. 129, § 10º do C.P. temos um aumento de pena
agente comete o crime impelido por motivo de
de 1/3 caso a natureza da lesão domestica seja de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
natureza grave, gravíssima ou tenha como resultado a
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
morte da vítima.
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço") ou se as lesões são recíprocas. No Art. 129, § 11º do C.P. temos um aumento de pena
de 1/3 caso da lesão corporal tenha sido praticada
No Art. 129, § 6º do C.P. temos a lesão corporal culposa,
contra pessoa portadora de deficiência.
ou seja, quando o agente pratica o delito mediante
imprudência, negligência ou imperícia. OBS.: Se o Trata-se de um crime com dois tipos de ação penal: Se a
agente agiu com culpa, então é indiferente a gravidade lesão corporal for de natureza leve (Art. 129 caput) ou
da lesão. culposa (Art. 129, § 6º do C.P.) teremos uma ação penal
pública condicionada à representação, segundo o
No Art. 129, § 7º do C.P. temos uma causa de aumento
disposto no Art. 88 da lei 9.099/95 ("Além das hipóteses
de pena de 1/3, no caso de ocorrer às hipóteses do Art.
do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
121, § 4º (No homicídio culposo, a pena é aumentada
representação a ação penal relativa aos crimes de
de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
lesões corporais leves e lesões culposas.") e nos demais
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
caso de lesão corporal, teremos um crime de ação penal
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima
pública incondicionada.
(OBS.: Desde que ele não esteja correndo riscos
pessoais), não procura diminuir as consequências do OBSERVAÇÃO GERAL: Todos os crimes cuja pena
seu ato (Ex.: Comunicando a ambulância, bombeiro e máxima não ultrapasse dois anos, será julgado pelo
etc.), ou foge para evitar prisão em flagrante (OBS.: Os JECRIM (Juizado Especial Criminal) conforme prevê a Lei
tribunais de forma pacífica dizem que não se pode 9.099 em combinação com a Lei 10259/01. Se a pena
aplicar esta causa de aumento de pena, já que não há a máxima for superior a dois anos, será de competência
exigência de que o agente fique no local do crime, já do Juízo Criminal Singular.
que a nossa constituição federal garante, dentre outras,
a ampla defesa). Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado
contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos.) e § 6º (A pena é aumentada de 1/3
(um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço
de segurança, ou por grupo de extermínio.) do Art. 121
do C.P. OBS.: A causa de aumento de pena se dará tanto
na lesão corporal culposa quanto na dolosa.

40
PM-TO
DIREITO PENAL

CAPÍTULO III enquadramento nos delitos do Art. 121 (Homicídio -


“Matar alguém”), Art. 129, § 2º, II (Lesão Corporal -
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
“Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
§ 2° Se resulta: II - enfermidade incurável“) ou Art. 131
(Perigo de contágio de moléstia grave - “Praticar, com o
Perigo de contágio venéreo fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais contaminado, ato capaz de produzir o contágio”) do
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia C.P.
venérea, de que sabe ou deve saber que está Parte da doutrina entende não ser possível a tentativa.
contaminado: No entanto muitos defendem a possibilidade de
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. tentativa, por exemplo, quando acontece uma relação
frustrada.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Trata-se de um crime de ação penal pública
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. condicionada a representação, conforme descrito no
Art. 130, § 2º.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
Perigo de contágio de moléstia grave

COMENTÁRIOS Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem


moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
O bem jurídico protegido no Art. 130 do C.P. é a produzir o contágio:
incolumidade (bem-estar, segurança e etc.) física e a
saúde pessoal. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A doutrina majoritária considera um crime que poderá


ser cometido por qualquer pessoa (crime comum). COMENTÁRIOS
Porém existem correntes que entendem que somente a O bem jurídico protegido no Art. 131 do C.P. é a
pessoa portadora de doença venérea é que poderá incolumidade (bem-estar, segurança e etc.) física e a
figurar como sujeito ativo. O sujeito passivo do crime saúde pessoal. Parte da doutrina entende que protege-
poderá ser qualquer pessoa. OBS.: O delito irá existir se a vida também.
mesmo que a transmissão da moléstia venérea seja
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa que
entre cônjuges, ou seja, independe de consentimento
esteja com doença venérea grave (crime próprio). O
da vítima.
sujeito passivo do crime poderá ser qualquer pessoa,
O delito do Art. 130 do C.P. trata-se de uma norma desde que não esteja contaminada com a mesma
penal em branco, pois depende de complemento doença venérea do sujeito ativo.
(Regulamentos do Ministério da Saúde), para saber o
O delito do Art. 131 do C.P. trata-se de uma norma
que é considerado doença venérea.
penal em branco, pois depende de complemento
A conduta do delito é a de expor por meio de relações (Regulamentos do Ministério da Saúde), para saber o
sexuais (Ex.: Penetrações do pênis na vagina) ou que é considerado doença venérea grave.
qualquer ato libidinoso (Ex.: Sexo anal, beijos com
A conduta do delito é a praticar ato capaz de transmitir
brutalidade, toques, apalpadelas de mamas e etc.), a
doença grave (curável ou incurável) e contagiosa,
contágio de moléstia venérea, de que sabe (Dolo direto)
utilizando para tanto meios diretos (Ex.: Contado físico)
ou deve saber (Dolo eventual) que está contaminado.
ou indiretos (Ex.: Sem contato físico, através de
O Art. 130, § 1º temos a forma qualificada do delito, se seringas, talheres e etc.). OBS.: Este delito possui uma
o agente tiver a intenção de transmitir a doença finalidade de contaminar a vítima.
venérea.
O crime de Perigo de contágio de moléstia grave é
O crime de Perigo de contágio venéreo é formal ou de formal ou de consumação antecipada, pois se consuma
consumação antecipada, pois se consuma no momento no momento que o agente pratica o ato perigoso, capaz
que o agente pratica o ato sexual ou libidinoso que seja de transmitir a doença venérea grave. A tentativa é
capaz de transmitir a doença venérea. OBS.: Não há possível.
crime, se o agente, utilizar preservativo, tendo em vista
Trata-se de um crime de ação penal pública
a impossibilidade da contaminação. OBS2.: Se o agente
incondicionada.
for portador de HIV, não será delito de perigo de
contágio venéreo. No entanto se discute o

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PM-TO
DIREITO PENAL

Perigo para a vida ou saúde de outrem Abandono de incapaz


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado,
direto e iminente: guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer
motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
do abandono:
constitui crime mais grave.
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um
terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de
perigo decorre do transporte de pessoas para a natureza grave:
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
natureza, em desacordo com as normas legais.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
COMENTÁRIOS
Aumento de pena
O bem jurídico protegido no Art. 132 do C.P. é a vida e a
saúde da vítima. § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa um terço:
(crime comum). O sujeito passivo do crime deverá ser I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
pessoa(s) certa(s) e determinada(s), pois caso seja um
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge,
número indeterminado de pessoas, o delito passará a
irmão, tutor ou curador da vítima.
ser o de perigo comum, descrito nos Art. 250 a Art. 259
do C.P. III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
A conduta do delito é a de colocar pessoa(s) certa(s) e
determinada(s) em perigo de dano direto e iminente,
COMENTÁRIOS
aceitando assim o dolo direto ou eventual. OBS.: É
admitida a forma omissiva do crime. Ex.: Não fornecer O bem jurídico protegido no Art. 133 do C.P. é a vida e a
equipamentos de segurança a determinado integridade físico-psíquica da pessoa incapaz (no
trabalhador, colocando-o em expondo a vida ou saúde sentido mais amplo possível) de se auto-proteger ou
do mesmo a perigo. Não é cabível a modalidade defender.
culposa. Trata-se de um crime próprio, pois somente a pessoa
A consumação do delito se dá no momento do que tem a vítima sob seus cuidados, vigilância, guarda
aparecimento do risco (perigo concreto). OBS.: Se ou autoridade (caso seja o garantidor do incapaz)
causar dano, como a morte ou lesões corporais graves, poderá figurar como sujeito ativo. O sujeito passivo
o delito de perigo ficará absorvido pelo delito mais somente poderá ser a pessoa assistida, ou seja, aquela
grave (princípio da subsidiariedade). É admitida a incapaz de se defender dos riscos causados pelo
tentativa. abandono.
No Art. 132, parágrafo único do C.P., temos um A conduta do delito é a de abandonar, não obedecendo
aumento de pena de 1/6 a 1/3 caso, a exposição da vida ao tempo que tem o dever de guarda, vigilância ou
ou da saúde de outrem a perigo, decorra do transporte autoridade, pelo tempo juridicamente relevante. OBS.:
de pessoas para a prestação de serviços em O delito poderá ser praticado na forma comissiva ou
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo omissiva. OBS2.: Se o abandonado for capaz de se
com as normas legais. Ex.: Um caminhão que, em sua defender, não configurará o crime. Também não terá
carroceria, e se nenhuma segurança transporta bóias- este delito se o responsável se mantiver próximo da
frias para uma fazenda. vítima, cuidando para que alguém lhe preste o devido
auxílio (recolhendo-a), ou se o abandono se der em
Trata-se de um crime de ação penal pública
locais que tenha assistência, como por exemplo,
incondicionada.
hospitais.
O crime é cometido com dolo de perigo (direto ou
eventual). Não é cabível a modalidade culposa.

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PM-TO
DIREITO PENAL

Por se tratar de um delito de perigo concreto, a A consumação do delito se dá com surgimento da


consumação se dará quando a vítima sofre de fato situação de perigo, o qual foi colocado o recém-nascido,
situação de risco. OBS.: Por ser um Crime Instantâneo após ter sido abandonado. É admitida a tentativa.
(“É aquele que aqueles em que a consumação ocorre
No Art. 134, § 1º e § 2º do C.P. temos as formas
imediatamente, ou seja, não se prolonga no tempo”), o
qualificadas do delito, quando o abandono do recém-
arrependimento do agente (responsável) não
nascido vier a resultar lesão corporal de natureza grave
desconfigurará o delito. É admitida a forma tentada.
ou morte, configurando assim um crime preterdoloso
No Art. 133, § 1º e § 2º do C.P. temos a forma (dolo no antecedente e culpa no consequente).
qualificada do delito, no caso do abandono resultar
Trata-se de um crime de ação penal pública
lesão corporal de natureza grave ou morte,
incondicionada.
configurando assim um crime preterdoloso (dolo no
antecedente e culpa no consequente). Omissão de socorro
No Art. 133, § 3º, I, II e III teremos a pena majorada Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível
(aumenta) de 1/3, se o abandono ocorre em lugar fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
ermo; se o agente é ascendente ou descendente, extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima ou se a desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não
vítima é maior de 60 (sessenta) anos. pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Trata-se de um crime de ação penal pública Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
incondicionada.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da
Exposição ou abandono de recém-nascido omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
triplicada, se resulta a morte.
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. COMENTÁRIOS
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza O bem jurídico protegido no Art. 134 do C.P. é a vida e a
grave: saúde, objetivando preservar a segurança do indivíduo.
Pena - detenção, de um a três anos. O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
(crime comum). O sujeito passivo do crime será à
§ 2º - Se resulta a morte:
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida
Pena - detenção, de dois a seis anos. ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo. OBS.: O delito de omissão de socorro não
admite coautoria, pois todos têm o dever de presta
COMENTÁRIOS assistência, logo todos comentem o delito em comento.
O bem jurídico protegido no Art. 134 do C.P. é a vida e a A conduta do delito é de se omitir, deixando de prestar
integridade físico-psíquica da pessoa recém-nascida. assistência às pessoas descritas no artigo em comento.
O crime só poderá ser cometido, segundo doutrina O crime é cometido com dolo (direto ou eventual). Não
majoritária, pelos pais do recém-nascido. O sujeito é admitida a modalidade culposa.
passivo do crime só poderá ser o recém-nascido.
De acordo com a doutrina, a consumação se dá no
A conduta do delito é a de expor (forma comissiva) ou momento da omissão, todavia a omissão será
abandonar (forma omissiva) recém-nascido, colocando- caracterizada em dois momentos, no caso da criança
o em situação de perigo concreto. abandonada ou extraviada (perdida), o delito é de
O crime é cometido com dolo, no entanto deverá estar perigo abstrato (presumido), nas demais situações o
acompanhado de uma finalidade que é de ocultar crime é de perigo concreto, ou seja, deverá ser
desonra própria. Logo, se for para ocultar a desonra de demonstrado o risco que a vítima (pessoa certa e
terceiro, por exemplo, o marido adultero que abandona determinada) estava sofrendo. Não se admite a
o recém-nascido, então irá caracterizar o delito do Art. tentativa, pois se trata de um crime omissivo.
133 do C.P. (abandono de incapaz). Não é admitida a
modalidade culposa.

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PM-TO
DIREITO PENAL

No Art. 135, parágrafo único do C.P. tem-se a forma Maus-tratos


qualificada do delito, onde a pena é aumentada de
metade, se a omissão resultar lesão corporal de Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
Trata-se de um crime de ação penal pública privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis,
incondicionada. quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado,
quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.


emergencial § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
grave:
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio Pena - reclusão, de um a quatro anos.
de formulários administrativos, como condição para o
§ 2º - Se resulta a morte:
atendimento médico-hospitalar emergencial:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa. § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da
negativa de atendimento resulta lesão corporal de
natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 134 do C.P. é a vida e
COMENTÁRIOS saúde do indivíduo que está sob autoridade, guarda ou
vigilância do agente.
O bem jurídico protegido no Art. 135-A do C.P. é a vida
e a saúde do indivíduo que está em estado emergencial. O crime só poderá ser cometido por quem tem
autoridade, guarda ou vigilância em relação à vítima
O sujeito ativo do delito só poderá ser os funcionários
(crime próprio). No mesmo raciocínio, o sujeito passivo,
ou administradores do hospital. Já o sujeito passivo será
só poderá ser o agente que está sob autoridade, guarda
a pessoa que se encontra no estado de emergência.
ou vigilância do agente.
A conduta é a de negar atendimento emergencial,
As condutas do delito são de privar a alimentação ou
exigindo umas das garantias previstas no artigo em
cuidados indispensáveis; sujeitar a trabalho excessivo
comento, (cheque-caução (cheque como garantia), nota
ou inadequado ou abusar de meios de correção ou
promissória (promessa de pagamento) ou qualquer
disciplina (crime de múltipla ação ou plurinucleares).
garantia (endosso de uma letra de câmbio ou duplicata,
por exemplo), bem como o preenchimento prévio de O crime é cometido com dolo (direto ou eventual). Não
formulários administrativos (uma forma de contrato de é admitida a modalidade culposa. OBS.: O dolo deverá
adesão, onde o hospital, abusivamente, será ser praticado junto à consciência de maltratar a vítima,
favorecido)), como condição para executar os agindo abusivamente, expondo a mesma a perigo. Caso
procedimentos de socorros. não exista o abuso por parte do agente, não irá
caracterizar o delito de maus tratos. Não é admitida a
A consumação do crime ocorre no momento da
modalidade culposa.
exigência atrelada à condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial. É admitida a tentativa. A consumação se dá no momento em que existe um
risco real à vida ou saúde, ou seja, um risco de dano. É
O crime é cometido com dolo. Não admite a
admitida a tentativa na modalidade comissiva (ação).
modalidade culposa.
Todavia, não se admite modalidade tentada em crimes
No Art. 135-A, parágrafo único do C.P. tem-se omissivos.
majorantes (aumentos) de penas em dobro se da
O Art. 136, § 1º do C.P. dispõe da forma qualificada, no
negativa de atendimento resulta lesão corporal de
caso do delito ter como consequência uma lesão
natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
corporal de natureza grave.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.

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DIREITO PENAL

O Art. 136, § 2º do C.P. dispõe de outra qualificadora, O Art. 137, parágrafo único, do C.P. temos a forma
no caso do delito ter como consequência a morte da qualificada do crime, se em decorrência da rixa, ocorre
vítima. morte ou lesão corporal de natureza grave. OBS.: Se for
identificado o autor da lesão corporal grave ou da
O Art. 136, § 2º do C.P. tem-se uma causa de aumento
morte, o mesmo irá responder por tal delito. OBS2.:
de pena, de um terço, quando o delito for praticado
Mesmo que o agente se afaste da rixa, antes da morte
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
de ou da lesão corporal grave de um do envolvidos, irá
Trata-se de um crime de ação penal pública responder pela forma qualificada, tendo em vista, que
incondicionada. com sua conduta participativa, criou condições para tal
desfecho.
Trata-se de um crime de ação penal pública
CAPÍTULO IV incondicionada.
DA RIXA

CAPÍTULO V
Rixa DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os


contendores: Calúnia
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de fato definido como crime:
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
imputação, a propala ou divulga.

COMENTÁRIOS § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

O bem jurídico protegido no Art. 138 do C.P. é a Exceção da verdade


incolumidade (isenção de perigo, segurança e etc.) física § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
ou mental do indivíduo. I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa privada, o ofendido não foi condenado por sentença
(crime comum). OBS.: Trata-se de um crime irrecorrível;
plurissubjetivo (necessita de no mínimo três pessoas, ou II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
seja, o concurso de pessoas é necessário). OBS2.: O indicadas no nº I do art. 141;
sujeito ativo é ao mesmo tempo o sujeito passivo.
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o
Todavia, a doutrina afirma que, outras pessoas, que
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
apenas assistem a rixa, poderão configurar como sujeito
passivo do delito (integridade mental).
A conduta é de entrar (participar) na briga, ou seja, se COMENTÁRIOS
envolver no tumulto. OBS.: Não irá configurar o delito O bem jurídico protegido no Art. 138 do C.P. é a honra
quando for conflito entre grupos rivais, possíveis de objetiva, ou seja, aquela que temos perante terceiro
serem definidos. Ex.: Torcidas organizadas. (reputação social).
O crime é cometido com dolo (direito ou eventual), ou O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
seja, a vontade de entrar em uma briga, estando ciente (crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer
do risco que esta participação poderá provocar a pessoa, até mesmo aquelas incapazes de entender a
integridade física ou mental de alguém, que está ofensa. Ex.: Pessoa que se encontra em coma.
envolvida ou não no tumulto.
A consumação se dá com o início do conflito (rixa). Não
se admite a tentativa. Pois se trata de crime de mera
conduta, ou seja, aquele que não possui resultado
naturalístico, ou seja, a lei descreve apenas a conduta.

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PM-TO
DIREITO PENAL

A conduta é a de imputar (acusar), na forma escrita, oral A doutrina afirma que é cabível a exceção da
ou gestos, falsamente (o crime não existiu ou foi notoriedade (quando todo "mundo" já sabe), no delito
praticado por outra pessoa) a uma pessoa, fato definido de calúnia, não sendo considerado crime tal conduta,
como crime. Não depende de dano (crime formal). tendo em vista que a fato que o agente imputou à
OBS.: O fato o qual estão acusando determinada vítima já é de domínio público, ou seja, sabido por
pessoa, tem que ser específico e determinado. Ex.: Foi todos.
João que matou Pedro ontem, em frente ao shopping.
Trata-se de um crime de ação penal privada.
Se a imputação for de contravenção penal, não teremos
o delito de calúnia e sim de difamação. OBS.: Para a
doutrina majoritária, apesar do menor não cometer Difamação
crime e sim ato infracional, ele poderá ser sujeito
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo
passivo do delito de calúnia. OBS2.: Para a doutrina
à sua reputação:
majoritária, pessoa jurídica não pode sofre o crime de
calúnia, apesar da mesma praticar crimes ambientais. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
A consumação do crime se dá quando a falsa acusação
chega ao conhecimento de terceira pessoa, mesmo que
Exceção da verdade
seja apenas uma. Somente é admitida a tentativa na
modalidade por escrito, ou seja, não admite se for oral Parágrafo único - A exceção da verdade somente se
ou por gestos. admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
O crime é cometido com dolo (direito ou eventual). relativa ao exercício de suas funções.
OBS.: No entanto o Art. 138, § 1º do C.P. só admite o
dolo direito. Não admite a modalidade culposa.
COMENTÁRIOS
No Art. 138, § 1º do C.P. tem-se a aplicação da mesma
O bem jurídico protegido no Art. 139 do C.P. é a honra
pena caso a pessoa sabendo falsa a imputação, a
objetiva, ou seja, aquela que temos perante terceiro
propala (espalha) ou divulga.
(reputação social).
No Art. 138, § 2º do C.P. traz a possibilidade de pessoa
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
já falecida ser vítima de calúnia. Pois neste caso, a
(crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer
vítima não é o morto e sim as pessoas reflexamente
pessoa, até mesmo aquelas incapazes de entender a
atingidas pela calúnia contra o mesmo.
ofensa. Ex.: Pessoa com doença mental.
No Art. 138, § 3º do C.P. traz como regra geral a
A conduta é a de imputar (acusar), na forma escrita,
possibilidade de haver a exceção da verdade, ou seja,
oral ou gestos, falsamente (o fato não existiu ou foi
provar que a acusação é verdadeira, deixando assim de
praticado por outra pessoa) a uma pessoa, fato
ser crime. Todavia existem três hipóteses, descritas nos
ofensivo, desde que não seja definido como crime.
incisos I, II e III, que não admitem tal exceção, são elas: I
- se, constituindo o fato imputado crime de ação A consumação do crime se dá quando a imputação
privada, o ofendido não foi condenado por sentença chega ao conhecimento de terceira pessoa, mesmo que
irrecorrível (Ex.: João acusou Pedro de ter cometido o seja apenas uma. Não depende de dano (crime formal).
crime de dano contra Gabriel. Conclusão: João só Somente é admitida a tentativa na modalidade por
poderá apresentar a exceção da verdade, se Pedro já escrito, ou seja, não admite se for oral ou por gestos.
tiver sido condenado por sentença transitada em OBS.: O Art. 139 do C.P. não prevê a propalação ou
julgado pelo crime de dano); II - se o fato é imputado a divulgação da difamação. Porém a doutrina entende
qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 que aquele que propala ou divulga a difamação, comete
(Presidente da República, ou contra chefe de governo nova difamação. OBS2.: Não configura crime de
estrangeiro) e III - se do crime imputado, embora de difamação, quando a mesma for praticada contra
ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença pessoas mortas. OBS3.: Para a doutrina majoritária,
irrecorrível (Ex.: Maria acusa Carlos de ter praticado um pessoa jurídica pode sofre o crime de difamação, pois a
furto, porém Carlos já foi processado pelo furto e mesma possui reputação social, ou seja, honra objetiva.
absolvido definitivamente. Conclusão: Maria não
O crime é cometido com dolo (direito ou eventual). Não
poderá apresentar a exceção da verdade).
admite a modalidade culposa.

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DIREITO PENAL

O Art. 139, parágrafo único do C.P. descreve que, em oral ou gestos. Ex.: João chama Daniel de ladrão,
regra, não é admitida a exceção da verdade. Exceto se o corrupto, vagabundo e etc. OBS.: A imputação de fatos
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao vagos, também irá configurar injúria. Ex.: Fábio insulta
exercício de suas funções, pois é interesse da Luiz, dizendo que o mesmo não paga suas contas.
administração pública, saber a veracidade do fato, para OBS2.: A injuria poderá ser explicita, por exemplo,
poder punir ou não o funcionário público. Ex.: Mario chamar a pessoa de bandido, ou implícita, por exemplo,
acusa Patrick, funcionário público, de trabalhar chamar a pessoa de filha da p..., pois todo mundo sabe
embriagado. o que significa esse p. OBS3.: Pessoa jurídica não pode
A doutrina afirma que é cabível a exceção da ser vítima de injúria, pois não possui honra subjetiva.
notoriedade (quando todo "mundo" já sabe), no delito OBS4.: Os mortos não podem ser vítimas de injúria.
de difamação, não sendo considerado crime tal OBS5.: Se a vítima não se sentir injuriada, então não irá
conduta, tendo em vista que o fato que o agente configurar o crime. Pois a injúria tem que atingir a
imputou à vítima já é de domínio público, ou seja, honra subjetiva.
sabido por todos. O crime é cometido com dolo (direito ou eventual),
Trata-se de um crime de ação penal privada. como o chamado animus injuriandi. Não admite a
modalidade culposa.
A consumação se dá no momento em que a injúria
Injúria chega ao conhecimento da pessoa ofendida. É admitida
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou a tentativa somente na forma escrita.
o decoro: O Art. 140, § 1º, I e II do C.P. traz o perdão judicial, ou
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. seja, o juiz poderá deixar de aplicar a pena quando o
ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
injúria ou no caso de retorsão imediata, que consista
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou em outra injúria.
diretamente a injúria;
O Art. 140, § 2º traz uma qualificadora para o delito de
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria, quando a injúria consiste em violência ou vias de
injúria. fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, considerem aviltantes (humilhantes), pois além do pena
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se ser maior, o agente responderá pelo crime
considerem aviltantes: correspondente à violência praticada. Nesse caso,
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além estaremos diante de um concurso formal impróprio,
da pena correspondente à violência. com desígnio autônomo, descrito no Art. 70, segunda
parte, do C.P. (“Quando o agente, mediante uma só
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
Pena - reclusão de um a três anos e multa. qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de
COMENTÁRIOS
desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
O bem jurídico protegido no Art. 140 do C.P. é a honra anterior”). OBS.: Desígnio autônomo significa que o
subjetiva, ou seja, o sentimento pessoal e íntimo da agente pratica uma só ação, querendo ou assumindo o
vítima, sua autoestima, dignidade, decoro e etc. risco de produzir mais de um resultado.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa O Art. 140, § 3º do C.P. traz a chamada injúria
(crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer qualificada por preconceito, que é quando a injúria
pessoa, desde que seja capaz de entender as atribuições consiste na utilização de elementos referentes à raça,
negativas que foram proferidas contra sua pessoa, já cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa
que se trata de honra subjetiva. OBS.: Menores (de idosa ou portadora de deficiência. OBS.: Neste caso,
muito pouca idade) e doentes mentais podem ser não se pode aplicar o perdão judicial, pois a injúria
vítimas de injúria, desde que compreendam a ofensa. racista não deve ser perdoada.
A conduta é a de injuriar (insultar, ofender, fazer Trata-se de um crime de ação penal privada.
xingamentos ou acusações genéricas) na forma escrita,

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DIREITO PENAL

Disposições comuns COMENTÁRIOS

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo No Art. 142, I, II e III do C.P. temos as hipóteses de
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é exclusão somente dos crimes de injúria e difamação,
cometido: nas seguintes situações: a ofensa irrogada (imputada)
em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de procurador (Imunidade judiciária); a opinião
governo estrangeiro; desfavorável da crítica literária, artística ou científica,
II - contra funcionário público, em razão de suas salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou
funções; difamar (Imunidade literária, artística ou científica); o
conceito desfavorável emitido por funcionário público,
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que
em apreciação ou informação que preste no
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da
cumprimento de dever do ofício (Imunidade funcional).
injúria.
O Art. 142, parágrafo único do C.P. está
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
responsabilizando e punindo aquele que, nos casos dos
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
incisos I e II, publica o fato.
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga
ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro. Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se
COMENTÁRIOS retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica
isento de pena.
O Art. 141, I, II, II e IV do C.P. traz um aumento de pena,
de um terço, para os crimes contra a honra, no caso dos
mesmos, serem praticados contra o Presidente da COMENTÁRIOS
República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
No Art. 143 do C.P. temos a hipótese de que, se o
contra funcionário público, em razão de suas funções;
querelado (ofensor) se retratar antes da sentença de 1º
na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite
graus, será extinto a sua punibilidade de acordo com o
a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria;
que está descrito no Art. 107 (Extingue-se a
contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora
punibilidade:), VI (pela retratação do agente, nos casos
de deficiência, exceto no caso de injúria.
em que a lei a admite.) do C.P., ou seja, ficará isento de
O Art. 141, parágrafo único do C.P. traz um aumento de pena. OBS.: A retratação é somente para os crimes de
pena específico, aplicando-se a pena em dobro, caso o difamação e calúnia. OBS2.: A retratação independe da
crime seja cometido mediante paga ou promessa de aceitação da vítima. Esta retratação não consiste
recompensa. apenas em desfazer em juízo a difamação ou a calúnia,
e sim, retirar do mundo o que afirmou, além de mostrar
verdadeiro arrependimento. OBS3.: Se o crime foi
Exclusão do crime praticado por várias pessoas, a retratação de uma não
isenta as demais do crime, já que a mesma é subjetiva,
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
ou seja, pessoal.
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere
pela parte ou por seu procurador;
calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a
científica, salvo quando inequívoca a intenção de dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias,
injuriar ou difamar; responde pela ofensa.
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela
injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.

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PM-TO
DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS deficiência."). OBS.: A respeito da ação penal adotada


com relação aos crimes praticados contra honra de
O Art. 144 do C.P. traz a possibilidade do ofendido pedir
funcionário público no exercício de sua função temos a
explicações em juízo, no caso da calúnia, difamação ou
Súmula 714 do STF ("É concorrente a legitimidade do
injúria, possuir um sentido vago ou um duplo sentido.
ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
No segundo período do Art. 144 do C.P. ("Aquele que se condicionada à representação do ofendido, para a ação
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá penal por crime contra a honra de servidor público em
satisfatórias, responde pela ofensa."), temos a doutrina razão do exercício de suas funções".).
e jurisprudência majoritária decidindo que a justiça não
pode obrigar o "acusado", de fornecer explicações
solicitadas pelo juízo. OBS.: O prazo decadencial (seis CAPÍTULO VI
meses) não é interrompido com o pedido de explicações
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
em juízo.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente
se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do SEÇÃO I
art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art.
141 deste Código, e mediante representação do Constrangimento ilegal
ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou
como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
COMENTÁRIOS manda:
O Art. 145 do C.P. descreve que os crimes contra honra Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
são de ação penal privada, da vítima ou de seu Aumento de pena
representante legal, exceto quando se tratar do delito
descrito no Art. 140, § 2º ("Se a injúria consiste em § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em
violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem
meio empregado, se considerem aviltantes"), e a mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
violência mencionada no mesmo, causar lesão corporal. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as
Assim sendo o crime passará a ser de ação penal pública correspondentes à violência.
condicionada a representação. OBS.: Com o surgimento
da lei 9.099/95, em seu artigo 88 ("Além das hipóteses
do Código Penal e da legislação especial, dependerá de § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
representação a ação penal relativa aos crimes de I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o
lesões corporais leves e lesões culposas"), temos consentimento do paciente ou de seu representante
doutrina lecionando que a ação poderá ser pública legal, se justificada por iminente perigo de vida;
condicionada, caso a lesão corporal seja de natureza II - a coação exercida para impedir suicídio.
leve ou culposa.
No Art. 145, parágrafo único do C.P. tem-se a ação
COMENTÁRIOS
penal condicionada à requisição (ordem) do ministro da
justiça, caso o delito seja cometido contra as pessoas O bem jurídico protegido no Art. 146 do C.P. é liberdade
descritas no Art. 141, I ("Presidente da República, ou individual.
contra chefe de governo estrangeiro.") e a ação penal O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
pública condicionada a representação do ofendido, caso (crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer
o delito seja praticado contra as pessoas descritas no pessoa, desde que a mesma tenha a capacidade de
Art. 141, II ("contra funcionário público, em razão de decidir sobre seus atos. Assim sendo, ficam excluídas as
suas funções"), assim como as descritas no Art. 140, § pessoas embriagadas, crianças de pouca idade, os
3º ("Se a injúria consiste na utilização de elementos doidos e etc.
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de

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PM-TO
DIREITO PENAL

A conduta é a de constranger (forçar, levar a fazer algo Ameaça


e etc.). Ex.: João ameaça Pedro de morte, caso o mesmo
não furte um relógio, da loja que é funcionário. Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou
Conclusão: João cometeu o crime de constrangimento gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe
ilegal, com emprego de grave ameaça, fazendo com que mal injusto e grave:
Pedro faça o que lei não permite. Ex2.: Tércio agride Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Neto, para que o mesmo não ingresse, com uma ação
Parágrafo único - Somente se procede mediante
judicial, por dano moral. Conclusão: Tércio cometeu o
representação.
crime de constrangimento ilegal, com emprego de
violência, para que Neto não faça o que a lei permite.
OBS.: A extorsão é uma espécie de constrangimento
COMENTÁRIOS
ilegal. Porém, com finalidade de obter para si ou para
outrem indevida vantagem econômica. O bem jurídico protegido no Art. 147 do C.P. é liberdade
individual, que está sendo ameaçada por um mal
O crime é cometido com dolo. Não admite a
injusto e grave.
modalidade culposa.
A consumação se dá no momento em que a vítima
pratica ou deixa de praticar, infringindo a ordem legal, O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
ou seja, não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que (crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer
ela não manda. É admitida a tentativa. pessoa, desde que seja capaz de entender o mal
prometido, ou seja, ficam excluídos os que não têm
O Art. 146, § 1º do C.P. traz um aumento de pena, que
condições para tal entendimento, como, por exemplo,
será cumulativa (pena privativa de liberdade e multa) e
os loucos. O mal deverá ser proferido a pessoa física,
em dobro, quando, para a execução do crime, se
determinada e certa. Assim sendo, pessoa jurídica não
reúnem mais de três pessoas (concurso de pessoas), ou
poderá ser vítima deste delito.
há emprego de armas (no sentido amplo, ou seja,
qualquer instrumento que tenho o poder de lesionar A conduta é a de prometer causar um mal injusto e
alguém). OBS.: De acordo com entendimento da grave a uma pessoa. Esta promessa poderá ser por
Súmula 174 do STJ, não será aplicada a majorante no escrito, oralmente, gestos ou ainda símbolos. OBS.:
caso de simulacro (arma de brinquedo semelhante a Trata-se de um crime de ação livre (praticado por
real). qualquer meio de execução). Ex.: Heitor escreve um
bilhete para Alex, dizendo, que vai matá-lo.
No Art. 146, § 2º do C.P. que além da aplicação da pena
de constrangimento, será aplicada a correspondente à O crime é cometido com dolo. OBS.: Há controvérsias,
violência. OBS.: Apesar de o agente praticar uma só tanto na ameaça cometida durante um desequilíbrio
conduta e ter dois resultados diversos, a doutrina emocional, quanto à cometida em estado de
majoritária entende que se trata de concurso material embriagues. Ficando parte da doutrina com
descrita no Art. 69 do C.P. (“Quando o agente, mediante entendimento de que não há crime nesses casos e
mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais outra parte sustenta a existência do delito.
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente O Art. 147, parágrafo único, dispõe que o crime é de
as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. ação penal pública condicionada a representação.
No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e
de detenção, executa-se primeiro aquela.”).
O Art. 146, § 3º do C.P. traz a exclusão do delito se a Sequestro e cárcere privado
intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante
do paciente ou de seu representante legal, se justificada
sequestro ou cárcere privado:
por iminente perigo de vida ou se a coação exercida
para impedir suicídio. Pena - reclusão, de um a três anos.
Trata-se de um crime de ação penal pública § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
incondicionada. I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da
vítima em casa de saúde ou hospital;

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PM-TO
DIREITO PENAL

III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) quinze dias. IV - se o crime é praticado contra menor de
anos; 18 (dezoito) anos; V - se o crime é praticado com fins
libidinosos.
V - se o crime é praticado com fins libidinosos.
O Art. 148, § 2º do C.P. traz outra qualificadora, se
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou resulta à vítima, em razão de maus-tratos (Ex.: Ficar
da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou sem alimentos suficientes) ou da natureza da detenção
moral: (Ex.: Lugar insalubre), grave sofrimento físico ou moral.
Pena - reclusão, de dois a oito anos. OBS.: Se a intenção for de obter informações,
confissões da vítima ou em razão de discriminações
raciais ou religiosas e etc., estaremos diante do crime
COMENTÁRIOS
de tortura.
O bem jurídico protegido no Art. 146 do C.P. é liberdade
Trata-se de um crime de ação penal pública
de ir, vir e permanecer (liberdade de locomoção), que
incondicionada.
inclusive está disposta na constituição federal.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
(crime comum). O sujeito passivo poderá ser qualquer Redução a condição análoga à de escravo
pessoa. OBS.: Se a vítima consentir, o fato torna-se
atípico. OBS2.: Alguns doutrinadores defendem a tese Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de
de que não podem ser sujeitos passivos do delito em escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
comento, os paralíticos, doentes graves ou pessoas que jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
são incapazes de entender a privação da liberdade, degradantes de trabalho, quer restringindo, por
como por exemplo, criança de pouca idade, doentes qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
mentais e outros. contraída com o empregador ou preposto:
A conduta consiste na privação, total ou parcial, da Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da
liberdade de alguém. Para tanto, os meios empregados pena correspondente à violência.
serão o sequestro (manter em lugar onde a vítima § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
consiga se locomover por uma área maior. Ex.: Dentro
de uma fazenda) ou cárcere privado (manter em lugar I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
onde a vítima tem pouco espaço de locomoção. Ex.: parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
Dentro de um banheiro, quarto, porão e etc.). trabalho;
O crime é cometido com dolo. Não admite a II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou
modalidade culposa. se apodera de documentos ou objetos pessoais do
A consumação se dá com a privação da liberdade da trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
vítima. Todavia temos duas correntes nesse sentido, a § 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é
primeira considera a consumação o simples ato de cometido:
privar a liberdade, não importando o tempo a qual foi
I - contra criança ou adolescente;
restringida a mesma. Por outro lado, temos a segunda
corrente que considera que o delito, para se consumar, II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
deverá levar em consideração um tempo juridicamente religião ou origem.
relevante. É admitida a tentativa.
Sequestro e cárcere privado é crime permanente, vindo
o mesmo, a se prolongar no tempo, ou seja, enquanto o COMENTÁRIOS
sequestrado estiver sobre a posse do sequestrador, o O bem jurídico protegido no Art. 147 do C.P. é liberdade
delito está se consumando. individual.
O Art. 148, § 1º do C.P. traz uma qualificadora do delito, O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
que será aplicada nos casos descritos nos incisos I, II, III, (crime comum), todavia como regra geral, temos a
IV e V, que são: I - se a vítima é ascendente, figura do empregador e seus prepostos (funcionário
descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou que tem cargo de "chefia"). O sujeito passivo é o
maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado empregado, ou seja, aquele que possui qualquer tipo de
mediante internação da vítima em casa de saúde ou relação de trabalho.

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PM-TO
DIREITO PENAL

As condutas estão taxativamente elencada no Art. 149 SEÇÃO II


do C.P., que vieram em decorrência da criação da Lei
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO
10.803/2003, são elas: I - submetendo-o a trabalhos
DOMICÍLIO
forçados ou a jornada exaustiva; II - sujeitar o
empregado à condições degradantes de trabalho; III - Violação de domicílio
restringir, por qualquer meio, a locomoção do
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou
empregado, em razão de dívida contraída com o
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita
empregador ou preposto.
de quem de direito, em casa alheia ou em suas
O crime é cometido com dolo. Não admite a dependências:
modalidade culposa.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
A consumação se dá no momento em que a vítima tem
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em
a sua liberdade reduzida à condição análoga à de
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma,
escravo. Tratando de um delito material e permanente,
ou por duas ou mais pessoas:
a tentativa é admitida.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
O Art. 149, § 1º do C.P. traz mais duas condutas, que
pena correspondente à violência.
terão as mesmas penas, que são: I - cercear o uso de
qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, § 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é
com o fim de retê-lo no local de trabalho; II - manter cometido por funcionário público, fora dos casos legais,
vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera ou com inobservância das formalidades estabelecidas
de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, em lei, ou com abuso do poder.
com o fim de retê-lo no local de trabalho. OBS.: Se o
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em
agente praticar mais de uma das condutas descritas,
casa alheia ou em suas dependências:
tanto no caput, quanto no § 1º, tendo como vítima a
mesma pessoa, irá praticar um único delito (Princípio I - durante o dia, com observância das formalidades
da Alternatividade - É aquele que será aplicado quando legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
o delito trouxer em sua redação diversos verbos (crimes II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
de múltipla ação ou plurinucleares). Assim sendo, o crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
agente que pratica várias ações do mesmo tipo penal,
será responsabilizado por um só delito. Ex.: Art. 299 - § 4º - A expressão "casa" compreende:
Omitir, em documento público ou particular, declaração I - qualquer compartimento habitado;
que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, II - aposento ocupado de habitação coletiva;
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou III - compartimento não aberto ao público, onde alguém
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante). exerce profissão ou atividade.
Conclusão: Por se tratar de um crime de múltipla ação,
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
caso o agente venha praticar mais de uma conduta
descrita no delito, o mesmo irá responder somente por I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
um crime, ou seja, falsidade ideológica. coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
O Art. 149, § 2º do C.P. traz uma pena aumentada parágrafo anterior;
(majorante) na metade, se o delito for cometido contra II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
criança ou adolescente ou por motivo de preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou origem.
COMENTÁRIOS
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada. O bem jurídico protegido no Art. 152 do C.P. é liberdade
individual, zelando a sua tranquilidade e seu sossego.
OBS.: O conceito de casa abrange muito mais do que a
lei menciona, por exemplo, temos dentro deste,
qualquer compartimento habitado, local de realização
de atividade profissional e etc.

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PM-TO
DIREITO PENAL

O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa SEÇÃO III


(crime comum). O sujeito passivo pode ser qualquer DOS CRIMES CONTRA A
pessoa que tenha posse do imóvel.
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA
A conduta consiste em entrar ou permanecer, contra a
vontade daquele que possui a posse do imóvel.
Violação de correspondência
O crime é cometido com dolo. Não admite a
modalidade culposa. Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de
correspondência fechada, dirigida a outrem:
A consumação do crime se dá no momento em que o
agente adentra o imóvel (Crime Instantâneo - É aquele Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
que aqueles em que a consumação ocorre Sonegação ou destruição de correspondência
imediatamente, ou seja, não se prolonga no tempo) ou
§ 1º - Na mesma pena incorre:
nele permanece (crime permanente). Como um todo se
trata de crime de mera conduta, apesar disso é I - quem se apossa indevidamente de correspondência
admitida a tentativa. alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a
sonega ou destrói;
O Art. 150, § 1º do C.P. traz a forma qualificada do
delito, ou seja, a qualificadora será aplicada quando o Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou
crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou telefônica
com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou
mais pessoas. OBS.: O agente pagará pelas penas utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou
correspondentes à violência empregada na vítima. radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação
O Art. 150, § 2º traz um aumento de pena de um terço, telefônica entre outras pessoas;
caso o delito seja cometido por funcionário público, fora III - quem impede a comunicação ou a conversação
dos casos legais, ou com inobservância das referidas no número anterior;
formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho
poder. radioelétrico, sem observância de disposição legal.
O Art. 150, § 3º dispõe da possibilidade de se adentra § 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano
ou permanecer em casa alheia, em qualquer de seus para outrem.
cômodos, que são: durante o dia, com observância das
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de
formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou
diligência; a qualquer hora do dia ou da noite, quando
telefônico:
algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de
o ser (flagrante delito). OBS.: Este artigo trata de uma Pena - detenção, de um a três anos.
exclusão de crime, ou seja, nessas hipóteses não haverá § 4º - Somente se procede mediante representação,
delito algum. salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
O Art. 150, § 4º dispõe do que é considerada casa, que é
qualquer compartimento habitado; aposento ocupado COMENTÁRIOS
de habitação coletiva; compartimento não aberto ao
O Art. 151, caput foi tacitamente (implicitamente)
público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
revogado pela Lei 6.538/78 ("Lei regula os direitos e
O Art. 150, § 5º traz locais que não são considerados obrigações concernentes ao serviço postal e ao serviço
casas, que são: hospedaria, estalagem ou qualquer de telegrama em todo o território do País, incluídos as
outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a águas territoriais e o espaço aéreo, assim como nos
restrição do n.º II do parágrafo anterior ("aposento lugares em que princípios e convenções internacionais
ocupado de habitação coletiva"); taverna, casa de jogo e lhes reconheçam extraterritorialidade"), assim sendo,
outras do mesmo gênero. entende-se que todos seus parágrafos foram também
Trata-se de um crime de ação penal pública revogados, tendo como explicação que, os mesmo
incondicionada. sempre irão se remeter a algo que está descrito no
caput, seja a pena ou a conduta, logo, se o caput foi
revogado, não resta dúvida que todo o restante teve
sua revogação.

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PM-TO
DIREITO PENAL

Correspondência comercial nos sistemas de informações ou banco de dados da


Administração Pública:
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado
de estabelecimento comercial ou industrial para, no Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir § 2º Quando resultar prejuízo para a Administração
correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: Pública, a ação penal será incondicionada.
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único - Somente se procede mediante COMENTÁRIOS
representação.
O bem jurídico protegido no Art. 152 do C.P. é liberdade
individual, especificamente a manutenção dos segredos
COMENTÁRIOS individuais, relativos à intimidade da vítima.

O bem jurídico protegido no Art. 152 do C.P. é liberdade O sujeito ativo do delito será apenas o destinatário ou
individual, especificamente a inviolabilidade de detentor (crime próprio). O sujeito passivo será todo
correspondências. aquele que, direta ou indiretamente, estão interessados
na conservação do segredo. Ex.: Remetente.
O crime somente poderá ser cometido por sócio ou
empregado de estabelecimento comercial ou industrial A conduta do delito consiste em tomar conhecimento
(crime próprio). O sujeito passivo do delito será o do conteúdo da correspondência e divulgar (tornar
estabelecimento comercial ou industrial (pessoa público por meio de rádio, televisão, redes sociais e
jurídica) assim como seus respectivos sócios ou outros), sem justa causa, o segredo da mesma.
funcionários. O crime é cometido com dolo. Não admite a
A conduta consiste em tomar conhecimento do modalidade culposa.
conteúdo da correspondência (devassar), rompendo ou Por se tratar de um crime formal, para consumação do
não o invólucro (embrulho) de proteção. crime, basta que o segredo seja divulgado para um
O crime é cometido com dolo. Não admite a número indeterminado de pessoas, pois se faz
modalidade culposa. necessário o perigo de dano real e efetivo ao titular do
segredo. É admitida a tentativa.
A consumação se dá, com a prática de um dos verbos
descrito no tipo penal (desviar, sonegar, subtrair ou O Art. 153, § 1º do C.P. dispõe que o crime é de ação
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu penal pública condicionada a representação.
conteúdo), se tratando de um crime de ação múltipla O Art. 153, § 1º- A, está punindo o agente que, sem
(vários verbos). É admitida a tentativa. justa causa, divulga o conteúdo de documento
O Art. 147, parágrafo único, dispõe que o crime é de particular ou de correspondência confidencial, de que é
ação penal pública condicionada a representação. destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa
produzir dano a outrem. OBS.: O Art. 153, § 1º- A, como
nada dispõe sobre a ação, então temos para este
SEÇÃO IV parágrafo, um crime de ação penal pública
incondicionada.
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
SEGREDOS O Art. 153, § 2º do C.P. dispõe que o crime, quando
resultar prejuízo para a Administração Pública, é de
Divulgação de segredo
ação penal pública incondicionada.
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo
de documento particular ou de correspondência
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja
divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 1º- A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas
ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não

54
PM-TO
DIREITO PENAL

Violação do segredo profissional § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de


comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a invadido:
outrem:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Parágrafo único - Somente se procede mediante § 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a
representação. dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou
informações obtidos.
COMENTÁRIOS
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o
O bem jurídico protegido no Art. 152 do C.P. é liberdade crime for praticado contra:
individual, especificamente a inviolabilidade de
segredos profissionais. I - Presidente da República, governadores e prefeitos;

O sujeito ativo é qualquer pessoa que, em razão da II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
função, profissão, ofício e outros, divulgar segredo que III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
tenha conhecimento (crime próprio). O sujeito passivo Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara
será qualquer pessoa que teve seu segredo divulgado. Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal;
A conduta é a de revelar o segredo de que tem ciência IV - dirigente máximo da administração direta e indireta
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
cuja revelação possa produzir dano a outrem. OBS.:
Para que o delito seja configurado, o mesmo deverá
COMENTÁRIOS
ocorrer na esfera privada, pois se o sigilo for quebrando
por um funcionário público, haverá outro crime. O bem jurídico protegido no Art. 154-A do C.P. é sigilo
(privacidade) individual ou profissional, encontrada
O crime é cometido com dolo, ou seja, a vontade de
dentro de dispositivos informáticos, em forma de dados
revelar o segredo. Não admite a modalidade culposa.
(documentos, fotos, planilhas e etc.).
A consumação se dá com a revelação do segredo que
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
possa produzir dano, mesmo que não cause nenhuma
(crime comum). O sujeito passivo pode ser qualquer
consequência danosa (crime formal).
pessoa.
O Art. 154, parágrafo único do C.P. dispõe que o crime
A conduta do delito consiste em invadir dispositivo
de ação penal pública condicionada a representação.
informático alheio, sem autorização expressa ou tácita
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades.
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, A consumação do delito se dá com a invasão do sistema
conectado ou não à rede de computadores, mediante informatizado, sem autorização do titular do
violação indevida de mecanismo de segurança e com o dispositivo. Trata-se de um crime formal, pois é
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou dispensável a produção de um resultado. É admitida a
informações sem autorização expressa ou tácita do tentativa.
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
O crime é cometido com dolo. Porém exige uma
obter vantagem ilícita:
finalidade do agente, que é a de obter, adulterar ou
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e destruir dados ou informações e ainda obter vantagem
multa. ilícita. Não admite a modalidade culposa. OBS.: Se o
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, agente ao invadir o computador da vítima, toma
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de conhecimento de sua senha bancária e de lá subtrai
computador com o intuito de permitir a prática da valores, o crime será o de furto que irá absorver o delito
conduta definida no caput. de invasão (Princípio da Consunção - Princípio segundo
o qual o fato mais amplo e mais grave absorve outros
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da
invasão resulta prejuízo econômico. menos amplos e graves, ou seja, o crime meio ficará
absorvido pelo crime fim.).

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PM-TO
DIREITO PENAL

O Art. 154-A, § 1º do C.P. está punindo com a mesma DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
pena, quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde
dispositivo ou programa de computador com o intuito
de permitir a prática da conduta definida no caput.
O Art. 154-A, § 2º do C.P. aplica uma majorante DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
(aumento de pena) de um sexto a um terço caso a CAPÍTULO I
invasão resulta prejuízo econômico.
DOS CRIMES PRATICADOS
O Art. 154-A, § 3º do C.P. traz a forma qualificada do
crime, no caso da invasão resultar a obtenção de POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
segredos comerciais ou industriais, informações
sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto
não autorizado do dispositivo invadido. Peculato
O Art. 154-A, § 4º C.P. dispõe que a pena será Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de
aumentada de um a dois terço, no caso de haver dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou
qualquer título, dos dados ou informações obtidos, desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
descrita na conduta realizada no Art. 154-A, § 3º do C.P.
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
O Art. 154-A, § 5º do C.P. traz um aumento de pena de
um terço a metade se o delito for praticado contra § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,
Presidente da República, governadores e prefeitos; embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o
Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em
Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que
Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa lhe proporciona a qualidade de funcionário.
do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; dirigente
máximo da administração direta e indireta federal,
estadual, municipal ou do Distrito Federal. Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o
crime de outrem:
Ação penal
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente
se procede mediante representação, salvo se o crime é § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do
cometido contra a administração pública direta ou dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a
Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas pena imposta.
concessionárias de serviços públicos.

COMENTÁRIOS
No Art. 154-B temos o tipo de ação a ser aplicada no
Art. 154-A, que é a ação penal pública condicionada a
COMENTÁRIOS
representação. Todavia, se o delito for praticado contra
a administração pública direta ou indireta de qualquer O bem jurídico protegido no Art. 312 do C.P. é o
dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou patrimônio da administração pública, não esquecendo a
Municípios ou contra empresas concessionárias de sua moralidade.
serviços públicos, a ação passará a ser publica
Crimes Funcionais Próprios ou Puros ou Propriamente
incondicionada.
Ditos: São aqueles em que os fatos somente
configurarão crime, se praticados por funcionário
público, ou seja, se forem praticados por particulares
serão fatos atípicos (a falta de qualidade de funcionário

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PM-TO
DIREITO PENAL

público gera uma atipicidade absoluta, ou seja, o fato equiparação poderá figurar como sujeito passivo de
não irá configurar nenhum delito). Ex.: Prevaricação crime (Ex.: Um empregado que trabalha para uma
(Art. 319 do C.P. - "Retardar ou deixar de praticar, empresa prestadora de serviço contratada para
indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra executar atividade típica da administração pública,
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou poderá ser vítima do crime de desacato). OBS2.: Pessoa
sentimento pessoal"). Conclusão: Se esta conduta for que exerce Múnus Público (É o encargo imposto pela lei
praticada por um particular dentro de uma empresa ou pelo juiz para a proteção de interesses de
particular, não será considerada criminosa. Ex.: Um particulares. Ex.: Advogado particular, Curador, Tutor,
atendente de uma assistência técnica deixa de cadastrar Inventariante e etc.), não são consideradas funcionários
o recebimento do equipamento de um cliente, pois o públicos para fins penais.
mesmo é seu inimigo. Conclusão: Não haverá nenhum
OBS3.: O STF endente que para fins de aumento de
crime.
pena previsto no Art. 327, § 2º do C.P., deve está
Crimes Funcionais Impróprios ou Impuros ou inclusos os agentes político (prefeito, governador,
Impropriamente Ditos: São aqueles fatos que, se presidente e etc.).
praticados por particulares configuram outro crime
Se o particular souber da condição de servidor público
diferente do crime funcional, ou seja, a falta da
do agente, o mesmo também estará praticando o crime
qualidade de funcionário gera atipicidade relativa. Ex.:
de peculato como coautor ou partícipe em concurso de
Peculato (Art. 312 do C.P. - "Apropriar-se o funcionário
pessoas.
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em No caput do Art. 312 do C.P. temos duas modalidades
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou de peculato próprio. Na primeira parte temos o
alheio"). Conclusão: Se um particular apropria-se de Peculato Apropriação e na segunda parte o Peculato
bem alheio, irá configurar o crime de apropriação Desvio. Ex.: Tiago que é técnico de informática do TJE,
indébita (Art. 168 do C.P.). pega uma impressora da sua sala, que está sobre sua
posse, e leva para sua residência, com ânimo de ficar
O crime de peculato é considerado um crime próprio,
com a impressora. (Peculato Apropriação). Ex2.: Alfredo
pois exige a qualidade de funcionário público (no
é diretor do DETRAN, e recebe do governo do Estado,
sentido amplo trazido pelo Art. 327 do C.P. -
uma verba para melhorar o prédio do órgão, porém
“Considera-se funcionário público, para os efeitos
desvia o dinheiro para reformar sua residência.
penais, quem, embora transitoriamente ou sem
(Peculato Desvio). OBS.: Como o funcionário público
remuneração, exerce cargo, emprego ou função
tem a posse da coisa em razão do cargo, o mesmo
pública.
poderá se apropriar (Peculato Apropriação) ou desviar
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce (Peculato Desvio).
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
No Art. 312, § 1º do C.P. temos o chamado Peculato
quem trabalha para empresa prestadora de serviço
Furto ou Peculato Impróprio. Ex.: Almir é técnico
contratada ou conveniada para a execução de atividade
judiciário do TRE, e por ser funcionário tem acesso a
típica da Administração Pública.
todas as salas do órgão. Em um determinado dia, no
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os horário de almoço, ele entra na sala de informática e
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem subtrai uma impressora e leva para sua casa com ânimo
ocupantes de cargos em comissão ou de função de de apropria-se da mesma. OBS.: No peculato impróprio
direção ou assessoramento de órgão da administração ou peculato furto, o funcionário público não tem a
direta, sociedade de economia mista, empresa pública posse da coisa, mas tem a facilidade para subtrair ou
ou fundação instituída pelo poder público.”). concorrer para subtração em razão da condição de
funcionário público.
OBS.: Apesar de parte da doutrina e da jurisprudência,
dispor que o conceito de funcionário público por Algumas semelhanças entre o peculato próprio e o
equiparação do Art. 327, § 1º do C.P., somente se aplica impróprio: 1 - São cometidos de forma dolosa e é
quando o agente é o autor do crime e não quando é cabível a tentativa. 2 - A vantagem do crime pode ser
vítima (Ex.: Um médico do hospital particular pode para o próprio funcionário público ou para terceiros. 3 -
cometer o crime de concussão, se exigir dinheiro de O objeto material do peculato pode ser dinheiro, valor
paciente do SUS, por exemplo, mas o mesmo não ou qualquer bem móvel público ou particular. Ex.:
poderá ser vítima do delito de desacato). O STF e o STJ Agente penitenciário se apropria de bens do preso,
têm o entendimento que o funcionário público por deixados sob sua guarda (bem particular). OBS.:

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DIREITO PENAL

Somente bens móveis podem ser objetos de peculato. notebook. Conclusão: Joelson comete o crime de
OBS2.: Se funcionário público não tiver, nem a posse do peculato na modalidade culposa. Bruno comete crime
dinheiro ou objeto, nem a facilidade para subtrair ou de furto. Ex2.: O diretor de secretária do fórum esquece
permitir a subtração, não há crime de peculato e sim de trancar a porta da secretaria, então outro
crime comum (furto, roubo, apropriação indébita e funcionário adentra a sala e subtrai um notebook.
etc.). Ex.: Funcionário público pula o muro do ministério Conclusão: O diretor de secretaria responderá pelo
público, arromba a porta principal, depois arromba a delito de peculato culposo e o outro servidor pelo delito
porta da sala do promotor e subtrai o computador. de peculato furto. OBS.: O peculato culposo não admiti
Conclusão: O funcionário público irá responder pelo tentativa, pois não existe tentativa de crime culposo.
delito de furto. OBS3.: O delito de peculato desvio é
No Art. 312, § 3º do C.P. temos a extinção da
diferente do crime de emprego irregular de verbas
punibilidade, no peculato culposo, caso o agente repare
públicas do Art. 315 do C.P. - " Dar às verbas ou rendas
o dano antes da sentença irrecorrível (transitado em
públicas aplicação diversa da estabelecida em lei". No
julgado) e a redução pela metade, quando a reparação
peculato desvio o dinheiro, valor ou bem móvel é
for posterior a sentença irrecorrível. OBS.: No caso de
desviado em benefício próprio ou de terceiro, enquanto
peculato doloso, a reparação do dano, antes do
que no delito de emprego irregular de verbas públicas, a
recebimento da denúncia irá caracterizar o
renda ou verba pública, e aplicada em benefício da
arrependimento posterior (Art. 16 do C.P - "Nos crimes
própria administração pública, embora em desacordo
cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
com a lei. Ex.: Lei municipal destina 2 milhões para
reparado o dano ou restituída a coisa, até o
construção de hospital e o secretário de obras do
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
município pega 1 milhão é constrói uma escola.
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
Conclusão: O secretário de obras do município
terços"), ou seja, terá a pena diminuída de um terço a
responderá pelo delito de emprego irregular de verbas
dois terços. Porém, se a reparação do dano, for após o
públicas, previsto no Art. 315 do C.P. OBS4.: A doutrina
recebimento da denúncia, porém antes do transito em
majoritária e a jurisprudência entendem que não é
julgado, então será apenas atenuante genérica de pena
cabível o princípio da insignificância no crime de
(Art. 65 - "São circunstâncias que sempre atenuam a
peculato e em geral nos crimes contra administração
pena", III - "ter o agente", "b" - "procurado, por sua
pública. Atenção: A última orientação do STF é no
espontânea vontade e com eficiência, logo após o
sentido de ser possível a adoção do princípio da
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou
insignificância nos delitos praticados por funcionário
ter, antes do julgamento, reparado o dano") do C.P.
públicos contra a Administração Pública. No entanto, o
STJ possui entendimento no sentido contrário, ou seja, Segundo entendimento do STF e do STJ, o peculato de
não aceitando a aplicação do princípio da insignificância uso não é considerado crime.
nos delitos praticados por funcionário públicos contra a Trata-se de um crime de ação penal pública
Administração Pública. OBS5.: Se o peculato for incondicionada.
praticado contra entidade ou associações sindicais,
aplica-se o Art. 552 da C.L.T. (Consolidação das Leis do
Trabalho) - "Os atos que importem em malversação ou
dilapidação do patrimônio das associações ou entidades
sindicais ficam equiparados ao crime de peculato
julgado e punido na conformidade da legislação penal".
O peculato do Art. 312 “caput” e § 1º são cometidos Peculato mediante erro de outrem
com dolo.
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer
No Art. 312, § 2º do C.P. temos o chamado Peculato utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
Culposo, que é cometido pelo funcionário público que de outrem:
agiu sem dolo, ou seja, que agindo com descuido/culpa
(negligência, imprudência e imperícia), acaba Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
permitindo que um terceiro pratique um crime doloso,
seja, funcional ou não. Ex.: Joelson analista de sistema
do TRT, gerente do setor de informática, deixa a porta COMENTÁRIOS
do armário, que guarda notebooks, aberta por falta de
atenção. Bruno (visitante) entra na sala e subtrai um

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PM-TO
DIREITO PENAL

O bem jurídico protegido no Art. 313 do C.P. é o Inserção de dados falsos em sistema de informações
patrimônio da administração pública, não esquecendo a
sua moralidade. Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado,
a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
O Art. 313 do C.P. traz uma modalidade de peculato indevidamente dados corretos nos sistemas
denominado pela doutrina de Peculato Estelionato. informatizados ou bancos de dados da Administração
O crime de peculato é considerado um crime próprio, Pública com o fim de obter vantagem indevida para si
pois exige a qualidade de funcionário público (no ou para outrem ou para causar dano:
sentido amplo trazido pelo Art. 327 do C.P. - Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
“Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função COMENTÁRIOS
pública.
Os bens jurídicos protegidos no Art. 313-A são as
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce informações dos sistemas e bancos de dados da
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e administração pública.
quem trabalha para empresa prestadora de serviço
Este artigo traz uma modalidade de peculato
contratada ou conveniada para a execução de atividade
denominado Peculato Eletrônico.
típica da Administração Pública.
No Art. 313-A do C.P. temos um crime próprio, onde o
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
sujeito ativo deste crime só poderá ser o funcionário
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
público autorizado e que é encarregado de cuidar do
ocupantes de cargos em comissão ou de função de
sistema informatizado ou banco de dados da
direção ou assessoramento de órgão da administração
administração pública. Ex.: Márcia, responsável pelo
direta, sociedade de economia mista, empresa pública
banco de dados do Detran, exclui as multas que seu
ou fundação instituída pelo poder público.”). OBS.: O
veículo possui ou inclui uma multa no automóvel de
STF endente que para fins de aumento de pena previsto
seu inimigo. OBS.: Se o crime for cometido por
no Art. 327, § 2º do C.P., deve estar inclusos os agentes
particular ou funcionário público não autorizado a
político (prefeito, governador, presidente e etc.). OBS2.:
manusear o sistema, então o mesmo, em tese, irá
Se o particular souber da condição de servidor público
incorrer no crime do Art. 299 "caput" do C.P.
do agente, o mesmo também estará praticando o
(particular) e Art. 299 do C.P., parágrafo único
mesmo crime como coautor ou partícipe em concurso
(funcionário público) respectivamente (Art. 299 do C.P.
de pessoas.
- "Omitir, em documento público ou particular,
A consumação do crime se dá no momento em que o declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
funcionário público se apropria do valor recebido por fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
erro de terceiro. Ex.: Celso é caixa do Banco do Brasil, e ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
recebe de um cliente o pagamento de um boleto. No obrigação ou alterar a verdade sobre fato
final do dia, ao fechar o caixa ele percebe que o cliente juridicamente relevante" - Parágrafo único - "Se o
pagou em duplicidade aquele boleto. Então Celso se agente é funcionário público, e comete o crime
apropria do dinheiro. Conclusão: Celso comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou
do Art. 313 do C.P. OBS.: O erro do terceiro tem que ser alteração é de assentamento de registro civil,
espontâneo, pois se for induzido pelo funcionário aumenta-se a pena de sexta parte" do C.P.). Pois trata-
público, o mesmo responderá por estelionato (Art. 171 se de uma falsificação. OBS2.: Quando o código penal
do C.P. - “Obter, para si ou para outrem, vantagem traz a numeração dos artigos acompanhados com
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo letras, como por exemplo, Art. 313-A, significa que
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer este é relativamente novo em relação ao código penal.
outro meio fraudulento”). OBS3.: Este delito admiti coautoria e participação de
É punida somente a conduta dolosa. Segundo a terceiro, desde que o mesmo saiba a qualidade de
doutrina, é possível a tentativa. funcionário público do autor. OBS4.: Se o funcionário
público ocupar cargo em comissão ou função de direção
Trata-se de um crime de ação penal pública ou assessoria de órgão da administração direta,
incondicionada. sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público, sua pena será
aumenta de um terço (Art. 327, § 2º do C.P. - "A pena

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PM-TO
DIREITO PENAL

será aumentada da terça parte quando os autores dos Trata-se de um crime próprio (no sentido amplo trazido
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de pelo Art. 327 do C.P. - “Considera-se funcionário
cargos em comissão ou de função de direção ou público, para os efeitos penais, quem, embora
assessoramento de órgão da administração direta, transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
sociedade de economia mista, empresa pública ou emprego ou função pública.
fundação instituída pelo poder público").
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
Neste crime, estão presentes duas condutas típicas, cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
devido a expressão "ou", mas que podem ser quem trabalha para empresa prestadora de serviço
desdobradas, formando quatro condutas: 1 - Inserir contratada ou conveniada para a execução de atividade
dados falsos; 2 - Facilitar a inserção de dados falsos; 3 - típica da Administração Pública.
Alterar indevidamente dados verdadeiros; e 4 - Excluir
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
indevidamente dados verdadeiros. OBS.: Todas as
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
condutas estão envolvendo dados (verdadeiros ou
ocupantes de cargos em comissão ou de função de
falsos) do sistema.
direção ou assessoramento de órgão da administração
O objeto material deste delito são os dados que estão direta, sociedade de economia mista, empresa pública
nos sistemas de informações. OBS.: No caso de alterar ou fundação instituída pelo poder público.”), ou seja, o
ou excluir dados verdadeiros, a conduta só será sujeito ativo é qualquer funcionário público, não
considerada delito, se for praticada indevidamente. havendo necessidade que o funcionário seja autorizado
Pois se houver autorização, não há crime. a atuar em sistemas de informática. OBS.: O particular
poderá cometer esse crime, desde que saiba a condição
O tipo subjetivo do delito é o dolo, aliado com a
de servidor do agente (concurso de pessoas), sendo
finalidade específica de obter vantagem indevida para
assim considerado coautor ou participe.
si ou para outrem ou para causar dano.
A conduta aqui é a de alterar ou modificar o próprio
A consumação do crime se dá com a simples prática do
sistema de informações ou programa de informática, e
delito descrito em lei, não sendo necessária a
não seus dados como visto no Art. 313-A do C.P., ou
obtenção da devida vantagem ou dano buscado pelo
seja, aqui o agente altera a programação (código fonte
agente (crime formal ou de consumação antecipada). A
do programa), para que o mesmo gere arquivos e dados
tentativa é possível.
modificados. Ex.: Rafael funcionário do DETRAN, com
Trata-se de um crime de ação penal pública conhecimento elevado em informática, faz alteração na
incondicionada. programação do sistema de multas, com objetivo de
que as mesmas sejam removidas automaticamente,
Modificação ou alteração não autorizada de sistema
quando relativas a determinadas placas. Ex2.:
de informações
Leonardo, funcionário do TRE, com conhecimento
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema elevado em informática, faz alteração na programação
de informações ou programa de informática sem do sistema de votos, com o objetivo de melhorá-lo, no
autorização ou solicitação de autoridade competente: entanto sem autorização ou solicitação da autoridade
competente.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
multa. O objeto material deste delito são os sistemas de
informações ou programas de informática.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço
até a metade se da modificação ou alteração resulta O delito é praticado com dolo, ou seja, a vontade do
dano para a Administração Pública ou para o agente de modificar o programa, sem autorização ou
administrado. solicitação da autoridade competente. Porém o mesmo
não possui finalidade específica.
COMENTÁRIOS
O crime se consuma com a prática de um dos núcleos
Os bens jurídicos protegidos no Art. 313-B são os
do tipo (alterar ou modificar). A tentativa é possível.
sistemas de informações ou programas utilizados pela
administração pública. Trata-se de um crime formal, pois é irrelevante a
obtenção de eventual resultado, ou seja, independe se
Este artigo traz uma modalidade de peculato
a ação causou ou não algum prejuízo à administração
denominado Peculato Eletrônico.
ou ao particular. Porém de acordo com parágrafo único,
as penas serão aumentas de um terço até a metade se a

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PM-TO
DIREITO PENAL

alteração ou modificação resultar dano para mesmo também estará praticando o mesmo crime
Administração pública ou para o administrado. Ex.: como coautor ou partícipe em concurso de pessoas.
Tonny, funcionário do INSS, com conhecimento elevado
A conduta é constituída de três núcleos: Extraviar
em informática, faz alteração na programação do
(perder; encaminhar para local inadequado; dá
sistema de aposentadoria, para que o mesmo eleve
destinação inadequada), Sonegar (não apresentar ou
automaticamente o valor da aposentadoria de
não exibir quando exigido; ocultar fraudulentamente) e
determinadas pessoas.
Inutilizar (tornar inútil; destruir total ou parcialmente).
Trata-se de um crime de ação penal pública OBS.: O objeto material do delito é livro oficial (estando
incondicionada. em uso ou não) ou qualquer documento (público ou
particular - entendimento majoritário). OBS2.: Não são
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou
considerados documento os papéis que são
documento
considerados imprestáveis para a administração, ou
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, seja, os documentos que não possui mais nenhuma
de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou utilidade para a administração público ou para o
inutilizá-lo, total ou parcialmente: particular. Ex.: Um funcionário do cartório da delegacia
faz uma limpeza, jogando fora os papeis que não
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
possuem mais nenhuma utilidade. Conclusão: A
constitui crime mais grave.
conduta do funcionário é atípica. OBS3.: As
características e diferenças entre alguns delitos que se
assemelham, e que estão disposto nos seguintes
COMENTÁRIOS
artigos: Art. 314 do C.P., Art. 337 do C.P. ("Subtrair, ou
O bem jurídico protegido no Art. 314 do C.P. é o correto inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo
andamento das atividades administrativas ou documento confiado à custódia de funcionário, em
desenvolvidas pela administração pública. razão de ofício, ou de particular em serviço público"),
O Art. 314 do C.P. traz um crime subsidiário Art. 305 do C.P. ("Destruir, suprimir ou ocultar, em
(subsidiariedade expressa, descrita no próprio tipo benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
penal), ou seja, somente será aplicado, se o fato não documento público ou particular verdadeiro, de que
constituir outro delito mais grave. não podia dispor"), Art. 356 do C.P. ("Inutilizar, total ou
parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento
Tratando-se de um crime próprio, a doutrina majoritária ou objeto de valor probatório, que recebeu na
afirma que o sujeito ativo do crime é o funcionário qualidade de advogado ou procurador") e o Art. 3°, I, da
público em sentido amplo (Art. 327 do C.P. - Lei 8.137/90 (“Art. 3° Constitui crime funcional contra a
“Considera-se funcionário público, para os efeitos ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n°
penais, quem, embora transitoriamente ou sem 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título
remuneração, exerce cargo, emprego ou função XI, Capítulo I): I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou
pública. qualquer documento, de que tenha a guarda em razão
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e parcialmente, acarretando pagamento indevido ou
quem trabalha para empresa prestadora de serviço inexato de tributo ou contribuição social”), são:
contratada ou conveniada para a execução de atividade Art. 314: 1 - As condutas são de extraviar, sonegar ou
típica da Administração Pública. inutilizar; 2 - O objeto material é livro material ou
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os qualquer documento; 3 - Trata-se de um crime
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem praticado por funcionário público contra a
ocupantes de cargos em comissão ou de função de administração pública. 4 - Este crime não exige
direção ou assessoramento de órgão da administração nenhuma finalidade específica, bastando somente a
direta, sociedade de economia mista, empresa pública conduta de extraviar, inutilizar ou sonegar. Ex.: Um
ou fundação instituída pelo poder público.”). OBS.: escrevente do fórum rasga folha de um processo que
Nélson Hungria entende que o sujeito ativo desse crime está sob seus cuidados.
é somente o agente incumbido da guarda do livro. Art. 337: 1 - As condutas são de subtrair ou inutilizar; 2 -
Todavia a doutrina majoritária entende que poderá ser O objeto material é livro oficial, documento, ou
qualquer funcionário público. OBS2.: Se o particular processo que esteja na custódia de funcionário público
souber da condição de servidor público do agente, o em razão do ofício ou de particular em serviço público.

61
PM-TO
DIREITO PENAL

3 - Não se trata de crime funcional, ou seja, pode ser


cometido por qualquer pessoa, funcionário público (na
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
qualidade de particular) ou particular, exceto pela
própria pessoa que detém a custódia do documento, Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação
processo ou livro oficial. 4 - Trata-se de um crime diversa da estabelecida em lei:
praticado por particular contra a administração pública.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
5- Este crime não exige nenhuma finalidade específica,
bastando somente a conduta subtrair ou inutilizar total
ou parcialmente. Ex.: Um particular, vendo que o
COMENTÁRIOS
escrevente saiu da sala para ir ao banheiro, adentra no
cartório e rasga folha de um processo que está sob O bem jurídico são as verbas da administração pública.
custódia do escrevente. Trata-se de um crime próprio, pois o sujeito ativo só
pode ser o funcionário público, e segundo a doutrina
Art. 305: 1- Trata-se de crime contra a fé pública. 2 -
majoritária, somente poderá ser o funcionário que tem
Não se trata de crime funcional, ou seja, pode ser
o poder de administração de verbas ou rendas públicas.
cometido por qualquer pessoa, funcionário público ou
Ex.: Presidente da República e seus Ministros,
particular. 3 - Exige uma finalidade específica de obter
Governadores, Diretores de entidades paraestatais e
benefício próprio ou alheio, ou causar prejuízo alheio.
etc. OBS.: O crime admite cooperação de particulares
Ex.: Um estagiário de um escritório de advocacia vai a
(coautor ou participe), desde que saiba da condição do
secretaria do fórum e pede um processo, no qual seu
agente (concurso de pessoas). OBS2.: Se o agente for
primo é o acusado, e com a finalidade beneficiar o
prefeito municipal (ou se substituto) o crime será o
mesmo, destrói o depoimento de uma testemunha
disposto no Art. 1°, III do Decreto Lei 201/67 - “São
chave.
crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal,
Art. 356: 1 - O sujeito ativo só poderá ser advogado ou sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário,
procurador, que nesta qualidade, recebeu o objeto ou independentemente do pronunciamento da Câmara
documento. 2 - O objeto material é documento, autos dos Vereadores: III - desviar, ou aplicar indevidamente,
(processo) ou objeto de valor probatório. 3 - A conduta rendas ou verbas públicas”.
é de inutilizar ou deixar de restituir. 3 - Trata-se de um O crime é praticado com dolo de desviar fundos
crime contra administração da justiça. Ex.: O advogado públicos da meta especificada em lei. OBS.: Não é
retira um processo do cartório do fórum e deixa de punível a forma culposa. Porém poderá acarretar outras
devolvê-lo. Ex2.: O advogado pede para ver a arma do sanções administrativas e etc. OBS2.: O termo “lei” não
crime, e inutilizar esta arma (objeto de valor probatório, inclui decretos ou quaisquer atos administrativos.
ou seja, objeto que serve como prova). OBS3.: Mesmo que o tribunal de contas (União,
Art. 3°, I, da Lei 8.137/90: 1 - Trata-se de crime Estados, Municípios) aprove o emprego irregular da
funcional contra a ordem tributária. 2 - O sujeito ativo é verba ou renda pública, haverá o delito do Art. 315 do
funcionário público da administração fazendária C.P., pois as decisões administrativas dos tribunais de
(tributária). 3 - Consuma-se com a conduta de sonegar, contas, não possuem reflexo na esfera criminal. OBS4.:
extraviar ou inutilizar, acarretando pagamento indevido Se o emprego irregular da verba ou renda pública
ou inexato de tributo ou contribuição social. ocorreu em situação de estado de necessidade, não
haverá o crime. Ex.: O prefeito utiliza uma verba
O crime é cometido mediante dolo. A forma culposa é prevista em lei, que mandava construir uma praça,
indiferente penal, podendo o agente responder porém utiliza-o para socorrer pessoas desabrigadas de
administrativamente. uma enchente. Conclusão: O prefeito não praticou
A consumação do delito se dá com o efetivo extravio, nenhum crime. OBS5.: Se o funcionário público ocupar
sonegação ou inutilização de livro oficial ou qualquer cargo em comissão ou função de direção ou assessoria
outro documento. A tentativa é admissível nas de órgão da administração direta, sociedade de
modalidades extravio e inutilização. OBS.: As economia mista, empresa pública ou fundação
modalidades extraviar e sonegar trata de espécies instituída pelo poder público, sua pena será aumenta de
permanentes, ou seja, a consumação se prolonga no um terço (Art. 327, § 2º do C.P. - "A pena será
tempo. aumentada da terça parte quando os autores dos
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de
Trata-se de um crime de ação penal pública
cargos em comissão ou de função de direção ou
incondicionada.
assessoramento de órgão da administração direta,

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sociedade de economia mista, empresa pública ou direta, sociedade de economia mista, empresa pública
fundação instituída pelo poder público"). ou fundação instituída pelo poder público.”). OBS.:
A consumação do delito se dá com a efetiva aplicação Poderá ser cometido por funcionário público que foi
irregular das verbas ou rendas em finalidade diferente nomeado, mas ainda não entrou em exercício ou que
da contida em lei (crime material). É admissível a está fora da função, de férias, por exemplo, desde que
tentativa. em razão da função.

Trata-se de um crime de ação penal pública O objeto material é vantagem indevida, porém se a
incondicionada. vantagem for devida não haverá o delito de concussão,
podendo configurar o crime de abuso de autoridade,
Concussão infração administrativa, exercício arbitrário das próprias
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou razões ou fato atípico. OBS.: A vantagem exigida poderá
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de ser para o próprio funcionário público ou para terceiros.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: OBS2.: A vantagem indevida poderá ser de cunho
econômico, sexual e etc.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Concussão Direta: Quem exige é a própria autoridade
pública.
Excesso de exação Concussão Indireta: Quando a exigência é realizada por
intermédio de um terceiro. Ex.: Garoto de recado.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando Concussão Explícita: Quando a exigência é direta.
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
Concussão Implícita: Quando a exigência é indireta.
gravoso, que a lei não autoriza:
O crime de concussão é um crime formal ou de
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. consumação antecipada, pois se consuma no momento
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou da exigência, fazendo assim com que o recebimento da
de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher vantagem, seja mero exaurimento. Ex.: Edney, policial
aos cofres públicos: civil e em razão de sua função, exige de Tadeu a quantia
de R$ 1.000,00 para não prendê-lo em flagrante por
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. crime de tráfico de drogas. Conclusão: Edney irá
responder pelo crime de concussão. Ex2.: João, fiscal da
SEFA, exigi propina de um comerciante, sob pena de
COMENTÁRIOS
matar sua esposa. Conclusão: João irá responder pelo
O bem jurídico protegido no Art. 316 do C.P. é a crime de extorsão. Pois, João, usou de grave ameaça
moralidade da administração pública, para fazer a exigência. OBS.: Exigir significa impor como
consequentemente o patrimônio da vítima (particular) condição para pratica, retardamento ou omissão de um
que foi constrangido pela atitude criminosa do agente. ato. OBS2.: O agente só irá cometer o delito de
O crime de concussão é considerado um crime próprio, concussão se for competente para praticar, retardar ou
pois exige a qualidade de funcionário público, no omitir (deixar de praticar) o ato. Caso contrário o
sentido amplo trazido pelo Art. 327 C.P. - (“Considera-se agente estará praticando outro delito, como estelionato
funcionário público, para os efeitos penais, quem, e etc. OBS3.: Se para exigir o funcionário público utiliza
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce violência ou grave ameaça, o crime será de extorsão.
cargo, emprego ou função pública. OBS4.: Se um particular se passar por um funcionário
público, para exigir vantagem indevida. O falso
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce funcionário público responderá pelo crime de extorsão
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e e não de concussão, pois o sujeito ativo não é
quem trabalha para empresa prestadora de serviço funcionário público. OBS5.: Não podemos confundir
contratada ou conveniada para a execução de atividade este delito com o encontrado no Art. 3º, II, da Lei
típica da Administração Pública. 8317/90 - Crime funcional contra ordem tributária ("II -
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem,
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
ocupantes de cargos em comissão ou de função de antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
direção ou assessoramento de órgão da administração vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou

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contribuição social, ou cobrá-los parcialmente"), pois O crime de corrupção passiva é considerado um crime
nesse temos as condutas de exigir, solicitar, receber ou próprio, pois exige a qualidade de funcionário público,
aceitar, vantagem indevida, para deixar de lançar ou no sentido amplo trazido pelo Art. 327 C.P. -
cobrar tributo ou contribuição social ou cobrá-lo (“Considera-se funcionário público, para os efeitos
parcialmente. Logo, o delito será o previsto na lei de penais, quem, embora transitoriamente ou sem
crimes contra ordem tributária e não de concussão. remuneração, exerce cargo, emprego ou função
Na concussão o particular também poderá responder pública.
pelo mesmo crime como coautor ou participe, desde § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
que saiba a condição de servidor do agente. cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
Este crime somente admite tentativa no caso de quem trabalha para empresa prestadora de serviço
exigência por escrito. contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública.
O Art. 316, §§ 1º e 2° do C.P. refere-se ao excesso de
exação. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
No Art. 316, § 1º temos duas ações praticadas pelo autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
agente: 1 - O agente exigir tributo ou contribuição social ocupantes de cargos em comissão ou de função de
que sabe (dolo) ou deveria saber (dolo eventual) direção ou assessoramento de órgão da administração
indevido. 2 - O agente se excede usando meio vexatório direta, sociedade de economia mista, empresa pública
ou gravoso para cobrança de tributo ou contribuição ou fundação instituída pelo poder público.”). OBS.:
social. Poderá ser cometido por funcionário público que foi
nomeado, mas ainda não entrou em exercício ou que
No Art. 316, § 2º temos uma qualificadora do delito, está fora da função, de férias, por exemplo, desde que
pois se o funcionário desviar, em proveito próprio ou de em razão da função. OBS2.: Se um particular se passar
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher por um funcionário público, e solicita de um terceiro,
aos cofres públicos, terá uma pena de reclusão, de dois vantagem indevida. O falso funcionário público
a doze anos, e multa. responderá pelo crime de estelionato e não de
Trata-se de um crime de ação penal pública corrupção passiva, pois o sujeito ativo não é funcionário
incondicionada. público. OBS3.: Se o particular souber da condição de
servidor público do agente, o mesmo também estará
praticando o mesmo crime como coautor ou partícipe
Corrupção passiva em concurso de pessoas.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem,
São três as condutas típicas: 1 - Solicitar (pedir) -
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
implícita ou explicitamente, 2 - Receber e 3 - Aceitar.
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: O objeto material é vantagem indevida, porém se a
vantagem for devida não haverá o delito de corrupção
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
passiva, podendo configurar o crime de abuso de
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em autoridade, infração administrativa, exercício arbitrário
consequência da vantagem ou promessa, o funcionário das próprias razões ou fato atípico. OBS.: A vantagem
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o indevida poderá ser para o próprio funcionário público
pratica infringindo dever funcional. ou para terceiros. OBS2.: A vantagem indevida poderá
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou ser de cunho econômico, sexual e etc. OBS3.: O crime
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, irá existir mesmo que a vantagem ou promessa seja
cedendo a pedido ou influência de outrem: entregue para um familiar do funcionário público.
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Deve existir um nexo (ligação) entre a vantagem
solicitada ou aceita e a atividade exercida. Caso
contrário, não há o que se falar no crime de corrupção,
COMENTÁRIOS podendo caracterizar outros crimes. Ex.: Leandro,
O bem jurídico protegido no Art. 317 do C.P. é a delegado de polícia, e em razão de sua função, solicita a
moralidade da administração pública, quantia de R$ 10.000,00 para não instaurar o inquérito
consequentemente o patrimônio da vítima (particular). contra o traficante Isaias. Conclusão: Leandro
responderá pelo delito de corrupção passiva. Pois o
delegado possui a competência de instaurar o inquérito

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policial. OBS.: Só haverá o delito de corrupção passiva, Admite tentativa, porém na modalidade solicitar, só
se o funcionário público tiver competência para realizar existirá tentativa na forma escrita.
ou omitir o ato negociado. Ex.: Raimundo, investigador
A pena será majorada (aumentada), caso o infrator
de polícia civil, solicita propina para não instaurar o
corrupto retarde ou deixe de praticar ato de ofício ou o
inquérito contra o homicida Júlio. Conclusão: Raimundo
pratica com infração de dever funcional, ou seja,
não responderá pelo delito de corrupção passiva, pois o
quando o agente cumpre o prometido, realizando a
investigador não possui competência para instaurar ou
pretensão do corruptor.
não o inquérito policial. Nesta situação, Raimundo,
poderá responder por outros delitos, como: estelionato O Art. 317, § 2º do C.P. traz a corrupção passiva
ou tráfico de influência. OBS2.: Não podemos confundir privilegiada, onde o agente pratica, deixa de praticar ou
este delito com o encontrado no Art. 3º, II, da Lei retarda ato de ofício, cedendo a pedido, pressão ou
8317/90 - Crime funcional contra ordem tributária ("II - influência de outrem, não recebendo qualquer
exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, vantagem indevida. Ex.: O oficial de justiça deixa de
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou realizar uma penhora, atendendo ao pedido sua esposa
antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, ou sob influência de um prefeito.
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal Trata-se de um crime de ação penal pública
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou incondicionada.
contribuição social, ou cobrá-los parcialmente"), pois
nesse temos as condutas de exigir, solicitar, receber ou
aceitar, vantagem indevida, para deixar de lançar ou Facilitação de contrabando ou descaminho
cobrar tributo ou contribuição social ou cobrá-lo
parcialmente, teremos o delito previsto na lei de crimes Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a
contra ordem tributária e não de corrupção passiva. prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Corrupção Própria (Art. 317, § 1º) - Aquela que tem por Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
finalidade a pratica de ato injusto. Ex.: Fátima, agente
de trânsito do Detran, recebe a quantia de R$ 100,00
para não aplicar uma multa no veículo de Matias. COMENTÁRIOS

Corrupção Imprópria (Art. 317 caput) - Aquela que visa O bem jurídico protegido no Art. 318 do C.P. é a própria
à prática de ato legítimo. Ex.: Valdomiro, caixa do Banco administração pública em desfavor do comportamento
do Brasil, aceita a quantia de R$ 10,00 para atender um do funcionário.
cliente que está no final da fila. Contrabando - É a entrada ou saída do país de
Corrupção Antecedente - É quando a vantagem mercadoria proibida.
indevida é solicitada ou recebida antes da pratica do ato Descaminho - Fraude empregada para elidir (suprimir)
legal ou ilegal. Ex.: Fabiano, delegado de policia, solicita o pagamento de impostos de importação, exportação
antecipadamente, propina para Joãozinho, para não ou consumo.
instaurar um inquérito contra o mesmo, que sabe ter
praticado um delito de roubo. No Art. 318 do C.P. aplica-se a teoria pluralista
(exceção, pois em regra é aplicada a teria monista ou
Corrupção Subsequente - É quando a vantagem unitária do Art. 29 do C.P. - “Quem, de qualquer modo,
indevida é solicitada ou recebida após da pratica do ato concorre para o crime incide nas penas a este
legal ou ilegal. Ex.: Carlos, delegado de polícia, solicita cominadas, na medida de sua culpabilidade”).
propina para Marcelinho, pois não fez o procedimento
de sua prisão em flagrante delito, após de pego o O sujeito ativo desse crime é somente o funcionário
mesmo portando uma arma de foto. público incumbido de combater esse crime (crime
próprio). Ex.: Romeu, policial federal, faz vista grossa,
O crime é praticado apenas com dolo. Na modalidade ao ver Cláudio transportar em sua bagagem produto de
solicitar ou aceitar promessa, o crime é formal ou de contrabando. OBS.: Se o particular souber da condição
consumação antecipada (se consuma mesmo que o de servidor público do agente, o mesmo também estará
agente não tenha recebido a gratificação). Já na praticando o mesmo crime como coautor ou partícipe
modalidade receber, o crime é material, pois exige o em concurso de pessoas.
efetivo enriquecimento ilícito do autor, ou seja, o
recebimento da vantagem indevida. Não admite Se não for essa a atribuição funcional do servidor
modalidade culposa. público, então mesmo responderá pelo crime

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descaminho do Art. 334 do C.P - (“Iludir, no todo ou em Este delito pode ser praticado de três formas:
parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela retardando (atrasando), deixando de praticar (omissão)
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria”) ou praticando de forma ilegal (ação). OBS.: Só haverá
ou contrabando do Art. 334-A do C.P - ("Importar ou crime se o retardamento ou a omissão do ato for
exportar mercadoria proibida.") como co-autor ou indevida, pois se houver justa causa para esse
participe. OBS.: Se o funcionário público ocupar cargo retardamento ou omissão, não há o crime de
em comissão ou função de direção ou assessoria de prevaricação. OBS2.: Só haverá o delito de
órgão da administração direta, sociedade de economia prevaricação, na conduta de praticar ato contra
mista, empresa pública ou fundação instituída pelo disposição expressa de lei, se a lei for clara e
poder público, sua pena será aumenta de um terço (Art. induvidosa, e o funcionário vim a descumpri-la. No
327, § 2º do C.P. - "A pena será aumentada da terça entanto se a lei for objeto de divergência interpretativa,
parte quando os autores dos crimes previstos neste não haverá o crime de prevaricação. Ex.: A lei dispõe
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de que um oficial de justiça tem 10 dias para intimar uma
função de direção ou assessoramento de órgão da pessoa, e o mesmo só pratica o ato com 20 dias.
administração direta, sociedade de economia mista, Conclusão: O oficial de justiça responderá pelo delito de
empresa pública ou fundação instituída pelo poder prevaricação. Pois a lei foi clara e inequívoca, em
público"). estabelecer 10 dias para o cumprimento do ato. OBS3.:
Só haverá o delito de prevaricação, se o ato retardado,
A competência de julgar esse crime é da justiça federal,
omitido ou praticado contra disposição expressa de lei,
ainda que o funcionário que o cometeu seja do
for um ato de ofício, ou seja, ato que esteja dentre as
funcionário do estado. Pois esse delito (crime) é de
obrigações do funcionário. Ex.: Um delegado manda um
interesse da União. OBS.: Em se tratando de imposto
investigador ouvi as testemunhas em um inquérito
estadual, a competência e da justiça estadual.
policial, pois o escrivão não veio trabalhar. No entanto,
A conduta consiste em facilitar, por ação ou omissão, o o investigador não cumpri a ordem do delegado.
contrabando ou descaminho. Conclusão: O investigador não irá responder pelo delito
Este crime só é cometido com dolo, ou seja, não há de prevaricação, pois não é ato de oficio dele ouvi
modalidade culposa. testemunha em um inquérito, e sim ato de ofício do
escrivão. OBS4.: Para que configure o delito de
A consumação se dá com a facilitação, pouco prevaricação, além das condutas dispostas no tipo
importando se o agente completou ou não o penal (Retardar (ação) ou deixar de praticar (omissão),
contrabando ou descaminho (crime formal ou de ou praticá-lo contra disposição expressa de lei (ação)),
consumação antecipada). deverá haver uma finalidade específica de satisfazer
Trata-se de um crime de ação penal pública sentimento ou interesse pessoal. Não havendo uma das
incondicionada. finalidades específicas não existirá crime de
prevaricação. Podendo haver apenas infrações
administrativas. Ex.: Um oficial de justiça atrasa a
Prevaricação penhora, para se vingar do credor que é seu inimigo.
Conclusão: O oficial de justiça responderá pelo crime de
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, prevaricação (sentimento pessoal). Ex2.: Um oficial de
indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra justiça atrasa a penhora, pois tem interesse em compra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou o veículo, e não quer que o mesmo seja levado a leilão.
sentimento pessoal: Conclusão: O oficial de justiça responderá pelo crime de
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. prevaricação (interesse pessoal). OBS5.: Se houver
discricionariedade (É a liberdade que lei concede em
algumas situações para que o gestor decida utilizando
como parâmetros padrões de conveniência e
oportunidade observados os interesses públicos na
conduta escolhida), não existirá o crime de
COMENTÁRIOS prevaricação. Ex.: Um delegado está em dúvida sobre
um fato que lhe foi apresentado na delegacia é
O bem jurídico protegido no Art. 319 do C.P. é a própria
verdadeiro ou falso, então ele tem discricionariedade
administração pública em desfavor do comportamento
de instaurar o inquérito por portaria e não instaura-lo
do funcionário.
por flagrante.

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DIREITO PENAL

O crime é cometido por funcionário público, no sentido COMENTÁRIOS


amplo no sentido amplo trazido pelo Art. 327 C.P. - O bem jurídico protegido no Art. 319-A do C.P. é a
(“Considera-se funcionário público, para os efeitos própria administração pública em desfavor do
penais, quem, embora transitoriamente ou sem comportamento do funcionário.
remuneração, exerce cargo, emprego ou função
pública. A doutrina chamou esse crime de Prevaricação
Imprópria.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e O crime somente será cometido pelo funcionário
quem trabalha para empresa prestadora de serviço público que tem o dever de evitar que os presos
contratada ou conveniada para a execução de atividade tenham acesso a aparelhos de comunicação proibidos.
típica da Administração Pública. OBS.: Este artigo não está vedando todo e qualquer
meio de comunicação (É autorizado, por exemplo,
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os Televisão, Rádio e etc.), mas somente o que permitirá a
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem comunicação com outros presos ou pessoas fora do
ocupantes de cargos em comissão ou de função de presídio. Ex.: Celular, Walk Talk e etc. OBS2.: Se o
direção ou assessoramento de órgão da administração funcionário público ocupar cargo em comissão ou
direta, sociedade de economia mista, empresa pública função de direção ou assessoria de órgão da
ou fundação instituída pelo poder público.”), todavia, o administração direta, sociedade de economia mista,
particular poderá praticar em concurso de pessoa, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
desde que saiba da condição de funcionário público do público, sua pena será aumenta de um terço (Art. 327, §
agente. 2º do C.P. - "A pena será aumentada da terça parte
A consumação do delito de prevaricação se dá com a quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
conduta (Retardar (ação) ou deixar de praticar forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
(omissão), ou praticá-lo contra disposição expressa de de direção ou assessoramento de órgão da
lei (ação)), mesmo que o sentimento ou interesse administração direta, sociedade de economia mista,
pessoal almejado não tenha sido alcançado (Crime empresa pública ou fundação instituída pelo poder
Formal). público"). OBS3.: Se o particular souber da condição de
Este crime só é cometido com dolo, ou seja, não há servidor público do agente, o mesmo também estará
modalidade culposa. praticando o mesmo crime como coautor ou partícipe
em concurso de pessoas.
A tentativa é possível apenas nas formas comissivas
(ação), ou seja, nos atos de Retardar (ação) ou praticá-lo O crime previsto no Art. 319-A, apesar da lei descrever
contra disposição expressa de lei (ação). OBS.: Não é somente sua conduta omissiva própria, a doutrina
possível a tentativa na forma omissiva do crime (deixar entende que alcançará também o funcionário que
de praticar (omissão)), pois não existente tentativa de entregar o aparelho para comunicação, o qual a lei
crime omissivo puro ou próprio. proíbe, nas mãos do preso, ou que fizer a conhecida
“vista grossa”.
A prevaricação se diferencia do crime do Art. 317 § 2º
(“Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda Somente é admitida a modalidade dolosa, pois se
ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo culposa for, acarretará somente responsabilidade civil
a pedido ou influência de outrem”), pois no primeiro a ou administrativa.
satisfação é de interesse ou sentimento pessoal e no A consumação do crime se dará com a simples omissão,
segundo ele atende a um pedido ou influência de não importando se o preso teve acesso ao aparelho de
outrem. comunicação. A tentativa não é admitida, pois se trata
Trata-se de um crime de ação penal pública de um crime omissivo puro (levando em consideração a
incondicionada. letra de lei).
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou Trata-se de um crime de ação penal pública
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso incondicionada.
o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo: Condescendência criminosa
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de
responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência,

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DIREITO PENAL

não levar o fato ao conhecimento da autoridade de condescendência criminosa por parte de seu chefe.
competente: Pois não está na esfera de competência de seu superior
hierárquico.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
O delito de condescendência criminosa só é cometido
com dolo, ou seja, não há modalidade culposa.
COMENTÁRIOS
A consumação do delito de condescendência criminosa
O bem jurídico protegido no Art. 320 do C.P. é o correto poderá acontecer em dois momentos, a depender da
andamento das atividades administrativas situação, são eles: 1 - Quando o superior hierárquico,
desenvolvidas pela administração pública. depois de tomar conhecimento do delito, não informa
O sujeito ativo desse crime é o funcionário público, no no prazo legal estabelecido para tomar providências. 2 -
sentido amplo no sentido amplo trazido pelo Art. 327 Não havendo prazo legal, com a perda do prazo
C.P. - (“Considera-se funcionário público, para os efeitos juridicamente relevante, a ser determinado pelo juiz.
penais, quem, embora transitoriamente ou sem Trata-se de um crime de ação penal pública
remuneração, exerce cargo, emprego ou função incondicionada.
pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e Advocacia administrativa
quem trabalha para empresa prestadora de serviço Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse
contratada ou conveniada para a execução de atividade privado perante a administração pública, valendo-se da
típica da Administração Pública. qualidade de funcionário:
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
direção ou assessoramento de órgão da administração Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
direta, sociedade de economia mista, empresa pública multa.
ou fundação instituída pelo poder público.”),
hierarquicamente superior, que não pune ou quem,
faltando à atribuição, não informa a autoridade COMENTÁRIOS
competente. Ex.: Dirceu, gerente do departamento
O bem jurídico protegido no Art. 321 do C.P. é a
financeiro do Detran, deixa de responsabilizar seu
moralidade da administração pública em desfavor do
funcionário, por piedade, do crime de peculato que o
comportamento do funcionário.
mesmo cometeu. OBS.: Se o particular souber da
condição de servidor público do agente, o mesmo O sujeito ativo é o funcionário público, no sentido
também estará praticando o mesmo crime como amplo, trazido pelo Art. 327 C.P. - (“Considera-se
coautor ou partícipe em concurso de pessoas. funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
O sujeito passivo deste delito é o Estado (mais
cargo, emprego ou função pública.
especificamente a Administração Pública) que será
atingida com a má conduta de seu funcionário. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
Se a omissão for por outro sentimento que não seja
quem trabalha para empresa prestadora de serviço
indulgência (bondade, piedade, misericórdia), então
contratada ou conveniada para a execução de atividade
poderá caracterizar outro crime, como por exemplo,
típica da Administração Pública.
corrupção passiva ou prevaricação.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
Para que o crime seja configurado, o servidor deve está
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
no exercício de sua função, pois se fora dela, não há o
ocupantes de cargos em comissão ou de função de
que se falar no crime de condescendência criminosa.
direção ou assessoramento de órgão da administração
Ex.: João cometeu um delito de apropriação indébita,
direta, sociedade de economia mista, empresa pública
ao ficar com o livro da biblioteca da faculdade onde
ou fundação instituída pelo poder público.”), porém
estuda, por acaso o seu superior hierárquico ficou
admiti-se a prática do mesmo por particular (coautor ou
sabendo do fato. Conclusão: Como João cometeu o
delito fora do exercício da função, não existirá o crime

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DIREITO PENAL

partícipe), desde que o mesmo saiba da condição de Trata-se de um crime de ação penal pública
funcionário do agente. incondicionada.
O verbo patrocinar significa defender, intervir, pleitear
ou solicitar favores. OBS.: A conduta de patrocinar pode
Violência arbitrária
ser praticada pelo próprio funcionário (direta) ou por
meio de terceira pessoa (indireta). Ex.: Um gerente, do Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a
atendimento ao público do Detran, faz um favor para pretexto de exercê-la:
um amigo ou manda um terceiro fazer. OBS2.: O
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
funcionário público poderá praticar o patrocínio no
pena correspondente à violência.
próprio local de trabalha ou em outra repartição
distinta da mesma esfera ou de outra esfera. Ex.: Um
escrivão da polícia civil, presta um favor para um amigo
COMENTÁRIOS
dentro da própria delegacia, ou solicita favores em
outra delegacia ou na polícia federal. O bem jurídico protegido no Art. 322 do C.P. é o
desenvolvimento regular das atividades realizadas pela
Neste delito não basta apenas ser um funcionário
administração pública.
público. É indispensável que pratique a ação
aproveitando-se das facilidades que sua qualidade de Para a doutrina majoritária, o crime de violência
funcionário lhe proporciona. OBS.: O interesse arbitrária foi tacitamente revogado pela Lei 6.898/65
patrocinado deve ser de terceiro/alheio (Abuso de Autoridade). Porém há decisões dos tribunais
(privado/particular), ou seja, se for interesse próprio superiores, reconhecendo o Art. 322 C.P.
não irá configurar o crime. OBS2.: Não basta que o Temos dois sujeitos passivos: o Estado e o agente que
sujeito ativo seja funcionário público, ele deverá sofre o abuso (violência).
praticar o patrocínio, valendo-se da qualidade de
funcionário público, pois se não se valer dessa condição, O dolo está em praticar a violência injustificada, ou seja,
não existirá o crime de Advocacia Administrativa. Ex.: consuma-se o delito com o emprego da violência.
Um delegado de policia civil vai até a prefeitura OBS.: Se a violência causar lesões ou a morte do
defender um interesse administrativo de seu irmão, indivíduo, o agente também responderá por tais
solicitando que o funcionário da prefeitura agilize de um resultados (concurso de crimes).
alvará de funcionamento de um bar, porém, para tanto,
não se vale da qualidade de delegado e nem se quer, se Trata-se de um crime de ação penal pública
identifica como tal, apenas pede com educação. incondicionada.
Conclusão: O delegado civil não cometeu o delito de
Advocacia Administrativa. OBS3.: Se a conduta de
Advocacia Administrativa for praticada perante a Abandono de função
administração fazendária/tributária, haverá crime Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
funcional contra ordem tributária disposto no Art. 3º, III permitidos em lei:
da Lei 8.137/90 - Crimes Contra Ordem Tributária -
("patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
perante a administração fazendária, valendo-se da § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
qualidade de funcionário público").
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
O interesse patrocinado pode ser lícito ou ilícito. Porém
se for ilícito será aplicado o disposto no parágrafo único, § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
ou seja, terá agravante. Ex.: O escrevente agiliza o de fronteira:
processo de um amigo (interesse legítimo). Ex2.: Um Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
policial do setor de inteligência, faz a interceptação
telefônica, sem autorização judicial, da esposa de um
amigo (interesse ilegítimo).
A conduta deve ser dolosa e se consuma com prática de COMENTÁRIOS
ato revelador do patrocínio, que ofenda a moralidade O bem jurídico protegido no Art. 323 do C.P. é
administrativa. Independente da obtenção ou não de desenvolvimento regular das atividades realizadas pela
vantagem. A tentativa é admitida, segundo a doutrina. administração pública.

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PM-TO
DIREITO PENAL

Somente o funcionário ocupante de cargo poderá declarada como ilegal, não há o que se falar nesse
praticar esse crime, ou seja, não deve ser levado em crime, mesmo que a greve dure mais de 30 dias.
consideração o conceito de funcionário público em
É punida apenas a conduta de forma dolosa, ou seja, a
sentido amplo. OBS.: Embora o nome do delito seja
vontade do agente de abandonar. Por se tratar de um
abandono de função, a sua redação traz a sanção em
crime omissivo próprio, a tentativa não é admitida.
caso de abandono de cargo. Logo, se houver abandono
apenas de função pública, não haverá o delito de No Art. 323, §§ 1º e 2º encontram-se as formas
abandono de função. OBS2.: Conceitos de função e qualificadas do delito.
cargo público é: Cargo público é o conjunto de No Art. 323, §1º traz uma pena de detenção, de três
atribuições e responsabilidades previstas na estrutura meses a um ano, e multa, no caso do abandono causar
organizacional que devem ser cometidas a um servidor. prejuízo público.
Ex.: Analista Judiciário, Procurador Autárquico, Analista
de Sistemas do TRE e etc. Função Pública é a atribuição No Art. 323, §2º traz uma pena de detenção, de um a
ou conjunto de atribuições que a Administração Pública três anos, e multa, no caso do abandono ocorre em
confere a determinados servidores para a execução de lugar compreendido na faixa de fronteira. OBS.:
serviços eventuais. Ex.: Assessor de Juiz, Gerência de Segundo o Art. 20, §2º, da CF/88, a faixa de fronteira é
setor e etc. Atenção: Todo o cargo tem função, mas a faixa de até 150 Km de largura, ao longo das
pode haver função sem cargo. OBS3.: Se o agente fronteiras terrestres.
abandonar o Emprego público (É o vínculo estabelecido Trata-se de um crime de ação penal pública
entre a pessoa natural e a Administração Pública incondicionada.
Indireta (empresas públicas e sociedades de economia
mista), sendo que essas relações empregatícias serão
regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho), não Exercício funcional ilegalmente antecipado ou
haverá o delito de abandono de função. OBS4.: Se o prolongado
funcionário público ocupar cargo em comissão ou
função de direção ou assessoria de órgão da Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de
administração direta, sociedade de economia mista, satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
empresa pública ou fundação instituída pelo poder sem autorização, depois de saber oficialmente que foi
público, sua pena será aumenta de um terço (Art. 327, § exonerado, removido, substituído ou suspenso:
2º do C.P. - "A pena será aumentada da terça parte Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
de direção ou assessoramento de órgão da COMENTÁRIOS
administração direta, sociedade de economia mista,
O bem jurídico protegido no Art. 324 do C.P. é o
empresa pública ou fundação instituída pelo poder
desenvolvimento regular das atividades realizadas pela
público").
administração pública.
Pode haver participação de terceiro que instiga, induz
ou auxilia o funcionário público, incorrendo com sua O sujeito ativo é o funcionário público (crime próprio)
conduta no mesmo crime em concurso de pessoas, que antecipa ou prolonga o exercício de suas funções. O
desde que saiba as condições de funcionário público do sujeito passivo é o Estado.
agente. A primeira conduta descrita no tipo penal é a de
antecipar-se, deixando de observar as exigências legais
O agente deverá abandonar o cargo por um período
como, por exemplo, a posse, inspeção médica e etc.
superior a trinta dias consecutivos, ou seja, só haverá o
OBS.: A expressão "legais" encontrada na descrição do
crime se o mesmo faltar 31 dias de maneira ininterrupta
delito, inclui a lei e qualquer outro ato normativo.
e o abandono resultar em possibilidade concreta (real e
efetiva) de dano na administração pública. OBS.: O A segunda conduta é prolongar o exercício, sem
crime continuará existindo, mesmo que um substituto autorização, mesmo depois de saber oficialmente que
possa intervir imediatamente. OBS2.: O delito foi exonerado, removido, substituído ou suspenso.
continuará existindo mesmo que o abandono não cause OBS.: Se o servidor continuar trabalhando, porém, com
prejuízo público. Nesta situação será aplicada a pena do autorização de seu superior hierárquico, não há o que
Art. 323 "caput". OBS3.: Em caso de greve, não se falar do delito de exercício funcional ilegalmente
antecipado ou prolongado. Pois o mesmo tinha

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DIREITO PENAL

autorização. OBS2.: Um servidor em conversa informal Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
com um colega, toma ciência que removido, porém,
continua trabalhando, neste caso também não há o que
se falar do delito de exercício funcional ilegalmente COMENTÁRIOS
antecipado ou prolongado. Pois o mesmo não foi O bem jurídico protegido no Art. 325 do C.P. é o sigilo
comunicado oficialmente. OBS3.: Se um particular das informações pertencentes à administração pública.
exerce ilegalmente função pública, o mesmo está
cometendo o crime de usurpação de função pública O crime é praticado por funcionário público (sujeito
disposta no Art. 328 do C.P. - " Usurpar o exercício de ativo), no sentido amplo do que reza o Art. 327 C.P.
função pública". OBS4.: Se o funcionário público ocupar (“Considera-se funcionário público, para os efeitos
cargo em comissão ou função de direção ou assessoria penais, quem, embora transitoriamente ou sem
de órgão da administração direta, sociedade de remuneração, exerce cargo, emprego ou função
economia mista, empresa pública ou fundação pública.
instituída pelo poder público, sua pena será aumenta de § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
um terço (Art. 327, § 2º do C.P. - "A pena será cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
aumentada da terça parte quando os autores dos quem trabalha para empresa prestadora de serviço
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de contratada ou conveniada para a execução de atividade
cargos em comissão ou de função de direção ou típica da Administração Pública.
assessoramento de órgão da administração direta,
sociedade de economia mista, empresa pública ou § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
fundação instituída pelo poder público"). autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de
Trata-se de uma norma penal em branco, pois depende direção ou assessoramento de órgão da administração
de complemento para saber quais as exigências para direta, sociedade de economia mista, empresa pública
que o funcionário entre em exercício. ou fundação instituída pelo poder público.”). A doutrina
A consumação se dá com a prática da atividade, que o majoritária diz que o funcionário mesmo que
agente sabe não desfrutar, por não está investido em aposentado ou afastado da sua função pode cometer o
função pública. A tentativa é perfeitamente possível. crime, pois não se desvincula totalmente dos deveres
para com a Administração Pública.
O delito é cometido com dolo, ou seja, não há
modalidade culposa. O tipo penal descreve dois núcleos: revelar (revelação
direta) ou facilitar (revelação indireta) a revelação de
Trata-se de um crime de ação penal pública segredo que saiba em razão do cargo ou função que
incondicionada. exerce, isto é, deve estar entre as suas atribuições o
conhecimento do fato secreto (que deve permanecer
em segredo). Ex.: Um funcionário, em razão do seu
Violação de sigilo funcional cargo, revela a um amigo, informações sigilosas, que
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do deveria permanecer em segredo (revelação direta).
cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- Ex2.: Um funcionário deixa, propositalmente, sobre sua
lhe a revelação: mesa documentos sigiloso, e sai para almoçar
(revelação indireta). OBS.: A ciência do segredo deve se
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se dá em razão do cargo ou função, caso contrário irá
o fato não constitui crime mais grave. configurar o crime do Art. 154 - “Revelar alguém, sem
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação
I - permite ou facilita, mediante atribuição,
possa produzir dano a outrem” (crime praticado por
fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
particular). OBS2.: Se o fato não for sigiloso ou se o
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas
conhecimento do fato não tem vínculo com o cargo do
de informações ou banco de dados da Administração
funcionário, então não haverá crime do Art. 325 do C.P.
Pública;
podendo haver outro delito. Ex.: Delegado Federal
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. revela dados sigilosos de uma operação que ele está
participando. Conclusão: O delegado comete o crime de
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à
violação de sigilo funcional. Ex2.: Delegado Federal
Administração Pública ou a outrem:
revela ao seu amigo que acabou de prender o prefeito

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DIREITO PENAL

da cidade de Fortaleza. Conclusão: Apesar de o Trata-se de um crime de ação penal pública


delegado ter revelado tal fato em razão de seu cargo, a incondicionada.
prisão do prefeito não é um fato que deve permanecer
em segredo. Logo, não haverá o crime de violação de
sigilo funcional. Ex3.: Um agente federal fica sabendo Violação do sigilo de proposta de concorrência
de um fato sigiloso, em uma confraternização com os
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência
amigos, e revela o fato a um terceiro. Conclusão: O
pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-
agente federal não praticou o crime de violação de
lo:
sigilo funcional, pois o mesmo não tomou ciência do
fato sigiloso, em razão do cargo de policial federal. Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
OBS3.: Se o segredo for revelado por um particular, o
mesmo estará cometendo o crime do Art. 154 do C.P. -
Violação do segredo profissional ("Revelar alguém, sem COMENTÁRIOS
justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de O presente dispositivo foi implicitamente revogado pelo
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação Art. 94 da Lei 8.666/93 (“Devassar o sigilo de proposta
possa produzir dano a outrem"). Ex.: Um advogado, sem apresentada em procedimento licitatório, ou
justa causa, revela a um terceiro um segredo de seu proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo”), que
cliente. Conclusão: O advogado comete o delito de institui normde licitações e contratos da Administração
violação do segredo profissional. Atenção: Na Lei Pública e dá outras providências.
6.368/76 (antiga lei de drogas) que foi totalmente
revogada pela Lei 11.343/06, previa em seu Art. 17 a
conduta de revelar sigilo referente a investigação ou Funcionário público
procedimento de crimes de drogas, no entanto na nova
lei, não existe nenhuma previsão para punir tal conduta, Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os
logo, está conduta passou a ser enquadrada no Art. 325 efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
do C.P. (se praticado por funcionário público) ou Art. remuneração, exerce cargo, emprego ou função
154 do C.P. (se praticado por particular). pública.
O delito é cometido com dolo de transmitir a outrem § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
informação sigilosa de que o funcionário público obteve cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
em razão do cargo. Não se pune a modalidade culposa. quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade
A consumação do crime se dá no momento que terceiro
típica da Administração Pública.
sabe do segredo. Trata-se de crime formal, pois
independe da ocorrência de prejuízo, bastando a § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os
potencialidade de dano. A tentativa somente será autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
admitida na forma escrita. ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração
O Art. 325, § 1º do C.P., nos seus incisos I e II trazem
direta, sociedade de economia mista, empresa pública
alguns crimes equiparados, punidos com a mesma pena
ou fundação instituída pelo poder público.
do caput, para o agente que permite ou facilita,
mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de
senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas
não autorizadas a sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública, ou ainda se utiliza,
indevidamente, do acesso restrito. OBS.: O sujeito ativo
no caso do § 1º é o funcionário público que opera o
sistema ou banco de dados da Administração Pública.
No Art. 325, § 2º do C.P. temos a forma qualificadora do
crime descrito no caput, ou seja, o resultado que seria
mero exaurimento do crime passou a ser uma conduta
criminosa mais gravosa, com uma pena de reclusão, de
2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. COMENTÁRIOS
No Art. 327 do C.P. temos o conceito de funcionários
públicos para efeitos penais, que é todo aquele que

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DIREITO PENAL

embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce CAPÍTULO II


cargo, emprego ou função pública. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A
O Art. 327, § 1º do C.P., traz a figura do funcionário ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
público por equiparação, que é aquele que exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal
Usurpação de função pública
(Autarquias, sociedades de economia mista, empresas
públicas e fundações instituídas pelo poder público), e Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
quem trabalha para empresa prestadora de serviço Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
contratada ou conveniada para a execução de atividade Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
típica da Administração Pública. OBS.: Apesar de parte
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
da doutrina e da jurisprudência, dispor que o conceito
de funcionário público por equiparação do Art. 327, §1º COMENTÁRIOS
do C.P., somente se aplica quando o agente é o autor do O bem jurídico protegido é o funcionamento correto
crime e não quando é vítima (Ex.: Um médico do das atividades administrativas.
hospital particular pode cometer o crime de concussão, O crime pode ser cometido por qualquer pessoa,
se exigir dinheiro de paciente do SUS, por exemplo, mas inclusive o funcionário público, desde que a função
o mesmo não poderá ser vítima do delito de desacato). usurpada não esteja entre as atribuições do cargo que
O STF e o STJ têm o entendimento que o funcionário ocupa. O sujeito passivo é a administração pública,
público por equiparação poderá figurar como sujeito secundariamente o particular prejudicado com a
passivo de crime (Ex.: Um empregado que trabalha para atitude criminosa.
uma empresa prestadora de serviço contratada para
A conduta é usurpar (assumir, tomar para si ou
executar atividade típica da administração pública,
desempenhar indevidamente) uma atividade pública,
poderá ser vítima do crime de desacato).
de natureza civil ou militar, gratuita ou remunerada,
No Art. 327, § 2º do C.P. temos os casos de aumento de permanente ou temporária.
pena, caso o delito seja cometido por ocupantes de
Se o agente apenas se intitular funcionário público
cargos em comissão ou de função de direção ou
perante terceiros, sem praticar atos inerentes ao ofício,
assessoramento de órgão da administração direta,
não há o que se falar nesse crime. Porém, poderá
sociedade de economia mista, empresa pública ou
configurar outros crimes ou contravenção penal.
fundação instituída pelo poder público. OBS.: Segundo
entendimento do STF, aos agentes políticos também se O crime é cometido com dolo, ou seja, a vontade de
enquadram no Art. 327, § 2º do C.P., ou seja, prefeitos, usurpar. A tentativa é possível.
governadores, presidente e etc., ou seja, os mesmos O Art. 328, parágrafo único do C.P. traz uma majorante
terão suas penas aumentadas da terça parte, caso de pena, no caso em que o agente aufere (obtém,
cometa crime contra a administração pública. consegue), para si ou para terceiro, vantagem (não só
as patrimoniais). OBS.: O terceiro que recebe a
vantagem, pratica o crime em concurso de pessoas, na
figura de partícipe.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.

Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
das correspondentes à violência.

73
PM-TO
DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS Trata-se de um crime de ação penal pública


O bem jurídico protegido é preservação do respeito e da incondicionada.
autoridade do servidor público, no exercício de suas
atividades funcionais.
Desobediência
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa,
inclusive por pessoa alheia à execução do ato legal. Ex.: Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário
Filho tenta impedir a prisão legítima do pai, mediante público:
violência ou grave ameaça. O sujeito passivo é o Estado.
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Secundariamente, o funcionário público ou quem lhe
estiver prestando auxílio.
A conduta é opor-se, positivamente, a execução de ato, COMENTÁRIOS
mediante violência ou grave ameaça. OBS.: A
resistência passiva (fuga, recusa em fornecer o nome, O bem jurídico protegido é a preservação do respeito e
xingamento e etc.), que não tenha qualquer conduta da autoridade do servidor público, no exercício de suas
agressiva por parte do agente, não configura este crime, atividades funcionais.
porém pode configurar o crime de desacato ou O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa. A
desobediência. doutrina majoritária entende que o funcionário público
Os atos de resistência devem ser empregados para também poderá cometer esse crime, desde que a
impedir o cumprimento da ordem (durante a execução ordem recebida não se refira a funções suas, pois, em
do ato), se forem empregados antes ou após, então irá tal hipótese, poderá configurar outro crime, a depender
configurar outros crimes. OBS.: É necessário que o ato da situação. O sujeito passivo é o Estado.
seja legal, mesmo que seja injusto. Secundariamente, o servidor que teve sua ordem legal
desobedecida.
O crime é praticado com dolo (ação), ou seja, não basta
que o agente se omita. Ex.: Se agarre em uma grade; se É necessário que o funcionário público emita a ordem
jogue no chão. OBS.: O crime poderá ser cometido (escrito, gestos ou palavras), não bastando uma simples
contra o funcionário executor ou terceiro que o auxilia. solicitação. A ordem emanada deve ser legal e
OBS2.: É admitida a tentativa, caso a ameaça seja feita individualizada, ou seja, dirigida a pessoa determinada.
por escrito. O destinatário da ordem tem que ter o dever de
O Art. 329, § 1º temos a forma qualificada, quando o obedecê-la, podendo essa desobediência ser comissiva
funcionário não consegue executar o ato, trazendo uma (ação) ou omissiva (omissão). OBS.: Se houver uma lei
pena de reclusão, de um a três anos. OBS.: No Art. 329, especial que expresse o crime, dando a ele sanção
§ 1º a tentativa é possível, no caso de ameaça por administrativa ou civil, não há o que se falar em sanção
escrito. penal. OBS2.: Se a rebeldia se dá para não se produzir
provas contra si mesmo, não há o que se falar em
O Art. 329, § 2º temos o concurso formal impróprio crime. Ex.: Pedro é pego dirigindo alcoolizado e se nega
(Art. 70 caput, segunda parte C.P. - “Quando o agente, a fazer o exame do bafômetro. Conclusão: Pedro não
mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais comete o crime de desobediência.
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas Forma Comissiva - Quando a ordem é de não fazer, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até o agente faz.
metade. As penas aplicam-se, entretanto, Forma Omissiva - Quando a ordem é de fazer, e o
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os agente não atende.
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
O crime se consuma com a desobediência. A tentativa
consoante o disposto no artigo anterior”). OBS.:
só é admitida com na forma comissiva, ou seja, com a
Desígnio autônomo significa que o agente pratica uma
ação proibida.
só ação, querendo ou assumindo o risco de produzir
mais de um resultado. Ex.: João efetua um disparo O delito é cometido com dolo, ou seja, não há
contra um casal de namorados que estão abraçados, e modalidade culposa.
ambos vem a óbito. Conclusão: João praticou uma só
Trata-se de um crime de ação penal pública
ação, mas cometeu dois crimes de homicídio. Assim
incondicionada.
sendo, suas penas serão somadas.

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PM-TO
DIREITO PENAL

Desacato COMENTÁRIOS

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da O bem jurídico protegido é a administração pública, em
função ou em razão dela: conjunto com o patrimônio da vítima e a moral
servidor.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa,
inclusive o servidor público. O sujeito passivo é Estado.
COMENTÁRIOS Secundariamente, o particular que foi lesado.
O bem jurídico protegido é preservação do respeito e da Temos quatro núcleos: Solicitar, Exigir, Cobrar ou Obter
autoridade do servidor público, no exercício de suas vantagem ou promessa de vantagem (para si ou para
atividades funcionais. outrem). O Agente pratica tais verbos simulando ter
poder de influência sobre o ato do funcionário público.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
OBS.: Se a influência for real, poderá haver outro crime
(crime comum). A doutrina majoritária entende que o
(corrupção). OBS2.: A influência prometida tem que ser
funcionário público também poderá cometer esse
sobre ato de funcionário público, pois se for sobre ato
crime. Independentemente de estar ou não investido de
de um particular, teremos o crime de estelionato (art.
sua função pública, ou de ser contra outro servidor, que
171 C.P. - “Obter, para si ou para outrem, vantagem
seja ou não hierarquicamente superior. O sujeito
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
passivo é o Estado. Secundariamente, o servidor que foi
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
ofendido.
outro meio fraudulento”).
A conduta consiste em desacatar o funcionário público
O crime é praticado com dolo, não se exigindo qualquer
no exercício de sua função ou em razão dela. Ex.: Tião
finalidade específica. Não há modalidade culposa.
ofende um policial que está fazendo uma ronda escolar
(no exercício da função). Ex2.: Pedro ofende um agente Nas modalidades solicitar, exigir ou cobrar (crime
de trânsito do Detran que está em uma padaria, formal) e na modalidade obter (crime material). Essa
chamando-o de ladrão (em razão da função). última modalidade é de difícil configuração, já que para
obter, o agente antes tem que cobrar, solicitar ou exigir,
O desacato deve ser cometido na presença do servidor.
ainda que implicitamente.
Assim, deixa de ser desacato, o xingamento por
telefone, imprensa ou por escrito. A tentativa é admitida na forma escrita do crime.
Não será afasto o dolo, se o agente desacata o No Art. 322, parágrafo único do C.P. temos a pena
funcionário público, por ter perdido o controle. É aumentada da metade, no caso do agente alegar que a
impossível a tentativa, segundo parcela da doutrina. vantagem também se destina ao funcionário público.
OBS.: Se o tráfico indevido de influência recair sobre
O delito é cometido com dolo, ou seja, não há
juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de
modalidade culposa.
justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha, será
Trata-se de um crime de ação penal pública tipificado de acordo com o delito previsto no Art. 357
incondicionada. do C.P. - Exploração de Prestígio - (“Solicitar ou receber
dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de
influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público,
Tráfico de Influência funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou
testemunha”).
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a Trata-se de um crime de ação penal pública
pretexto de influir em ato praticado por funcionário incondicionada.
público no exercício da função:
Corrupção ativa
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir
agente alega ou insinua que a vantagem é também ou retardar ato de ofício:
destinada ao funcionário.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se,
em razão da vantagem ou promessa, o funcionário

75
PM-TO
DIREITO PENAL

retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
dever funcional. clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de
introdução clandestina no território nacional ou de
COMENTÁRIOS importação fraudulenta por parte de outrem;
O bem jurídico protegido é retidão administrativa. IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
(crime comum). O sujeito passivo é o Estado. mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou
Consiste em um crime de ação múltipla, ou seja, acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
composto por dois núcleos: Oferecer ou Prometer.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os
Trata-se de um crime formal, ou seja, consuma-se no efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
momento que o funcionário público toma irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
conhecimento do oferecimento ou da promessa, ainda inclusive o exercido em residências.
que recuse.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de
A tentativa só será admitida na forma escrita. descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo
O Art. 333, parágrafo único do C.P. traz um aumento de ou fluvial.
pena de um terço, caso o servidor corrupto realize a
pretensão do corruptor. OBS.: Somente incidirá o
aumento de pena, se o ato praticado pelo servidor COMENTÁRIOS
corrupto for de natureza ilícita. Pois se for praticado de O bem jurídico protegido é a administração pública,
acordo com dever legal, o mesmo incorrerá na pena valorando o aspecto patrimonial e moral.
prevista no caput. Ex.: João, afim de renovar sua
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
habilitação, oferece um lanche para o atendente do
(crime comum). O sujeito passivo é o Estado.
Detran, para que ele não pegue fila (Art. 333 caput).
Ex2.: João oferece propina para um agente de trânsito, Pune-se a conduta de iludir, no todo ou em parte, o
para que o mesmo não aplique a multa (Art. 333, pagamento de direito ou imposto devido pela entrada,
parágrafo único). Pois praticou um ato ilegal e acarretou pela saída ou pelo consumo de mercadoria. OBS.: Não
prejuízo para administração pública. comete crime pessoa que traz em sua bagagem (que
esteja em lugar próprio do ônibus, sem desviar-se de
O delito é cometido com dolo, ou seja, não há
barreira alfandegária) produto de importação. Ficando
modalidade culposa.
sujeito apenas a sanções fiscais. OBS2.: O STF entende
Trata-se de um crime de ação penal pública que cabe o princípio da insignificância em caso de
incondicionada. descaminho, tendo como limite o valor de R$
20.000,00. OBS3.: OSTF e o STJ admitem o princípio da
insignificância nos crimes praticados por particulares
Descaminho contra a administração público.
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de A consumação do descaminho se dá com a liberação
direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pela alfândega, sem o pagamento dos impostos
pelo consumo de mercadoria: inerentes.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. A tentativa é possível no delito de descaminho.
§ 1º Incorre na mesma pena quem: O Art. 334, § 1º do C.P. traz as condutas que incorrerão
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos nas mesmas penas do caput, que são: I - pratica
permitidos em lei; navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em
lei; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em
descaminho; depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira
no exercício de atividade comercial ou industrial, que introduziu clandestinamente no País ou importou

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PM-TO
DIREITO PENAL

fraudulentamente ou que sabe ser produto de § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de


introdução clandestina no território nacional ou de contrabando é praticado em transporte aéreo,
importação fraudulenta por parte de outrem; IV - marítimo ou fluvial.
adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira, COMENTÁRIOS
desacompanhada de documentação legal ou O bem jurídico protegido é a administração pública,
acompanhada de documentos que sabe serem falsos. valorando o aspecto patrimonial e moral.
O Art. 334, § 2º do C.P. mostra as equiparações às O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
atividades comerciais, que são: qualquer forma de (crime comum). O sujeito passivo é o Estado.
comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências. Pune-se a conduta de importar ou exportar mercadoria
proibida.
No Art. 334 § 3º do C.P. temos aumento de pena em
dobro, se um dos crimes for praticado em transporte
aéreo. Contrabando - É a entrada ou saída do país de
O delito é cometido com dolo, ou seja, não há mercadoria proibida. OBS.: Ressalta-se que há certas
modalidade culposa. mercadorias cujo tráfico tipifica crime diverso, previsto
em norma específica. Ex.: A importação ou exportação
A competência do crime de descaminho é da justiça de drogas (Art. 40, I, Lei 11.343/06 - “Art. 40. As penas
federal. previstas nos Arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
Trata-se de um crime de ação penal pública um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência
incondicionada. da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a
transnacionalidade do delito”).
Contrabando
O delito é cometido com dolo de praticar as ações
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: nucleares do tipo. OBS.: Se o agente pensa que não é
proibida a mercadoria que importa ou exporta, se
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
equivoca sobre dado essencial do tipo, agindo sem
§ 1º Incorre na mesma pena quem: consciência, descaracterizando o dolo do crime (Art. 20
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a C.P. - “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal
contrabando; de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.”). OBS2.: Não admite o
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria princípio da insignificância no delito de contrabando.
que dependa de registro, análise ou autorização de
órgão público competente; A consumação do contrabando se dá com a importação
ou exportação de mercadoria proibida. A tentativa é
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira possível no delito de contrabando.
destinada à exportação;
O Art. 334 § 1º do C.P. traz as condutas que incorrerão
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de nas mesmas penas do caput que são: I - pratica fato
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa
no exercício de atividade comercial ou industrial, ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa
mercadoria proibida pela lei brasileira; de registro, análise ou autorização de órgão público
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou competente; III - reinsere no território nacional
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria brasileira destinada à exportação; IV-
mercadoria proibida pela lei brasileira. vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os no exercício de atividade comercial ou industrial,
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio mercadoria proibida pela lei brasileira; V - adquire,
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no
inclusive o exercido em residências. exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira.

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PM-TO
DIREITO PENAL

O Art. 334, § 2º do C.P. mostra as equiparações às O Art. 355, parágrafo único do C.P. traz um delito
atividades comerciais, que são: quaisquer formas de próprio (praticado pelo competidor), que terá a mesma
comércio irregular ou clandestino de mercadorias pena, caso se abstenha de concorrer ou licitar, em razão
estrangeiras, inclusive o exercido em residências. da vantagem oferecida. OBS.: Se o competidor se
abstém motivado por amizade ou fins altruísticos, ou
No Art. 334, § 3º do C.P. temos aumento de pena em
seja, se não houver vantagem oferecida, não haverá
dobro, se o crime for praticado em transporte aéreo,
crime.
marítimo ou fluvial.
Trata-se de um crime de ação penal pública
A competência do crime de contrabando é da justiça
incondicionada.
federal.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada. Inutilização de edital ou de sinal
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência determinação legal ou por ordem de funcionário
pública ou venda em hasta pública, promovida pela público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
administração federal, estadual ou municipal, ou por
entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave COMENTÁRIOS
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
O bem jurídico protegido é o desenvolvimento regular
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, das atividades da administração pública.
além da pena correspondente à violência.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se (crime comum). O sujeito passivo é Estado.
abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem Secundariamente, o particular que foi lesado.
oferecida.
A conduta está dividida em duas partes: 1 - Rasgar
(ainda que parcialmente), Inutilizar (tornar inválido,
COMENTÁRIOS mesmo que parcialmente) ou Conspurcar (sujar, sem
possibilidade de leitura). 2 - Violar (romper, ainda que
Este artigo foi parcialmente revogado pela lei de sem violência) ou Inutilizar (torna inválido) selo ou sinal
licitações (Lei 8.666/93). por determinação legal ou por ordem de funcionário
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa, até público, para identificar ou cerrar qualquer objeto.
mesmo o leiloeiro que age visando perturbar o curso OBS.: Se os objetos materiais perderem a utilidade, não
normal hasta (leilão) pública. O sujeito passivo é Estado. há o que se falar em crime. Ex.: Edital fora da validade.
Secundariamente, o particular que foi lesado. OBS2.: Não pratica crime aquele que reage,
moderadamente, contra ato abusivo (ilegal) de
As condutas estão divididas em duas partes: 1 - Impedir,
funcionário público. Ex.: Rasga edital afixado na porta
Perturbar ou Fraudar e 2 - Afastar ou Procurar afastar.
de sua moradia, com ordem de despejo.
Na primeira conduta (Impedir, Perturbar ou Fraudar) o
O crime é praticado com dolo. Sendo para corrente
crime é cometido com o simples dolo, já na segunda
majoritária, indiferente o fim buscado pelo agente.
conduta (afastar ou procurar afastar), o crime além do
dolo, exige o fim específico de agir para afastar o A consumação se dá com a praticada de qualquer uma
concorrente da hasta pública. das ações mencionadas no tipo penal, ainda que o dano
ao objeto material seja apenas parcial. A tentativa é
A consumação na sua primeira modalidade ocorre com
admitida.
o impedimento do leilão (crime material) ou com a
mera perturbação ou fraude da hasta, ainda que Trata-se de um crime de ação penal pública
efetivamente realizada (crimes formais). Em qualquer incondicionada.
dos casos, é admitida a tentativa. Na segunda parte,
basta que se empreguem os meios necessários ao
afastamento do interessado, não exigindo sua
efetivação (crime formal).

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DIREITO PENAL

Subtração ou inutilização de livro ou documento Sonegação de contribuição previdenciária


Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social
livro oficial, processo ou documento confiado à custódia previdenciária e qualquer acessório, mediante as
de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em seguintes condutas:
serviço público:
I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não documento de informações previsto pela legislação
constitui crime mais grave. previdenciária segurados empregado, empresário,
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado que lhe prestem serviços;
COMENTÁRIOS
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios
O bem jurídico protegido é o desenvolvimento regular da contabilidade da empresa as quantias descontadas
das atividades da administração pública. dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa tomador de serviços;
(crime comum). OBS.: Se cometido pelo funcionário III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
público incumbido de guardar os objetos materiais (livro auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais
oficial, processo ou documento) a conduta será do Art. fatos geradores de contribuições sociais
314 C.P. - “Extraviar livro oficial ou qualquer previdenciárias:
documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente”. OBS2.:
Se o agente for advogado ou procurador que, nessa § 1° É extinta a punibilidade se o agente,
qualidade, tiver retirado o processo ou documento, o espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
crime será o do art. 356 C.P. - “Inutilizar, total ou importâncias ou valores e presta as informações
parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento devidas à previdência social, na forma definida em lei
ou objeto de valor probatório, que recebeu na ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
qualidade de advogado ou procurador”. OBS3.: Se o
§ 2° É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
crime for cometido com finalidade, então será aplicado
aplicar somente a de multa se o agente for primário e
o Art. 305 do C.P. ("Destruir, suprimir ou ocultar, em
de bons antecedentes, desde que:
benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
documento público ou particular verdadeiro, de que I - (VETADO)
não podia dispor"). O sujeito passivo é o Estado. II - o valor das contribuições devidas, inclusive
Secundariamente, o terceiro prejudicado. acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
O tipo descreve duas condutas: Subtrair ou Inutilizar. pela previdência social, administrativamente, como
sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções
O crime é cometido com dolo, ou seja, a vontade de
fiscais.
subtrair ou inutilizar livro oficial, processo ou
documento confiado à custódia de funcionário, em § 3° Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
razão de ofício, ou de particular em serviço público. de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um
OBS.: Para maioria da doutrina, não importa o fim que mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a
animou a conduta criminosa do agente. pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de
multa.
Há uma divergência na doutrina, onde para uns, o crime
se consuma com a subtração ou inutilização (mesmo § 4° O valor a que se refere o parágrafo anterior será
que parcial), independente de resultado danoso à reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do
administração. E para outros o dano da conduta é reajuste dos benefícios da previdência social.
imprescindível. A tentativa é possível.
Trata-se de um crime de ação penal pública COMENTÁRIOS
incondicionada.
O bem jurídico protegido é o custeio da previdência
social.
O sujeito ativo do crime só poderá ser o responsável
pelo lançamento das informações nos documentos

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PM-TO
DIREITO PENAL

relacionados com os deveres e obrigações para com a No Art. 337-A, § 3º do C.P. temos possibilidade de
previdência social (crime próprio). O sujeito passivo é a diminuição de um terço até a metade nos casos em que
administração pública, especificamente a Previdência o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de
Social. pagamento mensal não ultrapassa o valor de R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), atualizável de
Temos duas condutas descritas no tipo: Suprimir
acordo com Art. 337-A, § 4º do C.P.
(eliminar, deixar de pagar) e Reduzir (diminuir, recolher
menos de que é devido). No Art. 337-A, § 4º do C.P. temos a questão do reajuste
de valor a que se refere o parágrafo anterior (§ 3º), que
No Art. 337-A, incisos I, II e III do C.P. estão descritos os
será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
comportamentos realizados com as condutas previstas
índices do reajuste dos benefícios da previdência social.
no tipo penal, que são: I - omitir de folha de pagamento
da empresa ou de documento de informações previsto
pela legislação previdenciária segurados empregado,
empresário, trabalhador avulso ou trabalhador
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem CAPÍTULO II-A
serviços; II - deixar de lançar mensalmente nos títulos DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A
próprios da contabilidade da empresa as quantias ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
descontadas dos segurados ou as devidas pelo
empregador ou pelo tomador de serviços; III - omitir, Corrupção ativa em transação comercial internacional
total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,
Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou
remunerações pagas ou creditadas e demais fatos
indiretamente, vantagem indevida a funcionário público
geradores de contribuições sociais previdenciárias.
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a
OBS.: A doutrina majoritária classifica o delito como
praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à
sendo omissivo.
transação comercial internacional:
O crime é praticado com dolo, não havendo previsão
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
legal para modalidade culposa. OBS.: Caso o delito seja
praticado por negligência, caberá sanção administrativa. Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um
terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o
A consumação se dá com a supressão ou redução da
funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato
contribuição social. Trata-se de um crime material.
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Admite-se a tentativa.
O Art. 337-A, § 1º do C.P. traz a possibilidade de
extinção da punibilidade, ou seja, o agente não será COMENTÁRIOS
punido, no caso em que o mesmo, espontaneamente, O bem jurídico protegido no Art. 339 do C.P. é o
declara e confessa as contribuições, importâncias ou regularidade nas transações comerciais entre o Brasil e
valores e presta as informações devidas à previdência outros países. OBS.: O legislador brasileiro não tem
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes competência para proteger a segurança da
do início da ação fiscal. OBS.: Se o pagamento de administração pública estrangeira, pois a mesma deve
contribuição social sonegada for posterior à ação fiscal, ser tutelada pelo respectivo país.
porém antes do recebimento da denúncia, haverá
também a extinção da punibilidade (doutrina O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime
majoritária). OBS2.: Se o pagamento de contribuição comum). O sujeito passivo, por atingir o comercio
social sonegada for posterior ao início da ação penal mundial, é a coletividade (crime vago). Podemos, ainda,
(após o recebimento da denúncia), o agente terá ter como sujeito passivo secundário, o indivíduo que
somente sua pena atenuada. sofreu prejuízo.

No Art. 337-A, § 2º do C.P. ocorre o chamado perdão A conduta consiste em praticar qualquer dos verbos do
judicial, onde o juiz poderá deixar de aplicar a pena, ou tipo penal, ou seja, prometer, oferecer ou dar direta ou
aplicará somente a pena de multa, caso preenchido os indiretamente, vantagem indevida a funcionário público
requisitos do inciso II do presente parágrafo. estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à
O Art. 337-A, §§ 3º e 4º do C.P. traz a modalidade transação comercial internacional.
privilegiada do delito.

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PM-TO
DIREITO PENAL

O delito é punido apenas na forma dolosa. Não é O parágrafo único traz uma majorante (aumento de
admitida a modalidade culposa. A tentativa é pena) se o agente alega ou insinua que a vantagem é
admissível. OBS.: Nos verbos oferecer e prometer, o também destinada a funcionário estrangeiro.
crime é formal, logo a tentativa só será admitida na
Trata-se de um crime de ação penal pública
forma escrita. OBS2.: No verbo dar, o crime é material.
incondicionada.
O parágrafo único traz um aumento de pena de um
terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato Funcionário público estrangeiro
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Art. 337-D. Considera-se funcionário público
Trata-se de um crime de ação penal pública estrangeiro, para os efeitos penais, quem, ainda que
incondicionada. transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública em entidades estatais ou
em representações diplomáticas de país estrangeiro.
Tráfico de influência em transação comercial
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público
internacional
estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em
Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou empresas controladas, diretamente ou indiretamente,
para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou pelo Poder Público de país estrangeiro ou em
promessa de vantagem a pretexto de influir em ato organizações públicas internacionais.
praticado por funcionário público estrangeiro no
exercício de suas funções, relacionado a transação
comercial internacional: COMENTÁRIOS
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. No Art. 337-D do C.P. temos o conceito de funcionários
públicos estrangeiro para efeitos penais, que é todo
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o
aquele que, ainda que transitoriamente ou sem
agente alega ou insinua que a vantagem é também
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública
destinada a funcionário estrangeiro.
em entidades estatais (Ex.: Juiz Dinamarquês) ou em
representações diplomáticas de país estrangeiro (Ex.:
Funcionário da embaixada argentina).
COMENTÁRIOS
O Art. 337-D, parágrafo único do C.P., traz a figura do
O bem jurídico protegido no Art. 339 do C.P. é o
funcionário público estrangeiro por equiparação, que é
regularidade, lealdade, moralidade e etc. nas transações
aquele exerce cargo, emprego ou função em empresas
comerciais entre o Brasil e outros países.
controladas (Ex.: AGIN - Agência Italiana de Petróleo),
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de
comum). O sujeito passivo é a coletividade país estrangeiro ou em organizações públicas
internacional. E secundariamente o particular ou internacionais (Ex.: ONU - Organização das Nações
empresa atingida. Unidas).
A conduta consiste em praticar qualquer dos verbos do
tipo penal, ou seja, solicitar, exigir, cobrar ou obter,
para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público
estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a
transação comercial internacional.
A consumação dependerá do verbo que for praticado,
ou seja, solicitar, exigir e cobrar (crime formal). Já o
verbo obter (crime material).
O crime é praticado com dolo, não havendo previsão
legal para modalidade culposa.

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PM-TO
DIREITO PENAL

CAPÍTULO III COMENTÁRIOS


DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA O bem jurídico protegido no Art. 339 do C.P. é o correto
andamento da administração da justiça.
Secundariamente, a honra do ofendido.
Reingresso de estrangeiro expulso
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime
Art. 338 - Reingressar no território nacional o comum), incluindo o ofendido, o advogado, o delegado,
estrangeiro que dele foi expulso: o promotor ou juiz. O sujeito passivo é o Estado.
Secundariamente, a pessoa que teve sua honra
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de
ofendida.
nova expulsão após o cumprimento da pena.
O crime é cometido com dolo. Não é admitida a
modalidade culposa.
COMENTÁRIOS
A doutrina entende que se o delito falso imputado ao
O bem jurídico protegido no Art. 338 do C.P. é a inocente depender de queixa ou representação da
administração da justiça. “vítima”, somente a vítima ou seu representante legal
poderá praticar o crime de denunciação caluniosa.
Trata-se de um crime próprio (somente o estrangeiro
expulso pode cometer). OBS.: O brasileiro (nato ou Ex.: Laércio imputa a Cleiton (inocente) o cometimento
naturalizado) poderá cometer o crime em concurso de do crime de calunia contra ele. Conclusão: Já que o
pessoas, auxiliando o irregular retorno do estrangeiro crime depende de representação, somente Laércio (ou
expulso. OBS2.: Para alguns doutrinadores, trata-se de se representante legal) poderá cometer o crime do Art.
um crime de mão própria, ou seja, aceita apenas a 339 C.P.
participação de terceiros. Não admitindo a coautoria. O
A conduta é dá causa aos procedimentos descritos no
sujeito passivo é o Estado.
artigo, por palavras, escritos ou gestos, aos
A conduta consiste em reingressar de forma irregular no procedimentos oficiais descritos no tipo. OBS.: Não é
território nacional, ou seja, deverá ter o dolo. OBS.: Não punida a denunciação caluniosa contra os mortos.
poderá ser justificado o dolo, por achar que a expulsão
Se o fato imputado for contravenção penal, aplica-se o
foi injusta.
disposto no Art. 339, § 2º, ou seja, a pena será
O delito é punido apenas na forma dolosa. Não é diminuída pela metade.
admitida a modalidade culposa. A tentativa é
O delito se consuma com a deflagração das diligências
admissível.
investigativas (dispensando a instauração de inquérito
Segundo o posicionamento da jurisprudência, este policial) ou instauração de procedimento elencado no
crime é considerado permanente, ou seja, possibilita a caput do artigo. A tentativa é possível.
qualquer tempo, a prisão em flagrante.
No Art. 339, § 1° teremos a pena aumentada de sexta
Trata-se de um crime de ação penal pública parte, no caso do agente se servir de anonimato ou
incondicionada. nome suposto.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.
Denunciação caluniosa
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação
policial, de processo judicial, instauração de Comunicação falsa de crime ou de contravenção
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-
improbidade administrativa contra alguém, imputando-
lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe
lhe crime de que o sabe inocente:
não se ter verificado:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é
de prática de contravenção.

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PM-TO
DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS crime do Art. 341 do C.P. - Auto-acusação falsa. O


sujeito passivo é o Estado.
O bem jurídico protegido no Art. 340 do C.P. é a
administração da justiça. Configura esse crime, quando o réu puxa a
responsabilidade de um ilícito, inexistente ou que não
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
praticou, para si. OBS.: Não configura crime se o agente
(crime comum). OBS.: Se o crime for de ação penal
diz ter praticado contravenção.
privada ou condicionada à representação, somente o
titular do direito de queixa ou de representação poderá O crime se consuma no momento que a autoridade
ser o autor da infração. Ex.: João informa a polícia que (delegado, juiz ou promotor) toma conhecimento da
Pedro está praticando o crime de difamação. Auto-acusação falsa.
Conclusão: Só responderá pelo delito do Art. 340 do
O crime é cometido com dolo. Não é admitida a
C.P., se João for a vítima do crime de difamação, pois
modalidade culposa.
trata-se de crime de ação penal privada. O sujeito
passivo é o Estado. Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.
A conduta está no provocar, a ação estatal (polícia ou
judiciário), comunicando-lhe (crime ou contravenção)
que não existe ou conduta diversa da verdade (Ex.:
Falso testemunho ou falsa perícia
houve um furto e noticia-se um latrocínio).
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
No crime do Art. 340 do C.P., o agente não imputa a
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor
infração a nenhuma pessoa certa, e sim comunica
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
apenas infração fantasiosa. OBS.: Se o fato comunicado
inquérito policial, ou em juízo arbitral:
for atípico ou a infração penal não for mais punível,
configurará crime impossível (Art. 17 do C.P.). Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Para caracterização do crime é imprescindível que o § 1° As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se
agente tenha a plena consciência de que o fato levado o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
ao conhecimento da autoridade é falso. com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
em processo penal, ou em processo civil em que for
A consumação se dá no momento em que a autoridade
parte entidade da administração pública direta ou
pública começa a se movimentar (trabalhar) para
indireta.
esclarecer o fato criminoso falso.
§ 2° O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
Trata-se de um crime de ação penal pública
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata
incondicionada.
ou declara a verdade.
Auto-acusação falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime COMENTÁRIOS
inexistente ou praticado por outrem:
O bem jurídico protegido no Art. 342 do C.P. é a
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. administração da justiça.
Trata-se de um crime de mãos próprias (São aqueles
COMENTÁRIOS que só podem ser praticados pelo indivíduo
pessoalmente, não exigindo nenhuma qualidade
O bem jurídico protegido no Art. 341 do C.P. é a
especial do agente (crime comum)). O sujeito passivo é
administração da justiça.
o Estado. Secundariamente, a pessoa prejudicada com
Este crime poderá ser cometido por qualquer pessoa as declarações falsas. OBS.: O crime de falsa perícia
(crime comum). Ex.: João para livrar seu irmão José, do admite, excepcionalmente, segundo STF, co-autoria e
crime de furto, que o mesmo praticou, vai até a participação. Quando o laudo exige uma pluralidade de
delegacia e assume a culpa no lugar do irmão. expert (peritos, especialistas). OBS2.: O crime de falso
Conclusão: João praticou o crime do Art. 341 do C.P. - testemunho admite somente participação. Ex.: Um
Auto-acusação falsa. Ex2.: Mario vai até a delegacia e, advogado induz a testemunha a relatar fatos falsos.
acusa-se de ter praticado um homicídio. Todavia, o
A conduta apresentada no tipo possui vários núcleos:
homicídio não existiu. Conclusão: Mario praticou o
Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade. Em

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PM-TO
DIREITO PENAL

todas as hipóteses, o agente se furta, dolosamente da acrescido do núcleo dar. OBS2.: Exige-se, para a
verdade. configuração do crime, que haja algum procedimento
oficial (judicial, policial ou administrativo e ao juízo
O dolo cometido no delito tem por objetivo abalar o
arbitral) em andamento.
curso normal do procedimento e que foi prestado
depoimento. Não é admitida a modalidade culposa do O crime é cometido com dolo, somado à finalidade de
crime. obter dos personagens processuais comportamento
que se distancie da verdade. Não é admitida a
O crime consuma-se no momento em que a testemunha
modalidade culposa do delito.
termina o depoimento, lavrando sua assinatura. No
caso de falsa perícia, consuma-se no instante da entrega Tratando-se de um crime formal, o mesmo se consuma
do laudo, parecer ou documento à autoridade na simples realização de um dos núcleos do tipo penal.
competente (crime formal). A tentativa é possível, na forma escrita.
A tentativa é possível, exceto se o depoimento for dado O Art. 343, parágrafo único estabelece aumento de
oralmente. pena de um sexto a um terço, se o crime é cometido
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
No Art. 342, § 1° temos 3 (três) causas de aumento de
em processo penal (incluindo o inquérito) ou em
pena: se o crime é praticado mediante suborno ou se
processo civil em que for parte entidade da
cometido com o fim de obter prova destinada a
administração pública direta ou indireta (aqui
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil
considerando-se os altos interesses do ente
em que for parte entidade da administração pública
administrativo, não importando sua posição como parte
direta ou indireta.
processual).
O Art. 342, § 2° trata da extinção de punibilidade, se,
Trata-se de um crime de ação penal pública
antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito,
incondicionada.
o agente se retrata ou declara a verdade.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou Coação no curso do processo
qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim
falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
cálculos, tradução ou interpretação: autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que
funciona ou é chamada a intervir em processo judicial,
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da
um terço, se o crime é cometido com o fim de obter pena correspondente à violência.
prova destinada a produzir efeito em processo penal ou
em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta. COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 344 do C.P é a
COMENTÁRIOS administração da justiça.

O bem jurídico protegido no Art. 343 do C.P. é a O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
administração da justiça. (crime comum). O sujeito passivo é o Estado.
Secundariamente, o terceiro que foi coagido.
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa
(crime comum). O sujeito passivo é o Estado. A conduta punível é a de usar (empregar) violência
Secundariamente, o terceiro prejudicado. (coação física em sentido amplo) ou grave ameaça
contra autoridade, parte, ou qualquer pessoa que
A conduta se dará por múltiplas ações: dar, oferecer ou funcione ou é chamada a intervir (escrivão, perito,
prometer dinheiro ou qualquer vantagem (ainda que tradutor e etc.) em processo judicial (cível ou penal),
diversa da econômica) a testemunha, perito (não policial (inquérito) ou administrativo (inquérito civil,
oficial), contador, tradutor ou intérprete. OBS.: Trata-se sindicância e etc.), ou juízo arbitral, com fim de
de uma modalidade de corrupção ativa, porém é satisfazer interesse próprio ou alheio.

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DIREITO PENAL

O delito é cometido com dolo, somado a finalidade de meios necessários para tanto (violência, grave ameaça e
agir, para buscar com seu comportamento, satisfazer etc.), ignorando o monopólio estatal da administração
interesse próprio ou alheio. Não é admitida a da justiça, passando por juiz, decidindo de acordo com
modalidade culposa do crime. sua pretensão (pessoal, real ou familiar).
O crime consuma-se com o emprego da violência ou O delito é cometido com dolo de satisfazer pretenso
grave ameaça, independente da satisfação do interesse direito por meios próprios. Não admite a modalidade
visado pelo agente (crime formal). A tentativa é culposa. A tentativa é possível.
possível.
Segundo a corrente majoritária da doutrina, trata-se de
A violência empregada, se criminosa, será punível em um crime material, exigindo, para a sua caracterização,
concurso formal impróprio (Art. 70 caput, segunda a efetiva satisfação da pretensão.
parte C.P. - “Quando o agente, mediante uma só ação
Se violência empregada, atingir a integridade física, será
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
punível em concurso formal impróprio (Art. 70 caput,
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se
segunda parte C.P. - “Quando o agente, mediante uma
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
metade. As penas aplicam-se, entretanto,
anterior”). OBS.: Desígnio autônomo significa que o
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
agente pratica uma só ação, querendo ou assumindo o
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
risco de produzir mais de um resultado.
consoante o disposto no artigo anterior”). OBS.:
Trata-se de um crime de ação penal pública Desígnio autônomo significa que o agente pratica uma
incondicionada. só ação, querendo ou assumindo o risco de produzir
mais de um resultado.
De acordo com parágrafo único, se não houver
Exercício arbitrário das próprias razões
violência, o crime é de ação penal privada. Caso ocorra
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para o emprego de violência a ação passa a ser pública
satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a incondicionada.
lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
além da pena correspondente à violência. própria, que se acha em poder de terceiro por
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, determinação judicial ou convenção:
somente se procede mediante queixa. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 345 do C.P. é a O bem jurídico protegido no Art. 346 do C.P. é a
administração da justiça. administração da justiça.
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime Trata-se de um crime próprio, pois somente o
comum). O sujeito passivo é o Estado. proprietário da coisa é quem pode cometê-lo. Porém é
Secundariamente, a pessoa prejudicada com as ações possível o crime ser cometido por um terceiro em
empreendida. OBS.: Se o crime for cometido por concurso de pessoa. O sujeito passivo é o Estado,
funcionário público, poderá configurar abuso de podendo ser considerado como sujeito passivo
autoridade, dependendo da situação. secundário, o possuidor da coisa.
A conduta é fazer justiça com as próprias mãos, O delito é um tipo misto alternativo ou de ação
havendo, contudo, ampla liberdade na execução (delito múltipla, pois possui quatro núcleos (tirar, suprimir,
de comportamento livre). destruir ou danificar). OBS.: Se o agente comete mais
Neste crime o particular autor, a pretexto de realizar de um verbo do tipo penal, ele só responderá por um
interesse próprio ou alheio, arbitrariamente emprega os

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DIREITO PENAL

crime, ou seja, o descrito no Art. 346 do C.P. (Princípio idoneidade suficiente para induzir aqueles personagens
da Alternatividade). do processo em erro (crime formal).
O crime deve ser praticado sem o consentimento O Art. 347, parágrafo único do C.P. traz um aumento de
daquele que tem a posse da coisa (objeto móvel ou pena em dobro, caso a inovação se destine a produzir
imóvel). efeito em processo penal, ainda que não iniciado.
A coisa deve ser de propriedade do agente e deve estar Trata-se de um crime de ação penal pública
em posse legítima da vítima. incondicionada.
O tipo subjetivo é o dolo. Sendo o crime consumado no
momento da prática de um dos quatros núcleos do tipo.
Favorecimento pessoal
Não é admitida a forma culposa.
A tentativa é perfeitamente possível. Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade
pública autor de crime a que é cominada pena de
Trata-se de um crime de ação penal pública reclusão:
incondicionada.
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Fraude processual
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente,
processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de
descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica
coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou
isento de pena.
o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
COMENTÁRIOS
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as O bem jurídico protegido no Art. 348 do C.P. é
penas aplicam-se em dobro. andamento correto da administração da justiça.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa (crime
comum), inclusive a vítima do fato criminoso
COMENTÁRIOS
anteriormente praticado. OBS.: Não se admite, por
O bem jurídico protegido no Art. 347 do C.P. é óbvio, a hipótese de favorecimento em proveito próprio
administração da justiça, mais precisamente a boa fé a (auto-favorecimento). O sujeito passivo é o Estado,
honestidade processual. representado pela autoridade pública que foi atingida
com a conduta do agente.
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (vítima,
acusado ou mesmo advogado) tendo ou não interesse A conduta punida é a do agente que presta assistência,
no processo. O sujeito passivo é o Estado. de qualquer natureza (idônea e eficiente) a quem acaba
de cometer um crime, objetivando subtraí-lo à ação da
A conduta é de inovar artificiosamente, isto é, o agente
autoridade, impedindo as atividades judiciárias. OBS.:
mediante fraude, modifica ou altera estado de lugar
Não comete o crime o advogado que oculta das
(derrubada de árvore), de coisa (retirar manchas de
autoridades o paradeiro de seu cliente, desde que,
sangue) ou de pessoa (mudas aspecto físico, mediante
evidentemente, não tenha prestado amparo material
cirurgia estética), criando com isso nova situação capaz
para que este se escondesse. OBS2.: Não comete o
de induzir a erros o perito ou juiz. Ex.: O traficante
crime, aquele que, auxiliar a subtrair-se à ação de
chamado Abadias, que fez várias cirurgias plásticas, para
autoridade pública autor de contravenção penal.
não ser reconhecido. Ex2.: Alexandre Nardone que
modificou a cena do crime, para tentar enganar os O delito é cometido com dolo de presta auxilio material
peritos. para o autor de crime anterior, para que este se oculte
da ação da autoridade. Não importa se, o agente que
O crime é punido na forma dolosa. Não é admitida a
auxilia aquele que foge da polícia, acredite que a
forma culposa.
perseguição é justa ou injusta. Não é admitida a
Para a consumação do delito, não se faz necessário que modalidade culposa.
o juiz ou perito seja efetivamente enganado, bastando

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DIREITO PENAL

Há uma divisão de entendimentos doutrinários, pois Trata-se de crime formal, pois o crime é consumado
uma parcela acha que se trata de crime formal com a efetiva prestação de auxílio ao criminoso, mesmo
(independe se o auxílio prestado obteve ou não que não consiga assegurar o proveito do delito. É
sucesso) e outra de crime material (só se concretiza admitida a tentativa.
com a obtenção do sucesso em prestar o auxílio). É
Trata-se de um crime de ação penal pública
admitida a tentativa.
incondicionada.
No Art. 348, § 1º do C.P. temos a forma privilegiada
para a conduta do agente que preste auxílio a autor de
crime apenado com detenção. Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou
facilitar a entrada de aparelho telefônico de
No Art. 348, § 2º haverá a isenção de pena para o
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem
agente que auxilia ascendente, descendente, cônjuge
autorização legal, em estabelecimento prisional.
ou irmão.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada.
COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 349-A do C.P. é a
administração da justiça, mas precisamente a segurança
Favorecimento real pública.
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co- O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime
autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar comum). O sujeito passivo é o Estado, podendo a ser
seguro o proveito do crime: considerado como sujeito passivo secundário, a
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. sociedade.
A conduta consiste em Ingressar, promover,
intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho
COMENTÁRIOS telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar,
O bem jurídico protegido no Art. 349 do C.P. é sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
andamento correto da administração da justiça. O delito é cometido com dolo, devendo o agente ter
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime ciência de que age sem autorização legal. Não é
comum). O sujeito passivo é o Estado, podendo ser admitida a forma culposa. É admitida a tentativa.
considerado como sujeito passivo secundário, a vítima Trata-se de um crime de mera conduta, ou seja, a lei
do delito. sequer prevê qualquer resultado naturalístico.
Pune-se a conduta daquele que prestar (proporcionar, Trata-se de um crime de ação penal pública
oferecer) a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou incondicionada.
de receptação, auxílio (ainda que apenas moral)
destinado a tornar seguro o proveito do crime. OBS.:
Tornar seguro o proveito de contravenção penal é um Exercício arbitrário ou abuso de poder
indiferente penal.
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de
O Art. 349 do C.P. exclui do seu alcance as hipóteses de
liberdade individual, sem as formalidades legais ou com
coautoria (ou participação) e receptação.
abuso de poder:
A diferença entre o favorecimento real e o pessoal, é
Pena - detenção, de um mês a um ano.
que no real o agente não presta auxílio ao criminoso em
si, mas indiretamente, assegurando, para ele, a Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário
ocultação da coisa, proveito do crime. que:
O delito é praticado com dolo de prestar auxílio a autor I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a
de crime anterior, visando tornar seguro o proveito do estabelecimento destinado a execução de pena
delito. Não é admitida a forma culposa. privativa de liberdade ou de medida de segurança;

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DIREITO PENAL

II - prolonga a execução de pena ou de medida de O delito pode ser praticado com dolo ou culpa (Art. 351,
segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou § 4º do C.P.).
de executar imediatamente a ordem de liberdade; A consumação se dá no momento em que o preso ou
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou internado consegue fugir (crime material). A tentativa é
custódia a vexame ou a constrangimento não admissível.
autorizado em lei; O Art. 351, § 1º do C.P. traz a forma qualificada do
delito, ou seja, quando o mesmo é praticado a mão
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.
armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante
arrombamento, tendo assim uma pena de reclusão, de
COMENTÁRIOS dois a seis anos.
No O Art. 351, § 2° do C.P. temos o concurso de crimes,
Entende a maioria da doutrina que o Art. 350 do C.P. foi
onde se houver emprego de violência contra pessoa,
revogado (e totalmente absolvido) pela Lei 4.898/65
aplica-se também a pena correspondente à violência.
que define os crimes de abuso de autoridade.
O Art. 351, § 3º do C.P. traz outra forma qualificada do
crime, que é quando o crime é praticado por pessoa sob
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado,
segurança aplicando assim uma pena de reclusão, de um a quatro
anos.
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa
No Art. 351, § 4º do C.P. temos o crime na modalidade
legalmente presa ou submetida a medida de segurança
culposa, onde o agente não tem a intenção, mas foi
detentiva:
imprudente, negligente ou imperito.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Trata-se de um crime de ação penal pública
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais incondicionada.
de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é
de reclusão, de dois a seis anos.
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica- Evasão mediante violência contra a pessoa
se também a pena correspondente à violência. Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva,
crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou usando de violência contra a pessoa:
guarda está o preso ou o internado. Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da correspondente à violência.
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de
três meses a um ano, ou multa. COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 354 do C.P. é a
COMENTÁRIOS administração da justiça.
O bem jurídico protegido é a administração justiça. Trata-se de um crime próprio, pois somente o preso ou
Em regra, o crime poderá ser cometido por qualquer internado poderá cometê-lo. O sujeito passivo é o
pessoa (crime comum), inclusive o policial militar, os Estado e secundariamente a pessoa que sofreu a
familiares do preso ou internado. No entanto, no Art. violência física.
351, § 3º do C.P., o crime passa a ser próprio, pois A conduta consiste na fuga do preso com violência à
somente poderá ser cometido por funcionário pessoa. OBS.: O custodiado pode estar tanto em local
incumbido da custódia ou guarda do preso ou específico para custódia, quanto na viatura de polícia,
internado. O sujeito passivo é o Estado. OBS.: Não por exemplo, desde que esteja sobre custódia e a
haverá o crime, se o particular, depois de prender em violência seja posterior.
flagrante o criminoso, resolve deixá-lo fugir. O crime é cometido com dolo de evadir-se, mediante
A conduta consiste em promover ou facilitar a fuga de violência contra a pessoa (funcionário público ou não).
pessoa legalmente presa ou submetida a medida de Não é admitida a modalidade culposa.
segurança detentiva. OBS.: A custódia do preso pode O delito irá se consumar com a fuga ou com o simples
ser caracterizada dentro da viatura (ainda que em emprego dos meios necessários para tanto,
transporte). acompanhada de violência contra a pessoa.

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DIREITO PENAL

A violência empregada, caso seja criminosa, será Material) - “Quando o agente, mediante mais de uma
punível em concurso formal impróprio (Art. 70 caput, ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
segunda parte, do C.P. - “Quando o agente, mediante ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas detenção, executa-se primeiro aquela”.
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
Trata-se de um crime de ação penal pública
metade. As penas aplicam-se, entretanto,
incondicionada.
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
consoante o disposto no artigo anterior”). OBS.:
Motim de presos
Desígnio autônomo significa que o agente pratica uma
só ação, querendo ou assumindo o risco de produzir Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem
mais de um resultado. ou disciplina da prisão:
Trata-se de um crime de ação penal pública Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
incondicionada. pena correspondente à violência.
Arrebatamento de preso
Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
COMENTÁRIOS
poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena O bem jurídico protegido no Art. 354 do C.P. é a
correspondente à violência. administração da justiça.
Trata-se de um crime próprio (cometido pelo preso) e
plurissubjetivo (requer vários presos). O sujeito passivo
COMENTÁRIOS é o Estado e secundariamente a pessoa atingida pela
O bem jurídico protegido no Art. 353 do C.P. é a violência física. OBS.: Alguns doutrinadores arriscam em
administração da justiça. dizer que o número mínimo de presos são três, outros
quatro. Porém devemos nos ater ao caso concreto,
O crime poderá ser cometido por qualquer pessoa, tendo em mente que um só preso não irá configurar o
inclusive o funcionário público (crime comum). O sujeito crime. OBS2.: Se um preso se junta a funcionários para
passivo é o Estado, podendo a ser considerado como fazer a rebelião, não configurará motim.
sujeito passivo secundário, o preso que sofreu o
maltrato. A conduta se apoia no verbo amotinar (alvoroçar), ou
seja, pessoas legalmente presas fazem motim,
A conduta é de arrebatar (arrancar, levar, retirar com perturbando a ordem e disciplina da prisão (rebelião).
violência) preso a fim de maltratá-lo (linchamento). OBS.: O tipo penal não inclui motim em hospitais de
OBS.: Se a subtração do preso for sem violência, mesmo custódia ou outros locais destinados aos indivíduos
que para maltratá-lo, não caracteriza o crime do Art. submetidos à medida de segurança. Que nesse caso
353 do C.P. OBS2.: Arrebatar pessoa sujeita à medida de configurará outros crimes (lesões corporais, resistência
segurança ou adolescente apreendido, com finalidade e etc.).
de maltratá-lo, não responderá o agente pelo crime do
Art. 353 do C.P., e sim pelos crimes praticados O delito é cometido com dolo, independente da
posteriormente contra o arrebatado (lesões corporais, motivação ou finalidade da perturbação da ordem por
morte e etc.). parte dos presos, que podem praticar o crime ainda que
fazendo reivindicações justas. Não é admitida a
O tipo subjetivo é o dolo. Não é admitida a modalidade modalidade culposa.
culposa.
Trata-se de um crime de ação penal pública
O crime é consumado com a violenta retirada do preso incondicionada.
da custódia da autoridade. Tratando-se de um crime
formal. Dispensando a prática de maus-tratos contra o
aprisionado. A tentativa é admissível. OBS.: Se houver
violência contra o arrebatado, o agente irá responder
por crime contra a pessoa, e sua pena será somada com
o presente delito, aplicando o Art. 69 C.P. (Concurso

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DIREITO PENAL

Patrocínio infiel ela é dispensado) e passa, em seguida, a representar a


outra parte.
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou
procurador, o dever profissional, prejudicando Trata-se de um crime de ação penal incondicionada.
interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de
Patrocínio simultâneo ou tergiversação restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou
Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o procurador:
advogado ou procurador judicial que defende na
mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
contrárias.
COMENTÁRIOS COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido no Art. 355 do C.P. é a O bem jurídico protegido no Art. 356 do C.P. é a
administração da justiça, garantindo a retidão do administração da justiça.
profissional (advogado ou procurador).
O sujeito ativo do crime somente poderá ser o
O sujeito ativo do crime somente poderá ser o advogado ou procurador. O sujeito passivo é o Estado,
advogado ou procurador judicial devidamente inscrito podendo ser considerado como sujeito passivo
nos quadros da Ordem dos Advogados (crime próprio). secundário, o terceiro prejudicado.
OBS.: Não estão incluídos os promotores ou
procuradores de justiças que não são considerados A conduta consiste em dois núcleos: inutilizar e deixar
advogados ou procuradores judiciais. O sujeito passivo é de restituir autos, documento ou objeto de valor
o Estado, podendo ser considerado como sujeito probatório. A primeira conduta somente se dará na
passivo secundário, a pessoa que passou a procuração forma comissiva (ação), enquanto a segunda se
para o advogado ou procurador. desenvolve na forma omissiva (omissão).

A conduta é a de trair dever profissional. A mesma O delito é praticado com dolo junto a vontade de
poderá ser por ação (Ex.: Se manifestar no processo de inutilizar ou deixar de restituir autos, documento ou
forma contrária aos interesses da parte defendida) ou objeto de valor probatório, não importando os fins e os
por omissão (Ex.: Não recorrer). OBS.: O patrocínio motivos que animaram a conduta do agente.
infiel deve ser empreendido em causa judicial, pouco A consumação do delito na primeira modalidade
importando sua natureza ou espécie (civil, penal e etc.). (inutilizar) se dará no momento em que perde o valor
OBS2.: A atuação extrajudicial do profissional (em fase probatório dos autos, documento ou do objeto. Neste
de inquérito policial ou civil, sindicância e etc.) não irá caso é admissível a tentativa. Na segunda modalidade
caracterizar o crime. (deixar de restituir) o crime se consuma no momento
O crime é praticado com dolo, ou seja, o agente age em que o causídico (defensor da causa) ignora o dever
com vontade de trair, ciente que irá causar prejuízo ao de remeter um dos objetos que está na sua posse. Não
cliente, não importando os motivos que o levaram a tal se admite a tentativa.
procedimento. Não é admitida a modalidade culposa. Trata-se de um crime de ação penal pública
O delito se consuma com o efetivo prejuízo do cliente incondicionada.
(crime material). A tentativa é admitida se o crime é
praticado na forma comissiva (ação).
Exploração de prestígio
O Art. 355, parágrafo único do C.P. traz duas formas de
infidelidade profissional: 1 - Patrocínio Simultâneo - Se Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
dá quando o advogado ou procurador zela pelo outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
interesse de partes contrárias, concomitantemente (ao órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
mesmo tempo). 2 - Patrocínio Sucessivo (ou perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
tergiversação) - Se dá quando o advogado ou Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
procurador renuncia ao mandato de uma parte (ou por

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DIREITO PENAL

Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, COMENTÁRIOS


se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade O bem jurídico protegido no Art. 358 do C.P. é a
também se destina a qualquer das pessoas referidas administração da justiça.
neste artigo.
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime
comum). O sujeito passivo é o Estado, podendo ser
considerado como sujeito passivo secundário, o terceiro
COMENTÁRIOS
prejudicado.
O bem jurídico protegido no Art. 357 do C.P. é a A conduta consiste em dois núcleos: 1 - perturbar ou
administração da justiça. fraudar arrematação judicial e 2 - afastar ou procurar
O crime pode ser cometido por qualquer pessoa (crime afastar concorrente ou licitante, por meio de violência,
comum). O sujeito passivo é o Estado, podendo ser grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem.
considerado como sujeitos passivos secundários, tanto OBS.: As modalidades de conduta são idênticas às do
o servidor quanto a pessoa enganada. Art. 335 do C.P. - (“Impedir, perturbar ou fraudar
A conduta consiste em solicitar ou receber dinheiro ou concorrência pública ou venda em hasta pública,
utilidade. OBS.: A contra prestação oferecida pelo promovida pela administração federal, estadual ou
agente não passa de uma fraude, pois o mesmo alega municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou
ter grande influência com funcionário público. procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de
violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
Percebam que o tipo penal descreve as condições
vantagem”), porém a única diferença diz respeito ao ato
especiais dos funcionários públicos invocados pelo
que é objeto da conduta, pois ao invés de concorrência
agente (em juiz, jurado, órgão do Ministério Público,
ou hasta pública (é o ato processual pelo qual se
funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou
alienam ("vendem-se") bens penhorados. Ficando com
testemunha). OBS.: No tráfico de influência, não são
o bem, aquele que oferecer o maior valor.), refere-se a
especificadas as condições do servidor, trazendo assim
lei, agora, apenas à arrematação judicial (é um leilão
a diferença em relação ao crime de exploração de
determinado pelo juiz). Esta, no tipo penal, é
prestígio.
constituída da hasta pública determinada pelo juiz, mas
O delito é praticado com dolo de conseguir a vantagem promovida por particular.
ou promessa de vantagem. Não é admitida a
O delito é praticado com dolo das condutas previstas no
modalidade culposa.
tipo. Na segunda modalidade pressupõe que a
Temos dois momentos de consumação, o primeiro com violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
a conduta solicitar (crime formal) e o segundo com a vantagem seja empregado para afastar ou procurar
conduta receber (crime material). A tentativa é possível afastar concorrente ou licitante. Não é admitida a
em ambos os casos. OBS.: Na conduta solicitar, só é forma culposa.
possível a tentativa na modalidade escrita.
A consumação do delito depende da conduta praticada.
No Art. 357, parágrafo único, temos o aumento de pena Na primeira, consuma-se o delito no momento em que
de um terço, caso o agente alegue que a vantagem se a arrematação sofre impedimento, perturbação ou
destinará também ao funcionário público. fraude (crime material). Já na segunda, a conduta se
Trata-se de um crime de ação penal pública perfaz com o emprego de um dos meios mencionados
incondicionada. no dispositivo, não importando a efetiva retirada do
concorrente da arrematação (crime formal). A tentativa
é admissível.
Trata-se de um crime de ação penal pública
Violência ou fraude em arrematação judicial
incondicionada.
Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação
judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou
licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude Desobediência a decisão judicial sobre perda ou
ou oferecimento de vantagem: suspensão de direito
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade
além da pena correspondente à violência. ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

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DIREITO PENAL

COMENTÁRIOS LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965.


O bem jurídico protegido no Art. 359 do C.P. é a
administração da justiça, garantindo o cumprimento das
decisões judiciais.
A doutrina majoritária entende que trata-se de um Regula o Direito de Representação e o
crime próprio, pois exige qualidade especial do seu processo de Responsabilidade
agente (deve estar privado ou suspenso, por decisão Administrativa Civil e Penal, nos casos de
judicial, de exercer função, atividade, direito, abuso de autoridade.
autoridade ou múnus). O sujeito passivo é o Estado.
O crime é uma espécie de desobediência especial, pois
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
o sujeito ativo descumpre determinação judicial, mais
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
precisamente, aquela que lhe afasta da função,
Lei:
atividade, direito, autoridade ou múnus que exercia.
OBS.: Se o agente estiver inabilitado legalmente (lei Art. 1º O direito de representação e o processo de
proibindo) para desempenhar determinada função, responsabilidade administrativa civil e penal, contra as
poderá ocorrer outro crime ou contravenção penal, autoridades que, no exercício de suas funções,
mesmo que não exista decisão judicial impeditiva. cometerem abusos, são regulados pela presente lei.
O delito é punido na modalidade dolosa, sendo Art. 2º O direito de representação será exercido por
irrelevantes os motivos determinantes do crime. Não é meio de petição:
admitida a modalidade culposa.
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência
A consumação se dar no momento em que o agente
legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a
contraria a decisão judicial. A tentativa é possível.
respectiva sanção;
Trata-se de um crime de ação penal pública
incondicionada. b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
competência para iniciar processo-crime contra a
autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas
vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso
de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no
máximo de três, se as houver.
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer
atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao
exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao
exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de
05/06/79)

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Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as
regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade
em:
individual, sem as formalidades legais ou com abuso de
poder; a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a b) detenção por dez dias a seis meses;
vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz qualquer outra função pública por prazo até três anos.
competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
detenção ilegal que lhe seja comunicada;
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se autoridade policial, civil ou militar, de qualquer
proponha a prestar fiança, permitida em lei; categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou
acessória, de não poder o acusado exercer funções de
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
natureza policial ou militar no município da culpa, por
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra
prazo de um a cinco anos.
despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei,
quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; Art. 7º recebida a representação em que for solicitada a
aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial
ou militar competente determinará a instauração de
recibo de importância recebida a título de carceragem,
inquérito para apurar o fato.
custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais,
natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou
civis ou militares, que estabeleçam o respectivo
desvio de poder ou sem competência legal;
processo.
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena
§ 2º não existindo no município no Estado ou na
ou de medida de segurança, deixando de expedir em
legislação militar normas reguladoras do inquérito
tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem
administrativo serão aplicadas supletivamente, as
de liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)
disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos
lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de Civis da União).
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e
§ 3º O processo administrativo não poderá ser
sem remuneração.
sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à penal ou civil.
sanção administrativa civil e penal.
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo funcional da autoridade civil ou militar.
com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à
a) advertência; autoridade administrativa ou independentemente dela,
b) repreensão; poderá ser promovida pela vítima do abuso, a
responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de culpada.
cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos
e vantagens; Art. 10. Vetado

d) destituição de função; Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do


Código de Processo Civil.
e) demissão;
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente
f) demissão, a bem do serviço público. de inquérito policial ou justificação por denúncia do
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor Ministério Público, instruída com a representação da
do dano, consistirá no pagamento de uma indenização vítima do abuso.
de quinhentos a dez mil cruzeiros.

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Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a que, será acompanhado da segunda via da
representação da vítima, aquele, no prazo de quarenta representação e da denúncia.
e oito horas, denunciará o réu, desde que o fato Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão
narrado constitua abuso de autoridade, e requererá ao ser apresentada em juízo, independentemente de
Juiz a sua citação, e, bem assim, a designação de intimação.
audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada precatória para a audiência ou a intimação de
em duas vias. testemunhas ou, salvo o caso previsto no artigo 14,
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de letra "b", requerimentos para a realização de
autoridade houver deixado vestígios o ofendido ou o diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em
acusado poderá: despacho motivado, considere indispensáveis tais
providências.
a) promover a comprovação da existência de tais
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro
vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência, apregoando em seguida o réu, as
audiência de instrução e julgamento, a designação de testemunhas, o perito, o representante do Ministério
um perito para fazer as verificações necessárias. Público ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e advogado ou defensor do réu.
prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o Parágrafo único. A audiência somente deixará de
apresentarão por escrito, querendo, na audiência de realizar-se se ausente o Juiz.
instrução e julgamento.
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a não houver comparecido, os presentes poderão retirar-
representação poderá conter a indicação de mais duas se, devendo o ocorrido constar do livro de termos de
testemunhas. audiência.
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será
apresentar a denúncia requerer o arquivamento da pública, se contrariamente não dispuser o Juiz, e
representação, o Juiz, no caso de considerar realizar-se-á em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18)
improcedentes as razões invocadas, fará remessa da horas, na sede do Juízo ou, excepcionalmente, no local
representação ao Procurador-Geral e este oferecerá a que o Juiz designar.
denúncia, ou designará outro órgão do Ministério
Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o
Público para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao interrogatório do réu, se estiver presente.
qual só então deverá o Juiz atender.
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a advogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação para funcionar na audiência e nos ulteriores termos do
privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, processo.
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva e intervir em todos os termos do processo, Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o
interpor recursos e, a todo tempo, no caso de Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério
negligência do querelante, retomar a ação como parte Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e
principal. ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze
minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de critério do Juiz.
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo
ou rejeitando a denúncia. Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá
imediatamente a sentença.
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz
designará, desde logo, dia e hora para a audiência de Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
instrução e julgamento, que deverá ser realizada, livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em
improrrogavelmente. dentro de cinco dias. resumo, os depoimentos e as alegações da acusação e
da defesa, os requerimentos e, por extenso, os
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até despachos e a sentença.
julgamento final e para comparecer à audiência de
instrução e julgamento, será feita por mandado sucinto Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante
do Ministério Público ou o advogado que houver

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DIREITO PENAL

subscrito a queixa, o advogado ou defensor do réu e o ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
escrivão. dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela
forem difíceis e não permitirem a observância dos Lei nº 8.930, de 1994)
prazos fixados nesta lei, o juiz poderá aumentá-las,
sempre motivadamente, até o dobro. III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
(Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada
com o sistema de instrução e julgamento regulado por (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei
esta lei. nº 8.930, de 1994)
Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada
caberão os recursos e apelações previstas no Código de pela Lei nº 12.015, de 2009)
Processo Penal. VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o,
Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário. 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
e 77º da República. (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de
1998)

LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990. VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração


de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
(art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação
dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso
incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
Dispõe sobre os crimes hediondos, nos
termos do art. 5º, inciso XLIII, da VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma
Constituição Federal, e determina outras de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
providências. vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído
pela Lei nº 12.978, de 2014)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte
lei: ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art.
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, 16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, todos
todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de tentados ou consumados. (Redação dada pela Lei nº
dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou 13.497, de 2017)
tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
(Vide Lei nº 7.210, de 1984)
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade terrorismo são insuscetíveis de: (Vide Súmula
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por Vinculante)
um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I - anistia, graça e indulto;
incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); (Redação dada pela Lei nº
13.142, de 2015) II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. § 1o A pena por crime previsto neste artigo será
129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação
3o), quando praticadas contra autoridade ou agente dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
Segurança Pública, no exercício da função ou em cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

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DIREITO PENAL

§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
fundamentadamente se o réu poderá apelar em Art. 267. ...............................................................
liberdade. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no
7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos Art. 270. ...............................................................
neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
por igual período em caso de extrema e comprovada Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o
necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007) seguinte parágrafo:
Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de "Art. 159. ..............................................................
segurança máxima, destinados ao cumprimento de
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o
penas impostas a condenados de alta periculosidade,
co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a
cuja permanência em presídios estaduais ponha em
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de
risco a ordem ou incolumidade pública.
um a dois terços."
Art. 4º (Vetado).
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar
inciso: de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito
"Art. 83. .............................................................. de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de Parágrafo único. O participante e o associado que
condenação por crime hediondo, prática da tortura, denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e possibilitando seu desmantelamento, terá a pena
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico reduzida de um a dois terços.
em crimes dessa natureza." Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes
Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e
3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o
caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação
vigorar com a seguinte redação: com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do
"Art. 157. ............................................................. Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o
limite superior de trinta anos de reclusão, estando a
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224
é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se também do Código Penal.
resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem
prejuízo da multa. Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de
1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com
Art. 159. ............................................................... a seguinte redação:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. "Art. 35. ................................................................
§ 1º ................................................................. Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. capítulo serão contados em dobro quando se tratar dos
§ 2º ................................................................. crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14."
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Art. 11. (Vetado).
§ 3º ................................................................. Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua
publicação.
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 213. ...............................................................
Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e
Pena - reclusão, de seis a dez anos. 102º da República.
Art. 214. ...............................................................
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Art. 223. ...............................................................
Pena - reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................

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