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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Verificação da Adequabilidade do Ábaco de Classificação de


Robertson et al (1986) para solos da Região de Sepetiba (RJ)
Juliana Azoia Lukiantchuki
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
jazoia@yahoo.com.br

Nelson Aoki
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
nelsonak@sc.usp.br

Edmundo Rogério Esquivel


Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
esquivel@sc.usp.br

RESUMO: O ensaio de simples reconhecimento do solo, utilizado como medida de resistência à


penetração dinâmica, e universalmente conhecido como SPT (Standard Penetration Test), é uma das
sondagens para investigação do subsolo mais utilizadas pela engenharia geotécnica, tanto no Brasil
como em grande parte do mundo. O amplo emprego deste ensaio deve-se à sua simplicidade e à
facilidade de aplicação dos resultados. Neste âmbito, destaca-se também o ensaio de piezocone
(CPTU), que vem sendo bastante utilizado como método de investigação de campo. Este ensaio
caracteriza-se como uma importante ferramenta de prospecção geotécnica, fornecendo um perfil de
solo praticamente contínuo. Os resultados fornecidos por essses ensaios podem ser utilizados para a
determinação estratigráfica de perfis de solo e de diversas propriedades dos materiais
prospectados. Neste trabalho são apresentados e discutidos resultados de ensaios SPT e de ensaios
CPTU realizados na região de Sepetiba, no Estado do Rio de Janeiro. Em relação aos principais
aspectos geotécnicos do solo analisado, observa-se a existência de um material argiloso não
adensado variando de espessura ao longo da região estudada. O perfil do terreno indica também a
presença camadas de areia com dimensões variáveis. Os resultados dos ensaios SPT foram
utilizados para classificar as camadas do solo através da análise tátil-visual realizada em campo. Os
resultados dos ensaios CPTU foram plotados no ábaco de classificação proposto por Robertson et al
(1986), a fim de se verificar a validade deste para os solos investigados. Os resultados das análises
mostram que o ábaco de classificação não é aplicável diretamente na classificação e interpretação
desses solos. A dispersão dos resultados correspondentes às camadas de argila apresentou-se maior
do que aquela para as camadas de areia.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio SPT, Ensaio CPTU, Ábaco de Classificação.

1 INTRODUÇÃO distribuição espacial é realizada com base em


informações pontuais obtidas por meio de
A identificação do perfil geotécnico do subsolo diversas sondagens ou ensaios de piezocone e
é uma etapa fundamental para a definição dos na interpretação da distribuição estratigráfica
métodos construtivos e para o dimensionamento (De Mio e Giacheti, 2008).
das estruturas geotécnicas. Nesta etapa, as Neste contexto, destaca-se o ensaio de
características geotécnicas do subsolo são simples reconhecimento do solo, utilizado como
definidas baseando-se no entendimento da medida de resistência à penetração dinâmica, e
distribuição espacial dos vários tipos de universalmente conhecido como ensaio SPT
materiais que compõem o subsolo. A (Standard Penetration Test). Este ensaio é uma

1
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das sondagens para investigação do subsolo


100
mais utilizadas, tanto no Brasil como em grande
10 q T = q c + u(1-a)
parte do mundo.

RESISTÊNCIA DE PONTA - q t (MPa)


12

9
No âmbito da engenharia geotécnica, 11
8
principalmente na engenharia de fundações, o 10

R
7
amplo emprego do ensaio SPT deve-se à sua

OC
Dr
6
simplicidade, robustez e facilidade de aplicação 5

dos seus resultados. Dentre as inúmeras 1


4
e 3
vantagens do ensaio destaca-se a retirada de
St
amostras deformadas a cada metro de 1
2
profundidade, o que permite realizar a
0,1
classificação tátil-visual do solo e 0 1 2 3 4 5 6 7 8
consequentemente identificar as camadas que RAZÃO DE ATRITO, R f (%)

compõem o perfil do solo. Figura 1. Ábaco de Classificação (De Mio 2005,


Além do ensaio SPT existem outros ensaios adaptado de Robertson et al, 1986).
de campo bastante utilizados na engenharia
geotécnica. Por exemplo, os ensaios de cone Tabela 1. Comportamento do Solo para cada Zona de
Classificação (De Mio 2005, adaptado de Robertson et al,
(CPT) e piezocone (CPTU), vêm se tornando 1986).
internacionalmente uma das mais importantes
Zona Comportamento do solo
ferramentas de prospecção geotécnica. Os
1 Solos finos sensíveis
resultados fornecidos por esses ensaios podem
2 Solos Orgânicos
ser utilizados para a determinação estratigráfica
de perfis de solos, determinação de 3 Argila
propriedades dos materiais prospectados, 4 Argila siltosa a Argila
particularmente em depósitos de argilas moles, 5 Silte argiloso a Argila siltosa
e previsão da capacidade de carga de fundações. 6 Silte arenoso a Silte argiloso
A identificação estratigráfica a partir de 7 Areia siltosa a Silte arenoso
resultados de ensaios de piezocone é realizada 8 Areia a Areia siltosa
baseando-se em ábacos de classificação 9 Areia
(Robertson et al., 1986; Felenius e Eslami, 10 Areia pedregulhosa a Areia
2000). Tais ábacos são mais adequados para a 11 Solo fino muito rijo*
identificação das camadas de solos 12 Areia a areia argilosa*
sedimentares (De Mio e Giacheti, 2008). * Pré-adensado ou cimentado
Neste trabalho são apresentados resultados
de ensaios SPT e ensaios CPTU realizados na 2 ENSAIOS REALIZADOS
região de Sepetiba, no estado do Rio de
Janeiro. A identificação tátil-visual dos ensaios 2.1 Caracterização Geológica
SPT foi utilizada para caracterizar a
constituição do material de cada camada do A região de Sepetiba se caracteriza pela
solo. Os resultados de atrito lateral e razão de existência de depósitos de materiais argilosos e
atrito dos ensaios CPTU foram plotados no argilo-siltosos muito moles e não adensados. As
ábaco de classificação proposto por Robertson camadas desses materiais apresentam
et al (1986) (Figura 1), para verificar a sua espessuras variáveis e são entremeadas por
adequabilidade para os solos investigados. camadas de areia.
Nesse ábaco, são mostradas diferentes zonas de
comportamento ou classificação do solo. A 2.2 Ensaios de Campo
Tabela 1 mostra o tipo de comportamento do
solo correspondente a cada zona de Da campanha de ensaios de campo foram
classificação. analisados os resultados de 23 ensaios SPT e 23
ensaios CPTU. Esses ensaios foram
selecionados de tal forma que se tivessem pares

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de ensaios CPTU e SPT com coordenadas


muito próximas, havendo uma correspondência Os ensaios de piezocone foram realizados de
entre as camadas determinadas pelos dois tipos acordo com os procedimentos recomendados
de ensaios. pela ABNT MB-3406 (ABNT, 1991). A
resistência de ponta (qc) foi devidamente
2.3 Ensaio SPT corrigida em função da poro-pressão (u2)
medida na base do cone e apresentada como
Os ensaios de sondagem SPT foram realizados resistência de ponta corrigida (qt).
de acordo com os procedimentos recomendados As leituras de resistência de ponta e atrito
pela ABNT NBR-6484 (ABNT, 2001). Os lateral foram efetuadas a cada 2 cm. A
ensaios foram executados até o impenetrável, profundidade de execução dos ensaios variou de
cuja profundidade varia de 27 a 51 m. A 12 a 32 m. A Figura 3 apresenta um resultado
profundidade do nível d’água variou de 0 m tipico de ensaio de piezocone realizado na
(superfície do terreno) até 1,80 m. região analisada.
Através dos ensaios realizados, verificou-se
a existência de uma camada de argila muito 3 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE
mole ao longo de todo o perfil do terreno DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS DE
analisado, com uma espessura aproximada de CAMPO
5,0 m. Este material caracteriza-se por um baixo
índice de resistência à penetração (NSPT=0). A Para efeito de comparação entre a descrição da
Figura 2 apresenta, para algumas das sondagens composição das camadas de solo, obtida através
analisadas, a variação do índice de resistência à da identificação tátil-visual do ensaio SPT, e a
penetração com a profundidade. classificação do comportamento do solo, obtida
através da carta de classificação, foi calculado o
NSPT valor médio da resistência de ponta (qT) e da
0 20 40 60 80 100 razão de atrito (Rf) entre as leituras situadas nas
0 profundidades x + 0.15 (m) e x + 0.45 (m),
onde x representa a profundidade de inicio da
SPT 01 cravação do amostrador SPT para cada metro de
5 SPT 02 sondagem (Figura 4).
SPT 03
SPT 04
10 SPT 05 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE
RESULTADOS
Profundidade (m)

15 3.1 Areia

20 A Figura 5 apresenta os valores médios de


resistência de ponta e razão de atrito plotados
no ábaco de classificação, para as camadas de
25 solo arenoso. Também são apresentadas as
correspondentes descrições tátil-visuais dos
ensaios SPT.
30
Nessa figura, observa-se uma significativa
discrepância entre a descrição tátil visual e o
35 tipo de comportamento do solo dado pelo ábaco
de classificação, Aproximadamente 35% dos
pontos plotados encontram-se em regiões onde
40 o tipo de comportamento do solo não
corresponde a areia, areia siltosa ou silte
Figura 2. Resultados de ensaios SPT (NSPT versus
arenoso.
profundidade).
2.4 Ensaio de Piezocone (CPTU)

3
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Resistência de ponta corrigida Atrito lateral Razão de atrito Poro-pressão


qT (MPa) fs(MPa) FR(%) u (kPa)
0 4 8 12 16 20 0 20 40 60 80 100 0 2 4 6 8 10 -200 0 200 400 600 8001000
0 0 0 0

5 5 5 5
Profundidade (m)

10 10 10 10

15 15 15 15

20 20 20 20
Figura 3. Resultado de ensaio de piezocone realizado no solo da região de Sepetiba (RJ).

0 (m) aproximadamente 70% dos pontos


correspondem a comportamentos semelhantes
àqueles sugeridos pela proposta de Robertson et
1 (m)
al (1986).
1+0.15 Intervalo da média
100
dos valores qT e FR
1+0.45

2 (m) 10
qT (MPa)

2+0.15

2+0.45

0.1
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 4: Esquema de medida do índice NSPT. RF (%)
Descrição SPT
A maior dispersão de pontos ocorre para os Areia fina a média
solos classificados como areia fina e areia Areia média a grossa
Areia fina argilosa
média argilosa (Figura 6). Nestes casos, de Areia média argilosa
acordo com o ábaco de classificação, Areia fina siltosa
Areia média a grossa siltosa
aproximadamente 60% dos pontos
correspondem a comportamentos de argila
Figura 5: Resultados das camadas de areias representadas
siltosa ou silte argiloso. no ábaco de classificação.
A menor dispersão dos resultados foi
verificada para solos classificados como areia
média a grossa siltosa (Figura 7). Nestes casos,

4
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100 100

10 10

qT (MPa)
qT (MPa)

1 1

0.1 0.1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 1 2 3 4 5 6 7 8
RF (%) RF (%)
Figura 6: Resultados das camadas de solos clasificados Descrição SPT
como areia fina a média argilosa.
Argila a argila dura
Argila arenosa
100
Argila siltosa
Argila siltosa mole a muito mole

Figura 8: Resultados das camadas de argila


10 representadas no ábaco de classificação de Robertson et
qT (MPa)

al (1986).

A maior dispersão de pontos ocorre para os


1 solos classificados como argila e argila arenosa
(Figura 9). Nestes casos, de acordo com o ábaco
de classificação, aproximadamente 65% dos
pontos correspondem a comportamentos de
0.1 areia e areia siltosa.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 A menor dispersão dos resultados foi
RF (%)
Figura 7: Resultados das camadas de solos clasificados verificada para solos classificados como argila
como areia média a grossa siltosa. siltosa e argila siltosa mole (Figura 10). Nestes
casos, aproximadamente 58% dos pontos
3.2 Argila correspondem a comportamentos semelhantes
àqueles sugeridos pelo ábaco de classificaçao.
A Figura 8 apresenta os valores médios de
resistência de ponta e razão de atrito plotados 100

no ábaco de classificação, para as camadas de


solo argiloso. Também são apresentadas as
correspondentes descrições tátil-visuais dos
10
ensaios SPT.
qT (MPa)

Pode-se observar nessa figura uma


discrepância mais acentuada entre as descrições
tátil-visuais e o tipo de comportamento do solo
1
dado pelo ábaco de classificação,
Aproximadamente 44% dos pontos plotados
encontram-se em regiões onde o tipo de
comportamento do solo não corresponde a 0.1
argila ou argila siltosa. 0 1 2 3 4 5 6 7 8
RF (%)
Figura 9: Resultados das camadas de solos clasificados
como argila a argila dura e argila arenosa.

5
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objetivo de adequar o ábaco proposto por


100 Robertson et al (1986) para solos brasileiros, de
modo a tornar mais confiáveis os resultados de
classificação do comportamento do solo dos
ensaios CPTU.
10
qT (MPa)

AGRADECIMENTOS

1
Os autores agradecem a empresa In Situ
Geotecnia, pelo fornecimento dos dados dos
ensaios realizados.

0.1 REFERÊNCIAS
0 1 2 3 4 5 6 7 8
RF (%) ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Figura 10: Comparação dos resultados para os solos (2001). NBR 6484: Solos- Sondagem de Simples
clasificados como argila siltosa e argila siltosa mole. Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Rio
de Janeiro, 8p.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
4 CONCLUSÃO (1991). MB 3406: Solo – Ensaio de penetração de
cone in situ (CPT). CB 02, Rio de Janeiro, 10p.
De Mio, G. e Giachetti, H. L. (2008) Definição do Perfil
A análise dos resultados apresentados indicam Estratigráfico utilizando o Piezocone: Diferenças
que a utilização do ábaco de classificação entre um Solo Sedimentar e um Tropical,
proposta por Robertson et al (1986) para o solo Cobramseg’2008, Búzios, RJ, Brasil, Vol. 2, p. 1356-
tropical de região de Sepetiba (RJ) não tem se 1363.
mostrado adequada. A comparação entre a De Mio, G. (2005) Condicionantes Geológicos na
Interpretação de Ensaios de Piezocone para
descrição tátil-visual obtida através dos ensaios Identificação Estratigráfica na Investigação
SPT e a classificação do comportamento do Geotécnica e Geoambiental, Tese de Doutorado,
solo através do ábaco de classificação Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
mostraram-se incoerentes. Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de
Os resultados indicam que para o caso das São Carlos, Universidade de São Paulo, 348p.
Fellenius, B.H; Eslami, A. (2000) Soil profile interpreted
camadas de solos argilosos a utilização do from CPTU data, Geotechnics – Geotechnical
ábaco de classificação apresenta dispersão engineering conference, Asian Institute of
superior do que quando este é utilizado para Technology Bangkok, Thailand, 18p.
camadas de solos arenosos. No entanto, como o Robertson, P.K; Campanella, R.G; Gillespie, D; Greig, J.
perfil do solo estudado é formado (1986) Use of Piezometer Cone Data, Proc. In-Situ86,
ASCE Specialty Conferencw, p. 1263-1280.
predominantemente por camadas de material Schnaid, F. (2000) Ensaios de campo e suas aplicações à
argiloso não se pode tirar conclusões definitivas engenharia de fundações. Oficina de texto, São
sobre este comportamento. Paulo, 189p.
Além disso, os resultados apresentados neste
trabalho foram analisados considerando apenas
a fração granulométrica predominante de cada
uma das zonas de classificação do
ábaco. Considerando-se as demais frações,
observa-se que a dispersão entre as
classificações aumenta consideravelmente,
reforçando que a utilização do ábaco de
classificação não é aplicável para o solo da
região estudada.
A partir desses resultados, verifica-se a
necessidade de se realizar pesquisas com o

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