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ARTIGO TÉCNICO

TRATAMENTO DO EFLUENTE DE UMA INDÚSTRIA TÊXTIL.


PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO COM OZÔNIO E
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO

MARIA ELIZA NAGEL HASSEMER


Engenheira Sanitarista, Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina.

MAURÍCIO LUIZ SENS


Engenheiro Sanitarista, Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de Rennes, França. Professor do Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina.

RESUMO ABSTRACT
Diversos problemas envolvem as estações de tratamento de A variety of problems involve the textile effluent treatment stations,
efluentes têxteis, especialmente o baixo nível de eficiência de principally the low efficiency in the removal of colour. This work
remoção da cor. O presente trabalho investigou o tratamento investigated the treatment of these textile effluents through
desses efluentes por meio da ozonização e da floculação. Ensaios ozonization and flocculation. Ozonization tests were carried out in
foram realizados para encontrar a dosagem mínima de ozônio order to determine the minimum dose of ozone which would be
que fosse efetiva para o tratamento, utilizando um piloto de effective in the treatment, utilising a pilot ozonization. Coagulation-
ozonização. Ensaios de coagulação-floculação determinaram a flocculation tests determined the optimum dose of aluminium
dosagem ótima de sulfato de alumínio, de cal e de polímero, para sulphate, of lime and of the polymer, to evaluate the removal of colour
avaliar a remoção de cor e turbidez. No tratamento com coagula- and turbidity. In the treatment with coagulation-flocculation the
ção-floculação, a eficiência de remoção de cor foi de 98% (com e removal efficiency of colour were 98% (with and without polymer)
sem polímero) e, para a turbidez, foi de 95% sem polímero e de and for turbidity, were 95% without polymer and 98% with
98% com polímero, para um tempo de decantação de 7 minu- polymer, for a seven minutes decantation time. The pre-ozonization
tos. A pré-ozonização com pequenas dosagens de ozônio não with low doses of ozone did not enhance the removal efficiency for the
aumentou a eficiência de remoção dos parâmetros analisados parameters analysed for this effluent and for this kind of polymer
para esse efluente e para o tipo de polímero utilizado. utilised.

PALAVRAS-CHAVE: tratamento de efluente têxtil, tratamento KEYWORDS: Textile effluent treatment, physical-chemical
físico-químico, ozonização, floculação. treatment, ozonization, flocculation.

INTRODUÇÃO A técnica da ozonização tem sido jetivo o tratamento físico-químico para


muito usada nos últimos anos no trata- efluentes têxteis, empregando técnicas de
As indústrias têxteis constituem fa- mento desses despejos, em virtude de seu coagulação/floculação e oxidação com
tor de grande importância na economia alto potencial de oxidação. O ozônio rea- ozônio.
brasileira. Os estados de Santa Catarina e ge facilmente com a maior parte dos
São Paulo são os maiores pólos têxteis em corantes utilizados nas indústrias têxteis. A INDÚSTRIA TÊXTIL E O
volume de produção do Brasil. O A ozonização combinada com a coagula- TRATAMENTO DE SEUS
processamento têxtil é gerador de grande ção-floculação representa uma eficiente EFLUENTES
quantidade de despejos altamente alternativa para o tratamento desses
poluidores, contendo elevada carga orgâ- efluentes (CAMEL e BERMOND, No que diz respeito à produção e ao
nica, cor acentuada e compostos quími- 1998). número de trabalhadores que ocupa, a
cos tóxicos ao homem e ao meio ambien- Segundo KAWAMURA (1996), a indústria têxtil é uma das maiores do
te. Os processos e despejos gerados pela pré-ozonização nem sempre melhora a mundo, e todas se caracterizam por re-
indústria têxtil variam à medida que a floculação, e ainda segundo SIDDIQUI querer grandes quantidades de água,
pesquisa e o desenvolvimento produzem et al. (1997), a pré-ozonização pode ini- corantes e produtos químicos utilizados
novos reagentes, novos processos e novas bir a efetividade da coagulação. Para LIN ao longo de uma complexa cadeia pro-
técnicas, e também de acordo com a de- e LIN (1993), a turbidez aumenta com o dutiva (SANIN, 1997).
manda do consumo por outros tipos de tempo de ozonização, dificultando a re- Cerca de 100 m3 de água são con-
tecidos e cores. Numerosas operações são dução de cor. A explicação para isso é o sumidos em média para cada tonelada de
necessárias a fim de dar ao tecido o máxi- aumento significativo da quantidade de tecido processado, gerando 100 kg de
mo de propriedades, gerando assim, em sólidos suspensos durante a ozonização. DQO (BERGNA et al., 1999).
cada etapa, diferentes despejos. O presente trabalho tem como ob- A cor forte é a característica mais

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TRATAMENTO DO EFL
RAT UENTE DE UMA INDÚSTRIA TÊXTIL. PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO COM OZÔNIO E COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
FLUENTE

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notória do efluente têxtil. O problema lizada para a eliminação da cor e de outras grado de Meio Ambiente da Universida-
da cor está associado aos corantes, especi- substâncias persistentes. de Federal de Santa Catarina, utilizando
almente aos corantes solúveis em água que o efluente da Indústria Têxtil Damyller,
são adsorvidos em quantidade insignifi- Efeito do ozônio sobre a que fica situada no Município de Nova
cante (menos de 25%) e, portanto, saem coagulação-floculação Veneza (SC). O efluente têxtil analisado
nos efluentes das estações de tratamento. era proveniente das seguintes etapas de
Sua concentração é menor do que a de A adição de um oxidante forte como processamento: desengomagem,
muitos outros produtos químicos encon- o ozônio, no efluente têxtil, altera a natu- estonagem com enzima ácida e neutra,
trados nos efluentes, mas sua cor é visível reza ou a quantidade de cargas na super- redução (descoloração da peça),
até a baixas concentrações (SARASA et fície das partículas, facilitando a coagula- alvejamento, amaciamento, tingimento,
al.,1998). Os corantes são moléculas or- ção/floculação. De acordo com o pH, resinagem (formação de película proteto-
gânicas altamente estruturadas e de difí- pode ocorrer a formação de precipitados ra dos fios), acidificação e alcalinização.
cil degradação biológica (LIN e LIU, metálicos, que são removidos por sedi- Os principais corantes utilizados foram
1994). mentação ou filtração. O aumento de gru- os corantes reativos Laranja BF 2R, Ama-
Os efluentes gerados pelas unida- pos carboxílicos e fenólicos decorrentes relo BF 3R, Azul BF GN, e o Preto Dire-
des industriais normalmente são tratados da ozonização auxiliam a adsorção de to NF 700%.
por processos físico-químicos e biológi- compostos orgânicos e hidróxidos metá-
cos convencionais (coagulação química e licos pelos flocos, melhorando a O sistema-piloto
lodos ativados), os quais apresentam bons coagulaçao/floculação.
resultados na redução carbonácea, mas BECKER et al. (1995), citados por O sistema-piloto utilizado para o
têm como inconveniente a alta produção CAMEL e BERMOND (1998), mos- tratamento do efluente têxtil era forma-
de lodo e a necessidade de traram alguns resultados nos quais a pré- do pelo piloto de ozonização (gerador de
disponibilização de grandes áreas para ozonização foi prejudicial à coagulação no ozônio e colunas de contato), e pelo apa-
implantação do processo de tratamento e tratamento de água. Eles notaram uma relho de Jar Test por meio do qual o
de aterros sanitários industriais para dis- redução significativa na distribuição do efluente ozonizado era submetido à coa-
posição do lodo. Além disso, esses peso molecular e, em razão disso, um au- gulação-floculação.
efluentes caracterizam-se por uma gran- mento na dose de coagulante foi necessá- A Figura 1 apresenta um desenho
de variação de cargas, em razão da pró- ria para permitir uma boa redução de esquemático do sistema piloto usado nes-
pria variação do processo industrial que turbidez. te experimento.
envolve a sequência de produção e aca-
bamento têxtil, em cujo processo são uti- Remoção da cor Ensaios de coagulação-
lizados corantes, tensoativos espessantes floculação
e produtos químicos diversos que tornam A remoção da cor de águas altamen-
o efluente muito complexo, geralmente te coloridas varia em função da dosagem Testes de jarros foram realizados se-
com altas concentrações de DBO e DQO, de ozônio e da quantidade de material gundo uma metodologia para tratamen-
e com diferentes características de colorido (corantes). O ozônio é muito efe- to de água de abastecimento proposta por
biodegradação. tivo na descoloração de efluentes têxteis DI BERNARDO, PÁDUA e LIBÂNIO
porque ele ataca as duplas ligações dos (1998), com a finalidade de determinar
Ozonização corantes, que estão associadas à cor. O pH a melhor dosagem de coagulante e de cal,
e a condutividade praticamente perma- melhor dosagem de polímero, melhor
A ozonização é uma técnica que tem necem constantes, enquanto a cor dimi- tempo de floculação e decantação, me-
sido sugerida na literatura recente, como nui gradualmente durante a ozonização. lhor pH e melhor gradiente de velocida-
uma potencial alternativa para a descolo- A remoção da cor pela ozonização é de, obtendo assim a otimização dos
ração. Oferece eficiência satisfatória, apre- efetiva e razoavelmente rápida. A classe parâmetros de tratabilidade para o
sentando um efluente com pouca cor, do corante é bastante significativa na de- efluente têxtil em estudo.
baixa DQO, e adequado para ser lançado terminação do comportamento dos Os ensaios foram realizados em Equi-
ao meio ambiente ou retornar ao proces- corantes. Para um menor tamanho, a es- pamento de Reatores Estáticos, modelo
so. trutura química, se compacta, pode ter Nova Ética, composto de seis reatores (jar-
Num primeiro momento, a um impacto negativo na taxa de reação. ros) tronco-prismáticos de seção transver-
ozonização é empregada principalmente Dosagens razoáveis de ozônio permitem sal quadrada, de capacidade de dois litros
para quebrar as moléculas de corantes, e uma boa eficiência na remoção da cor cada reator, permitindo obter gradientes
depois para a descoloração. O pré-trata- para corantes ácidos, mordentes, de até 2200 s-1.
mento com ozônio é um método promis- catiônicos, diretos, reativos e enxofre. O coagulante utilizado nos ensaios
sor de oxidação dos corantes transforman- Corantes dispersos e tinas são mais difí- foi o Sulfato de Alumínio PA [Al2(SO4)3
do-os em degradáveis. Embora muitos ceis de remover, mesmo a altas concentra- 14 a 18 H2O] (por ser o mesmo coagulante
trabalhos tenham sido feitos com a oxi- ções de ozônio. usado na indústria), com solução a 5%.
dação pelo ozônio, bem pouco se sabe O alcalinizante utilizado foi uma
sobre a cinética da ozonização e seus pro- suspensão de cal (hidratada), preparada
dutos da reação com os corantes MATERIAL E MÉTODOS com produto comercial a 5%.
(LIAKOU et al., 1997). Como auxiliar de floculação, foi uti-
A ozonização, no final do tratamen- O experimento descrito neste tra- lizado uma solução de Polímero Sintético
to, está sendo também cada vez mais uti- balho foi realizado no Laboratório Inte- não Iônico (PRAESTOL 2500) a 0,01%.

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Segue para
a atmosfera
Coluna de Para a
Aparelho de

gás
JAR TEST
⊗ ⊗ bolhas • atmosfera

Rotâmetro
Bomba Ponto de
peristáltica aplicação
(recirculação) do ozônio Frascos
E Nova Ética
lavadores

⊕ de gás
654

⊗ Vàlvula 3 vias
Luz Agita Ajustes

trailigaz

Luz indicativa
Efluente Pressão
de aparelho
ligado
Potência

Têxtil

OXIGÊNIO
bar W

Alta tensão Parado


perigo de Dessecando
morte Gerando O3
Rotâmetro
Controle de
potência

Controle de Chave de
pressão controle de
Controle de
produção
vazão

Trava de segurança

Gerador de Ozônio

Figura 1 – Esquema do sistema piloto utilizado no tratamento

centrações) foram submetidos a ensaios


de Jar Test, utilizando os parâmetros
Ensaios de ozonização [O3 ]feeed gás - [O3 ]off gás
Eficiência(E) = otimizados anteriormente, e os melhores
[O3 ]feed gás resultados (cor e turbidez) foram compa-
rados aos resultados do efluente decanta-
O efluente têxtil foi ozonizado atra-
(1) do, não ozonizado.
vés de um piloto de ozonização compos-
to por: aparelho gerador de ozônio a par-
tir de oxigênio puro (modelo LABO 6LO A concentração de ozônio transferida
da Trailigaz), cilindro de oxigênio puro, foi determinada pela seguinte equação: Análises físico-químicas
rotâmetro para gases (modelo P), frascos
As medidas de pH, DQO, sólidos
lavadores de 500 ml, colunas de contato
suspensos, temperatura, turbidez,
(de vidro com 1,25 m de altura e com 50 E × [O3 ] feedgás × Qg × t
[O3 ] transferido (mg/L) = condutividade e alcalinidade foram reali-
mm de diâmetro), bomba portátil 150 60 × Vef zadas utilizando-se os métodos descritos
(para recirculação do efluente nas colu-
no Standard Methods (APHA, 1992).
nas). O volume de efluente nas colunas (2) A cor foi medida por meio da leitu-
era de aproximadamente 2300 ml, que
ra da absorvância em espectrofotômetro
por meio de uma bomba recirculava a Sendo: E = eficiência de transferên- (modelo DR/4000 UV-VIS da HACH)
contra corrente da injeção do gás, que era cia (decimal); [O3] = concentração de no comprimento de onda de máxima
injetado continuamente. ozônio (mg/L); Qg = vazão de gás (L/h); absorvância do efluente bruto, na faixa
A transferência do ozônio para a t = tempo de contato nas colunas (min); do visível, l = 666 nm. Não existe uma
massa líquida foi realizada em coluna clás- Vef = volume de efluente nas colunas (L). metodologia normatizada para a deter-
sica de bolhas, injetando-se o gás por meio
minação da coloração de efluentes indus-
de um difusor poroso, situado na base da Foi utilizada a concentração de ozô- triais, dificultando com isso, a compara-
primeira coluna. O excesso de gás, ou seja, nio transferido, pois a concentração de ção dos resultados relacionados ao trata-
a parcela da mistura gasosa que não ficava ozônio dissolvido na massa líquida não mento de efluentes têxteis.
retida na massa líquida, saía pelo topo da foi medido. Segundo NAYME (1997),
coluna, e era destruído por um destrui- as reações entre o ozônio e os corantes
dor catalítico. A concentração de ozônio
Caracaterísticas do
reativos são de cinéticas muito rápidas, e efluente bruto
foi determinada pelo método o ozônio dissolvido aparece somente após
iodométrico, em que o volume do gás era a eliminação quase que total dos corantes. As principais características fisico-
desviado para um frasco contendo iodeto Com essas informações e tendo em vista a químicas médias do efluente têxtil utili-
de potássio. dificuldade de determinação da concen- zado neste experimento eram as seguin-
A eficiência de transferência foi de- tração do ozônio dissolvido em efluentes tes: pH = 6,5 a 7,5, alcalinidade = 496
terminada pela diferença entre a concen- fortemente coloridos, estabeleceu-se que mg/L CaCO3, absorvância(666nm) =
tração de ozônio no gás gerado pelo todo o ozônio transferido à massa líquida 1,08, turbidez = 270 NTU, DQOtotal =
ozonizador (feed-gás), e a concentração seria imediatamente consumido na rea- 961 mg/L, COD = 242 mg/L, e sólidos
de ozônio no gás que saía da coluna (off- ção de descoloração. suspensos = 179 mg/L.
gás), conforme a equação a seguir: Os efluentes ozonizados (várias con-

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FLUENTE

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RESULTADOS E 0,45 mg/L para todos os pontos. Com a de velocidade otimizados de G = 30 s-1,
DISCUSSÃO utilização do polímero, o ponto A1 foi o 20 s-1 e 20 s-1, para os ensaios com
que obteve melhores resultados de remo- polímero; e de G = 50 s-1, 30 s-1 e 20 s-1
Coagulação-floculação ção de cor e turbidez. Assim, as caracterís- para os ensaios sem polímero. Esses resul-
ticas do ponto A1 foram utilizadas para tados foram utilizados em um outro pilo-
Determinação do melhor os ensaios com polímero, e as do ponto to de floculação com meio granular ex-
pH de coagulação e A3 para os ensaios sem polímero. Com a pandido, operando em contínuo, sendo
melhores dosagens de utilização do polímero, a dosagem de cal o mesmo formado por três câmaras em
coagulante e polímero foi reduzida pela metade, sendo isso im- série (HASSEMER et al., 2001).
portante para produzir menos lodo no Com a otimização do tratamento,
Através dos ensaios de Jar Test obte- processo. chegou-se a uma dosagem de 500 mg/L
ve-se os melhores resultados de pH que, de sulfato de alumínio, enquanto que na
no tocante à redução de cor e turbidez, Determinação do melhor Indústria Têxtil Damyller, a dosagem uti-
foram os próximos de 7,27, gradiente de velocidade e lizada era de 800 mg/L.
correspondendo à concentração aplicada tempo de mistura rápida A eficiência média de remoção de
de 600 mg/L de hidróxido de cálcio (cal). cor, para um tempo de decantação de 4
Utilizando-se esse resultado em no- Com os parâmetros otimizados com minutos, foi de 97% (sem polímero) e de
vos ensaios, obteve-se uma dosagem óti- e sem polímero, foram realizados novos 98% (com polímero); para um tempo de
ma de sulfato de alumínio (coagulante) ensaios, nos quais o melhor resultado de decantação de 7 minutos, a eficiência
de 500 mg/L, que correspondeu a uma remoção de cor e turbidez foi obtido com média foi de 98% (sem polímero) e de
absorvância (cor) de 0,052 e uma um gradiente de velocidade G = 600 s-1, 98% (com polímero). Já para a turbidez,
turbidez de 32,1 NTU para um tempo com um tempo de mistura rápida de 5 a eficiência média de remoção, para um
de decantação de 7 minutos. As dosa- segundos para os ensaios sem polímero; tempo de decantação de 4 minutos, foi
gens de coagulante utilizadas no proces- para os ensaios com polímero, o melhor de 93% (sem polímero) e de 97% (com
so de coagulação-floculação de uma esta- gradiente foi G = 1200 s-1, com um tem- polímero); para um tempo de decanta-
ção de tratamento de efluentes têxteis po de mistura rápida também de 5 se- ção de 7 minutos, a eficiência média foi
podem variar de 500 a 2000 mg/L. gundos. de 95% (sem polímero) e de 98% (com
Para determinar a melhor dosagem polímero).
de polímero, foram utilizados três pontos Determinação do melhor Pode ser observado que a adição desse
que representaram regiões do diagrama gradiente de velocidade e polímero não aumentou significativa-
de coagulação que forneceram melhores tempo de floculação mente a eficiência de remoção dos
resultados de remoção de cor e turbidez. parâmetros analisados.
Novos ensaios então, foram realizados com De acordo com os resultados obti-
esses pontos. A Tabela 1 apresenta as ca- dos nos novos ensaios realizados, e segun- Ozonização do efluente
racterísticas dos pontos escolhidos. do a metodologia proposta para os ensai- bruto
Para cada ponto escolhido foram os de coagulação-floculação citada ante-
realizados ensaios para determinar a me- riormente, obteve-se um tempo total de Variação da concentração
lhor dosagem de polímero, que foi de floculação de 21 minutos, e gradientes de ozônio
Os corantes são moléculas que ge-
Tabela 1 - Características dos pontos escolhidos ralmente contêm ligações insaturadas,
no diagrama de coagulação sobre as quais o ozônio reage rapidamen-
te. Segundo NAYME (1997), o consu-
Características dos Ensaios Ponto A1 Ponto A2 Ponto A3 mo de ozônio necessário para alcançar
uma determinada porcentagem de des-
Dosagem de Sulfato de coloração aumenta quando o efluente
500 550 500
Alumínio (mg/L) contém grande quantidade de carbona-
tos e produtos auxiliares, pois eles reagem
Dosagem de Cal (mg/L) 300 400 600 com o ozônio e prolongam o tempo ne-
cessário à descoloração do efluente.
PH de coagulação 6,73 6,63 7,27
Na Figura 2, tem-se a fotografia de
Turbidez remanescente (NTU) amostras do efluente bruto, ozonizado a
138 98,3 44,5 concentrações de 2,2 - 4,0 - 8,5 - 13,5 -
Td = 4 min
17,0 - 20,0 mgO3/L, respectivamente
Abs666 (cor) Td = 4 min 0,388 0,257 0,108 nos frascos 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Essas concen-
trações foram obtidas num tempo de
Turbidez remanescente (NTU) ozonização de 1 - 2 - 4 - 6,4 - 8,5 e 11
45,9 40 32,1 minutos, respectivamente. Observa-se
Td = 7 min
uma boa remoção de cor à medida que se
Abs666 (cor) Td = 7 min 0,087 0,069 0,052 aumenta a concentração de ozônio.
Após a ozonização, os efluentes fo-
ram submetidos a ensaios de Jar Test

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Variação da concentração
de sulfato de alumínio
Segundo MELO FILHO (1997),
os resultados da coagulação-floculação,
utilizando o sulfato ferroso como
coagulante, para um efluente têxtil sinté-
tico pré-ozonizado com 7,2 mgO3/L,
demostraram uma redução na dosagem
do coagulante de aproximadamente
Figura 2 – Redução da cor do efluente bruto ozonizado a 2,2 - 4,0 - 8,5 - 20%.
13,5 - 17,0 - 20,0 mgO3/L Com efluentes ozonizados a 7 e 27
mgO3/L, foram realizados ensaios de Jar
(parâmetros de coagulação-floculação po de decantação de 7 min. Esses resultados Test, variando a dosagem do coagulante
otimizados), e os efluentes decantados foram muito bons, apesar de se observar que (sulfato de alumínio) para verificar se ocor-
foram analisados quanto a remoção de cor com concentrações maiores de ozônio a efici- re uma diminuição em sua dosagem, atra-
e turbidez. ência de remoção aumentou ainda mais. vés da redução de cor e turbidez.
A Figura 3 mostra o comportamen- Para esse mesmo tempo de decantação As Figuras 4 e 5 mostram os gráfi-
to da cor e da turbidez do efluente sem a ozonização, a eficiência de remoção da cos do efluente ozonizado (7 e 27 mgO3/
ozonizado e decantado (4 e 7 minutos), cor e turbidez ficou em torno de 98%. Pro- L) e decantado, com e sem polímero, va-
em relação a várias concentrações de ozô- vavelmente a ozonização promoveu alguma riando as concentrações de coagulante.
nio, com e sem polímero. inibição na coagulação ou alguma reação, em Houve uma grande eficiência na
A absorvância média do efluente era virtude do tipo de corante utilizado na in- remoção de cor e turbidez, mas para o
da ordem de 1,08 (666nm) e com uma dústria (reativo). efluente dessa indústria especificamente,
aplicação de ozônio em torno de apenas Pelos resultados dos ensaios e de acor- e com o tipo de coagulante utilizado, a
8 mgO3/L, houve uma redução para 0,03 do os estudos de MELO FILHO (1997) e pré-ozonização com 7 mgO3/L não pro-
(97% de eficiência), usando ou não o NAYME (1997), adotou-se, como moveu um decréscimo nas dosagens des-
polímero; a turbidez média do efluente parâmetro para os ensaios de ozonização, a se coagulante, evidenciando que cada
era da ordem de 270 NTU, com a concentração de ozônio de 7 mgO3/L. Tam- efluente tem que ser visto como um ca-
ozonização foi para 13,0 (95% de efici- bém foram realizados ensaios com a concen- so em separado. Já para a dosagem de
ência), também usando ou não o tração de ozônio de 27 mgO3/L apenas para 27mgO3/L, houve uma redução, mas ha-
polímero, resultados esses para um tem- comparação de resultados. veria a necessidade de um estudo econô-

30 0,07
com polímero 22 sem polímero 0,06
turbidez remanescente

turbidez remanescente

0,06 20
absorvância (666nm)

25

absorvância (666nm)
0,05
0,05 18
20 16 0,04
(NTU)

0,04
(NTU)

14
15 0,03
0,03 12
10 10 0,02
0,02
8
5 0,01
0,01 6
4 0
0 0
2,28 4,33 8,78 13,11 19,96 26,98 36,86 2,19 3,8 5,48 8,3 9,65 12 16,6 19,46 20,18 26,66 37,74

concentração de ozônio (mg/L) concentração de ozônio (mg/L)


Turbidez (Td=4min) Turbidez (Td=7min) Absorvância (Td=4min) Absorvância (Td=7min) Turbidez (TD=4min) Turbidez (Td=7min) Absorvância (Td=4min) Absorvância (Td=7min)

Figura 3 - Redução da turbidez e da absorvância (cor) em relação à concentração de ozônio, com e sem polímero

0,14 27mgO3/L - Td=4min 40 27mgO3/L - Td=4min


27mgO3/L - Td=7min 35 27mgO3/L -Td=7min
turbidez remanescente (NTU)

0,12
absorvância (666nm)

0,1 30

0,08 25
20
0,06
15
0,04
10
0,02
5
0
0
150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650
150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650
concentração de sulfato de alumínio (mg/L)
concentração de sulfato de alumínio (mg/L)

Figura 4 - Redução da absorvância (cor) e da turbidez em relação à concentração de ozônio


e de sulfato de alumínio, com polímero

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27mgO3/L -Td=4min 180
0,4 27mgO3/L - Td=4min

turbidez remanescente (NTU)


27mgO3/L - Td=7min 160
absorvância (666nm)
0,35 27mgO3/L - Td=7min
140
0,3 7mgO3/L - Td=4min 7mgO3/L - Td=4min
120
0,25 7mgO3/L - Td=7min 7mgO3/L - Td=7min
100
0,2 80
0,15 60
0,1 40
0,05 20
0 0
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550

concentração de sulfato de alumínio (mg/L) concentração de sulfato de alumínio (mg/L)

Figura 5 - Redução da absorvância(cor) e da turbidez em relação à concentração de


ozônio e de sulfato de alumínio, sem polímero

mico pois a dosagem de ozônio é bastan- de decantação, o efluente foi recolhido e ozônio. Os experimentos foram realiza-
te alta, aumentando muito o custo do submetido à ozonização com diferentes dos em descontínuo, observando-se a efi-
tratamento. concentrações. ciência do tratamento quanto à remoção
O ensaio com 7mgO 3/L (com A Figura 5 mostra a redução da cor de cor e turbidez. De acordo com o tra-
polímero) não aparece nos resultados em e turbidez do efluente decantado (7min), balho realizado, concluiu-se que:
razão de problemas ocorridos durante a em relação à concentração de ozônio, com · Os ensaios de coagulação-floculação
sua realização, e por isso foi eliminado. e sem polímero. do despejo industrial determinaram uma
A eficiência de remoção ozonizando Estes resultados mostram que a remo- dosagem bastante alta de coagulante (500
a 7 mgO3/L ou a 27 mgO3/L, é pratica- ção de cor e turbidez para o efluente decan- mg/L de sulfato de alumínio) e que o
mente a mesma, evidenciando que com tado e ozonizado com 7mgO3/L ou mesmo requer também uma grande quan-
uma pequena dose de ozônio seguida de 27mgO3/L é praticamente a mesma, usan- tidade de álcali (600 mg/L de cal) para
coagulação-floculação, pode-se ter uma do ou não o polímero. Porém, o melhor re- manter a alcalinidade necessária para o
boa remoção de cor e turbidez. Uma pe- sultado foi para o ensaio com polímero, no bom desempenho da floculação, porém
quena dose de ozônio não causa uma oxi- qual a eficiência de remoção de cor e turbidez esta dosagem de coagulante é bem me-
dação completa, mas uma oxidação par- foi praticamente a mesma (em torno de nor que a aplicada na própria indústria
cial, podendo facilitar o tratamento pos- 98%), mostrando assim que não há necessi- (800 mg/L).
terior (químico ou biológico). dade de dosagens maiores de ozônio para · A utilização do polímero (não
obter uma boa remoção desses parâmetros. iônico, PRAESTOL 2500), como auxi-
Ozonização do efluente liar de coagulação, fez com que a dosa-
após a coagulação- CONCLUSÕES gem de cal caísse pela metade. A concen-
floculação tração ótima de sulfato de alumínio ficou
Este trabalho apresentou o estudo em 500 mg/L e a de cal em 300 mg/L,
Nestes ensaios o efluente bruto foi de uma alternativa de tratamento para para os ensaios com o polímero. A utiliza-
submetido a ensaios de Jar Test, com os efluentes têxteis, através de processos físi- ção desse polímero não promoveu au-
parâmetros otimizados. Após 7 minutos co-químicos de floculação e oxidação com mentos significativos na eficiência de re-

sem polímero 14 sem polímero


turbidez remanescente (NTU)

0,025
com polímero 12 com polímero
absorvância (666nm)

0,02 10

0,015 8

6
0,01
4
0,005
2

0 0
1,5 2 4,2 7 8,2 27 1,5 2 4,2 7 8,2 27

concentração de O3 (mg/L) concentração de O3 (mg/L)

Figura 5 – Redução da cor (absorvância) e da turbidez para o efluente decantado (7min),


em relação à concentração de ozônio

Vol. 7 - Nº 1 - jan/mar 2002 e Nº 2 - abr/jun 2002 engenharia sanitária e ambiental 35


ARTIGO TÉCNICO MARIA ELIZA NAGEL HASSEMER, MAURÍCIO LUIZ SENS

moção dos parâmetros analisados. SANIN, L. B. B. A Indústria Têxtil e o Meio


· Os ensaios de ozonização demons- Ambiente. Tecnologia e Meio Ambiente. Traba- Endereço para
traram que o ozônio reage rapidamente lho apresentado no XIV Congresso da FLAQT
– Caracas, p.13-34, 1997. correspondência:
com os corantes presentes no efluente têx-
til, permitindo uma descoloração eficaz. SARASA, J., ROCHE, M. P., ORMAD, M.
P., GIMENO, E., PUIG, A. e OVELLEIRO,
· Para esse efluente especificamente, J. L. Treatment of a Wastewater Resulting from
no que se refere a remoção de cor e Dyes Manufacturing with Ozone and Chemical Maria Eliza Nagel Hassemer
turbidez, o melhor tratamento foi a coa- Coagulation. Water Research. v.32, n.9,
gulação-floculação, sem a utilização do p.2721-2727, 1998.
polímero e sem a pré-ozonização, com SIDDIQUI, M. S., AMY, G. L. e MURPHY Centro Tecnológico-Universidade
uma eficiência de 98% e 97% respecti- B. D. Ozone Enhanced Removal of Natural Federal de Santa Catarina
vamente. Organic Matter from Drinking Water Sources.
Water Research. v.31, n.12, p.3098-3106, CEP: 88010-970
1997. Florianópolis, SC
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