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AÇÕES POSSESSÓRIAS NO DIREITO BRASILEIRO

Acerca dos procedimentos especiais, Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2016)


diz: Cada procedimento especial tem a sua peculiaridade, a legislação processual tem de
tratar de cada um deles, expressamente, indicando-lhes as especificidades.

Dentre os diversos procedimentos especiais existentes no direito brasileiro,


tais como: Ação de exigir contas, Ação de consignação de pagamento, Ação de divisão e
demarcação de terras de particulares, Ação possessória e dentre outras. A Ação
possessória trata exclusivamente da posse, tem por finalidade a proteção da posse, a tutela
da posse. O CC/02 trata a respeito do possuidor, diz que: “Art. 1.196. Considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade”.

A ação possessória se dá por meio de três diferentes ações, conhecida por


interditos possessórios, sendo elas: Reintegração de Posse, Manutenção da Posse e
Interdito Proibitório. Fundamentadas nos artigos 560 ao 568 NCPC. A ação de
reintegração de posse, caberá quando ocorrer o esbulho, ou seja, a perda da posse. A ação
de manutenção da posse, caberá em casos quando o dono da posse, sofrer limitação no
pleno exercício da posse, ocorrendo assim turbação da posse, em outras palavras, um
embaraço no livre exercício da posse. Regulamentados no artigo 560 que versa o seguinte:
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho. E o Interdito proibitório caberá quando houver ameaça
efetiva a posse, ou seja, o possuidor ainda não sofreu esbulho ou turbação, mais a indícios
de que irá ocorrer, ele poderá manejar a referida ação antes da concretização do fato.
Exposto no artigo 567 NCPC, que diz:

Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser
molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou
esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao
réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.

Ocorre que nem sempre é fácil distinguir uma ação possessória da outra, em decorrência
disso, o NCPC continuou mantendo o instituto chamado de Fungibilidade entre as ações,
regulamentado no art. 544, caput. Que versa o seguinte:
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.

O artigo acima trata-se da fungibilidade entre as ações, onde é licito ao juiz, conceder
uma ação possessória diversa da que está sendo pedido, se assim entender que houve erro
na ação exposta. Daniel Amorim Assumpção Neves, em Manual de direito processual
civil (2018) diz o seguinte:

“Tendo o autor provocado o poder judiciário para tutelar a sua posse, a


inadequação quanto a demanda possessória, e consequentemente
quanto ao pedido especifico de proteção jurisdicional, não pode servir
de empecilho para a efetiva concessão de tutela protetiva da posse”.

Percebe-se então que o erro ou inadequação de uma ação possessória em relação a outra,
não pode ser considerado empecilho para indeferir uma demanda, podendo o juiz adequar
a ação possessória. Ainda sobre o mesmo raciocínio acima, Daniel Amorim Assumpção
Neves, em Manual de direito processual civil (2018) diz:

“Aquilo que pode parecer um esbulho a um determinando operador,


pode parecer nitidamente uma turbação aos olhos de outro, e mesmo a
ameaça pode ser confundida com as duas espécies de agressões
possessórias. Seria no mínimo injusto e nitidamente incongruente com
a preocupação do legislador em tutelar a posse rejeitar-se a proteção
jurisdicional pela incorreta percepção da espécie de violação ao direito
possessório”.

As ações possessórias no direito brasileiro, possui natureza dúplice ou ação


dúplice, onde há oportunidade tanto para o autor como para o réu alegar que foi ofendido
na sua posse, podendo assim o autor alegar ação possessória no processo judicial, e no
mesmo processo, na contestação o réu alegar que foi ofendido em sua posse, não
precisando valer-se de outra ação ou de reconvenção. Regulamentado no artigo 556 CPC.
Que diz o seguinte: É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua
posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor. Fredie Didier Junior em Curso de Direito
Processual Civil (2015) comenta acerca da ação dúplice:
“As ações dúplices são as ações (pretensões de direito material) em que
a condição dos litigantes é a mesma, não se podendo falar em autor e
réu, pois ambos assumem concomitantemente as duas posições. Esta
situação decorre da pretensão deduzida em juízo. A discussão judicial
propiciará o bem da vida a uma das partes, independentemente de suas
posições processuais. A simples defesa do réu implica exercício de
pretensão; não formula pedido o réu, pois a sua pretensão já se encontra
inserida no objeto do processo com a formulação do autor. É como uma
luta em cabo de guerra: a defesa de uma equipe já é, ao mesmo tempo,
também o seu ataque. A relação jurídica deduzida em juízo poderia ter
sido posta por qualquer das partes e, com a defesa, o réu já exercita a
sua pretensão, sem a necessidade de reconvenção ou pedido
contraposto.

Portanto sobre a mesma linha de raciocínio para entendermos a natureza


dúplice das ações possessórias, há uma jurisprudência a seguir:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


MANUTENÇÃO DE POSSE. CARÁTER DÚPLICE DAS
POSSESSÓRIAS. REINTEGRAÇÃO DE POSSE DO RÉU.
IMPOSSIBILIDADE.

Em razão da natureza dúplice das ações possessórias, é possível


ao réu postular pela proteção de sua posse e pela indenização dos
prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo
autor (art. 556 do CPC). Para obter a medida de reintegração de
posse o réu deve comprovar os requisitos do art. 561 do CPC:
posse anterior, prática de esbulho, perda da posse em razão do ato
ilícito, e data de sua ocorrência. In casu, o réu-agravado, além de
não ter comprovado o pedido de proteção na contestação, não
demonstrou a presença dos pressupostos exigidos pelo art. 561,
do CPC. Revogada a decisão que determinou a reintegração de
posse em favor do réu. DADO PROVIMENTO AO RECURSO,
em decisão monocrática. (Agravo de Instrumento Nº
70075432898, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Marlene Marlei de Souza, Julgado em
31/10/2017).

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