Professional Documents
Culture Documents
1. Introdução
O contexto familiar tem sido identificado como a rede de apoio mais próxima, durante
a infância, e um importante fator de proteção, uma vez que o afeto, a intimidade e a
comunicação, podem ajudar as crianças a manterem a estabilidade e rotina perante a
mudanças e situações de stress a que estão expostas.
São muitos os autores que têm evidenciado claramente que as oportunidades para um
bom desenvolvimento estão, fundamentalmente, dependentes do contexto familiar no
qual a criança cresce.
A figura de vinculação funciona como uma base segura – a criança afasta-se e regressa
para junto dela, periodicamente, para brincar ou estabelecer um breve contacto,
afastando-se novamente para explorar objetos ou interagir com outras pessoas
(Ainsworth, 1967; Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall, 1978; Bowlby, 1971, 1989). De
facto, a segurança das relações de vinculação está frequentemente associada a uma
parentalidade responsiva e sensível.
Estilos Parentais
Conhecê-los e Compreendê-los
Benefícios e Consequências de cada estilo parental
Segundo Darling e Steinberg (1993), não é possível afirmar que determinadas práticas e
estilos são melhores que outros sem considerar o contexto cultural no qual a família
está inserida, bem como as características ecológicas desse contexto (condições físicas
e sociais).
A ligação entre uma vinculação segura e os estilos parentais de Baumrind foi indicada
pela primeira vez por Bowlby (1973), que referiu o estilo democrático como o mais
vantajoso na promoção de uma vinculação segura (Page & Bretherton, 2001). Bowlby
(1973) apontou para a ligação entre as características do estilo democrático e os
comportamentos parentais sensíveis, cooperativos e de aceitação, tidos como
fundamentais nas relações de vinculação seguras (Breterthon, Golby, & Cho, 1997).
Segundo Maccoby (1980, cit. por Lacerda, 2005), aos filhos mais velhos é despendido
menos tempo em contacto direto e aumentam, em frequência, práticas parentais mais
controladoras, de sobre-proteção e/ou rejeição.
Controlo/exigência (demandingness)
Compreensão/apoio (responsiveness)
A exposição da criança a práticas parentais inadequadas (conflitos, violência, coerção)
ou a baixo envolvimento com o pai ou com a mãe constitui fatores de risco para o
desenvolvimento infantil, aumentando a vulnerabilidade a eventos ameaçadores (como
práticas delinquentes, envolvimento com drogas) externos ao ambiente familiar
(Ferreira & Marturano, 2002; Gomide, 2003; McDowell & Parke, 2002; Marturano,
2004).
Competências Parentais
(a) Diálogo;
(b) Expressão de sentimentos de agrado e desagrado;
(c) Expressão de opiniões e a solicitação adequada de mudança de comportamento;
(d) Cumprir promessas;
(e) Entendimento do casal quanto à educação do filho e à participação de ambos os
progenitores na divisão de tarefas educativas;
(f) “Dizer não”, “negociar” e “estabelecer regras”;
(g) “Desculpar-se”.
Segundo Gomide (2006) existem práticas parentais que contribuem para criação dos
estilos parentais e consequentemente para o desenvolvimento social ou antissocial dos
filhos, divididas em dois grupos:
A responsividade
A exigência/controlo
A forma como os pais explicam o certo/errado à criança, expondo o que ela/eles fizeram
bem/mal, promove o desenvolvimento do estilo explicativo (Seligman, 1995). Quando
uma criança faz algo errado e o adulto se zanga e lhe diz “não és capaz de fazer nada
correto”, “és desastrada”, “estás sempre a fazer asneiras”, ensina-lhe a pensar dessa
forma. Deste modo, está a atingir a sua autoestima e autoconfiança, reforçando uma
ideia de desvalorização acerca de si. É importante que, ao chamar a criança a atenção,
esta crítica não culpe a sua personalidade. Não deve usar-se “sempre” ou “nunca”.
As crianças absorvem a maneira como os pais falam sobre si e dos seus problemas
(Seligman, 1995). Uma criança pode ouvir o pai comentar sobre qualquer dificuldade
(“Eu sou mesmo um fraco, sempre fui assim, nunca conseguirei…”) ou pode ouvir o pai
comentar sobre o seu emprego (“Fui promovido, porque sempre trabalhei muito para
isso, sempre consegui o que quis com meu esforço”). Com base nestes discursos, a
criança absorve um modelo explicativo mais otimista ou pessimista e tende a imitá-lo.
Compromisso
Disciplina assertiva
Ambiente emocional
Ambiente físico
Inclusão na família
Confiança mútua
Exemplos positivos
Orientação e instrução
Com base nestes conceitos, o exercício da Parentalidade Positiva envolve mudança,
ajustamento e aprendizagem de competências necessárias à tomada de decisão
parental, perante a compreensão e gestão do comportamento das crianças, permitindo
aos pais uma progressiva confiança na sua própria parentalidade (Fielden & Gallagher,
2008).
A importância da Comunicação
Comunicar é uma tarefa quase tão difícil como ser pai e mãe. É preciso estar atento/a
ao que nos rodeia, prestar atenção ao diálogo que se está a estabelecer, porque o modo
como nos relacionamos com as outras pessoas depende do nosso poder de
comunicação. O importante não é apenas o que nós dizemos, mas o que a outra pessoa
está a entender do que está a ser dito: isto chama-se feedback. Para podermos dar o
feedback de forma adequada devemos escutar ativamente.
Nem tudo aquilo que se diz é facilmente percebido pelas crianças. Muitas vezes, os
nossos gestos e as posturas dizem mais do que as palavras. Em outros casos, a maneira
como dizemos as coisas deixa as crianças confusas, pois os nossos gestos, posturas, tom
de voz entram em contradição com as palavras que dizemos e, sem nos apercebermos,
não estamos a transmitir de forma eficaz aquilo que pretendemos.
A mudança que se deseja produzir nas crianças irá requerer mudanças na comunicação
dos pais com seus filhos. A habilidade de expressar sentimentos positivos e negativos,
ouvir com empatia, fazer e responder a perguntas, admitir erro e pedir desculpas, dar e
pedir feedback e demonstrar aceitação ou reprovação do comportamento dos filhos de
maneira assertiva são muito importantes e promovem o desenvolvimento e a
aprendizagem (Del Prette & Del Prette, 2001). A criança, cujos pais apresentam um
repertório mais desenvolvido de habilidades sociais educativas, desenvolve mais
facilmente a autonomia, competência social, autoeficácia e melhor desempenho
académico (Marturano & Loureiro, 2003; Silva & Marturano, 2002).
O que fazer?
A assertividade
Os pais que criam filhos mais competentes e seguros (os pais participativos) são aqueles
que incentivam o diálogo, compartilham com a criança o raciocínio por detrás da forma
como eles agem e solicitam suas objeções quando ela se recusa a concordar (Baumrind,
1966).
Os adultos que convivem com uma criança nem sempre tomam consciência que a sua
forma de expressão, atuação e incentivo são determinantes para o desenvolvimento
global da criança e das suas escolhas futuras. Por conseguinte, o desenvolvimento da
inteligência e do temperamento de uma personalidade podem ser enriquecidos pela
vivência de um ambiente empreendedor. As crianças têm o direito de serem ouvidas e
levadas a sério, assim como têm o direito era o de mudar de opinião.
Ao filho que se sente amado pelos pais, torna-se muito mais fácil apresentar regras, pois
compreende melhor os valores morais (Grusec, Goodnow & Kuczynski, 2000; Severe,
2000; Weber, 2005). Quando o clima é caloroso e acolhedor as crianças aceitam mais
facilmente as orientações e correções dos pais por saberem que eles estão agindo com
amor e preocupação (Severe, 2000). Os contatos de pele, o abraço, o carinho, beijos,
entre outras manifestações de afeto, são fortes inibidores do desenvolvimento de
comportamentos agressivos. Sidman enfatiza a ideia de que as crianças não precisam
fazer algo especial para obter o amor e proteção de seus pais, ou seja, para que as
crianças se sintam seguras, elas precisam ter certeza de que o amor de seus pais ainda
estará disponível mesmo que não consigam enfrentar uma contingência com êxito.
A importância do Elogio
Para tornar o elogio eficaz deve tentar ser o mais específico possível, isto é, elogiar
descrevendo exatamente o comportamento realizado pela criança. Ao elogiar mostre
entusiasmo, expresse-o com energia, sensibilidade e sinceridade!
Os elogios vagos por não serem tão precisos, não são tão eficazes quanto os anteriores:
Alguns elogios são pouco eficazes porque são desinteressantes, ditos com pouco
entusiasmo, sem sorrisos, nem troca de olhares. Ao elogiar sorria, olhe a criança com
ternura.
O elogio deve ser imediato. Porquê? Porque só é eficaz se for dito nos 5 segundos
imediatamente após o comportamento ter aparecido. Por vezes, o elogio é dado horas
ou dias depois do comportamento positivo ter ocorrido. Quando isto acontece, o elogio
perde toda a sua força e já não tem o mesmo efeito positivo.
Como fazer?
Dê-lhe o direito de ser criança. As crianças não têm de saber tudo, não têm que
ser as melhores em tudo.
Dê atenção às tentativas que a criança vai fazendo (ao fazer um desenho, ao
fazer a cama ou a arrumar os brinquedos) e não só ao sucesso das mesmas.
Em vez de acumular elogios, esforce-se por reparar, por exemplo, quando ele/a
partilha alguma coisa, é bem-educado/a, faz o que lhe pedem, vai para a cama
quando lhe dizem, etc.
É também muito importante incentivar as crianças a elogiar o seu
comportamento e o dos outros. Ao conseguirem fazer isto estão por um lado a
contribuir para a construção de relações positivas com as outras crianças e por
outro estão a aprender a autoelogiar-se. Este tipo de discurso ajuda-as a
tentarem persistir nas tarefas mais difíceis.
Duplique o impacto do elogio. Sempre que houver um comportamento positivo
que possa ser elogiado, se forem 2 pessoas a fazerem-no, duplicam o número de
elogios.
Evite fazer comparações. A intenção até pode ser boa, tentar desafiar as crianças
a conseguirem bons resultados, mas elas entendem estas comparações como a
passagem de um “atestado de incompetência”.
Separe o comportamento da criança. O que está mal é o comportamento, não a
pessoa. Encarar a criança e o mau comportamento como sendo a mesma coisa
é errado, porque a criança pode acreditar que é má e se acreditar nisto tenderá
a confirmar essa imagem com comportamentos maus.
Deve ter-se cuidado com a quantidade de ordens/indicações que são dadas às crianças
num curto espaço de tempo. É habitual que os pais, sem se aperceberem, deem várias
ordens em simultâneo (“Arruma o quarto…Anda cá ajudar-me…Não mexas aí…Leva isto
ao pai”). Dificilmente conseguem lembrar-se de tudo o que lhe diz, por isso, é impossível
conseguirem cumprir tudo o que lhe pede. Uma criança de 4 anos só consegue cumprir
1 ou 2 ordens de cada vez. Por isso, não é aconselhável dar-lhes muitas ordens. Em
contrapartida, nunca chegam a receber um número de elogios equivalente ao número
de ordens que lhe são dadas.
Também é comum os pais repetirem vezes sem conta a mesma indicação, até que a
criança obedeça. Quanto mais vezes repetir a mesma ordem maior a probabilidade da
criança aprender que só deve obedecer à 5.ª ou 6.ª vez.
Por outro lado, os pais, por vezes, fazem pedidos ou dão ordens que os seus filhos, já
estão a cumprir/fazer. Tenha atenção para não repetir uma ordem, quando as crianças
já estão a fazer o que lhes pediu.
Como fazer?
Quando as regras são justas e racionais, a criança aprende facilmente em que condições
certos comportamentos devem ou não ser emitidos, além de saber porque razões
poderá ser reforçada ou punida (Sousa & Baptista, 2001).
Para Matos (2001), o seguimento de regras deve ser reforçado pelos pais, pois uma
criança que aprende a obedecer, sabe respeitar limites, e muitas condutas indesejáveis
podem ser evitadas. Além do reforço necessário para o cumprimento de regras, é
necessário que elas sejam transmitidas com uma linguagem plenamente compreensível
(Cavell, 2000; Matos, 2001; Sousa & Baptista, 2001).
É fundamental reforçar/elogiar quando as crianças cumprem o que lhe fora pedido, pois
irão dar mais atenção aos seus pedidos e aumenta a probabilidade de serem obedientes.
O comportamento não tem de ser perfeito para merecer elogio, ou seja, devem elogiar-
se também as tentativas. Se para serem elogiadas pelo seu esforço, as crianças tiverem
de esperar até conseguirem dominar perfeitamente um comportamento novo, poderão
desistir de tentar fazê-lo. Reforçar o seu esforço e cada etapa faz a criança ter mais
vontade de continuar a perseguir o seu objetivo. Prepara a criança para o êxito!
Por exemplo, em crianças em idade escolar, mais importante do que o resultado que
aparece no teste, é o empenho que a criança teve a estudar.
Deve ser dada grande importância ao uso de reforços positivos. Segundo Sidman (2001),
o reforço positivo é a principal técnica não-coerciva de controlo de comportamento. O
reforço possui duas características: segue uma ação e torna mais provável que a ação se
repita. Sendo assim, os reforços positivos fortalecem as ações que o tenham produzido
(Sidman, 2001).
As relações que os pais estabelecem com seus filhos são permeadas pela necessidade
de cuidar, educar e promover o desenvolvimento deles, resultando num conjunto
característico de comportamentos.
Velar pelos interesses da criança e pelo seu bem-estar implica também respeitar e
apoiar a sua individualidade e as suas ideias, os seus ideais positivos de vida, os seus
sonhos, os seus espaços e tempos, e partilhar as suas alegrias e tristezas proporcionando
uma orientação emocional positiva assente na proatividade, criatividade e na resolução
de problemas, de modo a contribuir para o desenvolvimento de competências que
passam necessariamente pelo desenvolvimento da sua inteligência (cognitiva,
emocional, social e empreendedora) e da harmonia do seu temperamento.
Tente ter uma rotina e conte uma história uma ou duas vezes por semana.
Contar histórias, falar e cantar ajuda o desenvolvimento das crianças. Ao fazer
algumas destas atividades está a ajudar a criança a familiarizar-se com os sons e
as palavras e a contribuir para estimular a imaginação e a curiosidade.
Desligue a televisão ou o rádio e encontre um lugar sossegado para estar com o
seu filho/a: pode ser sentado no sofá, num tapete, na sombra de uma árvore…;
Divirta-se com os/as seus/ suas filhos/as.
Os pais que desenvolvem práticas como discussões calmas, pacíficas e outras
abordagens indutivas em confrontos disciplinares, incutem em suas crianças um
senso de respeito para perspetivas contrastantes e uma crença de que as
disputas podem ser resolvidas através de meios não aversivos.
O uso do reforço positivo, o ensino da resolução de problemas, a supervisão, a
monitoria positiva dos filhos, o incentivo à aquisição de hábitos de estudar para
melhorar o desempenho escolar são habilidades parentais fundamentais para o
desenvolvimento de comportamentos pró-sociais nos indivíduos.
Envolvimento absoluto e relativo do pai e da mãe, e dos dois em conjunto. Nem
sempre o envolvimento dos pais e das mães é semelhante, pelo que, são
apresentados à criança ambientes familiares distintos, muitas vez nada
abonatórios para o desenvolvimento da sua autonomia, enriquecimento pessoal
e felicidade. Pais que não se disponibilizam para estar e conhecer o(a) filho(a) de
forma continua e gratificante para a criança, são estranhos para elas. Nestas
circunstancias, o clima relacional estabelecido não é o apropriado para gerar
desenvolvimento, aprendizagem, confiança, autonomia e criatividade na
criança.
Del Prette e Del Prette (2001) enumeram as seguintes classes de habilidades sociais:
1. Automonitoria;
Problemas de comportamento:
Pais que dão atenção para os filhos apenas quando eles apresentam problemas de
comportamento estão a reforçar os comportamentos inadequados (Sidman, 2001). Se
existem comportamentos inadequados, como agressividade, no repertório
comportamental das crianças é porque estão sendo mantidos por algum reforçador.
Nestes casos, para diminuir a ocorrência de comportamentos inadequados, é necessário
diminuir o reforço e aumentar o custo desses comportamentos (Cavell, 2000). As regras
são também especialmente importantes para o desenvolvimento das crianças, pois
como sujeitos verbais, grande parte de seus comportamentos são adquiridos através de
descrições verbais, apresentadas como regras, e que especificam as contingências do
ambiente da criança. (Castanheira, 2001).
Modelos de Intervenção
Bibliografia
Conte, F. C. S. (2001). Promovendo a relação entre pais e filhos. In M. Delitti (Org.). Sobre
comportamento e cognição: A prática da análise do comportamento e da terapia cognitivo-
comportamental (pp. 161- 168). Santo André: Esetec.
Faber, A. e Mazlish, E. (2011). Como falar para as crianças ouvirem e ouvir para as crianças
falarem. Brasil: Guerra e Paz, Editores S.A.
Fachada, M. (2010). Psicologia das Relações Interpessoais. Lisboa: Edições Sílabo, Lda
Hart, L. A. (1992). A família moderna: Uma reflexão sobre o desenvolvimento de uma relação
madura e saudável entre pais en filhos. São Paulo: Saraiva.
Maccoby, E. E., & Martin, J. A. (1983). Socialization in the context of the family: Parent-child
interaction. In P. H. Mussen (Ed.), Handbook of child psychology. Vol. 4: Socialization,
personality, and social development (pp. 1–101). New York: Wiley.
Urra, J. (2010). Educar com bom senso. Lisboa: A Esfera dos livros
Weber, L. N. D., Viezzer, A. P., & Brandenburg, O. J. (2003). Estilos parentais e desenvolvimento
da criança e do adolescente. Palmadas e surras: ontem, hoje e amanhã. In M. Z. S. et al. (Org.).
Sobre comportamento e cognição: A história e os avanços, a seleção por conseqüências em
ação. (pp. 512- 526). Santo André: Esetec.