Professional Documents
Culture Documents
Amanda Maltezo
Barabara Tormes
Ianael Moreira
Juliana Ladeia
Marcelo Pinheiro Martins2
Pierre Bourdieu se definiu por seguir uma via rechaçada dos métodos tradicionais
aplicados ao estudo sociológico, destaca-se em não seguir regras e ampliando para além das
fronteiras dos temas restritos de sua época. Espraiando-se para uma diversidade de fenômenos
como religião, artes, escola e outras, recusando a todo monismo metodológico e aplicando em
seus estudos vários métodos e técnicas, dentre algumas até então inusitadas e ganhou demasiada
importância no campo da educação.
Mesmo nos dias de hoje, quando a geração atual de sociólogos questiona o suposto
determinismo das análises de Bourdieu, e parte em busca de novos horizontes teóricos
e de novos desafios – como, por exemplo, o de conhecer os “efeitos” do estabelecimento
de ensino, da sala de aula e do professor sobre as desigualdades escolares -, é ainda a
teoria de Bourdieu que constitui sua principal referência. (Nogueira, 2017, p. 11)
E a partir de 1960 esta força se deu por ter apresentado uma resposta fundamentada,
teórica e empírica sobre o problema das desigualdades escolares, tornando-se um marco na
história da Sociologia da Educação e também do pensamento prático educacional mundial.
Até meados do século XX tinha se dado grande credibilidade e otimismo no método
utilizado para promover a igualdade de oportunidades através da escola pública, onde todos
teriam acesso ao mesmo estudo e por meritocracia de maneira democrática, aqueles que se
destacassem entre os demais eram chamados para seguir os estudos e consequentemente esses
seriam oportunizados a ocupar os cargos sociais mais elevados. Após pesquisas, uma nova visão
dessa “igualdade, que talvez oculta”, apontou uma falha, um outro fator, o da influência da
origem social, e que imediatamente sofreu rejeição, avaliado como algo passageiro que se
resolveria com mais investimentos, o que não aconteceu, a partir daí o reconhecimento de
1
Resenha da obra Bourdieu &a Educação. Disciplina de Humanidades, Sociedade e Cultura – Prof. Sebastian
2
Alunos do curso de Psicologia – Faest | 2º Semestre | Matutino
fatores como classe, etnia, sexo, local de moradia, etc, como fatores influenciadores para uma
desigualdade.
A massificação do ensino trouxe efeitos inesperados, estudantes frustrados com caráter
eletivo do sistema de ensino e fato de não alcançar resultados positivos nas questões sociais e
econômicos. Nos anos 60 com o ensino secundário e a universidade da primeira geração,
beneficiada pela expansão do ensino pós-guerra chega a grupos variados, além das elites
escolarizadas e com isso a desvalorização dos títulos escolares. Neste momento Bourdieu tem
sua teoria reforçada, pois toda a decepção das camadas médias e populares, com o efeito
negativo mediante seus anseios de crescimento social e econômico, estes fatores vêm
corroborar sua tese, onde se via igualdade, Bourdieu vê reprodução e legitimação das
desigualdades sociais. Descaracterizando a ideia promissora da educação como forma
democrática de ascensão social através da educação e da reprodução cultural estruturada,
ilusoriamente afirma a neutralidade na educação, apontando poucos casos de sucesso como
justificativa para o seu funcionamento.
O capítulo 1 do livro Bourdieu e a Educação, os autores destacam que a partir da visão
alicerçada em Jean Bourdieu, um desafio é construir uma lógica que supere “as distorções e os
reducionismos associados ao que ele chama ele chama de formas subjetivistas e objetivistas de
conhecimento. Propõe-se então o estudo da sociedade direcionada para o indivíduo, indo além
da analise do sujeito naquele momento e contexto, buscar entender como membros da sociedade
intencionam uma “mecânica” de estruturação. Pois de acordo com a afirmação de Bourdieu,
para se conhecer o mundo social, deve-se estuda-lo a partir da fenomenologia objetivista e
praxiológica, pois afirma que o individuo é condicionado a experiências subjetivas porém
objetivas (os indivíduos não sofrem imposição e vivem em liberdade, porém uma liberdade
imposta mas não determinante”) que os mantém no mundo ilusório, por serem oportunizados
com experiências os mantém neste estado e sendo que esta visão não os permite ir além e a
aceitam como natural. Apenas com o romper desta condição, poder-se-ia alcançar o
conhecimento cientifico do mundo social, pois o subjetivismo condicionado é um sistema
organizador e estruturador do indivíduo na sociedade. Assim a proposta é estudar a estruturação
social organizada e estruturada de forma objetiva.
No entanto, segundo os autores que citam Bourdieu o objetivismo poderia condicionar
o entendimento da construção e estruturação social, como algo guiado por regras, portanto não
forneceria instrumentos conceituais adequados o que poderia levar ao entendimento da
formação social a partir de uma mecânica instituída. Como solução para o subjetivismo e
objetivismo, Bourdieu afirma que o conhecimento praxiológico como um estudo viável, pois
não se atém ao subjetivismo e objetivismo, assim, busca compreender o individuo como parte
da estruturação e organização social, de forma que o sujeito participa deste processo,
interiorizando o exterior e exteriorizando o interior. Aquilo que o indivíduo adquire no convívio
cotidiano é ferramenta de sua própria construção e da construção social. Bourdieu denomina
este fenômeno como Habitus. a partir deste conceito, a reprodução de características e
preferências próprias do indivíduo conforme sua posição social, portanto a vivência e
experiência individual constroe sua subjetividade, não como regra, no entanto o indivíduo
desenvolve uma estrutura duradoura, o habitus, este sendo o alicerce para o seu comportamento
e ação, ressaltando a flexibilidade, portanto estruturando e organizando de forma adaptativa ao
momento da ação, desta maneira da forma que o indivíduo teve sua construção de habitus
relacionado com as vivencias próprias da sua posição social e vindo a ocupá-la e disseminá-la,
passa a reproduzir esta estrutura mesmo sem ter consciência de tal feito.
No mesmo sistema que o indivíduo em sua posição social, adquiri o habitus, que lhe
foi transmitido de acordo com as vivências com sujeitos semelhantes, sem um plano intencional
para essa formação, este mesmo indivíduo reproduz da mesma maneira o que lhe foi ensinado.
O segundo capítulo, inicia expondo a ideia de que o indivíduo não tem consciência de
como ocorre a organização e estruturação social, os autores afirmam que isso não ocorre de
forma mecânica ou autônoma, mas sim de através do habitus. Uma visão dos simbolismos
(religião, cultura, artes, ...) diferente de outros autores, Bourdieu faz uma síntese de outras
teorias, descartando em partes e assumindo e outras, também formando sua visão da influência
destes símbolos nas posições sociais, enquanto Durkheim define que sistemas simbólicos são
estruturados para estruturar, Lévi-Strauss define que a organização social acontece em função
destes sistemas e por Marx, os sistemas simbólicos atuam com propósito de dominação social.
Bourdieu faz oposição a teorias como de Marx no que se refere a mecanismo de dominação,
porém reconhece como instrumento de comunicação e produtora de sentidos, além de afirmar
que são mais do que instrumentos de legitimação de poderes de uma classe social, contrapondo
está ideia, diz que estes sistemas são auto-suficientes e auto-geradas, que as características
geradas por essas produções atendem a interesses de uma classe ou subclasses, além de atender
também os interesses de quem a produz e atende a lógica de um campo de produção.
Posicionado entre as duas vertentes, a de dominação intencional e algo natural,
Bourdieu define os sistemas simbólicos como forma de dominação, porém não de maneira
intencional, mas que isto acontece naturalmente. As produções simbólicas podem serem aceitas
e assumidas por um grupo, e Bourdieu aponta para a produção realizada por um grupo de
especialista de um campo relativamente autônomo. Com o crescimento da sociedade e com uma
configuração complexa do trabalho, algumas atividades são dominadas de forma relativamente
natural, porém os indivíduos envolvidos nestas atividades passam a lutar pelo controle desta
produção.
[...] indivíduos envolvidos passam, então, a lutar pelo controle da produção e, sobretudo,
pelo direito de legitimidade classificarem e hierarquizarem os bens produzidos.
(NOGUEIRA, 2017, p. 31)
REFERÊNCIA
NOGUEIRA, Maria Alice & NOGUEIRA, Claúdio M. Martins. Bourdieu & a Educação, 4.
ed.; 2 reimp. - Autêntica Editora, 2017.