INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (ICS) DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
NADINE MACHADO TUTUNJI
RESENHA CRÍTICA: BOURDIEU, Pierre. (2002). Sobre o Poder Simbólico.
Bertrand Brasil, pp. 7-16.
Resenha crítica apresentada como quesito
parcial de aprovação na disciplina “Antropologia da Arte”, do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Profº: Dr. Marcos Albuquerque.
RIO DE JANEIRO 2019 1) Resumo da obra
“O Poder Simbólico” de Pierre Bourdieu está intimamente ligado às teorias
ocidentais modernas. Sua âncora de ideias é composta por um extenso conjunto de teóricos franceses, alemães, britânicos e norte-americanos. No entanto, é a trindade da Sociologia (Marx, Durkheim e Weber) que vai tecer o arranjo teórico desta obra que inaugura os conceitos fundamentais de Pierre Bourdieu: habitus, campo e capital cultural.
Escrito a partir de um balanço de uma série de pesquisas sobre simbolismo em
uma conferência acadêmica de Chicago em 1973, a obra de Bourdieu está refletindo sobre questões que tocam a existência humana, como o poder simbólico e os sistemas simbólicos estruturantes e estruturados nas sociedades. Este poder invisível, do ponto de vista do autor, se edifica nas relações sociais entre os sujeitos, que carregam vontades e interesses capazes de se fazer mobilizar, dominar e controlar outros entes. A chave de reflexão sociológica que dá identidade à obra está justamente na afirmação de que o poder simbólico é um poder de construção da realidade (pp. 9), que se estabelece em sistemas simbólicos de estruturas dominantes e sistemas ideológicos no jogo do monopólio da violência simbólica legítima.
2) Perspectiva Teórica da Obra
A tríade da Sociologia presente na obra de Bourdieu se encarrega do pilar que dá
sustentabilidade a sua perspectiva teórica. Este pilar pode ser visualizado basicamente a partir das referências que o autor compõe em seu estudo: Marx está muito presente na obra quando Bourdieu toca na questão da cultura dominante, quando diz que as produções simbólicas funcionam como instrumentos de dominação, desmobilizando as classes dominadas e legitimando a ordem estabelecida através de hierarquias, que podem ser lidas como distinções. Max Weber aparece na obra de Bourdieu para compor o arcabouço teórico que vai formular o conceito de campo. A partir da leitura sobre a “domesticação dos dominados” de Weber, Bourdieu vai destrinchar a ideia por trás da dinâmica da cultura dominante, ou seja, como o caráter relacional dos agentes que disputam o poder no campo estruturado se realiza e determina as interações e representações. Neste caso, Weber contribui para a obra, quando Bourdieu vai fundamentar a ideia de campo como estrutura estruturante e estruturada que se realiza nas diversas formas de poder na dinâmica da cultura. Já Durkheim revela-se na obra de Bourdieu quando toca na sociologia das formas simbólicas, onde foi o pioneiro nesta discussão, trazendo a ideia de que as formas de classificação, em sua qualidade transcendental, equivaleriam às formas sociais alinhando com a teoria de Panofsky, onde as formas sociais são produto da própria sociedade e relativas a um grupo social específico, que neste caso, se configuraria como formas sociais arbitrárias. Nota-se que a construção do corpo teórico de “O Poder Simbólico” está inculcada na integração de tradições teóricas historicamente incompatíveis, porém sua abordagem efetivamente sintética de tradições teóricas distintas permitiu a ampliação da pesquisa empírica dentro das Ciências Sociais, abrindo o leque de ferramentas de análise e se fazendo entrelaçar num movimento uníssono, dando forma e fundando a perspectiva bourdieusiana.
3) Principais teses desenvolvidas na obra
- o poder é uma espécie de circulo cujo centro está em toda a parte e em parte alguma pp. 7 - o poder simbólico é um poder de construção da realidade p.9 - é nas relações sociais que o poder simbólico é forjado e mobilizado. -