Resumo do capítulo 1 do livro The retreat of the state, de Susan Strange
No capítulo 1 de seu livro, intitulado “The declining authority of states”, Susan
Strange sustenta a tese de que o poder dos Estados está diminuindo cada vez mais, e as percepções dos cidadãos comuns são mais confiáveis do que as pretensões de seus líderes. Por isso a autora considera que é hora de reconsiderar algumas ideias já entranhadas na teoria acadêmica sobre economia e ciências sociais, pois em seus estudos sobre política econômica internacional Strange se interessou por temas particulares dessas áreas, como os limites da política como atividade social, a natureza do poder na sociedade, a necessidade de autoridade em uma economia de mercado e a natureza anárquica da sociedade internacional e comportamento racional dos estados como atores unitários dentro dessa sociedade, percebendo que as visões sobre esses temas na teoria tradicional não consideram as mudanças ocorridas a partir da Guerra Fria. Dessa forma, para a autora, as forças impessoais do mercado mundial são integradas no período pós-guerra mais por empreendimentos privados do que por decisões governamentais, fazendo com que a autoridade política da sociedade e economia seja dada por esses empreendimentos. Apesar disso, parece que a autoridade dos Estados vem aumentando, paradoxo que a Strange explica argumentando que a necessidade de autoridade política é a principal razão da existência de um Estado, porém o mesmo não tem tido capacidade de prover as necessidades sociais básicas constantemente. O argumento do livro depende muito da mudança tecnológica como causa principal da mudança de equilíbrio de poder entre estado e mercado. Com o desenvolvimento tecnológico, especialmente na área militar, foi arruinada uma das principais razões para a existência do Estado: sua capacidade de defesa do território. Ao mesmo tempo, a tecnologia teve efeitos na vida cotidiana da população, com avanços em áreas como medicina e no trabalho doméstico. Outro ponto relevante decorrente do desenvolvimento tecnológico é a mudança quanto a importância de conquistar territórios. Atualmente perder território não significa perder poder, pois a competição por participação em mercados substituiu a competição por território. Outra parte importante do argumento central do livro de Strange é que, além da mudança tecnológica, há um aumento do custo do capital na maior parte das inovações tecnológicas, fazendo com que haja um incremento de capital ao mesmo tempo em que há uma queda do fator trabalho. Esse aumento de custos também é importante por mais um fator, que tem relação com uma mudança no sistema mundial: o custo de produção das novas tecnologias destacou a importância do dinheiro na economia política internacional. Para a autora, as mudanças na estrutura financeira global devem ser levadas em consideração pois causam transformações no volume e natureza do crédito pela economia de mercado capitalista, bem como a mobilidade criada nos anos recentes cria esse crédito. A oferta de capital para financiar as inovações tecnológicas tem sido tão importante para a economia política internacional quanto a demanda por dinheiro dos empreendedores para produzir bens mais sofisticados através do aumento de capital intensivo no processo de produção. Levando tudo isso em consideração, Strange tece uma crítica às teorias sobre oferta e demanda, onde o comportamento do governo não muda e cria como se fosse um vácuo político, não fazendo uma relação entre a dinâmica do sistema financeiro, a demanda pelo lado das firmas e a intervenção política governamental. Para finalizar o capítulo, a autora menciona que existem três premissas que sustentam a argumentação principal do livro, sobre a decadência de poder dos Estados. A primeira é que política é uma atividade que não é restrita aos políticos, mas sim da comunidade; a segunda é que o poder sobre os resultados é exercida impessoalmente pelo mercado e a terceira é que a autoridade da sociedade e das transações econômicas é exercida legitimamente por agentes diferentemente dos Estados, e tem que ser livremente reconhecida por aqueles que estão sujeitos a isso.