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INTRODUÇÃO
Este estudo inicia-se com algumas questões: Que relação de poder o Estado
quis estabelecer com a inclusão da participação popular na gestão da coisa
pública? O que quis o legislador quando possibilitou juridicamente a
participação popular nas decisões dos governantes? Como se colocam os
indivíduos quando suscitados por procedimentos ao regime democrático
participativo?
Para elucidar estes questionamentos, propõe-se partir da contextualização da
entidade estatal, buscando de forma sucinta na origem do Estado, motivos de
sua existência, para através da identificação de suas funções, esclarecer a
diferença entre elementos da função executiva, quer sejam o governo e a
administração propriamente dita e, por fim neste contexto ressaltar a finalidade
do Estado, que é o bem da coletividade, ou seja, que as ações e decisões
tomadas pelo Estado ou quem o represente tem que estar de acordo com o
interesse público.
Importante entender a dimensão jurídica da democracia participativa no Brasil,
apontando os preceitos constitucionais que fundamentam e apresentam a
questão da participação como condição de cidadania e direito, assegurada
positivamente nas esferas política e administrativa à população.
Por fim, traz-se o assunto empoderamento, embora não se pretenda esmiuçá-
lo, como conseqüência qualificada e válida oriundo da democracia e da
participação popular, para a percepção das mudanças na sociedade, face a
inovadora postura que vem adotando o cidadão, sob este enfoque.
1 Estado: contextualização
É da natureza do homem a sociabilidade. Viver em comunidade é condição
para sua sobrevivência e desenvolvimento. Em contato com outros seres
humanos se aperfeiçoam os aspectos da cultura, política, trabalho, lazer e
individuais (virtudes), bem como fazem surgir novas necessidades da vida
comum (sociedade).
O Estado surge a partir do homem e por via de conseqüência, com a sua
evolução ao longo dos séculos e a necessidade de manter-se agregado,
aperfeiçoou valores, repassou-os aos entes associativos que faziam parte, com
o escopo de encontrar a convivência harmoniosa, paz e a felicidade, ideais e
anseios estes que foram transportados, e ainda hoje há esta exigência de
conformação do Estado ao homem e deste àquele, à unidade maior de
organização.
O termo Estado, que deriva do latim, status (estado, posição, ordem, condição),
significa situação permanente de convivência ligada à sociedade. Para De
Plácido e Silva (1991, p. 205) “[...] é o agrupamento de indivíduos,
estabelecidos ou fixados em um território determinado e submetidos à
autoridade de um poder público soberano, que lhe dá autoridade orgânica”.
Afirma ainda que Estado “[...] é a expressão jurídica mais perfeita da
sociedade, mostrando-se também a organização política de uma nação, ou de
um povo”.
Longe de precisar a definição do que seja o Estado face a sua complexidade,
ater-se-á simplesmente a tecer algumas considerações acerca de sua origem,
pois é o que interessa para o desenvolvimento deste artigo.
Observa-se que o Estado vem evoluindo no decorrer dos tempos, desde a
Polis grega e a Civitas romana. Denominado como tal, era simplesmente
desconhecido até o início da Idade Média, sendo que eram usadas as
seguintes expressões para conceituá-lo: rich, imperium, land, terrae entre
outros. A Itália consta como o primeiro país a utilizar o termo Stato; em seguida
a Inglaterra, a França e a Alemanha, utilizaram o termo Estado para definir a
ordem pública constituída . Contudo, foi com Maquiavel, o criador do direito
público moderno, quem definitivamente introduziu a expressão Estado na
literatura científica. (MALUF, 1995, p. 19).
Surge assim a imperiosa necessidade de que o agrupamento social institua
mecanismos que controlem este Estado primitivo de autotutela e livre arbítrio.
Neste contexto aparece a figura do Estado, definida por Bobbio (1987, p. 73):
O Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da
dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da
formação de comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos
familiares por razões de sobrevivência interna (o sustento) e externas (a
defesa). [...] O nascimento do Estado representa o ponto de passagem da
idade primitiva, gradativamente diferenciada em selvagem e bárbara, à idade
civil, onde „civil‟ está ao mesmo tempo para „cidadão‟ e „civilizado‟ (Adam
Ferguson).
A transformação das sociedades pré-estatais para uma sociedade civil significa
a organização dos indivíduos além dos grupos meramente familiares ou de
produção, para uma congregação governada por regras escritas. Inserindo-se
nesta nova modalidade de organização, o homem abre mão da sua liberdade
em favor de uma organização governada pela vontade coletiva, denominada
Estado.
Verifica-se que o surgimento do Estado liga-se também ao estabelecimento de
uma ordem social para os grupos humanos que se formam à partir da
expansão do associativismo, opondo-se ao individualismo. Esta ordem social
não se restringe às pessoas que compõem o conjunto social; abrange, no
entender de Pallieri (1969, p. 77), o aspecto geo-político. Afirma o autor que “O
Estado não aparece para regular as relações sociais de alguns em vez das de
certos outros, mas, fundamentalmente, para regular as relações sociais que se
desenvolvem num dado território.” (PALLIERI, 1969, p. 77).
1. 2 Funções do Estado
3 Democracia participativa
4. Empoderamento
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NOTAS DE RODAPÉ
1 Na história Aristóteles é considerado o precursor do estudo das funções do
Estado, em seguida Montesquieu foi quem expôs a teoria da tripartição das
funções independentes entre si em Executivo, Legislativo e Judiciário.
(STRECK; MORAIS, 2000, p. 152). Segundo Duguit, dando ênfase ao acto
jurídico, o qual pode ter as formas de acto-regra, acto-condição e acto
subjectivo, assim se classificam as funções do Estado: a) função legislativa,
condiz com a prática de atos-regra; b) função administrativa, condiz com
prática de atos-condição, atos subjetivos e das atividades dos serviços públicos
e, c) função jurisdicional, visa a resolução e decisão de questão de direito que
lhe é submetida. E Kelsen, que afirma: “toda a função do Estado é uma função
da criação jurídica: o processo evolutivo e graduado da criação normativa”.
Consubstancia-se na teoria da pirâmide das normas, assim constituída: 1º (no
vértice) Constituição; 2º (em seqüência e abaixo) leis e, 3º ( na base) decisões
judiciais e administrativas. (STRECK; MORAIS, 2000, p. 149-157).
2 Para Martins Filho (2000, p. 10): “Para se formar um conceito de bem
comum, necessário se faz conjugar 5 noções básicas: finalidade, bem,
participação, comunidade e ordem. a) Finalidade é o objetivo para o qual tende
o ser e que o move por atração (causa final, que melhor explica o ser). b) Bem
é aquilo que apetece a todos, atraindo como um fim a ser buscado. c)
Participação é ter uma parte de um todo (concepção material), ou ter
parcialmente o que outro tem totalmente (concepção espiritual). d) Comunidade
é a comunhão existente entre os que participam de um mesmo bem e possuem
uma finalidade comum. e) Ordem é a hierarquia entre seres distintos
(subordinação de uns em relação a outros), que têm algo em comum
(participação de uma mesma natureza ou fim).”
4 Segundo Lima (apud MARTINS FILHO, 2000, p. 5).: “A alma do Bem Comum
é a Solidariedade. E a solidariedade é o próprio princípio constitutivo de uma
sociedade realmente humana, e não apenas aristocrática, burguesa ou
proletária. É um princípio que deriva dessa natureza naturaliter socialis do ser
humano. Há três estados naturais do homem, que representam a sua condição
ao mesmo tempo individual e social: a existência, a coexistência e a
convivência. Isto vale para cada homem, como para cada povo e cada
nacionalidade."
5 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
6 Reporta-se no estudo unicamente no sentido de esclarecer a espécie de
interesse público primário ou geral, sendo que se usa a terminologia interesse
público para referir-se a esta espécie. Contudo, esclarece-se que
hodiernamente, no Direito Moderno, face ao aumento das necessidades
decorrentes das relações sociais, identificam-se três espécies de interesse
público: primário ou geral, difuso e coletivo. Pazzaglini (2000, p. 39-40)
diferencia estas espécies de interesse público nestes termos: “O interesse
público primário, ou geral, diz respeito a toda a sociedade (v.g. isonomia de
direitos; liberdade de pensamento, de crença religiosa, de reunião, de exercício
de qualquer trabalho, ofício ou profissão; inviolabilidade da intimidade, da vida
privada, da honra, da casa, da correspondência e de dados; boa gestão da
Administração Pública; direitos sociais ao trabalho, segurança e previdência). O
interesse Público difuso, outrossim, atinge um número indeterminado de
pessoas, sem vínculo jurídico de agregação entre elas, diante de fatores
indivisíveis ou essencialmente genéricos, tais como ambiental (v.g., poluição
atmosférica, sonora, de resíduos sólidos, de mananciais e de recursos
hídricos); urbanístico (v.g., ocupação desordenada ou desconforme do solo,
loteamentos clandestinos, especulação imobiliária); de probidade administrativa
(v.g., desmandos no trato do patrimônio público ou na prestação de serviços
públicos essenciais); de educação (v.g., não acessibilidade de todos ao ensino
fundamental gratuito, diversidade de condições para admissão a outros níveis
de ensino); de saúde (v.g., desigualdade de acesso às ações e serviços de
saúde), do consumidor (v.g., publicidade enganosa). [...] O interesse público
coletivo, que não pode contratar com aqueles, refere-se a categorias
específicas de indivíduos, a determinados segmentos da sociedade, em função
de uma relação ou vínculo jurídico comum que os congrega, tais como partidos
políticos, sindicatos, associações profissionais, consumidores de certos
produtos (v.g., reajuste de aposentadoria ou do sistema financeiro da
habitação, progressividade da contribuição previdenciária aos funcionários
públicos, cobrança abusiva de mensalidade escolar, planos de saúde
discriminatórios, irregularidades de consórcios ou de fornecimento de cartões
de crédito).”