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10° período B

Ana Letícia Rohden, Gabriela Vitoria


Lovatel Coelho, Giuliane da Silva
Pereira, Tiago Silveira de Oliveira.

REFORMA AGRÁRIA

1 INTRODUÇÃO

Considerada por muitos como uma forma de intervenção do Estado na


propriedade privada, a reforma agrária, prevista na Lei 8.629/93, conceitua-se de
modo geral como um método de distribuição justa de terras em um determinado
território.
Analisando de maneira histórica a divisão de terras no Brasil perpetuou-se de
maneira equivocada e desigual, em que uma grande parcela de terras pertence aos
latifundiários, onde por vezes espaços permanecem sem utilização, enquanto uma
gama da sociedade continua sem lugar para morar ou plantar, prejudicando sua
subsistência.
Nesse cotejo, objetivando a diminuição da desigualdade de posse, a reforma
agrária tem como procedimento a compra ou desapropriação pela União de latifúndios
particulares inutilizados, sob a figura do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária), com a posterior distribuição e loteamento entre famílias menos
favorecidas, fornecendo inclusive insumos e fontes para que iniciem o aproveitamento
das terras.
Sendo assim, notável o debate e os entraves causados pelo procedimento e
pelo objetivo da reforma agrária no país, visto que os mesmos latifundiários que
possuem terras em longa escala também detém forte representação no cenário
legislativo brasileiro, com intervenções diretas nos projetos de lei e por conseguinte
com interferência no que deve ser um meio de distribuição justa e humana de
propriedade.
Busca-se no presente trabalho a análise da reforma através dos movimentos
sociais e uma visão crítica no que tange a reforma.
2 MOVIMENTOS SOCIAIS E REFORMA AGRÁRIA

Os movimentos sociais fazem parte da sociedade desde os primórdios. Com a


evolução do ser humano e o aprimoramento das questões relacionadas a coletividade
vários grupos foram se formando e lapidando suas funções e temas de debate.
No Brasil muitos são os movimentos sociais que se manifestam em prol do ser
humano e por vezes em favor das minorias.
Neste momento, passa-se a análise dos principais movimentos sociais
relacionados à reforma agrária.

2.1 MOVIMENTO SEM TERRA

O Movimento sem terra, popularmente conhecido como MST, trata-se do


principal movimento social de luta pela implementação da reforma agrária. É uma
organização criada na década de 1980, com o intuito principal de organizar um grupo
camponês para se unir em favor da luta pela terra e pela reforma agrária, além de
alavancar as transformações sociais que se faziam necessárias para o país1.
A contrário do imaginado por grande parte da população o MST não luta por
terras em particular, mas sim pelo fim da concentração fundiária, a qual prejudica em
muito a sociedade como um todo, representando uma marcha dos camponeses pela
posse de terras.
Além de ser o maior movimento social pró reforma agrária também é a maior
concentração sólida de articulação meios para a divisão de terras e luta contra o não
cumprimento da lei de reforma agrária pelo Estado, o que gera em diversas vezes a
utilização de meios próprios para a tomada de posse, o que acaba por contribuir para
conflitos no campo.
Sendo assim, o MST busca a implementação de reforma agrária e sua
efetivação, sem alterações de texto pelo legislativo de maneira a prejudicar e afastar
o objetivo central da ação.

1
O MST. Reforma Agrária no Brasil. Disponível em <http://reforma-agraria-no-brasil.info/o-
mst.html>. Acesso em 12/05/2019
2.2 POVOS INDÍGENAS

Os povos indígenas vêm sofrendo um genocídio histórico há mais de 50 anos.


Apesar de possuírem “reservas” indígenas demarcadas, estas são muitas vezes
desrespeitadas.
Os Estados que os indígenas lutam pela demarcação são: Amazonas,
Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais,
Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul e Tocantins.
A violência é a principal característica que marcou a luta pela terra no Brasil. O
Conselho Indigenista Missionário (CIMI) defende os povos indígenas afetados por
essa violência na luta pela terra.
A violência subiu de 30 para 50 em 2015. Em Rondônia 20 pessoas foram
assassinadas e no Pará foram 19. Já as tentativas ficaram entre 59 e as ameaças de
morte somaram 144. Os afetados são indígenas, quilombolas, posseiros, sem terra,
ambientalistas, trabalhadores rurais, entre outros.

2.3 OS QUILOMBOLAS

O povo negro brasileiro luta pela sua sobrevivência desde o período escravista.
Os quilombos, que estiveram nesse período organizados em todo território nacional
são símbolo da resistência. Hoje os “remanescentes” de antigos quilombos
constituem-se em comunidades rurais formadas por descendentes de negros
escravizados ou não. Segundo a Fundação Cultural Palmares foram certificadas 1.342
comunidades quilombolas entre os anos de 2004 a 2009 em todas as regiões do
Brasil.
Os quilombos se inserem nos debates a respeito da Reforma Agrária. Nesse
ponto, uma das principais conquistas dos quilombos foi a aprovação do art. 68 do Ato
de Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal, que garantiu aos
quilombos propriedade e titulação de suas terras:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva,
devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.2

Apesar da conquista, o artigo 68 trouxe discussões a respeito de quem são os


beneficiários da lei. Isso porque o legislador se referiu aos quilombos
“remanescentes”: aqueles que restaram dos formados no período da escravidão.
Ocorre que há muitas comunidades quilombolas que não foram formadas a partir
desse contexto e a lei não as contempla. Assim, a discussão permanece e várias
comunidades sofrem com as demarcações de terra.3
Nesse sentido, autores passaram a estudar o conceito de quilombo e
entenderam que não há mais como defini-lo da mesma maneira que se era feito
anteriormente. Para de adequar a realidade, de tal forma a incluir o maior número de
comunidades negras e rurais, o termo quilombo passa a ser entendido não como
aquilo que restou da história, mas como um povo que possui suas tradições e a utiliza
para se consolidar num território. Como define Aldemir Fabiani:

(...) o termo quilombo não se refere a resíduos ou resquícios


arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica.
Também não se trata de grupos isolados ou de uma população
estritamente homogênea. Da mesma forma, nem sempre foram
constituídos a partir de movimentos insurrecionais ou rebelados, mas,
sobretudo, consistem em grupos que desenvolveram práticas
cotidianas de resistência e reprodução de seus modos de vida
característicos e na consolidação de um território próprio.4

Assim, os quilombos contemporâneos são comunidades que preservam laços


de parentesco e vivem em sua maior parte de culturas de subsistência, em terras que
foram doadas, compradas ou ocupadas secularmente pelo grupo. Os habitantes
dessas comunidades valorizam as tradições culturais dos antepassados como
também as tradições religiosas ou não, recriando tais práticas no presente. Possuem
uma história comum e têm normas de pertencimento explícitas.

2
Disposições Constitucionais Transitórias. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/conadc/1988/constituicao.adct-1988-5-outubro-1988-322234-
publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 12/09/19.
3
GARCIA, M. F. MONTEIRO, K. dos S. Dos territórios de reforma agrária à territorialização quilombola:
o caso da comunidade negra de Gurugi, Paraíba. Revista Pegada Eletrônica, Presidente Prudente, vol.
11, n. 2, 31 dezembro 2010. Disponível em: . Acesso em: 12/05/19.
4
FIABANI, Adelmir. Mato, palhoça e pilão: o quilombo da escravidão às comunidades remanescentes
(1532- 2004). 1.ed.São Paulo: Expressão Popular, 2005. p. 390
No que tange a Reforma Agrária e demarcação de terras, dessa maneira os
grupos devem ser entendidos. Sob a perspectiva de um conceito atual e que inclua as
comunidades, dando real solução para o problema.

3 PONTOS CRÍTICOS DA REFORMA NO BRASIL

Do ponto de vista dos críticos, a principal controvérsia originada da política de


reforma agrária, é o fato de que quase metade dos assentamentos depender de ajuda
assistencial do Estado para se perpetuarem. Segundo matéria veiculada pela Globo 5,
não se realizou o sonho da redenção social por meio da divisão de terras. Foram
distribuídos 87 milhões de hectares, 10,8% do território nacional, e, mesmo assim,
metade dos assentados não sobrevive sem a ajuda assistencialista do Estado.

Apesar da função social visada pela reforma agrária, ela se caracteriza por
adotar o modelo de agricultura familiar na produção, este modelo, conforme definição
legal6, é definido como "aqueles que praticam atividades no meio rural, possuem área
de até quatro módulos fiscais, mão de obra da própria família e renda vinculada ao
próprio estabelecimento e gerenciamento do estabelecimento ou empreendimento por
parentes.". Uma dos contrapontos apresentado7 pelos grandes latifundiários, é que as
fazendas industriais são maiores e mais eficientes, pois podem adquirir maquinário
mais moderno, produzir em escalas muito maiores, conseguem fazer uso do
monocultivo, produzir o mesmo grão repetidamente, e a consequência disso é que
são capazes de vender a sua produção por um preço muito maior, ou seja, acaba
atingindo a sua função social. Os avanços tecnológicos da agricultura e a urbanização
do país, jogaram a reforma agrária na lata de lixo da História.

A reforma agrária, é vista hoje como uma das bandeiras mais caras da
esquerda brasileira, no governo Dilma o número de assentamentos caiu bastante, os

5 Editorial A COMPROVADA FALÊNCIA DA REFORMA AGRÁRIA , publicado pela plataforma O


GLOBO, disponível em <https://oglobo.globo.com/opiniao/a-comprovada-falencia-da-reforma-agraria-
7740531> acesso em 13/05/2019
6 Definição legal trazida pelo Art. 3° da Lei 11.326/2006, Estabelece as diretrizes para a formulação

da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais., disponível


em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm> acesso em
13/05/2019
7 Editorial What’s better for the world: local farms or large agribusiness?, da imprensa

estrangeira, veiculado pelo GLOBAL CITIZEN, disponível em


<https://www.globalcitizen.org/en/content/whats-better-for-the-world-local-farms-or-large-ag/> Acesso
em 13/05/2019
números oficiais8 refletem a desaceleração: a média anual de famílias assentadas por
FH foi de 67.588; Lula, 76.761, e Dilma, apenas 22.552. A justificativa apresentada
pelo próprio governo, foi de que estes assentamentos estão virando “quase que
favelas rurais” nas palavras9 do Ex-ministro Gilberto Carvalho, conhecido por ser um
militante da reforma agrária, com credibilidade para analisar de forma crítica a reforma
agrária. Esta favelização de assentamentos é constatada nas estatísticas, pelo dado
de que 36% das 945.405 famílias assentadas (ou 339.945) sobrevivem do Bolsa
Família, por terem renda abaixo do limite divisor da miséria. Se forem consideradas
famílias assentadas inscritas no Ministério de Desenvolvimento Social para receberem
algum tipo de benefício assistencial, o número sobe para 466.218, ou 49% do total.

Um outro ponto crítico da reforma agrária, é o fato de a classe política estar


usando estes movimentos sociais como verdadeiro curral eleitoral, pois prometem
resultados fantasiosos inalcançáveis, se elegem e se mantêm no poder por décadas,
sempre renovando esses sonhos e mesmo cientes de sua inviabilidade política e
estrutural, nunca são transparentes com seu eleitorado, e está no seu melhor
interesse que estas reformas nunca se efetivem por completo, pois só assim vão
manter os movimentos sociais como refém de suas candidaturas.

4 CONCLUSÃO
Não obstante aos temas polêmicos gerados pela Reforma Agrária, o intuito da
referida ação governamental possui condão humanitário e inicialmente desvinculado
de crenças ideológicas, com a intenção principal de distribuição e oferecimento de
subsistência para pessoas menos agraciadas de fontes monetárias.
A presente análise tem temas teve como objetivo esclarecer qual a visão dos
movimentos sociais sobre a reforma, como interferem em sua atuação e quais os
impactos das mudanças legislativas no cenário atual, com conseguinte avaliação dos
pontos críticos da reforma.

8 Dados veiculados pela plataforma G1, em São Paulo e em Brasília, Editorial Dilma assentou
menos famílias que Lula e FHC; meta é 120 mil até 2018, de autoria de Thiago Reis e Renan
Ramalho, disponível em <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/dilma-assentou-menos-familias-
que-lula-e-fhc-meta-e-120-mil-ate-2018.html> acesso em 13/05/2019
9 BRASIL247, uma das mais conhecidas plataformas de esquerda nos dias atuais,

“ASSENTAMENTOS VIRARAM QUASE FAVELAS RURAIS” de Danilo Macedo, disponível em <


https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/93098/%E2%80%9CAssentamentos-viraram-quase-favelas-
rurais%E2%80%9D.htm> Acesso em 13/05/2019

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