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1. INTRODUÇÃO
Essa Teoria teve origem no tratado de Franz Von Liszt no século XIX após o
período do Absolutismo Monárquico que vigorou até o fim do século XVIII. No período do
absolutismo, as pessoas estavam submetidas ao império de um só indivíduo, e a partir de
então, as pessoas passaram a estar submissas às “ordens” do império da lei.
É de notável importância compreender o contexto histórico em que essa teoria surgiu, pois
havia certo temor de que a desigualdade e o poder concentrado na mão de uma pessoa voltasse a
vigorar, por isso seguiam rigorosamente a lei e tão somente a lei ao pé da letra.
Fernando Capez (2012, p. 117) à respeito do rigoroso respeito à lei, onde não existia
nenhum tipo de interpretação preleciona: “O lema da lei era: lei se cumpre, não se discute, nem se
interpreta. Vale o que está escrito.”
A interpretação da lei era algo perigoso e subversivo, pois acreditavam que era uma forma
de tentar substituir as regras objetivas (a lei), pelas regras subjetivas do raciocínio de um só indivíduo,
podendo caracterizar o retorno do absolutismo. Para essa teoria, a ação é considerada um puro fator de
causalidade, uma simples produção do resultado mediante o emprego de forças físicas.
Nos termos desta teoria, crime é somente e tão somente aquilo positivado na lei, não importando se a
conduta tem ou não conteúdo de crime. Não importa se o agente quis, ou se tinha ou não culpa no
2) Antijuricidade: Uma vez cometido um fato típico, automaticamente já presume que este
seja antijurídico, pois se apresenta como consequência inerente à tipicidade, salvo quando
ocorrer uma das causas excludentes de ilicitude previstas em lei (v.g., legítima defesa, estado
de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito).
Embora muitas ideias elaboradas pelos clássicos sejam defendidas até hoje, a
conduta segundo a teoria clássica foi alvo de várias críticas, que levaram a um
aperfeiçoamento da dogmática penal. O positivismo dogmático dos clássicos não permitia uma
discussão do conteúdo das normas. Fernando Capez (Op. cit., p.118) diz que “nesses regimes,
era considerado justo tudo o que fosse útil ao povo, independente do conteúdo ético ou moral
da norma”.
Desse modo, à medida que o Estado editava regras aéticas e injustas, se perdia o
sentimento de respeito pela lei, vindo essa a ser obedecida à força. Não há interesse nem vontade de se
obedecer a uma lei imoral, a lei era obedecida pelo comando emergente imposto pelo Estado. Cabe
ainda ressaltar que a definição de ampla era exageradamente ampla. Além disso, o dolo deveria ser
examinado apenas na aferição da culpabilidade, e não no momento da conduta, e acabavam por
analisar a conduta de maneira objetiva ignorando a vontade do agente.
Victor Eduardo Rios Gonçalves (op. cit., p.222) ressalta: “Este método não é considerado
correto, desde o finalismo, por separar em teoria o que, na realidade, não se dissocia.” A falta de uma solução
justa e satisfatória também foi bastante criticada pela doutrina se tratando dos casos de coação moral
irresistível e obediência hierárquica, retratados no Código Penal no Art. 22.
Duas teorias serviram de alicerce da teoria do crime no sistema neoclássico, quais sejam:
Teoria causal ou naturalista da ação, de Von Liszt; Teoria normativa da culpabilidade, de Frank.
Na teoria neoclássica por sua vez, embora o agente (gerente do banco) tenha cometido ação
dolosa, não será culpável uma vez que a coação moral irresistível sofrida por ele fez com que se
tornasse inexigível qualquer outra conduta de sua parte. Essa notável contribuição de Reinhard Frank
ocasionou a evolução da noção de culpabilidade, acrescentando a ela a exigibilidade de conduta
diversa, ou seja, a necessidade de aferir se o agente poderia ou não agir de outra maneira. Em
consequência disso, a culpabilidade passou a ter a seguinte estrutura:
1) Culpabilidade:
b) Dolo e culpa;
O sistema neoclássico de Frank e Mezger teve diversos méritos, como a nova noção
de culpabilidade que passou a ser entendida como reprovabilidade da conduta. No entanto,
também sofreu algumas críticas da doutrina que também impulsionaram avanços na
dogmática penal. Dentre as críticas, destacam-se algumas, como a apontada por Fisher e
Hegler, que identificaram que o exame da intenção do agente era fundamental para verificar se
o comportamento do agente era ou não de caráter criminoso.
Desse modo, aquele que age sem ter consciência da ilicitude da sua conduta não
atua dolosamente, sendo absolvido pela falta de dolo. À respeito da crítica apontada à essa
nova concepção de dolo, Victor Eduardo Rios Gonçalves (op. cit., p.225) com sua lucidez
costumeira exemplifica:
“Ao se afirmar que o dolo contém a consciência da ilicitude, corre-se o sério risco de
tornar impunes criminosos habituais e demais delinquentes profissionais. Imagine-s
e uma pessoa criada numa grande favela, que não teve acesso à educação e viveu no
meio da violência e da marginalidade como se isso fosse o normal. É possível que ela
não veja mal algum na venda de certa quantidade de droga para se sustentar. Pode
até considerar esse comportamento correto, segundo seus padrões individuais. Esse
sujeito, então, nunca seria punido criminalmente pelo tráfico de drogas que
cometesse, pois a falta de consciência individual da ilicitude conduziria, consoante a
teoria acima exposta, à ausência de dolo em suas condutas. ”
4. TEORIA FINALISTA DA AÇÃO
b) Tipicidade;
a) Imputabilidade;
Por fim, entende-se por teoria finalista aquela que sustenta ser a conduta humana
um acontecer final, e não meramente causal, visto que a finalidade se mostra presente porque
o ser humano conhecedor das leis de causa e efeito pode direcionar seus atos para a produção
de um resultado pretendido. Ação e finalidade, conclui-se, são inseparáveis.
Em relação ao tema “conduta” existe outra teoria, chamada teoria social da ação, que não
foi e não é adotada pela legislação nacional. É uma teoria pós finalista e incorpora conceitos de ambas
as teorias anteriores e foi elaborada por Welzel, insatisfeito com o sistema fechado vigente até então. À
respeito desse sistema, Fernando Capez diz: Propõe a teoria da adequação social que um fato
considerado normal, correto, justo e adequado pela coletividade não pode ao mesmo tempo 10 produzir
algum dano a essa mesma coletividade, e, por essa razão, ainda que formalmente enquadrável em um
tipo incriminador, não pode ser considerado típico. (CAPEZ, 2012, p. 125).
Neste diapasão, infere-se que para a teoria social da ação o Direito Penal deve cuidar
apenas daquelas condutas voluntárias que tenham relevância real para a sociedade, relevância esta
que já foi retratada anteriormente. A teoria social da ação por ser considerada supérflua, e não ter sido
prevista em lei, além de parecer vaga e carecer de critérios hermenêuticos seguros e concretos para
afirmar que um comportamento descrito em um tipo penal não pode ser considerado típico porque não
afronta o senso de normalidade, ou de adequação social do povo.
De acordo com a teoria constitucional do direito penal, a ação do Estado deve ser
interventiva na esfera social, no intuito de suprimir os desníveis altamente acentuados em nossa
sociedade. Isso sem dúvidas reflete no Direito Penal, no sentido de que, crime não é somente aquilo que
o legislador deseja e positiva, sem que seja efetuado nenhum controle sobre sua norma. Assim, um fato
para ser típico deve ser levado em consideração sua forma e conteúdo.
Se observado o conteúdo dessa teoria, se observará o motivo pelo qual a teoria dos
naturalistas clássicos está totalmente defasada, uma vez que a correspondência externa entre o
que foi realizado no mundo natural e a descrição típica não são o bastante para a
caracterização do fato típico, pois sabe-se que atualmente é necessário que a conduta tenha
conteúdo de crime, e que esta conduta esteja penalmente prevista, cumprindo-se assim o
princípio da legalidade (CF, Art. 5º, XXXIX).
7. TEORIA FUNCIONAL
A teoria funcional, por fim, não se trata de uma teoria da conduta, pois seu objeto
não é um fato típico. Sua finalidade é: “Explicar o direito penal a partir de suas funções. Em
primeiro lugar, pretende deixar claro de que serve esse ramo do ordenamento jurídico, para,
só então, conhecendo suas finalidades, resolver os mais variados problemas do cotidiano”.
(CAPEZ, Op. cit., p. 131) Essa teoria surgiu na década de 70, através do estudo de penalistas
alemães, que por sua vez assinalaram que o direito penal deve ser aplicado de acordo com sua
função social (daí o termo “teoria funcional”).
Essa teoria tem duas concepções. A primeira é influenciada pela sociologia e tem Claus
Roxin como seu grande defensor. Afirma que a principal função do direito penal é proteger a
sociedade, onde devem ser mantidas apenas as soluções de cunho político-criminal. Assim, condutas
inofensivas não podem ser punidas, porque a função do direito penal é proteger valores sociais, sem
que esses estejam expostos a algum risco. Uma conduta inofensiva então está incapaz de entrar em
conflito com o direito penal, uma vez que uma ação que não tem conteúdo de crime é “inidônea para
molestar o bem jurídico tutelado”. (CAPEZ. Op. cit.,p.132).
A segunda concepção por sua vez é mais legalista, que afirma que a função da
norma é reafirmação da autoridade e soberania do direito. Esta também é conhecida por
“Teoria Radical de Guhther Jakobs – Funcionalismo Sistêmico.” (MASSON, 2010, p. 75).
Segundo essa teoria, cada indivíduo tem seu papel na sociedade, cada pessoa tem um papel,
em outras palavras, é uma “peça do sistema”. Uma vez que um indivíduo deixa de
desempenhar o seu papel ou desafio as normas, é visto como um “inimigo”. A política
criminal passa a ser observada a partir das conveniências do sistema, importando apenas que
as normas penais regulem e ordenem o funcionamento do corpo social, o “sistema”.
Esta linha de pensamento de Guhther Jakobs à medida que se aproxima do Estado Formal
obediência à norma. Conclui-se por fim, retratando a ineficiência e desprestígio dessa teoria:
“Em que pesem as preocupações garantistas de Jakobs, que procura equilibrar o rigor de seu
é a de que um Estado totalitário, para fazer valer seu regime, pode entender
necessária uma atividade excessivamente incriminadora e interventiva, alcançando,
em alguns casos, bens jurídicos que não deveriam merecer uma tutela tão agressiva
quanto a penal. Estaria justificada a atuação invasiva, apenas pela conveniência do
sistema, relegando a um segundo plano o valor humano. (CAPEZ, op. cit., 134).”
8. CONCLUSÃO
Isto posto, verifica-se que o preenchimento da tipicidade no Direito Penal atual, deverá se
compor-se pela tipicidade objetiva – formal, tipicidade normativa e tipicidade subjetiva. Entendendo-se
como tipicidade normativa a imputação objetiva da conduta e a imputação objetiva do resultado. E,
como tipicidade subjetiva, o elemento volitivo, presente nos delitos dolosos, apenas.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Volume 1, Parte Geral: (arts. 1º a 120). 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor E. R. Direito Penal Esquematizado: Parte Geral. São
Paulo: Saraiva, 2012.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal: Parte Geral. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado - Parte Geral. vol. 1. Editora Método: São
Paulo, 2010.