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BACHARELADO EM DIREITO

JACKSON DOS SANTOS PORTO

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E O ABUSO DE PODER DO ESTADO

Salvador
2019
JACKSON DOS SANTOS PORTO

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E O ABUSO DE PODER DO ESTADO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Universidade de Salvador, como requisito para
o recebimento do Bacharel em Direito.

Orientador (a): Cristiane D. F. Pessoa

Salvador
2019
JACKSON DOS SANTOS PORTO

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E O ABUSO DE PODER DO ESTADO

Relatório final, apresentado a Faculdade


Estácio de Sá, como requisito necessário
para obtenção título de Bacharel em
Direito.

Aprovado em ___/____/____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof.ª Cristiane D. F. Pessoa
Orientador

________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações

________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações

Salvador
2019
Quero agradecer, em primeiro lugar, а Deus, pela
força е coragem durante toda esta longa
caminhada.

Dedico a minha família, por sua capacidade de


acreditar е investir еm mim. Mãe, sеυ cuidado е
dedicação fоі que deram, еm alguns momentos, а
esperança pаrа seguir.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao ponto de superar as dificuldades e,


também, por toda saúde que me deu e que permitiu alcançar esta etapa tão importante
da minha vida. A esta universidade e a toda sua direção eu deixo uma palavra de
agradecimento por todo ambiente inspirador e pela oportunidade de concluir este
curso.
Aos professores eu agradeço orientação incansável, o empenho e a confiança
que ajudaram a tomar possível este sonho tão especial.
À minha família e amigos que nunca desistiram de mim e sempre me
ofereceram força eu deixo uma palavra e uma promessa de gratidão eterna.
A todas as palavras que de alguma forma fizeram parte do meu percurso eu
agradeço com todo meu coração.
"Não há nada mais trágico nesse mundo do que saber
o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudar o mundo
começando por nós mesmos?”

(Martin Luther King Jr.)


RESUMO

Este trabalho vem esclarecer de forma objetiva, através de estudos de livros,


artigos jurídicos e sates, revisão bibliográfica e complementar o instituto de Audiência
de Custódia, dentro do ordenamento jurídico Brasileiro, seu conceito, fundamento a
legalidade jurídica das audiências custódia e sua utilização na esfera jurídica para que
estudiosos, catedráticos do direito sejam capazes de utilizá-lo evitando Ações Penais.
Conforme, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), determina por meio da resolução
213/2015, que todo sujeito preso em flagrante – quando o indivíduo está cometendo
ou acabou de cometer o crime deve ser levado à presença de uma autoridade judicial
em 24horas, pois, Audiência de Custódia detém três aplicabilidades fundamentais
dentro do ordenamento jurídico. Inicialmente, que o ordenamento brasileiro deve
harmonizar levando em consideração a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, conhecido como Pacto de San José da Costa Rica, estabelecida em 1969
e recepcionado pelo Brasil por meio do Decreto 678/1992. A aplicação de prisões
inutilmente, ilegal e arbitraria deve ser contida e sua última colocação é a de poder
assegurar à plenitude pessoal daquele indivíduo que teve a sua continência de
liberdade, reivindicando desta maneira uma atividade mais eficiente e excelente das
autoridades judiciárias, em casos que forem utilizadas as medidas cautelares
inúmeras à prisão e também com a decretação da prisão preventiva.

Palavras–chaves: Audiência de Custódia. Prisão em Flagrante. Abuso de poder do


Estado.
ABSTRACT

This work clarifies objectively, through studies of books, legal articles and sates,
bibliographic review and complement the institute of Custody Hearing, within the
Brazilian legal system, its concept, foundation legal legality custody hearings and their
use in the legal sphere for scholars, law professors to be able to use it avoiding criminal
actions. Accordingly, the National Council of Justice (CNJ), through resolution
213/2015, determines that every subject arrested in flagrante - when the individual is
committing or has just committed the crime must be brought before a judicial authority
in 24 hours. For, Hearing of Custody holds three fundamental applications within the
legal system. Initially, the Brazilian law should harmonize taking into account the
American Convention on Human Rights, known as the Pact of San José of Costa Rica,
established in 1969 and approved by Brazil through Decree 678/1992. Unnecessary,
unlawful and arbitrary imprisonment must be restrained and its last place is to be able
to assure the personal fullness of the individual who has had his freedom, thus
demanding a more efficient and excellent activity of the judicial authorities, in cases
where numerous precautionary measures are used for imprisonment and also for the
enactment of preventive detention.

Keywords: Custody Hearing. Prison in Flagrante. Abuse of state power.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9

2. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E O ABUSO DE PODER DO ESTADO................ 11

2.1 O SIGNIFICADO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ............................................. 11

2.2 QUANDO É NECESSÁRIA A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ................................ 12

2.3 OS REQUISITOS DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA A SEREM ANALISADOS


FUNDAMENTALMENTE. .................................................................................... 15

3. ESPÉCIES DE FLAGRANTES ........................................................................... 19

3.1 SIGNIFICADO E SUA FINALIDADE ................................................................... 19

3.2 FLAGRANTE PRÓPRIO IMPRÓPRIO (QUASE FLAGRANTE) ......................... 19

3.3 FLAGRANTE PRESUMIDO (OU FICTO) E O DIFERIDO .................................. 20

3.4 FLAGRANTE PREPARADO E PROVOCADO .................................................... 21

3.5 FLAGRANTE COMPULSÓRIO OU OBRIGATÓRIO E FACULTATIVO ............. 22

3.6 FLAGRANTE PREPARADO OU PROVOCADO ................................................. 22

4. FLAGRANTE FORJADO .................................................................................... 23

4.1 FLAGRANTE ESPERADO .................................................................................. 23

4.2 A ATA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA .............................................................. 23

4.3 DAS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NOS ARTIGOS 319 E 320 DO CPP
............................................................................................................................ 24

5. CONCLUSÃO...................................................................................................... 27

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 28


9

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma proposta de estudo que se refere a Audiência de


Custódia é um instrumento em que o preso em flagrante é levado sem demora, à
presença de um juiz, ou seja, do magistrado, no máximo em até 24 horas para avalia
eventuais ilegalidades na ação policial e também se o caso justifica o encarceramento
provisório. A audiência de custódia tem como objeto a análise da prisão se foi aplicado
legalmente e se os direitos fundamentais dos custodiados foram respeitados e
protegidos como prevê a Constituição da República Federativa Brasileira 1988. Muitas
das vezes a investigação não é apresentada junto com o custodiado e o juiz não tem
dimensão de tudo que cera para resolução do problema. Sendo assim, o abuso de
poder das autoridades traz a conduta típica é considerado crime. Pois, os maus-tratos,
conforme o art.136°, do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90) e o art.1°
inc. II, a tortura-castigo previsto na (lei 9.455/97).
Caso o custodiado tenha sofrido alguma ilegalidade na ação policial, o juiz
analisará se o auto de prisão em flagrante preenche todos os requisitos previstos em
lei, ou seja, observará se estão presentes algumas ilegalidades. Constatando-a o juiz
imediatamente aplicará relaxamento da prisão e colocará o indivíduo em liberdade de
acordo com o art.310, inc. I, do CPP.
Na constituição Federal em seu artigo 5° inciso LXV e LXVI existe a previsão
de que a prisão deverá ser usada como ultima ratio, sendo medida de natureza
extrema, e que se deve priorizar a aplicação de outras medidas cautelares que supram
as necessidades de controle. Neste mesmo sentido foi promulgada em 2011 a lei
12.403 que vincula a atividade jurisdicional à utilização da prisão preventiva apenas e
unicamente em caso previsto em lei e somente quando a situação fática não enseja a
aplicação de medida cautelar. Sendo assim, o artigo 312, do CPP, traz o entendimento
que a prisão deve ser convertida em preventiva quando a garantia da ordem pública,
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
provas da existência do crime e indicio suficiente de autoria.
A referida modalidade de prisão, por trazer como consequência à privação da
liberdade antes do trânsito em julgado, somente se justifica enquanto e na medida em
que puder realizar a proteção da persecução penal, em todo o seu iter procedimental,
e mais, quando se mostrar a única maneira de satisfazer tal necessidade, conforme o
10

art.310, inc. II, do CPP. O custodiado merecedor da liberdade provisória de acordo o


art. 310, inc. III, do CPP. Ainda assim, o Código de Processo Penal trás no caput do
art. 319, São medidas cautelares diversas da prisão.
O Brasil é o terceiro país maior número de pessoas presas, atrás dos Estados
Unidos e China. O total de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em
junho de 2016. Em dezembro de 2014, era de 622.202 presos, nas 1436 unidades
prisionais brasileiras. Houve um crescimento de mais de 104 mil pessoas. Cerca de
40% são presos provisórios, ou seja, ainda não possuem condenação judicial. Mais
da metade dessa população é de jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros. Segundo
dados do Conselho Nacional de Justiça.
Neste caso, a audiência de custódia pode ser considerada como uma
relevantíssima hipótese de desafogar a superlotação e o acesso a jurisdição penal,
tratando-se, então, de uma das garantias da liberdade pessoal que se traduz em
obrigações positivas a carga do Estado e diminuir os gastos públicos.
Com efeito, a implementação das audiências de custódia está prevista em
pactos e tratados internacionais assinados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos,
conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, (CADH). A referida convenção
passou a viger somente em 18 de julho de 1978, e ratificada pelo Brasil através do
Decreto n° 678, de 09 de julho de 1992, e já é utilizada em muitos países da América
Latina e na Europa, onde a estrutura responsável pelas audiências de custódia recebe
o nome de “Juizados de Garantias”. Além disso, está amparada juridicamente pela
Constituição Federal de 1988.
Diante disso, a problemática: Em que medida é possível identificar a
necessidade da audiência de Custódia e o abuso de poder do Estado.
11

2. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E O ABUSO DE PODER DO ESTADO.

2.1 O SIGNIFICADO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

As modificações vêm na legislação brasileira que traz verdadeiro entendimento


e instrumento processual, que obriga que o preso em flagrante seja apresentado a
autoridade judicial, no prazo de 24 horas, para que este decida a respeito da
legalidade da prisão e da necessidade de sua conversão em prisão preventiva. Além
disso, o custodiado tem que ser acompanhado de defensor público, dativo ou um
advogado constituído juntamente com um Juiz e o Ministério Público. Neste caso, a
audiência de custódia significa um grande mecanismo de constatação de infrações e
ilegalidades por meios das autoridades policiais competentes na qual o Estado é um
dos responsáveis por certos atos dos seus subordinados. Entretanto, a polícia militar
tem sua principal atuação na segurança pública na sua atividade e competência
estabelecida no artigo 144 parágrafo quinto da Constituição Federativa Brasileira de
1988, que traz suas atribuições de polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.
Essa utilidade de apresentar o preso ao juiz em 24hs faz cessar os atos de maus
tratos e tortura, provenientes de prisão do custodiado.
Tratando-se das questões relativas de maus tratos e torturas do flagranteado,
o primeiro ponto a ser observado pelo defensor público, ainda naquele momento de
orientação prévia ao preso, é questioná-lo se foi vítima de algum tipo de agressão por
parte dos policiais. De tão frequente, banalizado e impune, a pequena ou média
violência policial passou a ser assimilada pelos presos (e pela sociedade em geral)
como um procedimento padrão algo quase inevitável. Neste caso, a postura do
defensor público ou do advogado partícula é muito importante, e isso porque deve-se
valer de expressões simples e gestos que demonstrem confiança para conversa com
o preso sobre esse problema. A tortura designa uma violência mais acentuada, como
se a pequena violência não se importasse.
O ponto a ser observado pelo advogado ou defensor público, durante a
audiência, consiste em, tendo o preso relatado alguma violência cometida por policiais
contra ele, opor-se a qualquer manifestação do Ministério Público ou do juiz que
advirta o cidadão sobre a possibilidade de uma mentira acerca do ocorrido lhe gerar
processo pelo crime de denunciação caluniosa prevista no art.339 do CP, expediente
12

comumente utilizado que apenas contribui para o problema da subnotificação. Nessa


hipótese, deve o advogado ou defensor público pedir para que o procedimento
equivocado seja contado na ata da audiência, para posterior adoção das medidas
cabíveis:
Após a audiência, tendo havido o relato de agressão pelo assistido, e
a prisão sido mantida, aparece o quanto ponto a ser observado pela a
defesa do flagrateado, que consiste na inclusão do preso em cadastro
interno específico de pessoas em estado de vulnerabilidade
procedendo não somente com vista regulares no estabelecimento
penal, mas também com requisições de laudos e perícias médicas
periódicas sobre a integridade física e psicológica do preso.1

2.2 QUANDO É NECESSÁRIA A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

A audiência de custódia é necessária para verificar a legalidade da prisão, ou


seja, o CNJ determinou, por meio da resolução 213/2015.
A audiência de custódia é, segundo BALAN:

Uma espécie de controle judicial para a prisão em flagrante, a fim de


evitar ilegalidades, como, por exemplo, um flagrante forjado, com
abuso ou tortura, ou a prisão de um indivíduo por um crime do qual ele
sequer participou. Mas mesmo se o flagrante for lícito o juiz precisa
dizer se essa pessoa deve ou não deve responder em liberdade. 2

Considerando-se os objetos pretendidos com a audiência de custódia, a


apresentação da pessoa privada de sua liberdade não pode demorar muito tempo,
pois só assim poder-se-á evitar a incidência agressões, que ela tenha sofrido. Aliás,
somente assim evitar-se-á, ainda, o prolongamento de uma prisão que, já na origem
ou longo de sua formalização, era ilegal. Apesar disso, os textos internacionais que a
instituíram não estabelecerem um prazo determinado para sua realização. Ao
contrário, todos eles usaram expressões vagas, à hora de delimitar o tempo em que
a apresentação deveria ocorrer. Evidentemente, o estabelecimento de um prazo
determinado pelos Tratados Internacionais poderia criar dificuldade aos Estados no

1
PAIVA, Caio. A Defensoria, a tortura e as audiências de custódia. Consultor Jurídico, 2015: Revista
consultor jurídico. Disponível em:< https://www.conjur.com.br/2015-set-29/tribuna-defensoria-
defensoria-tortura-audiencias-custodia>. Acesso em: 15 de maio de 2019.
2
GAZETA DO POVO. Audiências de custódia são aliadas da Justiça contra o encarceramento
em massa. Disponível em:< https://www.gazetadopovo.com.br/justica/audiencias-de-custodia-sao-
aliadas-da-justica-contra-o-encarceramento-em-massa/ >. Acesso em: 15 de maio de 2015.
.
13

tocante à implementação da audiência de custódia, considerando as peculiaridades


do direito interno de cada país, e isso fez com que cada um especificasse, da melhor
maneira possível, o tempo em que a apresentação deveria ocorrer.
A situação, a princípio, parece ser simples e, de certo modo, absolutamente
concretizável, face à clareza e objetividade da disposição no tocante ao
estabelecimento do prazo e início do seu cômputo. Tal opção, pelo prazo de 24horas,
inclusive, não é uma exclusividade brasileira, porém um breve exame das posições
manifestada pelas Cortes Internacionais e pela própria ONU permite concluir que não
haveria nenhum absurdo em se efetivar a apresentação de toda pessoa presa ou
detida ao juiz ou outra autoridade em prazo superior a 24horas. Como já tivemos a
oportunidade de demonstrar, a jurisprudência da Corte Internacional de Direitos
Humanos vê com tranquilidade o fato de esse prazo ser fixado em até 48horas, ao
passo que o TEDH e o Comitê de Direito Humanos da ONU consideram que tal prazo
estará dentro do razoável. Naturalmente, as razões para a opção por um prazo mais
exíguo, primando pela celeridade na prática do ato são louváveis e, certo, legítimas.
Contudo, já que se observe que a norma do art.1°, caput, da resolução 2013
do CNJ estabelece que a apresentação deverá ser efetuada em até 24horas da
comunicação do flagrante. O problema resultante disso, foi que ao estabelecer que
este prazo deve ser contado da comunicação do flagrante, o CNJ desconsiderou o
fato de tal situação, em absoluto, poder ser considerado equivalente ao momento da
prisão. Isso porque, quando a Constituição Federal exige que a comunicação da
prisão em flagrante seja efetuada imediatamente ao juiz e à família do sujeito preso
(artigo. 5°, inciso LXII), isso não importa dizer que ela venha a ocorrer só com a
distribuição do auto de prisão em flagrante ao poder judiciário. Pensar neste sentido
permitir que a comunicação, que deveria ser imediata, pudesse vir a se concretizar
mais de 24horas após a apreensão física flagrado. Ao contrário, para o Constituinte
da prisão em flagrante, de fato, equivale ao momento da prisão, sendo as razões disso
evidentes, oportunizarem aos familiares o conhecimento do paradeiro da pessoa
presa e assegurar o acompanhamento da autuação do flagrante por um defensor
técnico. A situação se agrava mais ainda se a comunicação da prisão em flagrante no
sentido constitucional for considerada como marco inicial do prazo de 24horas para
realização em audiência de custódia, pois, neste caso, o prazo para realização da
14

audiência se confunde com o próprio prazo para a confecção do APF, previsto no


inciso 1°do art.306 do CPP.
Ocorre que o inciso 1°do art. 1° da Resolução 213 do CNJ estabeleceu que a
comunicação da prisão em flagrante à autoridade judicial se dará por meio do
encaminhamento do auto de prisão em flagrante. Em outras palavras, de acordo com
a existência de uma prisão é o momento em que ele virá a tomar contato, com a
formalização policial dessa prisão (APF). A nosso juízo, portanto, trata-se de uma
impropriedade técnica a equiparação entre comunicação técnica a equiparação entre
comunicação imediata da prisão e a remessa do auto de prisão em flagrante ao juízo,
sobretudo, em razão de que a diferença de tempo entre ambos os atos é abissal e
pode conduzir, inclusive, a ultrapassagem do prazo fixado pela própria resolução e a
um maior prejuízo à pessoa presa.
É suficiente observa que, se o inciso 1° do art. 1° estabelece que a
comunicação da prisão se dará por meio do encaminhamento do auto de prisão em
flagrante à autoridade competente, não mais ocorrerá com a imediata prisão. Logo,
primeiro a autoridade policial deverá finalizar todo o auto de prisão em flagrante (que
deverá ocorrer, segundo nossa legislação, em, até, 24horas), depois de finalizado,
quando não há mais motivo para que o sujeito preso continue à sua disposição, que
La autoridade ainda poderá permanecer com ele nas dependências da Delegacia de
Polícia de pôr, até, outra 24horas antes de apresentá-lo ao juiz competente. O calcula
é simples, feitos a parti do somatório dos seguintes passos: a) momento da prisão em
flagrante e tempo que se leva para a apresentação à autoridade policial, o que
equivale, como mínimo há 3 horas; b) até 24horas, inclusive, para a autoridade policial
inicia a lavratura e encaminhar o auto de prisão em flagrante ao juiz competente
(Inciso 1° do art. do art. 306 do CPP); até 24horas, computadas a partir da remessa
do APF à autoridade judicial, para que seja realizada a apresentação do sujeito preso
em audiência de custódia.
Ressalte-se, ademais, que o atraso na remessa do auto de prisão em flagrante
poderá levar à sua não homologação pelo juízo competente. No entanto, o atraso ou
não comunicação imediata da prisão em flagrante vai além dessa mera
desconstituição da legalidade da prisão. Em verdade, o desrespeito à norma
constitucional caracteriza crime de abuso de autoridade, levando à responsabilidade
15

criminal da autoridade policial que coloca em risco uma garantia que procura proteger
o sujeito preso contra abusos praticados na esfera policial.
Por estas razões é que se entende pela necessidade revisão da posição
adotada pelo CNJ, principalmente, pelo fato de as incongruências apresentadas na
redação do art. 1° caput, e do seu respectivo S 1° Abrirem margem para equívocos
no momento de sua aplicação.

2.3 OS REQUISITOS DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA A SEREM ANALISADOS


FUNDAMENTALMENTE.

Um dos principais requisitos a serem analisado pelo juiz é esclarecer ao preso


que é a audiência de custódia, ressaltando as questões que serão analisadas naquele
momento (art. 8°, inc. 1), advertindo o preso que ele tem o direito a permanecer em
silêncio (8° III).
Esta regra (similar a parte do contido no 6°do Provimento n.3) decorre de
expressa disposição do art.5° LXIII, da CF/ 88, que dispões que o preso será
informado de seus direito, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado, e aguarda integral similitude ao
procedimento do interrogatório, previsto no artigo. 186, CP, refere que “depois de
devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será
informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer
calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas”.3
Conforme destacamos na companhia de Eugênio Pacelli, o nemo tenetur se
detegere, que pode ser traduzido como “ninguém é obrigado a se descobrir”, é um
aforismo renascido (data do século XVII, no direito inglês) no pós – iluminismo,
emblemático de uma de era transformação na teoria do processo e, sobretudo, no
âmbito do processo judicial criminal, já no século XIX. O direito ao silêncio, portanto,
é uma das manifestações importantes do aludido princípio (nemo tenetur), na medida
em que tutela, não só a consciência moral daquele que, pelo fato de correr o risco de
uma condenação, se vê compelido a mentir em seu favor, mas também, protege o
acusado juízos de convencimentos lastreados em percepções subjetivas indignas de

3
Brasil. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 13 de maio de 2019.
16

graus aceitáveis de certeza. Ou seja, a garantia do direito ao silêncio reafirma a


necessidade de controle das decisões judiciais, de modo a vedar que o poder judiciário
se utiliza do silêncio ou da negativa de resposta às perguntas feitas como critério de
convencimento. Assim, é fundamental advertir desde o primeiro momento do ato que
o preso não é obrigado a falar absolutamente o que lhe causar prejuízo.
O juiz competente tem o dever fundamental de analisar:

Questionar se lhe foi dado ciência e efetiva oportunidade de exercício


dos direitos constitucionais inerentes à suas condições,
particularmente o direito de consultar-se com advogado ou defensor
público, o de ser atendido por médico e o de comunica-se com seus
familiares. 4

Essa parte final da norma também decorre do preceito constitucional da ampla defesa,
bem assim do já referido inciso LXIII do art.5°, conjugada com aquele contido (não
igual redação, mas na sua essência) no art. 306, caput, CPP (“A prisão de qualquer
pessoa e o local onde se encontra serão comunicado imediatamente ao juiz
competente, ao Ministério Público e à família do preso ou por ele indicada”).5
Ainda assim, os direitos dos presos, ou seja, os custodiados a não ser
algemado, como regra. No que consta no inciso II que deverá ser assegurado que “a
pessoa presa não esteja algemada, salvo em caso de resistência e de fundada receio
de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, devendo a
excepcionalidade ser justificada por escrito”.2
A Súmula Vinculante n° 11 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe que:

Só é licito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado


receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil do Estado.
(Publicada no DJ de 22.8.2008).6

4
MEU JURIFICO. Audiência de custódia: Conceito e características. Disponível em:
<https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2018/08/17/audiencia-de-custodia-conceito-e-
caracteristicas/>. Acesso em: 14 de maio de 2019.
5
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 13 de maio de 2019.
6
STF. Aplicação das Súmulas no STF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1220>. Acesso em: 13 de maio
de 2019.
17

Depois impede referir que o Código de Processo Penal trata o tema do uso de
algemas em várias disposições (algumas de forma expressa, como o artigo. 474,
inciso 3°, outras não, como o art. 248, CPP). A questão central que norteia a regra é
sempre a necessidade da medida, evitando-se a estigmatização pelo só uso das
algemas se o uso não se revela como fundamental. Assim, somente se deverá manter
alguém algemado quando de fuga ou de perigo à integridade física própria e/ou alheia.
Além disso, a realização do exame de corpo delito é de grande importância nos
requisitos para que o juiz possa analisar os fatos dentro da legalidade. Conforme, o
inciso II, a imposição de verificação de exame de corpo de delito, determinado a sua
realização nos casos em que:

a) não tiver sido realizado; b) os registro se mostrarem insuficiente; c)


as alegações de tortura e maus-tratos referem-se a momento posterior
ao exame realizado; d) o exame tiver sido realizado na presença de
agente policial, observando-se a recomendação CNJ 49/2014 quando
à formulação de quesitos ao perito.7

Novamente aqui, há providência complementares para análise de eventuais


maus-tratos ou lesões causadas ao preso. Não se está dizendo que lesões, Poe si só,
possam indicar a existência de maus-tratos e/ ou tortura. Em algumas vezes, até pela
resistência, é possível que o agente preso em flagrante tenha lesões. Mas tal
circunstância, repise-se, por si só, não caracterizará qualquer irregularidade se
demonstrado que, no caso concreto, foi uma consequência inafastável do modo como
executada a prisão (necessidade e adequação).
A realização é obrigatória (alínea “a”). Se o juiz competente reputar que os
dados existentes no laudo de exame de corpo de delito são insuficientes, deverá
mandar que outro seja feito (alínea “b”). Se as alegações de maus-tratos ou tortura
forem após a realização do exame pericial e, complementamos nós, houver indicativos
razoáveis de tal ocorrência, deverá ser realizado novo exame.
A última hipótese é aquela em que o exame tiver sido realizado na presença de
agente policial, observando-se a Recomendação CNJ 49/2014 quanto à formulação
de perito. A recomendação mencionada

7
MPPR. Resolução CNJ nº 213 / 2015. Disponível em:< http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-
1996.html>. Acesso em 15 de maio de 2019.
18

Dispõe sobre a necessidade de observância, pelos magistrados


brasileiros, das normas-princípios e regras – do chamado Protocolo de
Istambul, da organização das Nações Unidas (ONU), e, bem assim,
do protocolo Brasileiro de Perícia Forense, em casos de crime de
tortura e dá outras providências.8

Especificamente no art. 1°, II, e sem prejuízo de outras providências existentes


na recomendação, refere-se que sempre que houve notícias concretas ou fundadas
da prática de tortura, devem ser formulados, ao perito, quesitos estruturados na
seguinte ordem e forma, segundo ANCILLOTTI:

1) se há indicativo médico-legal que caracterizem a prática de tortura


física;
2) se há indícios clínicos que caracterizem a prática de tortura
psíquica;
3) se há médico-legais que sejam característicos, indicadores ou
sugestivos de ocorrência de tortura contra a pessoa sob exame, mas
que poderiam excepcionalmente ser produzidos por outra causa,
devendo-se, neste caso, explicitar a reposta.9

8
JUSLABORIS. Recomendação n. 35, de 27 de fevereiro de 2019. Disponível em:<
https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/148252?locale-attribute=fr>. Acesso em: 14 de maio
de 2019.
9
ANCILLOTTI, Roger. Considerações Médico-Legais no Crime de Tortura. Disponível em:<
http://williamdouglas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/Consideracoes-medico-legais-no-crime-de-
tortura.pdf >. Acesso em 15 de maio de 2019.
19

3. ESPÉCIES DE FLAGRANTES

3.1 SIGNIFICADO E SUA FINALIDADE

O termo “Flagrante” provém do latim flarare, que significa queimar, arder. É


crime que ainda queima, isto é sendo cometido ou acabou, de sê – lo. Na conhecida
lição de Helio Tornaghi, “flagrante é, portanto, o que está a queimar, e, em sentido
figurado, o que está a acontecer”.10
Segundo autor José Frederico Marqueis, “Flagrante Delito, é o crime cuja
pratica por instante em que o delinquente executa a ação penal ilícita”. 11
Para Júlio Fabbrini Mirabete, “flagrante é o ilícito patente, irrecusável,
insofismável, que permite a prisão do seu mandado, por ser considerada a certeza
visual do crime”.12

3.2 FLAGRANTE PRÓPRIO IMPRÓPRIO (QUASE FLAGRANTE)

A prisão em flagrante em sentido próprio ou real, prevista no art. 302, incisos I


e II, do CPP, pode ocorrer quando o sujeito está cometendo ou acabou de cometer a
infração penal. Há uma relação de imediatidade entre a prisão e o cometimento da
infração, de modo que, nesse interstício, incorra qualquer acontecimento relevante.
Na primeira hipótese, o agente é surpreendido enquanto ainda está praticando o
delito, durante sua fase executiva, embora já o possa ter consumado. Por exemplo,
no crime de lesões corporais, o delinquente já feriu a vítima, mas é surpreendido
quando ainda está a golpeá-la. No segundo caso, a prisão do sujeito dá-se no
momento imediatamente posterior ao cometimento do crime, depois de haver
praticado o último ato de execução. Por exemplo: ao lado do corpo da vítima, ainda
com a arma em punho. Contudo, se já decorreu considerável espaço de tempo, não
há mais que se falar em flagrante delito.

10
(TORNAGHI, 2006).
11
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2. ed. Campinas: Millennium,
2003.
12
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito pena. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
20

A hipótese prevista no art. 302, inciso III, do CPP, é chamada de flagrante


impróprio ou quase flagrante e ocorre quando o agente é perseguido logo após a
execução do fato. A perseguição pode ser feita pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa do povo. Nesse caso, a prisão pode não ser imediata; contudo, a
perseguição ordenada – e não uma mera busca – deve ter se iniciado logo após o
crime. O Código não dá o sentido exato de logo após, por isso a interpretação dessa
locução não pode gerar abusos. A perseguição deve se iniciar com a maior brevidade,
após o cometimento do delito, podendo protrair-se no tempo, que não estará elidido o
estado de flagrância. É necessário que haja uma perseguição imediata, lógica e
coordenada até a prisão do agente. Não basta uma simples procura ou a localização
ocasional. Assim é que, se a prisão ocorrer por mera causalidade, em local diverso da
prática do crime e seus responsáveis ignoravam que o detido era criminoso, não há
que se falar em situação de flagrância.

3.3 FLAGRANTE PRESUMIDO (OU FICTO) E O DIFERIDO

O flagrante presumido ou ficto, previsto no art. 302, inciso IV, do CPP, ocorre
quando o agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam supor seriamente ser ele o autor da infração penal. Nessa hipótese
o agente deve ser encontrado logo depois, isto é, em ato sucessivo à prática do delito.
A autoria é presumida porque o agente está trazendo consigo instrumentos, armas,
objetos ou papéis relacionados com o delito. Por isso, a descoberta e a prisão do
agente devem ocorrer dentro de parâmetros de tempo razoáveis. Se o lapso de tempo
decorrido da prática do crime for de horas, então não há mais flagrante. Nesse estado
de flagrância, o agente não é perseguido. A sua localização pode decorrer do puro
acaso ou após uma diligência policial.
A Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei n° 9.043/1995) prevê a figura do
flagrante diferido, meio investigatório na repressão aos delitos praticados por
quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas. Também chamado
de ação controlada, nos termos do art. 2°, inciso II, da Lei n 9.034/ 1995, consiste
em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações
criminosas ou a elas vinculada, desde que mantida sob observação e
21

acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do


ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações.

Desse modo, a autoridade policial prorroga (retarda) o flagrante, no


aguardo do momento certo, com o intuito de identificar um maior
número de integrantes da organização, até mesmo os superiores
hierárquicos, cuja exposição é mais difícil, ou obter um maior número
de provas 13

3.4 FLAGRANTE PREPARADO E PROVOCADO

O flagrante preparado ocorre quando uma pessoa (agente provocador), policial


ou qualquer do povo (inclusive o ofendido), induz o agente a praticar um ato criminoso,
mas, concomitantemente, toma cautelas que tornam impossível a consumação da
infração penal. É uma forma irregular de prisão e não tem valor como peça coercitiva
da liberdade. É o chamado crime de ensaio. O agente é protagonista de uma
encenação. O sujeito ativo acredita estar praticando um delito (aspecto subjetivo), mas
não há violação da norma penal (aspecto objetivo) porque as medidas que o agente
preordenou impossibilitam a consecução do resultado. Trata-se de uma hipótese
de crime impossível (art. 17 do CP). A consumação da infração penal não será
alcançada por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto.
O STF editou a Súmula n° 145, que fala a respeito do flagrante preparado: Não existe
crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.

Trata-se de modalidade de crime impossível pois, embora o meio


empregado e o objeto material sejam idôneos, há um conjunto de
circunstâncias previamente preparadas que eliminam totalmente a
possibilidade da produção do resultado. Assim, podemos dizer que
existe flagrante preparado ou provocado quando o agente, policial ou
terceiro, conhecido como provocador, induz o autor à prática do crime,
viciando a sua vontade, e, logo em seguida, o prende em flagrante.14

Nesse caso, em face da audiência de vontade e espontâneo do infrator e da


ocorrência impossível, a conduta é considerado atípica. Essa é a posição pacifica do
STF, consubstanciando na súmula 145.

13
Silva, Eduardo Araújo da. Crime Organizado – procedimento probatório. São Paulo: Atlas, 2013.
14
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 13 Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, pp. 253-254.
22

3.5 FLAGRANTE COMPULSÓRIO OU OBRIGATÓRIO E FACULTATIVO

O agente é obrigado a efetuar a prisão em flagrante, não tendo


discricionariedade sobre a conveniência ou não de efetivá-la. Ocorre em qualquer da
hipótese prevista no art. 302(Flagrante próprio, impróprio e presumido), e diz respeito
à autoridade policial e seus agentes, que têm o dever efetuar a prisão em flagrante.
Está previsto no art.301, 2° parte, do Código de Processo Penal: “as autoridades
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante”.6
Enquanto o flagrante facultativo consiste na faculdade ou não do flagrante, de
acordo com critério de conveniência e oportunidade. Abrange e oportunidade.
Abrange toda a espécie de flagrante previsto no art. 302, e se refere às pessoas
comuns do povo previsto no art. 301, 1°parte, do Código de Processo Penal: “qualquer
do povo poderá... prender quem que seja encontrada em flagrante delito”. 15

3.6 FLAGRANTE PREPARADO OU PROVOCADO

Chamado delito de ensaio, delito de experiência ou delito putativo por obra do


agente provocador, na definição de Damásio de Jesus, “ocorre crime putativo por obra
do agente provoca quando alguém de forma insidiosa provoca o agente à Prática de
um crime, ao mesma tempo em que toma providências para que o mesmo não se
consume”.16
Trata-se de modalidade de criem impossível, pois, embora o meio empregador
e o objeto material idôneos, há um conjunto de circunstância previamente preparadas
que eliminam totalmente a possibilidade da produção do resultado. Nesse caso, em
face da audiência de vontade e espontâneo do infrator e da ocorrência impossível, a
conduta é considerado atípica. Essa é a posição pacifica do STF, consubstanciando
na súmula 145: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação”.17

15
CPP - Decreto Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941.
16
(Direito penal 13. Ed., São Paulo: Saraiva 1988, v.1, p 176).
17
BRASIL. Súmula 145 - Supremo Tribunal Federal. Disponível em:<
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2119>. Acesso em: 14
de maio de 2019.
23

4. FLAGRANTE FORJADO

Esse flagrante também chamado fabricado, maquinado ou urdido, nesta


espécie, os policiais ou particulares criam provas de um crime inexistente, colocando,
por exemplo, no interior de um veículo substância entorpecente. Nesse caso, além de,
obviamente, não existir crime, responderá o policial ou terceiro por crime de abuso de
autoridade.

4.1 FLAGRANTE ESPERADO

Neste caso, a atividade do policial ou do terceiro consiste no simples aguardo


do momento do cometimento do crime, sem qualquer atitude de induzimento ou
instigação. Considerando que a situação não foi artificialmente criada, e, portanto,
pode ser efetuada a prisão em flagrante. Essa é a posição do STJ: No flagrante
preparado, a polícia provoca o agente a praticar o delito e, ao mesmo tempo, impede
que ele se consuma, cuidando-se, assim, de crime impossível, ao passo que, no
flagrante forjado, a conduta do agente é criada pela polícia, tratando-se de fato atípico,
sendo que hipótese totalmente diversa é a do flagrante esperado, em que a polícia
tem notícias de que uma inflação penal será cometida e aguarda o momento de sua
consumação para executar a prisão:

O inciso 5° prevê que os encaminhados dados pela autoridade judicial


responsável e as informações delas resultantes deverão ser
comunicadas ao juiz responsável pela instrução do processo. O
processo aqui em pauta é o que decorre do crime que originou a prisão
em flagrante e a audiência de custódia (quanto à tortura em si, o juiz
responsável por seu julgamento somente será conhecido após a
instauração das investigações a ela relativas, e com elas terá contato
assim que lhe forem encaminhadas.18

4.2 A ATA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

A ata de audiência é o espelho do ato que deverá conter, apenas e


resumidamente, a deliberação fundamentada do magistrado quando à legalidade e

18
STJ, 5° Turma rel.Min.Jorge Mussi, HC 204426/SP, Habeas Corpus 2011/00880033,j.23-4-2013,Dje
8-5-2013.
24

manutenção da prisão, cabimento de liberdade provisória sem ou com a imposição de


medida cautelares diversas da prisão, considerando-se o pedido de cada parte, como
também as providência tomadas, em caso da constatação de indícios de tortura e
maus tratos.
No caput do art. 405 do CPP: “Do ocorrido em audiência será lavrado termos
em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
relevantes nela ocorrido.”19 Especialmente quando realizada a gravação em mídia, o
registro dos procedimentos adotados em ata não precisa todo detalhamento
necessário, necessitando constar, sobretudo, os fundamentos acerca de legalidade e/
ou manutenção da prisão, da eventual concessão de liberdade (com ou sem medidas
cautelares diversas ), bem assim as providências adotadas quando constatada a
existência de indícios de maus – tratos ou tortura à pessoa presa.

4.3 DAS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NOS ARTIGOS 319 E 320 DO CPP

A inovação legislativa inseriu um rol de nove medidas cautelares alternativas,


presentes no artigo 319 do CPP, dá ao magistrado a possibilidade de acabar com
binômio prisão / liberdade. Sob este aspecto, o magistrado, ao deferir a liberdade
provisória ao imputado, poderá inserir uma ou mais medidas cautelares, dependendo
do caso concreto.
Neste caso, o rol taxativo apresentação do artigo 319 do CPP apresenta como
medidas cautelares:

I – Comparecimento periódico em juízo no prazo e nas condições


fixada pelo juiz, para informar e justificar atividade.
II – Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou
acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
novas infrações.
III – Proibindo de manter contato com pessoa determinada quando,
por circunstâncias relacionadas aos fatos, deva o indiciado ou
acusado dela permanecer distante.
IV – Proibição de ausentar-se da comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução.
V – Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixo.

19
JUSBRASIL. Artigo 405 do Decreto Lei nº 3.689 de 03 de Outubro de 1941. Disponível em:<
https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+405+do+C%C3%B3digo+Processo+Penal >. Acesso em:
14 de maio de 2019.
25

VI – Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de


natureza econômica ou financeira quando houve justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais.
VII – Internação provisória do acusado nas hipótese de crime praticado
com violência o grave ameaça, quando os peritos concluírem ser
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal ) e houver
risco de reiteração.
VIII – Fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial.
IX – Monitoração eletrônica.20

Embora ausente do rol presentado pelo artigo 319 do CPP, a lei n°


12.403/2011, a última medida cautelar alternativa ao cárcere, que trata sobre a
proibição do investigado / acusado de ausentar -se do país, mediante entrega de seu
passaporte, está inserido no artigo 320 do CPP. De acordo com Gustavo Henrique
Regi Ivahy, “é a menos severa das medidas alternativas à prisão. Isso porque, o grau
de restrição à liberdade de locomoção será diminuto”.21
A lei n° 12.403/2011, trata-se de medida que tem como principal finalidade
impedir a fuga e assegurar a aplicação da lei penal, imputando ao sujeito a proibição
de ausentar do país – e não só da Comarca, como prevê a medida cautelar prevista
no art.319, IV, do CP, para a qual deverão ser comunicadas as autoridades de polícia
de fronteiras (Policia Federal) e determinado o recolhimento do passaporte, no prazo
de 24 horas.
Diante de todo o contexto narrado, a convenção contra a tortura e outras penas
ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (Resolução n° 39/46 da
Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1984) aduz que essas
condutas, para fins de caracterização, devem ser praticadas por um agente público
ou qualquer outra pessoa agindo a título oficial, por sua instigação ou com o seu
consentimento expresso ou tácito, desde que não decorra de sanção legitima ( artigo
1°, n° 1).
Levando-se em conta o que foi observado, em direito pátrio, cumpre dizer que
a Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso III, prevê que ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Da mesma forma, deve ser

20
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 13 de maio de 2019.
21
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2003.
26

respeitada a integridade física e moral dos presos (artigo.5°, inciso XLIX). Quer-se,
assim, a defesa da dignidade humana, fundamento da república Federativa do Brasil,
nos termos do artigo 1°, inciso III, Carta Maior. Além disso, estarão presentes um
representante do Ministério Público e um defensor (constituído ou integrante da
Defensoria Pública, caso a pessoa detida não possua defensor constituído no
momento da lavratura do flagrante).
Durante o interrogatório do preso em audiência de custódia, será ele
perguntado sobre o tratamento recebido em todos os locais por onde passou antes da
apresentação à audiência, assim como questionado sobre a ocorrência de tortura e
maus-tratos, com adoção das providência cabíveis (artigo 8°, inciso VI), como a
realização de exame de corpo delito para verificação de sua materialidade (artigo 8°,
inciso VII e respectivas alíneas). E, por fim, o artigo 11 da Resolução cuida,
juntamente, do tratamento a ser dado na hipótese de alegação de tortura e / ou maus-
tratos sofrido pelo preso. O mesmo há de ser plicado quando a autoridade judicial
entender existentes indícios da pratica de tortura por parte dos agentes estatais que
a sucederam até o momento da audiência de custódia.
27

5. CONCLUSÃO

Nos últimos anos, em se tratando de matéria penal e processual penal,


percebe-se uma certa carência em relação aos direitos constitucionais, dentro do
Brasil, como cediço, o objetivo do processo penal é o direito de punir, que pertence à
jurisdição, não às partes. Assim, a ação penal corresponde ao exercício da jurisdição
criminal para solução do conflito, independe do crime, e resulta na necessidade de
busca da conformidade ao direito, com a correta aplicação da lei aos fatos.
Por ser revestida de forma processual penal e, também, possuir força
constitucional, a Audiência de Custódia encontra-se em estágio inicial, mas já é
possível perceber os resultados positivos em relação ao não retardamento das
apreciações judiciais, decorrentes da privação de liberdade, sendo derivadas de pena
definitiva, prisões cautelares ou flagrantes delito. Dois são os sistemas mais citados e
comentados para tanto.
De um lado, tem-se o sistema acusatório, que se caracteriza pela efetiva
separação funcional entre o julgador e o acusador, com o intuito de garantir a
imparcialidade do primeiro, que funciona como um mediador dos demais sujeitos
processuais, que se confrontam em igualdade de armas. Noutro passo, o sistema
inquisitivo tem, como principal elemento, a possibilidade de ocorrência do chamado
processo de ofício, quando, na ausência de um responsável pela acusação, o juiz
concentrará a investigação, a acusação e o julgamento.
O objetivo desse trabalho foi analisar a Audiência de Custódia e abuso de Poder
do Estado de uma forma completa, desde sua origem até seu cumprimento dentro do
teor constitucional, juntamente com as considerações das convenções internacionais.
O poder judiciário tem o dever de tutelar os direitos dos cidadãos e resguardar
uma nova identidade, primeiro, com a Súmula Vinculante n. 11 do Supremo Tribunal
Federal, que dispõe que “só é licito o uso de algemas em casos de resistência e de
fundado receio de fuga ou perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
Estado.
28

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ª ed. São Paulo: Saraiva 2015

CAPEZ, Fernando; COLNAGO, Rodrigo. Prática Forense penal. 8.ed. – São Paulo:
Saraiva, 2015.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 13 Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, pp.
253-254.

MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2. ed.


Campinas: Millennium, 2003.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito pena. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

OLIVEIRA, Eugênio Pasceu . Curso de processo penal - 17.ed.rev.e amp.atual.de


acordo com as leis nº 12.654, 12.683, 12.694, 12.714, 12.735, 12.736, 12.737 12.760,
todas de 2012.- São Paulo: Atlas,2013.

OLIVEIRA, Eugênio Pasceu de curso de processo penal. 17.ed.rev.e amp.atual.de


acordo com as leis nº 12.654, 12.683, 12.694, 12.714, 12.735, 12.736, 12.737 12.760,
todas de 2012.- São Paulo: Atlas,2013.

PAIVA, Caio. A Defensoria, a tortura e as audiências de custódia. Consultor


Jurídico, 2015. Disponível em:< https://www.conjur.com.br/2015-set-29/tribuna-
defensoria-defensoria-tortura-audiencias-custodia>. Acesso em: 15 de maio de 2019.

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https://www.clmais.com.br/presos-em-flagrante-passam-pelas-audiêcias-de-custódia-
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http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1220.

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