Professional Documents
Culture Documents
Prevenção de Risco
Sísmico
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Biologia e Geologia
Página 1
Introdução
Lisboa, no decurso do século XVII e até às primeiras décadas do século XIX, foi uma das
cidades mais importantes para o comércio mundial. Devido à sua situação geográfica e
ao império conseguido com a expansão marítima, era uma cidade portuária de
referência. Era uma das cidades mais populosas da Europa, com uma população
estimada, nas vésperas do Sismo de 1755, entre os 200 000 e os 250 000 habitantes. Cidade
labiríntica, com muitas estradas estreitas e sombrias, devido aos prédios altos. Muito
animada pelo comércio de novos produtos vindos de todo o mundo.
No dia 1 de Novembro de 1755 celebrava-se em Portugal o dia de todos os Santos (a
população portuguesa era muito devota à religião católica) por todo o país. As igrejas
encontravam-se cheias de velas e fiéis. A temperatura, para a época do ano em questão,
estava elevada (há quem diga que foi um prenúncio da tragédia). Um violentíssimo sismo,
seguido de um Tsunami e incêndio (uma das causas apontadas foi a grande quantidade
de velas acesas nas casas e igrejas) arruinou a cidade de Lisboa, especialmente a zona da
Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal.
O terramoto de 1755 teve também um enorme impacto político e sócio económico na
sociedade portuguesa do século XVIII. Com ele surgiram em Portugal, os primeiros estudos
científicos de um sismo, marcando assim o nascimento da sismologia moderna.
Considerado, à escala mundial, um dos maiores e mais mortíferos da história, é um dos
eventos históricos melhor documentados, estudados e discutidos pela comunidade
científica, ao longo destes 4 séculos.
Em 2012 realizou-se em Lisboa a 15.ª Conferência Mundial de Engenharia Sísmica, onde
foram apresentados e discutidos trabalhos, com vista à mitigação de riscos sísmicos. Uma
das empresas participante foi a americana AIR Worldwide Corporation conhecida por
desenvolver modelos de risco para catástrofes. No artigo que publicou “Seismic Risk
Assessment of Lisbon Metropolitan Area under a Recurrence of the 1755 Earthquake with
Tsunami Inundation”, descreveu o modelo de risco sísmico baseado no terramoto de 1755
e o resultado da simulação de perdas e danos para a cidade Lisboa, tendo como
pressuposto a ocorrência de idêntico terramoto na atualidade. Com base neste artigo e
alguma pesquisa, histórica e científica, será abordada a Importância do conhecimento do
risco sísmico. A escolha de materiais a usar na construção de edifícios e infraestruturas, o
planeamento, o rigor dos projetos, o conhecimento da densidade populacional, a
formação e sensibilização das populações, no comportamento a adotar durante e após
os terramotos e tsunamis, podem fazer a toda a diferença no que respeita aos danos e
perdas.
Página 2
Enquadramento Geológico – Área Metropolitana de Lisboa (AML)
Página 3
1
[1] Seismic Risk Assessment of Lisbon Metropolitan Area under a Recurrence of the 1755 Earthquake
with Tsunami Inundation
Página 4
Provocado pelo terramoto com epicentro no mar e
pelos movimentos tectónicos das placas. Com ondas
de 20 m destruiu no Algarve fortalezas costeiras e
TSUNAMI habitações, e destruiu toda a baixa de Lisboa (Terreiro
do Paço, Ribeira das Naus, Jardim do Tabaco, Rossio
entre outros).
A Reconstrução de Lisboa
Após o terramoto Marquês de Pombal, ordenou que fosse feito um inquérito, para se
Imagem
apurar as causas da destruição de3Lisboa.
– Dados do Terramoto
Sobre de 1755
as suas ordens e de uma forma planeada,
cuidada e inovadora, Lisboa foi reconstruída.
No terreno limpo, iniciou-se a reconstrução com planta rectilínea e geométrica
(Imagem 4). As ruas passaram a ser largas, com um traçado geométrico e com passeios
calcetados. Construção de rede de esgotos. Projeto igual para todos os prédios
particulares. Alinhamento da fachada das igrejas pela altura dos restantes edifícios.
Utilização da “gaiola pombalina” (Imagem 5), sistema para resistir aos abalos sísmicos, na
construção dos edifícios. Entre os edifícios, fizeram-se muros (os corta – fogos) para evitar a
propagação das chamas nos incêndios.
Página 5
Imagem 5 – Sistema Gaiola Pombalina
O inquérito mando fazer por Marquês de Pombal, foi a primeira iniciativa de descrição
objectiva no campo da sismologia, razão pela qual é considerado um precursor da ciência
da sismologia. O uso na construção de materiais e técnicas resistentes ao fogo e aos sismos
transformou Lisboa numa cidade moderna e com menor vulnerabilidade aos terramotos.
Página 6
2) Perigosidade – risco sísmico em si mesmo – locais propensos a sismos mais ou menos
fortes. Atendendo à situação geográfica e geológica a AML está localizada na região
com o maior nível de risco sísmico em Portugal (neste estudo mede-se o grau de perigo
pelo terramoto e tsunami de 1755).
3) Exposição – Pessoas e bens expostas ao sismo - dependem da densidade populacional;
A AML é muito urbanizada - o número total de edifícios habitacionais tradicionais atingiu
434.600, que consistem em 1.423.654 habitações. A exposição concentra-se nos
concelhos de Lisboa, Oeiras, Amadora, Odivelas e a zona ribeirinha de Almada.
4) Vulnerabilidade – é maior ou menor capacidade das construções e das infraestruturas
(são analisados os materiais de construção, ano de construção e características do solo)
para resistirem ao sismo com o mínimo de danos e também ao grau de preparação das
populações para agir durante e após o sismo.
- Alvenaria: 34%
- Estrutura em Aço: 14
tem estrutura de aço
- Madeira: 1%
Página 7
O modelo de Terramoto da AIR usa como unidade básica para aferir a variação espacial
A vulnerabilidade do edifício na AML muda do nível mais alto antes de 1962 para alto
para 1962-1985, e finalmente para o nível moderado após 1985.3
A altura dos edifícios é também um atributo importante, afecta a vulnerabilidade, e é
igualmente contemplado neste modelo.
Os danos provocados pelo terramoto estão diretamente relacionados com a resposta
dinâmica do edifício ao movimento do solo, que depende tanto das características do
solo quanto das características da estrutura. Para reconstruir o movimento do solo da AML
foram usados modelos estocásticos baseados em probabilidades, comparando os
diferentes resultados com o mapa de isossistas reais do sismo de 1755.
Também o Tsunami após o terramoto pode impor impactos extremamente
devastadores na economia e na sociedade, foi o caso do Tsunami de 1755 em Lisboa, por
isso também foram construídos modelos para avaliar o seu risco, tendo por base a
profundidade de inundação, a velocidade de fluxo e os detritos transportados. Neste
estudo, a propagação do tsunami e a simulação foram feitas usando o código COMCOT
(v1.7) desenvolvido por Xiaoming Wang[4]. A simulação baseou-se nos dados batimétrico
Página 8
e topográficos (ETOPO2) divulgados pelo Centro Nacional de Dados Geográficos (NGDC)
dos EUA. Em terra, os dados ETOPO2 foram substituídos por dados digitais de elevação SRTM
90m produzidos pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) dos EUA.
Conclusão
A partir do Terramoto de 1755, partilhando as ideias e preocupações com o
planeamento e construção de edifícios e infraestruturas de Marquês de Pombal, governos
e cidadãos, ao longo de várias gerações, tem trabalhado em diversas áreas, numa
tentativa de diminuir o grau de destruição provocado por este tipo de catástrofes. O
conhecimento do grau de risco de Terramotos e Tsunamis é uma ferramenta essencial para
garantir a sensibilização da população em matéria de autoprotecção, e, assim, promover
medidas de minimização do risco. Passando muito, pela sensibilização das populações
para este tema, pelo planeamento e regulamentação da construção de infraestruturas e
pelo desenvolvimento e inovação de materiais de construção, softwares de cálculo e
modelos de risco, como o modelo desenvolvido pela Worldwide (AIR) focado no artigo.
Recorrer à História, Geologia, Sismologia, Engenharia e Informática entre outras,
revela-se de grande importância no estudo e medição de risco sísmico para ajudar numa
Página 9
Proteção Civil eficiente. Através da interação destas áreas de conhecimento, pode-se
estudar o passado, para conhecer o presente e perspectivar o futuro.
Fontes
(Última data de Pesquisa 1 de maio de 2018)
Artigos
Oliveira S. C.(2012). 15.ª Conferência Mundial de Engenharia Sísmica, 15 WCEE
Tang Y., Yin Y., Hill K., Katiyar V., Nasseri A. & Lai T. (2012). Seismic Risk Assessment of
Lisbon Metropolitan Area under a Recurrence of the 1755 Earthquake with Tsunami
Inundation, 15 WCEE
Livros
1. Ferreira C. (1979). O risco sísmico em Portugal e sua influência na segurança estrutural
das construções (tese apresentada a concurso para especialista do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil)
2. Ferreira J. & Ferreira M. (2007), Planeta com Vida (Geologia, Volume 1). Constância:
Santillana
3. Lopes M. et al. (2008), Sismos e Edifícios. Lisboa: Edições Orion
4. Pereira A., Trindade J., Gomes A. J. & Leandro A. (2015). Terramoto de Lisboa de 1755:
o que aprendemos 260 anos depois? (capítulo: Vestígios do Tsunami de 1755: um
indicador negligenciado no litoral de Portugal Continental?). Coimbra: Imprensa da
Universidade de Coimbra
Crédito de Imagens
Imagem de capa – Ilustração de Terramoto de Lisboa de 1755; http://www.dnoticias.pt/5-
sentidos/especialistas-internacionais-reconstituem-filme-dos-acontecimentos-de-tsunami-de-
1755-BG1967773
Imagem 1 – Área Metropolitana de Lisboa (AML); http://www.cibersul.org/wp-
content/uploads/2015/01/areaLisboa.jpg
Imagem 2 – Placas Tectónicas; https://br.pinterest.com/pin/114912227972062143/?lp=true
Imagem 3 – Dados do Terramoto de 1755
Imagem 4 – Planta da Reconstrução de Lisboa;
https://baixapombalinafabiosilva.wordpress.com/plano-de-reconstrucao/
Imagem 5 – Sistema Gaiola Pombalina;
https://historiauniversaldelosterremotos.wordpress.com/portfolio/xxxxxxx/
Imagem 6 – Materiais usados na construção na Área Metropolitana de Lisboa; Retirada do
artigo: Tang Y., Yin Y., Hill K., Katiyar V., Nasseri A. & Lai T. (2012). Seismic Risk Assessment
Página
10
of Lisbon Metropolitan Area under a Recurrence of the 1755 Earthquake with Tsunami
Inundation, 15 WCEE
Imagem 7 – Grau de vulnerabilidade do edifício em função do ano de construção;
Retirada do artigo: Tang Y., Yin Y., Hill K., Katiyar V., Nasseri A. & Lai T. (2012). Seismic Risk
Página
11