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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

A Atuação do Terapeuta junto à família do


Doente Mental

Edição digital

São Paulo
Fundação Juscelino Kubitschek
2015
Produção Cultural: Fundação Juscelino Kubitschek
Texto e Editoração: Myrian Massarollo
Capa, projeto gráfico e diagramação: Aline Massarollo
Revisão: Patrícia Caroano Giampa
Edição digital, 2015
Apresentação

Já se vão 40 anos desde o evento da luta


antimanicomial que acabou por instaurar no Brasil, em
2001, um novo modelo de atendimento ao doente mental.
Realmente não há como negar que a grande
maioria dos manicômios existentes no país não passava
de presídios onde se escondiam as diferenças e
imperavam os maus-tratos. A falta de atendimento e
acompanhamento consistentes que pudessem promover
o desenvolvimento do indivíduo e a possibilidade de
reintegração social relegavam os pacientes a um
processo de fragmentação cada vez mais profundo.
Diversos livros, alguns bem recentes, trouxeram a
tona um nível de descaso e até mesmo de barbárie dentro
das instituições manicomiais que comoveu a todos e
justificou a luta antimanicomial e a legislação que aboliu
estes institutos.
No entanto, estamos no país dos “8 ou 80”, ou
seja, ou não se faz nada, ou se faz tudo de supetão. Isso
conduz a mudanças que, ainda que necessárias, acabam
por ser feitas de forma incompleta, ou pouco
fundamentada. O processo de desospitalização, ou de
desinstitucionalização, do doente mental no Brasil
aconteceu assim: em um dia os doentes estavam
internados e no outro estavam na rua. Os doentes foram
entregues às famílias, que passaram a ter a
responsabilidade de cuidar deles sem saber como. Além
disso, a chegada de alguém com problemas mentais,
ainda que parente e amado, alterava totalmente o
contexto familiar, sem que houvesse preparo dos novos
cuidadores para lidar com eles.
Hoje existem diversos ambientes especializados no
cuidado aos doentes a nível ambulatorial, mas saber se a
família é tratada, é amparada, é cuidada, é acolhida, e
como isso esta ocorrendo deve ser de interesse de todos,
pois é evidente que quando não amparada a família
começa a apresentar sintomas de adoecimento e de
desagregação.
Esta obra não pretende esgotar o assunto, nem
seria possível, mas visa apontar maneiras como o
terapeuta pode atuar junto aos familiares dos DMs de
forma a que possam lidar de forma mais amena com a
dura realidade de conviver com alguém que pode por
diversos motivos ficar fora do que se chama
“normalidade”, ou seja, a possibilidade constante de surto
pelos que apresentam um diagnóstico de patologia
psíquica. As famílias suportam situações de medo em
relação ao DM: medo de que possam se colocar em risco,
medo de que coloquem em risco a família ou alguém
conhecido, medo de desencadear uma crise sem querer,
medo de não saber como cuidar.
A cada ano, mais pessoas apresentam sintomas
que indicam psicopatologias. Esses indivíduos necessitam
de cuidados, assim como suas famílias necessitam de
apoio.
Um dos depoimentos mais fortes a que tivemos
acesso na elaboração desse livro foi o de uma mãe que
chamada às pressas ao serviço do filho, encontrou-o no
canto de uma sala após ter quebrado tudo a sua volta. Os
colegas estavam em choque, pois o rapaz era
considerado de bom trato. Por atenção justamente a ele
resolveram chamar a mãe, antes de ligarem para a polícia
ou para os bombeiros, eles mesmos não sabiam a quem
recorrer diante do surto. Ela disse que esperava um
acidente de trabalho, não o jovem com o olhar desvairado
grudado à parede. Ela não sabia o que fazer com ele. Seu
único pensamento era um questionamento pessoal: “onde
foi que eu errei”?
Esperamos que este material traga alguma luz às
famílias de DMs, e também aos jovens terapeutas que
chegam a esta área sem saber exatamente como lidar
com estas famílias.

Myrian Massarollo
Presidente FJK
“Eu não sou louco. É o mundo que
não entende minha lucidez.”
Raul Seixas
SUMÁRIO

Introdução 10
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial 16
CAPS em São Paulo 20
Tudo começa com o diagnóstico 22
A família no contexto do transtorno mental 28
A inclusão da família na atenção psicossocial 32
Maiores problemas verificados em relação à família 38
Despreparo familiar 39
Carência de apoio psicoterapêutico ambulatorial 40
Falta de conhecimento sobre a doença 41
Descrença na saúde coletiva 42
A atuação do terapeuta junto à família do DM 43
Pilares da ação terapêutica 51
Atividades terapêuticas que podem ser desenvolvidas 52
Terapias breves, focais e de apoio 55
Terapias de grupo e terapias familiares 56
Considerações Finais 65
Referências Bibliográficas 70
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Introdução

O presente trabalho de pesquisa pretende


estabelecer uma relação entre a atuação do terapeuta
junto à família do indivíduo com transtorno mental e de
comportamento, e verificar as problemáticas desta família
na convivência com o próprio doente mental.

Assim, o objetivo principal é verificar se existe


alguma base de apoio às famílias, e na constatação
afirmativa qual seria o trabalho efetuado através dela; e
como objetivo secundário verificar a relação da família
com o doente mental e quais as suas maiores dificuldades
decorrentes deste convívio.

Para isso tornou-se necessário estabelecer alguns


conceitos, que ainda que não fechados, pudessem servir
de base para a discussão e consequente formação de
conhecimento aplicável.

Desta forma, dentre os conceitos que se fazem


necessários estabelecer como ponto de partida esta o de
transtorno mental. Os transtornos mentais e do
comportamento podem ser minimamente definidos como

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

problemas clinicamente significativos que se caracterizam


por alteração de modos de agir, de se relacionar com o
outro, ou uma alteração de funções mentais (DE JESUS,
2011).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde


(OMS) compreendem-se por transtornos mentais e
comportamentais as condições caracterizadas por
alterações doentias de pensar ou do humor e do
comportamento associadas à angústia expressiva ou
deterioração do funcionamento psíquico global (OMS,
1992).

Ressalte-se que um episódio isolado de


comportamento anormal ou um curto período de
anormalidade não caracteriza que um indivíduo tenha um
transtorno mental ou de comportamento.

Para que seja considerado um transtorno, esses


comportamentos devem ser persistentes (geralmente
mais de 6 meses) e dever causar perturbação funcional
no individuo, ou seja manifestar falta de condições de se

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

inserir, ou se manter no mercado produtivo (JESUS,


2011).

Estabelecer os limites entre a doença e uma


condição ocasional torna-se, portanto, imprescindível. Um
indivíduo pode modificar seus comportamentos por razões
emocionais ou sociais e apresentar um estado deprimido
ou uma depressão.

O estado deprimido surge por uma situação ou


uma determinada circunstancia estressante, enquanto a
depressão é uma doença que necessita de tratamento.
(JESUS, 2011).

Em relação à rede de atenção ao doente mental, o


nosso país, apesar de já ter se passado um considerável
lapso de tempo desde a resolução da desativação dos
manicômios em 2001, ainda vive a fase de
implementação da rede substitutiva pós-movimento
antimanicomial, iniciada com o estabelecimento dos
CAPS - Centros de Atenção Psicossocial, das residências
terapêuticas e a ampliação do número de leitos
psiquiátricos em hospitais gerais.

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

O processo tem avançado, mas ainda convive com


o antigo modelo manicomial, marcado pelas internações
de longa permanência (LOURENÇO)

No entanto, diversos estudos epidemiológicos


internacionais, inclusive no Brasil, já demonstraram que a
maioria dos portadores de transtornos mentais não se
encontra nos ambulatórios e consultórios de psiquiatria, e
muito menos nos hospitais psiquiátricos, mas sim na rede
básica de saúde, também chamada de rede de cuidados
primários (IACOPONI,1999).

Pesquisa da ABP - Associação Brasileira de


Psiquiatria levada a efeito em 2010 constatou que 23
milhões de brasileiros sofrem de algum transtorno mental,
aproximadamente 12% da população. O mesmo
levantamento constatou que pelo menos 5 milhões de
pessoas, 3% da população, sofrem com transtornos
mentais graves e persistentes (LOURENÇO, 2010).

Em virtude da grande importância do CAPS em


nosso trabalho, uma vez que é o local de atenção ao
doente mental e integração deste com a família, o que o

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

colocaria também como o local ideal de atendimento a


esta família, trataremos melhor do sistema em capítulo
próprio.

Cabe então o segundo grande conceito a ser


estabelecido, que é a conceituação de família.

A conceituação mais comum de família leva em


consideração o lócus, ou seja, o lugar. Nesse sentido,
família é o conjunto de pessoas que moram sob o mesmo
teto, não importando o número de gerações
(BASSIT,1992).

No entanto, não é incomum que ascendentes,


descendentes, e colaterais que moram em outro domicílio,
exerçam influência na dinâmica familiar (BASSIT,1992).

Não se pode deixar de considerar que neste


universo de dinâmica familiar também há outras pessoas,
que ainda que não morem na mesma residência, e não
possuam laços consanguíneos, exercem influência na
família (BASSIT,1992).

A família é um núcleo com pessoas que convivem


em determinado lugar, durante um espaço de tempo mais

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

ou menos longo e que se acham unidas ou não por laços


de consanguinidade, recebendo influência da sociedade
em que está inserida, e exercendo sobre ela influências
específicas. (SOIFER, 1982).

Diante do colocado conclui-se que família não é


aquela formada necessariamente apenas por parentes
consanguíneos. São todos aqueles que estão próximos a
ela e que exercem influência direta, negativa ou positiva
sobre os seus membros.

Portanto, o doente mental terá uma gama de


pessoas com quem se relacionar. Sendo necessário se
promover um processo de adaptação para superarem
juntos os obstáculos que surgirão (MONTEIRO;
BARROSO, 2000).

A família é o elo responsável por promover o


contato entre o doente e os serviços de saúde existentes
(AMARAL; DURMAN, 2004), pois cabe a eles a
responsabilidade de levar o doente até o serviço
disponível, de contatar o serviço em caso de emergência,

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

e muitas vezes de admitir no contexto familiar o serviço de


atendimento residencial.

Neste atual sistema de atendimento, que


estabelece a permanência do doente no interior da
família, torna-se necessário rever a relação entre o
serviço, os usuários e seus núcleos familiares (PEREIRA,
2003).

Desta forma, voltamos a questão inicial que move o


presente trabalho, que é a existência ou não de
estratégias psicoterapêuticas, ou terapêuticas, que
envolvam diretamente os familiares no tratamento do
doente mental, e se existem estratégias
psicoterapêuticas, ou terapêuticas de apoio a esses
familiares.

CAPS - Centro de Atenção Psicossocial

Os CAPS estão previstos como as portas de


entrada e regulação da saúde mental e, como
anteriormente colocado, foram criados na intenção de

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

substituir as internações nos manicômios pelo


atendimento aberto na comunidade (MIRANDA, 2015).

Como verificamos os CAPS são instituições


destinadas a acolher os pacientes com transtornos
mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-
los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-
lhes atendimento médico e psicológico.

A principal característica do CAPS é buscar


integrar o doente mental a um ambiente social e cultural
concreto, designado como seu território, o espaço da
cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários
e familiares.

Assim, cabe principalmente ao CAPS a efetividade


na substituição da internação hospitalar, através de uma
atenção que não afasta os usuários de suas famílias e da
comunidade, capaz de envolver familiares no
atendimento, com acolhimento e humanização, ajudando
na reabilitação psicossocial (MIRANDA, 2015).

A grande quantidade de pessoas com distúrbios


mentais e comportamentais no país leva ao

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

questionamento acerca da capacidade do CAPS – Centro


de Atenção Psicossocial em promover o atendimento
necessário a todas (DE JESUS, 2011; LOURENÇO,
2010).

Em 2010, apesar da grande quantidade de


pessoas que sofrem com transtorno mental, existiam
1.513 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no Brasil.
Além disso, as unidades eram consideradas como mal
distribuídas. Dos 27 estados brasileiros, apenas Paraíba e
Sergipe tinham a capacidade para atender o parâmetro de
uma unidade para cada 100 mil habitantes (DE JESUS,
2011; LOURENÇO, 2010).

Em abril de 2015, o Portal do Ministério da Saúde1


aponta a existência de 1670 CAPS no país. O que
constituiria um aumento de 157 unidades no período
compreendido entre 2010 e 2015.

Ressalte-se que no número de unidades CAPS


apontadas pelo Ministério da Saúde, 268 são CAPSAD,
especializadas em tratamento de usuários de drogas.

1
Disponível em http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/acoes-
e-programas/conte-com-a-gente/leia-mais-conte-com-a-agente

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Assim, das 1670 unidades, apenas 1402 realmente


estão voltadas para a atenção à saúde mental. Portanto,
levando-s isso em consideração não houve um aumento
real e sim uma diminuição das unidades de atendimento e
atenção à saúde mental.

Os centros de atenção psicossocial são


classificados em função do tipo de atendimento:

 CAPS I e CAPS II: Atendimento diurno (segunda a


sexta) de adultos com transtornos mentais;
 CAPS III: Atendimento diurno e noturno (24 horas) de
adultos com transtornos mentais;
 CAPS Infantil I e II: Atendimento diurno (segunda a
sexta) a crianças e adolescentes com transtornos
mentais;
 CAPS Infantil III: Atendimento diurno e noturno
especializado à crianças e adolescentes com
transtornos mentais;
 CAPS AD – serviço especializado para usuários de
álcool e drogas.

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

CAPS em São Paulo


Tomemos por exemplo de distribuição dos CAPS o
Estado de São Paulo, e em sua capital o município de
São Paulo, onde elaboramos um levantamento um pouco
mais detalhado em relação à atenção ao doente mental
vigente.
Escolhemos São Paulo em virtude do tamanho e
desenvolvimento, mas poderíamos ter utilizado qualquer
outro estado.
Aliás, seria interessante que se verificasse a
situação de cada uma das 27 unidades federativas, até
mesmo para uma comparação. Fica a ideia para outras
publicações.
No Estado de São Paulo a Secretaria de Saúde do
Estado aponta a existência de 116 unidades ativas do
CAPS. Destas 63 estão no município de São Paulo
(capital).
As 63 unidades do CAPS ativas no município de
São Paulo estão divididas em:
 20 unidades CAPS AD
 04 unidades CAPS I
 21 unidades CAPS II

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

 03 unidades CAPS III


 15 unidades CAPS infantil

Portanto, podemos inferir que proporcionalmente,


existem no município de São Paulo muito mais unidades
destinadas ao tratamento de usuários de álcool e/ou
drogas do que destinadas ao tratamento de indivíduos
com transtornos mentais, salvo os atendidos pelo CAPS II
- Atendimento diurno (segunda a sexta) de adultos com
transtornos mentais.
Talvez isso se dê em virtude do município estar
tomado por usuários, não apenas na chamada
cracolândia, mas espalhados pelas calçadas do centro e
dos bairros.
Obviamente o uso constante de produtos tóxicos
(drogas e bebidas) leva à deterioração dos neurônios e
consequentes sequelas cognitivas.
No entanto, estamos nos atendo aos transtornos
mentais não causados por álcool e drogas, ainda que
entendamos que este grupo precise de tratamento tanto
quanto os demais.

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Nosso grupo de estudos é o composto por famílias


de pessoas com diagnóstico de doença mental que
residam com elas.

Tudo começa com o diagnóstico

O primeiro grande impacto que a família recebe


ocorre quando do fechamento do diagnóstico da doença
mental.

O transtorno mental vem apresentando um


crescimento constante ao longo das últimas décadas
atingindo um percentual estimado entre 6 e 16 % no sexo
masculino, e entre 2 a 9% no sexo feminino, sendo o fator
de risco maior no meio urbano que na zona rural (MIELKE
et al, 2010).

As pessoas inseridas no fator de risco não são


doentes mentais, apresentando algum tipo de
inadequação aos padrões estabelecidos, mas se não
forem efetivamente atendidas e cuidadas podem
desenvolver alguma psicopatologia.

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

A maioria precisa de um apoio que permita a


inserção plena no meio social e na realidade. Quando os
indivíduos em risco são jovens é comum que ocorra
rejeição pelos pares no ambiente escolar o que é uma
mola propulsora para que se “fechem” em um mundo
próprio estabelecendo um contexto de isolamento.

Percebe-se então que parte da população de


portadores de transtornos mentais desenvolve
agravamentos da situação, ou tem por start da condição
patológica diversos fatores sociais (MIELKE et al, 2010).

O transtorno mental pode ser resultante de fatores


genéticos, como uma propensão para determinadas
síndromes ou psicopatologias.

O transtorno mental também pode ser decorrente


de fatores biológicos, advindos de modificações no
sistema nervoso central e que afetam o sistema cognitivo
(memória, atenção, concentração, pensamentos, etc.)
bem como distúrbios da regulação das emoções e do
stress.

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

A regulação hormonal é um fator biológico que tem


também um papel importante no desenvolvimento do
transtorno mental, geralmente encontrados nas
depressões, transtornos do stress pós-traumáticos e
transtornos alimentares.

Além dos fatores já vistos, cabe colocar que o


transtorno mental também pode ser resultante de um fator
psicológico, pois momentos de desajustes internos podem
deixar a pessoa mais propensa a um transtorno mental.
Esses momentos podem ser reflexos de fatores
socioeconômicos ou ambientais, ou também fases do
ciclo vital como puberdade ou velhice, assim como perdas
de pessoas ou de status (PEREIRA, 2003).

A forma como os transtornos mentais são


identificados e diagnosticados é semelhante aos métodos
clínicos utilizados para transtornos físicos, só que
voltadas para o universo psicopatológico.

Inicialmente é elaborada e realizada uma entrevista


com o paciente, e com outras pessoas, incluindo a sua
família, um exame clínico para verificar o estado mental e
suas condições orgânicas, e os exames e testes que

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

forem necessários para comprovar a existência do


transtorno.

Para nortear e padronizar o diagnóstico, o


tratamento, e o reconhecimento desses transtornos a
OMS - Organização Mundial de Saúde criou a
Classificação Internacional de Doenças (CID). Desde
1992 o CID encontra-se em sua décima revisão, o CID 10.
Além do conhecimento sobre o CID 10 uma vez que as
equipes são multidisciplinares, o psicólogo utiliza para
fechar seus diagnósticos o DSM 5.

Segundo o parágrafo único do artigo 1º da


Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 15/1996
que institui e regulamenta a concessão de atestado
psicológico para tratamento de saúde por problemas
psicológicos:
Parágrafo Único - Fica facultado ao
psicólogo o uso do Código Internacional
de Doenças - CID, ou outros Códigos de
diagnóstico, científica e socialmente
reconhecidos, como fonte para
enquadramento de diagnóstico.

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Para que um desses diagnósticos seja


estabelecido o paciente terá que ser avaliado por um
psicólogo, ou um psiquiatra, que promoverá através de
uma entrevista um levantamento de dados que dê suporte
ao seu parecer.

Nesta entrevista o profissional irá pesquisar qual a


queixa principal do paciente, o motivo da consulta, a
história da doença, ou seja, quando e como tais sintomas
surgiram, a história pessoal do paciente e a história
familiar, com objetivo de constatar a incidência de caso
semelhante na família.

Fechado o diagnóstico já se inicia um processo de


medo e culpa no seio familiar. No contexto da sociedade
moderna ocidental, os pais são exigidos e culpabilizados
pela educação, pela formação e pelas anormalidades dos
filhos (MELMAN, 2001).

Antigamente a psiquiatria tendia a culpar os pais


pelas inadequações do comportamento da prole,
orientando sua interpretação de conduta para a má
educação ou para a doença (ROSA, 2003).

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

De acordo com o senso comum cabe à família


como um todo e aos pais especificamente, criar filhos
fortes, saudáveis e preparados para o mercado de
trabalho, sendo acusados, direta ou indiretamente, pelo
adoecimento mental dos mesmos (MELMAN, 2001).

Portanto, é uma tendência da sociedade e mesmo


de alguns profissionais da saúde ao pensarem a doença
mental justificarem a determinação da doença ou das
disfunções como frutos da maneira como os pais
conduzem a educação dos seus filhos (ROSA, 2003).

Desta forma, a família reflete a crença social de


que é responsável por tudo de bom ou ruim que ocorre
com seus membros, buscando no próprio núcleo familiar
os motivos da incidência da doença (MELMAN, 2001).

Assim, o início de um processo de desconstrução e


readequação familiar começa no mesmo instante em que
se tem a notícia do diagnóstico, e infelizmente ele já
chega com um ranço de culpa que nem sempre se
justifica.

27
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

A família no contexto do transtorno mental

Abordar a questão da família do doente mental


importa voltar na história para que se possa entender
como se processava e como passou a se processar as
dinâmicas de interação entre os personagens.

Na década de 70, inspirado pelo médico e


psiquiatra italiano Franco Basaglia surgiu no Brasil o
movimento de reforma psiquiátrica que ficou conhecido
como movimento antimanicomial.

O objetivo primordial desse movimento era


substituir as internações nos manicômios por um
tratamento mais humanizado que permitisse o tratamento
do paciente com transtorno mental em ambiente
doméstico.

Ou seja, o movimento antimanicomial pretendia


alterar o sistema de tratamento do doente mental até
então vigente, eliminado a internação, considerada como
forma de exclusão social.

Obviamente o sucesso do empreendimento deveria


se dar diante da instauração de uma nova política pública

28
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

de saúde mental que não apenas desativasse os


manicômios, mas que substituísse as internações por
uma série de iniciativas sociais, culturais, e políticas, além
de promover uma mudança de paradigmas, permitindo
um processo de combate ao estigma e ao preconceito, o
que acarretaria mudar os conceitos e a relação da
sociedade em relação aos portadores de transtorno
mental.

Desta forma, a Reforma Psiquiátrica deveria


substituir o modelo manicomial por uma rede de serviços
psicossociais voltados para a inclusão dos portadores de
transtornos mentais na sociedade.

Essas redes de serviços seriam compostas pelos


CAPS, pelas oficinas de geração de renda, pelas
cooperativas de trabalhos dirigidos, pelas residências
terapêuticas e pelos centros de convivência e cultura.

A maior característica dessas modalidades de


atendimento introduzidas pós reforma antimanicomial é a
de que os pacientes recebem o acompanhamento médico

29
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

de que necessitam em regime ambulatorial e


permanecem com suas famílias.

Portanto, as políticas públicas brasileiras de saúde


mental, a dês-hospitalização e a dês-institucionalização
da assistência mental tornaram a família a principal
responsável pelo cuidado do doente.

No entanto, os processos de inclusão sociofamiliar


do doente mental foram feitos sem se levar em
consideração o despreparo da família para receber e
cuidar desses pacientes, uma vez que o processo ocorreu
sem um período de preparo e sustentação psicológica da
família.

O que ocorreu no Brasil foi a desativação dos


hospitais psiquiátricos para economizar recursos
financeiros, sem que houvesse a preparação de uma rede
alternativa suficiente e de qualidade para atender toda a
demanda da saúde mental, e principalmente, sem a
preparação da sociedade e da família para a inclusão
sociofamiliar dos doentes mentais (MACIEL et al, 2009).

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Obviamente o sistema hospitalocêntrico não era o


ideal, e alguns hospitais se revelaram verdadeiros centros
de maus-tratos e torturas, mas a maneira pouco
estruturada como as desativações ocorreram acabaram
por onerar em todos os aspectos a família. Além disso,
preocuparam-se em capitalizar os CAPS, mas
desvirtuaram sua função, transformando-os num híbrido
que dificulta saber se são equipamentos de atenção
primária, secundária ou terciária (MACIEL et al, 2009)

Alguns teóricos afirmam que houve um descuido


por parte dos promotores da nova política de saúde
mental que se omitiu da formulação de um sistema
integrado, deixando de lado a necessária interação entre
os cuidados primários, secundários e terciários
(SPINOLA, 2006; MACIEL et al, 2009).

De qualquer forma, o importante para nosso


trabalho é que não se perca a referência de que "a
relação da família com o portador de transtorno mental é
historicamente construída" (ROSA, 2003, p. 28). Além
disso, quando o manicômio era o lugar idealizado como o
adequado para o tratamento do doente mental, a família

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo

foi vista como uma instituição incapaz de acolher e cuidar


de um familiar mentalmente transtornado (ROSA, 2003).

Pesquisas reportam que a família do doente mental


considera arcar com atribuições como preconceito,
sobrecarga, tristeza e sofrimento, o que constitui um
considerável empecilho para a real inclusão sociofamiliar
do doente mental, dificultando assim a aceitação da
reforma psiquiátrica e de seus pressupostos (MACIEL et
al, 2009).

Assim, além do necessário processo de


reestruturação da família para receber seu membro e
incluí-lo na rotina diária, e de readequação do doente
mental ao ambiente familiar, os envolvidos precisam
superar a ideia de que não estão aptos ao que deles se
espera.

A inclusão da família na atenção psicossocial

Diversos teóricos buscam estabelecer uma relação


entre a família e a doença mental, cada visão calcada nas
linhas próprias de estudo e nas abordagens pertinentes a

32
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

cada um. Dentre as diversas concepções de família no


contexto de doença mental podemos destacar como
exemplos, sem prejuízo de outros autores trabalhados:

 A família como instrumento na estratégia de


intervenção (SANT'ANA; FONTOURA, 1996);
 A família como um lugar de possível inserção
do doente mental, ainda que não único ou
obrigatório (MIRANDA, 1999);
 A família como vítima da circunstancia e
necessitando de assistência e suporte social
(MOTTA, 1997);
 A família como um sujeito de ação política e
coletiva, construtor de cidadania e avaliador dos
serviços de saúde (SANT'ANA; FONTOURA,
1996; PEREIRA, 1997).
 A família como provedora de cuidado, mas
sempre com o auxílio dos serviços de saúde
nos momentos de crise e não continuamente
(VASCONCELOS, 1992).

33
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Independentemente da forma como a família pode


ser vista pelos teóricos, ela faz parte, querendo ou não,
das diretrizes de atendimento básico à saúde mental.
Assim, torna-se interessante verificar se isso esta
ocorrendo e, sendo positiva a resposta, de que forma isso
esta ocorrendo.

Pesquisa realizada na cidade de João Pessoa, na


Paraíba, com 60 familiares de doentes mentais atendidos
em um hospital psiquiátrico e em uma unidade do CAPS -
Centro de Atenção Psicossocial visando a analisar os
significados atribuídos por familiares de doentes mentais
à família, à família do doente mental e à inclusão social no
atual contexto da reforma psiquiátrica revelou que tanto
os familiares de CAPS como os de hospital psiquiátrico
representaram a família de forma positiva, idealizada e
central (MACIEL et al, 2009).

O ideal de família constantemente é associado a


conceitos positivos como: base, amor, tudo, força, união,
harmonia, respeito, compreensão, dedicação, cuidado,
educação e companhia (MACIEL et al, 2009).

34
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Assim, quando verificamos qual a visão de família


para a sociedade verificamos que ela é percebida como
um espaço obrigatório dos afetos e sentimentos,
responsável pela educação, formação, felicidade e bem-
estar dos seus membros (MELMAN, 2001).

Percebe-se que cabe à família uma obrigação de


ser perfeita, acolhedora, harmônica, visão que não
coincide com a maioria de histórias de vida conhecidas,
ainda que seja o ideal desejado por todos.

Às famílias dos doentes mentais cabe uma


sobrecarga ainda maior, uma vez que além das
responsabilidades usuais também sofrem efeitos de
exclusão, de preconceito, de sentimentos de dor e de
sofrimento, pois o surto psicótico de um membro
desorganiza a vida familiar e atesta a inaptidão de
cuidado adequado ao outro (MELMAN, 2001).

Importante considerar que “a doença não reside,


isolada e culpabilizante, dentro do sujeito, mas no
território virtual que é a interação entre os membros da
família” (SARACENO, 1999, pag. 103).

35
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

A inserção da família no contexto da doença


mental pode e deve ter um papel educativo, pois deve dar
ao familiar a oportunidade de conhecer e entender de
forma mais abrangente a doença. O conhecimento pode
levar a uma maior aceitação da situação e propiciar
instrumentos mais adequados para lidar com ela
(WETZEL, 2005)

Pesquisa levada a efeito em 2001 na cidade de


Natal, no Rio Grande do Norte, com familiares de doentes
mentais verificou insuficiência de estratégias
psicoterapêuticas que envolvessem diretamente o familiar
no tratamento do doente no hospital.

No entanto, posteriormente, em 2007, nova


pesquisa com familiares atendidos pelo CAPS de Natal,
demonstrou que uma vez permitida a colaboração na
execução e organização de projetos a família deixou de
ser uma mera expectadora do tratamento, ou
simplesmente, aquela que levava e buscava o usuário,
para participar efetivamente no tratamento e no serviço
(MIRANDA, 2015).

36
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

A experiência demonstra que trazer a família para o


CAPS e fazer desta um agente ativo de participação
ocasionou uma mudança das práticas terapêuticas até
então vigentes, deixando de estabelecer esforços apenas
no atendimento individual do doente e direcionando-os
para a coletividade de seus relacionamentos afetivos,
sociais, e em especial familiares, pode ser mais
trabalhoso para a equipe, mas pode trazer consideráveis
benefícios (MIRANDA, 2015).

Portanto, fica claro que é fundamental a inclusão


da família na atenção psicossocial, pois a família é
parceira no cuidado ao doente mental, mas também
necessita receber o suporte adequado para superar
situações de desgaste físico, emocional, mental e
psicológico, que advém deste cuidado.

Assim, a família deve receber nos serviços


substitutivos em saúde mental o acolhimento de suas
necessidades e apoio para sua reestruturação (MIELKE et
al, 2010).

37
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Maiores problemas verificados em relação à família

No decurso da pesquisa bibliográfica verificamos


que os familiares de CAPS e de hospitais gerais ao
representarem a família do doente mental a associam a
representações positivas como: importante, responsável,
e imbuídas de cuidado, amor e carinho (MACIEL et al,
2009).

No entanto, as mesmas fontes trazem reproduções


negativas como: preconceito, impaciência, solidão,
preocupação, sofrimento, tristeza, doença e angústia
(MELMAN, 2001; MACIEL et al, 2009).

As pesquisas de Melman (2001), e Maciel et al.


(2008), mostram que ao se referirem ao preconceito, os
familiares do doente mental não se colocam como
preconceituosos, mas como vítimas de preconceitos da
sociedade.

As representações sobre o preconceito são


ancoradas em relatos de vivências e sofrimentos a partir
das interações sociais e das alterações comportamentais
do portador de transtorno mental (MACIEL et al, 2009).

38
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Isso afasta não só o doente, mas a família do


convívio social, gerando tristeza, solidão e um sentimento
de revolta íntima.

Por todo o visto percebemos que os maiores


problemas que atingem a família estão calcados em
quatro fatores essenciais: despreparo familiar, ausência
ou limitação de apoio psicoterapêutico ambulatorial à
família; falta de conhecimento em relação à doença; e
descrença na saúde pública.

Despreparo familiar

A dificuldade das famílias em estabelecer e de


manter uma estrutura e padrões de comportamento que
permitam um determinado equilíbrio doméstico e um
apoio eficaz ao doente mental na prevenção dos surtos
leva a um estresse contínuo e insolúvel (MACIEL et al,
2009).

A manifestação do despreparo familiar se torna


aparente quando das demonstrações de tensão e
hostilidade manifestadas pelos membros, ou por um dos
membros apenas, que recebe o encargo de assumir e

39
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

manifestar os problemas familiares (AMARAL; DURMAN,


2004).

Carência de apoio psicoterapêutico ambulatorial

Os CAPS – Centro de Atenção Psicossocial são


unidades de saúde regionalizadas e oferecem
atendimento de cuidados intermediários entre o regime
ambulatorial e a internação hospitalar.

Nesses locais a atenção deve ser realizada de


forma individual e/ou em grupos, contando com
atendimento à família por meio de visitas domiciliares, e
atividades comunitárias, enfocando a integração do
indivíduo em sofrimento psíquico na comunidade e sua
inserção social (AMARAL; DURMAN, 2004).

A maioria das atividades propostas é voltada para


o doente mental, e aquelas unidades que ampliam o
atendimento à família possuem vagas limitadas que não
suportam a demanda. Da mesma forma, a maioria dos
atendimentos computados como sendo para as famílias
estão na realidade focados no apoio que estas devem dar

40
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

aos doentes mentais e não nas necessidades da família


em si, nas suas angústias e medos (MELMAN, 2008).

Falta de conhecimento sobre a doença

A desinformação das famílias sobre a doença


mental ocorre pela falta de esclarecimentos. A família é o
núcleo social básico e o primeiro a ser mobilizado no
processo de atenção, visando à reabilitação social do
doente mental, contudo, raramente sabem como lidar com
a situação.

Os problemas de uma família são demonstrados


em termos interpessoais dentro do ambiente familiar,
onde os membros querem e precisam de ajuda para curar
a angústia coletiva. A família tem que remodelar e
reestruturar sua dinâmica sem, no entanto, entender
exatamente o como e o porquê, pois desconhece as
características da doença, podendo inclusive provocar
inadvertidamente um agravamento acreditando estar
ajudando.

Assim, o conhecimento facilita as alterações


necessárias, inclusive o abandono dos antigos papéis em

41
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

função da nova realidade pós-aparecimento da doença ou


incapacidades. (AMARAL; DURMAN, 2004).

Descrença na saúde coletiva

A descrença na saúde coletiva ocorre


principalmente em virtude da dificuldade de atendimento.
O Estado tem obrigação de oferecer assistência à saúde
qualificada aos cidadãos, dentro desse dever se enquadra
o atendimento à saúde mental. É previsão do Ministério
da Saúde que o tradicional hospital psiquiátrico seja
gradualmente substituído por uma rede de serviços
diversificada e qualificada, incluindo ambulatórios,
unidades de saúde mental em regime de hospital dia,
centros de atenção psicossocial, pensões protegidas e
centros de convivência, entre outros (Brasil, 2001).

O dever do Estado regulado pelo Ministério da


Saúde deveria ser traduzido por um trabalho na
comunidade e na família com ênfase na prevenção
primária através de uma equipe grande e qualificada, em
espaços de assistência extra-hospitalares em número
suficiente para atender toda a população. Não é o que
ocorre.

42
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

A centralização nos CAPS como eixo da reforma


causou o esquecimento dos demais serviços comunitários
de acolhida aos doentes mentais, como o resgate da
cultura, da medicina popular, e da atenção real à família.

Ainda que importante e necessária, a reforma


psiquiátrica, pelo modo como está sendo conduzida no
país, tem se mostrado desastrosa, e fica desacreditada
pela família, pela sociedade e até pelos profissionais
(Maciel et al, 2009).

A atuação do terapeuta junto à família do doente


mental

A psicologia foi uma das últimas profissões a se


inserirem no campo da saúde em nosso país. Somente a
partir do início década de 1980 é que houve uma inserção
dos psicólogos nas Unidades Básicas de Saúde, sendo
que seus primeiros trabalhos acadêmicos somente foram
produzidos no final daquela década (SPINK, 2010).

No entanto, se foi a última ciência a se incorporar,


é a que pode gerar, e posteriormente gerir, maiores

43
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

oportunidades de apoio não apenas ao doente mental,


como à família e à própria equipe de saúde. As técnicas
relacionais como o atendimento e a escuta, tão comuns
aos psicólogos são estratégias essenciais para auxiliar na
efetivação da inclusão das famílias nos serviços
substitutivos em saúde mental (MIELKE et al, 2010).

O adoecimento de um ente parental abala, de


forma intensa, a estrutura familiar, não só porque a
doença parece representar denúncias de falhas no
sistema familiar, mas, sobretudo em virtude de não saber
lidar com suas especificidades (MELMAN, 2001).

Assim, as técnicas psicoterápicas de atendimento e


escuta, podem auxiliar no fortalecimento emocional da
família, proporcionado a criação de vínculos que
possibilitam ao núcleo familiar o alcance de uma nova
organização (MIELKE et al, 2010).

Fica evidente então necessidade de se cuidar da


própria família, em virtude da já colocada sobrecarga
emocional, física e financeira que atravessa essas
realidades.

44
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Desta forma, essa atenção junto às famílias,


especialmente junto aos cuidadores dos doentes mentais,
deve instrumentalizá-los nas dificuldades cotidianas, mas,
deve também fornecer aos próprios familiares e
cuidadores acolhimento e cuidado com relação a própria
saúde.

Trata-se de um serviço de apoio com um caráter


preventivo, uma vez que muitos cuidadores se tornam
usuários diretos de serviços de saúde mental diante da
sobrecarga emocional vivenciada (CAMPO, SOARES,
2005).

Quando um indivíduo apresenta transtorno mental,


o sofrimento não se limita a ele, atingindo também toda
sua família, portanto, todos os envolvidos no contexto
familiar precisam de apoio e de acompanhamento.
(AMARAL; DURMAN, 2004)

Os familiares do doente mental na situação de


cuidador se veem diante de mudanças significativas em
diversos aspectos em função a adaptação do membro
com transtorno (SOIFER, 1982).

45
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

Nesse contexto a família busca meios para superar


as dificuldades de interação com o seu doente, e a equipe
de saúde mental deve incluí-las no processo de
tratamento do paciente (MONTEIRO; BARROSO, 2000).

A família percebe o membro doente como um


indivíduo que não retornará ao seu estado anterior à
manifestação da doença, e que deve receber tratamento
diferenciado dos demais; ou seja, a própria família
estigmatiza o indivíduo (MONTEIRO; BARROSO, 2000).

Diante deste contexto é necessário verificar qual o


nível de conhecimento acerca da patologia e das
possíveis formas de cuidado ao portador de transtorno
mental que a família possui.

Feito este levantamento deve-se oferecer à família


conhecimento sobre a doença e auxilia-la a estabelecer
formas de enfrentamento da situação que facilite o lidar
diário com as especificidades do caso concreto. É
fundamental oferecer apoio ao cuidador na adaptação das
mudanças que vai enfrentar (PEREIRA, 2003).

46
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

O modelo tradicional de atenção, com raras


exceções, mantém a família distante do processo de
assistência psíquica, propriamente dito; este
posicionamento de desatenção à família contribui para
que a mesma tenha uma representação patogênica ou
culposa, objeto de introjeções e projeções2 (PEREIRA,
2003).

A família quer entender a causa e o efeito da


doença mental, e ao buscar o motivo acaba por assumir a
culpa do problema, acreditando que a doença é o
resultado de um erro cometido por ela, e se martiriza por
isso (PEREIRA, 2003).

Entender que a doença mental não decorre de um


erro ou um pecado, e que pode surgir de fatores
biológicos e/ou psicológicos além de sua influência pode
ajudar a família a superar a angústia da culpa e voltar a

2
O processo de interpretação subjetiva da experiência por intermédio da
projeção e introjeção foi denominado por Freud de alucinação e constitui a
base da vida fantasiada.

47
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

interagir com o doente e a sociedade de uma forma mais


ampla e menos sofrida (PEREIRA, 2003).

Um membro com transtorno mental significa para


estrutura familiar um acréscimo de encargos financeiros
que envolvem: transporte, custos de medicação,
tratamento e vestuário.

Mais pesados, no entanto, são os encargos


emocionais derivados da instabilidade e insegurança; bem
como os encargos nas relações sociais, pois por motivo
de vergonha, cansaço ou frustração, os familiares tendem
a se distanciar das atividades sociais, restringindo-se
apenas a visitas a casa de amigos próximos e parentes.

No entanto, paradoxalmente, quando perguntadas


as famílias apresentam uma tendência a minimizar as
vivências de sobrecarga (JESUS, 2011; CAMPO,
SOARES, 2005).

O sofrimento do familiar que começa com a


ausência de conhecimento, quando suas dúvidas e
questionamentos sobre os transtornos não são
respondidos satisfatoriamente, evolui para a sensação de

48
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

impotência, para o sentimento de culpa e medo, e


posteriormente para o acionamento dos mecanismos de
defesa acionando processos de desconfiança sobre o
tratamento e a equipe de saúde (JESUS, 2011).

O procedimento de aproximação e de cuidado dos


familiares pode ocorrer através de serviços psicossociais
e atividades terapêuticas. Apesar da subjetividade de
cada situação, o trabalho terapêutico raramente é
individual, consistindo na maioria das vezes em atividades
em grupo.

O trabalho do psicólogo exige o desenvolvimento


de estratégias de cuidado abrangentes que atendam as
necessidades das famílias através de um trabalho grupal
sem, no entanto, generalizar estas necessidades uma vez
que não existe um modelo universal de família (JESUS,
2011).

Assim, ainda que todos familiares participem da


mesma atividade terapêutica o profissional responsável
através da observação, do um olhar atento a subjetividade
dos sujeitos, pode oferecer uma atenção personalizada

49
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

dirigida a construção de um processo terapêutico que leve


em consideração particularidades de cada situação
(JESUS, 2011; MIELKE et al, 2010).

Neste momento é fundamental colocar que o


trabalho terapêutico não necessariamente é desenvolvido
apenas por psicólogos e psiquiatras. Na rede pública são
diversos os profissionais que executam estas atividades
dentre eles os enfermeiros, assistentes sociais, e
terapeutas de diversas abordagens.

O atendimento ao doente mental privilegia a equipe


multidisciplinar, desta forma existe a possibilidade de que
diversos integrantes da equipe possam interagir não
apenas com o paciente, mas com a família.

O atendimento multidisciplinar pode ser fantástico


quando considerarmos a união de diversos saberes e
experiências em prol da sociedade. No entanto, pode
evidenciar uma faceta perversa quando uma equipe mal
administrada não assume suas responsabilidades, cada
um jogando para os demais uma função de atendimento
e apoio à família sem que ela seja efetivamente colocada
em pratica por ninguém. Trata-se de um assunto

50
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

complexo que merece ser abordado em outras


publicações.

Por ora, é importante entender que o atendimento,


e o suporte, psicoterapêutico só pode ser feito por
psicólogos e psiquiatras; mas, que por sua vez, o
atendimento e o suporte terapêutico pode ser, e
normalmente é, promovido por profissionais de outras
áreas.

Pilares da ação terapêutica

Podemos simplificar a ação terapêutica destinada à


família do doente mental estabelecendo quatro pilares
básicos: acolhimento, escuta, suporte e esclarecimento
(SILVA, 2014).

 O acolhimento: estabelece o vinculo e permite o


cuidado.
 A escuta: a escuta mostra-se como uma
ferramenta, por excelência, da atuação do
psicólogo, ela permite a catarse do indivíduo
através da fala, e estabelece oportunidade para o

51
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

paciente refletir sobre seu sofrimento e suas


causas. A escuta psicológica atua para minimizar a
angústia e ansiedade, possibilitando a
ressignificação de vivências dolorosas.
 O suporte: representa a continência3 para os
sentimentos envolvidos, reforçando a segurança
daquele que esta sofrendo, e empoderando o
indivíduo na busca de soluções para os seus
problemas (GONÇALVES, FIORE, 2011).
 O esclarecimento: desfaz fantasias e aumenta
informação, reduzindo a ansiedade e a depressão.
Facilita a reflexão e permite uma reestruturação do
pensamento com repercussões nos sintomas
emocionais e até mesmo físicos (GONÇALVES,
FIORE, 2011).

Atividades terapêuticas que podem ser desenvolvidas

Antes de qualquer coisa é necessário que se


produza um ambiente que acolha as dificuldades desses
familiares, ou seja, um ambiente que exale respeito e

3
Moderação

52
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

possibilite a construção de laços de confiança (MELMAN,


2001).

Resgatar a esperança diante da experiência de


viver a dificuldade do transtorno mental é o primeiro passo
para que a família mude sua postura e consiga quebrar
seus próprios preconceitos e limitações (MELMAN, 2001).

Algumas atividades terapêuticas podem ser


desenvolvidas pelos psicólogos com o suporte de outros
profissionais de saúde em rede de apoio matricial (SILVA,
2014).

Por matriciamento, ou apoio matricial, entende-se


um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais
equipes, num processo de construção compartilhada,
criam uma proposta de intervenção pedagógico-
terapêutica (SILVA, 2014).

Dentre as atividades terapêuticas que podem ser


propostas, sem prejuízo de outras que possam surgir,
foram verificadas:

 Grupo de arteterapia e outras modalidades de


trabalhos manuais.

53
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

 Grupo de teatro (teatro do oprimido) – método que


reúne exercícios, jogos e técnicas de teatrais com
o objetivo de transformação da realidade através
do diálogo.
 Grupo do remédio - trabalhando os diversos
aspectos do uso de medicamentos
 Grupo de crianças - atividades lúdicas que
explorem a criatividade, a capacidade de
construção, a expressão dos sentimentos.
 Grupo da linguagem – análise dialógica do
discurso;
 Oficinas terapêuticas - estratégias de cuidado,
interação e socialização - o participante tem
liberdade de se expressar, sendo capaz de lidar
com seus medos e inseguranças, bem como de
realizar trocas de experiências.
 Grupo de salas de espera - intervenção em grupo
junto a pacientes e seus acompanhantes no
instante em que aguardam por uma consulta ou
qualquer outro procedimento em saúde.

54
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Ainda podemos classificar as atividades


terapêuticas em dois grandes grupos: Psicoterapias
breves, focais e de apoio; e Terapias de grupo e terapias
familiares.

Psicoterapias breves, focais e de apoio

 Objetivam formas de tratamento que tenham


resultados mais imediatos, práticos e de acesso
mais fácil aos diversos estratos sociais;
 São mais orientadas para o mundo consciente;
 Visam a aceitação de metas mais limitadas e
objetivas;
 Possibilitam o emprego das técnicas por
profissionais de diferente formação, como:
médicos, enfermeiras, psicólogos.

A ênfase dessas práticas psicoterápicas esta


focada no uso da transferência e na relação terapêutica.
O terapeuta intervém de forma mais direta e busca utilizar
os recursos do paciente para solucionar problemas que
estão ligados ao aqui e agora, estabelecendo uma

55
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

discussão acerca de prazos e metas reais (ALMEIDA, et


al, 2000).

Terapias de grupo e terapias familiares

É certo que cada uma dessas duas modalidades


possui características próprias, uma vez que na primeira
não existe necessariamente um convívio posterior. Na
familiar existe uma necessidade de preservação maior
uma vez que existirá um depois imediato.

No entanto, ainda que possuam estas


características distintas, elas compartilham alguns
elementos comuns. Ao contrario das terapias individuais
as terapias em grupo, familiares ou não, não priorizam o
indivíduo, e sim o grupo e o produto da interação entre os
membros do grupo. Nas terapias em grupo o principal
agente terapêutico é o grupo em si (ALMEIDA, et al,
2000).

Os familiares normalmente apresentam a sensação


de impotência e de solidão frente às vivências. Assim, as
terapias de grupo podem funcionar como um recurso com

56
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

grande potencial para que cada um ao tomar contato com


a experiência alheia coletivize a questão do sofrimento
mental num nível de apoio entre os membros (MELMAN,
2001).

As famílias apresentam sentimentos comuns de


culpa e medo que na troca de experiências no grupo e no
debate e questionamento fora do foco pessoal de
culpabilização e lastimação, podem levar a quebra de
preconceitos e construção de novas formas de encarar e
viver o problema (MELMAN, 2001).

A atividade terapêutica de grupo tende a levar as


famílias a se desviar da tentativa de buscar causas e
efeitos e a iniciar um processo de reflexão através do qual
nunca se chega a uma verdade final, mas permite um
novo olhar e uma nova postura, através da identificação
que os membros do grupo vão tecendo em relação às
suas próprias histórias (MELMAN, 2001).

Uma das principais vantagens das atividades


grupais é permitir a socialização através a obtenção e
transmissão de informações diretas do individuo para o

57
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

grupo e deste para o individuo em um contexto social, o


que permite que o problema seja partilhado e absorvido
pelo grupo que passa a compreender melhor a
problemática em questão. No grupo o individuo se
enxerga no outro e o espelhamento contribui para que dê
novas dimensões aos seus sentimentos (ALMEIDA, et al,
2000).

O grupo tem por objetivo oferecer um suporte aos


familiares, tanto no sentido de ser um espaço para tirar
dúvidas sobre o tratamento e o manejo com o doente,
como um momento para que o familiar cuidador possa
desabafar, falar das suas angústias e do seu cansaço,
mas também falar de si mesmo enquanto pessoa, não
somente enquanto cuidador. (SATIN, KLAFKE, 2011)

Nos grupos de familiares ou nos atendimentos de


família, é comum que as discussões girem em torno dos
sintomas, pois de certa forma, é mais seguro falar dos
sintomas do que dos sentimentos envolvidos. Portanto, é
importante que o profissional que coordena o grupo fique
atento às possibilidades e ao conjunto de recursos que a
família apresenta e como cada um se apropria deles ou

58
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

como fica estagnado diante do momento vivido (PONTES,


2009)

Pesquisa realizada no Rio Grande Sul mostrou que


alguns participantes do grupo terapêutico eram familiares
de doentes que não estavam vinculados a nenhuma
atividade cotidiana no CAPS, comparecendo apenas nas
consultas médicas e na aplicação de medicação, pois
tinham dificuldade de aderir às outras propostas de
tratamento. Dessa forma, o vínculo mais significativo que
a equipe possuía com essas pessoas era através dos
familiares que compareciam ao grupo, deixando clara a
importância de envolver a família no tratamento (SATIN,
KLAFKE, 2011).

A pesquisa no CAPS do Rio Grande Sul também


colocou que a grande maioria de integrantes do grupo era
composta por mulheres cuidadoras. Essa característica se
repetiu nas pesquisas realizadas no Rio Grande do Norte
e na Paraíba citadas anteriormente neste trabalho,
apontando para um elemento comum. No cuidado de
portadores de sofrimento psíquico no ambiente doméstico

59
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

há uma feminização do encargo de assistir ao portador de


transtorno mental (ROSA, 2003).

Portanto, a responsabilidade de cuidado para


familiares é uma questão de gênero historicamente
produzida e mantida pela sociedade que vê na mulher
uma cuidadora por excelência (ROSA, 2003).

Pelo que pudemos perceber geralmente nos


grupos de familiares a maioria das mulheres que o
frequentam são mães, já estão aposentadas ou sempre
foram donas de casa, uma vez que é mais complicado
para os membros inseridos no mercado de trabalho
flexibilizarem seus horários. Por vezes surge a
necessidade de um familiar, especialmente a mãe, ter que
abandonar o seu trabalho externo para se dedicar ao
familiar que adoeceu. (SATIN, KLAFKE, 2011)

Pesquisa realizada no Município de Santa Cruz do


Sul - RS, registrou através do depoimento de algumas
mães, que havia uma inconformidade frente à
necessidade de deixar o trabalho para cuidar do familiar
portador de sofrimento psíquico (PETRY, 2005).

60
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Uma questão levantada nos grupos de familiares é


a impossibilidade ou à dificuldade do portador de
sofrimento psíquico em ter um emprego. O problema se
torna mais delicado quando o indivíduo adoeceu na idade
adulta, pois, a família estava acostumada em ter aquele
membro agora doente como alguém produtivo e que
ajudava com as despesas e as tarefas domésticas e,
agora se vê obrigada a arcar com o seu sustento (ROSA,
2003). Além disso, a ociosidade constante do portador de
transtorno mental compromete sua autonomia e a
liberdade do cuidador (ROSA, 2003).

Em verdade, o não trabalhar é uma perda para o


indivíduo, que deixa de ter um convívio social em um
espaço distinto e deixa de ter oportunidades de certa
autonomia. Socialmente se aceita a ideia de que o doente
é inútil e incapaz, comportamento justificado pela imagem
de inutilidade que o senso comum confere ao doente
mental (PETRY, 2005, p. 79).

Outra colocação recorrente na fala dos familiares é


a infantilização do portador de transtorno mental. Essa
infantilização, além de dificultar a autonomia do paciente,

61
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

o tira da posição de um sujeito que tem sua história, sua


individualidade, suas vontades e desejos e o deixa a
mercê da vontade e decisão alheia (ROSA, 2003).

Por outro lado a infantilização pode trazer alguns


ganhos secundários para os portadores de transtorno
mental, que fica afastado de suas atividades e
responsabilidades habituais. Da mesma forma a família
também pode obter ganhos secundários, pois pode fazer
do doente mental o bode expiatório para todos os
problemas da família (ROSA, 2003).

No grupo também se fala muito em religião. A


influência religiosa é muito intensa e por ser tema
delicado difícil de ser abordado exige um esforço contínuo
da equipe de saúde em não fazer um julgamento
preconceituoso, como se houvessem religiões certas e
outras erradas. Porém, é trabalho do profissional de
saúde intervir quando há algum dano ao tratamento. A
religião pode ser um importante apoio social para o
enfrentamento das adversidades, da dor e do sofrimento,
mas não a única solução para problema do sofrimento
psíquico (SILVA; MORENO, 2004).

62
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

Outra temática recorrente no grupo é a questão da


agressividade que algumas vezes se torna presente nos
quadros de transtornos mentais. A agressividade é um
dos aspectos mais destacados pelos familiares como
típicos da loucura. Os familiares reportam medo de sofrer
uma agressão ou, a sobrecarga que vem da necessidade
de estar sempre vigilante para que o portador de
sofrimento psíquico não coloque sua vida em risco
(ROSA, 2003).

Por tudo o que foi levantado é fácil perceber que a


existência de um membro portador de transtorno mental
representa para a família uma sobrecarga que exige
cuidados (PEREIRA, 2002).

O conceito de sobrecarga familiar foi desenvolvido


nos últimos anos para definir os encargos econômicos,
físicos e emocionais a que os familiares estão
submetidos, e o quanto a convivência com um doente
mental representa em peso material, subjetivo,
organizativo e social (MELMAN, 2008)

63
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

O conhecimento da existência dessa sobrecarga


por parte dos profissionais de saúde sugere que as
intervenções terapêuticas levem em consideração essa
realidade. É fundamental que se estabeleçam
procedimentos terapêuticos que possam auxiliar os
familiares nos processos de interação e melhoria
relacional e na gestão da vida cotidiana dos doentes
mentais.

As atividades terapêuticas, nas suas mais diversas


formas aliviam o peso dos encargos, facilitam o processo
de estabelecimento de cooperação, diminuem os fatores
estressantes ativadores de situações de crise, estimulam
a criação de possibilidades participativas, e melhoram a
qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas
(MELMAN, 2008).

As famílias anseiam por acolher todos os seus


membros, mas ao mesmo tempo elas refletem o medo e o
preconceito existente em nossa sociedade. A construção
de um modelo de reinserção social do doente mental não
pode estar ao largo da necessidade de um espaço de
escuta, para que nele pudesse ser trabalhado o

64
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

sofrimento inerente à convivência com alguém que


representa na família algo estranho (SOUZA; BAGNOLA,
2007)

A relação do trabalho do terapeuta junto à família é


fundamental e tem que constituir um espaço terapêutico,
de ajuda nos momento difíceis, de troca de experiências e
de fortalecimento, enfim, um espaço onde se cuida
daqueles que cuidam. (SOUZA, BAGNOLA, 2007;
MELMAN, 2008).

Considerações Finais

O cuidado em saúde mental no contexto familiar é


resultado direto do movimento antimanicomial, que levou
o atendimento básico ao doente mental ao sistema
territorial. Desde então, às questões referentes à saúde e
à doença mental passaram a habitar o espaço
comunitário, fazendo parte do cotidiano social.

No entanto, esta nova realidade de convívio com o


doente mental nos espaços sociais acabou por trazer um

65
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

sobrepeso aos familiares, que estavam despreparados


para lidar com a presença do doente mental e suas
peculiaridades.

A pesquisa mostrou que a família ao mesmo em


que exprime um sentimento de conformação com a
situação, ou seja, com a presença do familiar doente no
contexto diário, reporta momentos de intenso sofrimento,
chegando mesmo a considerar o doente como um fardo.
A intensa dualidade onde os familiares sentem culpa e ao
mesmo tempo revolta leva a estados emocionais
fragilizados que necessitam de apoio para serem
minimizados.

Portanto, nos alinhamos ao próprio pensamento


expresso pelo Ministério de Saúde (Brasil, 2001), de que
não basta desconstruir o sistema de tratamento
hospitalocêntrico, sendo necessário que a rede de
tratamento na comunidade também respalde a família do
indivíduo portador de transtornos psíquicos.

Não raro a família entende o cuidado com o doente


como uma obrigação, algo que deve suportar como um

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A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

sacrifício, um castigo, ou uma punição. Essa visão tende


a transformar os familiares em doentes em potencial, o
que leva a necessidade de um apoio imediato por parte
da equipe de saúde.

Ressalte-se que as famílias de doentes mentais


precisam não apenas proporcionar apoio físico e
emocional ao seu membro doente como também suportar
o impacto negativo e doloroso da estigmatização e da
discriminação. Muitas vezes estas famílias deixam de ser
visitadas, estabelecendo-se abismos sociais no seu
entorno que atingem os demais.

Além disso, além dos encargos financeiros e


emocionais que atingem a família como um todo, muitas
vezes um dos membros fica responsável pelos cuidados
diários e fica vulnerável ao estresse que surge das
tentativas de adequar um comportamento perturbado à
rotina doméstica. Esse cuidador familiar também sofre as
consequências da restrição das próprias atividades
sociais. Os compromissos assumidos pelo cuidador
familiar normalmente impede que atinja um pleno

67
Myrian Aparecida Bosco Massarollo

potencial seja de trabalho, de lazer, de relacionamento


social, comprometendo inclusive suas próprias aspirações
e desejos pessoais, uma vez que dedica grande parte de
seu tempo ao necessário cuidado com a pessoa que não
tem condições de produção externa ou pessoal.

Assim, a equipe de atenção à saúde mental da


qual o psicólogo é parte deve levar em conta a quantidade
de reajustes que a família teve que fazer para assumir a
responsabilidade de cuidado com o membro que
apresenta o distúrbio mental. Deve levar em consideração
de que além da questão direta de lidar com o doente
mental é preciso levar em consideração as questões
indiretas das oportunidades perdidas. Tudo isso pode
levar a situações de conflito interno quando associadas a
noções de culpa e de dever.

Nossa pesquisa apontou que efetivamente existem


diretrizes para inclusão da família de doentes mentais em
procedimentos de apoio, no entanto, também percebemos
que ainda existe um longo caminho a ser percorrido nesse
sentido. Ainda que efetivamente alguns centros
comunitários prestem este serviço, na maioria deles ele é

68
A atuação do terapeuta junto à família do doente mental

apenas um dever ser, ou seja, a prática de suporte


terapêutico direcionada à família do doente mental é
inexistente, falha, ou pouco expressiva.

Cabe então a proposição de uma questão para


reflexão aos profissionais que atuam no segmento: se
acreditam que estão contribuindo com a família não
apenas na atenção à doença mental, mas, também como
rede de apoio aos familiares na sua relação com o doente
mental, de forma a tentar minorar suas angústias.

Outra proposição reflexiva importante seria: o que


nós poderíamos desenvolver enquanto cidadãos para
auxiliar na melhoria do atual sistema de forma a amenizar
a realidade crua do dia-a-dia, combater o preconceito e o
distanciamento social, e efetivamente colaborar com
essas famílias.

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Myrian Aparecida Bosco Massarollo é advogada
militante pelos direitos das minorias; bacharel em Direito
pela FMU; Pós Graduada em Direito Eleitoral e Processo
Eleitoral pela Escola de Magistratura do Estado de São
Paulo e pela Escola Judiciária Eleitoral Paulista; Pós
Graduada em Direito Civil e Processo Civil pela FMU;
Graduanda em Psicologia pela UNIP; Graduanda em
Pedagogia pela UNIP; Pós Graduanda em Docência da
Meditação pela Universidade Estácio de Sá; Doutoranda
em Direito pela Universidad Morón (Ar); Jornalista;
Escritora; e Terapeuta Holística. É Presidente da
Fundação Juscelino Kubitschek desde 2008, e Presidente
Nacional do PMN Mulher, departamento feminino do PMN
– Partido da Mobilização Nacional.

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