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3 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

Todas as pessoas deveriam conhecer um pouco mais sobre os direitos do


consumidor, tendo em vista que, diariamente, consumimos diversos produtos
ou serviços. Trata-se de um ramo do Direito que se faz presente no cotidiano
da população, sendo seu estudo de interesse de todos.

O Direito do Consumidor é um novo ramo do Direito, autônomo, com princípios


e disciplina própria. Ganhou maior relevância no Brasil com o advento da
Constituição Federal de 1988, que ao prever em seu artigo 5°, inciso XXXII,
que "o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor", lhe
atribuiu um status de direito e garantia fundamental.

Em atendimento ao mandamento constitucional, o Congresso Nacional aprovou


a Lei nº 8.078/90, denominada de Código de Defesa do Consumidor (CDC),
trazendo um grande avanço na tutela do consumidor, protegendo-o dos abusos
praticados pelos fornecedores de produtos ou serviços.

Para iniciar os estudos acerca do Direito do Consumidor, é necessário


entender o que é uma relação jurídica de consumo. Uma relação jurídica é
aquela que nasce de um vínculo protegido pela lei, estabelecido entre um
sujeito ativo, titular de um direito e um sujeito passivo, que assume uma
obrigação.

Pode-se dizer que a relação jurídica de consumo é aquela que fazem parte
dois sujeitos de direito, sendo um definido pela lei como consumidor e outro
como fornecedor. Ou seja, a relação de consumo tem origem na vontade de
uma pessoa, denominada consumidor, de adquirir um produto ou serviço,
sendo a vontade satisfeita por outra pessoa, denominada fornecedor.

Assim, as regras do CDC somente serão aplicáveis nas relações jurídicas em


que uma pessoa pode ser classificada como consumidor e a outra como
fornecedor. Portanto, para que seja possível compreender com exatidão o que
é uma relação consumerista é indispensável analisar os conceitos jurídicos de
consumidor e fornecedor.

3.1 CONCEITO DE CONSUMIDOR


O Código de Defesa do Consumidor (CDC) apresenta em seu artigo 2º o
conceito de consumidor:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Veja-se que o consumidor pode ser uma pessoa física ou jurídica, desde que
adquira ou utilize um produto ou serviço como destinatário final. O ponto mais
importante acerca do conceito de consumidor está em delimitar o sentido
jurídico da expressão destinatário final. Três teorias distintas tentam explicar o
alcance do conceito de consumidor.

a) Teoria finalista

Para os adeptos dessa teoria somente podem ser considerados consumidor o


destinatário final fático e econômico do produto ou serviço. Isso quer dizer que,
para se caracterizar como consumidor, não basta que o adquirente seja a
última pessoa da cadeia de consumo (destinatário final fático), ou seja, que o
retire da cadeia de produção, é necessário que não utilize o produto ou serviço
com o intuito de obtenção de lucro (destinatário final econômico). Assim, o
produto não pode ser adquirido para revenda ou uso profissional, pois, nesse
caso, o bem seria novamente inserido numa cadeia de produção.

Aplicando-se essa teoria pode-se dizer que consumidor é aquele que adquire
um produto ou serviço para uso próprio ou de sua família. Em resumo, conclui-
se que para ser considerado consumidor o adquirente do produto ou serviço
precisa preencher os seguintes requisitos:

1 - Ser o destinatário final fático, ou seja, depois da aquisição do produto


ou serviço ele seja retirado do mercado de consumo, depois dele não pode
haver mais ninguém na transmissão do produto ou serviço.

2 - Ser o destinatário final econômico, ou seja, não pode utilizar o produto


ou serviço para uso profissional, com a intenção de auferir renda/lucro.
b) Teoria maximalista

Os adeptos dessa teoria sustentam que deve ser considerada como


consumidor a pessoa que retirar o produto ou serviço do mercado de consumo,
sem se importar com o seu uso profissional. Isso quer dizer que, para os
maximalistas, basta que uma pessoa seja o destinatário final fático do bem,
não havendo necessidade que seja também o destinatário final econômico.
Dessa forma, ainda que o bem ou serviço adquirido seja reutilizado em sua
cadeia produtiva haveria a caracterização do consumidor.

c) Finalista aprofundada

Inicialmente cumpre destacar que a teoria finalista aprofundada também é


chamada por muitos de maximalista mitigada ou de teoria mista. Para os
adeptos dessa teoria deve ocorrer uma conjugação de elementos da teoria
finalista com elementos da teoria maximalista.

Não restam dúvidas que a destinação final fática é um requisito para a


caracterização do consumidor. Contudo, os adeptos das teorias anteriores
divergem quanto à possibilidade de aplicação dos produtos e serviços
adquiridos para o exercício de atividade profissional com caráter lucrativo. A
teoria finalista rechaça qualquer hipótese de utilização profissional do bem,
exigindo que o adquirente seja também destinatário final fático, ao passo que
os adeptos da teoria maximalista não vêm problema na utilização do produto
ou serviço para atividades de fins lucrativos, não exigindo que haja uma
destinação final do ponto de vista econômico.

Já os adeptos da teoria mista, entendem que, como regra, o consumidor não


pode utilizar o produto ou serviço em atividades profissionais. Contudo,
admitem exceções, permitindo que em algumas hipóteses seja afastada a
exigência da destinação final econômica. Caso o adquirente do produto ou
serviço possa ser considerado vulnerável em relação ao fornecedor, haveria
relação de consumo ainda que houvesse a utilização do produto ou serviço em
atividade profissional.

Assim, sempre que ficar constatado que o adquirente é hipossuficiente em


relação ao fornecedor, seja em virtude de uma vulnerabilidade econômica,
financeira, informacional, política, social ou técnica estaria afastada a exigência
de destinação final econômica.

Vamos pegar o exemplo de uma padaria. Ao adquirir farinha, fermento e


demais itens que utiliza na produção de pães e produtos de confeitaria, a
padaria não poderia ser considerada como consumidora, pois utiliza tais
produtos para a exploração de atividade e obtenção do lucro, sem que se
enquadre em uma hipótese de hipossuficiência. Em outra hipótese, essa
mesma padaria adquire um veículo para realizar entregas a domicílio. Nesse
caso, apesar da finalidade lucrativa com a utilização do bem, pode-se afirmar
que a padaria não possui expertise no mercado de automóveis, podendo ser
considerada como consumidora, por possuir uma defasagem de conhecimento
técnico em relação à concessionária que lhe vendeu o veículo.

Atualmente a teoria mista prevalece em relação às demais. É, sem dúvida,


aquela que possui maior respaldo junto aos Tribunais brasileiros, sendo
aplicada frequentemente pelo Superior Tribunal de Justiça. Também na
doutrina é a corrente com maior número de adeptos.

3.1.1 CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO

Além da hipótese prevista no artigo 2º, que caracteriza como consumidor o


adquirente de um produto ou serviço, o artigo 17, do CDC, estabelece que
todas as vítimas de um acidente causado por um vício (defeito) de um produto
ou serviço são equiparados a um consumidor, ainda que não tenham adquirido
ou utilizado o produto ou serviço.

Vamos supor que José estava caminhando pela rua quando é atingido por um
veículo. Mário era condutor do veículo. O carro era novo e comprado há
apenas dois dias, mas ainda assim o acidente foi decorrente de uma
falha/defeito no sistema de freios. Nesse caso, ainda que José não tenha
adquirido ou utilizado o produto, ele será equiparado a um consumidor, por ter
sido vítima de um acidente decorrente de um defeito apresentado pelo produto,
podendo requerer indenização junto ao fabricante do veículo.

Por fim, segundo o artigo 29 do CDC também serão equiparados aos


consumidores aqueles sujeitos às práticas comerciais dos fornecedores, ainda
que não tenham adquirido produtos ou serviços. A título de exemplo pode-se
citar a situação de uma pessoa que recebe um panfleto de propaganda,
anunciando que um telefone celular, cujo valor normal é de dois mil reais,
encontra-se em promoção por R$ 1.700,00. Assim, considerando o bom
desconto ofertado pela promoção, ela se dirige à loja para efetuar a aquisição
do telefone, quando lhe é informado que houve um erro na produção do
material e que, na verdade, o preço é de R$ 1.800,00. Nesse caso, apesar de
não realizar a aquisição, essa pessoa será equiparada a um consumidor, por
ter sido exposta a uma prática comercial do fornecedor, e poderá exigir que a
venda se realize pelo preço que consta no anúncio.

3.2 CONCEITO DE FORNECEDOR

O Código de defesa do Consumidor define, em seu artigo 3º, que "fornecedor é


toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.".

Logo, fornecedor é toda pessoa, física ou jurídica, que oferece produtos e


serviços no mercado, desde que o faça de forma profissional, isto é, de forma
habitual, em nome próprio e visando ao lucro. A profissionalidade, portanto,
está ligada ao exercício habitual de determinada atividade econômica. Por isso,
caso uma concessionária realize a venda de um veículo, ela será considerada
fornecedora. Porém, caso essa concessionária resolva adquirir novos
equipamentos, mais modernos que os anteriores, vendendo os antigos, não
poderá ser considerada fornecedora, pois a venda dos equipamentos não é a
atividade econômica exercida por ela.

Analisando o conceito de fornecedor Flávio Tartuce esclarece:

(...) a atividade desenvolvida deve ser tipicamente profissional, com o


intuito de lucro ou vantagens indiretas. A norma descreve algumas
dessas atividades, em rol exemplificativo (numerus apertus), eis que
a lei consumerista adotou um modelo aberto como regra dos seus
preceitos. Vejamos, com as devidas exemplificações:
• Atividade de produção: caso dos fabricantes de gêneros alimentícios
industrializados.
• Atividade de montagem: hipóteses das montadoras de veículos
nacionais ou estrangeiras.
• Atividade de criação: situação de um autor de obra intelectual que
coloca produto no mercado.
• Atividade de construção: Caso de uma construtora e incorporadora
imobiliária.
• Atividade de transformação: comum na panificação das padarias,
supermercados e afins.
• Atividade de importação: como no caso das empresas que trazem
veículos fabricados em outros países para vender no Brasil.
• Atividade de exportação: caso de uma empresa nacional que fabrica
calçados e vende seus produtos no exterior.
• Atividades de distribuição e comercialização: de produtos ou
serviços de terceiros ou próprios, desenvolvidas, por exemplo, pelas
empresas de telefonia e pelas grandes lojas de eletrodomésticos.
(TARTUCE, 2017, p.81).

Analisados os conceitos de consumidor e fornecedor, é importante reiterar que,


para a aplicação do CDC, ou seja, para que fique caracterizada uma relação de
consumo é indispensável que uma das partes seja um consumidor e a outra
parte seja um fornecedor.

Vamos supor que Felipe adquiriu um imóvel para morar com sua família. Nesse
caso, se o vendedor for uma construtora, haverá a incidência do CDC e Felipe
será considerado consumidor. Por outro lado, se o vendedor for Marcus, que é
médico e residia no apartamento, mas resolveu vende-lo para adquirir outro
mais confortável, Felipe não será consumidor, pois nesse caso Marcus não é
fornecedor, não podendo cogitar a aplicação do código de defesa do
consumidor.

3.3 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Antes de analisar os direitos básicos do consumidor é importante esclarecer


que, ao contrário do que muitos pensam, o fornecedor somente é obrigado a
realizar a troca de uma mercadoria caso ela apresente um defeito. A mera
insatisfação do cliente não é motivo para exigir a troca do produto adquirido, a
não ser que ao realizar a compra o consumidor tenha sido informado pelo
vendedor que lhe seria atribuído um prazo para a troca, mesmo que ele não
apresente defeitos. Essa situação ocorre frequentemente quando adquirimos
presentes para terceiros e questionamos: se o aniversariante não gostar, ele
poderá trocar?

Caso a compra tenha ocorrido à distância, fora do estabelecimento comercial


do vendedor, como ocorre nas compras por telefone e internet, a lei assegura
ao consumidor um prazo de arrependimento de sete dias, no qual poderá
devolver o produto sem precisar justificar o motivo de sua insatisfação.

Feitas essas breves considerações, passaremos à análise do artigo 6º do CDC,


que assegura aos consumidores nove direitos básicos:
a) A proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por
práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos
ou nocivos.

b) Portanto, as primeiras preocupações do Código de Defesa do


Consumidor estão voltadas para a tutela do direito à vida, segurança e
saúde do consumidor. Para alcançar seu objetivo o CDC impõe quatro
deveres aos fornecedores. O fornecedor deve informar sobre os riscos que
o produto ou serviço possa apresentar; há uma proibição para a colocação
no mercado de produtos com alto grau de nocividade ou periculosidade;
dever de comunicar que após a colocação do produto no mercado ele se
mostrou nocivo ou com alto grau de periculosidade; dever de retirar o
produto do mercado ou repará-lo, realizando o recall.

c) A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações.

d) Assim, deve ser oportunizada ao consumidor a aquisição dos


conhecimentos mínimos acerca da utilização adequada de bens e
serviços, para que possa optar pela aquisição do produto ou serviço que
entenda mais adequado.

e) É assegurado ao consumidor o acesso à informação adequada e clara


sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem.

f) A proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. Sobre o
tema vale citar os ensinamentos de José Geraldo Brito Filomeno:

A proteção ao consumidor, nesse caso, refere-se à proscrição da


publicidade enganosa, ou seja, aquela considerada mentirosa, por
ação ou omissão, na sua totalidade ou parcialmente, e capaz de
induzir o consumidor em erro a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços; assim também com relação à
publicidade abusiva, que diz respeito à vedação de mensagens que
ofendem determinados princípios, como a discriminação, de qualquer
espécie, ou então incite à violência, explore o medo ou superstição,
se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança~,
desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial à sua saúde ou
segurança.(FILOMENO, 2014, p.40).
g) É assegurada ao consumidor a possibilidade de modificação das
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas.

h) A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos. Ou seja, o fornecedor possui o dever de
indenizar os consumidores que sofreram algum dano patrimonial ou moral
em virtude de algum vício no produto ou serviço ofertado, bem como
aqueles decorrentes de condutas inadequadas do fornecedor, como a
utilização de propagandas abusivas.

i) Para resguardar seus direitos, o consumidor possui acesso aos órgãos


judiciários e administrativos para a prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos. É também
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados.

j) É assegurada ao consumidor a facilitação da defesa de seus direitos,


inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Normalmente o dever de produzir provas é uma incumbência de quem
alega determinado fato. Contudo, naquelas ações em que se julga um fato
decorrente de uma relação de consumo, dependendo da situação, o juiz irá
determinar a inversão do ônus da prova, atribuindo ao fornecedor o ônus
de provar que a alegação do consumidor é falsa.

k) É assegurada, ainda, uma adequada e eficaz prestação dos serviços


públicos em geral.

Portanto, os direitos básicos do consumidor podem ser sintetizados da seguinte


forma:
3.4 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR

3.4.1 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR PELO VÍCIO DO


PRODUTO

A responsabilidade pelo vício do produto diz respeito a um defeito apresentado


pelo bem, que o torne inadequado ao fim a que se destina ou que diminua seu
valor, ou seja, um produto apresenta algum problema que impede o
consumidor de utilizá-lo com o objetivo para o qual foi adquirido ou o
desvaloriza. Nessa hipótese, o vício apresentado se limita ao produto
adquirido, não tendo ocasionado nenhum dano adicional ao consumidor. Isto é,
o defeito apresentado pelo produto não ocasionou um acidente de consumo.

A título de exemplo pode-se dizer que são considerados impróprios para o


consumo:

a) produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;


b) produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, corrompidos,
falsificados, fraudados ou que apresentem riscos à saúde e segurança do
consumidor.

c) produtos inadequados ao fim ao qual se destinam. Pode-se citar o caso


de um brinquedo que possa causar danos às crianças.

O vício apresentado pelo produto deve ser solucionado, evitando-se que o


consumidor sofra um prejuízo.

A responsabilidade, isto é, o dever de apresentar soluções ao problema


enfrentado pelo consumidor, é atribuída a todos que participam da cadeia de
circulação do produto, desde a sua fabricação até a sua aquisição pelo
consumidor, incluindo o comerciante que o revendeu ao consumidor. É o que
se infere da leitura dos artigos 18 e 3º do CDC:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não


duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços.

É importante esclarecer que, uma vez constatado um vício no produto, o CDC


concede aos fornecedores o direito a um prazo de trinta dias para saná-lo. Não
sendo o vício reparado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, a sua escolha, uma das alternativas abaixo:

a) a substituição do produto por outro;

b) a restituição imediata da quantia paga;

c) o abatimento proporcional do preço.


Excepcionalmente, será permitido ao consumidor fazer uso imediato de uma
das alternativas citadas sempre que se tratar de um produto essencial ou que,
em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas comprometa
a qualidade ou características do produto, diminuindo-lhe o valor.

Vamos pensar no exemplo de uma pessoa doente que recebe alta do hospital,
mas que precisa fazer uso de um aparelho para auxiliar sua respiração. Antes
de retirar o paciente do hospital, a família faz a aquisição do aparelho e vinte
dias após ele começa a desligar sozinho. Nesse caso, se não houver a
substituição imediata do aparelho, a saúde e a vida do consumidor estarão em
risco. Por isso, o bem será considerado essencial e o consumidor poderá exigir
a devolução da quantia paga ou a substituição do produto imediatamente, sem
precisar esperar o prazo de trinta dias para a reparação do produto.

3.4.2 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR PELO VÍCIO DO SERVIÇO

A responsabilidade do fornecedor por vício do serviço está regulamentada no


artigo 20 do CDC e é bem semelhante à responsabilidade decorrente do vício do
produto, com uma pequena adaptação quanto às alternativas que o consumidor
possuirá quando o vício não for solucionado, hipótese em que poderá requerer,
à sua escolha:

I. a reexecução do serviço sem custo adicional;

II. a restituição da quantia paga;

III. o abatimento proporcional do preço, conforme previsão expressa do art.


20, CDC:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade


que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
3.4.3 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR POR FATO DO PRODUTO

Nessa espécie de responsabilidade, o CDC trata do dever atribuído ao


fornecedor nos casos em que ocorrer um acidente de consumo. Fato do
produto e do serviço se refere, portanto, a um dano provocado ao consumidor
pelo produto ou pelo serviço defeituoso.

Pode-se citar o acidente causado por problema no funcionamento do freio de


um veículo novo. Veja-se que nesse exemplo o dano suportado pelo
consumidor não se limita ao vício no bem, caracterizando o acidente de
consumo. Tal situação é regulamentada pelo artigo 12 do CDC que
estabelece:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro,


e o importador respondem, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua utilização e riscos.

A responsabilidade pelo fato do produto, a princípio e nos termos do artigo 12


do CDC, não é atribuída ao comerciante que o vendeu ao consumidor,
limitando-se ao fabricante e ao importador do bem. Destaca-se ainda que a
responsabilidade pelo fato do produto abrange também os danos causados em
virtude da ausência de informações sobre a utilização e os riscos inerentes ao
produto, bem como os riscos causados por informações inadequadas.

Excepcionalmente, o comerciante será responsabilizado caso fique


caracterizada uma das seguintes hipóteses:

a) se o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser


identificados;

b) se o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,


produtor, construtor ou importador;

c) se não conservar adequadamente os produtos perecíveis.


Existem algumas hipóteses em que o fabricante, o construtor, o produtor ou
importador não serão responsabilizados pelo fato do produto, isso ocorrerá
quando provar:

a) que não colocou o produto no mercado. Pode-se citar o dano causado pelo
defeito de um produto que foi furtado da fábrica e colocado em circulação de
forma ilegal.

b) que, embora tenha colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

c) que a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

a) que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

b) que a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

3.4.4 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR POR FATO DO SERVIÇO

O fornecedor também responde pelo fato do serviço, mesmo que não tenha
agido com culpa, desde que o dano causado ao consumidor decorra de um
defeito relativo ao serviço prestado ou tenha sido causado pela ausência de
informações adequadas à instrução do consumidor.

O fornecedor de serviços não responderá pelo dano se ficar demonstrado:

a) que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

b) que culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.


É importante realizar a transcrição do artigo 14, do CDC, que regulamenta o
tema em exame e elenca três hipóteses, exemplificativas, em que o serviço
será considerado defeituoso:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será
apurada mediante a verificação de culpa.

3.5 CONTRATOS EMPRESARIAIS

Contratos empresariais são aqueles contratos em que todas as partes


envolvidas são empresários (empresário individual, Eireli ou sociedade
empresária) e que foram celebrados em virtude do exercício da empresa
(atividade). Ou seja, ambas as partes envolvidas resolveram celebrar o
contrato em decorrência de uma exigência imposta pela exploração da
atividade econômica que constitui seu objeto. A seguir serão analisados alguns
contratos que frequentemente utilizados pelos empresários para a consecução
de seus objetivos.

3.5.1 LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL

O contrato de leasing é considerado um contrato complexo, tendo em vista que


conjuga características de outros três tipos de contratos, possuindo traços em
comum com os contratos de financiamento, locação e compra e venda.
Marcelo Bertoldi e Marcia Carla Pereira Ribeiro definem o contrato de
arrendamento da seguinte forma:
Trata-se o leasing de contrato segundo o qual uma instituição
financeira (arrendante ou arrendador) entrega determinado bem
móvel ou imóvel a outrem (arrendatário), mediante cobrança de
aluguel, sendo estabelecido que, ao término do contrato, terá o
arrendatário o direito de optar por adquirir a propriedade do bem
mediante pagamento de um preço residual que levará em conta os
valores pagos a título de aluguel. Caso o arrendante não opte pela
aquisição do bem, poderá devolvê-lo, encerrando o contrato, ou então
prorrogar o arrendamento por outro período. (BERTOLDI;RIBEIRO,
2014, p.842).

Normalmente o contrato de leasing conta com a participação de três agentes. A


instituição financeira (arrendante ou arrendador); o arrendatário, que ficará na
posse do bem, mediante o pagamento de um preço e terá o direito de adquiri-lo
ao final; e o fornecedor do bem, que fará a sua venda ao arrendante. Existem
três tipos distintos de contrato de leasing, que serão estudados a seguir.

Leasing financeiro (Tradicional)

É a modalidade mais tradicional do leasing. Nesse caso, o arrendatário


pretende fazer uso de um bem e não possui recursos suficientes para adquiri-
lo, o que o leva a procurar uma instituição financeira para viabilizar a operação.
Essa instituição financeira adquire o bem junto ao proprietário e o repassa ao
arrendatário, mediante o pagamento de um aluguel. Ao final do contrato, o
arrendatário poderá efetuar a compra definitiva do bem, requerer a prorrogação
do prazo ou devolvê-lo ao arrendante (instituição financeira).

Leasing back

No leasing back o bem já pertence ao arrendador, que o vende à instituição


financeira e o recebe em arrendamento. Nesse caso, o intuito é apenas o de
conceder o financiamento ao empresário, tendo em vista que ele já fazia uso
do bem.

Leasing operacional
Nessa modalidade de leasing o fornecedor do produto é o arrendante, ou seja,
não há interferência de uma instituição financeira. O proprietário do bem o
arrenda diretamente ao interessado.

3.5.2 FRANQUIA

Trata-se de uma modalidade de contrato muito utilizada no Brasil. Vários são


os exemplos de contratos de franquia bem sucedidos, como os casos do
McDonald's, Burguer King, Boticário e Pizza Hut. O contrato de franquia,
também conhecido como franchising, é regido pela Lei nº 8955/94, que
estabelece em seu art. 2º:

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador


cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado
ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou
serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de
implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração
direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo
empregatício

O franqueador vale-se do contrato de franquia para difundir seus negócios sem


que tenha que realizar altos investimentos, criar filiais e assumir todo o risco de
exploração da atividade econômica. Para tanto, celebra um contrato com outro
empresário (o franqueado), que terá direito de uso das marcas e patentes do
franqueador, recebendo dele o know-how necessário para a exploração da
atividade.

O franqueado terá o benefício de se aproveitar da fama e prestígio da


franqueadora, diminuindo seus riscos e valendo-se de um sistema já testado de
vendas, fabricação ou prestação de serviços. Em contrapartida, deverá pagar
uma taxa inicial de ingresso no sistema e uma remuneração adicional com
base no seu faturamento.

Analisando o contrato de franquia, Fabio Tokars ensina que "no contrato de


franquia, o franqueador cede temporariamente o direito de propriedade industrial
ao franqueado, para sua exploração mediante remuneração ao franqueador, que
usualmente também lhe impõe regras de procedimento empresarial." (TOKARS,
2007, p. 231).

3.5.3 FATURIZAÇÃO OU FACTORING


Também chamado de "fomento mercantil". Trata-se de um contrato por meio do
qual um empresário adquire créditos de outro. Nesse tipo de contrato, um
empresário que realiza vendas a prazo antecipa o recebimento dos valores que
receberia no futuro, cedendo seu crédito a outro empresário. O benefício desse
contrato para o contratante denominado faturizador é o de adquirir os créditos
por preço abaixo do que eles realmente valem. Nesse caso, o faturizado
transfere e antecipa o recebimento de uma quantia que receberia no futuro,
transferindo os riscos da cobrança dos créditos ainda não vencidos à
faturizadora. O preço pago pelo recebimento antecipado é o abatimento no
valor total dos créditos cedidos.

Com o contrato de fomento mercantil, o faturizado transfere ao faturizador o


direito ao crédito e o risco da cobrança. Isto é, se o devedor não efetuar o
pagamento, o faturizador não poderá exigir que o faturizado lhe reembolse,
pois a transferência do risco é inerente ao contrato de faturização.

Importante destacar que a celebração do contrato de factoring deve ser


formalmente comunicada ao devedor por meio de uma notificação. Caso a
notificação não seja enviada, será considerado válido eventual pagamento
realizado diretamente ao faturizado (antigo credor).

Importante destacar que a faturizadora não é uma instituição financeira, razão


pela qual não precisa de autorização de funcionamento concedida pelo Banco
Central. Por outro lado, sua atuação é restrita, não podendo realizar operações
típicas de instituições financeiras, como o empréstimo.

3. 5.4 COMPRA E VENDA MERCANTIL

Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes (vendedor) se obriga a


transferir a propriedade de um bem e o outro (comprador) assume o
compromisso de pagar certo preço em dinheiro. Não há dúvidas de que se trata
de uma modalidade de contrato muito utilizada pelos empresários. No comércio
são adquiridas mercadorias para a revenda, ao passo que na indústria são
adquiridos insumos e matéria-prima que serão utilizadas na fabricação do
produto. Até mesmo para a prestação de serviços, faz-se necessária a
aquisição de bens que viabilizarão o exercício da atividade.

Analisando a compra e venda mercantil Marcia Carla Pereira Ribeiro e Marcelo


Bertoldi ensinam que:
Distingue-se a compra e venda mercantil da compra e venda de
natureza civil, pela qualidade dos agentes e destinação econômica do
bem transacionado. Se o comprador e o vendedor são empresários e
a mercadoria vendida se destinar à implementação da atividade
empresarial do adquirente, estaremos diante de uma operação de
compra e venda mercantil. No entanto, se qualquer dos partícipes da
relação contratual não for empresário, ou mesmo que o seja, o
comprador seja o destinatário final dela, a relação jurídica entre eles
não será empresarial. (RIBEIRO;BERTOLDI, 2014, p.777-778).

Conclui-se que o que diferencia o contrato de compra e venda mercantil dos


demais contratos de compra e venda é o fato de que em se tratando de compra
e venda mercantil tanto o comprador como o vendedor devem ser empresários.
Além disso, exige-se que a atividade profissional do vendedor seja a alienação
daquele tipo de bem e que o objeto do contrato seja utilizado pelo comprador
para a exploração de sua atividade econômica.

3.5.5 CONTRATO ESTIMATÓRIO OU DE CONSIGNAÇÃO

Segundo o artigo 534 do Código Civil "pelo contrato estimatório, o consignante


entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los,
pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido,
restituir-lhe a coisa consignada". Dessa definição, podem ser extraídas várias
conclusões. A primeira diz respeito à impossibilidade de utilização desse
contrato para bens imóveis, tendo o legislador limitado sua aplicação aos bens
móveis. Além disso, infere-se que o contrato é composto por duas partes o
Consignante (proprietário do bem) e o consignatário, pessoa que receberá o
bem e ao final do contrato deverá efetuar o pagamento do preço ajustado ou
devolvê-lo.

Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa esclarece que a função econômica desse


contrato não é a compra e venda, mas sim a circulação de bens, explicando
que "a vontade do consignatário está voltada, tão somente, para passar o bem
consignado adiante, lucrando com a diferença de preço entre o que tem que
pagar ao consignante e o que recebe do adquirente." (VERÇOSA).

Por fim, é importante ressaltar que, ao receber o bem, o consignatário não


adquire sua propriedade, apenas o recebe com o intuito de vendê-lo, mas a sua
propriedade é mantida com o consignante. Por isso o consignatário poderá
devolver o bem caso não consiga um comprador.

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