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26º CONCURSO AFRICANO DE JULGAMENTO FICTÍCIO SOBRE DIREITOS

HUMANOS
UNIVERSIDADE DE MAURÍCIAS, 18-23 DE SETEMBRO DE 2017
CASO HIPOTÉTICO A SER APRESENTADOPERANTE
O TRIBUNAL AFRICANO DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS
O CASO ENTRE
A COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS
E
A REPÚPLICA DE ATOLLIZEA

1- Atollizea é um Estado africano insular Ilha), situado na costa oriental de


África, no meio do Oceano ĺndico. Tem uma população de cerca de 2 milhões
de habitantes, dos quais 61 por cento vivem em zonas rurais. Na Constituição
do país, a população é categorizada em comunidades "Hindu", "Muçulmana"
e "Sino-tolliana" (atollizanos de origem chinesa); qualquer outra pessoa que
não pertença à uma das três comunidades mencionadas, que seja "aparente
no seu modo de vida", pertence à uma quarta categoria designada por
"população em geral". Existem também várias castas dentro de cada
comunidade. As castas mais pobres e marginalizadas vivem nas regiões
mais rurais do país, onde a vida tradicional é administrada por um pequeno
Conselho de Anciãos, na sua maioria homens. O país é muito fértil e rico em
fontes de água. É onde se localizam as melhores praias do mundo e recifes
de coral. O turismo, os serviços financeiros e a indústria, são o pilar da
economia de Atollizea.

2- Desde o final da década de 1990, o país tem tido um desenvolvimento


económico significativo, alterando a sua situação de economia de baixa
renda e baseada na agricultura, para uma economia diversificada de média
renda, à caminho de ser declarada economia emergente, pelas Nações
Unidas (NU). Em 2014, o rendimento médio dos trabalhadores nativos de
Atollizea era equivalente à US $ 500 por mês. Nem a legislação, nem as
directivas políticas estabelecem um salário mínimo para o país. Nas suas
declarações oficiais, o governo muitas vezes se refere a Atollizea como um
“Estado-Providência". Os programas de providência social de Atollizea
consistem nos três seguintes pilares: uma pensão básica de velhice (para
toda a pessoa com mais de 60 anos de idade, um montante mensal
equivalente a USD $ 150); um subsídio para criança (para cada criança com
menos de 12 anos, a família tem direito ao equivalente a USD $ 20 por mês);
e um subsídio de desemprego para cada desempregado (que recebe o
equivalente a USD $ 30 por mês). O governo também fornece um serviço
gratuito de conexão à internet de banda larga a nível nacional. Desde a sua
independência da Grã-Bretanha em 1967, Atollizea tem vivido uma paz
relativa e estabilidade política. O partido no poder, o Movimento Democrático
de Atollizea (ADEMO), está no poder desde a independência e tem sido
dominado por um pequeno grupo de oligarcas Hindus. As eleições realizam-
se regularmente. Na última eleição, em 2013, a percentagem média total dos
eleitores registados foi de 55 por cento; o partido no poder perdeu apoio
significativo, e agora possui 55 dos 100 assentos na Assembleia Nacional.
Embora muitos atollizanos considerem a ADEMO um partido liberal, o partido
manteve leis coloniais, que criminalizam a publicação ou difusão de
informações falsas ou sediciosas. A secção 11 da Lei Penal de 1969
estabelece o seguinte: "Qualquer pessoa que conscientemente publicar ou
difundir notícias falsas com a intenção de desinformar o público ou criar
pânico, será passível de condenação com uma pena máxima de dois anos de
prisão ou multa máxima USD $ 50.000 ou ambas.
3- A lei suprema de Atollizea é a Constituição de 1967, que consagra princípios
tais como a separação de poderes e Estado de direito. A Constituição de
Atollizea substituiu o conceito de "soberania parlamentar" pelo princípio da
"supremacia constitucional". A Constituição contém uma Carta de Direitos
Fundamentais que apenas prevê direitos civís e políticos, de conteúdo
semelhante ao disposto na Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
Qualquer acção administrativa pode ser questionada face a sua
conformidade com a Carta de Direitos Fundamentais mas, para desafiar a
validade constitucional de qualquer legislação, o cidadão comum deve
primeiro obter o apoio de pelo menos um terço dos membros da Assembleia
Nacional. Embora os direitos sócio-económicos não estejam consagrados na
Constituição, elementos de tais direitos podem ser encontrados em alguma
legislação nacional e são assegurados através dos programas de providência
social do Governo. Os outros aspectos substantivos e processuais dos
direitos humanos, são garantidos por leis (Actos) parlamentares, incluindo a
Lei do Mar e da Água Doce de 2010. O Tribunal Superior (equivalente ao
Tribunal de Província) é o órgão judicial mandatado para julgar casos
relacionados com os direitos humanos e a interpretação da Carta de Direitos
Fundamentais. Foi também criado um número de órgãos judiciais
especializados, incluindo o Tribunal do Ambiente e o Tribunal Penal. Os
recursos do Tribunal Superior e dos tribunais especializados devem ser
submetidos ao Tribunal de Apelação (Tribunal Supremo), que é o órgão
máximo para recursos, em relação à todos os assuntos jurídicos em Atollizea.
Entre 2014 e 2016, verificou-se um aumento significativo dos recursos e,
devido ao atraso registado noutros casos, o Tribunal Supremo, até o presente
momento, decidiu apenas sobre 20 por cento destes casos. De acordo com
a Lei Judiciária, a legitimidade processual para todos os tribunais é restrita
as: "(a) vítimas; e b) qualquer pessoa ou entidade que actue em
representação, desde que esse (s) representante (s) obtenha (m) a
autorização de um número substancial de vítimas para agir nessa qualidade
“. De acordo com o artigo 110 da Constituição, "os tratados internacionais
ratificados pela Atollizea passam a fazer parte da legislação nacional após
recepção no direito interno”.
4- Atollizea é membro da ONU e da União Africana (UA). É Estado-Membro dos
seguintes tratados da ONU, tendo ratificado todos eles até 2012: o Pacto
Internacional dos Direitos Civís e Políticos (PIDCP); o Pacto Internacional dos
Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC); a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
(CEDAW); a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC); a Convenção
das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica; e a Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Atollizea é também Estado-
Membro da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Carta
Africana), à qual ratificou em 1990; o Protocolo à Carta Africana que
estabelece o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (Protocolo
do Tribunal Africano), ratificado em 1 de Julho de 2015; o Protocolo à Carta
Africana dos Direitos da Mulher em África (Protocolo das Mulheres em
África), ratificado em 1 de Janeiro de 2010; e a Convenção Africana sobre a
Conservação da Natureza, de 2003 (revista), ratificada em 1 de Janeiro de
2015. No entanto, Atollizea não apresentou uma declaração nos termos do
n.º 6 do artigo 34.º do Protocolo do Tribunal Africano que dá aos indivíduos o
direito de acesso ao Tribunal. Atollizea assinou a Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, mas não assinou nem ratificou outros
tratados relevantes.

5- Sambuka é uma cidade costeira na zona sul de Atollizea, com uma


população de 30.000 habitantes. Há muito que tem sido reconhecida (em
todo o mundo) pela sua bela zona costeira e dez hotéis estatais de cinco
estrelas, que são administrados pelo próprio Estado. As pessoas de
Sambuka têm-se dedicado fundamentalmente à actividades relacionadas
com o turismo. Em termos profissionais, são barmen, garçons, cozinheiros,
operadores turísticos e organizadores de desportos e actividades aquáticas,
e têm-se envolvido em muitas outras actividades, sejam elas formais ou
informais, relacionadas com a indústria do turismo. Sambuka é famosa pela
sua dança característica – a Senga – praticada durante séculos por mulheres
Sambuka. Nos fins de semana, as mulheres de Sambuka executam estas
danças nas praias públicas de Sambuka. Embora elas não cobrem qualquer
"taxa de ingresso", tornou-se hábito que os turistas façam doações
generosas, que depositam numa concha do mar enorme e marcante,
colocada na borda da área de dança. O dinheiro ganho por estas dançarinas
(depois de ser dividido entre elas), tem sido suficiente para lhes permitir que
cuidem das suas famílias. Uma pesquisa realizada pela Universidade de
Atollizea (UNAT) em 2014 demonstrou que a juventude de Sambuka está
fundamentalmente interessada no ensino superior e na formação profissional
voltada para a indústria do turismo. Desde a independência, Sambuka tem
tido um desenvolvimento económico à um ritmo mais acelerado do que as
outras regiões costeiras do país. Conseguiu aliviar a pobreza de forma mais
eficiente em comparação com as outras regiões de Atollizea. De acordo com
as estatísticas governamentais mais recentes, Sambuka teve uma taxa de
emprego de 95 por cento no início do ano de 2012. Para além disso, o modo
de vida costeiro tornou-se também, parte integrante da identidade social do
povo de Sambuka. Num folheto promocional, o departamento governamental
de turismo, afirma que "a praia é crucial para o desenvolvimento social e
cultural do país".

6- Esta situação mudou em 2013, quando o governo anunciou que o Conselho


de Ministros (que inclui os ministros que dirigem todos os departamentos
governamentais) tomou a decisão unânime de privatizar a indústria do
turismo em Sambuka. Nos termos desta decisão, os hotéis estatais poderiam
ser vendidos a qualquer pessoa privada ou à empresas; e os rendimentos
fariam parte da receita pública. O governo subsequentemente alterou a lei
fiscal do país (Atollizea Tax Act 2001), introduzindo uma taxa máxima de
impostos de 5% do lucro anual para "qualquer promotor estrangeiro ou
investidor no turismo". Em Atollizea, o imposto geral sobre as empresas é de
cerca de 10 por cento do lucro anual; e a taxa de imposto para os "indivíduos
com rendimentos elevados" (determinada anualmente) é de cerca de 15 por
cento do rendimento anual. Num Despacho do Governo, esclareceu-se que a
privatização – e outras medidas – são necessárias para tornar o investimento
em Atollizea mais atraente, para superar os efeitos da crise económica global
e da diminuição do crescimento em Atollizea. A Lei do Mar e da Água Doce
de 2010 foi subsequentemente alterada para permitir que o Ministro dos
Assuntos da Água fixasse taxas de pagamento mais baixas para as
empresas “quando as circunstâncias do caso assim o exigirem”. Uma
publicação on-line crítica ferozmente o Governo, o Save Atollizea Times
publicou detalhes de uma conversa escutada por um de seus repórteres, na
qual o Ministro dos Assuntos da Água falou com um potencial investidor
estrangeiro, comprometendo-se a interpretar a Lei de modo a permitir que os
investidores estrangeiros pagassem metade do preço do fornecimento de
água em Atollizea. Os bancos privados em Atollizea seguiram o exemplo do
Governo, fornecendo empréstimos aos investidores e às empresas
estrangeiras com juros à 2 por cento mais baixos do que para cidadãos e
empresas nacionais. O jornal diário Today, reportou em 2014, que os
investidores e promotores estrangeiros tinham beneficiado de bilhetes aéreos
gratuitos da companhia aérea nacional para participarem de várias reuniões
em Atollizea, com as suas famílias. Um porta-voz júnior do Governo veio a
negar tal facto, e indicou que o governo iria submeter um processo crime por
"difusão de notícias falsas" (nos termos doa Secção 11 da Lei Penal de 1969)
contra o Jornal Today. No entanto, tal processo crime nunca foi instaurado.

7- Por volta de fevereiro de 2015, a Global One – um mega-actor na indústria do


turismo internacional – efectuou uma transação de compra dos dez hotéis do
Estado em Sambuka, com o governo. Neste processo, a Global One investiu
aproximadamente um bilhão de dólares americanos na indústria hoteleira da
Atollizea. Este investimento mudou drasticamente a imagem de Sambuka
como uma cidade costeira. Na maioria dos hotéis, o pessoal do hotel e
funcionários foram trazidos do estrangeiro. Estes hotéis fornecem todos os
serviços relacionados com praia e mar, através dos seus parceiros privados,
que são basicamente de fora. Aos pescadores locais foram negados o
acesso à praia e às águas nas margens dos hotéis. Algumas praias públicas
foram proclamadas como sendo praias privadas. Antes de apresentar a sua
proposta, o chefe de "Entretenimento" da Global One, Alvin Astair, filmou
clandestinamente mulheres Sambuka a executarem a sua famosa dança –
Senga. A sua equipa posteriormente analisou a gravação do vídeo, produziu
um manual de instruções sobre a dança Senga, e treinou mulheres de países
da Europa do Leste, empregadas pela Global One, para executarem a dança
Senga. Essas mulheres agora actuam como dançarinas Senga em todos os
hotéis da Global One em Sambuka, dentro das instalações dos hotéis Global
One de Sambuka. A dança Senga praticada em praias públicas, em
Sambuka tornou-se uma raridade.

8- Desde a privatização dos hotéis estatais, 10.000 pessoas em Sambuka


perderam seus empregos. As pequenas empresas que dependiam do turismo
foram encerradas. A Today reportou que muitas famílias estão a ficar sem
aprovisionamento alimentar e nas zonas rurais de Sambuka, as crianças
pararam de frequentar a escola. O alcoolismo e a violência doméstica têm
aumentado, particularmente entre os jovens. Um psicólogo de renome
escreveu um artigo de opinião no Today, alegando que a depressão causada
por uma paragem brusca no "ciclo de vida" das pessoas de Sambuka era a
principal razão para um aumento repentino de violência e do uso de drogas.
Em 2016, a total alocação orçamental para programas de desenvolvimento
em Atollizea aumentou em 17 por cento, em comparação com a alocação em
2015. O governo também introduziu um subsídio básico de rendimento, de
USD $ 20 por mês para cada atollizeano (nacional de Atollizea).

9- O Movimento de Desenvolvimento de Sambuka (SDM) é uma pequena


organização não governamental (ONG) que trabalha na área de
desenvolvimento em Atollizea, com um orçamento anual de USD $ 75.000.
Tendo em conta a situação desastrosa, o SDM realizou manifestações e
protestos em Sambuka e em outras regiões de Atollizea. Os protestos e as
manifestações públicas mostraram uma imagem muito negativa das decisões
políticas do governo que levaram à privatização de hotéis em Sambuka.
Depois de três semanas e tendo percebido que seus protestos não haviam
produzido os resultados desejados, o SDM recorreu ao Tribunal Superior,
alegando que a decisão do Conselho de Ministros e as alterações à
legislação eram inconstitucionais porque violavam o direito ao
desenvolvimento.

10- No dia 31 de Agosto de 2015, o Tribunal Superior decidiu sobre o recurso do


SDM. O Tribunal Superior aceitou a objecção preliminar do Estado e
determinou que o poder judiciário violaria a doutrina da separação de
poderes se se pronunciasse sobre assuntos "exclusivamente reservados ao
executivo para decidir". O Tribunal também declarou que não tinha
competência material porque o direito ao desenvolvimento não estava
consagrado na Constituição da Atollizea. Durante mais de um mês, o SDM
contemplou a possibilidade de recorrer da decisão do Tribunal Superior, mas
depois de ter analisados todos os factos, abandonou a ideia devido ao custo
da interposição de recurso junto do Tribunal Supremo. O SDM não tem
advogado interno e, com base nos custos incorridos por outras ONGs no país
em casos de constitucionalidade, estima que o custo de um advogado senior
para prestar assistência no caso perante o Tribunal de Apelação (Supremo)
poderia chegar aos USD $ 25.000.
11- A World Marina, uma empresa privada especializada em turismo marinho e
aquático, está presente em Atollizea desde 2014. A empresa está envolvida
na construção de marinas em toda a ilha. Tem sido pioneira na construção de
uma marina na costa de Sambuka para os moradores da Villa One, um bairro
residencial muito prestigiado de Sambuka. A sua construção tem sido objecto
de fortes críticas devido ao seu impacto ambiental, que resulta na destruição
do parque marinho situado nas proximidades, que tinha uma biodiversidade
marinha muito rica. De acordo com um artigo de 2015, publicado numa
revista internacional importante, por um cientista da UNAT, as actividades
humanas na marina resultaram no aumento da temperatura das águas, que
por sua vez está a afectar o número de pólipos. Os pólipos são organismos
vivos essenciais, responsáveis pela criação e geração de recifes de corais.
Os recifes de corais garantem que as ondas altas do mar alto não cheguem
até a costa, criando assim uma lagoa com água calma e quente. Para muitos
turistas estas lagoas são o principal ponto atractivo.

12- A construção desta marina já afectou a comunidade pesqueira de Sambuka,


constituída por cerca de 2000 pescadores. As actividades de pesca são a sua
principal fonte de rendimento e muitos deles têm lares para cuidar. Foi
publicado em jornais locais, que muitas das famílias da comunidade de
pescadores foram seriamente afectadas em termos de escassez de
alimentos. Algumas famílias estão abaixo dos níveis de pobreza da ONU. Em
2014, quando o projecto World Marina foi iniciado, a World Marina realizou
consultas ao Conselho de Anciãos de Sambuka, que indicou que as suas
comunidades eram "em grande parte a favor da marina". Para além disso, a
World Marina financiou a impressão de cerca de mil panfletos e folhetos de
informação, que foram distribuídos pela comunidade através da devida
autoridade local, informando-a dos benefícios da nova marina. A comunidade
de pescadores expressou subsequentemente preocupações sobre o impacto
do investimento na vida marinha e fez recomendações concretas como parte
dos procedimentos de licenciamento de Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA), estipulados no artigo 66 (1) do Sea and Fresh Water Act. A secção
prevê: “Sob reserva dos procedimentos previstos nas sub-secções seguintes,
o Estado e os investidores realizarão consultas com as populações
potencialmente afectadas pelos investimentos marítimos e assegurarão a sua
adequada e atempada participação.” Embora o governo não tenha dado
indicação de que as suas preocupações tenham sido levadas em
consideração, a licença de AIA foi concedida à World Marina.
Subsequentemente, uma rádio privada transmitiu um programa especial,
destacando os estreitos laços existentes entre o dono da World Marina e
várias figuras políticas, sem mencionar nomes. Save Atollizea Times também
publicou tais alegações e estabeleceu ligação aos boatos persistentes de que
pelo menos 10 por cento da renda gerada pela venda dos hotéis estatais, foi
dividido entre os membros do governo.
13- A Sea for All (SFA), uma ONG que trabalha no interesse do meio marinho e
das comunidades associadas ao mar em Sambuka, tem sido muito dinâmica
em apoiar a causa da comunidade de pescadores. Tem vindo a sensibilizar
em Sambuka e em várias outras zonas costeiras de Atollizea sobre o impacto
que as grandes empresas têm sobre o ambiente, especialmente focando-se
no caso da Villa One. A SFA tem sido muito vocal ao criticar a associação de
figuras políticas e membros do Conselho de Anciãos de Sambuka com a
World Marina. Os seus membros têm sido pró-activos na busca de qualquer
acto específico de corrupção, que poderia ter influenciado o processo de
licenciamento de AIA, mas até agora, sem sucesso. Muitas das suas
alegações foram publicadas no Save Atollizea Times. Nos seus relatórios, a
publicação on-line forneceu as alegações em pormenor, mas sublinhou que
se tratava de “alegações meramente infundadas”. Em setembro de 2015, a
SFA realizou uma pesquisa on-line com entrevistados da comunidade para
determinar se queriam ou não ser apoiados no desafiar a concessão da
licença à World Marina. Dos 1000 pescadores que responderam, 55 por
cento disseram 'sim', 40 por cento disseram 'não' e 5 por cento estavam
indecisos.

14- Em 21 de Outubro de 2015, a SFA recorreu ao Tribunal do Ambiente, em


nome da comunidade de pescadores, contestando a concessão da licença à
World Marina. Após ter ouvido os argumentos de ambas as partes, incluindo
as alegações preliminares do Procurador-Geral da Atollizea (AG) que
contestou a posição da SFA, o Tribunal concluiu em 29 de Novembro de
2015 que a SFA tinha legitimidade. O Tribunal também declarou que a
licença emitida para a World Marina era inválida porque estava aquém dos
requisitos estatutários do artigo 66 do Sea and Fresh Water Act. Insatisfeito
com a decisão do Tribunal, a PGR recorreu ao Tribunal de Apelação
(Supremo). Após ouvir os argumentos de ambas as partes, em 23 de
Setembro de 2016, o Tribunal de Apelação reverteu a decisão de que a SFA
não tinha legitimidade perante o Tribunal; e com base nisso, restabeleceu a
licença concedida à World Marina.

15- No início de 2017, Kona, Presidente e principal activista da SFA e membro da


população em geral, foi preso pela polícia sob suspeita de que tinha
conexões com o principal partido da oposição e estava a conduzir todo o seu
activismo contra o governo sob as instruções e recursos fornecidos pelo
partido da oposição. Foi acusado perante o Tribunal Penal de ter violado a
Lei Penal de Atollizea, na medida em que lidera uma organização cujos
membros estão envolvidos na assistência à "divulgação de notícias falsas".
Segundo o Prof. Kane da Faculdade de Direito da UNAT, que estuda o
histórico (trabalhos preparatórios) da redacção do artigo 11 da Lei Penal, esta
disposição foi incluída na Lei Penal em 2014, coincidindo com o aumento de
notícias prejudiciais aos interesses comerciais de Atollizea, nas redes sociais.
De acordo com a sua análise de todos os dados disponíveis, a secção 11
tinha sido promulgada para garantir que as informações não comprovadas,
que sejam prejudiciais à indústria turística do país, não circulem, de modo a
não prejudicar o interesse nacional. Nesta fase, o editor do Save Atollizea
Times também foi acusado ao abrigo da secção 11.
16- Tanto Kona como o editor do Save Atollizea Times ficaram atrás das grades,
uma vez que seus pedidos de caução foram rejeitados, com base na
justificativa do "risco de fuga", uma vez que ambos têm imensos contactos
internacionais. Eles recorreram ao Tribunal Superior para obter uma
declaração de que deveriam ser libertos porque o artigo 11 da Lei Penal é
inconstitucional. No entanto, o Tribunal rejeitou esta alegação com o
fundamento de que Kona e o editor não tinham requerido o apoio de um terço
do Parlamento, antes de atacar a constitucionalidade da legislação actual.
Em recurso, o Tribunal de Apelação (Supremo) confirmou a decisão do
Tribunal Superior, com base nos mesmos fundamentos. Desde a detenção e
prisão de Kona e do editor, a SFA foi forçada a cessar as suas actividades e
a deixar de apoiar a causa da comunidade de pescadores; e Save Atollizea
Times, que sofre de falta de recursos humanos, tem sido forçado a publicar
apenas uma vez por semana, ao contrário de diariamente, como fazia num
passado recente.

17- Em Julho de 2017, a SFA apresentou um caso à Comissão Africana dos


Direitos Humanos e dos Povos (Comissão Africana). Com base no nº 4 do
artigo 118º Regras de Procedimento (Regulamento Interno), tendo por base
que o desenvolvimento e o ambiente são questões críticas para a protecção
dos direitos humanos em África, sobre as quais o Tribunal Africano dos
Direitos Humanos e dos Povos deverá pronunciar-se, a Comissão Africana, à
1 de setembro de 2017 encaminhou o caso ao Tribunal Africano, alegando o
seguinte:

(I) O Tribunal Africano tem jurisdição sobre o caso e todos os elementos do


caso são admissíveis.
(Ii) A decisão de privatização de Atollizea relativamente à indústria do turismo
e as alterações legislativas à ela relacionadas, violaram a Carta Africana e
outros tratados relevantes sobre os direitos humanos.
(Iii) Atollizea violou a Carta Africana e outros tratados relevantes, ao autorizar
a construção da marina pela World Marina.
(Iv) Atollizea violou a Carta Africana e outros tratados relevantes, ao prender
e acusar Kona e o editor, de "difundir notícias falsas".

As datas fixadas para a argumentação oral perante o Tribunal Africano são 18,
19 e 23 de Setembro de 2017. Prepare os argumentos para a Comissão
Africana e para a República da Atollizea sobre a jurisdição do Tribunal
Africano, a admissibilidade e o mérito da causa e as medidas adequadas, a
serem submetidos ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos.

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