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Quem Fez Minhas Roupas?

Por Ana Sanson

A maneira como a moda é produzida e consumida aumentou e acelerou drasticamente nos


últimos anos. Compramos mais roupas e gastamos cada vez menos elas: consumimos em
média 400% a mais do que há 20 anos. Atualmente, o movimento chamado Fashion
Revolution – presente em vários países, além do Brasil - desenvolve ações mobilizadoras e
incentiva os consumidores a questionarem suas marcas favoritas, com a seguinte pergunta:
#quemfezminhasroupas?

O movimento Fashion Revolution foi criado após o desabamento do Rana Plaza, no dia 24 de
abril de 2013, que abrigava confecções de roupas em Bangladesh, deixando mais de 1.100
mortos e 2.500 feridos. Quando o edifício desabou, as pessoas tiveram que vasculhar os
escombros à procura das etiquetas das roupas para descobrir quais marcas estavam ligadas às
cinco confecções do prédio. Em alguns casos, levaram semanas para as marcas e varejistas
deliberarem sobre como seus rótulos foram encontrados entre as ruínas e que tipo de
contratos de compra elas tinham com aqueles fornecedores. Muitas marcas que estavam
sendo fornecidas pelas confecções dentro do Rana Plaza inclusive não sabiam que suas peças
estavam sendo produzidas lá.

Acredito que muitas pessoas ao lerem este texto podem pensar: mas por que fazer esse
questionamento? Qual a real importância disso?

As nossas roupas dizem muito sobre nós. Elas nos representam como nos sentimos sobre nós
mesmos e são a nossa mensagem para o mundo sobre quem somos. Porém, nós consumidores
não sabemos tanto assim sobre elas. É preciso muita coisa para produzir uma roupa. Não
apenas aquilo que sabemos, como designers, marcas, lojas, desfiles e festas; mas também os
agricultores de algodão, descaroçadores, bordadeiras, tintureiras, costureiras e outros
trabalhadores que fazem as roupas que amamos.

Geralmente as pessoas que fazem nossas roupas ficam “escondidas.” Então, se não sabemos
quem faz nossas roupas, não temos certeza se elas foram feitas de uma forma justa, limpa e
segura. É por isso que o movimento #quemfezminhasroupas veio à tona, pois queremos saber
se as roupas que compramos não custaram a vida de pessoas ou do nosso planeta em si.

A falta de transparência custa a vida de algumas pessoas. É impossível que as empresas


garantam que os direitos humanos sejam seguidos e que as práticas ambientais sejam
saudáveis se elas não sabem onde seus produtos estão sendo feitos. É por isso que a
transparência é essencial, pois significa que as empresas sabem quem faz suas roupas: pelo
menos onde elas são costuradas na primeira fase e comunicam isso a seus clientes, partes
interessadas e equipe. Além disso, não são somente as marcas e os revendedores. Existem
muitos intermediários envolvidos também: atacadistas, agentes, gerentes da cadeia de
suprimentos e distribuidores. Essas são partes importantes e lucrativas do setor que o público
geralmente não vê.
Atitudes práticas para saber quem fez suas roupas

 Observe suas roupas

A etiqueta mostrará em qual país a sua roupa foi feita: você saberá que a pessoa que a
costurou vive em Bangladesh ou na China, por exemplo. A etiqueta também mostrará quais
materiais foram utilizados, como algodão ou poliéster. Mas, a etiqueta não dirá em que lugar
do mundo o algodão foi cultivado, onde a fibra foi transformada em fio e onde o tecido foi
tingido e estampado. Estar interessado em saber de onde vieram os materiais, que tipo de
pessoas estão envolvidas e como é a vida delas nesse ambiente de trabalho é o primeiro passo
em direção à mudança na história das pessoas que fazem nossas roupas.

 Pergunte às marcas: #quemfezminhasroupas?

Vire sua roupa do avesso ou simplesmente torne a etiqueta visível e depois tire uma selfie.
Poste sua selfie na plataforma de mídia que preferir, com a hashtag #quemfezminhasroupas?
Não se esqueça de taggear a marca que você está vestindo para incentivá-la a responder sua
pergunta. Algumas marcas nunca irão responder. Algumas poderão dizer onde suas roupas
foram feitas, mas não quem as fez. Outras irão guiar você até suas políticas de
responsabilidade social corporativa, algumas mostrarão que sabem algo sobre as pessoas que
fazem suas roupas. Por fim, as melhores empresas perguntarão a você o número de fábrica na
etiqueta da sua peça e responderão com detalhes específicos.

 Descubra com a ajuda de aplicativos

Aqui no Brasil temos o aplicativo “Moda Livre”, que avalia ações de empresas para evitar
trabalho escravo na produção de suas roupas. A proposta é trazer ao público, de forma ágil e
acessível, as medidas que as principais marcas e varejistas de roupas do país vêm tomando
para evitar que as peças vendidas em suas lojas sejam produzidas por mão de obra escrava.

Precisamos continuar perguntando quem fez nossas roupas para incentivar maior
transparência e ajudar a melhorar a vida de milhões de pessoas que trabalham na cadeia de
fornecimento da moda.

Com o apoio de todos, podemos criar mudanças positivas e transformar a indústria da moda!

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