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HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO – ASPECTOS POLÊMICOS

NA SUA APLICAÇÃO

André Braga Barreto1

Resumo: O presente ensaio se destina a uma análise acerca das normas jurídicas que regem a apuração e
fixação dos honorários advocatícios na Justiça do Trabalho, dando ênfase nas situações de maior
controvérsia, como nos casos de sucumbência recíproca, com enfoque no costume jurisprudencial
acerca do tema no âmbito da Justiça Comum, notadamente pela circunstância de se tratar de matéria
estranha ao Processo Laboral até o advento da Lei 13.467/2017, alcunhada de Reforma Trabalhista.

Palavras-chave: Processo do Trabalho. Honorários advocatícios sucumbenciais. Regime jurídico


aplicável. Aplicação prática.

Sumário: I – Introdução; II – Honorários de sucumbência: escorço histórico, conceito e natureza


jurídica; III – Honorários de sucumbência no Processo do Trabalho; IV – Base de cálculo dos honorários
sucumbenciais; V – Sucumbência recíproca – regime jurídico aplicável; VI – Honorários sucumbenciais
e a responsabilidade derivada; VII – Honorários de sucumbência e o Jus Postulandi; VIII – Honorários
de sucumbência e a justiça gratuita; IX – Honorários Assistenciais pelo Sindicato após a Reforma
Trabalhista; X – Honorários sucumbenciais na execução e fase recursal; XI – Considerações finais; XII
– Referências bibliográficas.

I – INTRODUÇÃO

Dentre as profundas alterações no Direito Processual Trabalhista empreendidas pela Lei


13.467/2017, a chamada Reforma Trabalhista, certamente uma das mais comentadas inovações é a
instituição dos honorários de sucumbência no âmbito da Justiça do Trabalho, doravante como regra
geral, e não mais como situação excepcional, como ocorria até então.

É certo que tal novidade vem ao encontro de antigas postulações da advocacia trabalhista,
notadamente diante da injustificável discrepância diante do regime jurídico corrente na Justiça Comum,
onde já há muito restou consagrado o entendimento de se tratarem os honorários de sucumbência
autêntica remuneração dos profissionais da advocacia que atuaram no caso, inclusive com
reconhecimento do caráter alimentar da rubrica, inteligência hodiernamente insculpida expressamente
no art. 85, §14, do Código de Processo Civil de 2015 (CPC), in litteris:

Juiz do Trabalho Substituto do TRT da 7ª Região – Ceará.


§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os
mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a
compensação em caso de sucumbência parcial.

Todavia, não se pode olvidar os reflexos econômicos que advêm da generalização dos
honorários de sucumbência no Processo Laboral. Como ressai de sua essência, o Processo do Trabalho
tem como atores, sobretudo no polo obreiro, indivíduos de reduzida capacidade econômico-financeira,
no mais das vezes em situações nas quais se viu desprovido de sua principal ou única fonte de sustento.
Portanto, seu escopo reside na instrumentalização do acesso à justiça aos trabalhadores, observadas as
assimetrias inerentes à relação empregado-empregador e a essencialidade dos direitos a serem buscados
em juízo, de modo a garantir que a prestação jurisdicional garanta a paridade de armas entre os
litigantes e que o rito processual seja dotado de celeridade e informalidade compatíveis com a natureza
alimentar das pretensões potencialmente perseguidas. Nesta quadra, é importante que a aplicação dos
honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho não perca de vista que toda e qualquer despesa
imposta aos trabalhadores pelo exercício de seu direito de ação deve levar em conta a própria razão de
ser deste ramo processual especial, sob pena de se converter em flagrante cerceio ao Direito
Fundamental ao Acesso à Justiça, consagrado no art. 5º, XXXV, da CF.

Ilustrativas acerca da necessidade da mencionada ponderação de valores na aplicação do


instituto na seara Processual Trabalhista as primeiras notícias veiculadas sobre a condenação de
empregados sucumbentes em honorários advocatícios. Particularmente, chamou a atenção o caso no
qual o magistrado condenou a empregada a pagar R$67.500,00 (sessenta e sete mil e quinhentos reais)
ao seu ex-empregador, mesmo se tratando de sucumbência recíproca, ou seja, tendo o judiciário
reconhecido que a empregada teria direito a alguma(s) das parcelas inicialmente pretendidas. 2 In casu, o
que mais salta aos olhos foi o fato de o juiz ter alterado o valor da causa, ex officio, sem oitiva das
partes, e em sentença, de R$40.000,00 (quarenta mil reais) para R$500.000,00 (quinhentos mil reais),
aparentemente com vistas a incrementar o valor da condenação autoral em honorários sucumbenciais.
Em outro caso alardeado pela mídia, o empregado foi condenado a pagar incríveis R$750.000,00
(setecentos e cinquenta mil reais) a seu antigo patrão, em razão da sucumbência em ação trabalhista,
ressaltando-se que também nesta oportunidade se tratou de sucumbência recíproca, tendo o autor sido
vitorioso em algum(ns) de seus pedidos3.

Situações como as acima descritas deixam patentes os efeitos econômicos que podem advir
de uma aplicação desproporcional das regras de sucumbência no âmbito da Justiça do Trabalho,
notadamente no que pertence aos casos de procedência parcial, não sendo ocioso lembrar que cerca de
28% (vinte e oito por cento) de todas as decisões proferidas em 1ª instância, aí incluídas aquelas
relativas a conciliações, arquivamentos e extinções sem resolução do mérito, dizem respeito a
procedência em parte dos pedidos formulados, o que faz concluir que a expressiva maioria das decisões
de mérito prolatadas na Justiça Laboral apresentam sucumbência recíproca entre os litigantes 4. Em
verdade, tomando-se apenas as sentenças que analisam propriamente as controvérsias trazidas em juízo
(procedentes, procedentes em parte e improcedentes), o quantitativo de decisões procedentes em parte
representa percentual superior a 70% (setenta por cento), o que dá a dimensão da ocorrência da presença
da sucumbência recíproca na Justiça do Trabalho.

Cumpre com o presente estudo descortinar a essência dos honorários de sucumbência, sua
natureza jurídica e seu papel enquanto instituto da Ciência Processual. Episódios como os acima

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/12/13/juiz-condenacao-ex-funcionaria-itau.htm

https://veja.abril.com.br/economia/ex-empregado-tera-de-pagar-r-750-mil-a-empresa/

CSJT. Relatório Geral da Justiça do Trabalho – ano base 2016 - pág. 109 - http://www.tst.jus.br/documents/18640430/5a160b29-
ad97-c254-0d38-4511bdc6157d
narrados podem ilustrar, concessa maxima venia, potencial confusão ontológica entre os honorários de
sucumbência (art. 791-A da CLT), enquanto rubrica remuneratória dos advogados atuantes no processo,
e as medidas de coibição do abuso no exercício do Direito de Ação, igualmente consagrados pela
Reforma Trabalhista, seja a multa ou a indenização por litigância de má-fé (Responsabilidade por Dano
Processual – artigos 793-A a 793-D da CLT).

Com efeito, somente após profundos estudos e reflexões sobre o tema poderão os
operadores do Direito, em especial aqueles atuantes na Seara Laboral, colher os frutos prometidos com a
instituição dos honorários advocatícios na Justiça do Trabalho, com a necessária e justa remuneração
aos advogados pelos bons serviços prestados a seus clientes, sem que tenhamos com isso uma
desnaturação da essência e razão de ser do próprio Processo do Trabalho.

II – HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA: ESCORÇO HISTÓRICO, CONCEITO E


NATUREZA JURÍDICA

A concepção de honorários de sucumbência ou, para utilizar expressão de maior difusão,


honorários advocatícios, confunde-se com a própria história da advocacia. Na antiguidade clássica,
mormente no Direito Romano, inexistia a figura do advogado. Ao tempo dos Reis, o Direito era aquilo
declarado pelo soberano, cuja legitimidade possuía bases religiosas, proferindo sua decisão ouvindo
somente seus conselheiros, o que consequentemente não abria espaço à atuação de defensores da partes.
Por sua vez, no início do período republicano, com a atribuição da iurisdictio aos magistrados públicos,
na figura dos Pretores, e a instituição de leis escritas e rituais a serem seguidos em juízo, as partes
passaram a poder contar com o auxílio de alguém com mais experiência nos ditames legais. Tal
assistência, entretanto, limitava-se ao gestual e vocabulário pré-estabelecidos, sendo certo que os atos
processuais ainda deveriam ser pessoalmente praticados pelas partes, restando excepcional a
representação das partes em juízo.

Relevante marca da advocacia na República Romana foi o instituto do patronato


judiciário, cujas origens remontam ao antigo patronato gentílico. Como característica de uma sociedade
oligárquica, o patrono garantia a defesa processual do seu cliente em troca de seu voto, seus préstimos
ou de sua influência política, independentemente status social ou econômico, havendo nítido elo de
fidelidade entre parte e patrono. A disseminação de tal fórmula ensejou, no entanto, a prática de
reiterados abusos pelos patronos, que por vezes exigiam contraprestações abusivas de seus clientes
plebeus. Neste contexto, chegou-se a editar a Lex Cincia, em 204 a.C, que proibia os patronos de
auferirem honorários, ainda que sob o rótulo de doações. Tal diploma, porém, assim como vários
subsequentes no mesmo sentido, jamais foram devidamente cumpridos, sendo comum o recebimento de
grandes doações aos patronos como pagamentos por seus serviços jurídicos. Em linhas gerais, em
virtude de ser atividade frequentemente confundida com aspectos políticos e habilidades retóricas, não
se permite concluir que a República Romana tenha visto o florescimento de uma advocacia de cunho
profissional.

Com a instauração do Principado Romano, em 27 a.C., as novas feições das instituições


públicas, com a concentração de poder na pessoa do Príncipe, acarretaram profundas transformações no
direito e no sistema processual então vigentes. O patronato judiciário, que viveu seu auge em tempos
republicanos, sofreu gradual enfraquecimento; a nova ordem jurídica, fruto do desenvolvimento do
Direito Romano, passou a demandar a fundamentação não mais através de técnicas retóricas, mas sim
por meio de conhecimentos técnico-jurídicos e jurisprudenciais. Cuida-se, portanto, de autêntica
profissionalização da advocacia, enquanto atividade liberal, levando a um gradual reconhecimento do
direito a honorários advocatícios por tais agentes. Em claro efeito da cultura do período republicano,
todavia, o patrono somente poderia exigir sua remuneração caso ela tivesse sido prometida ou quando
parte dela já houvesse sido antecipada. Mesmo diante de tal circunstância, verifica-se no principado
nítida fase de transição na essência da advocacia, de uma atividade ligada ao instituto do patronato para
uma atividade essencialmente liberal; porém, a ausência da regulamentação do mister findava por
facilitar excessivamente a atuação de quem quer que fosse como advogado, o que, à luz do potencial
retorno trazido aos seus agentes, levando a uma marcada degradação na formação dos integrantes da
classe.

A partir do Baixo Império Romano, os advogados passaram a se organizar em corporações,


como clara reação aos mencionados problemas de formação na carreira, somente sendo conferida
capacidade postulatória àqueles que, após provas e estágios, recebessem permissão expressa para o
exercício do ofício. No que tange à remuneração, após inicialmente se consubstanciar como hostil a tal
tema, como emerge da Lex Cincia, a legislação romana, a partir do século III d.C., passou a designar
tecnicamente a palavra honorarium como quantia licitamente exigível pelo advogado a seus clientes,
observados limites de valores. A par do respeito ao teto legal, era vedada qualquer forma de associação
do advogado com seu cliente, seja por meio do pactum de quota litis (honorários sobre um percentual
do êxito), do palmarium (honorários só em caso de vitória) ou da redemptio litis (substituição do
constituinte pelo advogado, que doravante assumiria o risco da lide). Por fim, ainda que nada houvesse
sido oferecido ao advogado pelo cliente, aquele faria jus a uma remuneração arbitrada pelo juiz, de
acordo com importância do litígio, do seu talento profissional e do costume do foro, respeitados os
limites legais. Tal figura, como emerge claramente de seus contornos, assemelha-se sobremaneira ao
regime sucumbencial corrente no Direito Processual brasileiro, mesmo no período anterior ao atual
Codex Processual.

Por sua vez, no Direito Canônico, era corrente a ideia de que a condenação do vencido
teria natureza sancionatória, como pena imposta ao litigante temerário e aos apelantes, concepção que
chegou a ganhar força no Direito comum. 5 Tal raciocínio, inclusive, serviu de clara inspiração ao
disposto nos artigos 63 e 64 do CPC de 1939, que dispunha:

Art. 63. Sem prejuízo do disposto no art. 3º, a parte vencida, que tiver alterado,
intencionalmente, a verdade, ou se houver conduzido de modo temerário no curso da
lide, provocando incidentes manifestamente infundados, será condenada a reembolsar à
vencedora as custas do processo e os honorários do advogado.

§ 1º Quando, não obstante vencedora, a parte se tiver conduzido de modo temerário em


qualquer incidente ou ato do processo, o juiz deverá condená-la a pagar à parte contrária
as despesas a que houver dado causa.

§ 2º Quando a parte, vencedora ou vencida, tiver procedido com dolo, fraude, violência ou
simulação, será condenada a pagar o décuplo das custas.

Art. 64. Quando a ação resultar de dolo ou culpa, contratual ou extra-contratual, a sentença que a
julgar procedente condenará o réu ao pagamento dos honorários do advogado da parte contrária.
(grifo nosso)

À luz de tal inteligência, consagrou-se o entendimento de que a condenação na verba


honorária decorreria do fato de ter o vencido litigado em juízo sem direito a ser tutelado, o que
“equivaleria a um ato ilícito, punível com aquela condenação nas custas, a qual tinha, pois, o caráter de
pena”.6

CAHALI, Yussef Said. Honorários Advocatícios. 3ª edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 27

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas De Direito Processual Civil – 2º volume. 23ª edição, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 309.
A boa doutrina menciona Adolfo Weber como o primeiro jurista a divergir da ideia
majoritária, aduzindo serem os honorários efetivo ressarcimento do vencedor pelos prejuízos sofridos
em razão da demanda. Nota-se que apesar de representar inequívoco avanço em relação ao quadro
pretérito, a Teoria do Ressarcimento, alcunha pela qual ficou conhecido tal pensamento, persistia na
culpa do vencido como fundamento para a condenação no pagamento dos honorários advocatícios, que
decorreria, portanto, na obrigação de reparar o dano culposamente causado a outrem.

Aperfeiçoando tal compreensão, Chiovenda trouxe a percepção de que a condenação em


honorários advocatícios se consubstanciaria num ressarcimento ao vencedor, de modo a que, ao fim do
processo, esse recebesse não somente o bem da vida perseguido, mas igualmente fosse reparado pelas
despesas que realizou no transcurso da demanda, buscando-se restabelecer a situação econômica do
vencedor caso a disputa não tivesse ocorrido. Segundo tal corrente, consagradora do Princípio da
Sucumbência, “o vencido, ainda que tenha agido com manifesta boa-fé, responde pelas despesas porque
foi vencido. Cabe-lhe pagá-las para integração do direito do vencedor, que não se lhe asseguraria intacto
desde que ficasse reduzido com as despesas havidas para o seu reconhecimento em juízo”. 7 Com efeito,
a vitória legitimaria, objetivamente, ressarcimento do vencedor pelo vencido, ausentes análises de culpa,
dolo ou temeridade desse, caracteres ainda presentes na Teoria do Ressarcimento, como visto acima.
Assim, a condenação nas despesas processuais (custas e honorários advocatícios) seria consequência
imediata da necessidade do processo judicial.

No entanto, o mesmo doutrinador italiano constatou situações incompatíveis com o


princípio suso referido, dado que o reconhecimento do direito perseguido em juízo não justificaria a
condenação do vencido no pagamento de despesas e honorários. Diante disso, buscou explicar o
fenômeno pela Teoria da Causalidade, segundo a qual caberia o pagamento dos honorários àquele que
deu causa à lide, “seja ao propor demanda inadmissível ou sem ter razão, seja obrigando quem tem
direito a vir a juízo para obter ou manter aquilo a que já tinha direito”. 8 Nesta esteira, Chiovenda
reformou seu pensamento no tema, como bem sintetiza, Helena Abdo, in litteris:

"Com base nessas constatações, Chiovenda lançou mão da idéia de sucumbência, segundo
a qual a responsabilidade pelo custo do processo deveria ser atribuída, em todos os casos,
àquele que sucumbiu, ou seja, àquele que acabou vencido no processo. A condenação ao
pagamento das despesas havidas com o processo teria por base o fato objetivo da derrota,
e sua finalidade seria tão-somente a de repor a situação ao status em que ela estaria caso
o processo não tivesse sido necessário. Contudo, a mera sucumbência não é suficiente
para explicar todos os casos em que se deve atribuir a responsabilidade pelo custo do
processo. Na verdade, a sucumbência é, como dito, um indicador do verdadeiro princípio
que deve prevalecer em matéria de atribuição da responsabilidade pelo custo do processo:
o da causalidade. Ao que parece, Chiovenda já antevira esse princípio ao verificar que a
mera noção de sucumbência não era suficiente para explicar todos os casos de atribuição
da responsabilidade pelo custo do processo a uma das partes. A partir dessa constatação,
o processualista italiano buscou solução para esses casos na ideia de evitabilidade do
processo, a qual nada mais significava do que aquilo que hoje se conhece por princípio da
causalidade".9

SANTOS, Moacyr Amaral, op. cit, p. 309.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil – v. II. 6ª edição, São Paulo: Editora Malheiros, 2009, p. 666

ABDO, Helena Najjar. O (Equivocadamente) Denominado “Ônus Da Sucumbência” No Processo Civil, Revista de Processo, v. 140, p.
8-9, outubro/2006.
Na mesma linha seguiram os processualistas clássicos ao definirem o Princípio da
Causalidade, como se infere das lições abaixo, in verbis:

“A raiz da responsabilidade está na relação causal entre o dano e a atividade de uma


pessoa. Esta relação causal é denunciada segundo indícios, o primeiro dos quais é a
sucumbência; não há, aqui, nenhuma antítese entre o princípio da causalidade e a regra
da sucumbência como fundamento da responsabilidade pelas despesas do processo: se o
sucumbente as deve suportar, isso acontece porque a sucumbência demonstra que o
processo teve nele a sua causa. Mas o princípio da causalidade é mais largo do que aquele
da sucumbência, no sentido de que esta é apenas um dos indícios da causalidade.” 10

“A sucumbência é um excelente indicador dessa relação causal, mas nada mais que um
indicador. Conquanto razoavelmente seguro e digno de prevalecer na grande maioria dos
casos, há situações em que esse indício perde legitimidade e deve ser superado pelo
princípio verdadeiro".11

No que atine ao Direito Positivo, o Código de Processo Civil de 1939, primeiro diploma
pátrio a tratar do tema honorários advocatícios, como visto acima, atrelava o instituto a um desvio de
conduta da parte condenada, seja dolo, culpa ou mesmo conduta temerária. Entretanto, com a Lei
4.632/65, que alterou a redação do art. 64 da então Lei Adjetiva para suprimir a exigência de dolo ou
culpa para a imposição dos honorários, iniciou-se um processo de supressão da ideia de vinculação da
má-fé do litigante à verba honorário, o que somente foi consolidado com o CPC de 1973, no qual o
princípio da sucumbência foi adotado como regra geral, como se infere de seu artigo 20, já com o texto
alterado pela Lei 6.355/76, passando a contemplar a atuação em causa própria:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e
os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que
o advogado funcionar em causa própria.

A partir do Código de Processo Civil de 2015, houve importante alteração no que diz
respeito à essência do instituto. O legislador buscou fazer uma extensa regulamentação da figura, a
ponto de o art. 85, que primeiramente trata da verba honorária, contar com incríveis 19 (dezenove)
parágrafos. À primeira vista, o caput do art. 85 do diploma adjetivo manteve a inteligência anterior,
como se pode inferir de sua leitura:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

Todavia, quando nos debruçamos sobre os parágrafos do dispositivo, que esmiúçam o


regramento da temática, deparamo-nos com o teor do §14, que contém relevante novidade em relação à
essência jurídica dos honorários advocatícios:

§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os


mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a
compensação em caso de sucumbência parcial.

Com efeito, se cotejarmos o conteúdo acima com os fundamentos que lastrearam as teorias
sobre os honorários acima descritas (Teorias do Ressarcimento, Sucumbência e Causalidade), percebe-
se patente mudança. Ao passo que tais doutrinas definem a verba honorária a partir de elementos de
10

CAHALI, Youseff Said. Op. cit. p. 51.

11

DINAMARCO, Cândigo Rangel. Op. cit. p. 667.


equilíbrio patrimonial, como forma a reparar a parte das despesas arcadas com o processo (divergindo
apenas no tocante ao elemento gerador da responsabilidade - se a mera sucumbência ou a causalidade),
a nova ordem processual identifica os honorários advocatícios como autêntica remuneração do
advogado atuante no polo vencedor da demanda, o que sem sombra de dúvida desconecta o instituto de
conceito de restitutio in integrum da parte vencedora. Doravante, os honorários de sucumbência não
podem deixar de ser entendidos como parcela autônoma do processo, desvinculada do objeto principal
da contenda, e tendo como único beneficiário o advogado. Seguindo precisamente esta linha, a lei
adjetiva passou a proibir a compensação entre os honorários arbitrados às partes adversas, em caso de
sucumbência recíproca, contrariando entendimento expressamente consolidado até então pelo Col.
Superior Tribunal de Justiça em sua Súmula 306.

Portanto, à luz do que se depreende do histórico do ordenamento jurídico pátrio, houve


inequívoca evolução normativa acerca da natureza jurídica dos honorários advocatícios para consagrá-
los como remuneração do profissional da advocacia atuante no processo judicial. Em coerência como tal
raciocínio, percebe-se que a utilização do instituto como instrumento de punição da parte que sucumbe,
como nos casos concretos mencionados no tópico anterior, vinculando-o a elementos subjetivos da
conduta do indivíduo, constitui indiscutível retrocesso no que diz respeito à essência da figura.

III – HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA NO PROCESSO DO TRABALHO

No âmbito do Processo do Trabalho, o instituto dos honorários advocatícios seguiu


parcours peculiar. Diversamente do que ocorre no processo civil, no ramo laboral o acesso ao judiciário,
aos pobres na forma da lei, historicamente se dava através da estrutura sindical, o que inclusive gerou o
reconhecimento constitucional do papel dos sindicatos na “defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”, (art. 8º, III, da CF), e
mediante acesso direto do trabalhador ao judiciário, não importando o valor da demanda, por meio do
jus postulandi, como inscrito no art. 791 da CLT. Não faz parte do cotidiano trabalhista forense,
portanto, a figura da defensoria pública, como órgão defensor daqueles que não podem arcar com
procuradores privados, papel constitucionalmente conferido às entidades sindicais; tampouco se faz
presente no processo laboral a capacidade postulatória como pressuposto de desenvolvimento válido e
regular do processo, dado que a demanda pode ser perfeitamente iniciada e movimentada pela própria
parte, seja empregado ou empregador, excetuadas as instâncias e ações especiais (Súmula 425 do Col.
TST).

Tais particularidades, se é certo que em grande medida se apresentam coerentes com a


simplicidade inerente ao rito trabalhista, e à maioria das demandas nesta área, e com o papel histórico
dos sindicatos no processo de formação e defesa dos direitos dos trabalhadores, findaram por gerar
situação sui generis no direito processual brasileiro quanto à temática da sucumbência.

A inteira compreensão da polêmica não prescinde da análise do conteúdo do art. 14 da Lei


5.584/70 e do art. 11 da Lei 1.060/50, ambos dispositivos voltados à regulação da assistência judiciária
no Direito Brasileiro. Referidos dispositivos enunciam:

Art 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5
de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que
pertencer o trabalhador.

§ 1º A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao dôbro
do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma
vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do
sustento próprio ou da família.
§ 2º A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido pela
autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante diligência
sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.

§ 3º Não havendo no local a autoridade referida no parágrafo anterior, o atestado deverá


ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o empregado. (art.
14 da Lei 5.584/70)

Art. 11. Os honorários de advogados e peritos, as custas do processo, as taxas e selos


judiciários serão pagos pelo vencido, quando o beneficiário de assistência for vencedor na
causa.

§ 1º. Os honorários do advogado serão arbitrados pelo juiz até o máximo de 15% (quinze
por cento) sobre o líquido apurado na execução da sentença.

§ 2º. A parte vencida poderá acionar a vencedora para reaver as despesas do processo,
inclusive honorários do advogado, desde que prove ter a última perdido a condição legal
de necessitada. (art. 11 da Lei 1.060/50)

Como ressaltado alhures, ambos dispositivos compunham o arcabouço normativo referente


à assistência judiciária no Direito Brasileiro. A Lei 5.584/70, que “dispõe sobre normas de Direito
Processual do Trabalho”, traz o aludido art. 14 na sua seção “Da Assistência Judiciária”, claramente se
prestando a registrar o papel das entidades sindicais na prestação do serviço de assistência jurídica aos
trabalhadores, em substituição às defensorias públicas, garantia inscrita na Lei 1.060/50, que “estabelece
normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados”. Já o art. 11 da Lei 1.060/50 apenas
tem o condão de definir que, no âmbito da assistência judiciária, os honorários advocatícios serão
limitados ao percentual de 15% (quinze por cento) sobre o líquido apurado na execução da sentença.

Ao tempo da edição da Lei 1.050/50, o legislador tratou como "assistência judiciária" uma
figura que englobava tanto a assistência jurídica prestada aos necessitados, que não pudessem arcar com
a contratação de defensor privado, como a isenção relativa às despesas do processo, como deixam claro
os artigos 1º a 3º da Lei 1.050/50, em suas redações originais:

Art. 1º Os poderes públicos federal e estadual concederão assistência judiciária aos


necessitados nos têrmos da presente Lei.

Art. 2º. Gozarão dos benefícios desta Lei os nacionais ou estrangeiros residentes no país,
que necessitarem recorrer à Justiça penal, civil, militar ou do trabalho.

Parágrafo único. - Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja
situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de
advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

Art. 3º. A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:

I - das taxas judiciárias e dos selos;

II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e


serventuários da justiça;

III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação


dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito
regressivo contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra
o poder público estadual, nos Estados;

V - dos honorários de advogado e peritos.

Neste contexto, a Lei 5.584/70 tão somente deu cumprimento ao disposto no art. 2º da Lei
1.060/50, tratando da figura da "assistência judiciária" no âmbito da Justiça do Trabalho, expressamente
conferindo tal mister às entidades sindicais. Por sua vez, a aplicação combinada do art. 14, caput e §1º,
da Lei 5.584/70 e do art. 11, §3º, da Lei 1.060/50 conduz à inexorável conclusão de que nas demandas
nas quais houver o deferimento da "assistência judiciária", que será exercida pelo ente sindical, o
deferimento dos honorários advocatícios está limitado a 15% (quinze por cento). Não cuidam as
normas, seja a de caráter geral, seja aquela específica ao rito laboral, dos casos em que a parte opta pela
contratação de advogado particular.

Crucial, portanto, realçar as diferenças conceituais entre a “assistência judiciária”, referida


pelas Leis 1.060/50 e 5.584/70, e “justiça gratuita”, constante do CPC e da própria CLT. Enquanto essa
última corresponde à isenção quanto às despesas processuais, a primeira claramente diz com instituto
que busca aliar a liberação dos custos de tramitação do processo ao fornecimento de assistência jurídica
propriamente dita àqueles que não podem arcar com a contratação de defensor particular.

Em uma análise sistêmica, parece claro que a melhor interpretação dos dispositivos é no
sentido de que a lei tão somente fez reconhecer o papel dos sindicatos como defensor jurídico dos
trabalhadores, sendo garantidos a esses, patrocinados ou não pelo setor jurídico do ente sindical, os
benefícios da gratuidade judiciária, como alcançáveis por qualquer cidadão no processo comum, com
fulcro em expressa previsão legal, já no CPC de 1939 (artigos 68 a 79 do CPC/39), à míngua de
regulação própria no texto consolidado (art. 769 da CLT). A norma celetista somente veio a garantir tal
benesse legal a partir da Lei 10.537/2002, com a inserção do §3º do art. 790 consolidado.

Na mesma linha, seria lícito concluir que caso a parte optasse pelo ajuizamento da
demanda através da contratação de advogado particular, ou mesmo através do jus postulandi, e,
portanto, não se servisse do regime da “assistência judiciária”, garantido pelas Leis 1.060/50 e 5.584/70,
independentemente de requerer a concessão da justiça gratuita, incidiria na espécie o regramento do
processo comum quanto aos honorários de sucumbência, notadamente diante da inexistência de norma a
reger a temática no âmbito do processo do trabalho, à luz do art. 769 da CLT.

Entretanto, esse não foi o caminho perfilhado pela jurisprudência do Tribunal Superior do
Trabalho.

Ainda na vigência do CPC de 1939, a Corte editou a Súmula 11, deixando claro o
entendimento de que a condenação em honorários advocatícios na Justiça do Trabalho estava limitada
aos casos em que a parte optasse pela “assistência judiciária” do sindicato da categoria profissional:

Súmula nº 11 do TST. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. É inaplicável na Justiça do


Trabalho o disposto no art. 64 do Código de Processo Civil, sendo os honorários de
advogado somente devidos nos termos do preceituado na Lei nº 1.060, de 1950 (Res. Adm.
28/1969, DO 21.08.1969).

Com a consagração do Princípio da Sucumbência no âmbito do processo comum e o


advento do CPC de 1973, seguindo a linha histórica do tópico anterior, o tema foi novamente levado à
apreciação do Col. Tribunal Superior do Trabalho, que manteve incólume seu posicionamento,
conforme restou cristalizado em sua Súmula 219, cujo texto original, datado de 1985, expressava:
Súmula nº. 219. Honorários advocatícios. Hipótese de cabimento. Na Justiça do Trabalho,
a condenação em honorários advocatícios, nunca superiores a 15%, não decorre pura e
simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria
profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do mínimo legal, ou
encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do
próprio sustento ou da respectiva família (Res. 14/1985, DJ 19, 24, 25 e 26.09.1985).

Referido verbete jurisprudencial, cuja elaboração se deu em setembro de 1985, teve seu
conteúdo mantido mesmo frente à nova Ordem Constitucional, em outubro de 1988, que consagrou a
advocacia como Função Essencial à Justiça, em seu art. 133, o que gerou a edição da Súmula 329 da
Corte Máxima Trabalhista:

Súmula nº. 329 Honorários advocatícios. Art. 133 da Constituição da República de 1988.
Mesmo após a promulgação da Constituição da República de 1988, permanece válido o
entendimento consubstanciado no Enunciado nº 219 do Tribunal Superior do Trabalho.

À luz da óptica consolidada, somente seriam devidos honorários advocatícios na Justiça do


Trabalho caso preenchidos os requisitos estipulados leis 1.060/50 e 5.584/70. Tal associação, entretanto,
não encontrava respaldo no ordenamento jurídico pátrio, data maxima venia, visto que aludidos
diplomas legais se limitam a regular a específica situação na qual a parte busca a “assistência judiciária”
no ajuizamento de sua demanda, sendo inaplicáveis à generalidade dos casos. Com o devido respeito,
referida compreensão olvidava por completo toda um nicho da advocacia privada que sempre militou
perante a Justiça Laboral, exercendo suas funções paralelamente à estrutura de assistência sindical na
defesa dos trabalhadores e empregadores.

Mesmo diante dos argumentos acima expendidos e da perene contestação das entidades de
classe da advocacia, resistiu por longos anos incólume a ideia de um regime sucumbencial sui generis
no âmbito do Processo Laboral, excessivamente limitativo da figura dos honorários respectivos, gerando
injustificável discrepância dos advogados trabalhistas frente aos seus colegas dos demais ramos do
Judiciário, no tocante à remuneração por seu trabalho. A resiliência se deu mesmo diante do advento do
Código de Processo Civil de 2015, que revogou expressamente o art. 11 da Lei 1.060/50, um dos pilares
do entendimento consolidado, sendo certo que após a vigência da nova ordem processual sequer havia
no direito brasileiro norma a autorizar a limitação dos honorários sucumbenciais a 15%, exclusividade
de tal dispositivo, doravante revogado. Malgrado tenha o Col. TST empreendido abrangente reforma de
seus verbetes de jurisprudência, diante do novo código processual, nada se alterou quanto ao tema.

Todavia, o quadro veio sofrer uma absoluta ruptura com a edição da Lei 13.467/2017,
alcunhada de Reforma Trabalhista. Referido diploma, dentre várias alterações empreendidas na
legislação trabalhista material e processual, inseriu no diploma consolidado o art. 791-A, que dispõe, in
litteris:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de
sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze
por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

§ 1o Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda Pública e nas ações
em que a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria.

§ 2o Ao fixar os honorários, o juízo observará:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;


III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

§ 3o Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência


recíproca, vedada a compensação entre os honorários.

§ 4o Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda
que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes
de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão
ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as
certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de
recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo,
tais obrigações do beneficiário.

§ 5o São devidos honorários de sucumbência na reconvenção.

A partir das alterações produzidas pela Lei 13.467/2017, supriu-se a lacuna legal no tocante
ao regramento do instituto dos honorários advocatícios de sucumbência no âmbito do Processo do
Trabalho. Doravante, não há como resistir a inteligência até então consolidada pelas Súmulas 219 e 329
do Col. TST, dada a existência de previsão expressa da condenação em honorários de sucumbência,
como regra geral, no próprio texto consolidado, sequer havendo a necessidade de integração pela Lei
Adjetiva Comum, havendo clara revogação tácita dos dispositivos que regulavam a matéria nas Leis
1.060/50 e 5.584/70.12

Portanto, à luz do novo marco legal produzido pela lei reformista, a condenação no
pagamento de honorários advocatícios passa a ser regra geral na seara processual trabalhista,
garantindo-se relativa equivalência remuneratória aos causídicos atuantes nesta Especializada, sendo
ainda induvidoso o reconhecimento do caráter alimentar da rubrica, à luz do art. 85, §14, do CPC, à
míngua de disposição própria no texto consolidado (art. 769 da CLT). Não pode passar despercebido,
contudo, que remanesce injustificável discrepância frente ao regime do processo civil, na medida em
que no novel regime sucumbencial trabalhista o limite percentual dos honorários é de 15%, ao passo que
na Justiça Comum o teto é de 20%, patamar garantido desde o código processual de 1973.

Conquanto a alvissareira inovação venha a atender antigos anseios da advocacia, a par de


se respaldar em robustos pilares jurídicos, como acima exposto, não se pode negar que represente
diametral transformação de quadro já há décadas consolidado na vida forense trabalhista, o que
seguramente gerará toda a sorte de controvérsia na aplicação do instituto. O cerne deste trabalho reside
precisamente na exposição e problematização de tais controvérsias, como veremos a seguir.

IV – BASE DE CÁLCULO DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Analisadas a evolução normativa e a natureza jurídica dos honorários de sucumbência,


segue-se tema de sensível importância para a correta aplicação do instituto, qual seja, a definição de sua
base de cálculo. A questão é passível de suscitação de inúmeras polêmicas, notadamente no âmbito da
Justiça do Trabalho, foro no qual, como visto, a verba sucumbencial teve aplicação historicamente
restringida por força da jurisprudência dominante. Merece relevo, outrossim, a recorrente a cumulação
de pedidos nas demandas trabalhistas, diversamente do que se dá no Processo Civil, sendo recorrentes

12

Cabe salientar que o art. 11 da Lei 1.060 já tinha sido expressamente revogado pelo CPC de 2015, o
que torna ainda mais polêmica a persistência do entendimento consolidado até os presentes dias.
as condenações parciais nas sentenças proferidas nesta Especializada, o que inequivocamente gerará
questionamentos e posições antagônicas na aplicação dos critérios definidos em lei em cada caso
concreto, dada a exponencial variedade de situações no cotidiano forense laboral.

Da leitura do art. 791-A da CLT, vê-se que o legislador definiu que os honorários de
sucumbência no processo do trabalho devem ser apurados “sobre o valor que resultar da liquidação da
sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa”. O texto não apresenta substancial diferença em relação ao que dispõe o art. 85, §2º, do CPC,
que trata da questão no processo civil:

§ 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento
sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

Ab initio, faz-se imperioso captar a essência dos elementos legalmente definidos como base
de cálculo da verba honorária, notadamente para que se possa divisar as situações nas quais cabe a
aplicação de cada um dos parâmetros expostos na norma e, mais ainda, em ordem a analisar sobre a
cumulatividade ou não de tais variáveis em um mesmo caso concreto.

E para tanto, não se faz despicienda uma breve visita ao histórico de regulação dos
honorários advocatícios.

À época do CPC de 1939, a lei não dispunha de qualquer critério definidor da base de
cálculos dos honorários, somente a partir da Lei 4.632/65 passando a expressar que o juiz “os arbitrará
com moderação e motivadamente (art. 64, §1º, do CPC/39). Por sua vez, o Código Buzaid de 1973, em
busca de conferir menor espaço à subjetividade do magistrado na estipulação da rubrica, passou a dispor
em seu art. 20, §§3º, 4º e 5º, o seguinte:

§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de
vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:

a) o grau de zelo do profissional;

b) o lugar de prestação do serviço;

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo


exigido para o seu serviço.

§ 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não
houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou
não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as
normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.

§ 5o Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da condenação será a
soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda
correspondente às prestações vincendas (art. 602), podendo estas ser pagas, também
mensalmente, na forma do § 2o do referido art. 602, inclusive em consignação na folha de
pagamentos do devedor.

Do conjunto do dispositivo colacionado, percebe-se claramente a preocupação do


legislador em traçar uma maior objetividade na definição da base de cálculos dos honorários
sucumbenciais, em relação ao que se tinha na vigência do código processual anterior. Note-se,
entretanto, que a norma definiu como único elemento na apuração da base de cálculo a condenação, seja
no §3º, como regra geral, seja no §5º, para as situações de imposição de parcelas vincendas, vinculando
as demais situações, notadamente aquelas nas quais não houvesse condenação a uma “apreciação
equitativa do juiz”.

No entanto, a aplicação prática do texto legal trazido pelo CPC de 1973 acabou por revelar
que ainda remanesciam inúmeros casos de definição dos honorários com base em critérios puramente
subjetivos, notadamente nas situações enquadradas no parágrafo 4º do art. 20, que permitiu a
“apreciação equitativa do juiz” na fixação da rubrica, quando não houvesse condenação. Referido flanco
ao subjetivismo gerou inúmeros questionamentos da advocacia, sobretudo sob a alegação de que os
arbitramentos judiciais invariavelmente implicavam em baixos valores a título de honorários
advocatícios. Estabeleceu-se verdadeira celeuma jurisprudencial, em muitos casos fiando-se a decisão
em pura e casuística equidade, com resultados sobremaneira variáveis a depender do caso concreto.
Neste sentido, colhem-se os seguintes arestos do Col. Superior Tribunal de Justiça (STJ):

AÇÃO DECLARATÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. No caso


concreto, em procedimento incidental, foi atribuído ao feito o valor de um milhão,
setecentos e sete mil e trezentos e quarenta e dois reais, conservada a decisão que fixou os
honorários em vinte por cento sobre o valor da causa. Conclui-se, por meio de simples
cálculo aritmético, que a verba honorária chegaria ao patamar de trezentos e quarenta e
um mil, quatrocentos e sessenta e oito reais e quarenta e seis centavos, sem as devidas
atualizações. Nesta sede, o Min. Relator entendeu que a estipulação foge à lógica do
razoável, mesmo em vista das circunstâncias tidas em consideração pelo Tribunal de
origem. Os honorários arbitrados no quantum acima apontado, na presente hipótese, que
cuida de ação declaratória julgada improcedente, revela-se exagerado diante das
peculiaridades da espécie, o que enseja a excepcional intervenção deste Superior Tribunal
com o fito de adequar o montante arbitrado às especificidades do caso concreto. A verba
honorária, fixada "consoante apreciação eqüitativa do juiz" (art. 20, § 4º, CPC), por
decorrer de ato discricionário do magistrado, deve traduzir-se num valor que não fira a
chamada lógica razoável, pois, em nome da eqüidade, não se pode baratear a
sucumbência, nem elevá-la a patamares pinaculares. Com esse entendimento, a Turma
conheceu parcialmente do recurso e, nessa parte, deu-lhe provimento para reduzir a verba
honorária para duzentos mil reais para ambos os patronos, corrigidos a partir da data do
julgamento até o dia do efetivo pagamento.13

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FAZENDA PÚBLICA. VALOR IRRISÓRIO. A Seção,


por maioria, conheceu dos embargos mas, no mérito, negou-lhes provimento, ao
entendimento de que, nas causas em que a Fazenda Pública for vencida, os honorários de
advogado não podem ser fixados em valores irrisórios ou excessivos, do que os
percentuais estabelecidos no art. 20, § 3º, do CPC. Outrossim, é perfeitamente possível
fixar a verba honorária entre o mínimo de 10% e o máximo de 20%, mesmo fazendo
incidir o § 4º do mencionado artigo (apreciação eqüitativa). No caso, incabível a redução
dos honorários de 10% para 1% do valor da condenação, ao argumento de que, nas ações
de desapropriação indireta, o maior trabalho é do perito, em depreciação ao trabalho do
profissional de Direito. Precedentes citados: REsp 329.498-SP, DJ 22/4/2002; REsp
233.647-DF, DJ 25/2/2002; REsp 282.275-RJ, DJ 29/10/2001, e REsp 279.019-SP, DJ
28/5/2001.14

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA JULGADA IMPROCEDENTE, COM
CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS DE ADVOGADO, EM FAVOR DA FAZENDA

13

STJ. REsp 651.282-RS, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 13/2/2007.
14

STJ. EREsp 264.740-PR, Rel. Min. José Delgado, julgados em 10/11/2004.


PÚBLICA, FIXADOS, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, SEM DEIXAR DELINEADAS
CONCRETAMENTE, NO ACÓRDÃO RECORRIDO, TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS A
QUE SE REFEREM AS ALÍNEAS DO §3º DO ART. 20 DO CPC/73.
INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL, EM FACE DA INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS 7/STJ E 389/STF. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

I. Agravo interno aviado contra decisão monocrática publicada em 31/10/2017, que


julgara Recurso Especial interposto contra acórdão publicado na vigência do CPC/2015.

II. A Corte Especial do STJ, ao julgar os EREsp 637.905/RS (Rel. Ministra ELIANA
CALMON, DJU de 21/08/2006), proclamou que, nas hipóteses do § 4º do art. 20 do
CPC/73, a verba honorária deve ser fixada mediante apreciação equitativa do magistrado,
sendo que, nessas hipóteses, a fixação de honorários de advogado não está adstrita aos
percentuais constantes do § 3º do art. 20 do CPC/73. Ou seja, no juízo de equidade, o
magistrado deve levar em consideração o caso concreto, em face das circunstâncias
previstas nas alíneas a, b e c do § 3º do art. 20 do CPC/73, podendo adotar, como base de
cálculo, o valor da causa, o valor da condenação ou arbitrar valor fixo.

III. Em relação aos honorários de advogado fixados, nas instâncias ordinárias, sob a
égide do CPC/73 - como no presente caso -, não pode o STJ reexaminar o quantum
arbitrado a esse título, à luz das regras supervenientes, referentes à fixação de honorários,
previstas no CPC/2015. Nesse sentido: STJ, AgRg no REsp 1.568.055/RS, Rel. Ministra
DIVA MALERBI (Desembargadora Federal Convocada do TRF/3ª Região), SEGUNDA
TURMA, DJe de 31/03/2016.

IV. Em situações excepcionalíssimas, o STJ afasta a Súmula 7, para exercer juízo de valor
sobre o quantum fixado a título de honorários advocatícios, com vistas a decidir se são
eles irrisórios ou exorbitantes. Para isso, indispensável, todavia, que tenham sido
delineadas concretamente, no acórdão recorrido, as circunstâncias a que se referem as
alíneas do § 3º do art. 20 do CPC/73. Com efeito, "o afastamento excepcional do óbice da
Súmula 7 do STJ para permitir a revisão dos honorários advocatícios em sede de recurso
especial quando o montante fixado se revelar irrisório ou excessivo somente pode ser feito
quando o Tribunal a quo expressamente indicar e valorar os critérios delineados nas
alíneas 'a', 'b' e 'c' do art. 20, § 3º, do CPC, conforme entendimento sufragado no
julgamento do AgRg no AREsp 532.550/RJ. Da análise do acórdão recorrido verifica-se
que houve apenas uma menção genérica aos critérios delineados nas alíneas 'a', 'b' e 'c' do
art. 20, § 3º, do CPC, não sendo possível extrair do julgado uma manifestação valorativa
expressa e específica, em relação ao caso concreto, dos referidos critérios para fins de
revisão, em sede de recurso especial, do valor fixado a título de honorários advocatícios.
(...) Dessa forma, seja porque o acórdão recorrido não se manifestou sobre o valor da
causa na hipótese, seja porque este, por si só, não é elemento hábil a propiciar a
qualificação do quantum como ínfimo ou abusivo, não há como adentrar ao mérito da
irresignação fazendária na hipótese, haja vista ser inafastável o óbice na Súmula 7 do STJ
diante da moldura fática apresentada nos autos" (STJ, AgRg no REsp 1.512.353/AL, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 17/09/2015).

V. Para as situações anteriores ao início de vigência do CPC/2015, a Segunda Turma do


STJ proclamou que "não há, à luz do art. 20, § 4º, do CPC e da legislação processual em
vigor, norma que: a) estabeleça piso para o arbitramento da verba honorária devida pela
Fazenda Pública, e b) autorize a exegese segundo a qual a estipulação abaixo de
determinado parâmetro (percentual ou expressão monetária fixa) automaticamente
qualifique os honorários advocatícios como irrisórios, em comparação exclusivamente
com o valor da causa" (STJ, Resp 1.417.906/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, Rel. P/ acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de
01/07/2015).

VI. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem não deixou delineadas, no acórdão
recorrido, especificamente em relação ao caso concreto, todas as circunstâncias previstas
nas alíneas a, b e c do §3º do art. 20 do CPC/73, ou seja, a) o grau de zelo do
profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o
trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. Entretanto,
apesar da oposição de Embargos de Declaração, perante o Tribunal de origem, para que
fosse provocado o pronunciamento daquele Tribunal acerca das circunstâncias fáticas,
previstas nas alíneas do § 3º do art. 20 do CPC/73, a parte agravante, ao interpor o
Recurso Especial, não aponta a existência de omissão no acórdão, no ponto, mediante
contrariedade ao art. 1.022, II, do CPC/2015.

VII. Agravo interno improvido.15

Referida situação claramente gerava insegurança jurídica no tocante ao tema dos


honorários advocatícios, mormente diante dos inúmeros casos não abrangidos pelo único critério
objetivo definido em lei – valor da condenação – o que gerou expressiva reação da advocacia, fator que
certamente influenciou na construção da norma trazida pelo art. 85, §2º, do CPC de 2015, com a
exposição de critérios objetivos a abrangerem as situações diversas da condenação, cerrando espaço a
eventuais subjetivismos do julgador na fixação dos honorários de sucumbência.

Com as alterações trazidas pelo CPC de 2015, tencionou o legislador formular enunciado
legal que pudesse abarcar a totalidade das situações possíveis no contexto do processo judicial, não mais
limitando sua previsão aos casos de condenação, como na legislação anterior. Assim, passou a norma
processual a dispor que os honorários sucumbenciais serão calculados sobre o “valor da condenação”, o
“proveito econômico obtido” ou, “não sendo possível mensurá-lo”, sobre o “valor atualizado da causa”.
Primeira questão que se assoma é a conceituação de cada um desses critérios, sendo induvidoso que
cada um se prestar a regular conjunto de situações específicas.

O valor da condenação se apresenta como critério de mais fácil compreensão, na medida


em que representa precisamente o montante que emerge das obrigações imputadas a uma das partes no
título judicial. Marca esse elemento a expressão pecuniária, coincidente com as obrigações de pagar,
característica que se faz ainda mais presente na correspondente versão celetista da norma (art. 791-A,
caput, da CLT), ao mencionar a base de cálculo como “o valor que resultar da liquidação da sentença”.

Por sua vez, a alusão legal a proveito econômico obtido busca claramente regular aquelas
situações na quais, embora não haja uma condenação em obrigação pecuniária propriamente dita, a
parte vencedora perceberá vantagem econômica, ainda que indireta, das prestações em seu favor
determinadas pelo título judicial. Aplica-se tal critério, por exemplo, aos casos em que uma parte tem
reconhecido em seu favor direito a obrigação de fazer e ainda naquelas de entregar ou restituir coisa,
ocasiões nas quais, se o provimento judicial não implica num incremento pecuniário direto em seu
patrimônio, inequivocamente lhe proporciona um proveito econômico equivalente à prestação a si
reconhecida. No âmbito laboral, ilustrativamente, pode-se imaginar a incidência do critério ora em
debate quando o empregador for condenado numa obrigação de fazer consistente na entrega da
documentação necessária à habilitação ao benefício do seguro-desemprego; embora não seja o
empregador condenado no pagamento da benesse estatal, é induvidoso que auferirá proveito econômico
indireto da prestação de fazer, consistente no valor de suas parcelas.

15

STJ. Resp. 1635514/RO. 2ª turma. Rel Min. Assusete Magalhães. Dje 23.04.2018.
Por fim, definem ambas as normas, CPC e CLT, que não sendo possível mensurar o valor
da condenação, ou mesmo o proveito econômico obtido pelo vencedor com a prestação deferida no
título judicial, os honorários serão calculados sobre o valor atualizado da causa. Esse critério incide
naquelas situações nas quais, pela própria natureza do provimento judicial, não se consegue vislumbrar
vantagem econômica direta ou indireta da parte vencedora. De plano, constata-se a aplicação prática
dessa base de cálculo nos casos de provimento meramente declaratório, especificamente nas situações
em que não se verificar sequer proveito econômico indireto que possa advir da declaração perseguida
em juízo. Com efeito, claramente a maior utilidade prática da regra está atrelada aos casos em que não
há condenação, seja em obrigação de fazer ou de restituir, e, com maior frequência, nos casos de
improcedência total da ação. Nessas ocasiões, ausente condenação ou improcedentes in totum os
pedidos trazidos pela petição inicial, saída outra não há senão tomar o valor da causa como base de
cálculo dos honorários de sucumbência, à míngua de expressão econômica atribuível à prestação
garantida no título judicial. Neste aspecto, a objetividade do regramento legal reside na
compatibilização do regime sucumbencial com as normas que definem o valor da causa (arts. 291 a 293
do CPC, aplicáveis à Justiça do Trabalho, por força do art. 769 da CLT), pressupondo-se ter havido o
necessário e prévio controle do valor inicialmente atribuído à demanda.

Delimitados os campos de aplicação de cada um dos critérios estabelecidos pelo legislador,


questão que se apresenta é perquirir acerca da cumulatividade desses num mesmo caso concreto. À luz
da evolução normativa do regime jurídico da sucumbência, acima exposta, vê-se que historicamente o
legislador definiu o valor da condenação como elemento primordial para definição da base de cálculo
dos honorários sucumbenciais; a alteração legislativa trazida pelo CPC, como visto, não buscou atingir
tal primazia da condenação, mas sim conferir regramento que possa abranger a totalidade das situações
possíveis no contexto da relação processual. Assim, chega-se à conclusão de que os parâmetros
dispostos em lei devem ser aplicados em ordem de sucessividade; primeiramente, perquirindo-se acerca
da existência ou não de condenação em pecúnia; num segundo momento, analisando eventual proveito
econômico obtido pelo vencedor; e, por fim, malogrados os dois primeiros raciocínios, adotando-se o
valor da causa como base de cálculo da verba honorária.

Referida conclusão, entretanto, não exclui a possibilidade da aplicação cumulativa dos


parâmetros em um mesmo caso concreto, notadamente nos casos de cumulação objetiva (vários pedidos
numa mesma demanda), fenômeno bastante corriqueiro no âmbito da Justiça do Trabalho. Em situações
deste jaez, caso o provimento judicial aglutine condenações em obrigações pecuniárias e obrigações de
fazer, ou mesmo combine imposições obrigacionais com prestações meramente declaratórias, afigura-se
possível a aplicação combinada de dois ou mais dos critérios legais para definição da base de cálculo da
verba honorária.

V – SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA – REGIME JURÍDICO APLICÁVEL

Analisado o cerne dos parâmetros legais para definição da base de cálculo da verba
honorária, cabe trazer à baila questão sensível para a aplicação do instituto dos honorários de
sucumbência, qual seja, a forma de apuração da rubrica nos casos em que ambos os polos da ação são,
em parte, vencedores e vencidos, na chamada sucumbência recíproca. A importância do tema se realça
na Justiça do Trabalho, na qual é costumeira a cumulação objetiva nas petições iniciais, o que tem
inequívoca relação com a multiplicidade de rubricas atreladas ao contrato de trabalho, a par da imensa
gama de situações passíveis de ocorrência no curso da relação laboral, ausente uma consolidação
jurisprudencial em relação a muitas dessas, sendo amplamente majoritário o provimento apenas parcial
dos pleitos deduzidos pelo autor da ação.

Do Texto Consolidado, mesmo com as alterações produzidas pela Reforma Trabalhista, o


único dispositivo a tratar da temática é aquele que consta do art. 791-A, §3º, da CLT, que vaticina:
§ 3o Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência
recíproca, vedada a compensação entre os honorários.

A vedação à compensação seguiu a linha exposta no CPC de 2015, que em seu art. 85, §14º
definiu expressamente que seria impossível a compensação de honorários advocatícios nos casos de
sucumbência recíproca. No mais, o dispositivo se limita a expor que “o juízo arbitrará honorários de
sucumbência recíproca” nestes casos, sem trazer qualquer parâmetro a tratar da hipótese, o que conduz,
inexoravelmente ao regime jurídico do instituto da sucumbência recíproca no âmbito do processo civil,
a teor do art. 769 da CLT.

Assim, cabe trazer à baila o regramento da sucumbência recíproca no âmbito do processo


comum, como inserto no art. 86 do CPC, in verbis:

Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente
distribuídas entre eles as despesas.

Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro


responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.

Tal dispositivo, por sua vez, representa reprodução perfeita do que já dispunha o art. 21 do
CPC de 1973:

Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e
proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas.

Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá,


por inteiro, pelas despesas e honorários.

Importante notar que a omissão do código de 2015, ao não fazer constar do caput do art. 86
a palavra honorários, outra coisa não revela senão mera impropriedade redacional. Com efeito, é de
clareza solar que o dispositivo como um todo (art. 86 do CPC) trata do gênero despesas processuais,
figura jurídica que engloba custas processuais e honorários advocatícios, tanto assim que seu próprio
parágrafo único, cuja melhor técnica legislativa ensina cuidar sempre de tema conexo ou complementar
àquele versado pelo caput, faz expressa alusão a “despesas e honorários”. Em verdade, seja no caput ou
em seu parágrafo único, bastava ao legislador aludir a despesas processuais, figura gênero, para
transmitir a ideia de que tratava das custas processuais e honorários advocatícios. Ademais, entender
diversamente implicaria na conclusão de que o legislador teria deixado de regular, a partir do Código de
2015, a situação da sucumbência recíproca, circunstância já devidamente regrada pela ordem jurídica
processual anterior. Neste sentido, colhe-se a doutrina de ______: (COLACIONAR DOUTRINA
ACERCA DO CONCEITO DE DESPESAS PROCESSUAIS – MENCIONAR QUE CABERIA AO
MENOS APLICAÇÃO ANALOGICA DO DISPOSITIVO, NO PROCESSO CIVIL E NO PROCESSO
DO TRABALHO)

Tomada a ideia trazida pelo art. 86 do CPC (já consagrada no art. 21 do CPC de 1973),
tem-se que, nos casos de sucumbência recíproca, deve haver uma distribuição proporcional entre as
partes quanto ao pagamento da verba honorária. Portanto, cabe ao magistrado sentenciante estabelecer
uma proporção de responsabilidade pelos honorários sucumbenciais entre o polo ativo e o polo passivo,
observado o percentual de êxito de cada um na respectiva demanda. Estabelecida tal proporção, a verba
sucumbencial, arbitrada segundo a base de cálculo definida nos moldes do tópico anterior, terá sua
responsabilidade distribuída entre os contendores.

Imperioso notar que a possibilidade de utilização de mais de uma das bases de cálculo
descritas por lei num mesmo caso concreto (valor da condenação/liquidação, proveito econômico obtido
e valor da causa), como explicitado no tópico anterior, não se confunde com a tomada de bases de
cálculo diversas na fixação do ônus de cada uma das partes, o que configuraria claro e direto ferimento à
distribuição proporcional exigida pelo art. 86 do CPC na divisão de responsabilidade dos sucumbentes
recíprocos. Impõe-se, portanto, a utilização de critério(s) comum(ns) na definição da base de cálculo
definidora. Neste sentido tem se manifestado o Colendo Superior Tribunal de Justiça, quando instado a
se pronunciar sobre o tema, como se vê dos arestos abaixo, in litteris:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MAGISTÉRIO


SUPERIOR. RESÍDUO DE 3,17%. VERBA HONORÁRIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA
RECONHECIDA NA ORIGEM. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO. SÚMULA
306/STF. PROPORÇÃO A CARGO DO JUÍZO DE LIQUIDAÇÃO. 1. O recurso especial
da associação agravante foi parcialmente provido para reconhecer que a Lei 10.405/2002
não serve de limite à percepção dos 3,17%, ficando a cargo do juízo de liquidação
pronunciamento acerca da data da reestruturação ou reorganização da carreira dos
docentes, para fins de limitação do pagamento do referido reajuste.

2. Mantida a limitação temporal e afastada a pretensão recursal de afastamento de


qualquer limitação do reajuste em voga, deve ser mantida a sucumbência recíproca
reconhecida na origem.

3. Esta Corte, uma vez reconhecida a sucumbência recíproca, tem deixado ao juiz da
execução, em liquidação de sentença, mensurar a proporção de êxito de cada uma das
partes litigantes. Esse juízo de proporcionalidade somente será possível se a fixação da
base de cálculo dos honorários observar um mesmo critério para autor e réu, o que ficou
claro na hipótese dos autos.

Agravo regimental improvido.16

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PRECLUSÃO.


VALOR FIXO. REAJUSTE. Tão-somente a parte exeqüente interpôs agravo de
instrumento, propugnando pela elevação da verba para 10% sobre o montante da
execução. A ausência de recurso da decisão de fixação dos honorários implica a preclusão
da matéria.

Nos termos do entendimento já prestigiado por esta Corte, tratando-se de demanda na


qual houve condenação, os honorários deverão ser arbitrados em percentual (art. 20, §§
3º e 4º) sobre o valor daquela.

Recurso desprovido.17

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO EM BASES DISTINTAS PARA AUTOR E
RÉU. ART. 21 DO CPC.

1. Não houve debate na origem sobre a possibilidade de, em havendo sucumbência


recíproca, a fixação da verba honorária ser em bases distintas (valor da causa para o réu

16

STJ. AgRg no RESP nº 1.569.265 - PE (2015/0299770-0). 2ª turma. Rel. Min. Humberto Martins. DJ
02.03.2016.
17

STJ. Resp 577.167/RS. 5ª turma. Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ. 21.02.2005.
e condenação para o autor), o que afasta o conhecimento da matéria por falta de
prequestionamento.

2. "A fixação da base de cálculo dos honorários em critérios distintos para autor e réu,
quando há sucumbência recíproca, efetivamente provoca uma indesejável fratura no
compartilhamento sucumbencial, o que deve ser evitado a todo custo para prevenir
possíveis incidentes de execução” (EREsp 666.835/RJ, Rel. Min. Castro Meira, DJU de
05.09.05)

3. Tendo a Corte de origem já aferido que houve sucumbência recíproca equivalente, não
há como se rever essa premissa ante a necessidade de revolver os elementos fático-
probatórios dos autos.

4. Agravo regimental não provido.18

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO URBANA. AÇÃO REVISIONAL DE


ALUGUEL PROPOSTA PELOS LOCADORES. BENFEITORIAS E ACESSÕES. NOVO
ALUGUEL. RETROATIVIDADE À CITAÇÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. BASE DE CÁLCULO. PROVIMENTO PARCIAL.

1. A ação revisional não se confunde com a renovatória de locação. Na revisional, as


benfeitorias e as acessões realizadas pelo locatário, em regra, não devem ser
consideradas no cálculo do novo valor do aluguel, para um mesmo contrato. Tais
melhoramentos e edificações, no entanto, poderão ser levadas em conta na fixação do
aluguel por ocasião da renovatória, no novo contrato. Precedente da QUARTA TURMA.

2. Nos termos do art. 69, caput, da Lei n. 8.245/1991, a condenação da ré nos valores
retroativos à data da citação deve observar, em seu cálculo, a diferença entre "os
alugueres provisórios satisfeitos" e o arbitrado judicialmente.

3. Sucumbência recíproca caracterizada, tendo em vista que o aluguel foi arbitrado


judicialmente em valor equidistante do aluguel em vigor quando iniciada a demanda e da
importância desejada pelos autores, cabendo destacar que a ré postulava a improcedência
da ação.

4. A sentença que julga procedente, ainda que somente em parte, a ação revisional de
aluguel proposta pelo locador tem natureza constitutiva condenatória, incidindo a norma
do § 3º do art. 20 do CPC/1973 para efeito de arbitramento dos honorários advocatícios.

5. Considerando que a ação revisional se destina igualmente, quando for o caso, a reduzir
o valor do aluguel ao preço de mercado (cf. arts. 19 e 68, II, "b", da Lei n. 8.245/1991),
também o locatário poderá manejá-la a cada três anos (36 meses).

6. Em tal contexto, aplicados o § 3º do art. 20 e o caput do art. 21 do CPC/1973, defere-


se aos patronos dos recorrentes, a título de honorários advocatícios, o equivalente a 5%
(cinco por cento) sobre a diferença entre o valor do aluguel na data da citação e o valor
do novo aluguel fixado na sentença, multiplicando-se tal importância pelo período de 36
(trinta e seis) meses.

7. Recurso especial parcialmente provido.19


18

AgRg nos Edcl no AI n.º 1.116.565/SC. 2ª turma. Rel. Min. Castro Meira. DJ 21.10.2010.
19
Especialmente no que atine ao último aresto colacionado, cumpre trazer à baila parcela da
fundamentação do voto do Relator, porquanto sobremaneira elucidativa, quando trata acerca da
apuração da proporcionalidade descrita no art. 21 do CPC/73 (antecedente imediato do art. 86 do
CPC/2015):

No caso concreto, portanto, arbitro a verba honorária, então, em 10% (dez por cento)
sobre a diferença entre o valor do aluguel na data da citação (R$ 10.865,70) e o valor do
novo aluguel, fixado em primeiro grau e mantido pelo TJRS (R$ 23.270,00) – R$
12.404,30 –, multiplicada por 36 (trinta e seis) meses. Considerando a sucumbência
recíproca, os patronos dos recorrentes, autores, terão direito de receber metade do valor
dos honorários advocatícios obtido.

Em tais condições, a ré deverá recolher em benefício dos advogados dos autores o


equivalente a 5% (cinco por cento) sobre a diferença entre o valor do aluguel vigente na
data da citação e a nova importância fixada judicialmente, multiplicado tal resultado por
36 (trinta e seis).

No caso concreto, a decisão colegiada adotou fielmente o rito legal defendido neste artigo
para fixação dos honorários advocatícios em sede de sucumbência recíproca. Inicialmente, arbitrou a
verba de sucumbência no percentual de 10% (dez por cento), considerados os parâmetros legais para
tanto definidos (art. 85, §2º, do CPC – art. 791-A, §2º, da CLT), utilizando como base de cálculo o
montante do proveito econômico obtido pelo autor, dada a decisão constitutiva do novo valor dos
aluguéis mensais, bem como o período de 36 (trinta e seis) meses. Ato contínuo, fez incidir o
regramento do art. 21 do CPC/73 (correspondente do art. 86 do CPC/2015) para distribuir a
responsabilidade pelo pagamento de tal verba entre as partes, observada a proporção de êxito e derrota
de cada uma na contenda. Haja vista a conclusão pela equidistância entre relação de êxito de autor e réu
(50% de vitória/derrota para cada um), estipulou-se o valor de 5% (cinco por cento) dos honorários para
cada parte.

Revela-se de extrema importância a percepção de que, mesmo nos casos de sucumbência


recíproca, não há duas condenações autônomas no pagamento de honorários advocatícios. A inequívoca
opção do legislador, consoante art. 21 do CPC/73, a qual foi reprisada no art. 86 do CPC/2015, foi no
sentido de haver uma única verba honorária arbitrada pelo magistrado sentenciante, à luz dos
parâmetros legais, rubrica essa cuja responsabilidade será distribuída proporcionalmente entre os
contendores, observados os percentuais de vitória de cada um no caso. Tal inteligência ilumina
claramente a jurisprudência consolidada do Col. STJ, que realça a necessidade de preservação da
proporcionalidade inscrita em lei (art. 21 do CPC/73 ou art. 86 do CPC/2015), vedando a utilização de
bases de cálculo diversas entre os litigantes na fixação dos honorários sucumbenciais.

Cumpre ainda afastar qualquer alegação de incompatibilidade de tal sistemática de fixação


dos honorários advocatícios com a utilização dos parâmetros trazidos pelo art. 791-A, §2º, da CLT, o
qual repete literalmente o que já dispunha o art. 85, §2º, do CPC:

§ 2o Ao fixar os honorários, o juízo observará:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

STJ. Resp n.º 1.193.926/RS (2010/0085704-7). 4ª turma. Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira. DJ
11.05.2016.
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

De se notar que tais critérios possuem caráter nitidamente subjetivo, de aferição do órgão
julgador, e buscam dar prestígio a aspectos qualitativos e quantitativos ligados ao trabalho dos
advogados vencedores, o que guarda franca coerência com o caráter remuneratório dos honorários
advocatícios, como reconhecido por lei desde o CPC/2015 (art. 85, §14). No contexto de sucumbência
total por uma das partes, não se apresentam maiores problemas, visto que basta ao julgador observar tais
variáveis em relação ao causídico vencedor, único beneficiário da verba honorária. Em caso de
sucumbência recíproca, porém, a questão apresenta particularidade relevante, na medida em que, nestas
hipóteses, a verba honorária haverá de ser distribuída proporcionalmente entre os vencedores, na forma
do art. 86 do CPC, como já exposto sobremaneira neste texto. Não se defenda, contudo, que tal
característica tornaria inviável a aplicação conjunta dos dispositivos legais aludidos.

Inicialmente, merece relevo a essência dos critérios quantitativos e qualitativos atinentes ao


trabalho do causídico, como inscrito em ambos os diplomas legais. Seja no processo comum ou na
norma trabalhista, verifica-se que a metade dos elementos arrolados pelas normas são invariavelmente
comuns entre as partes, quais sejam, o lugar da prestação do serviço e a natureza e a importância da
causa, dado dizerem respeito a aspectos do próprio processo, donde emerge clara a intenção do
legislador de que tais variáveis sejam analisadas de maneira global, ou seja, tomando em consideração
as particularidades de atuação do(s) vencedor(es) no caso concreto. Referida interpretação vai
igualmente ao encontro da opção do legislador, cristalizada no art. 86 do CPC (e seu correspondente art.
21 do CPC/73), no sentido da existência de apenas uma verba honorária, arbitrada pelo julgador, a qual
será distribuída proporcionalmente entre os vencedores, em caso de sucumbência recíproca, como
defendido linhas acima.

Tal conclusão, por óbvio, não impede o julgador de, verificada uma relevante assimetria na
apreciação da atuação dos advogados (realce-se, ambos vencedores), e por decisão fundamentada, com a
exposição dos elementos que conduziram a tal discrepância avaliativa, fazer incidir as variáveis legais,
especificamente aquelas que podem dizer respeito à atuação pessoal do causídico, após a definição da
proporcionalidade do êxito de cada uma das partes na causa, e modular a distribuição da verba honorária
entre os vencedores, incrementando a cota de uma dos vencedores, em detrimento do outro, haja vista a
incidência dos critérios subjetivos adicionais inscritos em lei. Cuide-se que tal situação não se restringe
aos casos de sucumbência recíproca, podendo igualmente ocorrer nas situações de litisconsórcio,
quando todos os integrantes do polo ativo ou passivo forem considerados vencedores da demanda e
estiverem representados por patronos diferentes naquele específico feito. Também nesta situação caberá
ao magistrado apreciar globalmente as variáveis legais, em relação aos vencedores, sem prejuízo da
existência de ponderosas circunstâncias que os diferenciem, à luz dos critérios legais, o que merecerá
uma modulação na distribuição dos honorários sucumbenciais, em decisão devidamente fundamentada.

Ainda no campo da fixação dos honorários de sucumbência recíproca, há que se tratar da


forma de apuração da proporção de êxito de cada parte na demanda. Ou seja, em se tratando de processo
no qual haja cumulação objetiva, como sói ocorrer no âmbito da Justiça do Trabalho, como será apurada
a proporção exigida pelo art. 86 do CPC para distribuição da verba honorária entre os vencedores
recíprocos? Considera-se a soma dos valores dos pedidos, frente ao total da condenação, ou a
proporcionalidade deve ser determinada a partir da quantidade de pedidos em que foi vencedora cada
parte?

A resposta a tais perguntas é de indiscutível valor para a aplicação dos honorários de


sucumbência no âmbito da Justiça do Trabalho. Dado ser corriqueira a cumulação objetiva no âmbito
forense laboral, bem como diante da grande diversidade nas expressões pecuniárias dos pedidos em uma
mesma reclamação trabalhista, desde o valor de um salário para o aviso prévio até milhares de reais no
caso da pretensão de reparação por danos morais, a escolha de um ou outro caminho, dentre os expostos
no parágrafo anterior, pode gerar uma expressiva diferença na distribuição da verba honorária. A
ausência de um posicionamento consolidado certamente implicará em insegurança jurídica para aqueles
que militam nesta Especializada.

Mais uma vez, a resposta deve passar por uma revisitação da essência do instituto dos
honorários sucumbenciais. Se é certo que a verba honorária tem como base de cálculo caracteres ligados
a aspectos quantitativos da demanda, seja o valor da condenação, o proveito econômico obtido ou
mesmo o valor da causa, não se pode olvidar que tal se dá por uma escolha expressa do legislador,
diante da necessidade da eleição de um critério para apuração da verba, que não poderia deixar de passar
pelos aspectos financeiros da causa. No entanto, não há dissociar o cerne da figura dos honorários
sucumbenciais da ideia de vitória ou derrota de cada parte no(s) confronto(s) de teses que existe(m) no
objeto de uma mesma relação processual. Daí sua característica primária, vinculada à ideia de
sucumbência.

Nesta linha, por mais que seja tentador atrelar a apuração da proporcionalidade de êxito de
cada parte ao montante dos pedidos “vencidos” por cada parte, por invariavelmente se apresentar como
solução mais fácil, é inquestionável que a utilização de tal critério desrespeita a essência do instituto dos
honorários sucumbenciais, porquanto não observa o(s) confronto(s) de teses contidos na demanda,
sendo perfeitamente possível que uma parte, ainda que tenha se saído vencedora na quase totalidade das
disputas ocorridas na lide cumulativa, acabe sendo considerada, proporcionalmente, em desvantagem
em relação à ex adversa, unicamente em razão do montante expressivo do único pedido na qual essa
última se sagrou vencedora. Em respeito à natureza própria dos honorários de sucumbência, portanto, o
Col. STJ tem se posicionado no sentido da utilização do número de pedidos em que se saiu vencedora
cada parte, a fim de se auferir a proporcionalidade exigida pelo art. 86 do CPC (art. 21 do CPC/1973),
como se vê dos julgados que ora se colacionam, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PROPORCIONALIDADE.


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. PARÂMETRO. NÚMERO DE PEDIDOS DEFERIDOS.

1. Nos termos do art. 21 do CPC, a aferição da proporcionalidade da sucumbência em


demanda visando à correção monetária de contas do FGTS deve levar em consideração
o número de pedidos formulados na inicial deferidos. Precedentes.

2. Recurso especial a que dá provimento.20

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. FGTS. CORREÇÃO MONETÁRIA.


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. ART. 21 DO CPC. DISTRIBUIÇÃO DE HONORÁRIOS
SEGUNDO A QUANTIDADE DE ÍNDICES DEFERIDOS. SOMATÓRIO DOS ÍNDICES.
IMPOSSIBILIDADE.

1. A jurisprudência do STJ é firme no entendimento de que a fixação das verbas de


sucumbência, nas ações em que se objetiva a correção dos saldos das contas do FGTS,
se dá com base no quantitativo de índices pleiteados - isoladamente considerados - e
deferidos, não importando o valor correspondente a cada um deles.

2. Precedentes: REsp 844.170/DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 06/02/2007;


AgRg no REsp n. 844.922/DF, de minha relatoria, DJ de 16/10/2006; REsp n. 725.497/SC,
Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 06/06/2005; AgRg no REsp n. 363.349/MG, Rel. Min.
Franciulli Netto, DJ de 09/06/2003.

3. Agravo regimental não-provido.21


20

REsp 1.073.780/DF, 1a Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 13.10.2008.
21
FGTS. CONTAS VINCULADAS. CORREÇÃO MONETÁRIA. PERDA DE PARTE MÍNIMA
DO PEDIDO INICIAL. NÃO-CONFIGURAÇÃO. INCIDÊNCIA DO ART. 21, CAPUT, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DESPESAS
PROCESSUAIS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.

1. Nas ações em que se pleiteia a correção monetária dos saldos da conta vinculada ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), restando caracterizada a sucumbência
recíproca, impõe-se, nos termos do art. 21, caput, do Código de Processo Civil, a
compensação proporcional das despesas e dos honorários advocatícios entre os litigantes.

2. A sucumbência é fixada com base na quantidade de índices pedidos e deferidos, e não


no valor correspondente a cada um deles.

3. Recurso especial improvido.22

PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PROPORCIONALIDADE.


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. PARÂMETRO. NÚMERO DE PEDIDOS
DEFERIDOS. MATÉRIA DECIDIDA PELA 1a SEÇÃO, NO RESP 1.112.747/DF, DJE
de 03/08/2009, JULGADO SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC. ESPECIAL
EFICÁCIA VINCULATIVA DESSE PRECEDENTE (CPC, ART. 543-C, § 7o), QUE
IMPÕE SUA ADOÇÃO EM CASOS ANÁLOGOS.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO.23

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À SISTEMÁTICA PREVISTA


NO ART. 543-C DO CPC. FGTS. CORREÇÃO MONETÁRIA. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. CRITÉRIO DE APURAÇÃO.

1. A orientação das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte firmou-se no
sentido de que, para efeito de apuração de sucumbência, em demanda que tem por
objeto a atualização monetária de valores depositados em contas vinculadas do FGTS,
"deve-se levar em conta o quantitativo de pedidos (isoladamente considerados) que
foram deferidos em contraposição aos indeferidos, sendo irrelevante o somatório dos
índices" (Resp 725.497/SC, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 6.6.2005).

No mesmo sentido:REsp 1.073.780/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Dje de
13.10.2008; AgRg no Resp 1.035.240/MG, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, Dje de
5.6.2008; Resp 844.170/DF, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 6.2.2007.

2. Recurso especial provido. Acórdão sujeito à sistemática prevista no art. 543-C do CPC,
c/c a Resolução 8/2008 – Presidência/STJ.24

Portanto, haja vista a natureza dos honorários advocatícios, enquanto remuneração devida
ao patrono vencedor no(s) confronto(s) de teses representado(s) numa dada relação jurídica processual,
conclui-se que, num quadro de cumulação objetiva e sucumbência recíproca, a proporcionalidade de
êxito de cada litigante, exigida pelo art. 86 do CPC, deve ser aferida segundo observando-se o número
AgRg no REsp 1.035.240/MG, 1a Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 5.6.2008.
22

REsp 844.170/DF, 2a Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 6.2.2007.


23

Resp 1.003.283/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki. Decisão monocrática. DJ em 29.11.2011.
24

Resp 1.112.747/DF. 1ª Seção Cível, Rel. Minª Denise Arruda. DJ 03.08.2009.


de vitórias de cada litigante nas teses compreendidas no objeto da demanda. Pelo que se depreende do
extenso rol de julgados do Col. STJ, nota-se que a Corte adotou o número de pedidos procedentes como
equivalente de número de vitórias no confronto de teses havidas no feito. Talvez tal critério traga
segurança no âmbito do processo civil, no qual a cumulação objetiva é exceção e, mesmo quando
ocorre, não se dá na intensidade e complexidade com as quais se apresenta na seara processual
trabalhista.

Indaga-se, portanto: o mesmo raciocínio conferiria estabilidade jurídica no Processo do


Trabalho?

Seguramente, não.

Partindo-se da premissa do número de vitórias em confrontos de teses no curso do


processo, não há como deixar de perceber as particularidades inerentes ao Direito material e processual
do Trabalho. Diversamente do que ocorre no processo comum, é corriqueira no processo laboral a
cumulação objetiva, sendo certo que um conjunto de vários pedidos pode estar contido num mesmo
debate jurídico havido na demanda. Exemplo mais corriqueiro deste fenômeno é a discussão sobre a
modalidade de terminação contratual, de longe a questão mais presente na Justiça do Trabalho: caso o
trabalhador tenha êxito na caracterização da despedida imotivada pela empresa, verá deferidas em seu
favor todas as verbas rescisórias referentes a tal modalidade de dispensa; de seu lado, se o empregador
for vitorioso neste debate, caracterizando-se, por exemplo, a justa causa obreira, sem que seja a nada
condenado, caso já tenha efetuado o pagamento das rubricas rescisórias incontroversas relativas a tal
quebra contratual culposa. Note-se que no exemplo mencionado, cada uma das parcelas rescisórias
requeridas pelo autor diz respeito, processualmente, a um pedido; entretanto, claramente todas se
encontram inseridas num capítulo específico da decisão de mérito, voltado à resolução da disputa
jurídica atinente à modalidade de terminação contratual ocorrida. O vencedor de tal contenda, por vezes
apenas uma das muitas contidas no objeto da demanda, será vitorioso em relação a todos os pedidos.
Referido exemplo, absolutamente ordinário no cotidiano forense trabalhista, ilustra o quanto a utilização
pura e simples da quantidade de pedidos, sem observar a relação de dependência desses a uma mesma
questão a ser decidida no processo, ainda deixa a desejar no que diz respeito à necessidade de ser
verificar a proporcionalidade de vitória de cada parte nos confrontos de teses contidos no mesmo
processo.

Arcabouço teórico a resolver o problema advém da chamada teoria dos capítulos da


sentença. Oriunda do direito italiano, consiste na percepção de que embora se constitua numa unidade
formal, a decisão judicial é passível de abrigar vários fragmentos decisórios, quando vista sob o prisma
de seu conteúdo material. Aludida doutrina, já há tempos defendida por vários processualistas de escol
na academia pátria, notadamente na resolução de questões de devolutividade recursal e exequibilidade
parcial das decisões, restou consagrada pelo CPC de 2015, ao estipular a decisão parcial de mérito como
passível de qualificação pela coisa julgada, em seu art. 503:

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites
da questão principal expressamente decidida.

Vista a teoria dos capítulos da sentença como doutrina de estruturação lógica da decisão
judicial, tem-se que essa é composta de vários capítulos, ou seja, pronunciamentos judiciais acerca das
questões jurídicas integrantes do objeto da demanda. Malgrado exista cizânia doutrinária, entende-se
majoritariamente que as questões preliminares, são igualmente hábeis a gerar capítulos da sentença,
ainda que se lhes atribua a alcunha de capítulos puramente processuais, porquanto se pronunciam tão
somente sobre a possibilidade de examinar o mérito. Em contrapartida, as questões atinentes à solução
do objeto da demanda são qualificados como capítulos de mérito.
Cândido Rangel Dinamarco25, dos mais prestigiados processualistas brasileiros, defende ser
requisito inescapável à caracterização de um capítulo de decisão a sua autonomia. Neste sentido,
cumpre verificar a presença concomitante de dois elementos essenciais: a possibilidade de a fração
decisória ser objeto de um processo apartado e a resolução por pressupostos próprios, diversos daqueles
que regem outras parcelas da decisão. Portanto, os capítulos de índole meramente processual, assim
como aqueles de natureza prejudicial de mérito, não poderiam ser considerados capítulos autônomos da
sentença, embora tenham sua solução fundada em pressupostos próprios, na medida em que são
impassíveis de gerar demandas autônomas per se; não se cogita, com feito, de ação cujo único objeto
seja a análise de interesse processual ou prescrição, ambos institutos ligados a uma pretensão principal,
componente do objeto da demanda.

Ainda pelas lições de Dinamarco, não se pode confundir a autonomia do capítulo com a sua
independência. Revela-se perfeitamente possível que determinado capítulo seja autônomo, à luz dos
elementos essenciais propostos pelo ilustre doutrinador, mas seja dependente de outro capítulo, o que se
apresenta, por exemplo, no caso de pedidos sucessivos. O pedido sucessivo somente será apreciado caso
rejeitada pretensão primária, donde emerge a relação de dependência daquele em relação a esse;
entretanto, o capítulo dependente poderia ser pleiteado em ação própria, bem como tem sua análise
composta de pressupostos próprios, pelo que se conclui pela sua autonomia enquanto capítulo da
decisão.

Portanto, tomando-se por base teórica a doutrina dos capítulos da sentença, considera-se
que a proporcionalidade do êxito das partes, no contexto de cumulação objetiva, dar-se-á através da
constatação de em quantos capítulos autônomos da sentença foram vencedores cada parte. Tal critério se
mostra claramente mais alinhado à natureza dos honorários advocatícios, enquanto remuneração ao
patrono exitoso no(s) confronto(s) de tese(s) contidos no objeto da demanda.

Não se perca de vista, contudo, na apreciação do vencedor em cada um dos capítulos


autônomos da decisão, o que dispõe o parágrafo único do art. 86 do CPC, in verbis:

Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro


responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.

Por tal comando normativo, tem-se que a sucumbência em parte ínfima do pedido (aqui
compreendido como capítulo autônomo da decisão) não retira da parte a condição de vencedor naquele
dado confronto de tese, especificamente no que diz respeito à apuração da responsabilidade pelas
despesas processuais. À título de exemplo, num capítulo autônomo de horas extras, caso o reclamante
ganhe apenas pequena parte de sua pretensão inicial, poderá o julgador considerar que a sucumbência da
empresa se deu em parte mínima do capítulo, considerando a empresa vencedora do referido confronto
de tese, para fins de apuração da verba honorária, com amparo no art. 86, §único, do CPC.

Merece reflexão, igualmente, seguindo-se a linha até então percorrida, a situação na qual a
sucumbência recíproca se dá num contexto de um capítulo único, seja em caso de cumulação objetiva
em capítulo único, havendo uma única questão a ser decidida, a qual estão atrelados vários pedidos
(v.g., modalidade de terminação contratual e verbas rescisórias correspondentes), seja no caso em que
fora formulado apenas um pedido, com procedência apenas parcial desse em favor da parte autora.

Em ambas as situações, por mais que se revele útil a teoria dos capítulos da decisão na
estruturação lógica da peça decisória, não se revela viável a utilização do critério de capítulos
autônomos, nos moldes acima expostos, pela lógica razão de que há apenas um capítulo no julgado.
Nestas situações, dada a necessidade de observância da proporcionalidade de êxito de cada uma das

25

DINAMARCO. Cândido Rangel. Capítulos da sentença. São Paulo. Malheiros. 2002.


partes na demanda, a teor do art. 86 do CPC, tal medida haverá que ser encontrada diante do conteúdo
interno do capítulo único que compõe o julgado.

Nesta linha, havendo mais de um pedido atrelado a um mesmo capítulo, a proporção será
apurada tomando-se a quantidade de pedidos vencidos por cada parte, usando-se a razão de vitória de
cada parte dentro do capítulo único que compõe a decisão; caso a demanda se constitua de apenas um
pedido, a medida de vitória de cada litigante será encontrada tomando-se por base o valor do pedido,
frente ao que foi conquistado pela parte requerente, o que será considerado como sua proporção de
vitória na causa.

Assim, numa hipotética demanda que verse apenas sobre verbas rescisórias, sendo o
confronto de tese único da causa a modalidade de terminação contratual, a circunstância de haver
apenas um capítulo autônomo na decisão (verbas rescisórias) impõe que apuração da proporção de êxito
de cada parte se dê à luz da quantidade de pedidos vencidos por cada parte dentro do mesmo capítulo.
Desse modo, o julgador verificará quantas rubricas rescisórias pleiteadas (cada qual percebida como um
pedido autônomo) foram conquistadas pela parte autora, a fim de saber a medida de seu êxito na
demanda, eis que composta por capítulo autônomo único. Já num caso em que a demanda se constituir
unicamente de um pedido, como horas extras ou reparação de dano material, por exemplo, a apuração
da proporcionalidade deverá se dar tendo em conta o montante conquistado pela parte autora, frente ao
inicialmente perseguido, haja vista que, nestas situações, o pedido único se confunde com o próprio
capítulo autônomo, representando, em última análise, o confronto de teses existente naquela demanda.

Crucial notar que a utilização de tais critérios possui clara natureza subsidiária, adstrita aos
casos nos quais a decisão prolatada ostentar apenas um capítulo autônomo em seu corpo; portanto,
apenas na ausência de uma pluralidade de capítulos autônomos é que o julgador deverá observar o
conteúdo interno do capítulo, seja o número de pedidos vencidos, seja o montante do pedido
conquistado, na aferição da proporcionalidade de êxito da cada parte.

Por fim, mas não menos importante, vale ressaltar a particularidade no que se refere ao
pleito de indenização por danos morais. Como ressai de sua natureza, tal pretensão apresenta índole em
grande medida subjetiva, característica que remanesce no momento da decisão. Por mais que a doutrina
e a jurisprudência tenham construído critérios para a fixação do montante indenizatório, a condenação
sempre se dará por meio de arbitramento judicial. Se é certo que a reparação por dano extrapatrimonial
tem por fundamento a reposição do patrimônio imaterial lesado pelo agente causador, em busca do
retorno ao status quo ante, não menos correta é percepção de que a natureza do bem ofendido no mais
das vezes não se amolda a um parâmetro financeiro de aferição. Assim, o julgador, em decisão
fundamentada, e à luz de critérios doutrinários e jurisprudenciais e das circunstâncias do caso concreto,
arbitrará valor reparatório que entende adequado à situação posta. O raciocínio resiste mesmo diante das
inovações trazidas pela Lei 13.467/2017, que estabeleceu patamares de indenização por dano
extrapatrimonial, na medida em que o próprio enquadramento da ofensa em um dos níveis descritos pela
lei (ofensa de natureza leve, média, grave ou gravíssima) implica inequivocamente numa apreciação
subjetiva do magistrado, não sendo ocioso lembrar que caberá igualmente ao julgador arbitrar o valor da
indenização, desde que obedecidos os limites aplicáveis a cada patamar descrito por lei.

Diante das particularidades inerentes à indenização por danos morais, o Col. STJ
consolidou entendimento de que a procedência do pleito de indenização por dano extrapatrimonial em
montante inferior ao pretendido na petição inicial não implica em sucumbência recíproca, dado que o
quantum indenizatório, nesta hipótese, é obtido por meio de arbitramento judicial, em apuração de
acentuado cunho subjetivo do julgador. Neste sentido é o teor da Súmula 326 do Col. STJ, in verbis:

Súmula 326 - Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior
ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
Com efeito, o posicionamento cristalizado pela Colenda Corte Especial se afigura
absolutamente compatível com a natureza do pleito de indenização por danos morais, sendo
perfeitamente aplicável ao Processo Laboral. Observadas as circunstâncias que cercam a fixação do
montante indenizatório, fruto de arbitramento judicial com fortes contornos subjetivos do julgador, não
se poderia entender ter havido sucumbência do autor pela estipulação de valor inferior ao pretendido.
Na espécie, claramente o confronto de teses jurídicas diz respeito à presença ou não dos elementos
ensejadores da responsabilidade civil, nem mesmo se podendo qualificar o montante da indenização
como questão jurídica acessória ao capítulo, muito embora tal seja efetivamente fruto de discussão
judicial, haja vista o caráter excessivamente subjetivo de sua decisão. Não se cuida, portanto, de
sucumbência da parte autora, mas tão somente de arbitramento judicial inferior ao pretendido.

VI – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS E A RESPONSABILIDADE DERIVADA

Situação que merece abordagem detida no tocante aos honorários advocatícios, mormente
diante de sua expressiva presença nos processos em trâmite na Justiça do Trabalho é aquela que diz
respeito à responsabilidade derivada. Diz-se responsabilidade derivada aquela na qual um terceiro pode
ser chamado a responder por uma obrigação de outrem, seja por lei, seja por estipulação contratual. Tal
responsabilidade poder ser de índole solidária, quando o devedor derivado puder ser chamado a arcar
com a obrigação por inteiro desde logo, sem benefício de ordem (art. 275 do CC), ou de índole
subsidiária, quando o cumprimento da obrigação somente puder ser exigido do devedor derivado em
caso de inadimplemento ou insolvência do devedor original, caracterizando-se benefício de ordem em
favor do devedor derivado, como ocorre no caso da responsabilidade dos sócios pelas dívidas da
sociedade (art. 1.023 do CC; art. 795, §§1º e 2º, do CPC), nas relações de subempreitada (art. 455 da
CLT) ou mesmos nas terceirizações (art. 5º-A, §5º, da Lei 6.019/74; Súmula 331 do Col. TST).

Haja vista a ampla difusão da terceirização de serviços no Brasil, seja no setor público, seja
no setor privado, tornou-se absolutamente corriqueira no âmbito da Justiça do Trabalho a indicação de
litisconsórcio passivo nas petições iniciais, nos quais invariavelmente o 2º demandado arrolado é o
tomador dos serviços do contrato de terceirização, acionado como autêntico garantidor do pagamento
dos direitos trabalhistas do obreiro terceirizado, historicamente com lastro na Súmula 331 do Col. TST,
e mais atualmente com fulcro no disposto no art. 5º-A, §5º, da Lei 6.019/74. Malgrado não integre o
objeto do presente estudo, é forçoso dizer que diante das “idiossincrasias” pátrias na utilização da figura
da descentralização produtiva, muitas vezes realizada por meio de empresas de prestação de serviços
desprovidas de lastro financeiro para a realização de seu objeto social, sem uma devida fiscalização dos
tomadores, tanto no momento da escolha da contratada como durante a execução dos serviços, ou
mesmo pelos problemas próprios da Administração Pública em nosso país, como atrasos no pagamento
dos contratos ou abruptas rupturas contratuais por mudança do titular do cargo político, o quadro que se
apresenta hodiernamente é de uma patente explosão no número de processos trabalhistas relacionados
com a dinâmica da terceirização, na quase totalidade dos quais se persegue o reconhecimento da
responsabilidade subsidiária, ou mesmo solidária, dos tomadores dos serviços. Desse quadro emerge a
absoluta importância da análise do tema dos honorários advocatícios à luz das pretensões de
responsabilidade derivada.

Nas demandas em que se discute a responsabilidade derivada, indubitavelmente existe um


pleito específico e autônomo em relação ao indicado como devedor derivado, qual seja, o
reconhecimento de sua responsabilidade subsidiária ou solidária pelo adimplemento dos demais pleitos
deduzidos na demanda, primariamente dirigidos ao devedor principal, posição invariavelmente ocupada
pelo empregador formal. Trata-se inequivocamente de confronto de tese específico contido na demanda,
apreciado segundo pressupostos e elementos próprios e passível, salvo melhor juízo, de postulação em
demanda específica, que se cingiria à discussão sobre a responsabilidade ou não do indicado como
devedor derivado em relação a determinada obrigação, já devidamente reconhecida 26. Portanto, à luz dos
26
Reconheça-se, por lealdade, que tal possibilidade é bastante controvertida no seio da doutrina e da
critérios acima descritos, lastreados na boa doutrina processual, consubstancia capítulo autônomo do
provimento sentencial, devendo ser considerado para fins de apuração da proporção de êxito das partes
na demanda.

Esmiuçado o cerne da pretensão de reconhecimento de responsabilidade derivada,


notadamente à luz do que geralmente ocorre no âmbito da Justiça do Trabalho, e ausente dispositivo no
corpo da CLT a tratar da matéria, cabe trazer à baila o conteúdo do art. 87 do CPC, que expressa:

Art. 87. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem


proporcionalmente pelas despesas e pelos honorários.

§ 1o A sentença deverá distribuir entre os litisconsortes, de forma expressa, a


responsabilidade proporcional pelo pagamento das verbas previstas no caput.

§ 2o Se a distribuição de que trata o § 1o não for feita, os vencidos responderão


solidariamente pelas despesas e pelos honorários.

Referida norma reprisa a ideia que trazia o art. 23 do CPC de 1973, que dispunha:

Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas
despesas e honorários em proporção.

Ambos textos legais consagram o princípio da proporcionalidade na distribuição da


responsabilidade pelo pagamento das despesas processuais lato sensu, seguindo a mesma linha adotada
no regramento da sucumbência recíproca, como visto linhas acima. As alterações trazidas pelo CPC de
2015 visaram tão somente a incorporar ao texto legal o posicionamento já consagrado pelo Col. STJ
quanto à distribuição do ônus pelas despesas processuais, especialmente quanto aos honorários
advocatícios, registrando o dever de distribuição proporcional expressa pela sentença quanto às despesas
processuais (§1º), presumindo-se a solidariedade em caso de silêncio do julgado (§2º). Na vigência da
Lei Adjetiva anterior, a Corte Especial deixava assentada a consagração legal princípio da
proporcionalidade na distribuição pelo ônus das despesas processuais, registrando a impossibilidade de
condenação solidária dos vencidos pelos honorários sucumbenciais, salvo previsão expressa neste
sentido no título judicial, porquanto a solidariedade somente poderia advir do texto legal ou da previsão
entre as partes. Tal dinâmica jurisprudencial pode ser extraída dos arestos a seguir colacionados, in
litteris:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


AUSÊNCIA DE AFRONTA AO ART. 535 DO CPC. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA.
SINISTRO. REAVALIAÇÃO DO CONTRATO E DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO
DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. IRB. DENUNCIAÇÃO DA
LIDE. SÚMULA N. 283/STF. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. VERBAS
SUCUMBENCIAIS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. CRITÉRIO DA
PROPORCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Inexiste afronta ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido examina todas as
questões pertinentes para a solução da lide, pronunciando-se, de forma clara e suficiente,
sobre a controvérsia estabelecida nos autos.

2. A análise da insurgência relacionada à caracterização do sinistro que obriga a


seguradora ré a indenizar o beneficiário da apólice demandaria o reexame do conjunto
fático-probatório dos autos, notadamente do contrato celebrado entre as partes,

jurisprudência, cizânia em grande medida atrelada ao costume judiciário, na postulação imediata em face
dos dois devedores, inexistindo previsão legal a barrar a possibilidade de realização de tal pleito.
procedimento vedado a esta Corte em recurso especial, consoante advertem as Súmulas n.
5 e 7 do STJ.

3. A solidariedade passiva do ressegurador (IRB) foi reconhecida pela Corte de origem


como decorrência processual de sua participação como litisconsorte passiva na ação,
fundamento não atacado nas razões do especial, de modo que a insurgência encontra
óbice na Súmula n. 283/STF.

4. Consoante a jurisprudência desta Corte, na interpretação do art. 23 do CPC, não


existe solidariedade na condenação ao pagamento das custas e honorários advocatícios,
que deverão ser distribuído entre os vencidos consoante o princípio da
proporcionalidade.

5. Agravo regimental a que se dá parcial provimento, apenas para declarar a inexistência


de responsabilidade solidária nos ônus da sucumbência.27

PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSÓRCIO ATIVO. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.


ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. SOLIDARIEDADE DETERMINADA PELA SENTENÇA, NO
PROCESSO DE CONHECIMENTO. TRÂNSITO EM JULGADO. REDISCUSSÃO DA
QUESTÃO. PRECLUSÃO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 275 DO CÓDIGO CIVIL.
APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

I. O art. 23 do Código de Processo Civil estabelece que, "concorrendo diversos autores


ou diversos réus, os vencidos respondem pelas despesas e honorários em proporção".

II. Conforme a jurisprudência, em regra inexiste responsabilidade solidária entre os


litisconsortes vencidos, condenados ao pagamento das custas e honorários advocatícios.
Vige a regra do art. 23 do CPC, que impõe o princípio da proporcionalidade e a
presunção legal da não solidariedade (STJ, REsp 129.045/MG, Rel. Ministro SÁLVIO
DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, DJU de 06/04/1998).

III. No caso dos autos, porém, a sentença, transitada em julgado, proferida no processo de
conhecimento, estabeleceu a solidariedade dos litisconsortes ativos vencidos, em relação
aos honorários de advogado, o que transitou em julgado, de forma a acarretar a preclusão
da matéria, em consonância com o disposto no art. 473 do CPC.

IV. Nesse contexto, estabelecida a solidariedade dos autores vencidos, quanto aos ônus
sucumbenciais, pela sentença proferida no processo de conhecimento, com trânsito em
julgado, descabe rediscutir a matéria, por força da preclusão, podendo o credor utilizar-se
da faculdade que lhe é outorgada pelo art. 275 do Código Civil, escolhendo contra quem
executará referidos honorários de advogado.

V. Na forma do jurisprudência, "expressamente imposta na sentença, com trânsito em


julgado, a solidariedade na condenação da verba honorária sucumbencial, aplica-se a
norma do art. 275 do Código Civil, permitindo-se ao vencedor da demanda escolher
contra quem executará referidos honorários, em valor total ou parcial" (STJ, Resp
1.343.143/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJe de 06/12/2012).

VI. Recurso Especial improvido.28

27
STJ. AgRg no Resp n. 1.360.750/SP. 4ª turma. Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira. Dj 04.08.2014.
28
STJ. Resp n. 1.426.868/RS. 2ª turma. Rel. Minª Assusete Magalhães. DJ. 02.05.2014.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUSTAS E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. ARTIGOS 896 DO CC/1916 E 23 DO CPC.

I - O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o artigo 23 do Código de Processo Civil,


vem entendendo ser inaplicável, em honorários advocatícios, o princípio da solidariedade,
salvo se expressamente consignado na sentença exeqüenda, que restou irrecorrida.

II - Caso não haja menção expressa no título executivo quanto à solidariedade das partes
que sucumbiram no mesmo pólo da demanda, vige o princípio da proporcionalidade, nos
termos do artigo 896 do Código Civil/1916 (atual artigo 265 do Código Civil atual).

III - Assim, inaplicável o princípio da solidariedade na condenação em custas e


honorários advocatícios, pois o artigo 23 do Código de Processo Civil é taxativo:
"Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos respondem pelas despesas e
honorários em proporção ."

Recurso especial parcialmente provido.29

Segundo o Col. STJ, como se pode notar pelas decisões colacionadas, a responsabilidade
solidária reconhecida quanto ao pagamento das parcelas principais não se comunica com os honorários,
que possuem regramento próprio, atrelado à proporcionalidade de êxito de cada parte na demanda. Com
o código de 2015, a única inovação foi a previsão expressa pelo legislador pela solidariedade dos
vencidos pelo pagamento das despesas processuais, em caso de silêncio do título judicial neste tocante.
Portanto, pela legislação processual vigente e à luz da jurisprudência consolidada pelo Col. STJ, tem-se
que, vencidos os litisconsortes, esses responderão pelos honorários advocatícios, observada a proporção
de sua derrota perante o vencedor. A nova redação estipula autêntico dever do julgador no momento da
prolação da decisão, notadamente diante do teor do §1º do art. 87 do CPC, somente prevendo a
solidariedade para o caso de omissão no julgado, suprindo lacuna apontada anteriormente pela
jurisprudência.

Diante do exposto, emerge questão inescapável: como, então, será apurada a


proporcionalidade exigida pelo texto legal?

A solução do problema não pode deixar de guardar consonância com o defendido para o
regramento da sucumbência recíproca, igualmente marcada pelo princípio da proporcionalidade. Neste
sentido, incide na espécie a teoria dos capítulos da decisão, devendo ser observado o quantitativo de
capítulos autônomos nos quais foi sucumbente cada parte, considerado confronto de tese inerente a
responsabilidade derivada, subsidiária ou solidária, como um capítulo à parte dos demais.

Assim, numa ação trabalhista na qual o obreiro persiga de sua empregadora formal,
empresa prestadora de serviços, o pagamento de verbas rescisórias por dispensa injusta e de horas extras
prestadas, e da tomadora dos serviços o reconhecimento de sua responsabilidade subsidiária pelo
adimplemento das rubricas pleiteadas, constata-se a existência de três capítulos autônomos na decisão a
ser proferida: verbas rescisórias/modalidade de terminação contratual, horas extras e responsabilidade
subsidiária do tomador dos serviços. Se o reclamante, a título de exemplo, for vencedor no capítulo das
verbas rescisórias e sucumbente nos demais, fixando-se a condenação no valor de R$10.000,00 (dez mil
reais), ter-se-ia a seguinte situação:

a) haja vista a existência de condenação (valor que resultar da liquidação da sentença),


como critério primário, tal será utilizado como base de cálculo para a apuração da verba sucumbencial
(art. 791-A, caput, da CLT);

29
STJ. Resp n. 489.369/PR. 3ª turma. Rel. Min Castro Filho. DJ. 28.03.2005.
b) o julgador, servindo-se dos parâmetros constantes do art. 791-A, §2º, da CLT, avaliará
os aspectos quantitativos e qualitativos do trabalho dos vencedores e, caso não encontradas
discrepâncias relevantes na atuação desses, fará incidir percentual comum entre 5% e 15% sobre a base
de cálculo legal. No exemplo, entendeu-se pelo arbitramento de 15%;

c) seguidos os passos anteriores, logra-se apurar a verba honorária em R$1.500,00 (15%


do valor da condenação – R$10.000,00). Tal montante merecerá, doravante, uma distribuição
proporcional, seja diante da sucumbência recíproca dos polos ativos e passivo, seja diante da existência
de litisconsórcio passivo;

d) observada a existência de três capítulos autônomos na decisão judicial em tela, percebe-


se que o autor foi vencedor em um capítulo (verbas rescisórias – perante a empregadora formal), a
empregadora formal foi vencedora em um capítulo (horas extras – perante o reclamante) e a tomadora
foi vencedora em um dos capítulos (responsabilidade subsidiária – perante o reclamante). Assim, vê-se
que cada litigante foi vencedor de 1/3 da demanda, considerados os confrontos de teses principais
havidos, sendo certo que o autor pereceu em 2/3 dos capítulos, muito embora em face de partes
diversas;

e) portanto, obedecida a proporcionalidade determinada pelos artigos 86 e 87 do CPC, tem


que a verba sucumbencial de R$1.500,00, fixada com base nos critérios legais acima descritos, será
distribuída à razão de 1/3 em favor do patrono de cada litigante (R$500,00), devendo o autor pagar 1/3
em favor do advogado da empregadora formal e 1/3 em favor do causídico da tomadora dos serviços,
bem como o defensor do obreiro deverá receber 1/3 empregadora formal, vedada a compensação entre
as rubricas, visto se tratarem de remuneração dos profissionais jurídicos atuantes na causa (art. 791-A,
§3º, da CLT; art. 85, §14, do CPC).

Especificamente no que tange à responsabilidade derivada de índole solidária, nada impede


que o magistrado, malgrado estipula a fração proporcional de responsabilidade de cada litisconsorte pela
sucumbência, observado o percentual de derrota de cada parte, determine a responsabilidade solidária
pelo adimplemento da verba honorária, o que não somente seguirá o mesmo destino dos demais itens da
condenação, sendo certo que em grande medida a responsabilidade solidária na Justiça do Trabalho
possui fundamento na caracterização de grupo econômico, o que por si só pressupõe um
compartilhamento de direitos e obrigações entre seus componentes, mas também consubstancia
possibilidade prevista no art. 87, §2º, do CPC.

Com efeito, a compartimentação do julgado em capítulos autônomos indubitavelmente


permite uma melhor distribuição proporcional dos honorários sucumbenciais, em ordem a observar o
disposto na legislação processual, seja no caso da sucumbência recíproca, seja nas situações de
litisconsórcio, ou mesmo quando ambos os institutos coincidem em um mesmo feito. Como visto, o
princípio da proporcionalidade marca forte presença no regramento dos honorários advocatícios, o que
somente vem a realçar a correção e a importância do entendimento consagrado pela jurisprudência do
Col. STJ, no sentido da vedação à utilização de bases de cálculo diversas para cada litigante no cômputo
das respectivas cotas de responsabilidade pelo pagamento da verba honorária. O respeito a tal ideia
configura verdadeiro pilar a sustentar a aplicação de todo o conjunto de regras atinentes à fixação e
distribuição dos honorários sucumbenciais na legislação processual brasileira.

VII – HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA E O JUS POSTULANDI

Quando da análise da evolução histórica do instituto dos honorários advocatícios no âmbito


da Justiça do Trabalho, verificou-se que um dos principais fundamentos para o entendimento restritivo
dado à figura nesta Especializada residia no instituto do jus postulandi. Em aparente confusão
conceitual entre as figuras da assistência judiciária e da gratuidade judiciária, como demonstrado
linhas acima, historicamente a jurisprudência laboral cristalizou a percepção de que somente através da
primeira, exercida nesta Justiça por meio das entidades sindicais, caberia a condenação no pagamento
de honorários de sucumbência. Paralelamente a tal ideia, restava consagrado que diante da existência do
jus postulandi, podendo o trabalhador acessar diretamente o Judiciário independentemente da
representação por advogado, haveria incompatibilidade com o regime de sucumbência.

Ainda que se discorde de tal ideário, atualmente ultrapassado pelas alterações da reforma
trabalhista, não se pode negar que o acesso direto do trabalhador à Justiça, por meio do jus postulandi,
constitui um dos traços característicos da Justiça do Trabalho; não exclusivo, reconheça-se, dado haver
outros ramos do Judiciário nos quais a parte igualmente possui tal prerrogativa (v.g. os Juizados
Especiais), mas seguramente aquele no qual tal possibilidade se dá de maneira mais ampla,
independentemente do porte da causa, somente sendo vedado nas instâncias e ações especiais, na forma
da Súmula 425 do TST, in verbis:

SUM-425 JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE – Res. 165/2010,


DEJT divulgado em 30.04.2010 e 03 e 04.05.2010 O jus postulandi das partes,
estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais
do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança
e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.

Neste contexto, diante da abrangência da possibilidade do acesso ao judiciário sem o


patrocínio de advogado no âmbito da Justiça do Trabalho, revela-se essencial a análise das alterações
trazidas pela Lei 13.467/2017, notadamente quanto à generalização do regime de sucumbência, à luz do
instituto do jus postulandi, o qual remanesce vivo na legislação processual trabalhista.

Em ordem a cumprir tal mister, não é ocioso trazer novamente à tona o teor do art. 791-A
da CLT, que trata dos honorários sucumbenciais no rito juslaboral, in verbis:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de
sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze
por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

Como se vê, a norma dispõe expressamente que o destinatário da rubrica é o advogado e


não a parte, o que apresenta clara consonância com a natureza dos honorários sucumbenciais, de
remuneração do advogado vencedor da demanda, na forma cristalizada pelo art. 85, §14, do CPC. O
texto consolidado reproduz idêntica ideia trazida pelo CPC, que dispõe serem os honorários devidos “ao
advogado do vencedor” (art. 85, caput, do CPC). Daí se conclui, a priori, que a representação por
advogado representa condição para a condenação em honorários advocatícios em favor do vencedor.

Neste passo, indaga-se: como compatibilizar tal condição com o regime do jus postulandi
no âmbito da Justiça do Trabalho?

A resposta que subitamente vem à mente reside na conclusão de que a parte que se servir
do jus postulandi, ainda que vencedora, não teria arbitrados honorários advocatícios em seu favor, dado
que a verba se destina ao advogado. Tal raciocínio, muito embora encontre repouso numa aplicação
literal da lei e numa lógica cartesiana derivada da essência remuneratória do instituto, não é infenso a
críticas, sobretudo diante dos efeitos que pode causar na aplicação prática. Não é despiciendo lembrar
que a preocupação com o jus postulandi não reflete qualquer posição ideológica em defesa do polo
obreiro; em verdade, a expressiva parcela dos beneficiários do jus postulandi são precisamente os
pequenos empresários, cujo reduzido poder econômico reduzido impede de contratar profissional da
advocacia para o representar em juízo, no mais das vezes comparecendo pessoal e individualmente em
audiência, apresentando argumentação e documentos perante o juiz, algumas vezes até comprovando a
improcedência das pretensões do autor. Tal qual o obreiro nesta condição, finda por ser “advogado de si
mesmo”.

A título de exemplo, pode-se imaginar o caso em que o reclamante persegue verbas


rescisórias e horas extras, devidamente representado por advogado, em face de pequena empresa. Ante
as dificuldades financeiras que atravessa, o empresário comparece em audiência sem advogado, mas
apresenta suas razões de defesa, acompanhadas de documentos referentes ao contrato do autor, tais
como recibos e controles de jornada, decidindo o juízo pela procedência apenas parcial dos pedidos
deduzidos, julgando improcedente a pretensão de condenação em horas extras. Utilizando-se o
pensamento acima descrito, o pequeno empresário seria condenado ao pagamento de honorários
sucumbenciais de sucumbência recíproca, devido à derrota no capítulo das verbas rescisórias, ao passo
que o trabalhador não pagaria qualquer valor ao seu antigo patrão a tal título, apesar de sua
sucumbência no capítulo das horas extras.

Não se pode deixar de perceber, no caso, uma clara quebra de simetria entre as partes no
processo. O equívoco da conclusão trazida pela aplicação literal do art. 791-A da CLT, data maxima
venia, reside no enfoque dado apenas quanto ao credor da verba honorária. Claramente, o raciocínio
tem seu eixo apenas na presença ou não do advogado em cada polo da demanda, enquanto beneficiário
da rubrica, olvidando-se da repercussão da condenação dos honorários advocatícios em relação ao
devedor da rubrica, que é precisamente a parte vencida na demanda judicial, ou mesmo ambas as
partes, num quadro de sucumbência recíproca, como no exemplo acima exposto. Vista a questão à luz
da posição das partes, enquanto potenciais devedores da verba, não há como deixar de perceber uma
absoluta assimetria no regime jurídico processual incidente sobre os litigantes, o que afronta
inequivocamente o princípio fundamental da isonomia (art. 5º, caput, do CF).

Como mencionado alhures, a figura do jus postulandi não é exclusiva da Justiça do


Trabalho, marcando presença igualmente em outros ramos do Judiciário, muito embora sem a mesma
abrangência. Na Lei 9.099/95, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, há previsão do
acesso à justiça independente do patrocínio por advogado, como inscrito no art. 9º do referido diploma
legal, que dispõe:

Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão
pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é
obrigatória.

Tal qual na Justiça Laboral, o rito nos juizados especiais é marcado pelo princípio da
simplicidade, eis que voltado à resolução das causas de menos complexidade. Esse viés, inspirador da
instituição do jus postulandi naquele ramo do Judiciário, permeia o regime jurídico da sucumbência
estabelecido para o rito processual, somente havendo condenação em caso de condenação em segundo
grau, como exposto no art. 55 da norma de regência:

Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas e honorários de
advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente,
vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento
e vinte por cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido
da causa.

Percebe-se claramente a preocupação do legislador em mitigar a possibilidade de


condenação em honorários advocatícios, mormente diante da simplicidade das causas abrangidas pela
competência dos Juizados Especiais, somente havendo condenação em honorários quando da
interposição de recurso pela parte, o que indicaria a necessidade de uma segunda apreciação
jurisdicional do tema, o que pela mens legis da norma afastaria a característica de singeleza da causa, a
repelir a condenação na verba honorária.
No entanto, por mais que se reconheça o princípio da simplicidade como substrato de tal
regra, não se pode deixar de perceber uma preocupação com a minoração dos efeitos da sucumbência no
âmbito dos juizados especiais, notadamente diante da possibilidade do jus postulandi. Assim, é dado aos
aos beneficiários do instituto, caso perecedores da primeira instância, e diante da simplicidade da causa,
deixarem de recorrer e se contentarem com o pronunciamento judicial de primeira instância, em ordem
a evitar a condenação no pagamento de honorários sucumbenciais à outra parte, caso essa conte com o
patrocínio de advogado. Neste contexto, reduzem-se consideravelmente as possibilidades dos efeitos da
assimetria verificada no exemplo trabalhista acima descrito, embora se reconheça a persistência dos
problemas quanto à necessária igualdade no regime jurídico-processual aplicado às partes. Ilustrativo,
porém, da preocupação da norma com a par conditio aos litigantes, mormente quanto à defesa técnica, o
disposto no art. 9º, §2º, da Lei 9.099/95, cujo caput permite o ajuizamento da demanda sem advogado:

§ 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa


o recomendar.

No entanto, apesar de ser válida a lembrança do rito processual dos juizados especiais, não
se apresenta viável trazer tal regime jurídico para o âmbito da Justiça do Trabalho. Com efeito, a regra
do art. 55 da Lei 9.099/95 possui abrangência geral, atrelada ao princípio da simplicidade, incidente em
todos os casos em curso naquele ramo judiciário, não tendo por objeto a regulação da situação
específica do jus postulandi. Não se pode perder vista que, diversamente do que ocorre nos juizados
especiais, não há limitação quanto ao porte da causa para acesso ao Judiciário Trabalhista sem
advogado, o que se choca frontalmente com a singeleza alvo da norma especial. A par disso, não se
pode deixar de reconhecer que a aplicação de tal regramento não elimina a discrepância no tratamento
dado aos litigantes, notadamente quanto ao custo do processo, não sendo satisfatória a solução de limitar
o regime sucumbencial à fase recursal, o que, na prática, poderia cercear o duplo grau de jurisdição
àqueles beneficiários do jus postulandi.

Questão similar àquela debatida neste tópico é enfrentada pela Justiça Comum no
julgamento das ações civis públicas. Como é cediço, tem-se que tal medida processual não comporta o
pagamento de honorários advocatícios ou outras despesas, na forma do art. 18 da Lei 7.347/85:

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.

Uma leitura açodada do dispositivo legal, poderia levar à conclusão de que a restrição da
condenação em honorários sucumbenciais seria restrita ao autor legitimado da ação, podendo haver a
condenação da parte reclamada no pagamento da rubrica. Tal orientação, inclusive, chegou a surgir em
alguns julgados na Justiça Comum, como se pode verificar do acórdão a seguir, oriundo do Tribunal de
Justiça do Paraná, in litteris:

CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL CIVIL – ADMINISTRATIVO – APELAÇÃO CÍVEL –


AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – AGRAVO
RETIDO E PRELIMINARES NÃO CONHECIDOS – UTILIZAÇÃO DE MATERIAL
PUBLICITÁRIO INSTITUCIONAL PARA PROMOÇÃO DE FEITOS PESSOAIS –
DESRESPEITO AO ARTIGO 37, §1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL –
ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS – DOLO PRESENTE –
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – PROVA ROBUSTA –
DANO AO ERÁRIO – CONDENAÇÃO À RESTITUIÇÃO DE VALOR EQUIVALENTE –
MULTA CIVIL REDUZIDA PARA DUAS VEZES O VALOR DOS RENDIMENTOS
AUFERIDOS ENQUANTO PREFEITO – MANUTENÇÃO DAS DEMAIS SANÇÕES
APLICADAS (SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS POR TRÊS ANOS E
PROIBIÇÃO DE CONTRATAÇÃO COM O PODER PÚBLICO POR IGUAL PRAZO) –
HONORÁRIOS DEVIDOS AO FUNDO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E LEI ESPECÍFICA – PRECEDENTE DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA – REDUÇÃO, NO ENTANTO, DO QUANTUM FIXADOS –
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. As preliminares argüidas não hão de ser conhecidas diante da preclusão temporal


verificada, já que fundamentadamente afastadas por ocasião da decisão saneadora de fls.
1143/1164, devidamente publicada em 7 de dezembro de 2007 (certidão de fl. 1146, verso)
e irrecorrida.

2. Não há como falar em ausência de tipicidade de conduta, porquanto a autopromoção


do prefeito constante do material publicitário veiculado na cidade de Londrina durante
sua gestão (2001-2004) é evidente.

3. O dolo e o dano ao erário restam evidentes diante da prova contida nos autos.

4. A aplicação das sanções da lei n. 8.429/92 deve ocorrer à luz do princípio da


proporcionalidade, de modo a evitar sanções desarrazoadas em relação ao ato ilícito
praticado, sem, contudo, privilegiar a impunidade.

5. Assim, a condenação ao ressarcimento integral do dano deve ser mantida, bem como a
suspensão dos direitos políticos e a impossibilidade de contratação com o poder público,
devendo ser reduzida, porém, a multa civil.

6. 'PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERMO DE AJUSTAMENTO DE


CONDUTA. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. (…) 3. O ônus
da sucumbência na Ação Civil Pública subordina-se a um duplo regime a saber: (a)
vencida a parte autora, aplica-se a lex specialis (Lei 7.347/85), especificamente os arts.
17 e 18, cuja ratio essendi é evitar a inibição dos legitimados ativos na defesa dos
interesses transindividuais e (b) Vencida a parte ré, aplica-se in totum o art. 20 do CPC,
na medida em que, à míngua de regra especial, emprega-se a lex generalis, in casu, o
Código de Processo Civil. (...).' (STJ – Resp 896.679/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 01.04.2008. DJ 12.05.2008, p.1).

7. A verba decorrente da condenação do apelante ao pagamento de honorários não será


destinada ao Ministério Público como tal, mas ao Fundo Especial do Ministério Público,
com base no art. 3º, inciso XV, da Lei Estadual n. 12.241/98, e no artigo 118, inciso II,
alínea 'a', da Constituição Estadual.

8. Em relação ao quantum fixado, de 20% sobre o valor da causa, mostra-se excessivo o


montante, uma vez que houve o julgamento antecipado da lide. Assim, de acordo com o
art. 20, §3º, do Código de Processo Civil, fixam-se os honorários em 10% sobre o valor da
condenação.30

No entanto, tal não foi a inteligência que prevaleceu na jurisprudência do Col. STJ,
segundo a qual, para além da mera letra fria do dispositivo legal, merecia incidência o princípio da
simetria, não podendo as partes do processo estar sujeitas a regimes jurídicos diversos numa mesma
relação processual, sobretudo no que diz respeito às despesas processuais, o que poderia até mesmo
afetar a necessária paridade de armas no contexto de uma disputa judicial. Assim, posicionou-se o Corte
Especial no sentido da impossibilidade de condenação da parte vencida, em sede de ação civil pública,
em ordem a preservar a simetria entre as partes, dada a impossibilidade de condenação do autor na
rubrica. Nesta linha foi o que decidiu o STJ em reapreciação do caso decidido pelo TJPR, no aresto
acima colacionado, como se vê da ementa abaixo:

30
TJPR. Apelação Cível 523923-6. 4ª Câmara Cível. Rel. Des. Salvatore Antônio Astuti. DJ 16.11.2009.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROMOÇÃO PESSOAL. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA. ARTS. 10 E 11 DA LEI
8.429/1992. CONFIGURAÇÃO DE CULPA E DOLO GENÉRICO. ELEMENTO
SUBJETIVO. COMINAÇÃO DAS SANÇÕES. CUMULAÇÃO.
POSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. ART. 12 DA LIA. PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SÚMULA 7/STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
DESCABIMENTO.
1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide,
fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
2. O posicionamento firmado pela Primeira Seção é que se exige dolo, ainda que
genérico, nas imputações fundadas nos arts. 9º e 11 da Lei 8.429/1992
(enriquecimento ilícito e violação a princípio), e ao menos culpa, nas hipóteses do
art. 10 da mesma norma (lesão ao erário).
3. Cada inciso do art. 12 da Lei 8.429/1992 traz uma pluralidade de sanções, que
podem ser aplicadas cumulativamente ou não, ainda que o ato de improbidade tenha
sido praticado em concurso de agentes. Precedentes do STJ.
4. Modificar o quantitativo da sanção aplicada pela instância de origem, no caso
concreto, enseja reapreciação dos fatos e da prova, obstado nesta instância especial
(Súmula 7/STJ).
5. É firme a jurisprudência da Primeira Seção no sentido de que, por critério
de simetria, não cabe a condenação da parte vencida em ação civil pública ao
pagamento de honorários advocatícios.
6. Recurso especial parcialmente provido.31

Como realçado na decisão turmária, o posicionamento do Col. STJ fazendo incidir o


princípio da simetria na interpretação do disposto no art. 18 da Lei 7.347/85 é absolutamente uníssono,
donde emerge o valor dado por aquela Corte à necessidade de tratamento paritário das partes no curso
da relação processual. Referida uniformidade pode ser extraída dos julgados a seguir:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. MINISTÉRIO PÚBLICO AUTOR E VENCEDOR.

1. "Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação do


Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na
hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet. Dentro de absoluta simetria de
tratamento e à luz da interpretação sistemática do ordenamento, não pode o parquet
beneficiar-se de honorários, quando for vencedor na ação civil pública" (EREsp
895.530/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe 18.12.09).

2. Agravo regimental não provido.32

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.


RECURSO ESPECIAL. OFENSA AOS ARTS. 535, II, DO CPC/1973 C/C OS ARTS. 20 DA
LEI 8.429/1992 E 480 E 481 DO CPC/1973. PERDA DO OBJETO. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. POSSIBILIDADE. RECURSO QUE NÃO INFIRMA

31
STJ. Resp n. 1.346.571/PR. 2ª turma. Relª Min. Eliana Calmon. DJ 17.09.2013.
32
STJ. AgRg no REsp 1320333/RJ. 2ª turma. Rel. Ministro Castro Meira. DJ 04.02.2013
ESPECIFICAMENTE OS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. REEXAME
DE MATÉRIA FÁTICA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 283/STF E 7/STJ. MÉRITO. RÉUS
CONLUIADOS QUE PRATICARAM UMA SÉRIE DE CONDUTAS COM A FINALIDADE
E CONSCIÊNCIA DE PROMOVER O DESVIO DE DINHEIRO PÚBLICO EM FAVOR
PRÓPRIO E DE TERCEIROS. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS. PENA
FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. EXCESSO. INEXISTÊNCIA. DOSIMETRIA DAS
SANÇÕES. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ, NO CASO. PAGAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA E CUSTAS PROCESSUAIS.
IMPOSSIBILIDADE.

1. Recurso especial interposto por JOSÉ GERALDO RIVA, com fundamento no art. 105,
III, a e c, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de
Mato Grosso.

2. A tese de violação ao art. 535, II, do CPC/1973, assim como a questão de fundo a ela
atrelada – possibilidade ou não de afastamento do recorrente das funções que exercia na
Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, antes do trânsito em
julgado da sentença –, perdeu seu objeto, tendo em vista que atualmente o ora recorrente
não exerce mandato de Deputado Estadual pelo Mato Grosso.

(...)

9. Procede, contudo, o inconformismo do recorrente no que alude à condenação ao


pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, porquanto
incabível tal imposição à parte vencida em ação civil pública. Precedentes: REsp
1.346.571/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe 17/09/2013;
REsp 1.447.031/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe
02/02/2017.

10. Recurso especial parcialmente provido para afastar a condenação imposta ao


recorrente, exclusivamente no que respeita aos ônus da sucumbência. 33

No contexto do processo laboral, não há como deixar de reconhecer a força do princípio da


simetria para a resolução do problema. Tal qual se dá no rito processual da ação civil pública, apresenta-
se afrontoso à necessária paridade de armas entre as partes no curso da relação processual submeter
apenas uma delas ao regime sucumbencial, ainda que ambas sejam passíveis de vitória ou derrota na
relação processual. Ainda que a interpretação literal da norma processual conduza a idêntica conclusão,
essa merece ser repelida, a bem da conformação constitucional ao princípio da isonomia, igualmente
presente na relação processual.

Todavia, porquanto se trata da força normativa de um princípio, o resultado não se


apresenta na simples aplicação de um preceito ao caso, com idênticos resultados indefinidamente, mas
sim na adequação do conteúdo da norma principiológica à situação concreta. Se no caso das ações civis
públicas a incidência do princípio da simetria resulta na conclusão pela inexistência de um regime de
sucumbência para ambas as partes, encontrar-se-ia o mesmo resultado no âmbito do Processo do
Trabalho?

A resposta não pode deixar de ser negativa.

Com efeito, se é certo que a simetria isenta ambas as partes do regime sucumbencial nas
ações civis públicas, não se diga que tal se dê pela natureza mesma do princípio; antes disso, o resultado
se produz ante a circunstância de o autor da ação, seja o Parquet ou outro legitimado legal, ter sido

33
STJ. Resp nº. 1.724.421/MT. 1ª turma. Rel. Min. Sérgio Kukina. DJ. 25.05.2018.
isento do pagamento da verba sucumbencial, por força do artigo 18 da Lei 7.347/85. Assim, em ordem a
garantir a necessária paridade de armas entre as partes, coube ao princípio intervir na interpretação da
norma para estender o mesmo regime jurídico à contraparte. Entretanto, em se tratando do processo do
trabalho a incidência do princípio da simetria não poderia fazer chegar à mesma conclusão, haja vista
inexistir norma isentando qualquer das partes do pagamento da verba honorária; ao revés, o que vige
neste ramo processual, mormente após a Lei 13.467/2017, é o regime sucumbencial como regra geral,
até mesmo ante o prestígio ao caráter remuneratório dos honorários, enquanto retribuição do labor do
advogado atuante no feito (art. 85, §14, do CPC).

Neste sentido, caso uma das partes esteja representada por advogado, em ordem a garantir a
necessária simetria no regime jurídico-processual aplicável aos litigantes, deverá ser garantida a ambos
a incidência do regime de sucumbência, cabendo o pagamento dos honorários de sucumbência ao
vencedor, independentemente de estar ou não representado por advogado. Entendimento diametralmente
diverso, afastando ambas as partes da possibilidade de condenação na sucumbência, mesmo estando
uma delas patrocinada por advogado, a par de representar flagrante ao caráter remuneratório da verba,
destinada ao causídico atuante na causa, poderia estimular comportamento abusivo do jus postulandi,
ocultando-se a atuação do profissional da advocacia, como estratagema a afastar o risco da sucumbência
nas ações trabalhistas, podendo até mesmo incentivar demandas temerárias.

Por óbvio, caso ambas as partes se encontrem desassistidas por advogado, não se há falar
na condenação em verba sucumbencial, porquanto desde já garantida a paridade de armas pelas
circunstâncias próprias do caso.

VIII – HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA E A JUSTIÇA GRATUITA

Certamente, de todas as alterações trazidas pela chamada Reforma Trabalhista quanto aos
honorários advocatícios, aquela que suscitou a maior polêmica diz respeito aos efeitos da sucumbência
perante a parte beneficiária da Justiça Gratuita. A respeito, dispõe o recente art. 791-A, §4º, da CLT, in
litteris:

§ 4o Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo,
ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações
decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

Do que se depreende da interpretação gramatical do dispositivo, caso o beneficiário da


Justiça Gratuita seja vencido no processo, ainda que em sede de sucumbência recíproca, os honorários
advocatícios decorrentes de tal derrota poderão ser desde já quitados através dos créditos reconhecidos
em favor da parte beneficiária, mesmo que em outro processo judicial, independentemente de
ostentarem natureza alimentar. Somente na ausência de valores reconhecidos em favor do vencido é que
as obrigações decorrentes da sucumbência ficariam sob condição suspensiva, até que demonstrada a
alteração das condições que justificaram o deferimento da gratuidade.

Chama a atenção, desde logo, o aparente descaso da norma, em sua versão literal, para com
a natureza alimentar da quase totalidade dos créditos reconhecidos em favor dos beneficiários da justiça
gratuita no âmbito da Justiça do Trabalho, no mais das vezes, verbas rescisórias não adimplidas mesmo
após largo período da terminação contratual e em situação de desemprego do trabalhador. Revelam-se,
portanto, créditos alimentares em sua acepção mais urgente, qual seja, valores não pagos, decorrentes da
prestação laboral, enquanto meio de sustento, e na ausência de fonte diversa de manutenção das
necessidades básicas do trabalhador e de sua família.

Não é ocioso lembrar que a Constituição Federal garantiu a proteção do salário (art. 7º, X,
da CF), o que inspirou a impenhorabilidade do salário, como inscrito no art. 833, IV, do CPC:

Art. 833. São impenhoráveis:

(…)

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de


aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o §
2o;

Tendo em conta que a exceção inscrita no §2º da norma diz respeito à penhora para
pagamento de prestação de alimentos, referente ao Direito de Família, objeto absolutamente estranho à
discussão ora posta, cumpre lembrar que referido dispositivo serve como escudo frente à própria
execução do crédito trabalhista, não podendo o devedor, por vezes sócio ou ex-sócio da empresa
executada, ser atingido em seus valores de cunho salarial para o pagamento da execução.

Especificamente no que toca ao tema dos honorários de sucumbência, é imperioso lembrar


que a proteção ao caráter remuneratório da parcela conduziu à proibição da compensação dos
honorários devidos por cada parte em caso de sucumbência recíproca, como categoricamente
reconhecido pelo §14 do art. 85 do CPC/2015, o que veio a superar o entendimento até então
consolidado pela Súmula 306 do Col. STJ, sendo acompanhado, no particular, pelo art. 791-A, §3º, da
CLT, com redação trazida pela Lei 13.467/2017. Neste sentido, sendo os honorários advocatícios uma
verba remuneratória (e alimentar, portanto) devida aos advogados, e não às partes, não caberia
compensação recíproca entre os litigantes neste aspecto.

Ademais, não é ocioso ressaltar que a execução de dívida deve respeitar a Dignidade da
Pessoa Humana, tal como os direitos fundamentais cristalizados em nossa ordem constitucional, não
podendo atingir seu resultado a qualquer custo. Em coerência com tais valores, o Direito Processual
consagra o princípio da execução de modo menos gravoso ao devedor, à luz do que dispõe o art. 805 do
CPC, ou mesmo garante a proteção ao bem de família, em resguardo ao Direito Fundamental Social à
moradia (art. 6º, da CF) e em nome da proteção ao núcleo familiar (art. 226 da CF), nos termos da Lei
8.009/90.

Com efeito, pensando o ordenamento jurídico brasileiro como uma unidade coesa e
harmônica, e à luz de sua norma fundante, qual seja, a Constituição Federal, é patente o absoluto
descompasso da interpretação gramatical do art. 791-A, §4º, da CLT com o sistema de normas do qual
faz parte, dado que preconizaria um procedimento de cobrança de dívida que teria como primazia o
atingimento do crédito alimentar do trabalhador, olvidando-se por completo seu escopo de garantia do
sustento familiar, no mais das vezes em situação de desemprego, e, mais grave, precisamente daqueles
indivíduos cuja situação de fragilidade financeira é reconhecida pela própria lei, que por essa razão os
confere o benefício da gratuidade judiciária, clara expressão do direito fundamental do acesso à justiça
(art. 5º, XXXV, da CF).

As razões acima expostas já se mostram ponderosas o bastante a concluir pela necessidade


de uma releitura do texto do art. 791-A, §4º, da CLT, frente ao ordenamento jurídico brasileiro. No
entanto, o problema se acentua diante da constatação de que a norma consolidada reformada foi
inequivocamente inspirada no art. 98, §3º, do CPC/2015, que estatui o seguinte:
§ 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob
condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco)
anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor
demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a
concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do
beneficiário.

De plano, constata-se flagrante discrepância no regramento processual civil, frente à


literalidade da norma celetista: na lei adjetiva comum, as obrigações decorrentes da sucumbência do
beneficiário da justiça gratuita são colocadas desde logo em condição suspensiva, o que se revela em
compasso com sua condição de fragilidade econômica, até que tal circunstância não mais se verifique,
observado o limite temporal fixado em lei; por sua vez, na seara processual trabalhista, o texto literal da
norma determina que, antes de incidir a condição suspensiva sobre o débito sucumbencial do
beneficiário da justiça gratuita, poderá esse indivíduo se ver subtraído de seus créditos alimentares
reconhecidos em juízo, mesmo que em outro processo judicial, e ainda que em prejuízo de suas
necessidades mais comezinhas, para somente então caber a suspensão da execução.

Ante o quadro delineado no parágrafo anterior, não cabe conclusão diversa senão a de que
se intentou criar inequívoco regime de exceção mais gravoso no âmbito do processo do trabalho.

Todavia, tal pretensão não merece prosperar, sob pena de absoluta mácula aos valores
basilares de nossa ordem jurídica.

Com efeito, a inafastabilidade da jurisdição é um dos pilares sobre os quais se fundam


nossa ordem constitucional. Ela protege o indivíduo perante qualquer lesão ou ameaça de lesão a direito,
incumbindo o Poder Judiciário do dever de prestação do serviço público de dizer o direito (juris dictio),
atuando como árbitro na pacificação dos conflitos sociais. O direito fundamental ao acesso à justiça,
insculpido no art. 5º, XXXV, da CF, revela-se, portanto, uma garantia instrumental aos cidadãos de que
os direitos reconhecidos na Carta Constitucional não são uma promessa vazia do Estado, podendo ser
exigidos por meio do processo judicial.

Se é certo que a atividade jurisdicional, como qualquer outra, possui custos inerentes, não
menos correto é concluir que essa circunstância não permite inviabilizar ou dificultar o acesso à justiça
constitucionalmente garantido. Nesta linha, o legislador garantiu a assistência judiciária (na qual está
inserida a defesa técnica por defensores públicos ou pela entidade sindical) e a justiça gratuita, de modo
que aspectos econômicos não impeçam que aquele lesado em seu direito possa postular a devida
correção ou reparação perante o Poder Judiciário, bem como para que possa contender em paridade de
condições com a parte adversa. Dita preocupação, aliás, assume especial relevância no âmbito da Justiça
do Trabalho, cujos postulantes, no mais das vezes, encontram-se desprovidos de qualquer fonte de
renda, sendo certo que o acesso à Justiça pode representar a última saída frente à absoluta insubsistência
de sua família.

Assim, tratando-se de litigante albergado pela gratuidade judiciária, merece interpretação


conforme o disposto no art. 791-A, §4º, da CLT, para atribuir a tal dispositivo legal sistemática similar
trazida ao legislador no bojo do art. 98, §3º, do CPC, aplicável ao Processo Civil. Leitura diversa
conduziria a autêntico ferimento à Garantia de Acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da CF), atribuindo ônus
financeiro àqueles que o próprio Estado reconhece como incapaz de arcar com as despesas do processo,
a par de injustificável agravamento da posição jurídica do litigante perante a Justiça do Trabalho, em
relação àqueles que acionam a Justiça Comum, ambas integrantes do Sistema Judiciário Não Penal, sem
qualquer elemento sustentador de tal diferenciação, em franca mácula ao Princípio da Unidade do
Ordenamento Jurídico e aos Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade, que incidem na
interpretação sistêmica que se deve dar ao conjunto de normas em nosso país.
Nesta linha, afasta-se a possibilidade de utilização dos créditos alimentares reconhecidos
em favor da autora no processo em curso, ou em outro processo, para o pagamento dos honorários
sucumbenciais, cabendo ao credor dessa rubrica provar, “nos dois anos subsequentes ao trânsito em
julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo,
tais obrigações do beneficiário”.

A solução proposta, a par de conferir leitura sistêmica do dispositivo reformado, frente à


Constituição Federal e ao disposto no Processo Comum, afasta a existência de um autêntico “regime de
exceção” no âmbito do processo do trabalho, criado com o nítido intuito de obstaculizar o acesso à
justiça pelo trabalhador na busca por seus direitos.

IX – HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS PELO SINDICATO APÓS A REFORMA


TRABALHISTA

Após a institucionalização dos honorários sucumbenciais no âmbito do processo do


trabalho, de forma genérica, como dispõe o art. 791-A da CLT, emerge dúvida acerca do regime
sucumbencial nos processos nos quais houver a atuação do sindicato, seja como assistente, seja como
substituto processual. Como visto linhas acima, até as alterações produzidas pela Lei 13.467/2017, a
condenação em honorários advocatícios era sempre revertida ao sindicato da categoria profissional, nos
termos do art. 16 da Lei 5.584/70, que assim dispõe:

Art 16. Os honorários do advogado pagos pelo vencido reverterão em favor do Sindicato
assistente.

Neste quadro, há quem advogue a tese de que, após a reforma trabalhista, os honorários
sucumbenciais, devidos ao advogado da parte vencedora, seriam acumuláveis com os “honorários
assistenciais”, devidos à entidade sindical, com fulcro no art. 16 da Lei 5.584/70, acima colacionado.

Entretanto, não há como prosperar semelhante linha de pensamento. Senão, vejamos.

Como já sobejamente exposto neste artigo, o sistema de normas que regulamentava os


honorários advocatícios antes da reforma trabalhista era composto pelos artigos 14 e 16 da Lei 5.584/70
e pelo art. 11 da Lei 1.060/50, que tratavam da assistência judiciária. Os honorários eram revertidos em
favor do sindicato, nos moldes do art. 16 da Lei 5.584/70, porque esse fazia as vezes de “defensoria” do
trabalhador, colhendo para si os frutos da sucumbência na assistência judiciária, até como forma de
financiamento da estrutura sindical, que reverteria em proveito a toda a categoria.

Entretanto, como igualmente já ressaltado linhas acima, o art. 11 da Lei 1.060/50 foi
expressamente revogado pelo Código de Processo Civil de 2015 (art. 1.072), como dito acima, sendo a
matéria dos honorários advocatícios inteiramente regulada pelas alterações da Reforma Trabalhista,
inclusive estatuindo que esses serão devidos também “nas ações em que a parte estiver assistida ou
substituída pelo sindicado de sua categoria” (art. 791-A, §1º, da CLT), havendo revogação tácita da
norma do art. 16 da Lei 5.584/70.

Doravante, os honorários advocatícios são devidos de forma genérica por todos aqueles que
sucumbam no âmbito da Justiça do Trabalho, não mais estando limitados aos casos nos quais o
trabalhador for assistido juridicamente pelo sindicato da categoria profissional. Por mais que fosse
corriqueiro alcunhar de “honorários assistenciais” a verba devida ao sindicato pela sucumbência no
processo do trabalho, tal parcela se confundia claramente com os honorários advocatícios, apenas
chamados de “assistenciais” devido à sua ligação, no mais das vezes, com a assistência jurídica prestada
ao trabalhador no caso concreto, não ostentando base jurídica diversa dos honorários sucumbenciais. Na
realidade, as alterações trazidas pela Lei 13.467/2017 não criaram figura jurídica diversa, mas tão
somente tornaram genérica a obrigação do pagamento dos honorários advocatícios. Eventual cumulação
desses com os honorários advocatícios regulamentados pelo art. 791-A da CLT, ambos originários da
sucumbência processual, seja em caso de assistência ou de substituição processual pelo ente sindical,
geraria inequívoco enriquecimento sem causa por parte do assistente jurídico do autor, no caso o
sindicato da categoria.

Por fim, diga-se que a revogação do art. 16 da Lei 5.584/70, que já emergia tacitamente da
integral regulação da matéria pela Lei 13.467/2017, tornou-se expressa com a publicação da Lei
13.725/2018, que em seu art. 3º cristalizou a extirpação do dispositivo do ordenamento jurídico,
corrigindo clara e patente omissão do legislador na edição da Reforma Trabalhista, cuja tramitação foi
marcada pelo açodamento e pela falta de maiores aprofundamento e cientificidade em suas discussões,
resultando em diversas impropriedades e confusões terminológicas insertas em seu texto, como já
reconhece a boa doutrina.

Sendo assim, conclui-se pela existência de apenas um regramento referente aos honorários
advocatícios no âmbito da Justiça do Trabalho, trazido pela Lei 13.467/2017 com o novel art. 791-A da
CLT e complementado pelo disposto no Código de Processo Civil (notadamente em seus artigos 85 a
87), à luz do art. 769 do Texto Consolidado, mesmo nas demandas que contem com assistência jurídica
ou substituição processual do sindicato da categoria, sendo absolutamente inviável se falar em
condenação do sucumbente no pagamento de “honorários assistenciais”, diversos dos honorários
advocatícios regulares.

Quanto à destinação da verba honorária, observada sua natureza remuneratória


reconhecida por lei (art. 791-A, caput, da CLT; art. 85, §14, do CPC), e tendo em conta a revogação
expressa do art. 16 da Lei 5.584/70, não há dúvida de que seu(s) destinatário(s) será(ão) o(s)
profissional(is) da advocacia que atuarem no processo em questão, sem prejuízo de eventual ajuste
contratual entre a entidade sindical e o causídico que atuar efetivamente na assistência jurídica dos
integrantes da categoria, seja na condição de empregado sindicato, seja na condição integrante de
escritório de advocacia prestador de serviços ao ente sindical.

X – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS NA EXECUÇÃO E FASE RECURSAL

Questão passível de celeuma após a generalização dos honorários advocatícios no âmbito


da Justiça do Trabalho diz respeito à existência de honorários advocatícios na fase recursal e em sede de
execução. O debate tem como base o disposto no art. 85, §1º, do CPC, que expressa, in verbis:

§ 1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença,


provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos,
cumulativamente.

Daí, portanto, emerge fundada dúvida acerca da existência dos honorários sucumbenciais
na fase de execução (ou cumprimento de sentença) e na fase recursal, o que seria fruto de uma aplicação
subsidiária do dispositivo em questão no âmbito do Processo do Trabalho. No entanto, não há como
enfrentar a questão sem trazer à baila o disposto no art. 791, §5º, da CLT, introduzido pela Lei
13.467/2017:

§ 5o São devidos honorários de sucumbência na reconvenção.

Com efeito, parece induvidoso que o legislador reformista, ao instituir o regime


sucumbencial genérico no âmbito do processo do trabalho, buscou elencar, expressamente, as situações
nas quais a condenação em honorários advocatícios seria cabível, nos moldes do que ocorre no Processo
Civil. Aliás, quando se realiza um cotejamento entre o regramento do CPC sobre a temática dos
honorários (artigos 85 a 87 do CPC) e o art. 791-A da CLT, percebe-se categoricamente que o
regramento do processo comum serviu de inspiração, quando não cópia, para a formulação do
dispositivo consolidado. Neste sentido, afigura-se patente que o silêncio do legislador aqui é eloquente:
malgrado tenha se inspirado na norma processual comum, optou por deixar de fora do regramento
trabalhista a fase (ou processo de execução) e a fase recursal.

Importante ressaltar não caber alegação de quebra de paridade com o processo civil, na
medida em que, neste particular, a distinção parece observar a indiscutível necessidade de tornar o
processo do trabalho menos custoso e, portanto, mais acessível ao trabalhador e mesmo aos
empregadores, sobretudo àqueles de menor porte financeiro. Fazer incidir honorários de sucumbência
autônomos em cada uma das fases do curso processual claramente elevaria os custos inerentes à
prestação jurisdicional e, consequentemente, conduziria a uma expressiva redução na capacidade das
partes de ter acesso à prestação jurisdicional, em desacordo com a natureza mesma do processo do
trabalho, marcado pela simplicidade de formas e pelo amplo acesso ao trabalhador, na medida em que se
presta à defesa de direitos de natureza alimentar.

XI – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do presente trabalho, buscou-se revisitar as origens do instituto dos honorários
advocatícios, mormente como medida a permitir uma melhor compreensão de sua essência jurídica.
Apresentou-se ainda um histórico evolutivo de sua regulação legislativa, donde se pôde perceber as
alterações no tratamento legal e jurisprudencial dado à figura ao longo dos tempos, sempre com
referências acerca dos efeitos práticos que as sucessivas alterações tiveram na prática forense e como,
por vezes, a própria prática forense findou por subsidiar alterações posteriores na norma.

Entretanto, o escopo primordial do presente texto foi o de problematizar o instituto dos


honorários advocatícios no âmbito do Processo do Trabalho à luz da recente Lei 13.467/2017 (Reforma
Trabalhista), que trouxe profundas transformações no regime jurídico sucumbencial, as quais
inexoravelmente gerarão reflexos no dia a dia forense trabalhista. Diante do caráter restritivo dado aos
honorários sucumbenciais até a Reforma Trabalhista, são inúmeros os problemas que surgirão na
aplicação do instituto no processo do trabalho, seja diante dos princípios e valores próprios a este ramo
processual, seja mesmo ante o caráter lacônico da Lei 13.467/2017, cuja tramitação foi marcada pelo
açodamento e pela falta de debate, deixando de enfrentar várias questões que emergem da aplicação
ampla dos honorários advocatícios no Processo do Trabalho.

O debate acerca da aplicação dos honorários sucumbenciais no âmbito do processo do


trabalho é de vital importância para o futuro de tal ramo processual, como instrumento de efetivação dos
direitos sociais dos trabalhadores. Se por um lado é louvável que se confira aos advogados trabalhistas
tratamento similar aos profissionais de outras áreas jurídicas, não se pode prescindir da construção de
uma segurança jurídica no regramento da figura na seara juslaboral, tanto rápido quanto possível, o que
virá em benefício de patrões e empregados, que poderão ter a prévia e exata noção das repercussões
econômicas de uma ação judicial; cumpre, ainda, observar os princípios e valores do processo laboral,
marcado pela simplicidade e celeridade, e cujo escopo é permitir ao trabalhador, no mais das vezes
desprovido de qualquer fonte de renda, a defesa de seus direitos fundamentais violados no curso da
relação da emprego. Tornar tal serviço público excessivamente oneroso certamente equivalerá ao
cerceio do indivíduo trabalhador à prestação jurisdicional.

V – REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
 FONSECA. João Francisco Naves da. O advogado em Roma. Lex Magister.
http://www.lex.com.br/doutrina_22841013_O_ADVOGADO_EM_ROMA.aspx.
 CAHALI, Yussef Said. Honorários Advocatícios. 3ª edição, São Paulo: Revista dos
Tribunais.

 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas De Direito Processual Civil – 2º volume.


23ª edição, São Paulo: Saraiva.

 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil – v. II. 6ª


edição, São Paulo: Editora Malheiros.

 ABDO, Helena Najjar. O (Equivocadamente) Denominado “Ônus Da Sucumbência” No


Processo Civil, Revista de Processo.

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