Propriedades dinâmicas de um

modelo bouncer com campo não

homogêneo
Felipe Augusto Oliveira Silveira e Denis Gouvêa Ladeira
Departamento de Fı́sica e Matemática- Universidade Federal de São João del Rei - Brazil

em que vn, é a velocidade da partı́cula em um tempo t0n.

1. Resumo

O estudo de sistemas não-lineares tem se tornado cada vez mais relevante. Este tem
fornecido novas ferramentas teóricas e conceituais, possibilitando a caracterização de vários
problemas. Além disso, comportamentos caóticos similares podem ser observados em
sistemas distintos, tendo caracterı́sticas universais, tanto qualitativas quanto quantitativas[1].
Neste trabalho, nós estudamos um sistema dinâmico que pertence à classe de problemas
dos bilhares. O modelo consiste em uma esfera carregada negativamente com uma
cavidade que vai de um hemisfério a outro, passando pelo seu centro, e uma partı́cula de
carga oposta forçada a mover no seu interior. Ainda dentro da esfera, há uma parede que
oscila como um pistão, vibrando com uma frequência pré determinada. Após a colisão com
a parede, a partı́cula pode perder ou ganhar energia.
2. Introdução
Na tentativa de descrever a aceleração de raios cósmicos, o fı́sico italiano Enrico Fermi
propôs o sistema dinâmico conhecido como ”acelerador de Fermi” [2]. Este modelo se
baseia em uma partı́cula carregada que interage com campos magnéticos dependentes
do tempo. Posteriormente, várias variações desse modelo foram propostas para diferentes
aplicações. O estudo destes sistemas é de grande importância, pois pode ser aplicado em
várias áreas da fı́sica como fı́sica atômica [3] e astrofı́sica [4]. Um desses modelos é o
modelo Bouncer, originalmente proposto por Pustylnikov, que consiste em uma partı́cula
clássica sob a influência de uma aceleração gravitacional constante, que colide com uma
parede oscilante[5]. Para certas combinações de condições iniciais e valores do parâmetro
desse sistema, a partı́cula pode apresentar aceleração de fermi, ou seja, crescimento
ilimitado de energia. O modelo aqui estudado é uma variação desse sistema no qual a
partı́cula interage com um campo não homogêneo.
3. Modelo bouncer com campo não homogêneo
Consideremos uma esfera com distribuição uniforme de carga em seu volume com uma
cavidade que vai de um hemisfério a outro, passando pelo seu centro, e uma partı́cula
de carga oposta que é acelerada pelo campo gerado no interior desta esfera. Dentro
da cavidade há uma parede que oscila no tempo de acordo com a expressão y2(t0) =
l0 +  cos(ωt0 + φ0), em que t0 é o tempo,  é a amplitude de oscilação, φ0 é a fase inicial
e w é a frequência de oscilação.
4. O mapa
Consideremos que imediatamente após a colisão n a fase da parede móvel seja φ = ωt0n +φ0
e que a velocidade da partı́cula seja vn. Usando as variáveis adimensionais t = ωt0,
V = v/(ω`0) temos, no instante da próxima colisão, que a fase da parede é dada por
φn+1 = φn + ∆tn+1, em que ∆tn+1 é o intervalo entre as colisões n e n + 1. Nota-se que
a partı́cula colide com a parede quando yw = y, ou seja
c1 cos[ω(t0n + ∆t0n+1)] + c2 sen[ω(t0n + ∆t0n+1)] − 1 − ε cos(t0n + ∆t0n+1 + φ0) = 0. (3)
Através da equação acima obtemos numericamente o valor de ∆tn+1 entre a colisão n e a
colisão n+1. Para encontrar a velocidade da partı́cula após colidir com a parede é necessário
descrever o movimento da partı́cula no referencial da parede móvel. Neste referêncial, por
se tratar de uma colisão elástica, a velocidade da partı́cula antes de colidir com a parede
será igual em módulo a velocidade após a colisão (vn+1). Dessa forma obtemos
vn+1 = c1ωf sen(ωf t0n+1) − c2ωf cos(ωf t0n+1) − 2ω sen(ωt0n+1 + φ0) (4)
Definindo as variáveis adimensionais Ω = ωf /ω, t = ωt0 e V = v/ωl temos que o mapa
bidimensional do modelo bouncer com campo não homogêneo é dado por
(
φn+1 = φn + ∆tn+1
(5)
Vn+1 = C1Ω sen(Ωtn+1) − C2Ω cos(Ωtn+1) − 2ε sen(tn+1 + φ0)
A figura 2 ilustra o espaço de fase do modelo completo com ε = 10−3 e Ω = 0, 03. O
mapa do sistema foi construı́do utilizando diversas condições iniciais no espaço φ × V com
φ ∈ (0, 2π] e V0 ∈ (0, 01; 0, 09]. Na figura 2 nota-se uma região de movimento caótico chamada
mar de caos, e dentro desta existem ilhas periódicas. Essa região de caos é delimitada por
um curva invariante. Acima desta existem outras regiões de movimento regular e caótico e
outras curvas invariantes.

Figura 2: O espaço de fase do bouncer em campo não homogêneo para ε = 10−3 e Ω = 0, 03.

Figura 1: Representação do modelo bouncer em campo não homogêneo.

Na figura 1 temos uma ilustração desse modelo. Utilizando a lei de Gauss e a segunda Referências
lei de Newton temos que a equação da posição da partı́cula é dada por y(t0) = c1 cos(ωf t0) +
c2 sen(ωf t0), em que ωf é uma constante, e c1 e c2 são dadas por [1] HILBORN, Robert. Chaos and Nonlinear Dynamics: An Introduction for Scientists
and Engineers. Oxford: University Press, 2000.
ynωf cos(ωf t0) − vn sen(ωf t0) [2] E. Fermi, Phys. Rev. 75, 1169 (1949).
c1 = , (1)
ωf [3] G. Lanzano et al., Phys. Rev. Lett. 83, 4518, (1999).
cos(ωf t0)vn + ynωf sen(ωf t0) [4] A. Veltri, V Carbone, Phys. Rev. Lett. 92, 143901, (2004).
c2 = , (2)
ωf [5] L. D. Pustilnikov, Theor. Math. Phys. 57, 1035 (1983);

II Semana da Fı́sica