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PRIMEIRA  PARTE:  UMA  ONTOLOGIA  DO  ESPAÇO:  NOÇÕES 

FUNDADORAS 

Capítulo 1: As Técnicas, O Tempo e o Espaço Geográfico. 

A  técnica  é  um  conceito  chave  para  o  entendimento   do   espaço  para  Milton 


Santos.  Para  ele  “as  técnicas  são  um  conjunto  de  meios  instrumentais  e  sociais  com  os 
quais  o  homem  realiza  sua  vida,  produz  e,  ao  mesmo  tempo,  cria  espaço”.  Mas  apesar 
da  grande  importância  que  as  técnicas  podem  ter  para  a  explicação  do  espaço  e  dos 
fenômenos  sociais  em  geral,  ela  passou  largamente  em branco nas formulações teóricas 
dos  diversos  cientistas  sociais.  Historiadores,  economistas,  sociólogos  e  geógrafos 
negligenciaram­na.  

No  entanto,  houve  cientistas  que  souberam  trabalhar  com  as  técnicas. 
Pré­historiadores,  arqueólogos,   etnógrafos  e  tecnólogos  seriam  alguns  deles.  Dentro  da 
Geografia,  Maximilien  Sorre  foi  o  primeiro  a  trabalhar  claramente  com  as  técnicas, 
ainda  que  seu  legado  não tenha sido levado adiante. Então, Milton Santos parte para um  
exercício  intelectual  em  que  tenta  estabelecer  como  esse  conceito  pode  ajudar  no 
desenvolvimento de uma “explicação geográfica”. 

Para  o  conceito  de  técnica  ser  operacional  na  ciência  geográfica  ele  deve  ser 
casada  com  a  noção  de  objeto,  sendo  um objeto técnico. O conjunto de objetos técnicos 
estão   ​
formaria  um  meio,   tendo  consciência  que  estes  objetos  não  apenas  ​ em  um   meio  
são​
como  também  o  ​ .  Não  se  deve   confundir  objeto  técnico  com  artificial,  já  que  o 
primeiro  engloba  o  segundo  assim   como  inclui   os  objetos  naturais.  Milton chama Séris 
(1994):  “será  objeto  técnico  todo  objeto  suscetível  de  funcionar,  como  meio  ou  como 
resultado,  entre  os  requisitos  de  uma  atividade  técnica”.  Os  objetos  técnicos  também 
devem  ser  vistos  como  um  sistema,  pois  estão todos interligados e,  por serem um meio, 
se  impõem  ativamente sobre novas adições de objetos, condicionando­os. Por último, as 
técnicas  e  seus  objetos  não   tem  valor  intrínseco,  devem  ser  vistos  em  relação  a  outros 
componentes da realidade. 

Esclarecido  isso,  um  leque  de  possibilidades  de  enfoque é aberto. Milton Santos 


postula  que  a  propagação  desigual  das  técnicas  constitui  um  tema  importante.  Dentro 
dela  poderíamos  observar  a  convivência  entre  diferentes  técnicas  em  um  lugar,  a 
resistência  de  um  meio  a  uma  técnica  atual  e  o  que  se passa entre o surgimento de uma 
técnica  nova  e   sua  hegemonização.  Relações  tempo­espaço  também  podem  ser 
estudadas  via  técnicas:  “o  conteúdo  técnico  do  espaço  é,  em  si   mesmo, 
obrigatoriamente,  um  conteúdo  em  tempo  –  o  tempo das coisas – sobre o qual vêm agir 
outras  manifestações  do  tempo,  por  exemplo,  o  tempo  como  ação  e  o  tempo  como 
norma”.  Os  objetos  técnicos  não   são  nada  mais  do  que  o  tempo  congelado,  dando­nos 
uma  dimensão  concreta  de  observação  do  próprio  tempo,  que  abre  a  possibilidade  de 
descobrirmos  a  idade  desses  objetos  (e  do  lugar), informação de suma importância para 
o entendimento do funcionamento de um lugar e do seu uso do tempo. 

Capítulo 2: O Espaço: Sistemas de Objetos, Sistema de Ação. 

De  cara  Milton  Santos  já  descreve  o  seu  entendimento  de  Espaço:  “o  Espaço   é 
um  conjunto  indissociável  de  sistemas  de  objetos  e  sistemas  de  ações”.  Mas  adverte 
contra  uma  possível ortodoxia marxista, sendo o sistema de objetos e o sistema de ações 
diferentes de forças produtivas e de relações de produção, respectivamente. 

Mas  por  que um sistema e por que de objetos? Por que os objetos são todos mais 


ou  menos  interligados,  constituindo  um  sistema,  e  por  que  hoje  tudo  é  utilizado 
socialmente,  acabando  que  tudo  torna­se  objeto.  Seria  este  objeto  um  “objeto 
geográfico”?  Não  exatamente.  Ele  pode  ser  econômico, sociológico, antropológico, etc. 
também,  pois  não  cabe  a  Geografia  delimitar  uma  coleção  de  objetos  para  chamar  de 
seu,  mas  sim  de  analisar a realidade por um corpo teórico e conceitual próprio: “trata­se 
de reconhecer o valor social dos objetos, mediante um enfoque geográfico”. 

Apenas  a  humanidade  age  e  tem  uma  finalidade,  ao  contrário  da  natureza. 
Sabido  isso,  Milton  Santos  procede  para  um  diálogo  com  alguns   autores  para  definir  a 
natureza  deste  agir.  Rogers  (1962)  diz  que  um  ato  é:  “1) um comportamento orientado; 
2)  que  se  dá  em  situações;   3)  que  é  normativamente  regulado  e  4)  que   envolve  um 
esforço  ou  uma  motivação.”  A  ação  seria  feita  de  diversos  atos  e  quando  agimos 
mudamos  a  coisa  e  a  nós  mesmos.  Existiriam  pelo  menos  3  formas  de  agir:  técnico 
(interações  formalmente  requeridas  pela  técnica),  formal  (obediência  ao  formalismo 
jurídico, econômico ou científico) e simbólico (não regulada por cálculo, emoção). 

Capítulo 3: O Espaço Geográfico, Um Híbrido. 

Aqui  o elo entre os objetos e as ações é forjado. Milton explica a parte “conjunto 
indissociável” do seu enunciado sobre o Espaço.  

Tudo  começa  com  uma larga discussão de Milton Santos com uma infinidade de 


autores  sobre  a  intencionalidade  na  relação  sujeito­objeto.  O   resultado  que  fica  claro  é 
que  a  intenção  e   a  ação  não  são  absolutas,  tanto  pelo  “carácter” humano da ação, como 
pelo  papel  ativo  (ou   condicionante)  que  os  objetos  exercem  nos  sujeitos,  Brentano 
(1935):  “não  há  um  pensamento  sem  um  objeto  pensado,  nem  apetite  sem  um  objeto 
apetecido”.  Milton sintetiza: 

“[...]  os  resultados  da  ação  humana  não  dependem  unicamente  da 
racionalidade  da  decisão  e  da  execução.  Há,   sempre,  uma  cota   de 
imponderabilidade  no  resultado,  devido, de um lado, à natureza humana e, de 
outro, ao carácter humano do meio”. 

Está  dada  a  base  da  unificação  da  unificação  dos  objetos e ações. A sociedade e 


o  espaço  só  se  concretizam  quando  juntos,  separadamente  são  abstrações,  “verdades 
parciais”  (Ledrut,  1984).  Cada  alteração  em  um,  temos  o  reflexo  no  outro  e  a  cada 
período  histórico  os  valores  e  características  de  ambos  vão  mudando.  Para 
apreendermos  isto,  também  devemos  eliminar  os  conceitos  “puros”  e  as  dicotomias 
criadas  por  eles.   Natural/humano,  exato/humano,  objeto/ação...  É  preciso  de  conceitos 
formas­conteúdo​
híbridos  e  Milton  nos  propõe  um:  ​ .  As  formas­conteúdo  são  o 
“conjunto indissociável”, não apenas forma, não apenas função. Nas palavras do autor:  

“A  ideia  de  forma­conteúdo une o processo e  o resultado, a função e  a forma, 


o  passado  e  o  futuro,  o  objeto  e  o  sujeito,  o  natural  e  o  social.  Essa  ideia 
também  supõe  o  tratamento  analítico   do  espaço  como  um  conjunto 
inseparável de sistemas de objetos e sistemas de ações”. 
Com  essa  construção  teórica  é  possível  acabar  com  um  histórico  problema 
epistemológico  geográfico:  paisagem  x  Espaço.  Eles  foram  utilizados  como 
equivalentes  entre  si,  causando  grandes  confusões  no  processo  de  formação  da 
Geografia.  Sendo  a  paisagem  aquilo que é apreensível a partir do empírico, ou da visão, 
mais  especificamente,  então  se  refere  apenas  as  formas  dos  objetos.  Mas  sendo  o 
e  ​
Espaço  as  formas  ​ o  conteúdo,  a  forma­conteúdo,  a  paisagem   não  passa  de  um 
componente deste, uma abordagem que abarca o Espaço em uma de suas facetas.  

SEGUNDA PARTE: A PRODUÇÃO DAS FORMAS­CONTEÚDO 

Capítulo 4: O Espaço e a Noção de Totalidade. 

Totalidade  significa   que  o  tudo que há no universo se constitui em uma unidade. 


Não  é  uma  mera  soma  das  partes,  sendo  também  uma  síntese  e  vai  se  tornando  mais 
complexa  com  a  passagem  do  tempo,  porém  de  uma  forma  ordenada.  Por  haver  uma 
ordem,  a  totalidade  pode  ser  conhecida.  Milton  Santos  acreditava  que  ela  seria  muito 
útil a Geografia, logo o Espaço deveria ser visto como uma totalidade. 

Estar  em  movimento,  totalização,  é  um  de  seus  princípios.  E este movimento se 


caracteriza  em  uma  eterna  fragmentação  e  união,  um  infinito  fazer­se  inacabado.  Isto 
pode  ser  visto  em  termos  de  real  abstrato  e  real  concreto.  Quando   una,  a  totalidade  é 
abstrata,  ideal,  uma  possibilidade,  uma  potência.  Ao  fragmentar­se,  torna­se  real, 
concreta,  particular,  potência  em  ato.  Para  a  conhecermos  a  totalidade,  devemos 
observa­la neste processo, pois só podemos apreendê­la quando cindida em partes. 

  Ao  vermos  o  Espaço  como uma totalidade, temos o ​


desenvolvimento desigual e 
combinado​
.  Cada  lugar  é  uma   parte  da  totalidade  concretizada,  com  uma  combinação 
específica  de  variáveis  do  todo.  Quando a totalização ocorre, levando de uma totalidade 
X  para  uma  totalidade  Y,  as  variáveis  de  cada  lugar  podem  se   impor  ou  não  as 
mudanças  ocorridas,   dai  havendo  diferenças  de  como  cada  lugar  irá  se  comportar  ao 
movimento  do  todo.  Acaba  que  cada  lugar  é  sempre  uma  potência,   uma  possibilidade  
esperando  uma  ação  levar  o  universal  ao  lugar.  E  quando  este  chega  se  objetiva,  se 
concretiza  nas  formas.  É  este  movimento  dialético  do  Espaço  que  culmina  no 
desenvolvimento desigual e combinado.  

Milton  reserva  a  parte  final  para falar sobre a ideologia dentro do movimento da 


totalidade.  Aqui  ele  argumenta  que  a  ideologia não apenas aparência, mas também real. 
E por ser real ela se materializa nos objetos do Espaço, criando símbolos. 

Capítulo 5: Da Diversificação da Natureza à Divisão do Trabalho 

Milton  abre  o  capítulo  falando  que  a  divisão  do  trabalho  (DT)  deveria   ser  mais 
explorada na Geografia e ser relacionada com outros conceitos como tempo. 

A  divisão  do  trabalho,  assim  como  a  natureza,  está sempre se modificando, mas  


enquanto  a  última  realiza  um  processo  repetitivo  de  diversificação,  a  DT  segue  um 
caminho progressivo. 

Algumas  ideias  do  capítulo anterior são retomadas aqui, quando a DT é igualada 


com um processo de distribuição recursos e este devendo ser visto como uma totalidade. 
Os  recursos  são  distribuídos  desigualmente  entre  os  lugares  (desenvolvimento  desigual 
e  combinado),  logo  cada  um  adquire  uma  individualidade,  cumprindo  com  diferentes 
papeis  dentro  da  DT,  resultando  em  uma  hierarquia  entre  eles.  Essa  hierarquia 
influencia  a capacidade dos agentes presentes nos lugares de agir. A DT é a forma como 
o lugar é valorizado dentro do Espaço. 

Haveria  para  Milton  Santos  dois  enfoques  para  a  DT  em  relação   ao  tempo.  Um 
primeiro  seria  voltado  para  a  evolução  das  atividades  no  Espaço  conforme  o  tempo 
passa.  É  um  enfoque  mais  histórico,  diacrônico  (eixo  das  sucessões).  O  segundo,  mais 
geográfico,  é   estudar  como  as  diversas  DT  funcionando  em  um  mesmo  momento,  de 
forma sincrônica. 

Cada  lugar  é  uma  sobreposição  de  diferentes  DT  do  passado  e  presente,   isso 
constituindo  um  aspecto  da particularidade de cada lugar. Cada agente  dentro destas DT 
detém  uma  temporalidade,  uma  forma  de  se  utilizar  o  tempo.  A  junção  de  todas  as 
temporalidades  particulares  de  um  lugar,  região  ou  país  nos  dá  a  ​
formação 
socioespacial​
.  
As  rugosidades  também  são  um  aspecto   importante  a  ser  levado  em  conta. 
Sendo  a  DT  uma  distribuição   de  recursos,  ela  não  se  dá  ignorando  o  preexistente  no 
Espaço.  As  rugosidades,  ou  divisão  territorial  do  trabalho  morto,  influenciam  as 
subsequentes  divisões  do  trabalho  vivo.  É   a  inércia­dinâmica  espacial  em uma das suas 
manifestações:  “A  atual  repartição  territorial  do  trabalho  repousa  sobre  as  divisões 
territoriais  do  trabalho  anteriores.  E  a  divisão  social  do  trabalho não pode ser explicada 
sem  a  explicação  da  divisão territorial do trabalho, que depende, ela  própria, das formas 
geográficas herdadas”.  

Capítulo 6: O Tempo (Os Eventos) e o Espaço. 

TERCEIRA PARTE: POR UMA GEOGRAFIA DO PRESENTE 

Capítulo 7: O Sistema Técnico Atual. 

“[...]  o  conhecimento   de  sistemas  técnicos  sucessivos  é  essencial  para  o 


entendimento  das  diversas  formas  históricas  de  estruturação,  funcionamento,  e 
articulação  dos territórios  ,  desde os albores da história até a época  atual.” Assim Milton 
Santos (novamente) ressalta a importância das técnicas na introdução do capítulo. 

As  técnicas  estiveram,  mais ou menos,  sempre interligadas, em correspondência. 


E  assim  se  sucederam  durante  a  história.  Cada  sistema  técnico  pertence  a  um  período 
técnico.  A  classificação  da  sucessão  de  sistemas  técnicos  em  períodos  varia  de  autor 
para  autor.  Mumford  (1934)  secciona  em  3  momentos:  as  técnicas  intuitivas  (água  e 
vento)  que  vão  até  1750,  as  técnicas  empíricas  (ferro  e  carvão)  que  vão  de  1750  até 
1900  e  as  técnicas  científicas  (eletricidade  e  ligas  metálicas)  de  1900  para  frente. 
Fu­Chen  Lo  (1991)  vê  5  períodos, partindo da revolução industrial: mecanização inicial 
(1770­1840),  máquina  a  vapor  e  estrada de ferro (1830­1890), eletricidade e engenharia 
pesada (1880­1940), fordismo (1930­1990) e informação e comunicação (1980­).  

O  sistema  técnico  atual,  que  é  resultado  de  uma  crescente  ligação  entre  as 
técnicas  e  ciência,  a  tal  ponto  que  esta  última  vira  uma  força  produtiva,  se  caracteriza  
pela  cibernética,  pela  eletrônica,  pelos  avanços  na  telefonia  e  pelo  computador.  Seus 
objetos  mostram  artificialidade  e  racionalidade  extrema.  O  primeiro  significa  que  os 
objetos  são  cada  vez  mais  intencionais  e  especializados,  garantindo   que estes cumpram 
seus  objetivos.  O  segundo  se  refere  a  uma  padronização  cada  vez  maior  dos  objetos  e 
que  eles  são  acompanhados  de  um  discurso,  que pertence aos atores hegemônicos  e sua 
busca  pela  mais­valia.  A racionalidade é o que faz o atual sistema técnico conhecer uma 
difusão  nunca  vista  antes  na   história,  ainda  que  não  seja  absoluta.  Onde  as  técnicas 
atuais  encontram  técnicas  mais  antigas,  há  a  tentativa  de  substituição  por  parte  das 
primeiras,  mas  quando  não  possível,  é  tentada  uma  integração  entre  as  duas  ou  o 
sistema  antigo  resiste.  Os  dois  últimos  casos  acontecem  em  espaços  em  que  há  pouca 
divisão do trabalho.  

A  essência  deste  novo  sistema  técnico  são  as  técnicas  da  informação,  já  que  a 
informação  é  a  principal  matéria­prima  atual.  Sem  ela  as  outras  técnicas  deixam  de 
funcionar  em  sua  plenitude  ou  totalmente.  Isso  vale  para  a  organização  do  trabalho,  da 
circulação  das  coisas  e  do  controle  do  tempo.  Quem  detém  a  informação  e  as  suas 
técnicas  detém  o  poder.  Sabido  isto,  dois  riscos existem. Um é a centralização do poder 
em  centros  que  detém  as  informações,  garantindo  a  estes  uma  grande  influência  em 
outros  lugares  do  espaço.  Outro  é  o  da  primazia  do  tempo  das  técnicas  da  informação 
sobre  o  modo  de  pensar  e  viver  dos  indivíduos.  Ceder  estes aspectos aos computadores 
seria  ter  a  nossa  capacidade  de  raciocínio  diminuída,  pela  lógica  reducionista  dos 
eletrônicos,  e  ter  que  obedecer  a  um  relógio  frenético,  típico  da  repartição  do  tempo 
feita pelas novas técnicas. 

Capítulo 8: As Unicidades: A Produção da Inteligência Planetária. 

unicidade  técnica​
As  bases  da  globalização  como  conhecemos  seriam  a  ​ , 
unicidade do tempo​ unicidade do motor da vida econômica e social​
 e a ​ . 

A  história  da  técnica  até  agora  é  uma  história  de  estreitamento  das  escolhas.  Se 
no  começo  da  história  em  cada  lugar existia um sistema técnico seu, com as respectivas 
temporalidades,  “tantas  geografias  quanto  homens”  disse  Milton  em  seu  ​
Por  Uma 
Geografia  Nova​
,  isso  não  é  mais  verdade.   O  avanço  da  história  vai  diminuindo  o 
número  de  sistemas  técnicos,  processo  acelerado  com  o  capitalismo,  culminando  na 
unicidade  técnica​
universalização   de  um  sistema  técnico,  a  ​ .  Mas  essa  unicidade  não 
significa  um  sistema apenas:  “cada nova família de técnicas não expulsa completamente 
as  famílias  precedentes,  convivendo  juntas  segundo  uma  ordem  estabelecida  por  cada 
sociedade em suas relações com outras sociedades”.  

Essa  unicidade  técnica  também  significa  uma  interdependência  funcional  entre 


os  objetos,  que  por  sua  vez,  leva  a  possibilidade  de  uma  ação  mundial  a  partir  de  um 
ponto.  O  processo  econômico  fragmentado,  paradoxalmente  pode  ser  coordenado 
centralmente, “sem isso as empresas multinacionais não poderiam existir”.  

unicidade  do  tempo​


A  ​ ,  ao  contrário  do  que  pode  parecer,  não  é  uma  união  do 
tempo.  “[...]  é  a  possibilidade  de  conhecer  instantaneamente  eventos  longínquos  e, 
assim,  a  possibilidade  de  perceber  a  sua  simultaneidade”.  Por  isso  esta unicidade pode 
ser  chamada   de  convergência  de  momentos.  Só  se  atingiu  esse  estágio  devido  aos 
avanços  técnicos,  o  satélite  sendo  um  paradigma.  A  ​
cognoscibilidade  do  planeta  foi 
alcançada e a informação pode fluir por todo o planeta sem perda de qualidade.  

Alguns  chegam  a  admitir  que  isto   é  o  fim  do  Espaço  e  que  existe  uma  aldeia 
global,  que  é  prontamente  rechaçado  por  Milton.  O  fim do Espaço se daria pelo estágio 
que  a  velocidade   que os fluxos de pessoas e coisas atingiu. Entretanto, nem tudo e todos 
têm  acesso  a  essas  velocidades, nem todos os lugares recebem as ações, já  que estas são 
seletivas,  procuram  os  locais  com  maiores  possibilidades  de  concretização  de  seus 
objetivos.  Temos  que  o  Espaço   acaba  reforçado.  Já  a  aldeia  global  prega  que  todos 
teriam  acesso  as  informações  que  circulam  no  mundo,  formando  uma  grande  aldeia. 
Mas  a  realidade  é  que  poucos  atores  tem  acesso as informações e, assim, as manipulam 
a sua vontade.  

motor  único​
Mas  o  que  guia  isso?  A  mais­valia  mundial,  o  ​ ,  suportada  pelos 
grandes atores mundiais.  

Agora,  tudo  se  mundializa:  a  produção,  o  produto,  o  dinheiro,  o  crédito,  a 


dívida,  o  consumo,  a  política  e  a  cultura.  Esse  conjunto  de  mundializações, 
cada  qual  sustentado,  arrastando,  ajudando a  impor  a  outra,  merece  o  nome 
de globalização.  
As  empresas  passam  a   se  organizar  em  redes, mas com um rígido controle da invenção, 
fabricação  e  distribuição  dos  produtos,  tornando­se  móveis  e  flexíveis.  O  sistema 
financeiro  passa   a  ser  o  regulador  da economia no plano mundial, sua importância é tão 
grande  que  o  valor   que  gera  chega  a  ser  maior  que  o  valor   do   comércio  de  produtos. 
Isso  tudo  sob  a  égide  da  mais­valia  mundializada,  que  tem  a  força  de  uma  lei  da 
natureza.  Seguindo  essa  lei  os   atores  hegemônicos  buscam  uma  temporalidade 
hegemônica  para  poder  competir,  alias  esta  palavra  sendo  a  nova  marca  registrada  da 
atualidade. 

Capítulo 9: Objetos e Ações Hoje. As Normas e o Território. 

Neste  capítulo  Milton  Santos  faz  um  apanhado  geral  sobre  as  características 
atuais dos objetos e ações, mais um adendo sobre normas e território. 

Os  objetos  hoje,  além  de  técnicos,  são  científicos  e  informacionais.  Científicos 
porque  antes  de  serem produzidos materialmente, são projetados intelectualmente antes, 
através  da  ciência.  São  informação  porque  realizam  atividades  precisas  e  transmitem 
informações  a  outros  objetos.  Eles  não  precisam  apenas  de  informação  para  funcionar, 
técnico­científicos­informacionais​
mas  como  também  a  são.  Por   isso  são objetos ​ . Além 
disso,  Milton  lista  o  que  considera  as  principais  características  dos  objetos  atuais:  (1) 
universalidade  e  autoexpansão  (unicidade),  (2)  vida  sistêmica, (3) concretude (funciona 
no  Espaço  em  conjunto  com  outros  objetos),  (4)  conteúdo  em  informação  (descrito  
acima) e (5) intencionalidade (concebido essencialmente para um fim, hipertelia). 

As  ações  atuais  também  são   técnica  e  ciência,  pois  se baseiam nestas para obter 


informações  e assim se tornarem ações informadas. Através do conhecimento do mundo 
as  ações  se  tornam   informadas  para  poderem  potencializar  os  seus  efeitos.  Por 
consequência,  se   tornam  frias,  matemáticas,  excluindo  qualquer  porção  de  incerteza  e 
simbolismo.  Elas  também  se  tornam  fluidas  e  multiplicam­se  e  mundializam­se, 
fazendo com que os lugares sejam receptores de muitas ações em um mesmo momento. 

A  eficiência  que  os  objetos  e  as  ações  de  hoje  precisam  atingir  tem  reflexo  no 
território.  Para  estarem  de  acordo  com  a  racionalidade   atual,  os  objetos  precisam  ser 
organizados,  enquanto  as  ações  precisam  ser  normatizadas,   tudo  isso  dentro  de  um 
território:  “O  território  como  um  todo  se  torna  um  dado  dessa  harmonia  forçada  entre 
lugares  e  os  agentes   neles  instalados,  em  função  de  uma inteligência maior, situada nos 
centros motores da informação”.  

Capítulo 10: Do Meio Natural ao Meio Técnico­Científico­Informacional. 

A  história  das  relações  entre a sociedade é o Espaço é marcada por substituições 


natural​
do  natural  pelo  artificial.  Primeiro  houve  o  meio  ​ técnico​
,  depois  o  meio ​ , hoje o 
técnico­científico­informacional​
meio ​ .  

Esse meio atual é  baseado na ciência, técnica e informação, como coloca Milton: 
“[...]  a  ciência  e  a  tecnologia,  junto  com  a  informação,  estão  na  própria  base  da 
produção,  da  utilização  e  do  funcionamento  do  espaço  e  tendem  a  constituir  o  seu 
substrato”.  Ele  é  a  manifestação  da  globalização  no  Espaço  e  os  atores  hegemônicos 
dela  o  modificam  para  que ele atenda as suas necessidades.  Nem o rural escapa, virando 
tão  artificial  quanto  à  cidade.  A  circulação  ganha  mais  importância  do  que  a  própria 
produção,  passando  a  alterar o meio mais que este último. Em termos marxistas, a arena 
de produção diminui e sua área aumenta. 

O  conhecimento  (ou  informação)  se  torna  um recurso. Os lugares que melhor se 


instrumentalizam  para  gerarem  informações  obtém vantagem sobre os que não o fazem. 
Nesses  lugares  avantajados,  os agentes obtêm precisas informações para  melhor realizar 
suas ações.  

Nesse  meio  técnico­científico­informacional,  os  agentes  hegemônicos  tem 


acesso  aos  melhores  lugares  (mais  instrumentalizados)  de  cada  país,  mais  que  os 
próprios  agentes  nacionais.  Muitos  autores  põem  em  duvida  a  soberania  e  até  o  Estado 
no  presente,  mas  Milton  chama  Dicken  (1994)  para  prontamente  negar  a  morte  do 
Estado:  “não  apenas  os  Estados  ainda  são atores importantes como têm a capacidade de 
encorajar   ou   inibir  a  integração  global  ou  nacionalmente  responsável  frente  aos 
desígnios das empresas transnacionais”. 
Outros  autores  clamam  a  morte das regiões pela expansão do capital. Mas é uma 
visão  equivocada,  pois  se  focam  no  caráter  territorial  e  histórico  das  antigas  regiões, 
onde  o  que  as  definiam  eram  grupos  mais  ou  menos  isolados  e  mais  ou  menos  antigos 
moldavam­nas  através   do   trabalho.  Na  verdade,  o  que  define  uma  região  é  a  sua 
“coerência  funcional”  e  não  o  seu  tempo  de  existência,   podendo  elas  ser  cada vez mais 
efêmeras.  

A  competitividade  é  o  dogma  da  atualidade  e no meio atual isso se expressa por 


uma  guerra  entre  lugares,  em  que  cada  lugar  deve  se  tornar  mais  rentável  aos 
investimentos que os outros. Tudo se torna uma busca pela ​
produtividade espacial que é 
a  produtividade  de  um   lugar  em  relação  a  uma  atividade.  Isso  acaba  sendo  um  fator de 
heterogeneidade  dos  lugares  porque  cada  um  busca se especializar em para obter as tais 
vantagens comparativas ricardianas.  

Há  um  paradoxo  neste   novo   meio   entre  fluidez  e  fixidez.  A  necessidade  de 
fluidez  só  se  dá  pela  fixidez.  Tanto  quanto  mais  fluidez  oferece  um  lugar,  mais  rígido 
ele  é  pelos  grandes  aportes  de  capital  fixo:  “Na  medida  em  que  cada  produção  supõe 
necessidades  específicas,  o  aprofundamento  do  capital,  a  sua  maior  densidade  e  a  sua 
mais  alta  composição  orgânica  criam  condições  materiais  sempre  mais  rígidas  para  o 
exercício  do  trabalho  vivo”.  Sem  o  capital  fixo,  não  temos  o  fluido,  a  troca,  o 
alargamento dos contextos.  

Os  espaços  da  globalização  são  formados  pela  tecnosfera,  o mundo dos objetos,  


da  materialidade,  e  psicosfera,  mundo  da  subjetividade  e  das  ações,  unidos.  Estes 
espaços  se  individualizam  por  meio  de  diferentes  densidades:  ​
técnica  (definida  pelo 
grau  de  inserção  das  técnicas;  referente  principalmente  a  tecnosfera,  mas  não  apenas),  
informacional  (definida  pela  quantidade  de  informação  presente;  referente 
principalmente  a  tecnosfera,  mas  não  apenas)  e  ​
comunicacional  (nível  de 
interdependência  e  solidariedade;  referente  principalmente  a  psicosfera;  mas  não 
apenas).  

Capítulo 11: Por Uma Geografia das Redes. 
O  capítulo  inicia  com  Milton  Santos  discutindo  as  concepções  de  rede  de 
diversos  autores.  Existem  duas  principais,  a  primeira  focada  nos  aspectos  materiais  e  a 
segunda  no  conteúdo  social,  além  da  própria  materialidade.  Honrando  o  “conjunto 
indissociável” Milton adere a segunda concepção. 

As  redes  tiveram  três   períodos  durante  a  história:  pré­mecânico:  redes 


subordinadas  à  natureza  e  desenvolvidas  espontaneamente;  mecânico­intermediário: 
criação deliberada devido ao avanço técnico. As trocas crescem, as redes também; atual: 
o  desenvolvimento  informacional  e  o  controle  da  natureza  permitem  que  as  redes  se 
tornem absolutas.  

O estudo das redes envolveria 2 métodos, que devem ser unidos segundo Milton. 
Genético:  focado  na  evolução  histórica,  diacrônico.  Atual  (estrututal?):  estudos 
estatísticos  das  quantidades  e  qualidades  técnicas,  relações  com a sociedade, regulação, 
sincrônica.  As  noções  de  ​
tempos  rápidos  e  ​
tempos  lentos  também  devem  ser  incluídas 
nos estudos. O rápido e o lento são relativos, dependendo de como cada agente se  utiliza 
o  tempo  social  em  cada  lugar.  Apenas  devemos  ter  em  mente  que   esses  tempos  se 
misturam em cada subespaço, não havendo homogeneidade .  

Mas  se  o  Espaço  não  é  homogêneo,  nem  as redes são: “Num mesmo subespaço, 


há  uma  superposição  de  redes,  que  inclui  redes  principais  e  redes  afluentes  ou 
tributárias,  constelações  de  pontos  e  traçados  de  linhas.  Levando  em  conta  seu 
aproveitamento   social,  registram­se  desigualdades  no  uso  e  é  diverso  o  papel  dos 
agentes  no  processo  de  controle  e  de  regulação  do  seu  funcionamento”.  Não  custa 
lembrar  que  se  a  divisão   do   trabalho  vivo  e  morto  (capítulo  5)  e  a  guerra  dos  lugares 
(capítulo  10)  geram  desigualdades  espaciais,  não  há  porque  isso  não  se  refletir  nas 
redes. 

Pelas  redes  podemos  reconhecer  3  tipos  de  solidariedade:  uma  mundial,  uma 
nacional  e  um  local.  Mundial:   o   mundo  aparece  como  uma  totalidade,  empírica  pelas 
redes.  Nacional:  totalidade  feita  por  um  “contrato”  e  delineada  por  fronteiras.  Vem  se 
enfraquecendo pelas redes mundializadas, ainda que o Estado seja importante. Local:  

“é  a  terceira  totalidade,   onde  fragmentos  da  rede  ganham  uma  dimensão 
única  e  socialmente  concreta,  graças  à  ocorrência,  na  contiguidade,  de 
fenômenos  sociais  agregados,  baseados  num  acontecer  solidário que  é  fruto 
da diversidade e num acontecer repetitivo, que não exclui a surpresa”. 

Não  apenas  solidariedades,  as  redes  podem  ser  poder.  Sendo  a  divisão do trabalho uma 
hierarquia  entre  lugares,  são  nas  redes  que  essa hierarquia se revela, através de relações 
assimétricas.  As  redes  exprimem  diversas dialéticas e o global e o local não escapam. O 
Global  coordena  as   ordens  que  serão  dadas  ao  local,  a  ação  política,  a  verticalidade, 
enquanto  o  local  detém  certa  autonomia  perante  o  global  porque  é  quem  realiza  a 
produção,  tem  o  controle  da  técnica,  a  horizontalidade,  e  essa  relação  se  dá através das 
redes.  

O imperativo da competitividade se traduz na crescente busca pela fluidez, e esta 
só  se  dá  pelas  redes.  As  empresas  e  o  poder  público  se  unem  para  poder  produzir  a 
fluidez  e  técnicas  para  a  garanti­las.  Mas  a  fluidez  não  se  dá  apenas  pelas  técnicas,  o 
política  também  influi  na  questão.  As  normas  são  muito  necessárias  para  o 
funcionamento  da  fluidez,  como  visto  no  capítulo  9. Milton sobre a “desregulação” que 
marca  o  período  atual:  “[...]  a  desregulação  não  suprime   as  normas.  Na  verdade, 
desregular significa multiplicar o número de normas”.  

Milton  utiliza  o  final  no  capítulo  para  elucidar  alguns  outros  aspectos  dessa 
articulação  das   redes  com  a  teoria  geográfica.  Primeiro  separa  a  expectativa  de  fluidez 
do  seu  uso.  A  fluidez  só  se  concretiza  quando  utilizada  e  nem  todos  os  agentes  tem  
acesso a ela,  sendo para estes apenas uma expectativa. Segundo é  que a fluidez necessita 
do  fixo,  reforçando  o  capítulo  10.  E  por  último,  retomando  o  capitulo  anterior 
novamente,  a  efetividade  das  redes  está  diretamente  relacionada  com  a  diminuição  da 
arena de produção e o aumento de sua área.  

Capítulo 12: Horizontalidades e Verticalidades. 

O  capítulo  começa  com  uma  revisão  de  diversos  significados  atribuídos  as 
horizontalidades  e  verticalidades.  Milton  define  que  a  horizontalidade  é  pontos  sem 
descontinuidade,  o  que  está  diretamente  relacionado  com  a  produção,  uma  coerência 
funcional.  A  verticalidade  é  pontos  descontínuos,  relacionado  com  circulação, 
distribuição  e  consumo,  uma  hierarquia.  A  horizontalidade  pode  ser  vista  como  uma 
força  centrípeta,  que  gera  uma  coesão  entre  campo  e  cidade  e  uma  homogeneidade  na 
própria  cidade  ou  no  campo.  A  verticalidade  é  comparável   a uma força centrífuga, pois 
está  relacionada  ao  afastamento  de  elementos  e  uma  subsequente  reestruturação  da 
ordem local.  

O  vertical  e  o horizontal  podem trabalhar juntos, mas também podem opor­se. O 


cotidiano  homólogo das horizontalidades  pode levar a um despertar local sobre  questões 
políticas,  facilitando  a  ação  política  e  os  interesses  locais  em  detrimento  das  ordens 
exógenas vindas das verticalidades. 

Capítulo 13: Os Espaços da Racionalidade. 

Primeiramente  o  conceito  de  racionalidade  deve  ser   definido,  sendo  o  sentido 


weberiano  o  escolhido  por  Milton:  “Max  Weber  introduziu  o  conceito  de 
‘racionalidade’  para  caracterizar  a  forma  capitalista  da  atividade  econômica,  a  forma 
burguesa das trocas ao nível do direito privado e a forma burocrática da dominação”. 

A  seguir  a  questão  sobre  se  o  Espaço  poderia  ser  racional  é  levantada. 


Primeiramente  ele  deve  ser  visto  como  um  campo  de  ação  instrumental,  mas  aí  uma 
outra  questão  se  levantaria,  seria  a  racionalidade  atributo  da  ação  (racionalidade  no 
Espaço)  ou  um  atributo  dos  objetos  (racionalidade  do  Espaço)?  Mas  na  verdade isso  se 
remeteria  a   problemas  das  epistemologias  que  geram  dualidades  entre  conceitos 
“puros”.  Sendo  o  Espaço  um conceito híbrido, a racionalidade se encontra  tanto  na ação 
como  nos  objetos:  “O  espaço  geográfico  é  um  desses  campos de ação racional. Isso lhe 
vem  da  técnica,  presente  nas  coisas  e  nas ações – o que, ao mesmo tempo, caracteriza o 
espaço  geográfico  em  nossos  dias  e  lhe  atribui  à  condição  de  ser  um  espaço  da 
racionalidade”. 

A  ação  atual,  devido   ao  imperativo  da  competição,  é  sempre  sedenta  por  ter 
efetividade  e  isso  a  obriga  a  produzir  a  racionalidade  do  Espaço.  Para  isso  o  Espaço 
deve  ser  dotado  de   uma  maior  densidade  técnica,  segundo  Gras  (1993)  “quanto  mais 
artificial  o  espaço­tempo,  maior  a  segurança”.  Mas  isso  é  apenas  uma  face  da 
racionalidade  do  Espaço.  A  outra  seria  referente  à  configuração  territorial  e seu arranjo 
que revelam o lado “planejado” do Espaço. 

O  Espaço  racional  é  um  dado  real  da  atualidade.  Sua  artificialidade  busca 
substituir a natureza original, como fala Sorel (1947): 

“torna­se  cada  dia   mais  claro  que   a   ciência  tem  como  objeto  superpor  à 
natureza  um  ateliê  ideal  formado  de  mecanismo  que   funcionam   com   rigor 
matemático,   com  o  objetivo  de  imitar,   com  grande  aproximação,  os 
movimentos que se reproduzem nos corpos naturais”. 

O  mundo  se  torna  preciso,  e   com  isso  mais  matematizado.  O conteúdo técnico do meio 


também o normatiza. Ele vira uma máquina alimentada com informação. 

Mas  a  racionalidade do Espaço tem limites. Na cidade, por sua tecnosfera rígida, 
os  imperativos  da  modernização  atingem  apenas  algumas  de  suas  parcelas.  As  outras 
partes,  desvalorizadas,  viram  o  refugio  das  temporalidades  lentas  e  da   diversidade 
social.  São  os  Espaços  de  irracionalidade.  O  campo  se  torna  especializado  através  das 
monoculturas.  As  solidariedades  geradas  por  essa  horizontalidade  garantem  um 
acontecer  homólogo,  em  que  uma  agregação  em  torno  de uma ação política voltada aos 
interesses comuns é facilitada. É mais uma barreira erguida contra a racionalidade atual. 

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