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FUNDADORAS
Capítulo 1: As Técnicas, O Tempo e o Espaço Geográfico.
No entanto, houve cientistas que souberam trabalhar com as técnicas.
Préhistoriadores, arqueólogos, etnógrafos e tecnólogos seriam alguns deles. Dentro da
Geografia, Maximilien Sorre foi o primeiro a trabalhar claramente com as técnicas,
ainda que seu legado não tenha sido levado adiante. Então, Milton Santos parte para um
exercício intelectual em que tenta estabelecer como esse conceito pode ajudar no
desenvolvimento de uma “explicação geográfica”.
Para o conceito de técnica ser operacional na ciência geográfica ele deve ser
casada com a noção de objeto, sendo um objeto técnico. O conjunto de objetos técnicos
estão
formaria um meio, tendo consciência que estes objetos não apenas em um meio
são
como também o . Não se deve confundir objeto técnico com artificial, já que o
primeiro engloba o segundo assim como inclui os objetos naturais. Milton chama Séris
(1994): “será objeto técnico todo objeto suscetível de funcionar, como meio ou como
resultado, entre os requisitos de uma atividade técnica”. Os objetos técnicos também
devem ser vistos como um sistema, pois estão todos interligados e, por serem um meio,
se impõem ativamente sobre novas adições de objetos, condicionandoos. Por último, as
técnicas e seus objetos não tem valor intrínseco, devem ser vistos em relação a outros
componentes da realidade.
Capítulo 2: O Espaço: Sistemas de Objetos, Sistema de Ação.
De cara Milton Santos já descreve o seu entendimento de Espaço: “o Espaço é
um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”. Mas adverte
contra uma possível ortodoxia marxista, sendo o sistema de objetos e o sistema de ações
diferentes de forças produtivas e de relações de produção, respectivamente.
Apenas a humanidade age e tem uma finalidade, ao contrário da natureza.
Sabido isso, Milton Santos procede para um diálogo com alguns autores para definir a
natureza deste agir. Rogers (1962) diz que um ato é: “1) um comportamento orientado;
2) que se dá em situações; 3) que é normativamente regulado e 4) que envolve um
esforço ou uma motivação.” A ação seria feita de diversos atos e quando agimos
mudamos a coisa e a nós mesmos. Existiriam pelo menos 3 formas de agir: técnico
(interações formalmente requeridas pela técnica), formal (obediência ao formalismo
jurídico, econômico ou científico) e simbólico (não regulada por cálculo, emoção).
Capítulo 3: O Espaço Geográfico, Um Híbrido.
Aqui o elo entre os objetos e as ações é forjado. Milton explica a parte “conjunto
indissociável” do seu enunciado sobre o Espaço.
“[...] os resultados da ação humana não dependem unicamente da
racionalidade da decisão e da execução. Há, sempre, uma cota de
imponderabilidade no resultado, devido, de um lado, à natureza humana e, de
outro, ao carácter humano do meio”.
SEGUNDA PARTE: A PRODUÇÃO DAS FORMASCONTEÚDO
Capítulo 4: O Espaço e a Noção de Totalidade.
Capítulo 5: Da Diversificação da Natureza à Divisão do Trabalho
Milton abre o capítulo falando que a divisão do trabalho (DT) deveria ser mais
explorada na Geografia e ser relacionada com outros conceitos como tempo.
Haveria para Milton Santos dois enfoques para a DT em relação ao tempo. Um
primeiro seria voltado para a evolução das atividades no Espaço conforme o tempo
passa. É um enfoque mais histórico, diacrônico (eixo das sucessões). O segundo, mais
geográfico, é estudar como as diversas DT funcionando em um mesmo momento, de
forma sincrônica.
Cada lugar é uma sobreposição de diferentes DT do passado e presente, isso
constituindo um aspecto da particularidade de cada lugar. Cada agente dentro destas DT
detém uma temporalidade, uma forma de se utilizar o tempo. A junção de todas as
temporalidades particulares de um lugar, região ou país nos dá a
formação
socioespacial
.
As rugosidades também são um aspecto importante a ser levado em conta.
Sendo a DT uma distribuição de recursos, ela não se dá ignorando o preexistente no
Espaço. As rugosidades, ou divisão territorial do trabalho morto, influenciam as
subsequentes divisões do trabalho vivo. É a inérciadinâmica espacial em uma das suas
manifestações: “A atual repartição territorial do trabalho repousa sobre as divisões
territoriais do trabalho anteriores. E a divisão social do trabalho não pode ser explicada
sem a explicação da divisão territorial do trabalho, que depende, ela própria, das formas
geográficas herdadas”.
Capítulo 6: O Tempo (Os Eventos) e o Espaço.
TERCEIRA PARTE: POR UMA GEOGRAFIA DO PRESENTE
Capítulo 7: O Sistema Técnico Atual.
O sistema técnico atual, que é resultado de uma crescente ligação entre as
técnicas e ciência, a tal ponto que esta última vira uma força produtiva, se caracteriza
pela cibernética, pela eletrônica, pelos avanços na telefonia e pelo computador. Seus
objetos mostram artificialidade e racionalidade extrema. O primeiro significa que os
objetos são cada vez mais intencionais e especializados, garantindo que estes cumpram
seus objetivos. O segundo se refere a uma padronização cada vez maior dos objetos e
que eles são acompanhados de um discurso, que pertence aos atores hegemônicos e sua
busca pela maisvalia. A racionalidade é o que faz o atual sistema técnico conhecer uma
difusão nunca vista antes na história, ainda que não seja absoluta. Onde as técnicas
atuais encontram técnicas mais antigas, há a tentativa de substituição por parte das
primeiras, mas quando não possível, é tentada uma integração entre as duas ou o
sistema antigo resiste. Os dois últimos casos acontecem em espaços em que há pouca
divisão do trabalho.
A essência deste novo sistema técnico são as técnicas da informação, já que a
informação é a principal matériaprima atual. Sem ela as outras técnicas deixam de
funcionar em sua plenitude ou totalmente. Isso vale para a organização do trabalho, da
circulação das coisas e do controle do tempo. Quem detém a informação e as suas
técnicas detém o poder. Sabido isto, dois riscos existem. Um é a centralização do poder
em centros que detém as informações, garantindo a estes uma grande influência em
outros lugares do espaço. Outro é o da primazia do tempo das técnicas da informação
sobre o modo de pensar e viver dos indivíduos. Ceder estes aspectos aos computadores
seria ter a nossa capacidade de raciocínio diminuída, pela lógica reducionista dos
eletrônicos, e ter que obedecer a um relógio frenético, típico da repartição do tempo
feita pelas novas técnicas.
Capítulo 8: As Unicidades: A Produção da Inteligência Planetária.
unicidade técnica
As bases da globalização como conhecemos seriam a ,
unicidade do tempo unicidade do motor da vida econômica e social
e a .
A história da técnica até agora é uma história de estreitamento das escolhas. Se
no começo da história em cada lugar existia um sistema técnico seu, com as respectivas
temporalidades, “tantas geografias quanto homens” disse Milton em seu
Por Uma
Geografia Nova
, isso não é mais verdade. O avanço da história vai diminuindo o
número de sistemas técnicos, processo acelerado com o capitalismo, culminando na
unicidade técnica
universalização de um sistema técnico, a . Mas essa unicidade não
significa um sistema apenas: “cada nova família de técnicas não expulsa completamente
as famílias precedentes, convivendo juntas segundo uma ordem estabelecida por cada
sociedade em suas relações com outras sociedades”.
Alguns chegam a admitir que isto é o fim do Espaço e que existe uma aldeia
global, que é prontamente rechaçado por Milton. O fim do Espaço se daria pelo estágio
que a velocidade que os fluxos de pessoas e coisas atingiu. Entretanto, nem tudo e todos
têm acesso a essas velocidades, nem todos os lugares recebem as ações, já que estas são
seletivas, procuram os locais com maiores possibilidades de concretização de seus
objetivos. Temos que o Espaço acaba reforçado. Já a aldeia global prega que todos
teriam acesso as informações que circulam no mundo, formando uma grande aldeia.
Mas a realidade é que poucos atores tem acesso as informações e, assim, as manipulam
a sua vontade.
motor único
Mas o que guia isso? A maisvalia mundial, o , suportada pelos
grandes atores mundiais.
Capítulo 9: Objetos e Ações Hoje. As Normas e o Território.
Neste capítulo Milton Santos faz um apanhado geral sobre as características
atuais dos objetos e ações, mais um adendo sobre normas e território.
Os objetos hoje, além de técnicos, são científicos e informacionais. Científicos
porque antes de serem produzidos materialmente, são projetados intelectualmente antes,
através da ciência. São informação porque realizam atividades precisas e transmitem
informações a outros objetos. Eles não precisam apenas de informação para funcionar,
técnicocientíficosinformacionais
mas como também a são. Por isso são objetos . Além
disso, Milton lista o que considera as principais características dos objetos atuais: (1)
universalidade e autoexpansão (unicidade), (2) vida sistêmica, (3) concretude (funciona
no Espaço em conjunto com outros objetos), (4) conteúdo em informação (descrito
acima) e (5) intencionalidade (concebido essencialmente para um fim, hipertelia).
A eficiência que os objetos e as ações de hoje precisam atingir tem reflexo no
território. Para estarem de acordo com a racionalidade atual, os objetos precisam ser
organizados, enquanto as ações precisam ser normatizadas, tudo isso dentro de um
território: “O território como um todo se torna um dado dessa harmonia forçada entre
lugares e os agentes neles instalados, em função de uma inteligência maior, situada nos
centros motores da informação”.
Capítulo 10: Do Meio Natural ao Meio TécnicoCientíficoInformacional.
Esse meio atual é baseado na ciência, técnica e informação, como coloca Milton:
“[...] a ciência e a tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da
produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu
substrato”. Ele é a manifestação da globalização no Espaço e os atores hegemônicos
dela o modificam para que ele atenda as suas necessidades. Nem o rural escapa, virando
tão artificial quanto à cidade. A circulação ganha mais importância do que a própria
produção, passando a alterar o meio mais que este último. Em termos marxistas, a arena
de produção diminui e sua área aumenta.
Há um paradoxo neste novo meio entre fluidez e fixidez. A necessidade de
fluidez só se dá pela fixidez. Tanto quanto mais fluidez oferece um lugar, mais rígido
ele é pelos grandes aportes de capital fixo: “Na medida em que cada produção supõe
necessidades específicas, o aprofundamento do capital, a sua maior densidade e a sua
mais alta composição orgânica criam condições materiais sempre mais rígidas para o
exercício do trabalho vivo”. Sem o capital fixo, não temos o fluido, a troca, o
alargamento dos contextos.
Capítulo 11: Por Uma Geografia das Redes.
O capítulo inicia com Milton Santos discutindo as concepções de rede de
diversos autores. Existem duas principais, a primeira focada nos aspectos materiais e a
segunda no conteúdo social, além da própria materialidade. Honrando o “conjunto
indissociável” Milton adere a segunda concepção.
O estudo das redes envolveria 2 métodos, que devem ser unidos segundo Milton.
Genético: focado na evolução histórica, diacrônico. Atual (estrututal?): estudos
estatísticos das quantidades e qualidades técnicas, relações com a sociedade, regulação,
sincrônica. As noções de
tempos rápidos e
tempos lentos também devem ser incluídas
nos estudos. O rápido e o lento são relativos, dependendo de como cada agente se utiliza
o tempo social em cada lugar. Apenas devemos ter em mente que esses tempos se
misturam em cada subespaço, não havendo homogeneidade .
Pelas redes podemos reconhecer 3 tipos de solidariedade: uma mundial, uma
nacional e um local. Mundial: o mundo aparece como uma totalidade, empírica pelas
redes. Nacional: totalidade feita por um “contrato” e delineada por fronteiras. Vem se
enfraquecendo pelas redes mundializadas, ainda que o Estado seja importante. Local:
“é a terceira totalidade, onde fragmentos da rede ganham uma dimensão
única e socialmente concreta, graças à ocorrência, na contiguidade, de
fenômenos sociais agregados, baseados num acontecer solidário que é fruto
da diversidade e num acontecer repetitivo, que não exclui a surpresa”.
Não apenas solidariedades, as redes podem ser poder. Sendo a divisão do trabalho uma
hierarquia entre lugares, são nas redes que essa hierarquia se revela, através de relações
assimétricas. As redes exprimem diversas dialéticas e o global e o local não escapam. O
Global coordena as ordens que serão dadas ao local, a ação política, a verticalidade,
enquanto o local detém certa autonomia perante o global porque é quem realiza a
produção, tem o controle da técnica, a horizontalidade, e essa relação se dá através das
redes.
O imperativo da competitividade se traduz na crescente busca pela fluidez, e esta
só se dá pelas redes. As empresas e o poder público se unem para poder produzir a
fluidez e técnicas para a garantilas. Mas a fluidez não se dá apenas pelas técnicas, o
política também influi na questão. As normas são muito necessárias para o
funcionamento da fluidez, como visto no capítulo 9. Milton sobre a “desregulação” que
marca o período atual: “[...] a desregulação não suprime as normas. Na verdade,
desregular significa multiplicar o número de normas”.
Milton utiliza o final no capítulo para elucidar alguns outros aspectos dessa
articulação das redes com a teoria geográfica. Primeiro separa a expectativa de fluidez
do seu uso. A fluidez só se concretiza quando utilizada e nem todos os agentes tem
acesso a ela, sendo para estes apenas uma expectativa. Segundo é que a fluidez necessita
do fixo, reforçando o capítulo 10. E por último, retomando o capitulo anterior
novamente, a efetividade das redes está diretamente relacionada com a diminuição da
arena de produção e o aumento de sua área.
Capítulo 12: Horizontalidades e Verticalidades.
O capítulo começa com uma revisão de diversos significados atribuídos as
horizontalidades e verticalidades. Milton define que a horizontalidade é pontos sem
descontinuidade, o que está diretamente relacionado com a produção, uma coerência
funcional. A verticalidade é pontos descontínuos, relacionado com circulação,
distribuição e consumo, uma hierarquia. A horizontalidade pode ser vista como uma
força centrípeta, que gera uma coesão entre campo e cidade e uma homogeneidade na
própria cidade ou no campo. A verticalidade é comparável a uma força centrífuga, pois
está relacionada ao afastamento de elementos e uma subsequente reestruturação da
ordem local.
Capítulo 13: Os Espaços da Racionalidade.
A ação atual, devido ao imperativo da competição, é sempre sedenta por ter
efetividade e isso a obriga a produzir a racionalidade do Espaço. Para isso o Espaço
deve ser dotado de uma maior densidade técnica, segundo Gras (1993) “quanto mais
artificial o espaçotempo, maior a segurança”. Mas isso é apenas uma face da
racionalidade do Espaço. A outra seria referente à configuração territorial e seu arranjo
que revelam o lado “planejado” do Espaço.
O Espaço racional é um dado real da atualidade. Sua artificialidade busca
substituir a natureza original, como fala Sorel (1947):
“tornase cada dia mais claro que a ciência tem como objeto superpor à
natureza um ateliê ideal formado de mecanismo que funcionam com rigor
matemático, com o objetivo de imitar, com grande aproximação, os
movimentos que se reproduzem nos corpos naturais”.
Mas a racionalidade do Espaço tem limites. Na cidade, por sua tecnosfera rígida,
os imperativos da modernização atingem apenas algumas de suas parcelas. As outras
partes, desvalorizadas, viram o refugio das temporalidades lentas e da diversidade
social. São os Espaços de irracionalidade. O campo se torna especializado através das
monoculturas. As solidariedades geradas por essa horizontalidade garantem um
acontecer homólogo, em que uma agregação em torno de uma ação política voltada aos
interesses comuns é facilitada. É mais uma barreira erguida contra a racionalidade atual.