You are on page 1of 4

Universidade Federal do Vale do São Francisco

Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido


Dinâmicas e Complexidades do Desenvolvimento Regional Rural e Territorial

CORDEIRO NETO, José Raimundo; ALVES, Christiane Luci Bezerra. Ruralidade no


vale do submédio São Francisco: observações a partir da evolução econômica
do polo Juazeiro‐BA ‐ Petrolina‐PE. Revista Interfaces em Desenvolvimento,
Agricultura e Sociedade (IDEAS). Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 324‐361, jul/dez. 2009.

CORDEIRO NETO, José Raimundo; COSTA JÚNIOR, Manoel Pedro. Centralidades


urbanas em territórios rurais: uma primeira abordagem para os estados de
Ceará e Pernambuco. RDE-Revista de Desenvolvimento Econômico, 13(23), 2011.

O artigo explora a questão da ruralidade no Vale do Submédio São Francisco,


que agrupa municípios do interior baiano e pernambucano, dotada de uma economia
sustentada por sua aptidão agrícola e, mesmo sendo cidades com crescimento
acelerado é perceptível a ruralidade pela presença do Rio São Francisco,

É notável a dificuldade de superar a visão dicotômica de rural e urbano. A


ciência social teve uma participação importante nesta segmentação, uma vez que
considera o rural como subordinado ao urbano. O Brasil passa por uma forte
urbanidade desde meados do século XX, grande parte em virtude do êxodo rural.
Entretanto, seria uma ilusão acreditar na completa urbanização brasileira, partindo do
pressuposto que toda e qualquer sede de município seria considerada área urbana,
segundo a Constituição, superestimando a população urbana e, assim, podemos dizer
que o Brasil é menos urbano do que se calcula.

Abramovay, em 2000, escreveu que “a ruralidade não é uma etapa do


desenvolvimento social a ser superada com o avanço do progresso e da urbanização.
Ela é e será cada vez mais um valor para as sociedades contemporâneas”.

Na Europa, este conceito antigo dual de urbano e rural vem perdendo força,
dando lugar as denominações de região essencialmente urbanizada, região
essencialmente rural e relativamente rural.

Os desafios modernos para o desenvolvimento requerem que não esteja


associado ao dual rural-urbano, quando surge o rurbano que indica dizer que o rural
está fortemente ligado ao urbano. No Brasil esta questão está diretamente associada
2

ao Nordeste, que exige o tratamento integrado dos seus espaços urbanos e rurais.
Manuel Correia de Andrade, em 1922, já falava sobre o avanço na modernização da
região, com os vetores de aumento de: aumento da utilização de políticas públicas;
avanço no setor de serviços e turismo; e o crescimento urbano e infraestrutura
estreitando a relação da cidade com o campo.

Na região do Vale do submédio São Francisco está imerso nas questões que
envolvem a Região Nordeste, se destacando na sua ruralidade em âmbito nacional.
E, vale salientar que, mesmo sabendo-se que na área rural há uma população maior
do que a oficialmente registrada no Brasil, ainda se chega ao número de 20%, o que
não é desprezível. No Nordeste este número se acentua para 30%, que contrasta com
os menos de 10% do Sudeste.

Nos estudos do IPEA é possível identificar a disparidade social da zona urbana


e rural no que tange a rendimento médio mensal, com destaque para o Nordeste, que
possui os piores números. Também no Nordeste fica evidente a ruralidade entre os
anos de 1991 e 2000, além do déficit em desenvolvimento social e econômico em
relação ao restante do país. Com estes números tornou-se alvo da intervenção do
governo desde o século passado com a criação de estatais na tentativa de diminuir
estes problemas. Dentre as intervenções, a que teve mais impacto foi a implantação
da agricultura irrigada no Vale do São Francisco, especialmente no polo Juzeiro-BA -
Petrolina-PE.

A evolução da Agricultura Irrigada nesta região do Vale é dividida em 4


períodos:

1 - O embrionário, nesta época a irrigação era amadora sem fins


comerciais, já que a pecuária era a principal atividade econômica. Neste
período teve a ampliação medíocre, já que as plantações eram feitas apenas
pelos proprietários de terras. Neste período, houve uma grande evolução na
infraestrutura;

2 – Criação da CODEVASF, BNB e SUDENE incentivaram a criação de


um complexo agroindustrial trazendo investimento de outras regiões para o
Vale;

3 – Crise no estado, causando desordem no padrão de financiamento


para agricultura, leva a crer que o sistema de agroindústria que está sendo
3

proposto seria inviável. Os produtores que conseguiram sobreviver partem para


o cultivo de manga e uva com meta inicial de comércio para o mercado interno,
no centro-sul do país. Com o mercado interno em recessão, as empresas
fizeram grandes esforços, incentivado pelo Estado, para fazer exportação, daí
criou-se a associação VALEXPORT;

4 – Plano Real, estabilização da economia e controle cambial tornou o


mercado interno mais atraente, fazendo com que se consolide neste mercado,
o que não significa dizer que as exportações tinham cessado.

Diante destes fatos históricos, o crescimento demográfico dos municípios


irrigados foi de 2,19% ao ano, enquanto nos municípios não-irrigados foi de apenas
0,48%, ficando evidente também quando se compara a renda per capita, não tendo
mudança significativa, portanto no índice de desenvolvimento urbano.

O território destacado no artigo apresenta elementos de ruralidade que para


que seu desenvolvimento ocorra sob o enfoque da integração rural-urbano, baseada
na valorização dos seus recursos ambientais e atributos ecológicos, superando os
problemas sociais e econômicos.

Em relação ao mercado de trabalho, comparando-se os municípios de Juazeiro


e Petrolina, entre os anos de 1990 e 2000, observa-se que houve um decréscimo no
primeiro referente aos empregos na área da construção civil, contrariando o
crescimento em Petrolina. No setor do comércio é diferente, houve uma elevação nos
postos de trabalho em Juazeiro, enquanto no município Pernambucano houve
decréscimo. O destaque, entretanto, está na agropecuária, que se torna o segundo
maior empregador tanto em Juazeiro como em Petrolina, enquanto o ramo de serviço
lidera em ambos os municípios, mesmo estando em declínio, com tendência de ser
ultrapassado pela agropecuária. Estes dados apontam um indicador aproximado de
ruralidade territorial, com a evolução da participação da agropecuária, em paralelo
com a construção civil, serviços, administração pública e comércio.

Analisando do ponto de vista de crescimento da população por condição de


domicílio dividida entre rural e urbana, o percentual da população urbana manteve-se
crescente sobre tudo em Petrolina, por ser o município mais populoso, tendendo ao
aumento da taxa de urbanização. Importante associar com o mercado de trabalho
cada vez mais rural associando os contextos campo-cidade.
4

O artigo evidenciou a necessidade do planejamento de territórios,


demonstrando foco no polo Juazeiro-BA – Petrolina-PE. Assim, não podemos ver de
forma dicotômica o rural e urbano, pois estes mantêm relações cada vez mais
intensas. Foram analisados os dados da ocupação formal da mão de obra com análise
nos últimos dez anos do século XX. Mostrou-se que o comportamento da população
residente na área urbana em paralelo com os postos de trabalho na área rural, fazendo
as pessoas a residirem nos perímetros das cidades. Ele destaca que deve ser
continuado este tipo de pesquisa de acompanhamento de crescimento da região e
detalhar melhor o local de residência do trabalhador do campo, indicando que as
instituições voltadas para o desenvolvimento desta região devem focar para políticas
tanto rurais quanto urbanas ao mesmo tempo.

You might also like