O documento resume os principais pontos da obra de Maquiavel "O Príncipe" e da filosofia política de Thomas Hobbes. Maquiavel analisou o Estado de forma realista, rejeitando idealismos, e viu a ordem como algo construído pelos homens. Hobbes via os homens no estado de natureza como em constante conflito, daí a necessidade de um poder soberano absoluto para garantir a paz por meio de um contrato social.
Original Description:
Fichamento do livro "Os Clássicos da Política I", organizado por Francisco Weffort.
O documento resume os principais pontos da obra de Maquiavel "O Príncipe" e da filosofia política de Thomas Hobbes. Maquiavel analisou o Estado de forma realista, rejeitando idealismos, e viu a ordem como algo construído pelos homens. Hobbes via os homens no estado de natureza como em constante conflito, daí a necessidade de um poder soberano absoluto para garantir a paz por meio de um contrato social.
O documento resume os principais pontos da obra de Maquiavel "O Príncipe" e da filosofia política de Thomas Hobbes. Maquiavel analisou o Estado de forma realista, rejeitando idealismos, e viu a ordem como algo construído pelos homens. Hobbes via os homens no estado de natureza como em constante conflito, daí a necessidade de um poder soberano absoluto para garantir a paz por meio de um contrato social.
Universidade Federal do Acre, como requisito parcial à obtenção de nota na matéria de Teoria Política. Orientador: Prof. Me. Leonardo Cunha de Brito
RIO BRANCO - ACRE
2019 WEFFORT, Francisco C. Os clássicos da Política, I. São Paulo: Ática, 14.ed., 2011.
● Nascido no dia 3 de maio de 1469, em Florença, na Itália, que se encontrava
em um período de instabilidade, Maquiavel vivenciou, na sua infância e adolescência, em meio a invasões e separações internas, a desordem e a instabilidade política. Somado ao exposto, começou uma vida política ativa tardiamente e de forma conturbada por conta das disputas de poder; chegando, ainda, a ser torturado e preso, fatos que tornaram inúteis suas tentativas de voltar à administração pública. Diante a esses fatores, desistiu da vida pública e dedicou-se aos estudos, o que acarretou na criação de sua grande obra, O Príncipe, a partir da qual “a vida de Maquiavel é marcada por uma contínua alternância de esperanças e decepções” (p. 15). Morreu desgostoso, pois por todos era identificado como inimigo, e morreu em junho de 1527 ● Maquiavel estudou e falou sobre o Estado diferentemente dos filósofos clássicos, rejeitando o idealismo e buscando a verdade concreta das coisas. “Esta é sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse” (p.15). Buscou resolver o problema dos ciclos inevitáveis de caos e estabilidade através de uma indagação radical, pondo fim à ideia de ordem natural e eterna. A ordem, na verdade, deve estar em constante mudança, como os homens estão, porque é provável que surja uma ameaça. “A ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie e, uma vez alcançada, não será definitiva, pois há sempre [...] a ameaça de que seja desfeita” (p.16) ● O homem tem por natureza, segundo o autor em questão, traços imutáveis que os quais colaboram para que os conflitos e a anarquia aconteçam. A avidez, a luxúria, a covardia, a avidez por lucro, enfim: as paixões humanas geram acontecimentos que ficam marcados para sempre na história. E, justamente por causa dessa característica, deve-se estudar o passado, pois serve para “extrair as causas e os meios utilizados com a finalidade de enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana” (p.17). Por consequência à própria malignidade humana, nasce o poder, o qual deve ser usado para conflitos, apesar de que “a perversidade das paixões humanas sempre voltam a se manifestar, mesmo que tenham se mantido adormecidas por algum tempo”. (p.17) ● Devido à natureza imutável dos homens, a disputa pelo poder se torna inevitável a disputa pelo poder. Duas forças opostas, portanto lutam entre si: “uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de querem os grandes dominar e oprimir o povo” (O príncipe, cap. IX). Dessa forma, deve-se encontrar, então, mecanismos os quais imponham paz nas relações, a fim de que não resultem em uma anarquia. A este sistema há duas soluções, o Principado e a República. Se a sociedade está em um péssimo estado, corrupta e deteriorada, escolhe-se a primeira, pois “o príncipe [...] é, mais apropriadamente, um fundador do Estado, um agente de transição numa fase em que a nação se acha ameaçada de decomposição” (p. 18) ● Tudo essa conceituação aconteceu em um período de ascensão do cristianismo; portanto, dominava o pensamento de predestinação. O homem é vítima da providência divina, que seu escolhe seu destino. “O poder, a honra, a riqueza ou a glória não significam felicidade. Esta não se realiza no mundo terreno” (p.18). Entretanto, para Maquiavel, a virtude cristã não é válida quando se trata da política: o homem de virtú, capacidade de dominar e manter-se no poder, pode conseguir os bens relacionados à fortuna, como a honra ou a glória, e por eles luta. Sendo assim, o príncipe não deve se compor tão somente de força bruta, mas uma força proporcional e capaz de manter seus domínios. Logo, em domínios recentes, cujo governo é tomado como novo, ela faz-se mais necessário; agora, quando se trata daqueles que estão há longo tempo sob seu domínio, não se faz tão necessária assim. “Maquiavel sublinha que o poder se funda na força, mas é necessário virtú para se manter no poder; mais nos domínios recém adquiridos do que naqueles já há longo tempo acostumados ao governo de um príncipe e sua família” (p.19) ● Em um principado, busca-se facilitar o domínio. Criam-se, então, boas leis, instituições, bom exército, pois, sem eles, um rival poderá impor-se e “destes constrangimentos não escapam nem mesmo os principados hereditários que pareciam a princípio tão seguros”. (p.19). O governante deve se mostrar capaz de resistir aos inimigos e aos acontecimentos mais imprevistos. Deve, pois, “guiar-se pela necessidade - aprendes os meios de não ser bom e a fazer ou não o uso deles, conforme as necessidades. Entretanto, deve apresentar características apreciados pelo governados, a fim de ganhar apoio. O que conta, acima de tudo, é vencer as dificuldades e manter-se no poder. ● Thomas Hobbes é um contratualistas, filósofos da Idade Moderna os quais afirmavam que “a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato [...]” (p. 43). Dessa forma, anteriormente ao estabelecimento de tal contrato, não havia organização política e social. Os homens encontravam-se sem poder e no seu estado de natureza; que, vale lembrar, para Hobbes não é um estado selvagem. É, na verdade, o mesmo de hoje e sempre, pois, para ele, “a natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social” (p. 44). Dessa forma, ela garante que os indivíduos sejam tão iguais ao ponto de que nenhum possa triunfar completamente sobre outro. Enquanto um é mais inteligente, o outro é mais forte; um é mais calmo, o outro é mais impulsivo, e assim sucessivamente. Por conseguinte, por desconhecerem os desejos de seus vizinhos, “decorre que geralmente o mais razoável é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para evitar um ataque possível” (p. 45). Assim inicia-se a guerra entre os homens. ● Portanto, gera-se a necessidade de um poder comum, que tome as rédeas do poder e controle os homens, a fim de que vivam em paz. Segundo Hobbes (1651, p. 74-6): “com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra [...]” (apud WEFFORT, 2011, p. 46). Os seres humanos têm por características desejos e paixões, cuja repreensão é restrita à proibição de tais. Porém, só é possível que se haja proibição por lei; entretanto, ela deve ser criada; e só pode ser criada a partir do momento em que se escolhe alguém para fazê-la. ● Diante dessa perspectiva, Hobbes deduz que, quando no estado de natureza, o homem tem direito a tudo, pois nada o limita e nada o protege. De acordo com ele (1651, p. 6),” o direito de natureza é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza” (apud WEFFORT, 2011, p. 47-8). É, logo, de caráter opcional: tem-se o direito, não a obrigação. Se todo homem possui direito a fazer tudo que queira, nenhum homem possui direito a nada; pois todos teriam acesso a tudo, inclusive aos corpos individuais, e nada seria respeitado. Para pôr termo a esse conflito, Hobbes cita que há uma base jurídica para isso, definida por lei de natureza, que, ao contrário do direito, é obrigatória: o homem é proibido de destruir sua vida ou de se privar de meios para defendê-la. Tem-se, portanto, a primeira lei da natureza: buscar a paz. Quando esta não é possível, e faz-se necessária a guerra, por violação de lei ou direito, o homem é livre para dispor de todos os meios que puder para se defender. ● Contudo, um ordenamento jurídico não basta. É preciso, além dos dedos para apontar o que é errado, o punho para punir aqueles que insistem em violar as regras. As leis, sozinhas, nada fazem; as mesmas, no entanto, possuem efetivo poder quando acompanhadas de alguém que imponha temor, garantindo respeito às leis. Há de se conseguir, então, que os homens respeitem e confiem naquele que impõe as leis; o que é importante, à medida que a população abdicará de sua própria força para garantir estabilidade e paz. “Mas o poder do Estado tem que ser pleno [...] no Estado deve haver um poder soberano, isto é, um foco de autoridade que possa resolver todas as pendências e arbitrar qualquer decisão” (p. 50). O Estado, estabelecido por contrato, torna-se, destarte, numa pré-condição para a existência da sociedade. ● Tradicionalmente, os contratualistas distinguem os contratos: o associativo, pelo qual se forma a sociedade e; o de submissão, pelo qual submete-se a sociedade ao Estado. “A novidade de Hobbes está em fundir os dois num só” (p. 51). Tendo em vista que o governo surge para que os homens vivam em paz, o governante deve ter poderes ilimitados, isto é, absolutos; pois, se a alguém é atribuída a função de julgar o governante, este é menor que esse. Resulta-se, então, que o soberano é alheio a compromissos e isento de obrigações. ● No modelo contratualista de Hobbes (1651, p. 107-9, apud WEFFORT, 2011, p. 51-3): “Em primeiro lugar, na medida em que pactuam, deve entender-se que não e encontram obrigados por um pacto anterior a qualquer coisa que contradiga o atual (...) Em segundo lugar, dado que o direito de representar a pessoa de todos é conferido ao que é tornado soberano mediante um pacto celebrado apenas entre cada um e cada um (...) não pode haver quebra da parte do soberano, portanto nenhum dos súditos pode libertar-se da sujeição (...) Em terceiro lugar (...), se a maioria escolher um soberano, os que tiverem discordado devem passar a consentir juntamente com os restantes (...) Em quarto lugar, dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça (...) Em quinto lugar (...) aquele que detém o poder soberano não pode justamente ser morto, nem de qualquer outra maneira pode ser banido por seus súditos. “ ● Entretanto, onde se encaixaria a igualdade? E a liberdade? A primeira, como visto anteriormente, é o fator originador da guerra entre os homens. Por estarem em igualdade de poder, conflitam entre si, a fim de garantir a sobrevivência; quando, então, abdicam dessa igualdade para garantirem a paz entre todos, abdicam, juntamente, do estado de igualdade. A segunda, entretanto, é restrita, tendo em vista que o soberano pode fazer o que quiser, pois ele representa a vontade de seus súditos, porque estes o tornaram soberano; por causa disso, qualquer ação do soberano é também do súdito, não cabendo a ele liberdade alguma senão aquela que o soberano concede. Porém, quando o governante não garante a paz, isto é, não protege a vida de determinado homem, este - e somente este -, tem a liberdade de revoltar-se contra o soberano, “porque desapareceu a razão que levava o súdito a obedecer.” (HOBBES,1651, p. 133, apud WEFFORT, 2011, p. 55) ● Por consequência, tem-se um Estado pautado no medo, que é capacidade do soberano de manter temerosos os súditos, com a finalidade de que não se revoltem contra ele; por causa que, sem isso, “ninguém abriria mão de toda a liberdade que tem naturalmente (...)” (p. 55). Vale ressaltar que não medo não é terror. Este dava-se no estado de natureza, através do qual não se era possível dizer se alguém é amigo ou inimigo; pessoa de bem ou criminosa, porque não havia linhas gerais que delimitavam o comportamento. Assim, “o indivíduo bem-comportado dificilmente terá problemas com o soberano” (p.55). As propriedades, como tudo na forma de governo em questão, também são do Estado, com o propósito de que não haja brigas entre os homens. (...) “todas as terras e bens estão controlados pelo soberano” (p. 56). Ainda que os súditos possam excluir os outros súditos de fazerem usufruto de sua própria terra, não podem eles impedirem o soberano. Elas são distribuídas pelos soberanos, mas devem seguir a razão a que todos compactuam: a busca pela paz e integridade. ● Hobbes, como Rousseau e Maquiavel, foi e é considerado um dos pensadores malditos da história; principalmente porque negou, como os outros, o direito natural e sagrado do indivíduo à propriedade privada. ● John Locke, filósofo, nasceu no ano de 1632 e morreu no ano de 1704. Presenciou, em grande parte da sua vida, conflitos decorrentes das Revoluções na Inglaterra, que enfrentava um momento de instabilidade política. “O século XVII foi marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento, controlados, respectivamente, pelo dinastia Stuart, absolutista, e a burguesia ascendente, liberal” (p. 64). A essa rivalidade misturou-se a crise econômica, gerada pela concessão de monopólios por parte da Monarquia. A primeira Revolução foi a Puritana, que teve por consequência a Execução de Carlos I e a implantação da república. Inicia-se então a Ditadura de Crownwel, a qual transformou a Inglaterra numa potência. Até que, após sua morte, o país é envolvido numa imensa crise, cuja solução foi a volta da Monarquia. Com ela, voltam também os conflitos. A Segunda Revolução foi a Gloriosa, que resultou na instauração da Monarquia Parlamentarista ● Por questões políticas, Locke teve de se isolar na Holanda, d’onde voltou somente após a queda de Jaime II. É conhecido por, além de defensor da liberdade e da tolerância religiosa, fundar o empirismo, segundo o qual o conhecimento deriva da experiência. De forma crítica às ideias inatas, defendidas por Platão e retomadas por Descartes, teoriza que o homem é uma tábula rasa, que só é preenchida a partir da experiência. “Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida? (...) a isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado e dela deriva (...)” (LOCKE, 1689, Livro II, cap. I, sec. 2, apud WEFFORT, 2011, p. 66). ● A fim explicar o governo civil, lançou dois tratados: o primeiro, que se trata de uma refutação do Patriarca, tese defensora do direito divino dos reis, que explica que os monarcas são os descendentes de Adão, o primeiro de todos os reis, e, por isso, são descendentes legítimos do poder outorgado por Deus. No Segundo, por sua vez, Locke busca explicitar a origem, extensão e objeto do governo civil, atribuindo ao consentimento dos governados é a única fonte de poder legítima. Através desses tratado, destacando-se o Segundo, marcou a história do pensamento político. ● Como os outros contratualistas, ele é um dos principais representantes do direito natural. Da mesma forma que Hobbes, Locke parte também do estado de natureza; este, entretanto, é diferente do hobbeano, pois especifica cada componente do poder de uma outra forma. Para o autor em questão, os indivíduos surgem antes da sociedade e do Estado, em condição de igualdade e liberdade perfeitas. Por conseguinte, a existência da propriedade privada surge antes do Estado e deve ser por ele protegida, pois, apesar de o estado de natureza produzir condições de igualdade e liberdades perfeitas, não está isento de inconvenientes, os quais colocam indivíduos em guerra uns contra os outros. Tal conflito leva os homens a “estabelecerem livremente entre si o contrato social, que realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil” (p. 68). ● Após a instituição de um Estado, através do livre consentimento, os homens devem buscar uma forma de governo. A unanimidade do consentimento passa, agora, à força da maioria, que deve respeitar os direitos da minoria. Entretanto, independentemente da forma de governança, todas devem proteger a propriedade privada das pessoas individuais; cabendo, caso contrário, o uso da doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal do poder, isto é: o povo tem por direito reagir a governos que violam a sua função social, resultando disso a volta ao estado de natureza. ● Montesquieu, junto a sua obra, é um dos filósofos fundamentais para a transformação da ciência política. Popularmente conhecido como aquele que desenvolveu a teoria dos três poderes, “não tem como objetivo de reflexão política a restauração do poder de sua classe, mas sim como tirar partida de certas características do poder nos regimes monárquicos, para dotar de maior estabilidade os regimes que viriam a resultar das revoluções democráticas” (p. 88) ● Buscou descobrir os motivos de decadência dos regimes monárquicos, ao mesmo tempo que objetivou descobrir o mecanismo que garantiu sua permanência por tanto tempo; que, para Montesquieu, é a moderação. A busca das condições de possibilidade de um regime estável está presente em dois aspectos da obra de Montesquieu: a tipologia dos governos e a tripartição dos poderes. Para entendê-los, é necessário compreender a concepção de lei em Montesquieu. ● Até Montesquieu, a noção de lei era composta de três dimensões: ordem natural, da vontade de Deus; a do dever-ser, voltando-se à finalidade divina; conotação de expressão da autoridade. Eram legítimas e ideais. Montesquieu, “definindo lei como relações necessárias que derivam da natureza das coisas” (p. 89) rompe com a tradicional submissão da política à teologia. Diz ele que é possível encontrar uniformidades, como nas leis físicas, nas leis que regem os costumes e as instituições humanos, que derivam da natureza das coisas. Com esse conceito, “Montesquieu traz a política para fora do campo da teologia e da crônica, e a insere num campo propriamente teórico” (p. 90). As leis, conforme o autor, são relações que derivam da interação entre as classe em que se divide a população. Ele “tenta explicar as leis e instituições humanas, sua permanência e modificações, a partir de leis da ciência política (p. 90). ● O contrato social, ao romper com o estado de natureza, deve garantir a ordem social e paz, de forma a evitar a anarquia ou o despotismo. A sociedade comporta uma variedade imensa de formas de realização das formas de governo. Contudo, essa quantidade considerável não se dá somente pela natureza das instituições políticas, mas sim pela maneira como elas funcionam. “Assim, ele vai considerar duas dimensões do funcionamento político das instituições: a natureza e o princípio de governo” (p. 90). A primeira diz respeito a quem tem o poder - na monarquia, o monarca; na aristocracia, a nobreza; no despotismo, o déspota. A segunda trata-se do modo de funcionamento, isto é, como o governo é exercido. Na monarquia, a honra; na república, a virtude; no despotismo, o medo. ● Em um governo cujas paixões da nobreza são desenfreadas, somente a busca pela honra poderia torná-las um bem público. Porém, “o governo de um só, baseado em leis fixas e instituições permanentes, só pode funcionar se esses poderes intermediários orientarem sua ação pelo princípio da honra” (p. 91). Por ser nada mais “(...) do que o espírito cívico, a supremacia do bem público sobre os interesses particulares (...)”, (p. 91) a virtude torna-se o princípio da república. Em um tipo de poder que não possui estruturas que podem fazer oposição, fora o povo, a prevalência do interesse público faz-se mister para a moderação do poder; contudo, justamente por isto é frágil: porque depende da virtude dos homens. A Monarquia, entretanto, não precisa disso: ela possui a divisão de poderes em si mesma, que contêm uns aos outros naturalmente. “Essa capacidade de conter o poder, que só outro poder possuir, é a chave da moderação dos governos monárquicos” (p. 92). O Despotismo necessitaria apenas da articulação do medo ● Montesquieu, em sua teoria de tripartição, buscou encontrar aquilo que garantia estabilidade à monarquia e tratar como chave para o sucesso dos poderes. A tripartição dos poderes tratava-se, pois, de “encontrar uma instância independente capaz de moderar o poder do rei (do executivo)” (p. 93). Não se trata, então, da independência dos poderes, de forma que eles não se relacionem, mas sim de uma correlação de forças, a qual busca barrar o abuso do poder por todas as suas instâncias. “(...) a estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar também nas instituições políticas (...)” (p. 93). Todas as instituições políticas, desde o povo até o executivo, devem ter a capacidade de impedirem-se umas às outras - e seria esta a chave para a estabilidade num governo. ● Nascido em Genebra, Rousseau foi um dos grandes filósofos do século das luzes, os quais diziam que a difusão do saber seria o meio mais eficaz para pôr fim ao senso comum, à opinião, à ignorância. Ganhou papel de destaque “ao propor o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para a sua libertação” (p. 148). Apresenta, em seu livro Discurso sobre a desigualdade a história hipotética da humanidade, isto é, uma história que se desenvolve por raciocínios lógicos, que “culmina com a legitimação da desigualdade, quando o rico apresenta a proposta do pacto” (p. 149). Para Rousseau, homens ambiciosos e com características dominante ofereçam aos mais grosseiros determinado pacto, em tese garantidor da paz e da liberdade, mas que trouxe somente a desigualdade, a servidão e a miséria - e daí surge o contrato social. Diante ao exposto, ele busca encontrar as “condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil.” (p. 150). ● O primeiro passo para a legitimação do contrato é “(...) a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda (...)” (ROUSSEAU, 1762, apud WEFFORT, 2011, p. 150). Portanto, quando todos os homens estiverem em condição de igualdade plena, assim será possível dar-se o processo, corretamente, do pacto social; pois, segundo Rousseau, com todos iguais, ninguém se interesse em se sobressair. Após isso, surgirá um corpo soberano, o qual é o único que pode determinar o modo de funcionamento da máquina política. O povo, então, torna-se “agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece às mesmas leis” (p. 150). Dessa forma, nota-se uma população que, em estado igual, criou leis para ela mesmo seguisse, e é justamente isso que, para o filósofo em questão, é a liberdade. É “uma submissão à vontade geral e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos” (p. 150). ● Entretanto, essa legitimidade não é permanente, podendo acabar a partir do momento em que a vontade particular sobreponha-se à geral. Assim, faz-se necessário que ela se reinvente, de forma a permanecer o máximo de tempo possível. Os fins da constituição da comunidade devem ser atingidos e para isso surge o governo, que é nada mais que um corpo administrativo, submisso ao soberano e por este limitado. Rousseau atenta, também, à tendência desse corpo de subjugar o povo: (...) em relação ao executivo, por sua tendência a agir contra a autoridade soberana, não se deve descuidar dos representantes, cuja tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam (...) (p. 151). ● 4 anos após a Independência dos Estados Unidos, teve início uma convenção federal que elaborou uma nova constituição para os EUA. O Federalista é fruto de vários ensaios, publicados em jornais, publicados com o objetivo de contribuir para a criação de tal constituição. Os autores dessa obra são três: Alexander Hamilton, que contribuiu com 51 artigos escrito; James Madinson, que contribui com 29 e; John Jay, que contribui apenas com 5, devido a problemas de saúde. Nesses artigos, “(...) os autores explicitam a teoria política a fundamentar o texto constitucional.” (p. 187), deixando-se de lado, assim, os exemplos da Antiguidade e iniciando-se uma teoria contemporânea. ● Segundo Hamilton, “a única forma de criar um governo central, que realmente mereça o nome de governo, seria capacitá-lo a exigir o cumprimento das normas dele emanadas” (p. 188), fato que não ocorria nos EUA, pois, apesar de estarem presentes as normas constitucionais, o Congresso não as efetivava, pois não tinha poder para isso. A União, portanto, não deve somente estender aos Estado, como dizia o sistema então vigente, mas também aos indivíduos. Propõe-se, logo, uma nova forma de governo, o Federativo, no qual o governo central relaciona-se às pessoas individuais. “(...) enquanto em uma confederação o governo central só se relaciona com Estados, cuja soberania interna permanece intacta, em uma Federação esta ação se estende aos indivíduos, fazendo com quem convivam dois entes estatais de estatura diversa (...)” (p. 188). A União, um Estado grande, faria com os Estados Pequenos não brigassem entre si, evitando conflitos e a necessidade de um poderio bélico-militar muito alta. ● Para Hamilton, o fato de os homens serem “ambiciosos, vingativos e rapaces” (HAMILTON e col, 1787, n. 6, apud WEFFORT, 2011, p. 189) é a justificativa para a criação do Estado e de controle sobre os detentores de poder. O poder não é comandado por outro seres que não sejam os humanos. Dessa forma, pelo Estado ser controlado por homens e feito para controlá-los, deve-se ensinar o governante a “(...) controlar o governado e, depois, obrigá-lo a controlar-se a si mesmo.” (p. 189). O homem, quando possui poder, tende a abusar dele, portanto “a limitação do poder, dada esta sua natureza intrínseca, só pode ser obtida pela contraposição a outro poder, isto é, o poder freando o poder” (p. 189). Isto se justificava como uma forma de se evitar a tirania, onde todos os poderes estão concentrados nas mesmas mãos. “No Entanto, um equilíbrio perfeito entre estas forças opostas, (...), não encontra lugar em um governo” (p. 188-9). Haverá sempre um poder mais forte e, para ele, este é o Legislativo, que dita as leis e os comportamento; seguido do executivo, que as executa e; por fim, o Judiciário, que depende do entendimento e da aplicação dos outros. ● O homem, justamente por causa de sua natureza, desenvolve opiniões diversas e, comumente, contrárias umas às outras. Decorre disso o surgimento de facções, reunião de pessoas que se comportam ou pensam de uma maneira diferente daquelas que fazem parte do seu grupo, as quais são maléficas para o governo popular. Como resolver esse problema, então, já que “as causas das facções encontram-se semeadas na própria natureza humana (...)” (p. 191)? Madison afirma que a melhor forma, diferentemente do que apresentava Montesquieu e Rousseau, era neutralizando os seus efeitos e não as eliminando. A primeira solução é um sistema de representação, “(...) fazendo com que as funções de governo sejam delegadas e um número menor de cidadãos e, segundo, aumentando a área e o número de cidadãos sob a jurisdição de um único governo” (p. 192), apesar de não ser suficiente, pois os representantes do povo podem mentir sobre si mesmos na hora da eleição e, quando eleitos, demonstrarem o que de fato são. ● Consequentemente, procura-se uma solução complementar, que sane esse problema. Por conseguinte, tem-se que, ao aumentar a área de abrangência dos Estado e da União, é mais fácil evitar que uma facção tome o poder sozinha, pois elas se multiplicam mais. “Impede-se, assim, que qualquer interesse particular tenha condições de suprimir a liberdade” (p. 193). Entretanto, essa solução poderia acarretar na falta de governabilidade, característica prejudicial a um país. Portanto, “a preocupação central da legislação moderna é a de fornecer os meios para a coordenação dos diferentes interesses em conflito” (p. 193). Aparentando, então, como a única alternativa para a decisão dos conflitos o interesse geral.