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Maj Eng UGO DE NEGREIROS VIANNA

ALTERNATIVA DE SUPRIMENTO DE
ÁGUA SUBTERRANEA NA AMAZÔNIA
POR MEIO PERFURAÇÃO DE POÇOS
PELA ENGENHARIA MILITAR

Rio de Janeiro
2003
2

Maj Eng UGO NEGREIROS VIANNA

ALTERNATIVA DE SUPRIMENTO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA


NA AMAZÔNIA POR MEIO DA PERFURAÇÃO DE POÇOS
PELA ENGENHARIA MILITAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado


à Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como requisito parcial para a
obtenção do certificado de Especialização
em Ciências Militares.

Orientador: Ten Cel Eng Dower Jerônimo Morini Borges

Rio de Janeiro
2003
3

V617 Vianna, Ugo de Negreiros


Alternativa de suprimento de água subterrânea na
Amazônia por meio da perfuração de poços pela
engenharia militar / Ugo de Negreiros Vianna. – Rio de
Janeiro, 2003.
70 f. : il. ; 30cm.

Trabalho de ConclusÃo de Curso (Curso de Política,


Estratégica e Alta Administração do Exército) – Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército, 2003.
Bibliografia: f 67-70.

1. Engenharia Militar. 2. Amazônia – Suprimento de


água. I. Título.
CDD 358.2
4

Maj Eng UGO NEGREIROS VIANNA

ALTERNATIVA DE SUPRIMENTO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA


AMAZÔNIA POR MEIO DA PERFURAÇÃO DE POÇOS PELA
ENGENHARIA MILITAR

Trabalho de conclusão apresentado à Escola


de Comando e Estado-Maior do Exército,
como requisito parcial para a obtenção do
certificado de Especialização em Ciências
Militares.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________
Ten Cel Dower Jerônimo Morini Borges – Dr. Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________________
Maj QEM/FC Marcelo Carvalho Prates – Mestre Membro
Instituto Militar de Engenharia

_____________________________________________________________
Cap QEM/FC Sandro Filippo – Mestre Membro
Instituto Militar de Engenharia
5

À minha doce e amável esposa Katia e


aos meus queridos filhos Marilia, Marisa
e Eduardo, os meus sinceros
reconhecimentos pela paciência, apoio,
carinho, amizade e amor demonstrados
em cada momento da minha vida. À
vocês, meu eterno amor e gratidão.
6

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, minha confiança, esperança,


força, fé e amor.

Ao meus Pais, meu reconhecimento especial pelos incansáveis momentos de


atenção, carinho e aconselhamentos, visando à minha realização e o meu sucesso.
À vocês minha eterna gratidão.

Ao meu estimado sogro Tio Edgard e minha sogra tia Cleide, pelo apoio, carinho,
incentivo e amor prestados em todos os momentos da minha vida. Minha eterna
gratidão.

Aos meus irmãos, Jane, Fernando, Carlos, Janice, Jaqueline e Márcia, aos cunhados
e cunhadas, pelo apoio, carinho, incentivo e amizade. Minha eterna gratidão.

À minha sobrinha Thamyle que sempre esteve próxima nos momentos decisivos.
Meu carinho e gratidão.

Ao padre Audálio Neves (in memorian) pelas palavras fortalecedoras que


incentivaram minha fé em Jesus Cristo e o meu amor a Virgem Maria.

Aos diversos setores e integrantes da Escola de Comando e Estado-Maior do


Exército, do Instituto Militar de Engenharia e da Comissão de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM) pelas informações repassadas e pela atenção dispensada durante
os momentos de levantamento de dados que viriam a dar sustentação a este
trabalho.

Ao Cel QEM/FC Álvaro Vieira, Maj QEM/FC Marcelo Carvalho Prates, Cap QEM/FC
Sandro Filippo e ao professor José Carlos César Amorim pelo prestimoso apoio
prestado durante toda a pesquisa, fornecendo importantes informações e mapas
referente ao assunto.
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RESUMO

O suprimento de água para a população mundial é um assunto cada vez mais


presente no noticiário internacional, com projeção de insuficiência num futuro
próximo, considerando-se as reservas atuais. No tocante às operações militares,
esse problema tem sido levantado apenas em casos de escassez, não se levando
em conta que o tratamento d’água ficaria comprometido em um conflito, restando
como alternativa a utilização dos lençóis subterrâneos. Valendo-se de sua
experiência como oficial em várias Organizações Militares de Engenharia do
Exército, particularmente na região Amazônica, o autor relata sobre o assunto, desde
os aspectos técnicos de captação, consumo e localização das águas subterrâneas,
percorrendo considerações sobre o potencial da região amazônica, destacando as
mais recentes técnicas existentes na área comercial, passíveis de utilização em
operações, e tratando, por fim, da doutrina de emprego da Engenharia do Exército de
Campanha, e da doutrina de logística militar do Exército. A partir do estudo, conclui-
se pela necessidade de emprego da engenharia militar na perfuração de poços
aqüíferos na região amazônica, visando garantir a continuidade do apoio logístico
nas Operações Militares.

Palavras-chave: Emprego da Engenharia. Suprimento de Água.


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RESEÑA

La provisión de agua para a población mundial es un asunto cada vez más presente
en el noticiero internacional, con proyección de insuficiencia en un futuro próximo,
considerándose las reservas actuales. Respecto a las operaciones militares, ese
problema ha sido levantado apenas en casos de escasez, sin considerarse que el
Rtratamiento de agua quedaría comprometido en un conflicto, restando como
alternativa la utilización de las aguas subterráneas. Valiéndose de su experiencia
como oficial en varias Organizaciones Militares de Ingeniería del Ejército,
particularmente en la región Amazónica, el autor diserta sobre el asunto, desde los
aspectos técnicos de captación, consumo y localización de las aguas subterráneas,
discurriendo sobre consideraciones respecto al potencial de la región amazónica,
destacando las más recientes técnicas existentes en el área comercial, que puedan
ser utilizadas en operaciones, y tratando, por fin, de la doctrina de empleo de la
Ingeniería del Ejército de Campaña, y de la doctrina de logística militar del Ejército. A
partir del estudio, se concluye por la necesidad del empleo de la ingeniería militar en
la perforación de pozos en la región amazónica, visando garantizar la continuidad
del apoyo logístico en las Operaciones Militares.

Palabras-clave: Empleo de la Ingeniería. Provisión de Agua.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Ciclo das águas.................................................................................. 17

Figura 2 Distribuição da água na Terra............................................................ 20

Figura 3 Reservas de água doce disponíveis e ocorrência de água doce


líquida................................................................................................. 21

Figura 4 A importância das águas subterrâneas para o abastecimento


público na América latina e Caribe..................................................... 29

Figura 5 Águas subterrâneas no Brasil............................................................. 30

Figura 6 Poço tubular no 50º BIS – Imperatriz - MA........................................ 31

Figura 7 Poço perfurado em aqüífero com boa permeabilidade....................... 34

Figura 8 Poço perfurado em aqüífero de baixa permeabilidade....................... 35

Figura 9 Rochas magmáticas........................................................................... 36

Figura 10 Rochas sedimentares......................................................................... 37

Figura 11 Aqüíferos livres.................................................................................. 38

Figura 12 Aqüíferos confinados.......................................................................... 39

Figura 13 Aqüíferos semiconfinados.................................................................. 39

Figura 14 Raio de influência............................................................................... 40

Figura 15 Estação de tratamento de água em Clevelândia do Norte – AP........ 50

Figura 16 Exemplo de organograma da E Ex..................................................... 55

Figura 17 Organograma do 2º Gpt E Cnst......................................................... 62

Figura 18 Desdobramento do Exército na Amazônia......................................... 62


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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuição de água na Terra.......................................................... 19

Tabela 2 Consumo per capita em função da população................................. 23

Tabela 3 Consumo de acordo com o tipo de atividade................................... 24

Tabela 4 Indicadores de saneamento no Brasil e grandes regiões (1996).... 48

Tabela 5 Nível de atendimento de água e esgoto na Amazônia.................... 49

Tabela 6 Nível de atendimento de água em municípios do Pará (%)............. 50

Tabela 7 Análise físico-química de amostra do Rio Negro............................. 52

Tabela 8 Padrão de potabilidade e classificação dos corpos de água


considerando alguns compostos inorgânicos e orgânicos de risco
à saúde............................................................................................. 53
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LISTA DE ABREVIATURAS

B E Cnst Batalhão de Engenharia de Construção

BIS Batalhão de Infantaria de Selva

B Log Batalhão Logístico

Cia Log Sup Companhia de Logística de Suprimento

E Ex Engenharia de Exército

Ex Cmp Exército de Campanha

2º Gpt E Cnst 2º Grupamento de Engenharia de Construção

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

NSE Nível sócio-econômico

OM Organização Militar

USP Universidade de São Paulo

UFPA Universidade Federal de Porto Alegre


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 12
2 REFERENCIAL CONCEITUAL........................................................ 14
2.1 TEMA................................................................................................ 14
2.2 PROBLEMA...................................................................................... 15
2.3 JUSTIFICATIVA................................................................................ 15
2.4 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA..................................................... 15
3 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................... 17
3.1 CICLO DAS ÁGUAS......................................................................... 17
3.1.1 As águas no planeta....................................................................... 20
3.1.2 O consumo de água........................................................................ 21
3.1.3 O recurso hídrico subterrâneo....................................................... 24
3.1.3.1 Água subterrânea no abastecimento público.................................... 24
3.1.3.2 A importância da água para abastecimento..................................... 26
3.1.3.3 Principais vantagens das águas subterrâneas................................. 28
3.1.3.4 Existência na América Latina............................................................ 28
3.1.3.5 Existência no Brasil........................................................................... 30
3.2 POÇOS............................................................................................. 31
3.2.1 Tipos................................................................................................. 31
3.2.2 Métodos............................................................................................ 32
3.2.3 Funcionamento da perfuração dos poços.................................... 33
3.3 PETROLOGIA................................................................................... 35
3.4 HIDROGEOLOGIA............................................................................ 37
4 REFERENCIAL METODOLÓGICO................................................. 41
4.1 OBJETIVOS...................................................................................... 41
4.2 HIPÓTESE........................................................................................ 42
4.3 VARIÁVEIS....................................................................................... 42
4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................ 43
5 AMAZÔNIA – CONSIDERAÇÕES HIDROGEOLÓGICAS............. 44
5.1 A PROVÍNCIA AMAZONAS.............................................................. 44
5.2 A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA SUBTERRÂNEA................................. 45
5.2.1 Água torna-se negócio atrativo: estão de olho nas privatizações..... 45
13

5.2.2 Crescimento da pressão em prol das águas subterrâneas na


Amazônia.......................................................................................... 46
5.2.3 A Região metropolitana de Belém pode ser integralmente
abastecida por águas subterrâneas.................................................. 47
5.3 A SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NA REGIÃO
AMZÔNICA...................................................................................... 48
5.3.1 Situação atual de abastecimento e tratamento de água em
pequenas comunidades.................................................................... 49
5.4 ANÁLISE DA QUALIDADE DE POTABILIDADE DO RIO NEGRO.. 51
5.4.1 Análise da água no local................................................................... 51
6 O EMPREGO DA ENGENHARIA DE EXÉRCITO........................... 54
6.1 A ENGENHARIA DE EXÉRCITO DE CAMPANHA.......................... 54
6.1.1 A E Ex e a atividade de suprimento de água............................... 56
6.1.2 Atividade de suprimento de água nas operações ofensivas e
defensivas....................................................................................... 56
6.2 A ENGENHARIA MILITAR NAS OPERAÇÕES DE SELVA............. 57
6.3 A ENGENHARIA MILITAR E SUA TAREFA AFETA A ATIVIDADE
DE ÁGUA TRATADA........................................................................ 59
6.4 A ENGENHARIA MILITAR NA AMAZÔNIA...................................... 61
7 CONCLUSÃO .................................................................................. 65
REFERÊNCIAS................................................................................. 67
12

1 INTRODUÇÃO

A água faz parte do patrimônio do planeta. cada continente, cada povo, cada
nação e cada região são plenamente responsáveis aos olhos de todos.
A água potável será a próxima disputa nos meados deste século numa projeção
internacional da sua demanda.
Os recursos naturais para transformar água doce em água potável são lentos,
frágeis e muito limitados. assim sendo, a água deve ser manipulada com
racionalidade, preocupação e parcimônia.
Pelo fato das águas superficiais serem visíveis, muitas pessoas imaginam que
os rios, barragens e lagos devem ser a maior fonte de atendimento das necessidades
do homem. na verdade, um pouco mais de 97% da água doce disponível na terra
encontra-se no subsolo e, portanto menos de 3% da água potável disponível no
planeta provêm das águas de superfície. ressalta-se o fato de que na maioria dos
casos, a qualidade das águas subterrâneas é superior a das águas superficiais,
devido a exposição destas últimas à agentes contaminadores.
Além da enorme diferença de quantidade, as águas subterrâneas apresentam
outras vantagens sobre as águas superficiais, resultando em um menor custo de
captação ao seu potencial natural e estratégico, à captação e distribuição, aos
impactos ambientais e ao consumo humano.
Considerada a destacada presença de lençóis subterrâneos no brasil,
principalmente na região amazônica face as suas características, e pouco serem
utilizados pelas tropas em operações militares.
O assunto sobre o qual versa o presente trabalho e a alternativa de suprimento
de águas subterrâneas na amazônia através da perfuração de poços pela engenharia
militar, é o que constitui o tema sobre o qual se assenta este estudo.
A problematização, enfoque central do estudo realizado, consolidou-se na
seguinte questão: como o exército brasileiro otimizaria a busca de alternativa de
suprimento de água na amazônia face as suas complexas necessidades?
13

Para responder a problematização formulada, a presente monografia procurou


realizar uma análise das experiências adquiridas com o emprego da engenharia
militar na perfuração de poços na região amazônica.
As missões e empregos dos batalhões de engenharia de construção no teatro
de operações da amazônia, na perfuração de poços com equipes variáveis e
temporárias, em sua estrutura em tempo de paz justificam a realização do presente
trabalho.
Analisando as diversas alternativas de suprimento de água na região
amazônica em vigor e aproveitando ensinamentos colhidos pela engenharia militar
na perfuração de poços naquela região, esta pesquisa buscou contribuir para
obtenção de suprimento de águas subterrâneas em prol das operações do exército
de campanha na amazônia.
14

2 REFERENCIAL CONCEITUAL

A visão geral do trabalho, apresentado na introdução, será a seguir detalhada,


particularmente no que diz respeito à sua problematização, suas justificativas e
também quanto à contribuição da pesquisa realizada para o aperfeiçoamento das
alternativas de suprimento de água subterrânea na amazônia através da perfuração
de poços pela engenharia militar.

2.1 TEMA
A delimitação deste tema que viabilizou a pesquisa, alicerçou-se na análise de
alternativa de suprimento de água na Amazônia pela Engenharia Militar através da
construção de poços.
O projeto conduz ao estudo e, conseqüentemente, à análise da estrutura
necessária para criação de uma equipe de perfuração de poços nas Companhias de
Engenharia de Construção na Amazônia.
A presente conjuntura mundial de escassez de água potável, aliada às
complexas necessidades do Exército de Campanha em Operações Militares, exige a
procura de alternativas para obtenção deste suprimento essencial.
A Amazônia é uma região onde a maior parte de seu subsolo é sedimentar e
guarda grande potencial hídrico que, por meio da perfuração de poços artesianos
propiciará a obtenção de suprimento de água potável.
Basicamente, a pesquisa foi norteada pelo estudo das possibilidades de
emprego do Exército Brasileiro por meio de sua Engenharia Militar na captação de
alternativa de suprimento de água na Amazônia através da perfuração de poços.
15

2.2 PROBLEMA
A problematização, enfoque central do estudo, consolidou-se na seguinte
questão: como o Exército Brasileiro otimizaria a busca de alternativa de suprimento
de água na Amazônia fase as suas complexas necessidades?
Considerando as experiências adquiridas com o emprego da Engenharia Militar
na perfuração de poços na região Amazônica, direciona o presente projeto na
alternativa da problematização acima sugerida.

2.3 JUSTIFICATIVA
As necessidades de produção e distribuição de água potável apresentam
problemas complexos no Exército de Campanha em face da demanda das
organizações hospitalares, instalações de banho e lavanderias, padarias e
instalações de recompletamento e recreação, originando que se disponha de meios
especializados apropriados e se busque a máxima utilização dos recursos locais
(BRASIL, 2000). No escalão Ex Cmp e superiores a Engenharia assume o
planejamento e a execução dessa atividade, em face do volume do trabalho
requerido.
Os custos de tratamento d'água são muito elevados, face ao nível de qualidade
das águas superficiais. Devido à implantação de pelotões e destacamentos em
pontos críticos do teatro operacional amazônico, com suas diversas finalidades,
ocorre que muitas vezes não se encontram rios de apoio próximos, dificultando o
abastecimento de água.
Uma equipe de perfuração de poços tem condições de perfurar em terreno
sedimentar, num curto espaço de tempo, proporcionando um excelente meio
alternativo de suprimento de água potável de excelente qualidade, tendo em vista a
sua origem mineral.
Neste contexto, conclui-se que a criação de uma equipe de perfuração de
poços nas Companhias de Engenharia de Construção facilitará, como meio
alternativo, o apoio logístico às necessidades das tropas empregadas no teatro
operacional amazônico.
16

2.4 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho procurou incluir na atual estrutura organizacional da


Engenharia de Construção na Amazônia, que se encontra em constante
desenvolvimento e adaptação, uma equipe de perfuração de poços numa Companhia
de Engenharia de Construção, com o objetivo de atender o apoio logístico às
diferentes tropas empregadas no teatro operacional dessa região, visando a
alternativa de suprimento de água subterrânea existente nessa área.
17

3 REFERENCIAL TEÓRICO
Antes de se dar início à análise da problematização, que constitui a base do
presente trabalho, uma revisão da literatura tratando sobre os assuntos aqui
enfocados, torna-se impositiva.
Para tal, buscou-se levantar os conceitos atualizados, tanto sobre a água
subterrânea, quanto sobre poços, petrologia e hidrologia, de forma a procurar
identificar com simplicidade e clareza estes campos do conhecimento científico.

3.1 O CICLO DAS ÁGUAS


Para Costa Filho (1997), as águas saem do oceano e chegam até às nuvens
sob a forma de vapor, depois caem na terra sob a forma de chuva ou neve. Ao
chegar no terreno, uma parte fica em cima da terra formando os rios, lagos, geleiras
e neves, e outra penetra na terra e fica lá por muito tempo. Em ambos os casos, as
águas caminham até voltarem ao oceano e fecharem o ciclo das águas, que é
denominado ciclo hidrológico.

Figura 1 Ciclo das Águas


FONTE: COSTA FILHO (1997).
18

Segundo Teixeira et al. (2001), devido às diferentes e particulares condições


climáticas, em nosso planeta a água pode ser encontrada, em seus vários estados:
sólido, líquido e gasoso.
Define-se como ciclo hidrológico, ou ciclo da água, à constante mudança de
estado da água na natureza. O grande motor deste ciclo é o calor irradiado pelo sol.
A permanente mudança de estado físico da água, isto é, o ciclo hidrológico, é a
base da existência da erosão da superfície terrestre. Não fossem as forças
tectônicas, que agem no sentido de criar montanhas, hoje a Terra seria um planeta
uniformemente recoberto por uma camada de 3 km de água salgada.
Em seu incessante movimento na atmosfera e nas camadas mais superficiais
da crosta, a água pode percorrer desde o mais simples até o mais complexo dos
caminhos.
Quando uma chuva cai, uma parte da água se infiltra através dos espaços que
encontra no solo e nas rochas. Pela ação da força da gravidade esta água vai se
infiltrando até não encontrar mais espaços, começando então a se movimentar
horizontalmente em direção às áreas de baixa pressão.
A única força que se opõe a este movimento é a força de adesão das moléculas
d’água às superfícies dos grãos ou das rochas por onde penetra.
A água da chuva que não se infiltra, escorre sobre a superfície em direção às
áreas mais baixas, indo alimentar diretamente os riachos, rios, mares, oceanos e
lagos.
Em regiões superficialmente frias, como nas grandes altitudes e baixas latitudes
(calotas polares), esta água pode se acumular na forma de gelo, onde poderá ficar
imobilizada por milhões de anos.
O caminho subterrâneo das águas é o mais lento de todos. A água da chuva
que não infiltrou levará poucos dias para percorrer muitos quilômetros. Já a água
subterrânea poderá levar meses para percorrer poucos metros. Havendo
oportunidade esta água poderá voltar à superfície, através das fontes, indo se somar
às águas superficiais, ou então, voltar a se infiltrar novamente.
A vegetação tem um papel importante neste ciclo, pois uma parte da água que
cai é absorvida pelas raízes e acaba voltando à atmosfera pela transpiração ou pela
simples e direta evaporação (evapotranspiração).
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Tipo Ocorrência Volume (km³)


Rios 1.250
Água doce superficial
Lagos 125.000
Unidade do solo 67.000
Água doce
Até 800 metros 4.164.000
subterrânea
Abaixo de 800 metros 4.164.000
Água doce sólida (gelo) Geleiras e Glaciais 29.2000.000
Oceanos 1.320.000.000
Água salgada
Lagos e mares salinos 105.000
Vapor de água Atmosfera 12.900
Total 1.360.000.000
Tabela 1 Distribuição da água na Terra
FONTE: TEIXEIRA ET AL. (2001)

Observa-se na tabela acima que, de toda a água existente no planeta, somente


2,7% são água doce. Pode-se, também, verificar que de toda a água doce disponível
para uso da humanidade, cerca de 98% estão na forma subterrânea.
Da água que se precipita sobre as áreas continentais, calcula-se que a maior
parte (60 a 70%) se infiltra. Vê-se, portanto, que a parcela que escoa diretamente
para os riachos e rios é pequena (30 a 40%). É esta água que se infiltra, que
mantém os rios fluindo o ano todo, mesmo quando fica muito tempo sem chover.
Quando diminui a infiltração, necessariamente aumenta o escoamento superficial das
águas das chuvas.
A infiltração é importante, portanto, para regularizar a vazão dos rios,
distribuindo-se ao longo de todo o ano, evitando, os fluxos repentinos, que provocam
inundações.
Não se deve culpar a natureza. Esta relação, entre a quantidade de água que
precipita na forma de chuva, a quantidade que se infiltra, a que tem escoamento
superficial, e a que volta para a atmosfera, na forma de vapor, constitui uma verdade
da qual não se pode escapar. As cidades são aglomeradas, onde grande parte do
solo é impermeabilizado, e a conseqüência disto é o aumento de água que escoa,
provocando inundações das áreas baixas. Se estiverem corretas as previsões de
que está havendo um aquecimento global, e de que este levará ao aumento das
chuvas, é de se esperar um agravamento do problema de inundações nos países
tropicais.
20

As águas que ficam em cima da terra são as águas superficiais e as que ficam
debaixo da terra preenchendo seus vazios são denominadas águas subterrâneas.

Figura 2 Distribuição da Água na Terra


FONTE: COSTA FILHO (1997).

3.1.1 As águas no planeta


Para Filippo (2000), cerca de 97% da água do planeta pertencem a oceanos,
mares e lagos de água salgada. E a maior parte da água doce está nas calotas
polares, inacessíveis ainda para os seres humanos. Existe apenas cerca de 1% de
água para a vida nos continentes e ilhas. É por isso que a água deve ser tratada
como um recurso finito.
O mundo atual já convive com o problema da escassez de água, que tende a se
agravar. O cenário de crise tem por base o consumo anual mínimo de 1.000 metros
cúbicos por habitante, adotado pelas Nações Unidas; o crescimento da população
mundial (hoje em 6 bilhões de habitantes); e o volume estocado nos rios e lagos
(cerca de 180 trilhões de metros cúbicos). Como a tendência do consumo é dobrar a
cada 20 anos, esgotar-se-á o estoque em menos de cinco décadas. Atualmente, o
consumo humano anual representa quase 15% da descarga dos rios no mesmo
período, estimada em 41 trilhões de metros cúbicos. Apesar da renovação
proporcionada pelo ciclo hidrológico, a distribuição do recurso é desigual no planeta,
havendo muitos países já em situação de escassez de água.
O Brasil é um dos países mais rico em recursos hídricos, com uma descarga
dos rios estimada em 6.220 bilhões de m3/ano. Apesar dessa grande disponibilidade,
o país vive diversas situações de escassez. Recentemente, adotaram-se
21

racionamentos em Recife e na Região Metropolitana de São Paulo, sem falar nas


periódicas secas nordestinas. No Rio de Janeiro, a rede de abastecimento é
deficiente na capital e na região metropolitana, bem como nos municípios da Região
dos Lagos, onde periodicamente há falta de água.
Em termos mundiais, os estoques de água subterrânea são estimados em 8,4
milhões de km³, cerca de 67 vezes o volume total de água doce liquida de superfície,
representando ainda, aproximadamente 97% do volume de água doce líquida do
planeta.

Figura 3 - Reservas de água doce disponíveis e ocorrência de água doce líquida


FONTE: COSTA FILHO (1997).

3.1.2 O consumo de água


Ainda segundo Filippo (2000, p. 34), o consumo de água é função de uma série
de fatores inerentes à própria localidade a ser abastecida e varia de cidade para
cidade, assim como pode variar de um setor de distribuição para outro, numa mesma
cidade. Os principais tipos de consumo podem ser vistos a seguir.

Tipos de Consumo
a) Uso doméstico: bebida, banhos, limpeza em geral e etc;
b) Uso comercial: lojas, bares, restaurantes, postos e etc;
c) Uso industrial: água como matéria-prima, para resfriamento, consumida no
processo e etc;
22

d) Uso público: limpeza de logradouros, irrigação, fontes, bebedouros, edifícios


públicos, piscinas públicas, combate à incêndios e etc;
e) Usos especiais: ferrovias e metropolitanos, portos e aeroportos, estações
rodoviária e etc;
f)Perdas e desperdícios: a perda corresponde a parcela de água que não
alcança os pontos de consumo devidos a vazamentos e falhas na adução, no
tratamento, na rede de distribuição e etc (responsabilidade do sistema), enquanto
que o desperdício corresponde à má utilização da água pelo consumidor
(responsabilidade do consumidor).
ainda segundo Filippo (2000), os principais fatores que influenciam no consumo
de água são:
a) Clima: quanto mais quente maior o consumo;
b) Padrão de Vida da população: quanto mais alto o padrão de vida maior o
consumo;
c) Hábitos da População: higiene, turismo, esportes e etc;
d) Sistema de Fornecimento e Cobrança: se o serviço é medido inibe o
consumo;
e) Qualidade da água fornecida: água de boa qualidade tende a aumentar o
consumo;
f) Custo da Tarifa: tarifas altas inibem o consumo;
g) Pressão na rede distribuidora: quanto maior a pressão, maior a vazão
fornecida e conseqüentemente maior o consumo;
h) A natureza, o crescimento e as características da cidade: o consumo por
habitante tende a aumentar com o crescimento da cidade; quanto maior o grau de
desenvolvimento de uma cidade maior o consumo;
i) Atividades industriais, comerciais e públicas: cada atividade desta possui um
tipo de consumo diferenciado; a predominância destas atividades altera o consumo
por habitante.
Para Filippo (2000), estabeleceu-se estimadamente o consumo de água per
capita de acordo com o nível sócio-econômico (NSE):
• NSE alto: 600 litros/hab.dia;
• NSE médio: 200 a 300 litros/hab.dia;
• NSE baixo: 100 a 150 litros/hab.dia;
• NSE popular: 30 a 80 litros/hab.dia.
23

Nas cidades brasileiras o consumo per capita varia em média de 100 a 400
litros/hab.dia, de acordo com o porte da cidade conforme tabela a seguir:
População (n. Consumo “per capita”
Parte da cidade
habitantes) (1/hab.dia)
Menores Até 5.000 100 – 150
Pequenas 5000 – 25.000 150 – 200
Médias 25.000 – 100.000 200 – 250
Maiores > 100.000 250 – 300
Tabela 2 Consumo per capita em função da população.
FONTE: FILIPPO (2000).

A estimativa do consumo diário de água para cada tipo de atividade pode ser
encontrada na tabela a seguir:
Consumo
Tipo de prédio Unidade
litro/dia
Serviço Doméstico
Apartamento em geral per capita 200 a 300
por quarto de 200
Residências empregada 250
Residências populares e rurais per capita 120 a 150
Alojamento provisório de obra per capita 80
Apartamento de zelador per capita 600 a 1000
unid.
Serviço Público
Edifícios de escritórios e por ocupante efetivo 50 a 80
comerciais per capita 150
Escolas, internatos per capita 50
Escolas, externatos per capita 100
Escolas, semi-internatos por leito 250
Hospitais e casas de saúde por hóspede 250 a 350
Hotéis com coz. E lavanderia por hóspede 120
Hotéis sem coz. E lavanderia por kg de roupa seca 30
Lavanderias por soldado 150
Quartéis por cavalo 100
Cavalariças por refeição 25
Restaurantes por m² de área 5
24

Mercados por automóvel 100 a 150


Garagens e postos de serviços por caminhão 200
para automóveis por m² de área 1,5
Rega e jardins por lugar 2
Cinemas, teatros por lugar 2
Igrejas per capita 25
Ambulatórios per capita 50
Creches
Serviço Industrial
Fábricas (uso pessoal) por operário 70 a 80
Fábricas com restaurante por operário 100
Usinas de leite por litro de leite 5
Matadouros por animal abatido 300
Matadouros (grande) 150
(pequeno porte)
Tabela 3 Consumo de acordo com o tipo de atividade
FONTE: FILIPPO (2000).

3.1.3 O recurso hídrico subterrâneo

Tem-se como definição de recurso


hídrico subterrâneo toda água acumulada
no subsolo do planeta.

3.1.3.1 Água subterrânea no abastecimento público

Ainda segundo Filippo (2000), a utilização das águas subterrâneas remonta aos
primórdios da civilização, sendo explorados através de poços rasos escavados, cujos
vestígios mais antigos datam de 12.000 antes de Cristo. O início da arte de perfurar
poços é atribuído aos chineses e assinala-se que em 5.000 antes de Cristo já
perfuravam poços até profundidades de centenas de metros. Até a década de 50, as
águas subterrâneas eram, em geral, consideradas como um bem natural de uso
doméstico/industrial precário. O surto de desenvolvimento sócio-econômico
verificado após o término da II Guerra Mundial e a crescente deterioração das águas
dos rios e lagos, engendrou a rápida evolução da importância das águas
subterrâneas, a ponto de serem consideradas, atualmente, como um recurso de
grande valor econômico, vital ou estratégico. A evolução do conhecimento científico
25

sobre as formas de ocorrência, hidrodinâmica e hidroquímica das águas


subterrâneas, muito tem contribuído à redução do caráter de golpe de sorte da
obtenção de uma água de boa qualidade e/ou de uma vazão segura de um poço.
Por outro lado, os progressos tecnológicos verificados durante as últimas
décadas nos meios de perfuração, nas bombas submersas e na oferta de energia
elétrica, viabilizam a construção de poços com até milhares de metros de
profundidade, para obtenção de vazões de centenas e até milhares de metros
cúbicos por hora dos aqüíferos confinados profundos. Estes fatos são responsáveis
pelo verdadeiro surto de crescimento na exploração das águas subterrâneas, a nível
mundial e nacional.
Estima-se que cerca de 12 milhões de poços foram perfurados anualmente nos
últimos 25 anos no mundo. Nos Estados Unidos estima-se que, atualmente, entre
800 e 900 mil poços são perfurados por ano. Os incrementos de consumo de águas
subterrâneas, verificados na ultima década na Europa e Estados Unidos, são
superiores aos 100%, sendo que o uso para irrigação triplicou nos Estados Unidos.
Na Índia cerca de 31 milhões de hectares são irrigados com água subterrânea. Nos
Estados Unidos, 45% do total de terras irrigadas, 58% no Irã, 67% na Argélia e 100%
na Líbia, dependem exclusivamente do manancial subterrâneo.
Em termos de abastecimento público, em muitos países, tais como Arábia
Saudita, Dinamarca e Malta, as águas subterrâneas são o único recurso disponível.
Em muitos outros, tais como Áustria, Alemanha, Bélgica, França, Hungria, Itália,
Holanda, Marrocos, Rússia e Suíça, mais de 70% da demanda é atendida pelo
manancial subterrâneo. As obras de captação são variadas: nascentes, cacimbões
simples, cacimbões com drenos radiais, poços tubulares rasos e profundos. Os
aqüíferos explorados com maior freqüência, são do tipo livre, com espessuras de
algumas centenas de metros e com recarga garantida a partir da gestão integrada
dos recursos hídricos das bacias hidrográficas em que estão inseridos, com reuso de
água, em alguns casos.
No Brasil a utilização das águas subterrâneas ainda é muito modesta, haja vista
que se perfura entre 8.000 e 10.000 poços por ano, a grande maioria para
abastecimento de indústrias. Somente nas últimas décadas é que se vem
observando uma tendência de se buscar água subterrânea para o abastecimento
público. Segundo os dados mais recentes do IBGE, 61 % da população se
abastecem do manancial subterrâneo por meio de poços rasos (6%), nascentes
26

(12%), e poços profundos (43%). O Estado de São Paulo é, certamente, o maior


usuário das águas subterrâneas no Brasil, tendo cerca de 65% dos seus núcleos
urbanos e cerca de 90% das indústrias abastecidas parcial ou totalmente por poços.
Neste particular, deve-se salientar que, face às potencialidades hidrogeológicas do
território brasileiro, para 80% das nossas cidades as águas subterrâneas constituem
a alternativa mais barata, sobretudo por dispensarem as onerosas obras de
engenharia para captação, adução e, sobretudo, pelos crescentes custos de
tratamento.
Tendo em vista que 92% dos esgotos é lançado nos rios e 87% do lixo fica à
mercê das enxurradas, a alternativa de uso das águas superficiais (rios, açudes e
lagoas) só se torna viável na ausência de manancial subterrâneo compatível com as
demandas. Ademais, nas áreas metropolitanas, as águas subterrâneas constituem
um recurso de importância estratégica vital ou econômica, sendo utilizadas de forma
intensiva para auto abastecimento de condomínios, hospitais, hotéis e indústrias. Isto
decorre das freqüentes faltas de água nas redes públicas, ou por razões econômicas,
uma vez que os investimentos necessários à construção dos poços são, em geral
amortizados em cerca de um terço da vida útil dos mesmos. Esta situação é bem
ilustrada pela existência de cerca de sete mil poços em operação na Grande São
Paulo.

3.1.3.2 A importância da água para abastecimento


A grande importância da água subterrânea para abastecimento de água pode
ser apresentada pelos aspectos abaixo destacados e também pelas principais
vantagens apontadas no seu uso, principalmente quando comparadas aos demais
tipos de manancial. os principais aspectos que podem ser destacados são:
• 97% de toda água doce disponível existente no planeta é composta por águas
subterrâneas;
• Brasil detém um quinto de toda a água doce disponível no planeta. Somente
um dos reservatórios subterrâneos existentes no Nordeste do Brasil possui um
volume de 18 trilhões de metros cúbicos de água disponível para o consumo
humano, volume este suficiente para abastecer toda a atual população brasileira por
um período de no mínimo de 60 anos;
• A população do planeta cresce 90 milhões pessoas / ano. A saturação
populacional é prevista para o ano de 2040;
27

• Brasil tem o impressionante volume de 111 trilhões e 661 milhões de metros


cúbicos de água em suas reservas subterrâneas;

• Somente na região metropolitana de São Paulo cerca de 3 milhões de


habitantes são auto-abastecidos com água de poços profundos;
• A cidade de Ribeirão Preto é totalmente abastecida por água subterrânea;
• Aqüífero Botucatu, o maior do planeta e conhecido como Aqüífero Gigante do
Mercosul possui um volume de água suficiente para abastecer toda a
população atual do mundo até o ano de 2400;
• A cidade de São Sebastião em Brasília, com 60.000 habitantes, é totalmente
abastecida com água de poços profundos;
• No Vale do Gurgueia no Piauí e em Mossoró no Rio Grande do Norte existem
hoje importantes plantações irrigadas com água de poços profundos nas culturas
de uva e cítricos que são exportados para diversos países da Europa e E.U.A;
• 12 milhões de poços profundos foram perfurados no mundo no período de
1970 a 1995;
• Atualmente nos E.U.A se perfuram em média entre 800.000 e 900.000 poços /
ano e no Brasil entre 8.000 e 10.000 poços I ano. O Estado de São Paulo e o maior
usuário de águas subterrâneas do Brasil. 70% de seus núcleos urbanos e cerca de
90% das indústrias são abastecidas parcial ou totalmente por poços profundos;
• Para 80% das cidades brasileiras a água subterrânea representa a alternativa
mais barata, dispensando obras caras de captação, adução e tratamento;
• Um poço profundo é amortizado em cerca de um terço da sua vida útil;
• Os prazos de execução de um poço são de dezenas de dias, contra dezenas
de meses nos casos de captação de águas superficiais;
• O Brasil é hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo em tecnologia de
poços profundos;
• 1 litro de água proveniente de poço profundo, em alguns casos, pode custar
até 15 vezes menos que 1 litro de água proveniente de recursos hídricos superficiais.

3.1.3.3 Principais vantagens das águas subterrâneas


Como principais vantagens das águas subterrâneas podem ser citadas:
• Os custos de captação da água subterrânea são baixos em relação a água
superficial, por dispensarem a construção de obras de barramento, adutora de
28

recalque e estação de tratamento;


• Os poços podem ser construídos na medida em que cresce a demanda de
água, possibilitando um parcelamento das inversões financeiras;
• Não se verificam os impactos ambientais decorrentes do barramento de curso
de água, e os recalques de terreno não ocorrem quando os poços são bem
construídos;
• As águas subterrâneas são, geralmente, de boa qualidade para consumo
humano sem tratamento, desde que a captação tenha sido construída e seja
operada de forma adequada;
• As águas subterrâneas acham-se naturalmente melhor protegidas dos
agentes de poluição que atingem rios e lagos, tendo em vista ocorrerem sob uma
faixa de rocha não saturada através da qual as águas de recarga filtram;
• Os potenciais hidrogeológicos do Brasil possibilitam o abastecimento de cerca
de 80% dos seus núcleos urbanos, a partir de dois a três poços, exceção daqueles
localizados nos domínios de ocorrência de rochas cristalinas no Polígono das Secas;
• Os poços que apresentam um bom nível de engenharia nas fases de projeto,
construção e operação, tem vida útil entre vinte e trinta anos, com amortização dos
investimentos realizados em curto prazo.

3.1.3.4 Existência na América Latina

Conforme Teixeira et al. (2001, p. 35), na América Latina, embora não


existam cifras oficiais seguras do uso da água subterrânea para o abastecimento
público e privado, seu papel é vital para muitos paises. A figura abaixo mostra a
dependência dos países do recurso hídrico subterrâneo, indicando também alguns
núcleos urbanos de grande demanda.
29

Figura 4 - A importância das águas subterrâneas para o abastecimento público


na América Latina e Caribe.
FONTE: TEIXEIRA ET AL (2001).

Em pelo menos duas das maiores concentrações urbanas do continente


americano, Cidade do México e Lima (Peru), os recursos hídricos subterrâneos
suprem a maior proporção das necessidades municipais e domésticas de água
potável. No caso da Cidade do México, a gigantesca cifra de 3.200 milhões de litros
por dia (ml/dia) (94% do total suprido em 1982) é fornecida por um conjunto de 1.330
poços tubulares. A água distribuída na Grande Lima, incluindo o Porto de Callao, é
obtida pelo bombeamento de 320 poços, produzindo mais de 650 ml/dia. Em outras
grandes áreas urbanas, incluindo Buenos Aires e Santiago (Chile), a água
subterrânea proporciona uma significativa parcela do suprimento municipal de água
potável.
30

A excelente qualidade natural aliada ao baixo custo tem justificado o crescente


uso deste recurso mesmo em áreas úmidas com excedentes hídricos, como na
América Central ou no Brasil, onde 35% da população fazem uso deste recurso para
o suprimento de suas necessidades de água potável. No Estado de São Paulo, por
exemplo, 70% dos núcleos urbanos são abastecidos total ou parcialmente por águas
oriundas de aqüíferos, totalizando 34% da população.

3.1.3.5 Existência no Brasil


Ainda segundo Teixeira (2001, p. 32), quanto à água subterrânea no Brasil, os
8.512.00 km² do território nacional podem armazenar um volume superior a 112.000
km² de água subterrânea. Esta colossal quantidade de água poderia abastecer a
população do planeta durante 250 anos. Infelizmente, nem toda a água subterrânea
pode ser extraída, tampouco a sua distribuição é eqüitativa em todo o País.
Diferentes rochas têm diferentes capacidades de armazenar e transmitir água. Em
certas áreas, o regime climático limita a recarga dos aqüíferos, reduzindo a sua
produção. As grandes províncias hidrogeológicas do País e as suas principais
características aqüíferas estão na Figura 5.

FIGURA 5 Águas subterrâneas no Brasil.


FONTE: BRASIL (1983).
A descrição das condições hidrológicas do Brasil é baseada, principalmente,
nos resultados obtidos na elaboração do Mapa Hidrogeológico do Brasil, na escala 1:
31

2.500.000, de janeiro/79 a março/81 (Mente & Mont’alverne, 1981) e 1: 5.000.000,


durante o ano de 1982. Apenas o último foi publicado pelo DNPM, em 1983
(BRASIL, 1983).

3.2 POÇOS
Conforme EBARA [20--], toda perfuração através da qual se obtém água de um
aqüífero é, genericamente, chamada de poço. Há muitas formas de classificá-los. A
classificação aqui utilizada, foi baseada em sua profundidade, pois a mesma
determina, de uma forma geral, o método construtivo, além de ser um fator
importante nas considerações sobre poluição da água subterrânea.
Para que um poço seja chamado de artesiano, é necessário que seja perfurado
em aqüífero artesiano, ou seja, é aquela que perfura camadas impermeáveis do
terreno onde a água está submetida a pressões superiores à atmosfera.

Figura 6 Poço tubular no 50o BIS – Imperatriz-MA


FONTE: FILIPPO (2000).

3.2.1 Tipos
Pode-se classificar os poços da seguinte maneira: abas (1991), Poços Rasos
Poço Escavado – É a mais antiga forma de exploração da água subterrânea,
estando presente em civilizações muito antigas. São poços cilíndricos, abertos
manualmente, com o uso de picareta e pá. Às vezes são usados fogachos (pólvora)
para romper blocos de rocha mais resistentes.
Entretanto, este expediente é desaconselhável em virtude do perigo que
acarreta, sendo proibido por lei a pessoas não autorizadas a lidar com explosivos.
32

Poço escavado é o tipo mais utilizado pela população rural brasileira e, recebe
nomes distintos, dependendo da região: cisterna, cacimba, cacimbão, poço
amazonas, poço caipira, ou simplesmente poço. Só podem ser escavados em
material não muito resistentes, geralmente solo e depósitos sedimentares pouco
consolidadas. Certos arenitos friáveis podem ser escavados manualmente (ABAS,
1991).
Para que o operário possa trabalhar no fundo do poço, seu diâmetro deve ser
grande, indo de 1 a 2 metros, ficando na média de 1,50 metro. À medida que o
buraco se aprofunda são necessários pelo menos dois operários. Um fica no fundo
do poço escavando enquanto o outro fica na superfície, retirando o material através
de balde preso à ponta de uma corda que vai sendo enrolada num sarilho. O sarilho
nada mais é do que um eixo que gira sobre duas forquilhas, acionado por uma
manivela. Após atingir o nível d'água, a escavação continua, até que não se consiga
mais esvaziar a água que está afluindo ao poço (ABAS, 1991).
Os poceiros profissionais possuem algumas ferramentas que aumentam a
segurança do trabalho, como o sarilho mecânico, com trava que não permite seu
retorno acidental (ABAS, 1996). É um trabalho muito perigoso e só deve ser feito por
pessoa treinada.

3.2.2 Métodos
Para a ABAS (1991), são métodos mais utilizados na perfuração de poços:
Percussão – a rocha é perfurada através da batida constante de uma
ferramenta chamada trépano, presa a um cabo de aço, que é movimentado para
cima e para baixo, através de um balancim acionado por motor. As pancadas do
trépano esmigalham a rocha e os fragmentos resultantes, misturados com água do
próprio poço ou colocada se este ainda estiver seco, dão origem a uma lama. Estes
são retirados do poço através de uma ferramenta chamada caçamba. Esta lama que
se forma, além de facilitar a retirada do material triturado, serve como meio de
refrigeração do trépano.
A perfuração por percussão é indicada para formações bem consolidadas ou
rochas dura, e profundidades não superiores a 250 metros. Em formações pouco
consolidadas as paredes podem entrar em colapso, o que obriga o uso de
revestimento à medida que o poço se aprofunda, o que cria dificuldades adicionais
para a continuidade do trabalho.
33

Rotativa – a perfuração se dá através do movimento rotatório de uma broca, ao


mesmo tempo em que se faz circular lama no poço. Esta lama além de servir para
trazer o material triturado para cima, serve para refrigerar a ferramenta de corte e
para manter uma pressão contínua dentro do poço, de forma a conter suas paredes,
evitando assim seu colapso. A lama poderá ser injetada pelo furo central da haste de
perfuração, subindo pelo espaço anelar, ou vice versa. Este método é indicado para
formações moles e grandes profundidades. O revestimento do poço é feito no final,
antes de bombear toda a lama.
Em todo processo de perfuração, a escolha da ferramenta certa é uma etapa de
grande importância, pois uma escolha errada, implicará em maior tempo de
perfuração, desgaste excessivo da ferramenta e dos equipamentos em geral, maior
gasto com mão-de-obra, e perigos potenciais de perda do trabalho devido ao colapso
das paredes ou da retenção da ferramenta no fundo do poço.

3.2.3 Funcionamento da perfuração dos poços


Segundo EBARA (200-), no início do bombeamento de um poço, ocorre o
rebaixamento do nível da água, o que se cria um gradiente hidráulico (uma diferença
de pressão) entre este local e suas vizinhanças. Este gradiente provoca a vinda
continua de água do aqüífero em direção ao poço, enquanto estiver sendo
processado o bombeamento. Se o bombeamento parar, o nível d’água retornará ao
nível original (recuperação). O nível em que se encontra a água dentro do poço
quando este está sendo bombeado, é chamado de nível dinâmico.
O rebaixamento do nível d’água possui a forma cônica, cujo eixo é o próprio
poço. A formação deste cone responde à necessidade de a água fluir em direção ao
poço para repor a que está sendo extraída. Nos aqüíferos isotrópicos, a água
chegará em todos os lados com a mesma velocidade, dando origem a uma superfície
cônica relativamente simétrica. Se o aqüífero for anisotrópico, este contorno será
alongado segundo a direção da velocidade menor do fluxo de água.
Para EBARA (200-), a forma do cone de depressão dependerá dos seguintes
fatores:
a) Do volume de água que está sendo bombeado: um mesmo poço
apresentará cones de tamanhos diferentes em função do volume de água que está
sendo extraída. Volume maior implica em maior rebaixamento do nível da água
dentro do poço.
34

b) Da permeabilidade do aqüífero: esta determinará a velocidade com que a


água se movimenta para o poço. Quando a permeabilidade é grande, maiores
volumes de água chegarão ao poço em menos tempo, provocando um cone menos
profundo. Se a permeabilidade do aqüífero for pequena, o cone terá um
rebaixamento muito pronunciado.
O cone de depressão se expandirá até que seja capturada uma quantidade
de água que iguale ao volume que está sendo extraído pelo bombeamento. Esta
água capturada poderá ser: água de cursos superficiais ou de mares e lagos; água
da chuva ou águas de camadas superiores separadas do aqüífero por camadas
semiconfinantes, no caso de aqüíferos artesianos. Quando a quantidade de água
capturada pelo cone de depressão se iguala ao volume que está sendo extraído, diz-
se que o poço está operando em condições de equilíbrio.
Na Figura 7, observa-se o exemplo de um cone de depressão com pequeno
rebaixamento.

FIGURA 7 POÇO PERFURADO EM AQÜÍFERO COM BOA PERMEABILIDADE.


Fonte: EBARA [200-].
Na Figura 8, observa-se um cone de depressão de pequeno rebaixamento.

Figura 8 Poço perfurado em aqüífero de baixa permeabilidade


Fonte: EBARA [200-].
35

Quando o cone de depressão atinge uma massa de água superficial, se esta


não estiver hidraulicamente isolada, haverá o início ou aumento da infiltração destas
águas em direção ao poço. Poços próximos a fontes de águas poluídas estão
seriamente sujeitos a produzir água contaminada. Um caso muito comum é a
interceptação de água de fossas e sumidouros sanitários ou de vazamentos de redes
de esgoto. Mesmo uma fossa situada a jusante do poço poderá contaminá-lo, pois
com o bombeamento ocorre uma inversão do fluxo subterrâneo (EBARA, 20--).
Uma vez terminado o poço, faz-se analise de sua água. No entanto, após um
certo tempo de bombeamento intenso, este poço poderá começar a produzir água
contaminada em virtude do acima exposto, isto é, pela captura de água poluída. Daí
a necessidade de se manter uma permanente vigilância sobre a qualidade da água
produzida. Vigilância que deverá se dar não somente na qualidade bacteriológica,
mas também na sua qualidade química, pois às vezes o aqüífero é capaz de filtrar as
bactérias, mas não os produtos químicos indesejáveis como os compostos de
nitrogênio, detergentes, arsênio, entre outros (EBARA, 200-).

3.3 PETROLOGIA – CONCEITOS BÁSICOS


Segundo EBARA [200-], petrologia é o estudo das rochas, sua origem e
composição. As rochas se dividem em três grandes grupos, conforme a sua origem
e composição: magmáticas, sedimentares e metamórficas.
Rochas magmáticas
As rochas magmáticas, ígneas ou cristalinas são formadas a partir do
resfriamento e consolidação do magma, podendo ser divididas em dois grupos:
a) Intrusivas – quando o resfriamento do magma se dá em sub-superfície em
forma de diques, sills, batólitos, etc. (ex. granitos e diabásios).

b) Extrusivas – quando o resfriamento do magma se dá na superfície, através


de vulcões e derrames de grande extensão (ex. basaltos). Estas rochas constituem
cerca de 80% da crosta terrestre.
36

Figura 9 Rochas magmáticas


Fonte: EBARA [200-]
Rochas sedimentares
São rochas formadas por materiais originados pela decomposição e
desintegração de rochas pré-existentes pela ação de agentes atmosféricos e que são
transportados e depositados em locais de topografia mais baixa, formando pacotes
sobrepostos e de grande extensão.
Os processos erosivos, bem como os tipos de transporte (eólico, pluvial,
marinho, etc.) e os ambientes de deposição, são fatores que implicam no tipo de
rocha sedimentar formada. As rochas sedimentares mais comuns são os arenitos,
argilitos, siltitos e calcários, estas correspondem a aproximadamente a 5% da crosta
terrestre.

Figura 10 Rochas sedimentares


Fonte: EBARA [200-]
37

Rochas metamórficas
As rochas metamórficas têm origem na ação da pressão, temperatura ou de
soluções químicas em rochas pré-existentes. A ação desses fatores provoca
alterações em suas estruturas e/ou composições químicas formando uma nova rocha
diferente da original.
As rochas metamórficas mais comuns são os gnaisses, xistos, filitos, mármores,
etc. Este tipo de rocha ocupa aproximadamente 15% da crosta terrestre.

3.4 HIDROGEOLOGIA
Conforme EBARA [200-], os seguintes conceitos básicos são importantes para
um melhor entendimento do assunto.
a) Aqüíferos – São pacotes rochosos que podem reservar e fornecer água a
uma determinada construção ou meio natural.
b) Aqüícludos – São formações que conseguem reter quantidades
consideráveis de água, porém não tem a capacidade de transmiti-la. É o caso das
argilas que tem grande capacidade de retenção de água e não permitem seu
escoamento. Atuam geralmente como confinantes de um aqüífero.
c) Aqüítardos – São formações geológicas que armazenam água, mas a
transmitem de forma muito lenta. Em condições extremas podem ser considerados
como aqüíferos pobres ou servir como elemento de recarga de um aqüífero.
d) Aqüífugos – São formações inalteradas ou maciças que não contém água e
não conseguem transmiti-la, tais como: rochas ígneas, metamórficas e alguns tipos
de rochas sedimentares, inalteradas e sem fraturamento.
Tipos de Aqüíferos – Os aqüíferos podem ser classificados tomando-se por
base a forma de circulação da água subterrânea e a pressão hidrostática contida.
• Aqüíferos porosos – são aqüíferos que aproveitam a permeabilidade e
porosidade original da rocha. Ex. arenitos;
• Aqüíferos fissurados – são aqüíferos que aproveitam a porosidade e
permeabilidade conferidas a rocha através de fissuras ou fraturas – Ex. granitos
fraturados;
• Aqüíferos livres ou freáticos – são aqüíferos que apresentam a maior parte da
superfície da água em contato com a pressão atmosférica. Sua superfície
piezométrica é chamada superfície freática ou lençol freático.
38

Figura 11 Aqüíferos livres


Fonte: EBARA [200-].

• Aqüíferos confinados – são aqüíferos limitados por camadas impermeáveis,


apresentando a espessura da formação geológica totalmente saturada, com a água
submetida a uma pressão superior à atmosférica. Isso determina que o nível da água
(superfície piezométrica) seja superior ao teto confiante.

Figura 12 Aqüíferos confinados


Fonte: EBARA [200-].

• Aqüíferos semi-confinados – o aqüífero semi-confinado existe quando a


camada confiante tem características de aquitardo. A sua superfície piezométrica
será superior ao aquitardo confiante.
39

Figura 13 Aqüíferos semiconfinados


Fonte: EBARA [200-].

f) Nível estático (NE) – É a superfície livre de água dentro do poço em repouso,


isto é, sem bombeamento, medida a partir da boca do poço.
g) Nível dinâmico (ND) – É o nível d’água dentro do poço quando o mesmo está
sendo bombeado. É medido a partir da boca do poço. Há um nível dinâmico
correspondente a cada vazão bombeada.
h) Rebaixamento (s) – Corresponde a diferença entre as medidas de nível
dinâmico e estático, ou seja, s = ND-NE.
i) Vazão (Q) – É o volume d’água obtido no poço através de bombeamento ou
como resultado do alívio da pressão do próprio aqüífero (artesianismo).
J) Vazão específica (Q/s) – É a relação da vazão (Q) pelo rebaixamento (s) do
poço. Serve como indicador do rendimento do aqüífero (m³/h/m).

l) Nível piezométrico (NP) – É o nível d’água no aqüífero que está em contato


com o ar sob a pressão atmosférica. O nível que a água atinge reflete a pressão
hidrostática do aqüífero.
40

m) Raio de influência – Quando o poço está sendo bombeado, devido ao


rebaixamento do nível da água, forma-se em torno do mesmo um cone de
depressão, com vértice voltado para o fundo. A distancia que vai desde o centro do
poço até o ponto em que o rebaixamento se torna nulo é chamado de raio de
influencia. Na prática pode formar muitas figuras geométricas que não obedecem ao
formato de cone.

Figura 14 Raio de influência


Fonte: EBARA [200-].
41

4 REFERENCIAL METODOLÓGICO

Concluída a fase de referenciação teórica, e levando-se em conta o enfoque


resultante da problematização, foram definidos os objetivos, hipóteses, variáveis e
procedimentos metodológicos a serem adotados no presente trabalho.

4.1 OBJETIVOS
No momento das operações militares no Teatro de Operações Amazônico, o
objetivo geral deste estudo foi o de identificar maior viabilidade de utilização da
alternativa de suprimento de água subterrânea na Amazônia através da perfuração
de poços pela Engenharia Militar.
Para atingir o referido objetivo geral, foi necessário realizar um detalhamento
das ações a serem realizadas, as quais podem ser consubstanciadas em questões.
Com base na pesquisa bibliográfica e documental, as questões investigadas foram
as seguintes:
a) Qual a importância de água subterrânea como suprimento no conceito
estratégico operacional?
b) Qual as características da região Amazônica como reserva desse potencial
hídrico subterrâneo e sua atual utilização?
c) O que são poços, quais os tipos de perfuração, e quais os equipamentos
utilizados?
d) Como o Exército Brasileiro, por meio da Engenharia Militar, utiliza a
perfuração de poços para a exploração de águas subterrâneas na Amazônia?
e) Que aperfeiçoamentos podem ser introduzidos na doutrina de apoio logístico
pela Engenharia Militar para maior utilização de suprimento de águas subterrâneas
na Amazônia?
Tais questões basicamente definiram as ações realizadas no decorrer do
42

presente trabalho, de forma que a problemática pudesse ser determinada.

4.2 HIPÓTESE

Ainda no que se refere à problemática apresentada como objetivo geral desta


monografia, cabe estabelecer uma conjectura a respeito de uma possível resposta ao
problema formulado no presente trabalho.
Dificuldades relatadas por ex-integrantes de Pelotões Especiais de Engenharia
internados em bases de selva durante exercícios operacionais na Amazônia e por
diversos comandantes de frações de Engenharia de Construção naquela área, em
relatórios sobre a utilização prolongada da água de superfície tratada, e também
identificada pelo autor por ocasião de sua experiência como oficial da 4ª Seção e
comandante de companhia de construção do 6º Batalhão de Engenharia de
Construção, sediado em Boa Vista, no estado de Roraima, permitiram estabelecer a
hipótese desse trabalho.
Tais dificuldades apontam no sentido de que a utilização de água potável para o
suprimento das tropas do Exército Brasileiro na Amazônia apresenta importantes
lacunas no que se refere à sua otimização naquela região, basicamente pelo fato de
existir abundante lençol subterrâneo na área e que seria uma excelente alternativa
de suprimento de água potável através da perfuração de poços pela Engenharia
Militar.
O presente trabalho buscou a comprovação da referida suposição por meio de
procedimento metodológicos, que serão posteriormente descritos.

4.3 VARIÁVEIS
O tema da presente dissertação, que é a alternativa de suprimento de águas
subterrâneas na Amazônia através da perfuração de poços pela Engenharia Militar,
apresenta variados aspectos sujeitos à medição, e que, portanto constituem variáveis
no estudo ora realizado.
Os elementos centrais da investigação são, respectivamente, a alternativa de
suprimento de águas subterrâneas na Amazônia e a perfuração de poços pela
Engenharia Militar.
As alternativas de suprimento de água potável são variantes. A que foi
considerada de interesse ao presente estudo foi a alternativa de águas subterrâneas.
43

A região também é variante na divisão fisiográfica brasileira, no referido estudo


foi considerada a região Amazônica.
Ainda há uma variável no que refere à força singular atendida, esse trabalho
enfocou ao atendimento das necessidades do Exército Brasileiro.

4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


Na medida em que o presente trabalho foi direcionado para a realização de um
estudo da otimização da alternativa de suprimento por meio de águas subterrâneas
da Amazônia, através da perfuração de poços pela Engenharia Militar, o presente
trabalho desenvolveu-se fundamentado em uma pesquisa bibliográfica e documental,
compreendendo as seguintes técnicas:
a) levantamento da bibliografia de documentos pertinentes;
b) seleção da bibliografia e dos documentos;
c) leitura da bibliografia e dos documentos selecionados;
d) fichamento, ocasião em que foram elaboradas as fichas bibliográficas de
citação, de resumo e analíticas;
e) análise crítica e consolidação das questões de estudo.
A coleta do material foi executada através da consulta realizada nas bibliotecas
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, do Instituto Militar de
Engenharia, da Comissão de Pesquisa de Recursos Minerais, em documentos
disponíveis nos arquivos do 1º Batalhão de Engenharia de Construção, e finalmente
em consulta a Internet.
Trabalhos monográficos e artigos científicos realizados sobre o tema também
foram buscados, na medida em que puderam complementar a análise realizada.
Além disso, foi de fundamental importância a coleta de dados e entrevistas de
oficiais de Engenharia que servirem na Amazônia, dos quais foi possível analisar os
ensinamentos colhidos de sua estada nessa região, e as experiências profissionais e
os conhecimentos sobre os assuntos do autor deste trabalho.
44

5 AMAZÔNIA – CONSIDERAÇÕES HIDROGEOLÓGICAS

Segundo Mento (2000), na Província Amazonas as escassas informações


hidrogeológicas restringem-se aos aqüíferos dos depósitos arenosos do Cenozóico
(TQs = Solirnões; Tqac = Alter do Chão), que apresentam bons índices de
produtividade de aqüífero em diversas áreas (Belém, Ilha de Marajó, Santarém, e
Manaus). A captação é efetuada tanto por poços tubulares (com profundidades de
60 a 250 m), como por sistemas de ponteiras e poços amazonas. As vazões são
extremamente variáveis, com valores de 30 a 200 m³/h. Dos outros sistemas
aqüíferos (Qa = Aluviões; Km =: Moa; Ct = Tapajós; Sdu = Urupadi) existem apenas
inferências quanto aos seus possíveis comportamentos hidrogeológicos. As águas
apresentam-se geralmente com teores de sais muito baixo. Entretanto, muitas vezes
requerem correções devido a sua acidez e altos teores de ferro, antes de serem
utilizadas nos sistemas de abastecimento d’água.

5.1 A PROVÍNCIA AMAZONAS


Os poços para o abastecimento de diversas localidades em Manaus captam
apenas os aqüíferos de menor profundidade. A base destes poços, a cerca de 200
m, é geralmente constituída de camadas com predominância de calcário (Formação
Nova Olinda). As vazões dos poços não vão além de algumas dezenas de m³/h.
De acordo com os dados do poço estratigráfico da Petrobrás (Mn-st-01-AZ),
perto de Manaus, que atravessou uma espessura total de 1.500 metros de
sedimentos, sem contudo atingir o embasamento pré-cambriano, existem formações
a grande profundidade (Prosperança e Trombetas) com certas possibilidades
hidrogeológicas. A verificação do potencial explorável destas e, eventualmente, de
outras unidades mais superiores existentes no pacote sedimentar, somente poderá
45

ser analisada com base na comparação entre os custos de captação de água


subterrânea - utilizando-se diversas hipóteses, das mais pessimistas às mais
otimistas - e os custos da água de origem superficial. Seria uma obra tipicamente
para o Governo, em face dos elevados investimentos necessários e da incerteza
quanto ao sucesso da pesquisa, porém com a perspectiva de benefícios no campo
social e de saúde para a região de Manaus.

5.2 A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA SUBTERRÂNEA


Durante o século XVIII, foram estabelecidos fundamentos da geologia, que
forneceram base para a compreensão da ocorrência do movimento das águas
subterrâneas, já que essas apresentam grandes vantagens sobre as águas
superficiais, pois resultam em menor custo de captação e distribuição.

5.2.1 Água torna-se negócio atrativo: estão de olho nas privatizações


A importância da água pode ser vista na seguinte reportagem:

Depois do ouro, automóveis e cerveja, agora a água é o mais novo


negocio do empresário Eike Batista – chairman e chief executive
officer (CEO) da mineradora canadense de ouro TVX Gold, com
operações no Canadá, Chile e Brasil – está entrando no setor de
água subterrânea e quer participar das privatizações da área de
saneamento (CARIDE, 1999).

Essa notícia, publicada pelo Boletim Informativo da Associação Brasileira de


Águas Subterrâneas, foi extraída da Gazeta Mercantil de 04 de maio de 1999 por
Daniela Caride, e informa também que a aposta nesse setor é baseada em projeções
do IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas, que indicam déficit de
investimentos no Brasil de US$ 2,7 bilhões anuais nos próximos 15 anos, no setor.
A nota afirma que o empresário usa o modelo de compra de empresas, para
depois transformá-las em companhias de risco. A estratégia começou com a
aquisição de 90% da perfuradora de poços artesianos profundos Geoplan, que
também será tratadora de águas e esgotos; e com a opção de compra de outros 90%
da empresa paulista Água Certa.
Batista tem planos de comprar pelo menos três perfuradoras e ficar com uma
fatia superior a 65% no mercado de perfuração de poços. A expectativa de
crescimento do mercado de águas subterrâneas no Brasil é de 50% ao ano, segundo
o empresário. A Geoplan faturou US$ 11 milhões.
46

Humberto Albuquerque, vice-presidente da ABAS e chefe da divisão de


hidrogeologia e exploração da CPRM, concorda com as projeções, dizendo que esse
mercado está em franca expansão. Mas não há dados oficiais quanto a esse
crescimento, pois não existe um órgão nacional para monitorar essa atividade e nem
uma lei federal que obrigue o registro dos poços perfurados.
A estratégia de Eike Batista pretende formar consórcios com grupos
estrangeiros para disputar e arrematar empresas de saneamento de pequeno e
médio porte nos leilões. A CEDAE do Rio de Janeiro estaria fora de seus planos por
ser muito grande, e, segundo afirmou, o seu interesse será maior por empresas que
sejam municipalizadas antes da privatização.
O Brasil detém 12% das reservas mundiais de água doce, segundo dados da
Secretaria de Recursos Hídricos e Amazônia Legal, mas, a distribuição dessa água é
desigual: a Bacia Amazônica, onde se concentra apenas 5% da população brasileira,
detém 80% da água doce disponível no Brasil; enquanto os 33% representados pela
população nordestina dispõe de apenas 4% dos recursos hídricos, de acordo com os
dados da Secretaria. Todavia, sabe-se que existe um verdadeiro mar de água doce
subterrânea, superior em quatro vezes a Baía de Guanabara, só no Piauí...
Suficiente para afogar a “Industria da Seca”!

5.2.2 Crescimento da pressão em prol das águas subterrâneas na Amazônia


Geólogo formado pela USP e doutor em hidrogeologia pela UFPA, Antonio
Tancredi é um incansável defensor da utilização das águas subterrâneas, tanto para
o abastecimento público quanto para uso industrial ou para a irrigação agrícola.
Tancredi tem a seu favor um verdadeiro arsenal de argumentos para defender
as suas idéias, as quais tem sido objeto de diversos artigos, publicados pela mídia
setorial especializada e que, como não poderia deixar de ser, foi motivo de discussão
no recente Encontro Nacional de Perfuradores de Poços, realizado em setembro no
Hilton Belém pela ABAS/Núcleo Pará.
Um dos fatores importantes na utilização de água subterrânea para
abastecimento público é o seu baixo custo de captação, que, segundo ele,
representa menos de 50% do equivalente em água superficial, pois dispensa a
construção de obras como barragens, adutoras de recalque e estações de
tratamento. Como exemplo, Tancredi aponta estudos realizados na região, indicando
47

que o custo de captação da água subterrânea de Santarém representa apenas


38,4% do gasto em captação da água superficial em Manaus. Em outras palavras,
isso significa que, para cada R$ 100,00 gastos em Manaus com a captação de água,
Santarém gastaria apenas R$ 38,40.
A água subterrânea é acessível no meio urbano e rural, tornando-se disponível
com grande rapidez no próprio local onde são geradas as demandas sem causar
restrição às demais formas de ocupação do terreno, como acontece no caso das
barragens.
No caso da captação de águas superficiais o dimensionamento do projeto exige
um investimento antecipado, já que as instalações a serem construídas deverão levar
em conta o crescimento da demanda futura, evitando que haja colapso de
fornecimento em breve, tornando a obra defasada.
Embora situada na parte do globo mais rica em recursos hídricos, a região
amazônica tem carência de água para abastecimento público. Segundo Tancredi,
somente em Belém existem cerca de 300.000 habitantes sem abastecimento de
água. Como se isso não bastasse para sensibilizar as autoridades constituídas,
continuam sendo tolerados graves problemas técnicos nos poços, os quais
continuam sendo construídos por pessoal não qualificado em hidrogeologia, em
desrespeito às normas de segurança.

5.2.3 A Região Metropolitana de Belém pode ser integralmente abastecida


por águas subterrâneas
Com mais essa afirmação, o Dr. Antonio Carlos Tancredi garante que toda a
população de Belém e arredores podem ser abastecidos exclusivamente por poços
tubulares profundos, sem qualquer necessidade do sistema atual de captação de
águas superficiais. Segundo ele, o aqüífero profundo em Belém é totalmente
protegido de poluição e contaminação. Desde que sejam construídos poços
profundos, obedecendo aos critérios técnicos, a população poderá receber água de
melhor qualidade e isenta de tantos produtos químicos, por um custo bem menor.
Historicamente o IDESP é o pioneiro em pesquisa de água subterrânea na
Amazônia. Em 1970 foi realizado o primeiro estudo de água subterrânea na Ilha do
Marajó pelo órgão. Nesse mesmo ano foi iniciada a perfuração de poços profundos
no Pará por uma empresa paulista que, perfurou mais de dez poços.
48

Nesse trabalho foi detectado que as maiores reservas de água subterrânea do


Pará estão em Belém. Tancredi explica que o manancial da RMB tem excelente
qualidade e alta produtividade, sendo possível implementar poços com vazão
superior a dois milhões de litros por hora, com pH 7,2 e propriedades que classificam
sua água como de ótima potabilidade.

5.3 A SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NA REGIÃO AMAZÔNICA


O Brasil apresenta uma grande heterogeneidade, entre suas diversas regiões,
quando ao atendimento em Saneamento Básico. Enquanto no Sul e no Sudeste
encontra-se grande parte da população com acesso à água tratada, nas regiões
Nordeste, Centro-Oeste e, principalmente Norte, o nível de atendimento é menor.
Estes dados podem ser visualizados na Tabela 4.

Dados em % de domicílios urbanos


Indicadores Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C. -Oeste
Abastecimento de
água
Redes públicas de
91,11 69,13 86,07 95,45 94,36 82,75
distribuição
Outras soluções 8,89 30,87 13,93 4,55 5,64 17,25
Esgoto Sanitário
Redes públicas de
48,88 8,91 22,47 75,76 17,41 34,09
coleta
Fossas sépticas 25,43 39,66 30,31 13,45 58,4 13,08
Outras soluções 25,69 51,43 47,22 10,79 24,19 53,83
Tabela 4 Indicadores de Saneamento no Brasil e Grandes Regiões (1996)
FONTE: IBGE, 1996 APUD FILIPPO, 2000.

Em relação ao acesso à rede pública de esgotos, o contraste é muito maior,


havendo uma percentagem ínfima de população atendida, com exceção da região
Sudeste. Segundo Filippo (2000), essa situação tem reflexos diretos, pelo próprio
contato, e indiretos na saúde da população, pois se os dejetos sanitários não
recebem o tratamento adequado, tornam-se potencial meio de contaminação dos
mananciais.
Ainda segundo Filippo (2000), devido à sua exposição ao meio ambiente, a
água pode veicular algumas doenças, tais como:
a) Doenças transmitidas por ingestão de água contaminada:
• Diarréia;
• Febre Tifóide;
49

• Leptospirose;
• Amebíase;
• Hepatite;
• Ascaridíase;
• Giardíase.
b) Doenças transmitidas por vetores que se relacionam com a água:
• Malária;
• Febre Amarela;
• Dengue;
• Elefantíase;
• Esquistossomose.

5.3.1 Situação atual de abastecimento e tratamento de água em pequenas


comunidades
Conforme Filippo (2000), existem programas governamentais que visam
atender à parte da população residente em pequenas comunidades, em especial, na
Amazônia. Pode-se, através dos dados abaixo, observar que a região Norte possui o
mais baixo nível de atendimento por redes públicas de águas e esgoto,
considerando-se médias entre áreas urbanas e rurais.

Água Esgoto
Pop.
ESTADO Pop. % atendida Pop. % atendida
(proj 1989)
atendida total urbana atendida Total urbana
Roraima 247.000 142.730 57,78 83,91 14.971 6,06 8,8
Amapá 380.000 185.090 48,7 56,62 9.730 2,56 2,98
Amazonas 1.949.000 1.315.392 67,52 96,04 53.740 2,76 3,92
Pará 5.611.000 2.192.084 39,07 68,55 141.046 2,51 4,41
Rondônia 1.572.000 402.160 25,58 49,22 10.000 0,64 1,22
Acre 414.000 152.740 36,89 75,7 17.827 4,3 8,84
Maranhão 5.295.000 1.585.325 29,94 65,66 351.000 6,63 14,74
Mato-
2.065.000 1.208.370 58,51 76,08 145.035 7,02 9,13
Grosso
Brasil 152.944.000 100.500.098 65,71 86,22 44.075.415 29,82 37,81
Tabela 5 Nível atendimento de água e esgoto na Amazônia
FONTE: ABES (1990 APUD FILIPPO, 2000).
50

Analisando-se separadamente estas áreas, nota-se que as pequenas


comunidades rurais da Região Norte apresentam uma situação crítica, havendo
municípios em que este atendimento simplesmente não existe, como por exemplo,
nos municípios do Pará constantes na Tabela 6.
Percentual de Municípios
casas atendidas Ponta de Pedras Abaetetuba S. Geraldo Belém
Sede Munic. Sede Munc. Sede Munic. Sede Munic.
C/sist público c/
77,08 36,05 62,1 51,33 *** *** 74,64 69,94
trat.
C/ poços ou
22,92 63,95 37,9 48,67 80 *** 25,36 30,06
cacimbas
Água colet. Rio
*** *** *** *** 20 *** *** ***
diret.
Tabela 6 Nível atendimento de água em municípios do Pará (%)
FONTE: PESQUISA PUBLICAÇÃO MEIO AMBIENTE, 1992 APUD FILIPPO, 2000.

Ainda segundo Filippo (2000), situação não muito diferente é encontrada nos
Pelotões e Companhias do Exército na Amazônia, em especial aqueles localizados
nas áreas mais distantes. Quando existe algum tratamento, este se resume ao
tratamento expedito de campanha, ou utilizam-se equipamentos de tratamento
comprados de empresas de outras regiões (estações compactas), nem sempre
adequados, com alto custo de aquisição e transporte de difícil manutenção, conforme
pode ser visualizado na figura abaixo. A figura 15, corresponde a uma estação
instalada na Companhia Especial de Fronteira (CEF) do 3º BIS em Clevelândia do
Norte / Oiapoque (AP).

Figura 15 Estação de tratamento de água em Clevelândia do Norte – AP


Fonte: Filippo (2000).
51

Nas pequenas comunidades do Brasil, o principal processo utilizado para


tratamento de água é o convencional (coagulação, floculação, decantação e filtração
rápida), havendo um crescimento na utilização de filtros lentos nos últimos anos.

5.4 ANÁLISE DA QUALIDADE DE POTABILIDADE DO RIO NEGRO

Quando se fala em potencial hidrográfico amazônico, não se pode deixar de


estudar a qualidade de potabilidade dos rios da Amazônia. Como exemplo pode-se
citar o Rio Negro, um dos maiores mananciais amazônicos.

5.4.1 Análise da água do local


Segundo a Companhia de Saneamento do Amazonas (COSAMA) apud Filippo
(2000), foram obtidos dados sobre a água do Rio Negro, em uma série anual. O
período de amostragem foi de junho de 1999 à maio de 2000. Os valores
encontrados podem ser observados na Tabela 7.

PERÍODO 1999 / 2000


Caracter. Meses
1) Físicas Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Cor aparente 250 238 250 238 237,5 250 200 200 188 200 200 200
Cor real 238 225 238 225 225 250 188 188 175 188 188 188
Odor AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS
pH 4,7 5,3 5,3 5,3 5,5 5,5 4,8 5,4 5,8 4,9 4,7 4,9
Turbidez 4,92 4,65 5,14 4,49 5,15 4,62 6,5 5,87 7,97 3,87 4,56 5,05
2) Químicas
Bicarbonato 3 4 3 5 6 4 4 6 5 5 4 6
Carbonatos 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Hidróxidos 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Manganês 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Ferro 0,3 0,3 0,5 0,4 0,6 0,4 0,5 0,3 0,3 0,3 0,3 0,5
Oxig
11 12,5 13,7 14,8 13,9 15,3 11,3 12 12,6 12,7 13,5 13
consumido
Cloretos 7,2 10,8 6,4 11,8 9,5 7,7 7,6 9,1 11,1 8 9,4 8,5
Cálcio 0,35 0,56 0,24 0,48 0,4 0,4 0,96 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4
Magnésio 0,92 0,83 1,17 0,78 0,78 0,53 0,63 0,53 0,97 0,92 0,97 0,97
Gás
AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS AUS
Sulfidrico
Gás 6 7 7 6 7 8 10 7 5 8 7 8
52

Carbônico
Dureza 4,6 4,8 5,4 4,4 4,2 3,2 5 3,2 5 4,8 5 5
Alumínio 0,1 0,2 0,1 0,4 0,2 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,2 0,2
Sólidos totais 3 2,4 1,2 1,4 2,3 3,1 5 1 1,7 1,6 2 2,1
AUS = ausente - Jan/Jun: cheia do rio - Jul/Dez: vazamento do rio
Tabela 7 Análise físico-química de amostra do Rio Negro
FONTE: COSAMA, 2000 APUD FILIPPO, 2000.

Através de uma comparação com os valores preconizados pelo Ministério da


Saúde, Tabela 8, pode-se observar que alguns parâmetros encontram-se com
valores excessivamente altos.
Notamos que a cor é o fator que mais diverge em relação aos padrões.
Enquanto o valor aceito é de 5 (cinco) unidades de cor na entrada do sistema de
abastecimento, na amostragem do Rio Negro encontra-se valores de até 250
unidades de cor (uC).
Os valores de turbidez e ferro também estão acima do recomendado, porém
com divergências menores. O valor permissível para turbidez é de 01 (uma) uT, e o
valor encontrado máximo é de 7,97 uT. Para o ferro, o valor máximo permissível é
de 0,3 mg/1 e o valor máximo na amostragem é de 0,7 mg/1.
53

Tabela 8 Padrão de potabilidade e classificação dos corpos de água


considerando alguns compostos inorgânicos e orgânicos de risco à saúde.
Fonte: Portaria 36 do Ministério da Saúde, apud TEIXEIRA, 2001.

Pelos fatos acima referidos: quanto à capacidade hidrogeológica dos lençóis


freáticos existentes na região amazônica, da necessidade de otimização das
alternativas de suprimento de água, para o Exército Brasileiro na Amazônia e
também pelas pesquisas de interesse mundial na exploração da água subterrânea e
pelas suas vantagens e futuro valor estratégico, pode-se inferir, parcialmente, numa
melhor oportunidade em médio prazo de utilização importante desse recurso mineral,
diminuindo os custos de operações com tratamento e oferecendo suprimento de
melhor qualidade.
54

6 O EMPREGO DA ENGENHARIA DE EXÉRCITO

6.1 A ENGENHARIA DE EXÉRCITO DE CAMPANHA


O emprego da Engenharia no escalão Exército de Campanha (Ex Cmp) é
essencial e eficaz por assegurar uma adequada utilização em sua zona de ação. A
Engenharia de Exército (EEx) assume missões táticas e logísticas, atendendo às
suas atribuições com unidades específicas.
A doutrina de emprego da Engenharia Militar no
Exército Brasileiro encontra-se consubstanciada no
manual C5–1 (Emprego da Engenharia), cujos
tópicos principais serão destacados a seguir.

O Exército de Campanha (Ex Cmp) constitui o escalão essencial do emprego


da engenharia por ser o grande comando operacional que executa operações
estratégicas e que planeja e conduz operações táticas dos seus elementos
subordinados (BRASIL, 1999b).
Quando ocorrem flutuações na linha de contato, o comando da Engenharia de
Exército representa um elemento suficiente estável e bastante afastado das tropas
que estão em contato. Tem, assim, uma visão ampla do terreno e da situação, para
poder julgar as necessidades gerais em apoio e em trabalhos, conceber o esquema
geral de apoio de engenharia e exercer, efetivamente, uma coordenação dos
escalões subordinados, aos quais o ambiente de combate não permite uma
adequada ação de convergência de esforços.
O comandante da E Ex pode exercer uma ação eficaz na manobra pela
possibilidade de assegurar um emprego adequado e oportuno de todo o vasto
potencial de engenharia existente em sua zona de ação, no qual se incluem, não
apenas os meios próprios da E Ex, mas também as unidades de engenharia dos
elementos subordinados.
55

Tendo o escalão Ex Cmp funções táticas e logísticas, e apresentando os


trabalhos de engenharia características próprias, particularmente no que se refere à
diversificação e à técnica elevada, sua engenharia atende a esses aspectos
peculiares contando com unidades relacionadas à quase todas as atribuições gerais
da engenharia.
Composição da Engenharia de Exército
a) O comando da E Ex é um comando de divisão de engenharia, cujo Estado-
Maior da E Ex e o comandante é, também, o engenheiro do Exército.
b) Em princípio, fazem parte da E Ex, as seguintes organizações de
engenharia Figura 17:
1) Companhia de Comando e Apoio;
2) Grupamentos de Engenharia;
3) Batalhões de Engenharia de Combate, de Construção e de Pontes; e
4) Companhias de Engenharia Especializadas.

E Ex

EM Geral(1) EM Pessoal

Cia C Ap Gpt E (2) BE Cmb (3) Cia E Eqp (4)

Gpt E BE Cnst (3) Cia E Cam Bas (4)

Gpt E BE Pnt (3) Cia E Cmt (4)

Gpt E Outras U (3) Cia E Sup Agu (4)

Cia E Sup Agu (4)

Outras Su E sp (4)

Figura 16 Exemplo de organograma da E Ex


FONTE: BRASIL, 1999B.

Legenda:
(1) No EM, além das seções normais de um EM de G Cmdo, existe a Seção Técnica.
(2) Nº variável de Gpt E (no mínimo 1), que enquadram as U Eng e as SU Esp.
(3) Nº variável de U Eng, conforme a necessidade.
56

(4) Nº variável de Cia E especializadas, conforme a necessidade.


c) A quantidade e o tipo de unidades da E Ex depende dos seguintes fatores:
- missão do Exército de Campanha;
- características da área de operações;
- inimigo (dispositivo, natureza e possibilidades);
- natureza e número de elementos de manobra e apoiar; e
- disponibilidades de meios de engenharia.

Em função do ambiente operacional e da manobra tática a apoiar, algumas


dessas unidades e subunidades devem possuir pessoal adestrado e material
adequado para permitir o apoio adicional de engenharia a elementos de manobra
com características especiais, como as tropas leves, de montanha, ribeirinha, de
selva, pára-quedista e outras.

6.1.1 A E Ex e a atividade de suprimento de água


Na execução do apoio de engenharia a um Exército de Campanha em área
operacional de continente abrange uma diversidade de trabalhos em apoio adicional
aos elementos de primeiro escalão (BRASIL, 1999b). Realiza, também, o apoio à
proteção de tropas e instalações e o apoio geral de engenharia em toda a sua área
de atuação. Porém, a Engenharia no Escalão Exército de Campanha tem a nobre
missão de apoio logístico: a produção de água tratada.
As necessidades de produção e de distribuição de água potável apresentam
problemas complexos no Ex Cmp em face da demanda das organizações
hospitalares, instalações de banho e lavanderia, padarias e instalações de
recompletamento e recreação, exigindo que se disponha de meios especializados
apropriados e se busque a máxima utilização dos recursos locais. No escalão Ex
Cmp e superiores, a engenharia assume o planejamento e a execução dessa
atividade, em face do volume de trabalho requerido.

6.1.2 Atividade de suprimento de água nas operações ofensivas e defensivas


Nas operações ofensivas a engenharia apóia a arma base contra posições
inimigas estabelecidas em linha seca ou em curso de água não obstáculo, não
abordando aspectos particulares das operações ofensivas de transposição de curso
de água (BRASIL, 1999b).
57

Nas operações, a engenharia apóia a arma base para deter e/ou destruir as
forças inimigas, criando condições para passagem à ofensiva.
Apóia às ações em profundidade, na área de segurança, na área de defesa
avançada e na área de retaguarda.
A produção de água tratada no escalão Exército e Brigada, é uma tarefa
realizada pelas unidades logísticas, com seus próprios meios (pessoal e material) de
engenharia.

6.2 A ENGENHARIA MILITAR NAS OPERAÇÕES DE SELVA


De acordo com Brasil (1999b), as regiões de selva têm suas características
próprias: o clima tropical e a devida cobertura vegetal. Situam-se nos trópicos e nas
regiões subtropicais, onde o índice pluviométrico é muito alto.
A selva possui o terreno com caracteres próprios para o estudo em operações
militares.
A topografia das regiões de selva varia de terreno plano pantanoso de baixa
altitude até montanhas elevadas, incluindo áreas irregulares e de colinas.
A selva pode prolongar-se além da linha da água, sob a forma de mangues,
constituindo uma barreira aos desembarques.
Os cursos de água são numerosos, geralmente lodosos e sujeitos a grandes
variações de suas características (nível, velocidade da correnteza, curso,
navegabilidade, etc). Durante os períodos de chuvas, toda uma região plana pode
transformar-se num pantanal contínuo.
Tipos de vegetação mais comuns nas regiões de selva:
a) floresta tropical, com grande densidade de arvores muito altas, cobertas de
trepadeiras, podendo ou não apresentar vegetação rasteira;
b) floresta tropical secundária, bastante densa e com vegetação de pequeno e
médio portes;
c) floresta de pantanal, com árvores de porte médio e densa vegetação
rasteira;
d) campos gerais, com cerrada vegetação de pequeno porte;
e) mangues; e
f) plantações.
As operações na selva são condicionadas pelos seguintes fatores:
a) observação terrestre e aérea precárias;
58

b) campos de tiro restritos;


c) ausência de pontos de referência no terreno;
d) existência de inúmeras regiões pantanosas;
e) escassez ou ausência de estradas;
f) escassez de recursos locais, pois mesmo as poucas localidades não contam,
na maioria das vezes, com materiais de construção, suprimentos, água potável,
energia elétrica e outros recursos para apoio às tropas;
g) grandes dificuldades para o estabelecimento e manutenção das
comunicações;
h) externa dificuldade aos movimentos através da selva, inclusive para o
homem a pé;
i) ampla utilização dos cursos de água para os deslocamentos; e
j) severo desgaste físico do pessoal e material utilizados, em virtude do clima
quente com elevada taxa de umidade do ar, do ambiente inóspito da selva e da
exposição aos vetores de doenças tropicais.
A conquista, a construção e a proteção dos aeródromos e de zonas de pouso
de helicópteros podem muitas vezes, constituir o objetivo inicial das forças
empenhadas nas operações.
Os princípios básicos de combate são verdadeiros quando aplicados ao
combate nas selvas, mas as dificuldades do terreno, a visibilidade e o clima
restringem de tal modo a ação do comando, a manobra, o apoio de fogo, a
mobilidade, os suprimentos e a evacuação, que a aplicação destes princípios deve
ser adaptada às limitações impostas por aquelas dificuldades.
O combate nas selvas é, fundamentalmente, uma luta de pequenas unidades
de infantaria que operam contra o inimigo, em pequenos compartimentos. Muitas
vezes é caracterizado pela luta de corpo a corpo. Na selva densa, o combate
geralmente é conduzido por grupos de combate, pelotões e companhias. Em regiões
de vegetação pouco densa, maiores escalões podem ser engajados.
Na execução do apoio logístico de engenharia a utilização do manancial
superficial é maior que o subterrâneo para produção de água potável, porém haverá
grande preocupação de detecção de seres patogênicos prejudiciais à saúde das
tropas.
Normalmente, a água é abundante e tratável pelos processos usuais.
Considerando as grandes distâncias, a difícil ligação e o alto grau de
59

descentralização e fracionamento da tropa, o tratamento de água para os pequenos


efetivos deve ser encargo da própria tropa de base, cabendo à engenharia a
responsabilidade pelo suprimento de água para efetivos maiores, em situações de
maior estabilidade.
A presença de organismos patogênicos nas fontes de água deve ser verificada
pelo pessoal de saúde.
A utilização de águas subterrâneas poderá ser adaptada por equipes de
engenharia para perfuração de poços para exploração desse suprimento, pois são
equipes pequenas e podem adaptar-se ao emprego na selva.
A selva dificulta as operações centralizadas de unidades maiores que batalhão.
Em conseqüência, a engenharia é empregada, também, de forma descentralizada.

6.3 A ENGENHARIA MILITAR E SUA TAREFA AFETA À ATIVIDADE DE ÁGUA


TRATADA
O suprimento é a atividade da função logística operacional que trata da
provisão e previsão do material necessário às organizações e às forças militares.
Possui classificação militar, como define o manual de Logística Militar Terrestre (C
100-10):
No Sistema de Classificação Militar, utilizado nos planejamentos logísticos
amplos e na simplificação de instruções e planos, todos os itens de suprimento são
agrupados em dez classes:
- Classe I – Material de Subsistência;
- Classe II – Material de Intendência;
- Classe III – Combustível e Lubrificantes;
- Classe IV – Material de Construção;
- Classe V – Armamento e Munição (inclusive Químico, Biológico e
Nuclear);
- Classe VI – Material de Engenharia e Cartografia;
- Classe VII – Material de Comunicação, Eletrônica e de Informática;
- Classe VIII – Material de Saúde;
- Classe IX – Material de Motomecanização e de Aviação;
- Classe X – Material não incluído nas outras Classes (BRASIL,
1993).

A Engenharia militar possui a atribuição com tarefas afetas à atividade de


suprimento no que refere ao tratamento de água que faz parte da classe X, como
define também o manual de Logística Militar Terrestre (C 100-10):
Suprimento de Classe X
Água
(1) É dever dos comandantes prover suas tropas da quantidade de
60

água necessária, em condições de uso, bem como impor uma


disciplina de utilização da mesma.
(2) A água, sempre que possível, é obtida de fontes locais. Estas, se
não proporcionarem a água com a qualidade exigida, serão tratadas
por uma unidade de engenharia que além de realizar o tratamento,
fará o fornecimento de água aos consumidores.
(3) Quando a situação impossibilitar a obtenção de água trata em
instalação fixa ou o seu tratamento por uma unidade de engenharia,
deve ser realizado o tratamento de emergência, individual ou no
âmbito das pequenas frações de tropa, pelos processos em vigor.
(4) Quando as fontes locais forem escassas ou inexistentes, a água
deverá ser obtida fora da área onde está situada a organização militar
para ar transportada. Nesse caso, a disciplina de utilização da água
assume especial importância para que todas as necessidades
possam ser atendidas.
Os suprimentos não incluídos nas situações anteriores, serão
regulados pelo escalão que realizar a distribuição (BRASIL, 1993).

Segundo Brasil (1999b), a Engenharia possui suas responsabilidades e deveres


quanto ao tratamento da água e distribuição.
Tarefas afetas à atividade de suprimento
a. Tratamento de água
1) Responsabilidades
a) É dever dos comandantes prover suas tropas da quantidade necessária de
água em condições de uso, bem como impor uma disciplina da utilização da mesma.
b) A água, sempre que possível, é obtida de fontes locais. Essas, se ainda não
proporcionarem a água com a quantidade exigida, são preparadas por elementos de
engenharia especializada para tal fim.
c) A responsabilidade da engenharia, relativa ao suprimento de água, engloba:
(1) reconhecimento e o desenvolvimento das fontes de água;
(2) a produção da água tratada, nos escalões Ex Cmp e superiores; nos
escalões divisão e brigada, essa tarefa é realizada pelos elementos de engenharia
existentes nos respectivos batalhões logísticos;
(3) transporte da água tratada, em situações excepcionais; e
(4) a distribuição da água nas estações de tratamento de água, nos escalões Ex
Cmp e superiores.
d) Nos escalões Divisão de Exército e Brigada todas as tarefas relativas à
atividade de suprimento de água são executadas por elementos de engenharia
orgânicos da companhia Logística de Suprimento (Cia Log Sup) orgânica dos
Batalhões Logísticos (B Log) desses escalões.
e) O serviço de saúde é responsável pela determinação da qualidade da água.
61

f) O serviço de DQBN tem responsabilidade sobre os sistemas de suprimento


de água que tenham sido contaminados por agentes tóxicos.
g) Quando a situação impossibilita a obtenção de água já tratada, ou o seu
tratamento por unidade de engenharia, deve ser realizado o tratamento de
emergência. Este tratamento pode ser realizado individual ou no âmbito das
pequenas frações de tropa pelos processos aconselháveis.
h) Quando as fontes locais são escassas ou inexistentes, a água deve ser
obtida fora da área onde está situada a organização militar e para aí transportada.
Nesse caso, a disciplina de utilização da água assume especial importância para que
todas as unidades possam ser atendidas.
i) a engenharia é, em qualquer escalão, responsável pelo planejamento, pela
supervisão e pela inspeção das atividades de suprimento de água nas organizações
militares do escalão considerado.
j) Os comandantes de unidades de todas as armas tem também
responsabilidades, como:
(1) a disciplina de água;
(2) as medidas para evitar o desperdício de água;
(3) as preocupações sanitárias para conservar a pureza dos estoques de água
de suas unidades.

6.4 A ENGENHARIA MILITAR NA AMAZÔNIA


A Engenharia Militar desdobra-se na Amazônia por meio do 2º Grupamento de
Engenharia de Construção que coordena quatro Batalhões de Engenharia de
Construção e uma Companhia de Engenharia de Construção, articulados em cinco
estados da federação, conforme as seguintes figuras:

2º Gpt E Cnst
Manaus/ AM

1ª / 1º BE Cnst
5º BE Cnst 6º BE Cnst 7º BE Cnst 8º BE Cnst
São Gabriel da
Porto Velho/ RO Boa Vista/ RR Rio Branco/ AC Santarém/ PA Cachoeira/ AM

Figura 17 Organograma do 2º Gpt E


FONTE: BRASIL, 1974.
62

Figura 18 Desdobramento do Exército na Amazônia


FONTE: BRASIL, 2003A.

A missão do 2º Gpt E Cnst é a de adestrar-se para o combate, por intermédio


da execução de trabalhos técnicos de engenharia que objetivem equipar o território
da Amazônia de forma a, atuando sobre o terreno, modificá-lo para que se obtenham
as melhores condições para as operações militares.
As suas OM de engenharia de construção cumprem missões conveniadas com
vários órgãos públicos federais, estaduais e, mesmo, municipais, envolvendo,
63

principalmente, a conservação, a restauração e a pavimentação de rodovias.


A Engenharia possui aptidão e potencial para realizar ações complementares,
notadamente na Região Amazônica, colaborando para a divulgação de uma imagem
positiva do Exército Brasileiro. As ações complementares são expressas pela
cooperação com o desenvolvimento nacional e a defesa civil. Conforme destaca o
Sistema de Planejamento do Exército – Siplex 3 (BRASIL, 2003b), algumas medidas
necessárias permitem a realização destas ações subsidiárias:
• cooperar na assistência às populações carentes;
• prestar apoio à defesa civil, visando à redução de desastres;
• atuar no processo de desenvolvimento sócio-econômico, a fim de dar
efetividade às ações de governo, sem prejuízo do cumprimento da missão
principal;
• colaborar na proteção ambiental; e
• contribuir com ações de Governo Federal nas áreas de ensino e cultura.
Dentre as medidas a serem desenvolvidas no campo das ações
complementares ou subsidiárias, destacam-se aquelas inerentes aos
elementos da Engenharia de Construção. Dessa maneira, a construção e
manutenção de rodovias, em tempos de paz, pelos BE Cnst tem sido fundamental
para a campanha de equipar efetivamente o território brasileiro, especialmente na
área amazônica.
A localização dos batalhões de engenharia de construção na Amazônia propicia
à sociedade local a realização de um anseio, que é a realização de cursos
profissionalizantes durante o serviço militar. Naqueles batalhões, os soldados
poderão se especializar como operadores de máquinas pesadas, mecânicos,
encarregados de terraplenagem e em muitas outras funções que os habilitam a
exercer uma profissão no meio civil. Como conseqüência para as operações
militares na região, decorre o benefício da disponibilidade de mão-de-obra
qualificada, facilmente cooptada e que poderá ser mobilizada quando necessário.
Estas unidades de construção, a partir de 1995, vêm prestando contribuição
considerável para a política de ampliação da infra-estrutura viária do Projeto Calha
Norte, o qual objetiva integrar, efetivamente, a Amazônia ao restante do Brasil,
marcando a presença do poder público na fronteira norte do País.
Por sua vez, a Engenharia possui notória capacidade de apoiar a defesa civil,
em casos como: o socorro às populações afetadas por meio do lançamento de
64

pontes de equipagem; no resgate às vítimas de desabamentos; no tratamento e


distribuição de água; no combate aos incêndios florestais; na perfuração de poços,
além de muitos outros trabalhos (JOÃO, 2002).

Apesar da missão logística de suprimento de água no Exército de Campanha


ser realizada pelas companhias de suprimento de água, os elementos de engenharia
das Cias Log Sup / B Log, e por equipes técnicas da Companhia de Engenharia de
Serviços Gerais:

Unidades e elementos de execução:


a) As companhias de engenharia de suprimento de água e os
elementos das Cia Log Sup / B Log são os que realizam o suprimento
de água. Para isso são dotadas de equipamentos de análise e de
purificação de água.
b) Além disso, as seguintes técnicas da companhia de engenharia de
serviços gerais, do Exército de Campanha e do CECLTOT, executam
missões de suprimento de água:
(1) equipe de perfuração de poços;
(2) equipe de perfuração e tratamento de água; e
(3) equipe de transporte de água (BRASIL, 1999b).

As equipes de perfuração de poços referidas no apoio à defesa civil


organizadas nos Batalhões de Construção na Amazônia puderam tornar-se fixas,
com as finalidades de apoio às operações de selva, particularmente para otimizar a
alternativa de suprimento de água subterrânea nessa região de tão farto manancial,
pouco aproveitável.
65

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As vantagens de utilização da água subterrânea são fundamentais como


otimização das alternativas desse suprimento na região amazônica.
A Amazônia por suas características hidrogeológicas oferece um excelente e
abundante manancial desse suprimento ainda pouco explorado pelo Exército
Brasileiro.
A Engenharia Militar nas suas missões operacionais e logísticas têm a
responsabilidade de suprimento de água tratada para o Exército de Campanha em
operações.
Para um melhor aproveitamento da Engenharia Militar na exploração de águas
subterrâneas deve-se estabelecer convênios com instituições de renome na
perfuração de poços como a CPRM, visando a elaboração de cursos teóricos e
práticos que explorem aspectos de prospecção, projeto e execução de poços.
Uma das dificuldades na exploração de águas subterrâneas na Amazônia é a
logística de transporte. Devido ao fato de não existirem rodovias com boas condições
de tráfego, torna-se imperioso o estudo de meios de transporte alternativo como o
aéreo e o hidroviário.
O meio aéreo pode ser empregado em locais que permitam a decolagem e
aterrissagem de aeronaves de médio e grande porte capazes de transportar os
equipamentos de perfuração. Caso contrário deve-se tentar o modal hidroviário, com
embarcações locais.
As equipes de perfuração dos BEC devem possuir pessoal técnico e qualificado
na prospecção, projeto e execução de poços profundos. Pelo menos, deve-se ter um
a dois elementos que tenham noções básicas de técnicas de prospecção, ou seja,
que tenham condições de avaliar a possibilidade de obtenção de água de uma
66

região. Deve-se ter também elementos capazes de elaborar projeto de poços e


realizar orçamentos estimativos e cálculo de materiais para a sua execução, e por
fim, deve-se ter elementos capazes de operar equipamentos de perfuração com
destreza e habilidade. A elaboração de parceiras e convênios com outras
instituições, como a CPRM, é fundamental para a capacitação de recursos humanos
para exploração de águas subterrâneas pelo Exército Brasileiro.
No bojo da apresentada problemática de produção de água potável para
finalidade militar, junta-se as possibilidades da região Amazônica e das condições de
emprego de equipes fixas de poços nos Batalhões de Construção dessa área para
otimizar a melhor alternativa de suprimento de água subterrânea no teatro de guerra
amazônico.
67

REFERÊNCIAS

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Brasileiras de Construção de Poços Tubulares Profundos. ABNT. Setembro,
1991.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS – ABAS. Construção


de poço para captação de água subterrânea. ABNT. Março, 1990.

ABREU, Gustavo de Souza. A brigada de Infantaria de Selva na execução da


estratégia da resistência. 1997. Monografia – ( Curso de Altos Estudos Militares) –
Escola de Comando e Estado-Maior, Rio de Janeiro, 1997.

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ARAÚJO, Ronald. A Engenharia Militar na Amazônia. 1992. 45f. Monografia.


(Curso de Altos Estudos Militares) – Escola de Comando e Estado-Maior, Rio de
Janeiro, 1992.

ASSIS, Paulo Roberto Corrêa. O Comando Militar da Amazônia. Military Review, 3º


Tri. 1995, Edição Brasileira.

AVENA, Ítalo Fortes. A Engenharia Militar na Amazônia. Military Review. Edição


Brasileira, 4. Tri. 1995.

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na Amazônia: uma visão prospectiva. Rio de Janeiro, 1996.

BRASIL. EXÉRCITO. Batalhão de Engenharia de Construção (1º). Relatórios de


programas de trabalhos da Seção Técnica para construção de poços na Região
Nordeste. Caicó, [19--?]a.

BRASIL. EXÉRCITO. Batalhão de Engenharia de Construção (1ª/1º). Relatórios de


programas de trabalhos na construção de poços na área amazônica. São
Gabriel da Cachoeira - AM, [19--?]b.

BRASIL. EXÉRCITO. Batalhão de Engenharia de Construção (6º). Relatório do


exercício de experimentação doutrinária do PELESPE do 6º BE Cnst. Boa Vista,
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BRASIL. DNPM / CPRM. Mapa hidrogeológico do Brasil, 1983.

BRASIL. Exército. Comando Militar da Amazônia. Desdobramento do exército na


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68

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1999b.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. C 5-10: A Companhia de Engenharia de Combate


da Brigada. 1. ed. Brasília, DF, 2000.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. C 5-162: O Grupamento e o Batalhão de


Engenharia de Construção. 1. ed. Brasília, DF, 1974.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. C 20-320: Glossário de termos e expressões para


uso no Exército. 1. ed. Brasília, DF, 1984.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. C 100-10: Logística Militar Terrestre. 1. ed. Brasília,


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1975.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. Siplex 3. – Brasília, DF, 1997.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. Siplex 4: Concepção Estratégica do Exército –


Brasília, DF, 1997.

BRASIL. Exército. Estado-Maior. Portaria nº 162 – EMR, de 16 de outubro de 1998.


Aprova o Quadro para Organização para Batalhão de Engenharia de Construção.
Brasília, DF, 1998.

BRASIL. Portaria Nr 162 – EME – de 16 de outubro de 1998. Aprova o Quadro para


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CARIDE, Daniela. Água torna-se negócio atrativo. Gazeta Mercantil, São Paulo, 4
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COSTA FILHO, Waldir Duarte. Nossa Água... – eu me preocupo; cartilha do usuário


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Forças Terrestres do Teatro de Operações Terrestres. QOEs 100-1. Rio de Janeiro,
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em apoio à infantaria de selva nas fases de internamento e combate de
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