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Mudanças climáticas: catástrofes no Paquistão e na Rússia

José Renato Salatiel*


Especil para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado em 25/8/10, às 8h24 Qual seria a relação entre a onda de calor que cobriu
Moscou, a capital russa, com uma espessa neblina de fuligem, e as chuvas que causaram
inundações no Paquistão ? Para cientistas que estudam as mudanças no clima da Terra,
ambas as tragédias, ocorridas nos meses de julho e agosto deste ano, poderiam ser
efeitos do aquecimento global.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

No Paquistão, as piores enchentes em 80 anos deixaram mais de 1.600 mortos e


afetaram 20 milhões de pessoas - aproximadamente 11% da população do país, que
possui 177 milhões de habitantes. As inundações destruíram casas, plantações e
danificaram a infraestrutura de cidades.

Seis milhões de paquistaneses que sobreviveram às cheias (incluindo 3,5 milhões


crianças) correm o risco de contraírem doenças, como a cólera, devido à contaminação
da água.

Em visita ao país no dia 15 de agosto, o secretário-geral da Organização das Nações


Unidas (ONU), Ban Ki Moon , disse que o desastre é o maior que já viu na vida, e
autorizou o envio emergencial de US$ 459 milhões (R$ 811 milhões) para o Paquistão.

Já na Rússia, a maior onda de calor em mil anos causou mortes e prejuízos ao país.
Desde o começo da seca, em maio, 52 pessoas morreram, e a taxa de mortalidade em
Moscou dobrou devido ao calor e à fumaça de incêndios florestais.

A temperatura na capital atingiu o recorde de 39 graus, no dia mais quente já registrado.


Os níveis de monóxido de carbono chegaram ao dobro do aceitável, obrigando os russos
a usarem máscaras nas ruas.

Os incêndios ainda destruíram um quarto das terras usadas para o cultivo de cereais (a
Rússia é um dos maiores exportadores mundiais de trigo, centeio e cevada). Para
garantir o abastecimento doméstico, o governo suspendeu as exportações até o final do
ano.

Havia também o perigo dos incêndios chegarem à usina de Mayak, nos Montes Urais, e
Chernobyl , locais onde ocorreram desastres nucleares nos anos de 1957 e 1986,
respectivamente. O fogo poderia espalhar partículas radioativas presentes no solo
contaminado desses lugares.

O calor também bateu recordes e provocou incêndios em países europeus como Portugal
e Grécia, além de inundações na China . Para especialistas, esses eventos teriam sido
parcialmente provocados pelo aquecimento global, resultado do efeito estufa .

Terra mais quente


O efeito estufa ocorre quando a energia do Sol se acumula na atmosfera terrestre,
elevando a temperatura do planeta. Ele é causado pela emissão de seis tipos de gases,
como dióxido de carbono (CO2) , metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) . O dióxido de
carbono é o mais abundante e duradouro na atmosfera. Ele é liberado pela queima de
combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão natural), que constituem a principal fonte
de energia das economias mundiais.

O efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a vida no planeta, pois permite
que a Terra retenha o calor indispensável para a sobrevivência dos seres vivos. O
problema é que, com o aumento da poluição a partir do século 19, houve um
desequilíbrio nesse processo, o que provocou o aquecimento global.

Alertados por cientistas, os governos mundiais começaram a se preocupar com questões


ambientais nos anos 1980. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em 2007, apontou que a
temperatura no mundo subiu 0,74% no período de 1906 a 2005, devido à atividade
humana. E, se nada for feito, haverá um aumento em 4 graus Celsius até 2100.

Se isso acontecer, espécies de animais e vegetais serão extintas, haverá prejuízo para a
agricultura, falta de água, ondas de calor e ocorrência de tufões e furacões . O
derretimento das calotas polares elevará o nível dos oceanos, inundando as regiões
costeiras do planeta.

Kyoto
Segundo a Organização Meteorológica Mundial da ONU, 2010 pode ser o ano mais
quente desde o início dos registros de temperatura em meados do século 19 XIX,
ultrapassando o recorde de 1998.

Para os cientistas, o risco de ocorrerem ondas de calor semelhantes às que mataram 35


mil pessoas na Europa em 2003 é, hoje, duas vezes maior por conta das alterações
climáticas no planeta. A comunidade científica estuda, agora, métodos e tecnologias
mais precisas na previsão de catástrofes como as ocorridas no Paquistão e na Rússia,
além de buscar acordos que permitam a redução de poluentes.

A maior dificuldade, no entanto, é contar com o consenso entre as duas maiores


potências econômicas do planeta -Estados Unidos e China -, que são, também, os países
mais poluidores do planeta.

Em dezembro do ano passado, foi realizado, em Copenhague, capital da Dinamarca, a


Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15). O objetivo era
estabelecer metas internacionais - que irão substituir o Protocolo de Kyoto após 2012 -
de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.

Após duas semanas de negociações, a COP 15 terminou com um acordo tímido entre
Estados Unidos, China, Brasil, África do Sul e Índia. Os participantes concordaram com
a necessidade de se limitar o aquecimento global em 2 graus Celsius. Porém, não houve
avanço no que concerne a metas assumidas por governos ou garantias da assinatura do
documento que substituirá o Protocolo de Kyoto.

De concreto, foi criado um fundo anual de 100 bilhões de dólares até 2020 para ajudar
os países pobres a colaborarem com planos de combate ao aquecimento global.

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