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CURSO DE MEDICINA
Bianca Pimentel de 39 anos, bancária, tabagista desde os 16 anos, refere sensação de peso, edema de tornozelos e
pernas no final de um dia de trabalho, que melhora quando mantém as pernas elevadas que iniciaram há 3 anos. Observa
que o quadro acima também melhora quando utiliza meia elástica compressiva, mas não faz uso regular, principalmente
nos dias mais quentes. Faz uso regular de anticoncepcional e eventualmente de anti-inflamatório para lombalgia.
Há 2 dias, desde que chegou de uma viagem longa à Austrália, notou piora do edema membros inferiores, aumento do
volume e dor mais intensa na panturrilha do membro inferior esquerdo. Na inspeção, observa-se manchas hipercrômicas,
aumento do volume da panturrilha esquerda em relação à direita, edema bilateral e, presença de cordões varicosos nas
pernas. À palpação, a panturrilha esquerda está empastada e dolorosa, e sinal de cacifo positivo. Apresenta dor a flexão
dorsal do pé esquerdo. Procurou o ambulatório de seu plano de saúde, que suspeitou de trombose venosa profunda na
veia poplítea. Pediu um exame para avaliação do fluxo venoso (doppler), iniciou anticoagulação com inibidores do fator X
da coagulação e orientou que se tivesse sintomas de embolia pulmonar procurasse imediatamente o pronto socorro.
Perguntas:
1. O que são veias? São vasos que têm a função de levar o sangue da microcirculação de volta para o coração,
podendo trabalhar como reservatório sanguíneo devido a grande distensibilidade e complacência desses vasos.
2. Qual a constituição das veias? Túnica íntima (endotélio e tecido subendotelial); média (fibras musculares lisas);
adventícia (fibras colágenas e elásticas). A parede é mais delgada que a arterial. A luz também é maior.
3. As veias pulsam? Não possuem pulsação ativa. VORCH. O pulso venoso é mais visível que palpável; tem um
aspecto ondulante, diferentemente do arterial que tem um aspecto pulsátil; varia com a respiração, colabando na
inspiração, visto que há aumento da pressão negativa intratorácica com maior refluxo; quando se comprimem as
jugulares no pescoço, o pulso desaparece; é mais evidente na horizontal.
4. O que é complacência? A complacência é a capacidade do órgão adaptar seu volume a uma pressão,
correspondendo às suas capacidades de flexibilidade e distensão. Uma boa complacência indica que um órgão é
capaz de inflar em resposta ao aumento do seu conteúdo, graças às suas fibras elásticas, e retornar à sua forma
original quando a pressão cai dentro dele. Os pulmões ou coração são órgãos com boa complacência na ausência
de distúrbios. Pulmões doentes, principalmente em casos de fibrose pulmonar, têm complacência diminuída.
7. Quais os fatores que influenciam o retorno venoso? Vis a tergo (contração do V.E.), vis a fronte (conjunto de
forças, como a pressão intratorácica e intra-abdominal), bomba muscular, válvulas venosas, batimentos arteriais e
volemia.
8. Conceitue edema. Edema é um excesso de fluido no tecido intersticial ou cavidades serosas; ele pode ser ou um
exsudato ou um transudato. Anasarca é um edema generalizado com amplo aumento do tecido subcutâneo.
1. Edema Intracelular: três condições são especialmente propensas a causar edema intracelular:
a. Hiponatremia (baixa de sódio sanguíneo)
b. Depressão dos sistemas metabólicos dos tecidos
c. Falta de nutrição adequada para as células.
Por exemplo, quando o fluxo sanguíneo para um determinado tecido é reduzido, a distribuição de O2 e de
nutrientes também é reduzida. Caso o fluxo sanguíneo fique muito baixo para manter o metabolismo normal do
tecido, as bombas iônicas da membrana celular têm sua atividade comprometida. Na+ (normalmente bombeados
para o meio extracelular) acumulam no meio intracelular, causando osmose para a célula, podendo resultar em
aumento do volume intracelular de determinada área do tecido (ex: até mesmo em toda a perna isquêmica) por 2 a
3x o tamanho normal. A inflamação também pode gerar edema intracelular, pois aumenta a permeabilidade da
membrana celular, permitindo que sódio e outros íons se difundem para o interior da célula com consequente
OSMOSE para essa célula.
A causa clinicamente mais comum para o acúmulo de líquido no espaço intersticial é a filtração excessiva do líquido
capilar devido:
c. Aumento da pressão hidrostática capilar
d. Redução da pressão coloidosmótica do plasma Filtração = Kf. (Pc – Pif – πc + πif)
e. Aumento do coeficiente de filtração capilar
OBS: Causas de Edema Extracelular:
Edema de IC: o coração bombeia o sangue de modo deficiente, aumenta a pressão venosa e a pressão capilar
Além disso, a pressão arterial tende a cair, redução da filtração, redução da excreção de sal e água pelos rins,
aumenta o volume sanguíneo e ainda aumenta a pressão hidrostática capilar, gerando mais edema.
Adicionalmente, o fluxo sanguíneo para os rins fica reduzido na IC, estimula a secreção de renina e aumenta a
formação de ang II e da secreção de aldosterona, gerando retenção adicional de sal e água pelos rins.
o IC não tratada: todos estes fatores em conjunto causam grave e generalizado edema extracelular.
o IC esquerda: o sangue é normalmente bombeado para os pulmões pelo lado direito do coração, mas
não flui facilmente das veias pulmonares de volta ao coração pelo lado esquerdo.
Consequentemente, toda a pressão vascular pulmonar, incluindo a capilar, aumenta muito acima do
normal, causando edema pulmonar grave.
Edema por desnutrição: redução de proteínas no plasma (hipoproteinemia) reduz a pressão oncótica
plasmática (28mmHg), fazendo com que a força que tende a mover o liquido para dentro dos vasos seja
pequena. Pode ser devido à perda proteica de origem renal, digestiva e queimadura ou devido síntese
deficiente de proteínas por hepatopatias, síndrome de má absorção e desnutrição.
Edema por hipotireoidismo: hipotireoidismo severo e prolongado (mixedema) faz com que ocorra a
destruição do parênquima tireoidiano e aumento da hidrofilia dos mucopolissacarídeos da substância
fundamental.
Edemas por reações alérgicas, inflamatórias e infecciosas: em resposta à exposição alérgica, o corpo
permite que os vasos sanguíneos próximos aumentem a permeabilidade vascular (ampliação de espaços
interendotelais e abertura de poros vasculares), fazendo com que vaze fluido para dentro da zona afetada.
Conceito Fator de realimentação do edema para refazer o volume sanguíneo circulante eficaz
(relação entre volume sanguíneo e o compartimento vascular para manter a pressão
arterial e trocas).
6. Quais os fatores de risco da trombose venosa profunda? Estase sanguínea, lesão endotelial e estados de
hipercoagulabilidade. Portanto, idade avançada, câncer, procedimentos cirúrgicos, imobilização, uso de
estrogênio, gravidez, distúrbios de hipercoagulabilidade (trombofilia) hereditários ou adquiridos, constituem-
se como fatores de risco para TVP. A sua incidência aumenta proporcionalmente com a idade, sugerindo que
este seja o fator de risco mais determinante para um primeiro evento de trombose. Para efeitos didáticos, os
fatores de risco podem ser classificados como
Hereditários/Idiopáticos: resistência à proteína C ativada (principalmente fator V de Leiden); mutação do
gene da protrombina G20210A; deficiência de antitrombina; deficiência de proteína C; deficiência de
proteína S; hiperhomocisteinemia; aumento do fator VIII; aumento do fibrinogênio.
Adquiridos/Provocados: síndrome do anticorpo antifosfolipídio; câncer; hemoglobinúria paroxística
noturna; idade > 65 anos; obesidade; gravidez e puerpério; doenças mieloproliferativas (policitemia vera;
trombocitemia essencial etc.); síndrome nefrótica; hiperviscosidade (macroglobulinemia de
Waldenström; mieloma múltiplo); doença de Behçet; trauma; cirurgias; imobilização; terapia estrogênica.