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À Sombra da Revoluçã o Mexicana

História Mexicana Contemporânea, 1910-1989


Héctor Aguilar Camír & Lorenzo Meyer
(pág 13) No caminho de Madero
Os contemporâneos diziam que uma revolução no México era algo impossível de
acontecer. Inclusive o jornal El Imparcial, que era um dos símbolos da transformação
mexicana.

A sociedade mexicana adotou inovações que sacudiram a sociedade da virada do


século. Porém, apesar de sonhar com os princípios do liberalismo e do igualitarismo, o
México ainda estava baseado na oligarquia. Ainda era uma sociedade indígena,
católica e possuía princípios corporativos.

(pág 14) Agora, o federalismo vinha na forma do caciquismo, a democracia era a


ditadura; o progresso vinha na forma de investimentos estrangeiros. Entretanto, as
transformações eram permanentes.

Nos trinta anos que antecederam a 1910, o México sofreu uma reestruturação que
redefiniu inclusive as suas fronteiras. Isso rendeu um crescimento estrondoso do
investimento norte-americano, que foi transferido para a ferrovia e para a mineração.

(pág 15) Entre o final do século XIX e o início do XX, não só a população, mas também a
economia, a renda nacional, a importação e a exportação (esta ainda mais) sofreram
um grande crescimento. A bancarrota das finanças se transformou em superávit em
1895.

Os autores utilizaram esses exemplos para mostrar que a Revolução Mexicana não foi
baseada na miséria, e sim da desordem que o progresso gerou, pois:

 O investimento estrangeiro gerou a inflação;


 O vínculo com a economia norte-americana vulnerabilizou o México às
flutuações da economia estadunidense;
 A mineração alterou regiões inteiras, criando instabilidades e turbulências;
 A ferrovia multiplicou o preço das terras ociosas, facilitando a sua expropriação
e segregou os centros tradicionais de comércio, assim como as oligarquias que
se beneficiavam;
 A modernização agrícola contribuiu para a destruição da economia camponesa
e atirou habitantes das aldeias à fome e à migração.
(pá g 16) A ruptura agrária
A mais velha das rupturas afetou as comunidades do Centro-Sul do país. Era o histórico
conflito entre o liberalismo e o sistema corporativo de propriedade de terras, que
tinha a propriedade do clero e das comunidades indígenas.

A resistência do clero data do século XIX, assim como a das comunidades locais. O
clímax foi com as leis de desamortização das propriedades de 1856, que foi sancionada
no período juarista pós-intervenção francesa.

Em 1895, Porfirio abriu uma nova onda de desamortização (liberação, para alienação,
dos bens de mão-morta), com a Lei das Terras Devolutas e Ociosas, que era a denúncia
e a apropriação de terras improdutivas.

(pág 17) Com isso:

 O consumo de milho caiu 10kg entre 1895 e 1910;


 A média de vida caiu para 31 para 30,5 anos;
 Nos últimos 5 anos do século XIX, a mortalidade infantil aumentou de 304 para
335 mil.

O establishment porfiriano com os fazendeiros implicou desapropriação, retrocesso e


subsistência precária das aldeias camponesas. A magnitude da resistência a
transformou na maior das rebeliões camponesas mexicanas, liderada por Emiliano
Zapata.

A Lei das Terras Ociosas e a especulação gerada pela ferrovia submeteram à


desapropriações e afrontas não só a população de Morelos (comandada por Zapata),
como também membros de comunidades nortistas e herdeiros das antigas colônias
militares que pontilhavam os territórios fronteiriços durante o século XIX. Nos últimos
anos do porfiriato, essas povoações foram submetidas à especulação fundiária e aos
interesses oligárquicos regionais.

(pág 18) A consolidação das oligarquias tirou a independência política desses


municípios.

A “pacificação” dos índios mayo e yaqui, de Sonora, ignorou os direitos ancestrais e


transferiu a dominação da terra para os brancos. Essas terras eram fertilizadas pelos
únicos rios com fluxo quase permanente nas planícies sonorenses. Apesar da guerra
inicial contra os índios (1877-80), a resistência yaqui permaneceu viva ao longo do
porfiriato e da Revolução.

Caminhos fechados
Entre 1900 e 1910, houve diversos fatores para o embarreiramento das classes média
e operária:
 A inflação alta (dos investimentos estrangeiros) e as isenções fiscais fizeram o
governo criar novos impostos;
 A consolidação das oligarquias diminuiu o espaço das classes médias;
 As principais posições sociais começaram a ser ocupadas por amigos e
familiares dessas oligarquias, o que acabou criando uma rede de monopólio.

Os autores citam Benjamin Hill, que era um dos preteridos por conta dessas oligarquias
que ressugiram.

(pá g 20) Território minado


A mineração e a reativação industrial contribuíram, durante o porfiriato, dos primeiros
batalhões operários no México. Porém, eram as companhias estrangeiras que
exploravam as minas e controlavam a vida municipal, principalmente na cidade de
Cananea. Lá, em apenas 6 anos (1900-1906), o cobre atraiu 14mil habitantes. Em maio
de 1906, Cananea possuía 5260 trabalhadores mexicanos e 2200 estrangeiros, e o
salário mínimo da região era superior ao da média do país.

(pág 21) A organização dos trabalhadores de Cananea foi sob a influência do


magonismo e da efervescência radical que assolava as fábricas na Califórnia e no
Arizona, que tinha a influência do anarcossindicalismo e da expansão das correntes
socialistas nos EUA. Em fins de maio de 1906, por conta de um nacionalismo
perturbado e de um repentino aumento da carga de trabalho, os operários
organizaram uma greve.

Por conta da queda dos investimentos estadunidenses e pela contração dos mercados
do mesmo, as fábricas de Cananea fecharam suas portas em 1907 e só reabriram em
1908, quando o maderismo já estava em marcha.

Naufrágio em Rio Blanco


Os operários rejeitaram uma proposta do presidente Díaz, que consistia em
estabelecer regulamentos favoráveis em seus relacionamentos com a empresa, mas
restringia direitos políticos. A agitação popular começou com vivas a Juárez e gritos
contra espanhóis e franceses que dominavam as fábricas.

(pág 22) Os grevistas soltaram prisioneiros e, para conseguir armas, marcharam para
Nogales, onde também saquearam a sede municipal, libertaram mais presos e
prosseguiram com o estandarte de Juárez.

A festa terminou com a chegada do Exército a Santa Cruz, sob o comando do


Secretário de Guerra, Rosalino Martínez.

As greves de Cananea e Rio Blanco mostratam a Porfirio Díaz que o establishment não
funcionava sem repressão.
(pá g 23) O Despertar do Norte
A pax porfiriana despontou o surto capitalista no México. Bancos que facilitavam o
crédito, o boom do petróleo no Golfo, boom da mineração em Sonora, Chihuahua e
Nuevo León, boom industrial em Monterrey, entre outras coisas, trouxeram estímulo
material para uma dupla e efetiva incorporação: o mercado estadunidense e a rede da
República Mexicana. O Norte agora era um foco de investimentos.

Houve um fluxo migratório do Centro para os campos agrícolas de La Laguna e El


Yaqui, para as minas de Sonora e Chihuahua, para os campos petrolíferos de Tampico e
para as indústrias de Nuevo León, o que causou uma ruptura nas tradicionais relações
agrárias.

(pág 24) Na década de 1890, Torreón se transformou em entreposto de distribuição do


Norte, graças à expansão ferroviária. Os salários dali eram os mais altos da República.
Os proprietários pagavam os salários em dinheiro, não em vales, e vendiam seus
produtos a preços mais baixos.

Aquela realidade gerou o trabalhador migrante. Eles colhiam as vantagens de um bom


salário e melhores condições de trabalho. Porém, não tinha onde ficar quando havia
fases de má colheita, uma vez que era desenraizado. Este foi o trabalhador que
forneceu braços ao Exército do Norte, que foi caracterizado pela dupla disponibilidade
de alistamento fora da zona de recrutamento.

O norte serrano foi o mais afetado quando da crise da mineração e da queda dos
preços do prata.

(pág 25) A crise na produção de alimentos somou à desordem no setor mineiro. O


Norte era um território onde constantemente ocorriam revoltas, rebeliões e bandos
itinerantes. Tumultos mineiros e rebeliões armadas contra usurpações municipais nos
anos de 1880 e 1890, respectivamente.

Novos ramos, velhos troncos


Francisco Madero foi a personificação do último levante anti Porfirio. Era
representante das famílias patriarcais que haviam se consolidado durante o século XIX,
e que havia sido preterida pelo governo centralizador de Porfirio Díaz.

(pág 26) Os porfirianos chegaram ao poder através de uma rebelião militar em 1876.
Sua pretensão era a destruição dos enclaves que o período juarista construiu. Pouco a
pouco, os porfiristas e as classes que foram prejudicadas pelo establishment do
governo anterior tomaram conta da maioria dos estados mexicanos. No início do
século XX, os herdeiros do período juarista tentaram mudar o curso dos fatos.

Com o porfiriato perpetuando no poder, as antigas oligarquias do Norte foram para a


oposição.
(pág 27) O declínio porfirista começou a se manifestar numa cidade envelhecida, uma
vez que o sistema teimava em manter-se.

Luiz González y González afirma que à medida que Porfirio envelhece, sua força de
vontade perece. Com isso, há a ascensão do maderismo.

(pág 28) O ano de 1908 foi um dos principais antecedentes da Revolução Mexicana por
conta da falta de estabilidade na economia.

Segundo Luis González y González, a crise em 1908 se deu por conta da baixa na
agricultura, da queda na produção industrial e da desvalorização da prata.

A relação com os EUA também estava ruim, pois Porfirio negociou a empresa El Aguila
com o capital britânico na intenção de conter a expansão econômica estadunidense.

(pág 29) Naqueles anos, o México estava se tornando um grande produtor de


petróleo. Os estadunidenses não estavam preparados para a nova postura porfirista.

O porfirianismo começou (1870) com base em conflitos antiestadunidenses. Depois de


duas décadas, o governo voltaria a entrar em conflito com os norte-americanos,
fazendo com que os EUA apoiassem ativamente aos revolucionários durante 1910-1.

Também em 1908, Porfirio gerou uma instabilidade política ao declarar que era a favor
de uma oposição.

(pág 30) Com isso, os partidos e organizações antiporfiristas se tornaram os centros


das atenções

A oposição e sua presbiopia


A partir da entrevista de Porfirio Díaz, o principal opositor ao governo era o general
Bernardo Reyes. O reyismo se desenvolveu nas lojas maçônicas, entre os pequenos
burocratas e no Exército. Porém, Reyes cedeu às pressões de Díaz e se calou.

Ao mesmo tempo que Reyes saía de cena, em 1909 se fundava o Clube Central Anti-
Reeleição, que trazia Madero como liderança. Ele era membro de uma grande família
latifundiária de Coahuila e ativo organizador de grupos oposicionistas que viajavam
pelo México com o slogan “o povo não quer pão, mas liberdade”.

(pág 31) Durante as viagens, esses grupos faziam comícios e fundavam grupos
antiporfiristas e anti-reeleição. O reyismo, abandonado, via no maderismo uma
salvação.

Quando Madero partia da Cidade do México, iniciaram-se celebrações por conta do


centenário da Independência.

Por trás da pátria centenária, havia um novo país em desenvolvimento.


(pág 32) Ao redor das ferrovias, surgiu uma sociedade paralela, que era regida por
proprietários estrangeiros e emigrantes. As tradicionais famílias patriarcais estavam
em confronto com o progresso.

As únicas coisas que não mudavam na política porfirista eram seus métodos, suas
aspirações e, após 1900, sua obsolência complacente.

A fissura na represa
Os que apoiavam Madero foram os fazendeiros das antigas oligarquias, professores
revoltados pela miséria, políticos e militares em conserva. Os estadunidenses também
apoiavam Madero, uma vez que Porfirio estava negociando com a Inglaterra e
mantendo contatos com o Japão.

(pág 33) O apoio a Madero ia crescendo cada vez mais, fazendo com que a polícia
porfiriana voltasse seus olhos a ele. Os porfiristas prenderam Madero a fim de que ele
se mantivesse calado durante o período eleitoral. Diaz foi reeleito. Como o Ministro da
Fazenda de Porfirio fora amigo pessoal de Madero, este conseguiu liberdade
condicional. Violando a liberdade condicional, cruzou a fronteira e liderou uma
insurreição.

(pág 34) A plataforma da Revolução Maderista declarava nulas as eleições, ilegal o


regime reeleito e ilegítimos os novos representantes populares. Nomeava Madero
como presidente interino dos Estados Unidos Mexicanos.

O Levante
Francisco Xavier Guerra localiza o levante nas serras mineiras do Norte.

A preparação é facilmente descoberta. Os instigadores são presos ou desaparecem


sumariamente. Alguns levantes são meras insurreições (vilarejos do Norte do país). Em
outros casos, há grandes ataques (Santa Bárbara, Belleza e Cuevas).

(pág 35) Os principais pontos do levante são de um México setentrional com uma
agricultura precária. É o México das minas.

Mesmo com suas fraquezas, o Exército Federal consegue recuperar o centro da


Revolução em Chihuahua. Esses movimentos se contrastam com as derrotas de
Pancho Villa. Se encontram no Centro-Sul de Chihuahua, região de grandes
proprietários rurais, fazendo com que os revolucionários recuem para o Norte de
Durango. Assim, o maderismo se enraíza nas minas e montanhas.

(pág 36) Em fevereiro, o Exército abandona o Oeste de Chihuahua e a rebelião se


alastra para a região mineira no leste de Sonora. Apesar do fracasso, os levantes do
Centro de Chihuahua servem como prova da multiplicação de grupos rebeldes. No
núcleo sulista, o levante de Gabriel Tepepa é anterior ao de Zapata.
A virada decisiva acontece na segunda metade de março. Depois de tomar a região
serrana de Durango, os revoltosos começam a se espalhar para a costa e para a região
mineira. O fracasso de algumas cidades demonstram a capacidade que esses grupos
tinham para atacar importantes localidades. Em 10 de março começa o levante
zapatista.

O Exército Federal só consegue controlar alguns pontos estratégicos da ferrovia. Toda


a região de agricultura irrigada de La Laguna sofre os ataques dos revolucionários.

(pág 37) No mês de maio, a Revolução triunfa. No dia 21, os maderistas assinam um
acordo que legitima o Governo Provisório. Ainda assim, tropas maderistas invadiram as
cidades que ainda não estavam sob seu controle. A fase militar da Revolução
Maderista chegou ao fim em junho de 1911.

Domando o tigre
Quatro dias depois da assinatura dos tratados de Ciudad Juarez, Dom Porfirio assinou a
sua renúncia.

Os tratados de Ciudad Juárez omitiam qualquer promessa de terra ao México rural.

(pág 38) O primeiro ato do Governo Provisório foi desmobilizar as guerrilhas


maderistas. No governo interino, o Ministro das Relações Exteriores vigente foi
nomeado Presidente.

Sendo um legalista, Madero queria diminuir as agitações no país em que queria


governar para estabelecer um novo governo, não uma nova ordem na República. Logo
encontrou resistência por parte das correntes insatisfeitas que exigiam mudança dos
interesses governistas.

(pág 39) Apesar de prometer aliviar as necessidades das classes mais baixas, Madero
não anunciou melhorias salariais. Também provocou os empresários, dizendo que não
poderiam mais contar com os privilégios de outrora.

As declarações de Madero geraram desafetos inclusive dentre seus seguidores.

O conflito acima, a resistência abaixo


Com o apoio de vários líderes, os vazquistas (sob o comando de Emilio e Francisco
Vázquez Gómez) conspiraram para dissolver o governo interino.

 2 de agosto de 1911  renúncia de Emilio Vázquez Gómez ao Ministério do


Interior;
 23 de agosto de 1911  exposição do plano insurrecional vazquista em
Texcoco. Não reconhecia o governo De La Barra, entregava o comando da
Revolução a Emilio, direito de legislar sobre latifúndios com mais de 2 mil
hectares e exigia que os ranchos se tornassem corporações de interesse
público.

(pág 40) A dissolução do Partido Anti-Reeleição provocou a cisão de Madero com


Francisco Vázquez Gómez, que havia sido indicado para a vice-presidência.

As eleições de outubro foram marcadas pela revolta vazquista, que contava com o
apoio de alguns caudilhos ex-maderistas. Madero sofre uma queda de popularidade.
Com isso, Bernardo Reyes propõe o adiamento das eleições. O Congresso recusa.

 16 de setembro de 1911  o Plano da Soledad, proclamado no Texas, não vai


ganhar a simpatia dos estadunidenses, nem encontrar muitos seguidores em
território mexicano;

(pág 41)

 9 de fevereiro de 1913  Reyes inicia uma insurreição (dentro da chamada


“semana trágica”), que acabará por levar o governo de Madero ao holocausto.

Durante o governo maderista, houve movimentos sociais que buscavam o seu próprio
caminho. Houve muita resistência das guerrilhas maderistas à desmobilização. O
Exército Federal atuava em nome da legalidade, do novo governo e do próprio
Madero.

A resistência de alguns governadores à desmobilização da guerrilha maderista (Sonora


e Coahuila) permitiu o desenvolvimento dos chamados corpos auxiliares.
Consolidados, eles puderam compor uma grande rede militar ao Exército Federal e
desencadearam a Revolução Constitucionalista.

Os zapatistas condicionaram a entrega das armas à entrega de terras simultânea e


igualitariamente. A última negociação de Zapata com o governo, ocorrida entre os dias
18 e 25 de agosto, foi o estopim da ofensiva do Exército Federal contra os camponeses
de Morelos.

(pág 42) A guerrilha iria moldar a organização do Sul do México durante a década
seguinte. O Exército Federal os combatia como o fazia com os maderistas na era
porfiriana.

Ultrajes no Sul
Madero venceu as eleições de outubro de 1911 com 98% dos votos. Inicialmente,
governou sobre um modelo democrático no México.

Após as eleições, Madero virou as costas para seus apoiadores e impôs seu candidato à
vice-presidência através de uma eleição totalmente manipulada em alguns estados da
República. Acionou o Exército em uma campanha de “pacificação”; claramente contra
as aldeias meridionais e os bandos maderistas do ano anterior. Trouxe ao seu governo
conservadores ligados à ditadura porfiriana e não empreendeu nenhuma reforma
agrária que prometera.

(pág 43) Ganhou a confiança de grupos empresariais estrangeiros e governou em


nome de seus interesses familiares.

Apesar de seu governo ser aberto às liberdades democráticas, era completamente


fechado no que tangia à reformas sociais. A burocracia maderista reproduzia o
establishment porfiriano.

20 dias após a ascensão de Madero ao poder, os zapatistas estabeleceram sua meta de


luta através do Plano Ayala.

No documento assinado em 25 de novembro de 1911, Madero aparece como violador


daquilo que outrora defendia.

(pág 44) O Plano de Ayala foi um exemplo claro do que a contradição maderista estava
causando. Foi uma clara ruptura com o maderismo.

O Plano se limitava a nomear Pascual Orozco como líder da Revolução e Zapata como
uma alternativa. Dizia que aldeãos e camponeses recuperariam a propriedade dos seus
bens, ainda que tivesse que mantê-las sob as armas. Seria o programa oficial da luta
agrária no México. Para eles, era obrigação dos usurpadores demonstrarem a sua
propriedade perante os tribunais. 1/3 das terras, montes e águas seriam expropriados,
uma vez que eram usados por proprietários ociosos, que monopolizavam a terra.
Nacionalizariam os bens de todos aqueles que se opusessem ao Plano de Ayala.

A pedra do arrieiro
A revolta zapatista durou até 1913, quando se fundiu com a onda insurrecional de
1913. Porém, essa revolta de Pascual Orozco foi uma indicação de que o governo
maderista estava tentando equilibrar suas relações com seus dois adversários.

(pág 45) Seus adversários eram a corrente revolucionária radical e, do outro lado, a
restauração das forças contra-revolucionárias. A rebelião de Orozco começou em
março de 1912 e foi lentamente incubada nos erros e indecisões do maderismo.

Ao final de 1911, Orozco era mais um dos insatisfeitos com a transformação de


Madero. Os maderistas recompensaram a participação vital de Orozco com o modesto
cargo de Comandante das Guardas Rurais de Chihuahua.

Assim, Orozco cedeu às pressões locais e se candidatou ao governo de Chihuahua, se


opondo ao candidato de Madero, Abraham González. A imprensa local rotulou Orozco
de reacionário e apoiou o candidato governista. Atendendo ao pedido de Madero,
Orozco retirou a sua candidatura.
Madero preferiu Abraham González por este ser um homem esclarecido e atribuir a
Orozco uma imagem de velho guerrilheiro. Orozco se sentiu traído.

(pág 46) Em setembro de 1911, De La Barra – preocupado com o reyismo – afastou


Orozco de seu comando da Guarda Rural de Chihuahua e o transferiu para Sinaloa com
o mesmo cargo. Ao assumir o poder, Madero o devolveu a Chihuahua, agora como
Chefe de Guarnição de Ciudad Juárez.

Em janeiro de 1912, Orozco renuncia seu posto em Chihuahua, pois Madero lhe havia
pedido que pressionasse o Legislativo para dar poderes especiais ao Governador
interino e que aniquilasse a frente zapatista. Ele não podia aceitar principalmente o
último pedido, uma vez que suas relações com Zapata lhe remetia à sua origem rural e
ela havia lhe dado o artigo 3º do Plano de Ayala, que era a liderança da Revolução.
Orozco renuncia seu posto, porém Madero não aceita. Em fins de fevereiro, a revolta
se espalha e o governo aceitou a renúncia de González, nomeando Orozco para conter
a rebelião.

(pág 47) Aceitar o cargo seria afrontar seus antigos camaradas. Orozco já tinha tomado
a decisão de romper com Madero.

Vendo o envaidecimento de Madero, Orozco se dispôs para lutar contra aqueles que o
haviam deixado de lado.

A oligarquia chihuahuana estava financiando o Exército de um homem que estava


destruindo o que o maderismo construíra.

Um Exército triunfante
No dia 25 de março, a rebelião orozquista encontrou seu código no Plano da
Empacadora. Este plano consistia na condenação de Madero e tinha um antinorte-
americanismo. O tráfico de armas impediu o apoio norte-americano, fazendo com que
o movimento não saísse do lugar.

(pág 48) O Plano orozquista exigia a eliminação da vice-presidência e dos líderes


políticos, autonomia municipal e garantia das liberdades de expressão. Fornecia mais
opções que o Plano de Ayala.

A rebelião orozquista atingiu as mesmas regiões do maderismo.

A maior parte de Chihuahua ficou na mão dos orozquistas antes que o governo
pudesse reagir.

A derrota do Exército mostrou a Madero a falta de homens de confiança no quadro do


mesmo. Madero encarrega o general Victoriano Huerta do comando militar.
(pág 49) Em 23 de maio de 1912, graças ao bom preparo do Exército, Huerta quebrou
a espinha dorsal da rebelião orozquista. Depois, foi só uma campanha de consolidação
gradual de sua força militar e o combate às guerrilhas.

Em princípios de outubro, reconhecendo sua derrota, Orozco se refugia nos EUA. O


Exército, em contrapartida, adquiriu legitimidade e Huerta, na opinião dos interesses
estrangeiros, era visto como o salvador da fraca democracia mexicana.

Em outubro, um sobrinho de Porfirio Díaz, Félix Díaz, dizendo que a honra do Exército
foi pisoteada, propôs um golpe de Estado – que não foi aceito. No mês seguinte, o
rebelde, assim como Reyes, foi para uma prisão militar.

(pág 50) No outono daquele ano, o zapatismo não era mais uma ameaça para Madero.
Reyes e Félix Díaz estavam presos e a derrota do orozquismo livrou as montanhas do
Norte de uma oposição armada.

A democracia golpista
Depois de um ano de insatisfações dos trabalhadores (principalmente no setor têxtil de
Vera Cruz), o governo fez algumas concessões aos trabalhadores:

 Redução da jornada de trabalho;


 Aumento geral dos salários;
 Fim à impunidade de castigos, descontos e reprimiendas.

Em contrapartida, os industriais receberam uma regulamentação mais estrita das


condições de trabalho. No final de 1912, graças a um acordo no setor têxtil, o
Departamento de Trabalho estava elaborando um código trabalhista.

Enquanto isso, o Conselho de Ministros estudava um projeto de restituição das terras


tomadas das comunidades camponesas durante o regime porfiriano. Seria uma tímida
reforma agrária.

(pág 51) Com isso, a desconfiança começou a corroer os bastidores do governo.

As Câmaras de Deputados e Senadores exigiam garantias aos interesses do regime


anterior. A imagem prevalecente na imprensa era de um país inseguro e da
incompetência governista para garantir a estabilidade.

Esse descrédito não seria o suficiente sem a participação do embaixador norte-


americano, Henry Lane Wilson, que conspirou abertamente com o Exército. Ele estava
determinado a derrubar o governo mexicano.

(pá g 52) Da Embaixada ao Paredão


A versão do embaixador Wilson sobre o novo regime era de que havia muita
insegurança quanto às propriedades norte-americanas e da incapacidade do governo
em restabelecer uma paz duradoura.
O embaixador persuadiu o governo norte-americano de estacionar navios de guerra na
costa mexicana e declarou que Madero confiscaria as propriedades norte-americanas.
Assim, a Casa Branca enviou a Madero uma nota diplomática acusando-o de
discriminação contra companhias e cidadãos norte-americanos. Simplesmente porque
ele havia criado o imposto sobre o petróleo bruto.

Segundo Paul Hintze, Wilson propôs ao Presidente e ao Secretário de Estado que


tomassem parte do território mexicano. Com a oposição do último, eles concordaram
em subverter o governo de Madero, usando a ameaça de intervenção, promessas de
cargos, honrarias e propinas em dinheiro vivo.

(pág 53) A conspiração do embaixador Wilson com o Exército eclodiu em fevereiro de


1913, libertou Félix Díaz e Bernardo Reyes, mas não conseguiu controlar o Palácio
Nacional. Deu-se início aos “Dez Dias Trágicos”; que mostrou a fraqueza do governo e
derrubou Madero.

Em fevereiro de 1913, Wilson informa que negociações estavam ocorrendo com


Victoriano Huerta. O embaixador forma um grupo diplomático com representantes da
Alemanha, Inglaterra e Espanha para intervir na conjuntura mexicana. Wilson ameaça
Madero de intervir com navios de guerra se ele não ceder aos norte-americanos. Por
meio do representante espanhol, Colgan, Wilson disse a Madero que 4 mil soldados
norte-americanos estavam para chegar.

(pág 54) Wilson boicota um cessar-fogo que ele mesmo propôs e admitiu que tinha
comunicação permanente com Félix Díaz e Huerta. Em 17 de fevereiro, conclui as
negociações com as forças golpistas.

Wilson propôs ao corpo diplomático que apoiassem Huerta e Díaz. Sugeriu que Huerta
fosse presidente interino do México e instruiu a todos os cônsules estadunidenses que
se submetessem ao novo governo.

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