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DOI: 10.1590/1413-812320172212.

24922017 3849

O direito à cidade e as agendas urbanas internacionais:

ARTIGO ARTICLE
uma análise documental

The right to the city and International Urban Agendas:


a document analysis

Elisabete Agrela de Andrade 1


Maria Cristina Trousdell Franceschini 1

Abstract Considering social, economic and de- Resumo Considerando as problemáticas sociais,
mographic issues, living in the city implies inad- econômicas e demográficas, viver na cidade impli-
equate living conditions, social exclusion, inequi- ca condições inadequadas de moradia, exclusão
ties and other problems to the population. At the social, iniquidades e outros agravos à população.
same time, the city is a setting of cultural, social Simultaneamente, a cidade também é cenário das
and affective production. As a result, there is a produções culturais, sociais e afetivas. Cresceu,
need to reflect on the right to the city and its rela- então, a necessidade de refletir sobre o direito à ci-
tionship with promoting the health of its inhabi- dade e a relação com a promoção da saúde de seus
tants. To that effect, urban agendas have been de- habitantes. Para contribuir, agendas urbanas fo-
veloped to address the city’s ambiguity. This paper ram construídas pensando nesta ambiguidade da
aims to analyze four of these agendas through the cidade. Objetiva-se analisar quatro destas agen-
lenses of Health Promotion. A qualitative docu- das à luz do referencial da Promoção da Saúde.
ment review approach was conducted on urban Foi realizada uma pesquisa documental de abor-
agendas proposed by international organizations dagem qualitativa de agendas urbanas propostas
and applied to the Brazilian context: Healthy Cit- por organismos internacionais e adotadas em
ies, Sustainable Cities, Smart Cities and Educat- contexto brasileiro: Cidades Saudáveis, Cidades
ing Cities. Results indicate some level of effort by Sustentáveis, Cidades Inteligentes e Cidades Edu-
the analyzed agendas to assume social participa- cadoras. Os resultados mostram que há empenho,
tion, intersectoriality and the territory as central em maior ou menor grau, por parte das agendas
to addressing exclusion and inequities. However, analisadas, em assumir a participação social, a
more in-depth discussions are required on each of intersetorialidade e o território como fundamen-
these concepts. We conclude that urban agendas tais no enfrentamento das exclusões e iniquidades,
can contribute greatly toward consolidating the mas há falta de debates aprofundados sobre cada
right to the city, provided that their underpinning um destes conceitos. Conclui-se que as agendas
1
Centro de Estudos, concepts are critically comprehended. urbanas podem ser importante aporte na conso-
Pesquisa e Documentação Key words City planning, Health promotion, lidação do direito à cidade, desde que haja a com-
em Cidades Saudáveis,
Faculdade de Saúde Pública, Equity, Public policies, Healthy cities preensão crítica dos conceitos que as sustentam.
Universidade de São Paulo. Palavras-chave Planejamento de cidades, Pro-
Av. Dr. Arnaldo 715/subsolo moção da saúde, Equidade, Políticas públicas, Ci-
sala 25, Pinheiros. 01246-
904 São Paulo SP Brasil. dades saudáveis
elisabeteagrela1@gmail.com
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Andrade EA, Francheschini MCT

Introdução O Direito à cidade

A vida nas cidades tem sido alvo de intensos de- A cidade, compreendida como cenário de
bates nas últimas décadas. Tendências globais construção social da vida humana, leva àquilo
apontam problemáticas demográficas, ambien- que Lefebvre chamou de “direito à cidade”4. A
tais, sociais e econômicas, que são exacerbadas vida urbana pressupõe convivência de diferen-
pela forma de organização e produção da vida ças ideológicas, políticas e de modos de vidas.
nas cidades. Ao mesmo tempo, as cidades são re- Porém, a estrutura capitalista, tendo o consumo
conhecidas como centros culturais, intelectuais, como prioridade, expulsa o proletariado da cida-
tecnológicos, produtivos e organizativos; servem de e forma subúrbios. A noção de habitat como
também como motores de desenvolvimento hu- local de vida social se perde, afastando também
mano e social. sua capacidade criadora5. Para Lefebve, a discus-
Iniquidade e exclusão são temas críticos no são do direito à cidade propicia uma abertura do
desenvolvimento das cidades, porém são as ques- pensamento e de novos horizontes4.
tões mais comumente ignoradas ou abordadas Para Rolnik e Klink6, as cidades são desafia-
superficialmente1. O conceito de direito à cidade das pelas dinâmicas econômicas do território. O
incita um novo olhar às agendas e políticas urba- crescimento urbano baseado no discurso econô-
nas, ao destacar que todos, em especial os grupos mico gera disparidades sócio espaciais, degrada-
vulneráveis e marginalizados, têm direito à cida- ção do ambiente e ineficiência. Além da expansão
de em si, e direito de moldá-la e transformá-la. da infraestrutura urbana, é necessário discutir as
O planejamento das cidades tem o potencial de relações entre a dinâmica econômica e as condi-
tratar problemas complexos de forma integrada, ções de urbanização.
e oferece uma porta de entrada para a construção No campo do direito a questão principal é
de novos modelos de desenvolvimento e expe- a garantia do direito à cidade para todos, sem
rimentação de novas políticas e intervenções. O exclusão ou segregação. Para Mello7, o direito à
foco no urbano traz a reflexão sobre o contexto cidade é uma temática nova no campo jurídico,
(território, tempo, espaço), que se reflete na or- como uma espécie de direito coletivo ou comu-
ganização social e política da cidade e possibilita nitário, composto por um conteúdo normativo
pensar em como influenciar as decisões políticas complexo, que demanda a compreensão de direi-
e ações que ocorrem na e para a cidade. to por uma cidade justa. Cabe ao campo jurídico
Fernandes e Meirinhos2 entendem que, dian- explorar este direito para a consolidação do ideal
te do dilema entre o “ideal de cidade” e as “cida- de vida urbana digna para todos.
des reais”, as cidades ideais servem de dispositivos A jovialidade da temática “direito à cidade”
teóricos para pensar os problemas das cidades gera necessidade de estudos para seu melhor uso,
reais. Já Rodrigues3 destaca que: especialmente após a utilização do termo pela
A cidade como direito tem como base a vida ONU na conferência HABITAT III, em discus-
real, o espaço concreto e o tempo presente. Ao sões com significados diversos, o que pode levar
contrário, no ideário da cidade ideal, o espaço e ao enfraquecimento da proposta8.
o tempo são abstrações. Reflete o pensamento de O afastamento do sujeito dos cenários sociais,
planejadores, gestores e tomadores de decisão. Os leva a discussão de direito à cidade ao conceito
problemas são considerados desvios do modelo, so- de exclusão. Para Lopes e Fabris9, o avanço do
lucionáveis com novo tipo de planejamento e uso discurso econômico, em prejuízo da noção de di-
de novas tecnologias. Os avanços da tecnologia reitos sociais, colocou a diferença do lado de fora:
articulam formas e conteúdos da e na cidade, mas o que difere é excluído em prol de uma cultura
não ‘produzem’ a cidade ideal, embora provoquem hegemônica idealizada.
transformações na cidade real. Outro conceito central é o da equidade, que
A partir dessa proposição e do efeito que as tem como analogia as noções de justiça social
agendas urbanas podem ter sobre a cidade “real”, e de direitos de cidadania. Como ferramenta, o
o artigo examina como certas agendas urbanas se referencial da Promoção da saúde destaca a par-
aproximam de elementos chave ao conceito de ticipação social, a intersetorialidade, o olhar dife-
direito à cidade: equidade, inclusão social, parti- renciado para grupos marginalizados e vulnerá-
cipação social e o foco no território. veis, e o foco nos sujeitos e territórios. Diante da
conectividade entre as discussões sobre Direito à
Cidade e a promoção da saúde, é significativo en-
tender como estes elementos chave e transversais
estão incorporados em agendas urbanas.
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As agendas urbanas . Propor um marco teórico e metodológico
para o desenvolvimento da cidade;
Planejar a cidade requer olhar para as cres- . Propor agenda de desenvolvimento da cida-
centes tensões sociais, econômicas e ambientais. de como um todo, não enfocada em populações
Atentar à construção de agendas urbanas dispu- específicas;
tam espaços institucionais e políticos, ganha re- . Ter experiências, implementadas no perío-
levância, considerando seu potencial para influir do da pesquisa, no Brasil;
no pensamento dos tomadores de decisão e no . Ter documentos orientadores das institui-
planejamento da vida nas cidades. ções gestoras disponíveis na web.
Agendas urbanas podem influenciar as ci- A busca livre na web identificou 12 agen-
dades, por exemplo, ao promover a inserção de das (Quadro 1). Quatro agendas cumpriram os
enfoques estratégicos em lógicas de planejamen- critérios definidos: Cidades Saudáveis, Cidades
to e gestão, influenciar a forma como políticos Sustentáveis, Cidades Inteligentes e Cidades Edu-
e tomadores de decisão pensam a cidade e seus cadoras.
processos, dar impulso político e legitimidade a Uma limitação metodológica foi não realizar
temas considerados prioritários, ou direcionar uma revisão de bibliografia e de outros materiais
as capacidades das cidades para lograr objetivos sobre cada agenda, o que poderia revelar mais
como o desenvolvimento sustentável. informações sobre diferentes abordagens no in-
Por outro lado, as agendas urbanas podem re- terior das mesmas.
fletir a natureza fragmentada das administrações Definidas as agendas, selecionamos uma ou
públicas e tratar de segmentos do urbano (saúde, duas instituições envolvidas na sua promoção e
habitação, transporte, etc.). Apesar de reconhe- revisamos os materiais elaborados por elas. Con-
cerem problemas críticos, como a iniquidade e a sideramos materiais de caráter oficial (cartas, de-
desigualdade, nem sempre apontam a propostas clarações) e informações do site da organização
metodológicas para sua abordagem. Vários mo- proponente, a partir da pergunta: como a agen-
delos são propostos por organizações internacio- da considera os princípios de intersetorialidade,
nais, e há que considerar sua relevância ao nível equidade, participação social, inclusão social e
local. São também atravessados por interesses relação com o território?
de agências financiadoras ou pela opinião de es-
pecialistas. Há também que compreender seus
pressupostos: que modelo de desenvolvimento Resuldados
humano e social, e que concepção de sujeito e ci-
dadania consideram? Cidades Inteligentes

O movimento de “Smart Cities” (“Cidades


Metodologia Inteligentes”) ganhou força nos últimos anos.
Apesar de divergências sobre seu conceito, as de-
O artigo apresenta uma revisão descritiva e ex- finições têm em comum o uso da tecnologia e da
ploratória de agendas urbanas propostas por inovação para o planejamento e gestão da cida-
organismos internacionais e adotadas em con- de, o desenvolvimento de infraestrutura urbana,
textos brasileiros. É um trabalho de abordagem o crescimento econômico sustentável e a me-
qualitativa, com uso de procedimentos de pes- lhoria da qualidade de vida. Aludem ao poten-
quisa documental. Não é uma revisão exaustiva cial de cidades modernas, criativas, dinâmicas,
de todas as agendas urbanas e sim de uma sele- conectadas, prósperas e eficientes. A tecnologia
ção, para apontar caminhos para construir um seria o motor da transformação da sociedade e
marco de análise de agendas urbanas no contexto ferramenta chave para atender às necessidades da
do direito à cidade. No Brasil, as agendas foram população. Cidades no Brasil que realizam ações
implementadas em algumas cidades; porém, não de Cidades Inteligentes incluem Rio de Janeiro,
foi o foco do trabalho revisar ou avaliar essas ex- Vitória e Florianópolis10.
periências. O Banco Interamericano de Desenvolvimen-
A identificação de agendas se deu entre junho to (BID) coordena a iniciativa “Cidades Emer-
e agosto de 2017, por buscas livres na Internet e gentes e Sustentáveis”, que promove projetos de
no site de organizações internacionais. Os crité- Cidades Inteligentes em 10 cidades, entre elas, o
rios de inclusão foram: Rio de Janeiro. O Banco Mundial criou um gru-
. Ser proposta ou liderada por instituições po de trabalho sobre Cidades Inteligentes para
internacionais; orientar governos e outros atores no desenvol-
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Andrade EA, Francheschini MCT

Quadro 1. Resultados do levantamento inicial.


Exemplos Trata de É liderada por Tem material
Tem material
Agenda em 2017 desenvolvimento organização orientador
metodológico
no Brasil urbano internacional na web
Cidade Educadora x x x x x
Cidade Inteligente x x x x x
Cidade Sábia x x
Cidade Saudável x x x x x
Cidade Sustentável x x x x x
Cidade Verde x x
Cidade Compacta x x
Cidade Criativa x x x
Cidade Cuidadora x x
Cidade Justa x x
Cidade Resiliente x x x x
Ciudades por la Paz x x x

vimento de Cidades Inteligentes11. Examinamos o estabelecimento de parcerias público-privadas


a publicação do BID, “Caminho para as smart como a base para a inovação e desenvolvimento
cities: da gestão tradicional para a cidade inte- de infraestrutura e dos serviços urbanos. Se des-
ligente”10, e materiais do sítio web do Grupo de taca a liderança dos governos locais, porém com
Trabalho sobre Cidades Inteligentes11. um papel importante da iniciativa privada e do
O BID define a Cidade Inteligente como empreendedorismo para a busca e implementa-
“aquela que coloca as pessoas no centro do de- ção de soluções tecnológicas.
senvolvimento e as tecnologias de informação Há pouco destaque às questões de equida-
e comunicação na gestão urbana, e utiliza estes de, justiça social, desigualdades e inclusão social
elementos como ferramentas para estimular o como base ou valor central para a construção de
desenho de um governo efetivo que inclui o pla- uma Cidade Inteligente. A proposta do BID, se
nejamento colaborativo e a participação cidadã. refere à implementação de estratégias de gestão
Ao promover o desenvolvimento integrado e sus- urbana e governança que melhorem a vida de
tentável, as Cidades Inteligentes se tornam mais “todas as classes sociais”10. Pessoas são identifica-
inovadoras, competitivas, atraentes e resilientes, das como “beneficiárias e participantes nas trans-
dessa forma, melhorando vidas”10. formações da cidade”10. A inclusão social estaria
Para o Banco Mundial as Cidades Inteligentes associada à inclusão digital que “permitiria aos
“utilizam informação e tecnologias inovadoras cidadãos participar ativamente através do uso de
para melhorar a qualidade de vida de seus cida- equipamentos eletrônicos e aplicativos que per-
dãos, reduzir a pobreza e impulsionar a prosperi- mitiriam um monitoramento e colaboração nas
dade de seus cidadãos, e para aumentar a eficiên- ações transformadoras realizadas pelos líderes e
cia e transparência de suas operações e serviços governantes da cidade”10. A diminuição da desi-
urbanos”. Destaca como áreas de desenvolvimen- gualdade se daria pela criação de empregos as-
to urbano: energia, transporte, água e gestão de sociados à tecnologia. O Banco Mundial enfatiza
resíduos, moradia, social e governo, finanças12. intervenções com foco da redução da pobreza e
Ambas propostas ressaltam a colaboração e a na promoção da prosperidade.
multisetorialidade como elementos fundamen- As estratégias propostas pelo Banco Mundial
tais da gestão e do planejamento a longo prazo enfocam em medidas tecnológicas que otimizem
de Cidades Inteligentes. Atores citados incluem o tempo e custo dos serviços urbanos, para fa-
setor público e privado, academia, cidadãos, so- mílias e empresas, e com foco especial em como
ciedade civil, empreendedores e profissionais esses afetam os mais pobres11. Propõe o “empo-
especializados. Ressaltam o intercâmbio de ex- deramento de cidadãos e stakeholders” através
periências, a aprendizagem mútua e enfatizam da tecnologia que permita participação ativa no
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planejamento e definição de soluções a partir da promoção e desenvolvimento; condições para a
transparência e de devolutivas sobre a qualidade plena igualdade; direito ao acesso às tecnologias
dos serviços. da informação e comunicação; congregação en-
Participação social é citada em ambos mate- tre instituições educativas formais, não-formais e
riais como essencial na definição de problemas informais para a colaboração no ensino e apren-
e busca de soluções. Os mecanismos utilizados dizagem de todos; cooperação com instituições e
como exemplo estão relacionados com o uso de projetos de estudo e pesquisa; planejamento ur-
aplicativos e da inclusão digital. bano; desenvolvimento das potencialidades edu-
cativas da cidade; valorização da diversidade de
Cidades Educadoras saberes, da cultura e do resgate da memória local;
e concepção da educação como um bem social
Sendo cidades espaços estratégicos para a dinâmico, construído coletivamente.
promoção da saúde e produção de vidas, a agen- A Carta de Cidades Educadoras reforça a
da de “Cidades Educadoras” propõe ações tendo preocupação com os mecanismos de exclusão e
a educação como motor do desenvolvimento marginalização que afetam as cidades. Propõe a
pessoal e coletivo e de melhoria da convivência construção de cidades inclusivas, justas e parti-
e da coesão social. cipativas, e destaca a criação de mecanismos que
A proposta baseia-se no princípio de que a permitam às crianças e adolescentes vivenciarem
tarefa de educar é responsabilidade da sociedade; plenamente sua cidadania. Compreende que a
uma Cidade Educadora se define como aquela educação integral, que enfrente desigualdades no
que apreende e explora o potencial do territó- ambiente escolar e promova melhor qualidade
rio, transformando-o em capital educativo. São da educação dos sujeitos, com prioridade a co-
regidas por princípios de ações formadoras para munidades com maior vulnerabilidade, aponte
o desenvolvimento integral de todos os cidadãos para uma política educacional de qualidade, com
em um processo educativo ao longo da vida e a equidade.
partir da relação com os espaços e indivíduos do
município. Cidades Saudáveis
A Carta de Cidades Educadoras e a conse-
quente Declaração de Barcelona (1990), nasce- A agenda de Cidades Saudáveis baseia-se
ram no 1º Congresso Internacional das Cidades na corrente da promoção da saúde que prioriza
Educadoras13,14. A proposta de Cidades Educado- ações sociopolíticas com atores além do setor
ras é coordenada pela Asociación Internacional saúde, experiências integradas, multisetorias e
de Ciudades Educadoras (AICE)15. Foi a partir diálogo. Enfatiza que transversalizar a promo-
desta lista que 470 cidades de 36 países assinaram ção da saúde nos espaços onde as pessoas vivem,
a Carta de Princípios. No Brasil há 14 Cidades requer pensar a cidade onde estas circulam. A
Educadoras: Belo Horizonte, Caxias do Sul, Gua- agenda é apoiada na Carta de Ottawa17, e suas
rulhos, Horizonte, Mauá, Porto Alegre, Santiago, ações estratégicas: estabelecimento de políticas
Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, públicas saudáveis; criação de ambientes e entor-
São Carlos, São Paulo, Sorocaba, Vitória. A As- nos saudáveis; empoderamento e ação comuni-
sociação Cidade Escola Aprendiz apoia as ações tária; desenvolvimento de habilidades pessoais e
estratégicas desenvolvidas no Brasil16. reorientação dos serviços de saúde.
De acordo com a Associação, para ser con- Como estratégia da Organização Mundial da
siderada uma Cidade Educadora é necessário o Saúde (OMS), a agenda de Cidades Saudáveis
compromisso com os princípios e premissas es- nasceu nos anos de 1990, na Europa. A partir da
tabelecidos pela Carta: a participação cidadã; o Conferência de Bogotá, em 1992, as iniquidades
fortalecimento do sentido de pertencimento e da América Latina se destacaram no ideário da
preservação da harmonia cultural; o uso do es- promoção da saúde, e a estratégia foi renomeada
paço público; e a atenção integral às pessoas e a “Municípios e Comunidades Saudáveis”, possi-
promoção de práticas sustentáveis no ambiente bilitando maior abrangência e singularidade ao
escolar e seu entorno, de forma a contribuir para processo no contexto latino-americano18.
o desenvolvimento do estudante, de familiares, Em 2004, a Organização Panamericana da
comunidades e da cidade16. Saúde (OPAS) lançou o documento “Municípios
Aspectos a serem abarcados pelos municípios e Comunidades Saudáveis: Guia dos Prefeitos
incluem: o território como cenário de construção para Promover Qualidade de Vida”19. Nele, um
e de experimentação para os sujeitos; integração município saudável é aquele que alcança um
de conhecimentos entre indivíduos, formação, pacto social entre sociedade civil, gestão públi-
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ca e outras instituições em prol da promoção da todos os níveis da gestão local. Para isso é preciso
saúde da população, o que requer mudanças nas compreender cada cidade como única e distinta,
políticas, legislações e serviços que geralmente o capaz de determinar as áreas de ação importantes
município provê. para a sua realidade. Finalmente, reconhece que o
O Guia orienta a implantação de MCS a par- potencial transformador da estratégia só é alcan-
tir de elementos essenciais: compromisso público çável se construído através de esforços conjuntos
entre gestão, poder legislativo, ongs, setor priva- dos diferentes atores no território, dependendo
do e comunidade em prol de MCS; fortalecimen- assim da disponibilidade e capacidade de apro-
to da participação social em todas as fases do veitar oportunidades de melhorar a saúde das
processo; planejamento estratégico, indicando a gerações atuais e futuras20.
necessidade de mobilização de recursos, apoio e
cooperação; construção de consensos e formação Cidades Sustentáveis
de parcerias; estimulação à participação de ou-
tros setores sociais, para além do setor saúde; for- A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sus-
mulação de políticas públicas saudáveis no nível tentável, aprovada em 201521, é uma ambiciosa
local, regional e nacional, com oportunidades de iniciativa global para promover o desenvolvi-
participar de processos de tomada de decisão, e o mento sustentável a partir de Objetivos de De-
monitoramento e avaliação dos processos19. senvolvimento Sustentável (ODS).
Países do continente americano se apropria- No Brasil, o Programa Cidades Sustentáveis
ram deste Guia, o adaptaram e desenvolveram (PCS), busca promover a agenda de desenvolvi-
seus próprios materiais orientadores. Estes ma- mento sustentável entre municípios brasileiros22.
teriais apontam a diferentes concepções sobre a O Programa é implementado desde 2011 e recen-
promoção da saúde e seus elementos, porém não temente incorporou na sua agenda o logro dos
foi o propósito desse trabalho revisar estes ma- ODS e dos compromissos assumidos na COP-21.
teriais. É realizado pela Rede Nossa São Paulo, Rede So-
Em 2015, a OPAS, passou a investir na re- cial Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis
vitalização da estratégia de MCS. O objetivo é e pelo Instituto Ethos, e conta com parceiros do
atualizá-la a partir da experiência dos países nas setor público, privado e organizações da socieda-
últimas décadas e mobilizar gestores e autorida- de civil. Revisamos o material disponibilizado na
des locais para sua implementação. Realizou-se, web do Programa.
em 2016, o fórum “Caminho à Shangai”, com a O PCS promove ações para a ”transição para
participação de 12 países da América Latina, que um desenvolvimento sustentável, que integre as
culminou na Declaração de Santiago20. A Decla- dimensões social, ambiental e ética, baseado em
ração, que buscou dar impulso político e legisla- uma economia que seja includente, verde e res-
tivo ao movimento de MCS, foi apresentada na ponsável”22. Propõe uma lista de 260 indicadores
9ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde organizados em 12 eixos temáticos. A proposta
de Shangai, China, em 2016. está direcionada para centros urbanos e busca in-
A Declaração reconhece a saúde como um fluenciar agendas públicas e a ação de represen-
direito fundamental, relacionada ao desenvolvi- tantes eleitos na direção da “agenda da sustenta-
mento social, econômico, humano, sustentável bilidade”. No momento da pesquisa, a Plataforma
das cidades comunidades e territórios. Para en- listava 199 cidades participantes no Brasil.
frentamento das iniquidades enfatiza a partici- Os municípios se comprometem a realizar
pação da gestão e de diversos setores, e a parti- um diagnóstico municipal a partir de uma sele-
cipação e o empoderamento das comunidades. ção da lista de indicadores e utilizar este diagnós-
Reforça também que a gestão local está mais pró- tico para consolidar seu Plano de Metas. Perio-
xima do território, assumindo a necessidade da dicamente, os municípios atualizam informações
regionalização. A saúde é entendida como fator de seus indicadores na plataforma do PCS. A ade-
indispensável para uma sociedade equitativa e são ao Programa se dá através da assinatura de
sustentável. Assume ainda a necessidade de cons- uma carta de compromisso pelo prefeito; há uma
trução de entornos saudáveis, que sejam propí- versão que pode ser firmada por vereadores para
cios para o desenvolvimento social, físico e subje- o seu legislativo.
tivo, possibilitando a todos alcançar seu potencial Os eixos temáticos e indicadores associados
de saúde e bem-estar20. são amplos e consideram questões centrais ao
Este enfoque de MCS, de acordo com a De- desenvolvimento sustentável: governança, equi-
claração de Santiago, proporciona um marco dade, justiça social, economia local, sustentabili-
prático e adaptável para fomentar a saúde em dade ambiental, etc. Os indicadores são de pro-
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cessos e resultados, apontando à construção de setorialidade como uma ferramenta pontual nos
mecanismos sustentáveis para lograr os impactos processos e não como um princípio transversal
desejados. na construção da agenda. No caso de Cidades In-
O PCS busca influenciar e direcionar a agen- teligentes se enfatiza o papel do setor privado e
da local, porém deixa a cargo do município defi- de parcerias público-privada, apontando a uma
nir mecanismos, políticas e estratégias para avan- influência de lógicas de mercado e de modelos
çar no logro dos indicadores. Assim, possibilita neoliberais de desenvolvimento. Pode-se refletir
que as ações serão adaptadas e contextualizadas sobre que efeitos agendas com essa abordagem
ao território. poderiam ter na terceirização ou privatização de
Sobre a intersetorialidade, se menciona a im- serviços públicos e no papel do Estado na garan-
portância da consulta e colaboração com outros tia do bem-estar da população.
setores na construção do Plano de Metas (de fato, Cidades Educadoras enfatiza a troca de expe-
a elaboração do Plano de Metas já é um processo riências e saberes em diferentes níveis de gestão
intersetorial). e, principalmente, entre educação formal e infor-
A participação social é enfatizada nos eixos mal, com referências sobre a necessidade de arti-
temáticos e na construção dos indicadores, como culação entre os diferentes setores do governo e
um valor transversal. Se menciona a importância da sociedade em um pacto pelo desenvolvimento
de consultas com a sociedade sobre o Plano de humano.
Metas a partir de audiências públicas, ampla di- Na agenda de Cidades Saudáveis a interseto-
vulgação e mobilização de setores. Se reforça que rialidade é pilar fundante e reafirma os referen-
as sugestões dos participantes sejam incorpora- ciais da Carta de Ottawa. Tem como proposta
das ao Plano de Metas. atrair outros setores e atores relevantes para a
O PCS reconhece que o enfrentamento da elaboração, planejamento, implantação, monito-
questão da desigualdade é chave na abordagem ramento e avaliação das ações.
da sustentabilidade e propõe a implementação de
ações para abordá-la, como a ocupação dos ter- Equidade
ritórios com equipamentos e serviços públicos
de qualidade. Há um eixo de atuação específico Uma questão importante com relação à equi-
sobre o tema: “Equidade, Justiça Social e Cultu- dade, que aparece na leitura dos materiais, é a
ra da Paz”. Os indicadores relacionados abordam diversidade de compreensões sobre seu conceito,
uma ampla gama de temas: gênero, violência, causas e modelos para abordá-la. A produção de
renda, impactos ambientais, etc., porém, diferen- equidade em saúde diz respeito ao investimento
temente da participação social, a promoção da em torno das populações vulneráveis ou das pro-
equidade não é integrada na agenda como algo blemáticas sanitárias consideradas negligenciadas.
transversal. No campo da educação, o investimento é no aces-
so aos serviços educacionais de qualidade. Nas Ci-
Análise dades Educadoras, a preocupação é como enfren-
tar desigualdades, discutindo o acesso à educação
As agendas apontam a uma diversidade de de qualidade em diferentes camadas sociais; já em
modelos e compreensões sobre os problemas, Cidades Saudáveis, pelo compromisso com os de-
potencialidades e produção da vida e dos espaços terminantes sociais de saúde, a busca pela equida-
da cidade. de supõe analisar questões socioeconômicas que
afetam a qualidade de vida das populações.
Intersetorialidade Na concepção de Cidades Inteligentes, a equi-
dade está relacionada com a implementação de
Com relação à intersetorialidade, todas as ações para o crescimento econômico e a redução
propostas citam a importância de articular seto- da pobreza. Aqui caberia refletir sobre os mode-
res e atores, em etapas diversas. Todas ressaltam los de desenvolvimento que compõem a base da
a liderança do governo local no processo, o que agenda: o de que o desenvolvimento econômico
desde uma perspectiva do direito à cidade é tam- levará automaticamente ao desenvolvimento hu-
bém essencial. No caso de Cidades Sustentáveis, mano. Essa questão é controversa; se por um lado
o papel da intersetorialidade se identifica no mo- o crescimento econômico pode levar à melhoria
mento do planejamento do Plano de Metas e não da renda das famílias, de acesso a bens e serviços
fica claro qual o posicionamento sobre o tema e a uma melhoria na qualidade de vida, o mesmo
nas etapas anteriores (definição de indicadores e crescimento econômico, com seus padrões exclu-
diagnóstico). Indica uma compreensão da inter- dentes, pode levar ao aumento das iniquidades e
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da concentração de renda, se não vier acompa- des Sustentáveis a participação é proposta como
nhado de políticas públicas sociais que atenuem aspecto transversal nos eixos e indicadores, po-
esses efeitos e melhor distribuam os resultados rém o processo participativo é enfatizado a partir
do crescimento econômico gerado23. Medidas de do momento em que uma proposta do Plano de
redução da pobreza podem ser um elemento fun- Metas já esteja elaborada. Levanta-se aqui a ques-
damental para o desenvolvimento urbano equi- tão da participação nas etapas prévias: definição
tativo24. Porém, a interface entre o crescimento de indicadores e diagnóstico municipal. Uma re-
econômico e a prosperidade, a melhoria da qua- visão de experiências poderia elucidar se os mu-
lidade de vida e o desenvolvimento (econômico e nicípios participantes estão tendo este cuidado.
humano), e o papel das políticas públicas sociais Nos materiais de Cidades Inteligentes, a par-
não está claro nos modelos analisados. ticipação é colocada a partir de uma base de valo-
O modelo de Cidades Inteligentes propõe res já definidos como “desejáveis”: eficiência, co-
como medidas para enfrentar as desigualdades, nectividade, “inteligência”, empreendedorismo.
as intervenções para melhoria de acesso e quali- No olhar da promoção da saúde e do direito à ci-
dade dos serviços públicos, a inclusão digital e a dade, se ressaltam valores como a solidariedade,
criação de empregos associados à tecnologia. A o fortalecimento de sujeitos e coletivos, o respeito
proposta não faz conexões com outros fatores en- à diversidade, a justiça social, entre outros. Essa
volvidos na produção de desigualdades urbanas disputa de valores precisaria ser melhor proble-
como o acesso a serviços básicos (saneamento, matizada. Seriam os valores da Cidade Inteligen-
saúde, educação), a concentração de renda nas te aqueles desejados por seus habitantes? Esses
camadas mais ricas da população, entre outros. foram determinados com base em que modelo
Existem estudos que relacionam a melhoria do de desenvolvimento?
acesso e da qualidade dos serviços de saúde com a Cabe questionar que lugar é dado na Cidade
redução de desigualdades raciais25. Seria interes- Inteligente às relações e interações entre cida-
sante entender o potencial da tecnologia, em um dãos, tomadores de decisão e outros atores, se
marco de Cidades Inteligentes, para fortalecer o tudo passa a ser intermediado pela tecnologia.
acesso e a qualidade dos serviços tendo em vista Que lugar tem nessa construção as experiências
a redução de iniquidades sociais. Com relação à concretas do cotidiano dos sujeitos e coletivos?
inclusão social a partir da inclusão digital, consi- Murgante e Borruso26 criticam a definição de
derando a falta de acesso à tecnologia que ainda “inteligência” no que se refere à cidade, e questio-
afeta boa parte da população mundial, uma am- nam porque esta ideia está ligada à questão tec-
pla gama de aplicativos e plataformas estaria dis- nológica. Segundo tais autores, o principal papel
ponível apenas para uma parcela da população, das Cidades Inteligentes seria apoiar um melhor
potencialmente ampliando desigualdades dentro planejamento urbano e harmonizar os diferentes
e entre cidades. Essa aparente contradição não é atores, em um processo facilitado pela tecnolo-
abordada nos materiais revisados. gia. Ou seja, a tecnologia seria o instrumento ca-
No caso de Cidades Sustentáveis, não se paz de conectar, facilitar as relações e interações,
identifica a equidade como uma questão trans- não substituí-las. A Cidade Inteligente “habilita-
versal, e sim como parte de eixos e indicadores. ria uma plataforma para as atividades que seus
Por exemplo, não se enfatiza a identificação de cidadãos queiram desenvolver, vinculando os
iniquidades no diagnóstico, dando maior visibi- espaços do passado com aqueles possíveis no fu-
lidade a grupos marginalizados ou vulneráveis na turo, desta maneira não sendo enfocados apenas
construção do plano de metas. Não é enfatizada nas aplicações, mas na possibilidade dos cidadãos
a questão da equidade na participação social, por realizá-las”26.
exemplo, ressaltando-se que esta inclua os grupos As agendas de Cidades Educadoras e Saudáveis
marginalizados, ou os mais vulneráveis. Uma vez afirmam a necessidade de aumentar a capacidade
que o PCS atua a partir do monitoramento de das comunidades para reconhecer e responder aos
indicadores e não da construção das estratégias problemas da cidade. O fomento à participação
adotados, uma análise de experiências poderia social é entendido como a possibilidade e opor-
apontar como municípios estão considerando tunidade da comunidade apropriar-se de suas
essa questão. problemáticas e exercer algum controle sobre elas.
Porém, não fica claro em nenhuma das agendas
Participação social como refletir junto com a comunidade sobre sua
capacidade de intervenção e não discutem como
A participação social está pautada em todas as alcançar as diferentes esferas envolvidas.
agendas, porém de diferentes formas. Em Cida-
3857

Ciência & Saúde Coletiva, 22(12):3849-3858, 2017


Relação com o território trabalhando para a normatização das condutas
dos sujeitos. Uma reflexão seria: as agendas ca-
As agendas que discutem sobre o território minham para o ajustamento em um modelo de
são Cidades Educadoras, Sustentáveis e Sau- cidade ideal ou trabalham em prol da equidade
dáveis. Estas assumem a preocupação com que e respeito à diversidade, sendo assim mediadoras
os sujeitos sejam parte do processo, conside- do processo?
rando sua cultura, suas experiências e saberes,
respeitando sua diversidade. Porém não é clara
a compreensão de cada agenda ao conceito; na Conclusão
educação são os cenários educativos, na saúde é
o território ampliado. É necessário melhor com- O objetivo do estudo foi analisar como temas
preender esta abrangência. chave para os referenciais do Direito à Cidade e
O Programa Cidades Sustentáveis comparti- da Promoção da Saúde estão contemplados em
lha valores centrais da promoção da saúde. Tra- quatro agendas urbanas internacionais atuantes
ta-se, porém, de uma agenda baseada no logro de nos contextos brasileiros. Se baseou na ideia de
indicadores pré-determinados e caberia entender que essas agendas influenciam agendas públicas,
o efeito da sobreposição de prioridades globais e a definição de prioridades, mecanismos e estra-
locais. A predeterminação de temas para o diag- tégias e, assim, o desenvolvimento das cidades e
nóstico e Planos de Metas, se por um lado pode a vida de seus habitantes. É importante entender
dar visibilidade a temas centrais para o desenvol- como essas agendas se alinham com os preceitos
vimento urbano sustentável, por outro pode des- de direito à cidade, esperando que sejam modelos
locar foco de questões que emanem dos sujeitos e confluentes e que reforcem um processo trans-
dos territórios. Que efeito, se algum, a implemen- formador, participativo e em prol da equidade e
tação dessa agenda teria na capacidade do territó- diversidade.
rio de identificar suas próprias prioridades? Considerando a quantidade de municípios
Os indicadores definidos são relevantes e no Brasil, há poucas experiências acontecendo ou
abrangentes; não fica claro, porém, como se dá sendo publicadas. Cabe discutir em trabalhos fu-
a seleção de indicadores por parte da gestão mu- turos quais são e qual a abrangência das agendas.
nicipal no momento da adesão ao Programa: Para pensar nas contribuições da promoção da
quem define e com base em que critérios? Esta saúde na consolidação do direito à cidade, é im-
seria uma questão chave desde uma perspectiva portante realizar pesquisas avaliativas e entender
de direito à cidade, considerando que é o ponto o alcance das agendas no território.
de partida para a construção da agenda e inter- A discussão permite dizer que as quatro agen-
venções no território; seria essencial garantir que das urbanas dão pistas de como produzir saúde
esse processo fosse participativo e relevante aos no âmbito da cidade. Entretanto, são necessá-
habitantes do território desde o princípio. rias ponderações para que elas possam melhor
A agenda de Cidades Educadores reforça a influenciar o direito à cidade: ter uma definição
importância do território na consolidação de comum de direito à cidade; construir homoge-
ações. A educação como centralidade traz con- neidade entre as diversas compreensões dos con-
sigo a intenção de conscientização das pessoas ceitos utilizados; e construir de espaços de pac-
quanto à opressão que vivem. Abarca então o tuações entre as agendas, considerando suas se-
risco de priorizar valores dominantes pré-conce- melhanças e fortalecendo a potência da proposta
bidos, além do risco de pressupor que os sujeitos de direito à cidade.
a quem são remetidas as ações educativas sejam
desprovidos de saber e que a partir da educação
serão livres.

Inclusão

Todas as agendas discutem a importância da


inclusão social. Como tratam-se de agendas in- Colaboradores
ternacionais, não fica claro se é para a inclusão
da diversidade do território ou para convencer EA Andrade e MCT Franceschini participaram
os sujeitos a pensarem e atuarem em formatos de todas as etapas do trabalho: concepção do es-
previamente estabelecidos. Na segunda hipóte- tudo, análise dos dados, redação e aprovação da
se, com propósitos de inclusão podemos estar versão final do artigo.
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Andrade EA, Francheschini MCT

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aprendiz.uol.com.br/2015/05/07/5-cidades-educado- Artigo apresentado em 30/08/2017
ras-que-transformaram-suas-realidades-locais-pelo Aprovado em 04/09/2017
-aprendizado/ Versão final apresentada em 03/10/2017

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