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C a t a lo g a ç ã o n a F o n te do D e p a rta m e n to N a c io n a l do L iv ro
R165f
Ramachandra, Vinoth
A falência dos deuses: a idolatria moderna e a missão cristã; Itraduzido
por: Milton Azevedo Andradel. — São Paulo: ABU, 2000.
286p.; 21 cm.
ISBN 85-7055-025-1
Tradução de: Gods That Fail.
Inclui índice.
P
Reconhecimentos
5
C on teúdo
2. Religião e ídolos 42
O Legado H egeliano
Críticas Secularistas
U m a Crítica Bíblica
Falsos Evangelhos
Virando as Mesas
Além da Experiência
De V olta para o Futuro
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
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INTRODUÇÃO: MODERNIDADE E ÍDOLOS
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
Fim da Modernidade?
Sociólogos ocidentais não estão de acordo quanto a como
descrever as transformações da modernidade que têm se
avolumado nos últimos anos. Para aqueles que aceitam uma
das versões da diferença existente entre modernismo e pós-
modernismo, mais uma vez parece que “ tudo o que é sólido
transforma-se em a r” . Dando seguimento à m etáfora da
jam anta feita por Giddens, a “ pós-modernização” é melhor
com preendida como uma continuação dos processos da
modernização, mas com crescente intensidade e amplitude;
mas o resultado dessa intensificação tem sido o de m inar a
estabilidade da modernidade e lançá-la numa certa confusão.
N ão mais sujeita ao controle e à previsão, seus efeitos cul
turais e institucionais podem até mesmo se reverterem .
Indubitavelm ente aspectos do “ pré-m oderno” , do “ m o
derno” e do “ pós-moderno” coexistirão muito bem no século
vinte e um, em sociedades ricas e pobres, mas em configu-
raçõesdiversificad as e desconcertantes. A legações quanto
à “ m orte da m odern idade” são prem aturas e, p arafra
seando M ark Twain, um tanto exageradas.
Além dos pós-modernistas, o cenário intelectual nos últi
mos anos tem sido acrescido de pós-estruturalistas, pós-
m arxistas, p ós-in d u strialistas, p ós-F ordista s e ou tros
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INTRODUÇÃO: MODERNIDADE E ÍDOLOS
A M odernidade e o Sentido
Num a fascinante discussão sobre a perda de sentido na
modernidade, o em inente crítico literário George Steiner
argumenta persuasivamente que “ todo relato coerente sobre
a capacidade da linguagem humana de poder comunicar
algum sentido e sentim ento leva, no fundo, a suposição de
que Deus está presente” .25 Steiner acredita que um levan
tamento histórico de tudo o que foi convincente na literatura,
na arte e na música demonstraria ter havido uma inspiração
e uma referência da religião nesse todo:
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
E stá p atente aos olhos de todo aqu ele que tem fa m ilia ri
dade com o cenário e van gélico atual que tal m en talidade
tem fe ito incursões na igreja m oderna. Sob a influ ên cia
da televisã o e da propaganda, as reu niões cristãs em
sociedades aflu en tes têm passado por grandes mudanças,
da P a la v ra para a Im agem , da paixão pela verd ad e e pela
ju stiça para o cultivo da intim idade e dos “ bons sen ti
m en tos” , da exposição para o entreten im en to, da in teg ri
dade para a inovação, da ação para o espetáculo. A redução
do conhecim ento à inform ação, e o crescim ento de uma
“ classe de con hecim ento” especializada, reservada, que
M id geley e outros deploram , são evidentes em sem inários
teológicos e faculdades de teologia. M uitos dos form ados
em sem inários agora saem m uito bem preparados em téc
nicas de adm inistração, em técnicas de aconselham ento, e
até m esm o em m etodologias para a im plantação de igrejas,
mas d eficien tes num a visão teológica que p ro m o v a a
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INTRODUÇÃO: MODERNIDADE E ÍDOLOS
Um M útuo Desafio
O famoso novelista G. K. Chesterton certa vez observou que
quando um homem volta as costas para Deus, não é que
ele apenas não crê em nada, mas é que ele crê em tudo.
O mesmo é válido para sociedades inteiras. O assim chamado
mundo secular de homens e mulheres modernos, não menos
do que o mundo tradicionalm ente religioso, acha-se exces
sivam ente inundado de deuses. O presente livro foi escrito
sob a convicção de que o descarte do Deus da revelação
bíblica, descarte esse que é a característica mais peculiar
da modernidade, tem aberto o caminho para o surgim ento
de novos deuses que, tal como seus antigos equivalentes,
acabam por destruir os seus devotos.
Este livro é dirigido prim eiram ente a estudantes e a outros
cristãos pensantes, que pretendem servir a Deus em meio
a ocupações “ seculares” no mundo moderno. Ele não assume
prim ordialm ente nenhuma fam iliaridade com teologia ou
filosofia acadêmicas. N em ainda tem pretensões de origi
nalidade, e estou consciente de que até mesmo aqueles
pensam entos que eu possa con siderar serem origin ais
provavelm ente derivem de fontes que utilizei há muito
tem po e das quais me esqueci com pletam ente. Eu mesmo
escrevo como quem tem sido m uito moldado pela cultura
da modernidade, mas sou grato pelo privilégio e pela respon
sabilidade de ter conhecido outras culturas. Sou grato ainda
pelos grandes benefícios que a modernidade traz às nossas
nações, especialmente por quebrar o pleno dom ínio de tradi
cionais elites religiosas e políticas, e tam bém de h ierar
quias sociais (inclusive de sexo). N ão há quem, seja cristão
ou não-cristão, se preocupe com a em ancipação humana,
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N otas
1 K. Marx e F. Engels, O Manifesto Comunista (1848) - Introd. A.J.P.
Taylor, Harmondsworth; Penguin, 1967; p.83.
2 M. Weber, The Protestant Ethic and the Spirit o f Capitalism (A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo) (1904-5) - Nova York; Scribner,
1958; em especial pp. ISOss.
3 A. Giddens, The Consequences o f Modernity (As Conseqüências da
Modernidade) - Cambridge; Polity Press, 1991; p. 53.
* Ibid.; p. 139.
8 Ibid.; p. 52. Veja também pp. 163ss.
6 Ibid.; p. 45 (itálicos no texto).
7 D. Bell, The Corning ofPost-Industrial Society (A Chegada da Sociedade
Pós-Industrial) - Londres; Heinemann, 1974; p. 318, n. 30.
8 R. Rorty, Contingency, Irony, and Solidarity (Contingência, Ironia e
Solidariedade) - Cambridge; Cambridge University Press, 1989.
9 F. Fukuyama, The End o f History and the Last Man (O Fim da História
e o Últim o Hom em) - Londres; Hamish Hamilton, 1992.
10 F. Fukuyama, “ Changed Days for Ruritania’s Dictator” (“ Novos Dias
para o Ditador da Ruritânia” ), The Guardian, Londres, 8 de abril de
1991.
11 R. K. Merton, “ Mass Persuasion: A Technical Problem and a Moral
Dilemma” (A Persuasão das Massas: um Problema Técnico e um
Dilema M oral) em R. Jackall (ed.), Propaganda - Londres; Macmillan,
1995; p. 273; originalm ente publicado em R. K. Merton, Mass
Persuasion: The Social Psychology o f a War Bond Drive (Persuasão
das Massas: A Psicologia Social de uma Campanha de Levantamento
de Fundos para a Guerra) - Nova York e Londres; Harper & Brothers,
1946.
12 Rorty, op. cit.; p. 113.
13 V. Havei, Open Letters. Selected Prose (Cartas Abertas. Prosa Sele
cionada) - 1965-1990, ed. Paul Wilson; Londres; Faber and Faber,
1991; pp. 94-5.
19 Ibid.; p. 267.
15 O termo “ Huminismo” normalmente é empregado com referência ao
projeto empreendido pelos filósofos da França e da Escócia, no século
X V III, e seus seguidores na Europa setentrional e nos Estados Unidos.
Em seu ponto central acha-se a crença de que a expansão do conheci
mento científico segundo as linhas inauguradas por Galileu e Newton
daria aos seres humanos (à humanidade, de qualquer forma!) um
controle racional sobre os mundos natural e social. Outras persona
lidades do século X V II cujo pensamento teve uma duradoura influ
ência no curso do Iluminismo foram John Locke, René Descartes e
(especialmente na Alemanha) Gottfried Leibniz.
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IN T R O D U Ç Ã O : M O D E R N ID A D E E ÍD O LO S
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A
R elig iã o e íd olo s
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RELIGIÃO E ÍDOLOS
O Legado H egeliano
Um a versão bem mais sofisticada e influente desses senti
mentos foi expressa pelo poderoso G. W. F. H egel (1770—
1831), considerado o m aior dos filósofos alemães do século
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Críticas Secularistas
M arx inicialm ente foi atraído pela então recente reconci
liação de “ o que é ” com “ o que deveria ser” feita por Hegel,
mas rapidam ente repugnou essa síntese à luz de sua expe
riência com o estado da Prússia. Ele asseverou ter posto
H egel de cabeça para baixo ou, mais precisam ente, em pé:
“ Em direto contraste com a filosofia alemã, que desce do
céu à terra, aqui nós ascendemos da terra para o céu...
Partim os de homens reais, ativos, e com base no seu processo
de vida real demonstramos o desenvolvimento dos reflexos
ideológicos... M oralidade, religião, metafísica, todo o restan
te da ideologia... não mais retêm a aparência de indepen
dência.” 5 A história não era o desenvolvimento dialético do
pensamento humano em direção ao Espírito Absoluto, mas
o desenvolvimento dialético das técnicas m ateriais de pro
dução e de sua organização social em direção a uma sociedade
humana sem classes.
M arx viu a religião como criadora de um mundo do “ faz
de conta” , que ocultava dos governados os reais interesses
dos governantes. Essa corrupção da razão por interesses de
classes, sendo consciente ou inconsciente, era o que Marx
denominava ideologia. A religião funcionava como uma
ideologia, dando legitim idade a estruturas sociais e polí
ticas injustas. Todos os que trabalhavam sem discernim ento
dentro de um sistem a assim eram vítim as de uma falsa
consciência que poderia ser transform ada som ente por
uma ação p olítica em solidariedade com a classe trab a
lhadora industrial.
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RELIGIÃO E ÍDOLOS
Falsos Evangelhos
Com pare isso com m uito do que se passa por C ristianism o
hoje em dia. As Boas N ovas são embaladas e divulgadas
(fazendo uso, sem crítica alguma, de todas as técnicas de
propaganda m oderna) com o um produto religioso: o fe re
cendo “ paz em sua alm a” , “ como chegar ao céu” , “ saúde e
prosperidade” , “ cura in te rio r” , “ a resposta a seus prob le
m as” e assim por diante. O que se prom ove como “ fé em
Deus” m uitas vezes acaba sendo, numa análise mais cuida
dosa, um m eio de se obter segurança emocional ou bênçãos
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p re s e n te s é cu lo ” e qu e le v a à id o la tria e a u m fa ls o senso
de s egu ra n ça (v . 17; cf. C l 3 :5). É m u ito fá c il qu e a p ro c u ra
d e u m a ju s tiç a e c o n ô m ic a (o q u e D eu s a p r o v a ) d escam b e
n u m a r iv a lid a d e d e s tr u tiv a , m o tiv a d a p o r u m a c o b iç a
o b sessiva (o qu e D eu s r e p r o v a ). Isso é v e rd a d e ta n to p ara
ig re ja s com o p a ra n a ções c o m o é p a ra pessoas, in d iv i
d u alm en te. A s ad v e rtê n cia s de P a u lo b aseiam -se no p res
suposto de q u e um m u ndo de g ra n d e d esigu ald ad e m a te ria l
é um m u ndo qu e é d om in ad o p o r falsos deuses, p or fo n te s
v a zia s d e s e gu ra n ça ( w . 7, 17). S e os rico s ob s e rv a s s e m o
seu ensino, eles d e ix a ria m de ser ricos, e os p obres d eixa ria m
d e s e r p ob res.
P o r qu ase to d o o tra n s c u rs o d a h is tó ria , os g ra n d es p e n
sad ores e p re g a d o re s da Ig r e ja C ris tã tê m a fir m a d o os
d ire ito s e con ô m ico s dos pob res. N ã o apen as tr o u x e ra m à
le m b ra n ç a a r e la tiv a “ b oa a ç ã o ” do dever da ca rid a d e p ara
com os p ob res, m as ta m b é m in s is tira m n o d ir e ito de acesso,
p elo p ob re, a ad eq u a d o s m eios de su sten to . “ N ã o do qu e
é vosso vó s o u to rg a is aos p ob res, m as v ó s fa z e is r e to r n a r
do q u e é d e le s ” , d isse o b is p o A m b r ó s io (3 3 9 -3 9 7 , e n g e
n h e iro c iv il) aos n o b re s d e M ilã o .12 João C ris ó s to m o (c. de
3 7 7 -4 0 7 ) c o ra jo s a m e n te a rg u m e n to u que:
Isso também é roubo, não dar aos outros o que se possui. T alvez
esta afirm ativa soe surpreendente para você, mas não se
surpreenda... Assim como um oficial no tesouro estatal, se ele
negligencia em distribuir para quem lhe tenha sido ordenado,
mas retém para si por sua própria indolência, tem que sofrer
a pena, sendo posto à morte, da mesma form a o rico é como
um mordomo do dinheiro que possui para ser distribuído aos
pobres. Ele é dirigido a distribuí-lo a seus servos que estejam
em necessidade. Desse modo, se ele gastar consigo mesmo mais
do que sejam suas necessidades, ele terá que pagar a mais dura
pena depois. Pois os seus bens não são propriedade sua, mas
pertencem a seus servos... Rogo que você se lem bre disso sem
falta, que não com partilhar os bens com os pobres é roubar os
pobres e privá-los de seu m eio de vida; nós não possuímos nossos
bens, mas sim os deles.13
S e m e lh a n te m e n te o g ra n d e P a i da C apadócia, B a sílio da
C es a ré ia (c. de 329 - c. de 379) rep re en d eu cristãos qu e era m
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Virando as Mesas
O ateísm o m ilitante, do tipo defendido por M arx e Freud,
tem decaído ultim am ente. O ateísm o da nossa época na
realidade não passa de uma preocupação com o consumo
individual e uma postura de in d iferen ça em relação a ques
tões mais sérias da vida e da m orte. E le esconde por detrás
uma abordagem despreocupada de “ tolerância” que geral
m ente é um term o respeitável para apatia. M arx e Freud,
pelo menos, acreditavam em verdades absolutas e em juízos
morais. Eles estavam com prom etidos com a posição de a fir
m ar categoricam ente que certas crenças eram erradas e que
não deveriam ser seguidas. Esse ateísm o anterior, como já
m encionei, era m uito mais um rem anescente da visão teísta
da vida. O ateísm o m oderno está mais propenso a ser relati-
vista em sua postura quanto à vida ( “ todas as crenças e
valores são culturalm ente condicionados e assim igualm en te
válid os” ). Eu pessoalm ente tenho uma adm iração m uito
m aior pelo ateísm o anterior e m ilitante, porque se trata de
uma posição bem mais honrosa de se sustentar, e ainda
incentiva um genuíno debate.
Os cristãos que se engajarem nesse debate descobrirão que
ele os compele a redescobrirem elem entos no coração do
evan gelh o que lhes tin h am passado desapercebidos. A s
críticas de M arx e Freud aplicam-se a muitas formas de
C ristianism o hoje. Desde que a Igreja Cristã deixou de ser
um m ovim ento subversivo dentro do mundo rom ano e to r
nou-se aliada do poder econômico, social e político, o próprio
discipulado cristão transform ou-se num a subespécie do
g ên ero religião. T em os criado um Deus (e um Jesus) à nossa
próp ria im agem que nos dá o que outras religiões dão a
seus devotos. E m ta l clim a é im possível v e r a sin gularidade
de Jesus C risto e a n atu reza v erd ad eira m en te re v o lu
cion ária da lib ertação que ele proclam ou e que realizou.
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Além da Experiência
T em os observado que tanto M arx com o Freud foram m uito
afetados pela teoria da projeção da religião de Feuerbach.
É sign ifica tivo que nenhum desses três pensadores levou
a cabo uma investigação séria de qualquer das religiões
históricas a que eles tanto se opuseram. De fato M arx e
Feuerbach gen eralizaram quanto à religião com bem pouco
mais em m ente além da filosofia de H egel sobre a religião.
M arx, apesar de toda a sua ênfase no con texto histórico,
era um historiador bem fraco. N ão é de se surpreender que
ele - e outros cientistas sociais que o seguiram em sua
tradição - não tinham consciência de sua própria sujeição
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A fom e física de alguém não prova que tal pessoa vai conseguir
alimento; ele pode m orrer de fom e numa balsa no Atlântico.
Mas com certeza a fom e de alguém prova que ele vem de uma
raça que restaura o seu corpo comendo, e que habita num
m undo em que há substâncias para se comer. Da mesma forma,
embora eu não creia (se bem que quisesse crer) que o meu desejo
pelo paraíso prova que irei desfrutá-lo, considero que tal desejo
é uma indicação bem razoável de que tal lugar existe e de que
haverá quem vá desfrutá-lo. Um homem pode amar uma m ulher
e não consegui-la; mas seria demasiadamente estranho se o
fenômeno descrito por “ apaixonar-se” acontecesse num mundo
assexuado.” 26
D e Volta p a ra o F uturo
A s s im , a fé c ris tã é b a s ic a m e n te a fé nu m D eu s que fala.
U m D eu s cuja P a la v r a , r e v e la d a n a h is tó ria , tr a z p e rd ã o
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N otas
1 K. Marx, “A União dos Crentes com Cristo de Acordo com João 15:1-
14, Mostrando sua Base e Essência, sua Absoluta Necessidade, e
seus Efeitos ” , em Karl M arx & Friedrich Engels, Collected Works
(Obras Selecionadas) - Londres; Lawrence & Wishart, 1975, vol. 1;
pp. 636-9.
2 J. N. Findlay, “Hegel, a Re-Examination” (Hegel, Um Reexam e)-Lon
dres; AJlen & Unwin, 1958; p.139.
3 G. W. F. Hegel, Lectures on the Philosophy o f World History (Disser
tações sobre a Filosofia da História Mundial), 1837 - Cambridge
University Press, 1975.
4 Citado em R. S. Peters, “ Hegel and the Nation-State" (Hegel e a Naçáo
Estado), em David Thomson (ed.), Political Ideas (Idéias Políticas) -
Londres: Penguin, 1966; p.139.
6 K. Marx & F. Engels, The German Ideology (A Ideologia Germânica),
1845 - Londres: Lawrence and Wishart, 1965.
6 K. Marx, HContribution to the Critique o f H egel’$ Philosophy
ofRight: Introduction” (Contribuição à Crítica da Filosofia de Hegel
sobre o Direito: Introdução).
7 L. Feuerbach, The Essence o f C hristianity (A E ssência do
Cristianismo), 1841, 1841 - Cap. 1, reeditado em Philosophers on
Religion: a Historical Reader (Filósofos da Religião: um Texto Histórico),
ed. P. Sherry - Londres: Geoffrey Chapman, 1987.
3 Ibid.
9 E. Fromm, Sigmund Freud’s Mission: An Analysis of His Personality
and Influence (A Missão de Sigmund Freud: Uma Análise de sua
Personalidade e Influência), Nova York: Harper & Bros., 1959; p. 94.
10 D. Bonhoeffer, Letters and Papers from Prison (Cartas e Artigos, da
Prisão) - Londres: Fontana, 1959; pp. 112-3.
11 J. K. Galbraith, The Age o f Uncertainty (A Era da Incerteza) -
Londres: BBC, 1977; p. 22.
12 Citado em C. Avila, Ownership: Early Christian Teaching (Propriedade:
Ensino Cristão Prim itivo) - Maryknoll, NY: Orbis, 1983; p. 50.
18 John Chrysostom, On Wealth and Poverty (Sobre a Riqueza e a Pobreza)
- trad. Catherine Roth (N ova York: St. Vladim ir’s Seminary Press),
1984; pp. 49-55.
14 Citado em Avila, op. cit.; p. 66.
10 Thomas Aquinas, Summa Theologica (Suma Teológica de São Tomás
de Aquino), Pt. II-II, Q66, Art. 7, trad. Fathers o f the English
Dominican Province - Nova York: Benziger Bros., 1948.
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A História do Gênesis
“ N o princípio, criou Deus os céus e a terra...” (G n 1:1). Assim
começa a Bíblia hebraica. Essa frase pode ser entendida como
referindo-se ao princípio da ação criadora de Deus, ou como
um título que resum e todo o relato da criação que vem em
seguida. De qualquer modo, o “ princípio” é o início absoluto
de todas as coisas e do próprio tempo. Deus é tanto o sujeito
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O MUNDO COMO CRIAÇÃO
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A t o s d e F o rm a ç á o A t o s d e E n c h im e n to
D ia 1 : L u z / T r e v a s D ia 4 : L u z e s d o D ia e d a N o it e
D ia 2 : M a r / C é u i D ia 5 : C r ia tu r a s d o M a r e d o C é u
D ia 3 : T e r r a F é r t il D ia 6 : C r ia tu r a s d a T e r r a
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O M UND O CO M O C R IA Ç Ã O
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CIÊNCIA E ANTICIÊNCIA
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U m m odo de se e v a d ir de q u a lq u er im p licação te ís ta é
p ostu la r a existên cia de “ m uitos m undos” ou de “ m ú ltip los
u n iversos” , de m odo que cada um dos possíveis v a lores das
con stantes físicas se r e a liza s s e nu m desses h ip o té tic o s
u n iversos. T a is u n iversos form a ria m um con junto m a te
m ático in fin ito, e por acaso viv em o s num m em b ro d aquele
conjunto em que as con stantes to m aram os valores que
to rn a ra m p ossível a nossa e x is tê n c ia com o o b servad o res
desse universo. M as com o esses un iversos não podem se
com unicar e n tre si, a te o ria é to tal m en te im possível de ser
testada e, portan to, não é científica. E la fa z com qu e a nossa
cred u lid ad e se esten d a a um p on to de ru p tu ra. M as essa
é a exten sã o qu e h om en s tid os com o racion a is parecem
d ispor-se a p e rc o rre r para ev a d ire m -se de qu a isq u er p os
síveis im plicações teís ta s qu e estejam p resen tes na desco
b e rta cien tífica...
Pesquisa e R esponsabilidade
T a lv e z nos ajude se p en sarm os n o c ie n tis ta com o sendo
a q u ele q u e fa z um m apa. H á um m undo rea l de a con teci
m en tos e en tid a d es cujos rela cio n a m e n to s o c ie n tis ta p ro
cura e n te n d e r m ed ia n te con ceitos, m od elos e teorias. O
m apa não p ode s er c o n fu n d id o com a r e a lid a d e em si, m as
con stitu i um bom gu ia para qu e possam os lid ar com a
rea lid a d e. E n tre ta n to , um m apa c ie n tífic o , d ife re n te m e n te
de um m apa de rod ovias ou de estra da s de fe rro , é m ais
do que algo m era m en te descritivo. E le p rocura ob te r exp lan a
ções e p re v is õ e s de a con tecim en tos. A s leis c ie n tífic a s são
p rescritíveis, não no sentid o de que elas especificam o que
nunca p od e a c o n te c er n o m u n d o, m as sim no s e n tid o de
qu e e la s nos d iz e m q u e e x p e c ta tiv a s r a z o á v e is devemos
ter. U m a te o ria cien tífica con fiá vel diz-nos o que é ra zo á ve l
acharm os qu e v a i a c o n te c er nu m a situ ação qu e d esco
nhecem os, ten d o com o base o que já e x p e rim e n ta m o s em
ou tras situações. M a s as te o ria s são sem p re fa lív e is , com
falhas, e lim itad as em sua abrangência. E por isso que a
confiança e a hu m ildade ju n tas con stitu em a m arca carac
terística de to d a boa ciência.
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O Assalto à Objetividade
A imagem tradicional da ciência como sendo uma busca de
um conhecimento objetivo e universalmente válido, tem sido
alvo de um pesado ataque nos últimos tempos. M uitas são
as correntezas que têm convergido para esse assalto torren
cial ao conhecimento objetivo. Um a das primeiras fontes de
crítica veio da própria física, a saber, da mecânica quântica
e da teoria da relatividade, as quais demonstraram a impos
sibilidade de descrever um conjunto de eventos sem refe
rência ao sistema de observação. Isto serviu para reacender
filosofias idealísticas que enfatizam o papel da consciência
humana na “ construção da realidade” . Típicos dessa abor
dagem são os escritos de físicos tais como F ritjo f Capra, um
dos gurus-profetas do m ovim en to da N ova Era. P ara Capra
é um “ fato aceito” en tre m uitos cientistas que “ as estru
turas básicas do mundo são determ inadas, afinal, pelo
modo com que olham os o mundo; que os padrões da m atéria
observados são reflexos de padrões da m en te.” 23
As críticas mais significativas provieram de desenvolvi
mentos dentro da filosofia da ciência em si. Contrariam ente
à imagem popular da ciência, um cientista não é um obser
vador neutro de fatos “ que aí estão” , esperando ser coletados
e inseridos numa teoria do mundo. A té mesmo nossos atos
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Ciência Reducionista
Um a outra fon te da desilusão contem porânea quanto à
ciência tem a ver com o seu notório assalto à dignidade
humana. A mentalidade associada com o positivismo tende
a ser reducionista não apenas na m etodologia (pondo à
parte complexos conjuntos de form a a se poder investigar
os componentes mais simples), mas também na filosofia
(im plícita ou explicitam ente negando que o todo é igual à
soma de suas partes). O protesto de Camus (veja a in tro
dução ao presente capítulo) pela redução deste “ m ara vi
lhoso e m ulticolorido universo” a uma história de “ átomos
e elétrons” é uma ilustração do modo pelo qual muitas
pessoas têm receio de que tudo que torna a vida boa para
se viver (por exemplo, o senso de que algo é maravilhoso,
o amor humano, a beleza estética, os juízos m orais) seja
totalm ente “ explicado” (e portanto descartado) pela m eto
dologia analítica da ciência.
Pode-se ver que há uma ampla justificação para esse
receio, tendo como base m uitos casos no jornalism o cien tí
fico popular. Um bom exem plo disso acha-se no texto da
contracapa do livro best seller de Richard Dawkins de título
The Selfish Gene (O Gene Egoísta). Somos informados, com
uma certeza impressionante, de que “ os nossos genes é que
nos fizeram . N ós, anim ais, existim os para a sua preser
vação e não somos nada mais do que suas descartáveis
máquinas de sobrevivência” .29 O erro lógico que há num
raciocínio assim tom a a seguinte form a: “ Como, falando
do ponto de vista científico, X pode ser descrito como Y,
X não é nada diferente de Y ” . M uitas vezes este erro acom
panha um outro erro lógico que é conhecido historicamente
com o a Falácia G enética, que argum enta: “ Se A proveio
de B, então A não é d iferente de B ” . Já vim os essa form a
de argum entação surgindo m uitas vezes em discussões
sobre a evolução biológica.
Tom em os alguns exemplos menos sofisticados. Um físico
legitim am ente pode “ explicar” uma sinfonia de Beethoven
como sendo “ padrões longitudinais de vibrações moleculares
no a r” , mas isso não tem interesse algum para quem não seja
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
Epílogo
N a abordagem cristã tradicional de questões de fé e ciência,
a visão científica prevalecente do mundo é adm itida e a
ciência em si é considerada como estando firm ada em fu n
dações in a tacáveis. A ta re fa do ap olo gis ta seria en tã o
m ostrar que as reivindicações do Cristianism o bíblico são
essencial mente compatíveis com a visão científica das coisas.
N este capítulo eu reverti o padrão tradicional, que creio
ter sérias falhas e ser bastante perigoso. Meu propósito teve
dois aspectos: prim eiro, reforçar o argum ento do Capítulo
3 de que o em preendim ento científico em si mesmo surge
da visão do mundo do teísm o bíblico como uma expressão
natural da obediência a Deus; e, o segundo, argum entar que
quando a ciência está divorciada desta visão bíblica do
mundo, ela ou leva para uma idolatria irracional (o que às
vezes é rotulado de “ cientism o” ou “ positivism o” ) ou então
provoca difam ação e rejeição. Esses dois extrem os são
m uito eviden tes em todas as culturas e têm sido in flu en
ciados pela difusão da ciência e da tecnologia modernas; e
creio que sua intensidade está em proporção direta com o
declínio da influência bíblica.
Para os cristãos, tanto para os envolvidos com a pesquisa
cien tífica, quanto para os que buscam com preender e
explorar a revelação bíblica e as tradições de sua fé, há um
poderoso senso de responsabilidade final por tudo o que
fazem , responsabilidade perante o Deus da verdade, da
ju stiça e da com paixão, que nos cham ará para darmos
conta do que fizem os com as obras dele, realizadas por ele
em nosso meio.
Notas
* L . K o la k o w s k i, M o d e rn ity on E ndless T r ia l (M o d e r n id a d e n u m P r o c e s s o
d e J u lg a m e n t o S e m F im ) - C h ic a g o : U n iv e r s it y o f C h ic a g o P r e s s ,
1990; p. 73.
* J. N e e d h a m , S cien ce an d C iv iliz a tio n in C h in a ( A C iê n c ia e a C i v i l i
z a ç ã o n a C h in a ) - C a m b r id g e : C a m b r id g e U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 5 4,
vo l. 2; p. 581.
3 V e ja ; p. ex ., R . H o o y k a a s , R e lig io n an d the R ise o f M o d e rn S cience
( A R e lig iã o e a O r ig e m d a C iê n c ia M o d e r n a ) - E d im b u r g o : S c o ttis h
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CIÊN C IA E A N TIC IÊ N C IA
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Conhecimento Pessoal
O pensamento de Michael Polanyi (1891-1976) sopra como
uma brisa refrescante sobre os pântanos estagnados da fi
losofia da ciência contemporânea. Polanyi, diferentem ente
de todos os demais filósofos que foram mencionados ante
riormente, era um pesquisador químico que exercia essa
atividade e ao mesmo tempo era filósofo e historiador da
ciência. Ele procurou compreender a ciência da perspectiva
de um cientista que praticava a ciência, e não a partir do
produto acabado do “ conhecimento científico” . Seu objetivo
foi o de reform ar a base epistemológica da ciência, resolver
o dilema proposto pela separação entre o “ objetivo” e o
“ subjetivo” como dois pólos do conhecimento, que ele acre
ditava ter deixado uma marca desastrosa na sociedade
moderna. E le chamou sua abordagem de uma “ filosofia
pós-crítica” , porque ela rejeita o falso entendim ento do que
seja a objetividade científica, que tem dominado a cultura
ocidental desde o Iluminismo. Mas ele faz isso de um modo
que resgata a ciência do atoleiro do relativismo.
Polanyi é devedor a outros cientistas, tais como Einstein,
que enfatizaram a lacuna lógica que existe entre idéias
científicas e uma dada experiência. Teorias são criações da
mente humana, são conjecturas muito bem imaginadas que
não podem ser captadas por um determ inado procedimento
sistematicamente aplicado. Embora dados empíricos possam
dar indicações de como uma teoria deveria ser, esta não pode
ser deduzida a partir daqueles. Nisso as idéias dele lembram
a teoria de Popper. Mas não temos de saltar para a conclusão
de que os conceitos e teorias da ciência são puramente entidades
subjetivas na mente humana. Eles derivam da estrutura
verdadeira e racional do mundo real, estrutura essa que eles
também revelam. Eles são formados sob o impacto que o
mundo faz em nossa m ente ao procurarmos humildemente
compreendê-lo e refletir a sua racionalidade. Este é um tema
que discutimos no Capítulo 6. E le nos conduz ao conceito
de Polanyi quanto à objetividade científica, por reconhecer:
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ÍDOLOS DA R A Z Ã O E DO IR R A C IO N A L
Implicações Missionárias
H á óbvias lições aqui para a educação cristã e para a a ti
vidade missionária. O próprio Polanyi viu uma analogia
entre a tarefa teológica e a pesquisa científica, mas ficou
para te ó lo go s tais com o T h o m as T o rra n c e e L e s slie
N ew b ig in a missão de sacarem todas as im plicações dessa
epistem ologia para a teologia cristã e para o esforço missi
onário.H á fortes semelhanças en tre a prática do discipulado
cristão e a prática da pesquisa cien tífica. Am bas são
aprendidas através da submissão a uma tradição recebida.
A tradição cristã, incorporada nos textos bíblicos e na história
de sua in terp reta çã o em d iferen tes épocas e lugares,
expressa e leva adiante - tal como a tradição científica -
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A F A LÊ N C IA DOS DEUSES
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ÍDOLOS DA R A Z Ã O E DO IR R A C IO N A L
Mentes Alienadas
A idolatria carrega a sua própria reação. A adoração de
qualquer ídolo provoca o surgim ento do seu contra-ídolo
com o passar do tempo. P or falar do conhecimento humano
como sendo sempre um envolvim ento pessoal com a rea li
dade além do próp rio ser, P olan yi m ostrou um cam inho
além das falsas antíteses (ou idolatrias) do objetivism o e
subjetivism o, razão e cultura, autonom ia e tradição, que
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A F A LÊ N C IA DOS DEUSES
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ÍDOLOS D A R A Z À O E DO IR R A C IO N A L
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A F A L Ê N C IA DOS DEUSES
Notas
1 R. Descartes, D iscou rse O n M e th o d , a n d O th e r W ritin g s (Discurso Sobre
o Método, e Outros Escritos) - trad. F.E. SutclifTe; Harmondsworth;
Penguin, 1968; Discurso 2; p. 37.
2 R. Niebuhr, T h e N a tu re a n d D estiny o f M a n (A Natureza e o Destino
do Homem) - 2 vols.; Nova York, Seribner, 1941-1943; 1: pp. 137-38.
3 Citado em E. Cassirer, K a n f s L if e a n d T h o u g h t (O Pensamento e a Vida
de Kant) - New Haven e Londres: Yale University Press, 1981; pp.
227ss.
4 Op. cit., Discurso 4; p. 53.
6 Ibid., abertura da Meditação 2; p. 102.
fi E. Geüner, Reason a n d C u ltu re (Razão e Cultura) - Oxford: Blackwells,
1992; p. 91.
7 A. Maclntyre, Whose J u s tic e ? W h ich R a tio n a lity ? (Justiça de Quem?
Que Racionalidade?) - Notre Dame: University o f Notre Dame Press,
1988; p. 6.
8 T. S. Kuhn, T h e S tru c tu re o f S c ie n tiftc R e v o lu tio n s (A Estrutura das
Revoluções Científicas) - Chicago: University of Chicago Press, 1962,
2a. edição, ampliada, 1970.
9 P. ex.: K. Popper, T h e L o g ic o f S c ie n tific D is c o ve ry (A Lógica da
Descoberta Científica) - Londres: Hutchinson, 1959.
10 Kuhn, op. cit.; p. 111.
11 Ibid.; p. 150.
12 Ibid.; p. 153.
248
ÍD O L O S D A R A Z Ã O E D O IR R A C IO N A L
13 Ibid.; p. 159.
14 Ibid.; p. 94.
15 Ibid.; p. 170.
16 Veja “Reflections on my Critics” (Reflexões sobre meus Críticos) e
“ Logic of Discovery or Psychology of Research?” (Lógica da Descoberta
ou Psicologia da Pesquisa?) - em Criticism and the Growth o f
Knowledge (A Crítica e o Crescimento do Conhecimento) - eds. I.
Lakatos e A. Musgrave; Cambridge: Cambridge University Press,
1970; “ O b jectivity, Value Judgement, and T h eory Choice”
(Objetividade, Juízo de Valor, e Escolha da Teoria) e “Second Thoughts
on Paradigms” (Pensando Melhor nos Paradigmas) em The Essential
Tension (A Tensão Essencial) - Chicago: University o f Chicago
Press, 1977.
17 T. S. Kuhn, “ Reflections on my Critics” (Reflexões sobre meus Críticos)
- em I. Kakatos e A. Musgrave (eds.), Criticism and the Growth o f
Knowledge (A Crítica e o Crescimento do Conhecimento) - Cambridge:
Cambridge University Press, 1970; p. 260.
18 P. Feyerabend, Philosophical Papers (Escritos Filosóficos) - Vol. II;
Problems o f Empiricism (Problemas do Empirismo) - Cambridge:
Cambridge University Press, 1981; p.31.
19 P. Feyerabend, Science in a Free Society (A Ciência numa Sociedade
Livre) - Londres: New Left Press, 1978; p.70.
20 P. Feyerabend, Philosophical Papers (Escritos Filosóficos) - vol. II, op.
cit. p. 27.
21 M. Polanyi, Scientific Thought and Social Reality (Pensamento
Científico e a Realidade Social) - Oxford University Press, 1977; p.
101. Veja também The Tacit Dimension (A Dimensão Tácita) - Nova
York, Doubleday & Co., 1966; Science, Faith and Society (Ciência,
Fé e Sociedade) - Chicago: University of Chicago Press, 1964.
22 M. Polanyi, Science, Faith and Society (Ciência, Fé e Sociedade) - p. 15.
23 Ibid.; p. 52.
24 L. Newbigin, The Gospel in a Pluralist Society (Grand Rapids:
Eerdmans, 1989) p. 49.
28 Ibid.; p.50.
28 Ibid. pp. 50-1.
27 Ibid.; p. 60.
28 D . Cupitt, The Sea o f Faith (O Oceano da Fé) - BBC Publications,
1984; pp. 252-3.
249
8
A
A C ru z e os íd olo s
Confrontações de Poder
O Im p é rio R om ano, no p erío d o do N o v o T e sta m e n to, era
h erd eiro da B abilônia, ta n to no poder m ilita r com o, o que
e ra m ais im p o rta n te ainda, na in co rp oração e s p iritu a l de
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O Deus da Cruz
Entretanto, a cruz revela ainda a resposta de Deus àquela
idolatria. Mesmo no seu sofrim ento e na sua morte, Jesus
resistiu à tentação (que ele enfrentou em todo o seu m inis
tério público) de lutar com o mal em seus (do m al) próprios
termos. De fato ele perm itiu que o m al o atingisse to ta l
m ente. Paradoxalm ente, o ponto de aparente derrota to r
nou-se o m om ento do m aior triunfo. Foi a vitória da fraqueza
divina sobre a força humana; da palavra da verdade sobre
as maquinações de poder; do am or de uma auto-rendição
sobre um ódio que surge do amor próprio. A ressurreição
corporal selou aquela vitória revertendo o veredicto humano
passado para Jesus e mostrando que a idolatria e a m orte
não teriam a últim a palavra na criação de Deus. Mas é
im portante lembrar que os escritores do N ovo Testam ento
viram a vitória realizar-se, não apenas através da ressur
reição, mas no momento da morte de Jesus. Foi a oferta da
sua vida através da sua m orte que proclamou a glória de
Deus (cf. Jo 12:23ss; 13:31; 1 Co 1:22-25; Cl 2:15). É neste
contexto que a questão sum amente im portante surge: quem
é este que estabelece o seu reino no mundo por m orrer sob
todo o peso do mal que nele há?
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A F A L Ê N C IA DOS DEUSES
Sem elhantem ente, num livro popular cujo título é Who Was
Jesus? (Q uem Foi Jesus?), o erudito britânico T om W righ t
m ostra que a doutrina cristã da encarnação “ nunca teve a
intenção de elevar um ser humano ao status da divindade.
Isso foi o que, de acordo com alguns rom anos, aconteceu
com os im peradores após a sua morte, ou até mesmo antes.”
W r ig h t continua: “ A d ou trin a c ris tã tem a v e r com um
tipo diferente de Deus , um Deus que era tão diferente em
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A CRU Z E OS ÍDOLOS
relação à exp ecta tiva normal que ele pôde, de forma com
pleta e apropriada, tornar-se humano na pessoa do homem
Jesus de Nazaré. D izer que Jesus é de alguma form a Deus
é certam ente fazer uma surpreendente afirm ação sobre
Jesus. É também fazer uma estupenda declaração quanto
a Deus.” 4
Tais declarações, que se encontram no centro no evan
gelho bíblico, são o que caracterizam a singularidade de
Cristo e da fé cristã. O poeta inglês Edward Shillito, ao
escrever após a selvagem carnificina da P rim eira Guerra
Mundial (1914-1918), quando os homens se mataram uns
aos outros em defesa dos deuses m odernos cujos nomes
eles não podiam nem mesmo citar, apontou para as chagas
de Jesus com o sendo as únicas cred en ciais de Deus para
uma hu m anidade sofred ora:
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Conclusão
Onde quer que a cruz seja pregada, o estigm a do desprezo
e da vergonha é levado. V im os como a cruz é em si um objeto
de horror, e que a m ensagem que ela incorpora é um es
cândalo para os ricos, para os orgulhosos, para os poderosos
e para os religiosos de toda época. Ela é a resposta de Deus
à id o la tria do coração humano. M as esta m ensagem tem
sido traída com tanta freqüência pela Igreja C ristã em suas
associações idólatras com a riqueza e com o poder, que o
ridículo que ela agora evoca, en tre pessoas tanto religiosas
como seculares, é de um tipo bem diferente. O seu sentido
tem sido c om p leta m en te ob scu recid o ou en tão red u zid o
em sua im portância. H oje a cruz do Jesus ressurreto poderá,
uma vez mais, ser um evangelho libertador tão som ente se
fo r proclam ado com hum ildade, com arrep en d im en to e
confissão, e com um am or não manipulador. A igreja tem
que encarnar as Boas N ovas como tam bém proclamá-las.
Em outras palavras, a proclam ação que Jesus é o cam inho
verd ad eiro e v iv o para o P ai (cf. Jo 14:6) som ente pode ser
feita por quem esteja andando no cam inho em que Jesus
andou.
Lesslie N ew b ig in , que foi um m ission ário por m uitos
anos no sul da índia, convocou os cristãos, especialm ente
os do Ocidente, a desafiar toda a estrutura de conceitos
segundo a qual a cultura con tem p orân ea opera: “ O que
tem que ser requerido é uma radicai conversão, uma con
versão da m ente, de form a que as coisas sejam vistas de
m aneira d iferente, e um a conversão da vontade, de modo
que as coisas sejam feitas de m an eira d iferen te. T em -se
que recusar tam bém a te n ta tiv a in ú til de recom endar a
visão bíblica de como as coisas são, procurando ajustá-la aos
pressupostos da nossa cultura.” 34
Os cristãos da Á sia estão expostos a uma m ultidão de
culturas, tanto religiosas com o seculares. A bsorvem os a
cultura da m odernidade predom inante de hoje através do
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A CRU Z E OS ÍDOLOS
Notas
1 Lord Hailsham, The Door Wherein I Went (A Porta pela Qual Eu Entrei)
- Londres: Collins, 1975; p. 54.
2 D. Sayers, Creed or Chãos (Credo ou Caos) - Nova York: Harcourt
Brace & Co., 1949; pp. 5-6.
3 E. Jüngel, God as the Mystery ofthe World (Deus Como o M istério do
Mundo) - Edimburgo: T & T Clark, 1983; p. 13.
4 N. T. Wright, Who Wbs Jesus? (Quem Foi Jesus?) - Londres: SPCK,
1992; p. 52 (itálicos no texto).
5 Citado em W. Temple, Readings in St. John’s Gospel (Leituras do
Evangelho de São João) - 1939 a 1940; reimpr. Macmillan, 1968;
p. 366.
8 Citado em J. Atkinson, Martin Luther: Prophet to the Church Catholic
(M artinho Lutero, Profeta para a Igreja Universal) - Grand Rapids:
Eerdmans/ Exeter: Paternoster, 1983; p. 183.
7 P. ex.: J. M oltmann, The Crucified God (O Deus C rucificado) -
trad. ingl., Londres: SCM, 1966; pp. 240ss.
8 Ibid.; p. 276.
9 Lutero, op. cit.; pp. 20,21.
10 M. Hengel, Crucifixion (Crucificação) - 1977 em The Cross o f the
Son o f God (A Cruz do Filho de Deus) - Londres: SCM, 1986.
11 Apology I (Apologia I) 13.4. citado em Ibid., p. 93.
12 Op. cit.; p. 181.
13 Kim Yong-Bock, “ T he Mission o f God in the Context o f the Suffering
and Struggling Peoples o f Asia” (A Missão de Deus no Contexto dos
Povos Sofredores e Lutadores da Ásia) em Peoples o f Asia, People o f
God - Osaka: Conferência Cristã da Ásia, 1990; p. 12.
14 Ibid.; p. 13.
is Third World Theologies: Papers and Reflections from the Second
General Assembly o f the Ecumenical Association o f Third World
Theologians (Documentos e Reflexões da Segunda Assembléia Geral
da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo) - dezembro,
1986, Oaxtepec, México, ed. KC Abraham (Maryknoll, NY: Orbis, 1990;
p. 20.
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
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índice Remissivo
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
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A FALÊNCIA DOS DEUSES
A Idolatria Moderna e a Missão Cristã
"... com uma percepção que os cristãos ocidentais ... raramente conseguem ter,
Vinoth Ramachandra oferece uma análise intelectual totalmente satisfatória da
bagagem subcristã que acompanha e mina a missão cristã, e dá em resposta um
enfoque em sólidas bases bíblicas da obediência centrada na cruz de Cristo."
Dr. Steve Hayner, da IntvrVarsity Clirisiian 1'cUoYship dos Estados Unidos
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RESPOSTAS PARA HOJE