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ÁFRICA E A SEMIÓTICA DO MUNDO MODERNO E CONTEMPÔRANEO: PODER

E EPISTEMOLOGIA DA EUROPA.
JOSEPH DIAS OLIVEIRA

Este recorte tem como objetivo trabalhar a construção imaginária e


epistemológica do continente africano no mundo moderno. Onde percebe-se uma
visão e conhecimento forjada na Europa, que como afirma Joseph Fontana, olhou no
espelho do outro para se definir. Caminhando entre a memória moderna e
contemporânea, será delimitado na historiografia o poder e os signos. E a arte como
forma de legitimação cultural. Essa abordagem não busca explicar a gênese do
racismo, mas sim a intensificação e ressignificação do continente africano. É
necessário trabalhar esse processo não apenas para compreender o presente. Mas,
para perceber a relação das ciências humanas e a epistemologia provinciana da
Europa. A metodologia utilizada será o diálogo bibliográfico e artístico que a se
realiza entre os dois continentes.

Palavras Chaves: Racismo, Epistemologia, Historiografia, Poder, semiótica e


ressignificação.

IDENTIDADE MUNDO MODERNO E RACISMO.

O mundo moderno é palco de transformações significativas. A descoberta da


América, o cisma religioso a valorização da literatura com linguagem vulgar. Esses
são alguns temas abordados por Josep Fontana, para abordar o processo. Todavia,
ele denota um em especial, a crise unitária da igreja. Para o historiador por muito
tempo a cristandade era um traço definidor da identidade. E o cisma de 1517 fez
com que os europeus repensassem sua identidade. E para forjar essa identificação
em grande medida a Europa olho nos outros continentes. “Todos os homens se
definem a si mesmo olhando se no espelho dos outros para diferenciar se deles.”
No século XVII, Jan Van Kessel, natural da Antuérpia, fez alguns pinturas com
alusão aos continentes. Denotando o europeu como o mais civilizado. Mas, ele não
era um vanguardista. Esse movimento começa com uma obra de Cesare Ripa no
seu livro Iconológia de 1593. Coisas como a coroa no continente europeu demonstra
a primazia do continente. Jan Van, retrata a África como afirma Josep Fonata como
sendo selvagem e a América como primitiva. Esse tipo de abordagem
posteriormente justificou imperialismo e escravidão. Essa breve abordagem é
apenas para demonstrar o momento de ressignificação dos continentes. E o
processo semiótico que é criando ainda no século XVI.
Como foi abordado anteriormente, o processe de semiótica sobre os continentes
realizado pela Europa. Vem através de uma possível crise. Mas, essa discriminação
não se retrata apenas na arte. O processo de criação de um conceito europeu do
que é o africano vai além. Giuseppe Marcocci, trabalha em seu artigo a relação que
existe entre escravos ameríndios e africanos. Demonstrando o juízo de valor
atribuído por alguns colonos. Que em carta ao rei D. João III, afirmava que o escravo
indígena era inconstante. Portanto, se fazia necessário fazer uma troca por escravos
africanos. Esse fragmento é apenas uma parte de um contexto maior. Que se não é
a gênese do racismo do mundo moderno o menos o potencializou. Será tratado mais
adiante sobre a ideia contemporânea, mas, é notório como ecos de épocas
diferentes são análogos. É importante citar que no trabalho de Giuseppe, observa-se
uma história unitária principalmente após o século XVI. Essa conectando nativos
americanos e africanos escravizados. A grande questão levantada pelo autor é
exatamente a ideia de uma hierarquia prática que visava dar um juízo de valor e
resistência.

Classificação baseada, contudo, em considerações de caráter


exclusivamente prático, pois propunha, de fato, uma hierarquia fundada no
trabalho: segundo os primeiros habitantes da Bahia, os índios teriam
características inferiores, são muito incertos, quando comparados com os
negros africanos, aptos a garantir maior resistência física, além de uma
ajuda efetiva em caso de ataque armado (GIUSEPPE, 2011, p.43).

Pelo falto da colonização e evangelização andarem juntos nesse período.


A questão da salvação universal era um problema o menos em relação ao
autóctones. Todavia, isso não evitou que eles fossem escravizados. Conflitos que
chegaram ao fim 1592, em especial ao que se refere aos mulçumanos, mas também
aos judeus. Criaram uma nova postura, os chamados cristão velhos, os que não
haviam sido convertidos recentemente. Essa por sua vez carregava uma concepção
na qual os cristão convertidos tinham menos virtude.

Apoiada na ideia de que os convertidos seriam portadores de uma mácula


que se transmitia de geração em geração, tornando inaptos também seus
descendentes, elaborou-se uma teoria da honra que levou à discriminação e
à exclusão oficial dos cargos públicos, da carreira eclesiástica e de
numerosas profissões, qualquer súdito em cujas veias corresse sangue
judeus ou mulçumanos, mas também, já a partir de 1514, de ciganos e
ameríndios, e de 1603, de negros e mulatos ( GIUSEPPE, 2011 p.51).

Tanto o primeiro processo citado, a questão da hierarquia prática e juízo de trabalho.


Como o segundo no caso de conversão e a mácula que é passada de geração para
geração. Carregam ambos fragmentos de uma epistemologia que tem como signo
principal. A submissão de povos e a falta de simetria entre as relações.
Portanto, o processo de formação do mundo moderno. É também o momento que se
forja uma semiótica do poder. Potencializa o racismo, não só através do tráfico
negreiro. Mas, também por meio da arte e da produção escrita e intelectual do
século XV à XVII.

HISTORIOGRAFIA, EPISTEMOLOGIA E O MUNDO CONTEMPORÂNEO.


Como afirma Muryatan Satanna, 2008, p 46, hoje há um certo consenso sobre a
fragilidade da historiografia. Isso porque reconhece em parte, a influência
eurocêntrica e epistemológica. Por isso a dificuldade em trabalhar sobre a história da
África. Esso processo cria distorções, permitindo que mais se julgue que se
compreenda o continente. E foi em parte legitimado por grandes nomes da história
da filosofia.
Os negros da África não tem por natureza nenhum sentimento acima do
trivial. O sr. Hume desafia qualquer um a citar um único exemplo em que um
negro tenha mostrado talentos, e afirma que entre centenas de milhares de
negros que são transportados dos seus países para outros lugares, embora
muitos tenham sido colocados em liberdade, ainda assim nenhum jamais foi
encontrado que apresentasse qualquer coisa de grande em arte ou ciência
ou qualquer outro qualidade digna de elogio, apesar de que entre os
brancos alguns sempre se elevam bem acima das massas mais ínfimas, e
por meio de dotes superiores ganham o respeito do mundo. A diferença
entre estas duas raças de homens é tão fundamental quanto parece ser
grande a diferença em matérias de capacidades mentais e de cor. (KANT
apud GILROY, 2007,82)

A epistemologia eurocêntrica especialmente as teleológicas por diversas


vezes tentam utilizar provincialismo europeu, como formulas universais. Muryatan,
2008, 48. Essa visão só é possível graças a uma crença na excepcionalidade do
europeu. Que fica mais visível em filosofias teleológicas como a de Comte,
positivismo. Toda essa construção historiográfica e de formas de conhecer. Cria uma
projeção sobre a África. Que posteriormente inclusive possibilitou atos como a
partilha do continente de 1884. Todavia, como aponta Muryatan, as crises do século
XX mudaram a perspectiva ocidental. O período entre guerras colocou em xeque a
ideia de excepcionalidade. Isso se unira posteriormente as independências no
continente africano. E também a reformulações na historiografia em especial
realizadas pela escola dos Annales. Que buscava um história mais totalizante e
interdisciplinar. Chegando a metade do século XX observa-se uma revisionismo
sobre história africana e inclusive produção dos próprios historiadores da África
como afirma, Muryatan, 2008, p51.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Rio


de Janeiro: UCAM, editora 34, 2001.

SANTANA, Muryatan. Eurocentrismo, História e História da África. Revista de


História da África e de Estudos da Diáspora Africana.

FONTANA, J.A. A Europa Diante do Espelho. Tradução de Omar Ribeiro Tomaz.


São Paulo: Edusc, 2005.

MARCOCCI, Giuseppe Escravos ameríndios e negros: um história conectada.


Teorias e modelos de discriminação no império português (ca. 1450-1650) Acesso
em: 10/11/2017

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